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Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais Proposta didática com Enfoque CTS e investigativo- Intolerância à lactose Proposta apresentada na disciplina Didática do Ensino de Ciências da Natureza e Biologia I Docente: Prof. Felipe Sales de Oliveira Discentes: Augusto Campos Guilherme Oliveira Lucas Freitas Matheus Galvão Vinícius Martins Borges Belo Horizonte 2019 1. Faixa etária das/os estudantes: Quinto ano do ensino fundamental - 9 a 10 anos. 2. Justificativa: A intolerância à lactose é uma condição clínica em que o paciente apresenta diarréia, flatulência, distensão e cólicas abdominais após o consumo de leite e laticínios (Tortora & Nielsen, 2019). Essa condição afeta diretamente o estilo de vida do indivíduo, que deve restringir o consumo de lactose sem que o consumo de cálcio também seja prejudicado, uma vez que o leite é uma das fontes mais ricas em cálcio de nossa dieta. No Brasil, especificamente em Minas Gerais, há ainda um agravante de que a culinária local , de herança europeia, apresenta frequentemente o leite como principal ingrediente das receitas. Muitas vezes essas receitas fazem parte de encontros sociais como festas de aniversário ou até mesmo um café da tarde servido a visita. Essas situações podem gerar constrangimento ao afetado pela condição de intolerância. Uma revisão bibliográfica publicada por Mattar e Mazo, em 2010, na Revista da Associação Médica Brasileira a respeito da Intolerância a Lactose no Brasil apresenta dados que causam espanto em relação a prevalência da doença (ver Tabela 1 abaixo). É estimado que 57% da população branca e mulata do país são acometidas por algum grau desse distúrbio quando atingem a idade adulta. Em populações indígenas ou descendentes de japoneses essa prevalência é ainda maior, passando dos 90%. Observe que em países europeus como Alemanha e França, essa prevalência é inferior a 25%. O objetivo dessa proposta de sequência didática é contextualizar o ensino de conteúdos canônicos da biologia como o sistema digestivo e a absorção de nutrientes, despertando interesse pela temática da saúde pública, atentando para as consequências sociais de doenças e distúrbios e quebrando mitos a respeito do consumo de leite (muitas vezes demonizado por dietas e alguns profissionais da saúde). Essa sequência pretende romper com os moldes tradicionais da educação bancária, baseada na aula expositiva. Atividades de entrevista serão propostas a fim de incentivar a interação dos alunos com o conhecimento e com adultos fora do ambiente escolar, favorecendo, assim, um olhar participante e empático quanto às consequências do distúrbio. Os dados primários coletados pelos alunos através de questionário/entrevista serão analisados por meio de análises estatísticas e gráficos serão analisados, outras competências fundamentais no desenvolvimento cognitivo do aluno. Essas atividades terão como método a investigação, de forma a ensinar a respeito da natureza da ciência. Os métodos diagnósticos e as tecnologias disponíveis para tratamento também serão apresentadas. 3. Fundamentação curricular: Segundo o Currículo Referência de Minas Gerais (2018) e Base Nacional Comum Curricular (homologada em 2017): Vida e Evolução - Cadeias alimentares simples e microrganismos (EF04CI07X) Verificar a participação de microrganismos na produção de alimentos, combustíveis, medicamentos, bioindicadores ecológicos, entre outros. - Usar esse conhecimento do 4º ano para falar de microbiota intestinal. Vida e Evolução - Nutrição do organismo; hábitos alimentares; integração entre os sistemas digestório, respiratório e circulatório. (EF05CI06) Selecionar argumentos que justifiquem por que os sistemas digestório e respiratório são considerados corresponsáveis pelo processo de nutrição do organismo, com base na identificação das funções desses sistemas. (EF05CI08) Organizar um cardápio equilibrado com base nas características dos grupos alimentares (nutrientes e calorias) e nas necessidades individuais (atividades realizadas, idade, sexo etc.) para a manutenção da saúde do organismo. (EF05CI09X) Discutir a ocorrência de distúrbios nutricionais e transtornos alimentares (bulimia, anorexia e outros), entre crianças e jovens a partir da análise de seus hábitos. 