Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- SÍNDROME DE WEST - CONCEITO A síndrome de WEST é uma forma peculiar de epilepsia da infância que se caracteriza pela tríade de espasmos musculares, deterioração neuropsíquica e hipsarritmia (eletrencefalograma patognomônico), cujo aparecimento se dá entre os três e os oito meses de idade, com maior incidência em torno dos seis meses. Os espasmos podem ocorrer tanto durante o sono como em estados de vigília, sendo que o período mais crítico para as convulsões ocorrem nos estados de transição entre o sono e a vigília. A frequência das crises diminui com o passar da idade, sendo raras, após os cinco anos. O curso da doença é variável. QUADRO CLÍNICO Sua principal característica são os espasmos musculares. Estes são de aparecimento súbito, rápido e são generalizados, como se tratasse de contrações mioclônicas maciças. Podem ser extremamente rápidos! São geralmente em flexão, mais podem se apresentar em extensão. Quando em flexão se observa a flexão de cabeça sobre o tórax, o tronco se encurva com flexão de todos os segmentos dos membros e com abdução dos membros superiores. Nas crises em extensão, a criança adquire a atitude de opistótono. O espasmo pode se limitar apenas a flexão do pescoço, e o tique de SALAAM. Às vezes, a crise pode apresentar um indício de lateralização, revelado pela rotação de cabeça para um lado ou contração mais intensa de um braço. Em geral, os espasmos são acompanhados de grito ou riso após o evento, contudo, também pode ocorrer durante a crise. Ocorrem com frequência em salvas, com aumento progressivo dos intervalos entre os espasmos e diminuição progressiva de sua intensidade. Durante a crise, é difícil avaliar o estado de consciência da criança por causa de sua idade, e associação frequente com retardo neuropsíquico. Há alterações evidentes no comportamento da criança, coincidindo com o aparecimento das crises, pouco depois ou mais raramente precedendo-o. A criança deixa de sorrir, reage pouco aos diversos estímulos. O exame do paciente revela perda de condutas já adquiridas, às vezes, há o reaparecimento de reflexos primitivos que a haviam desaparecido e geralmente uma acentuada hipotomia muscular e outros: - Retardo mental; - Crises convulsivas frequentes; - Paralisia; - Surdez / Mudez; - Distúrbio do sono, apresentando intensa dificuldade para dormir; - Irritabilidade constante / Choro constante (alguns casos); - Comprometimento respiratório. DIAGNÓSTICO No diagnóstico da síndrome de West, além do quadro clínico, é importante ressaltar a idade do início dos sintomas, o quadro aparece geralmente no primeiro ano de vida, entre três e oito meses. Há predominância do sexo masculino, na proporção de 2:1. Aproximadamente, 90% dos casos têm o início no primeiro ano de vida. Não há predomínio quanto à incidência em determinados grupos raciais. Em aproximadamente 80% dos casos, a Síndrome de West é secundária, isto é, depende de uma lesão cerebral orgânica. Em 20% dos casos, não se consegue identificar uma lesão cerebral orgânica como substrato da síndrome de West; é a chamada forma idiopática da síndrome. O eletrencefalograma apresenta alterações peculiares. É constituído por ondas lentas e espículas em descargas difusas em todo o traçado. Não há ritmo de base organizado e as espículas aparecem de modo irregular, dando um aspecto caótico ao traçado. ETIOLOGIA Podemos considerar o grupo idiopático e o grupo sintomático. No primeiro, a criança tem desenvolvimento normal até o início dos sintomas e em diante ela passa a apresentar regressão. No grupo sintomático, há um processo patológico nítido, sendo o retardo de desenvolvimento anterior ao aparecimento dos espasmos. Os dados de literatura mostram que nesse grupo o fator mais importante é a anoxia neonatal. Outras causas podiam ser citadas como meningencefalites, toxoplasmose, hematoma subdural, sífilis, doença de STURGE-WEBER, esclerose tuberosa, fenilcetonúria. ALTERAÇÕES RADIOLÓGICAS A tomografia computorizada do crâneo e a ressonância magnética do crâneo mostram atrofia cortical e dilatação dos ventrículos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A confusão entre a síndrome de West e a de Lennox é frequente! Muitos autores se referem a casos de West ocorrendo na idade de um, dois anos ou até mais tarde, quando na realidade se trata de síndrome de Lennox. Também o diagnóstico diferencial com o reflexo de Moro, este ocorre até os quatro meses e meio no máximo e nunca em salvas. Além disso, no reflexo de Moro, os dedos se refletem como que em preensão e, nos espasmos, eles se estendem. Como o espasmo é geralmente associado ao grito, há possibilidade de ser confundido com cólica do lactente. TRATAMENTO Nos casos sintomáticos, ou nos que não responderam ao uso do hormônio ACTH (adrenocorticotrófico), o tratamento instituído é o mesmo utilizado para as demais formas de epilepsias graves. O valproato de sódio (VA) é uma opção de tratamento, havendo autores que usaram altas doses (150-300mg/kg/d), com resultados satisfatórios no controle das crises. Os benzodiazepínicos também podem ter ação eficaz nas epilepsias graves. O nitrazepam é o mais indicado na síndrome de WEST, podendo-se utilizar o clonazepam. O clobazam é usado geralmente como coadjuvante na terapêutica medicamentosa. Efeitos colaterais são frequentemente registrados com o uso de benzodiazepínicos, incluindo-se sonolência e ataxia, porém o efeito mais limitante é hipersecreção brônquica, ocasionando infecção pulmonar de repetição. O tratamento deve ter um rigoroso controle clínico e monitoramento cardiopediátrico. Os efeitos colaterais do tratamento afetam todo o organismo da criança, inclusive o sistema imunológico (maior susceptibilidade a infecções, aumento da PIC, distúrbios eletrolíticos, ganho excessivo de peso, hipertensão, osteoporose e problemas cardíacos). O retardo mental que acompanha a síndrome pode ser evitado pelo tratamento precoce do quadro clínico, que a criança apresenta. Mas, na grande maioria dos casos, o tratamento é iniciado quando o comprometimento cerebral já está bastante comprometido. PROGNÓSTICO De modo geral depende do diagnóstico precoce, da etiologia e da fase de início do tratamento. No grupo idiopático tratado precocemente (na primeira semana), a evolução é muito boa. Pode chegar a haver cura total e definitiva. No início melhoram as crises, o traçado EEG e, finalmente, o quadro neuropsíquico. Quando o tratamento não for precoce (a partir de uma semana a um mês), há cura em 50% dos casos. Se iniciado, entre um mês e quatro meses, o prognóstico é para cura em 1/3 dos casos. No grupo idiopático, tratado tardiamente (após seis meses) e no grupo sintomático, o prognóstico é mau e o tratamento tem pouco ou nenhum resultado. Independentemente da etiologia, o prazo de dois meses de crises sem tratamento específico parece constituir o limite a partir do qual o QI médio diminui de modo muito rápido. Obrigado! Até a próxima Aula.
Compartilhar