4. Orientação: O encontro inicial de aplicação dessa sequência didática aconteceria em sala de aula. Com o objetivo de romper com o modelo clássico de aula expositiva, antes da chegada dos alunos o professor deve mudar a conformação da sala, de forma que uma turma de 40 alunos, por exemplo, seja dividida em oito grupos de cinco integrantes. É aconselhado que a atividade inicial seja uma avaliação diagnóstica dos conhecimentos dos alunos a respeito do tema, que pode ser uma simples conversa sobre o tema que estimule a participação dos alunos. É um tema delicado, muitos alunos podem ficar constrangidos de expor a si mesmos ou algum familiar próximo que apresenta o distúrbio. O ideal é tratar o assunto de forma leve e descontraída, estimulando a exposição desses alunos. Notar que o problema de saúde pública está mais próximo dos alunos do que eles próprios imaginam, despertando a empatia com os colegas ao escutar a exposição dos mesmos e gerando, assim, a curiosidade, tão importante para a apropriação do conhecimento. Uma segunda atividade, importante para chamar a atenção dos alunos para a grande prevalência de intolerância a lactose, será aplicada a partir da leitura de uma reportagem encontrada no portal do G1 sobre o tema (ver Figura 01 em Anexos) . Essa reportagem traz um infográfico auto-explicativo, didático e esclarecedor. Seguindo com a atividade, os alunos devem ser desafiados com questões de interpretação de texto e de gráficos, para o desenvolvimento dessa importante habilidade cognitiva. Ver exemplo de avaliação diagnóstica e atividade de interpretação de reportagem abaixo. Um último momento desse encontro deverá ser a orientação do professor para a coleta de dados primários por parte dos alunos, importantes para seguir uma proposta investigativa. Os alunos deverão abrir a geladeira e os armários da cozinha de sua casa, de preferência no dia em que a família costuma fazer compras e repor os mantimentos. Em seguida devem anotar em uma folha quantos itens estavam presentes e, destes itens, quantos são derivados do leite. Acompanhando a folha, o professor deve entregar uma lista dos laticínios mais frequentes nos lares brasileiros para dar um direcionamento aos alunos. Eles também deverão anotar seu cardápio ao longo de uma semana e analisar quantos laticínios estavam presentes em sua dieta. Essa coleta de dados será importante para o aluno ter uma noção do quanto a vida de um indivíduo com intolerância severa a lactose é impactada. Uma segunda coleta de dados será realizada, desta vez envolvendo um questionário que deverá ser aplicado através de uma entrevistacom familiares e conhecidos que apresentam intolerância a lactose. O questionário deverá delimitar o perfil do entrevistado quanto a faixa etária, cor de pele (ou raça, abordada de uma forma politicamente correta), descendência, tipo sanguíneo, local de nascimento, histórico do distúrbio na família e perfil socioeconômico. Na entrevista os alunos também deverão perguntar acerca da qualidade de vida dessas pessoas, sobre o que mudou nos hábitos ao ser diagnosticado com intolerância a lactose, quais foram os sintomas que levaram essas pessoas a buscarem atendimento médico, como foi o método de diagnóstico e quais foram as alternativas de tratamento e prevenção apresentadas pelo profissional da saúde. O professor deve marcar com os alunos a data de entrega dos dados coletados no final da primeira semana. Na semana seguinte, acontecerá um encontro para a apresentação desses dados coletados sob a forma de gráfico e analisados por programas estatísticos. O professor irá comparar os dados obtidos com a turma com os dados da literatura sobre a população brasileira. Vale ressaltar que distúrbios como esse não tem nenhuma associação com perfil socioeconômico, o que deve ser demonstrado aos alunos. Essa atividade traçará um perfil dos portadores de intolerância a lactose para aquele grupo amostral - a turma escolhida para a aplicação dessa sequência didática e seu espectro de convivência, aproximando, assim, a realidade do Brasil com a realidade dos alunos. Ainda na semana do primeiro encontro, o professor poderá realizar um experimento para ilustrar a necessidade da enzima lactase para os organismos utilizarem a lactose como fonte de energia (ver Figura 02 em Anexos.). 5. Elaboração de propostas de explicação: Após os primeiros 3 encontros, os alunos utilizaram todo o conhecimento arrecadado para resolver um estudo de caso sobre uma criança de 4 anos a partir dos sintomas que ela apresenta (cólicas abdominais,diarréia, inflamações na pele e asma), após a ingestão de laticínios e derivados. Dessa forma, a turma será induzida a debater possíveis hipóteses em relação a condição da criança. Todo esse debate propiciará ao professor discutir a diferença sobre intolerância e alergia, por consequência, explicar sobre a enzima lactase e porque alguns indivíduos podem perder, enquanto outros não, a capacidade de expressá-la. Além disso, pode-se relacionar a evolução humana com os hábitos adotados pelas populações que domesticaram animais (pecuária) e como isso permite a tolerância à lactose nas populações ocidentais . 6. Trabalho com dados: Os alunos irão receber um feedback do professor com os dados citados no item 4. Nesse momento o professor poderá cruzar os resultados dos alunos e fazer a análise estatística comparando gráficos e tabelas com base nos resultados da literatura e dos dados do próprio governo. Dessa maneira o professor terá uma ótima oportunidade para demonstrar aos aluno o site do ministério da saúde, onde os estudantes poderão consultar para inúmeras doenças relacionadas a alimentos ou até qualquer outro tipo de enfermidade. Além disso, o próprio professor poderia pedir os alunos que comparem os resultados sobre a intolerância a lactose em relação a alergia a lactose ou então a doença de crohn, fazendo uma discussão e hipóteses sobre o por quê daqueles resultados e como eles ocorrem na população. É válido ressaltar que o programa utilizado ou o formato da análise estatística utilizada fica a cargo do professor. http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-diarreicas-agudas http://www.saude.gov.br/assistencia-farmaceutica/sistema-horus/modulos/modulo-especializa do/situacao-clinica 7. Conclusões: Após os alunos serem apresentados sobre o tema, discutindo e coletando dados sobre o assunto, eles irão começar a entender sobre o funcionamento da nutrição, incluindo hábitos alimentares e como essa dieta pode influenciar na própria saúde. Após a pesquisa, discussões sobre o estudo de caso e os experimentos realizados, podemos esperar que o estudante entenda a relação entre a nutrição do organismo com a integração e do sistema digestório com o circulatório, bem como a importância disso. Também seria interessante a utilização de um vídeo retomando justamente a diferença sobre intolerância e alergia alimentar. o grupo em questão tomou como exemplo esse vídeo: https://globoplay.globo.com/v/2077403/ Uma vez que os alunos tomem conhecimento sobre isso, eles provavelmente irão conversar sobre com responsáveis, familiares e amigos, levando e externando esse conhecimento adquirido para além do mundo acadêmico, de forma a contribuir com os conhecimentos dos alunos e da população em geral sobre o próprio corpo. Tal fato só tem a agregar sobre a conscientização para a saúde pública do país. 8. Discussão: Indicamos três momentos em que o professor estimulará a comunicação de ideias entre os estudantes: a) O primeiro ocorrerá durante a avaliação diagnóstica do conhecimento prévio a respeito do tema. Nesse momento o professor estimulará os estudantes a compartilharem conhecimentos e vivências a respeito do tema, tentando quebrar o tabu em relação ao assunto e evidenciando a proximidade que o tema de saúde pública tem de suas vidas cotidianas. Para isso, o ideal é que o professor trate o assunto de forma leve e descontraída, deixando os alunos contribuírem com as informações e apenas direcionar as discussões. b) O segundo momento reservado à comunicação de ideias será a construção e interpretação dos gráficos estatísticos, bem como sua comparação com a literatura sobre a população brasileira. O professor deve direcionar a discussão e guiar os estudantes em suas dúvidas a respeito da interpretação dos dados, mas deixar a cargo destes a correlação entre os dados levantados. Vale ressaltar que é importante demonstrar que os dados independem do perfil socioeconômico, caso isso não seja pontuado pelos próprios estudantes. c) O terceiro e último momento diz respeito à discussão a respeito do diagnóstico de doença para o paciente do estudo de caso apresentado pelo professor em sala. Hipóteses serão apresentadas e testadas a partir da bagagem de conhecimento consolidada pelos estudantes a respeito da intolerância a lactose. 9. Referências bibliográficas: TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. Princípios de Anatomia Humana. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. pg. 846. Mattar, R.; Mazo, D.F.C. (2010). Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 230-6 Steinwurz, F.; Diniz, C. 28/02/2012 10h33 - Atualizado em 28/02/2012 às 15h31, G1, São Paulo .link: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2012/02/intolerancia-lactose-atinge-ate-70-dos-adultos-brasileiros.html. Último acesso: 18/06/2019 às 11:40. 10. Anexos Figura 01. Infográfico extraído da reportagem do G1 - Steinwurz & Diniz (2012) Figura 02. Proposta de experimento. De simples execução, o experimentoacima pode ser utilizado pelo professor para explicar a necessidade da enzima lactase para que os organismos usem a lactose como fonte de energia. Ainda pode-se discutir que o dióxido de carbono, o gás da fermentação e da nossa respiração, é uma evidência do metabolismo, de produção de energia. Tabela 02. Atividades propostas em cada encontro.
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