Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 28 UNIDADE VI – BIOQUÍMICA DO SANGUE E OS ENSAIOS BIOQUÍMICOS O sangue tem diversas funções e entre elas a de transporte, respiração, nutrição, excreção e defesa. O sangue circula em um sistema fechado, onde seu volume é mantido quase constante e um vazamento nessa circulação pode ser fatal, então em casos de vazamento há uma série de acontecimentos para que a hemostasia seja mantida. A função principal do sistema cardiovascular é comunicação das células entre si, produzindo um fluxo, e com o meio externo, havendo uma integração com os sistemas respiratório, renal e digestivo. A força física que determina o fluxo sangüíneo é o gradiente de pressão, contraposto pela resistência vascular, caracterizada pelo diâmetro do vaso. De modo que o principal mecanismo de controle do fluxo sangüíneo é a variação do raio das arteríolas. O primeiro aspecto a ser verificado, em uma análise quantitativa e qualitativa do meio onde esse fluxo é gerado é a verificação da quantidade de sangue intravascular no organismo, denominada volemia. A volemia é proporcional ao grau de hidratação do indivíduo. Dessa forma, se um indivíduo encontra-se desidratado, ele está com hipovolemia. O reconhecimento desse estado se dá pelos sinais de desidratação: olhos profundos, pele e mucosas ressecadas, e vários sinais funcionais, uma vez que, no indivíduo hipovolêmico, a função de gerar fluxo encontra-se prejudicada, causando sonolência, tonteira. A volemia é um elemento fundamental para que o sistema cardiovascular exerça sua função de distribuir fluxo; dessa forma, com a diminuição da volemia, há um prejuízo da função global cardiovascular. O sangue, devido a sua complexidade, e o fato de ser composto por células que exercem funções específicas, também pode ser chamado de tecido. O sangue é composto basicamente de água (aproximadamente 90%), e é dividido em plasma (60%) e células. Ø Os componentes celulares do sangue · Os glóbulos vermelhos · Os glóbulos brancos · As plaquetas · As proteínas · Plasma ou soro · Os eletrólitos · Os micronutrientes · Os hormônios e excretas metabólicas. ü Plasma e soro A centrifugação do sangue sem anticoagulante levará à coagulação do centrifugado; durante este processo, há o consumo de fibrinogênio, assim como todos os fatores envolvidos na coagulação, com liberação de substâncias que se encontravam dentro das plaquetas; dessa forma, constitui-se o soro. Para a obtenção do plasma, faz-se a centrifugação do sangue com o anticoagulante. Observa-se, então, que o fibrinogênio não está presente no soro, pois este foi utilizado para a formação de fibrina, ao contrário do plasma, que o possui. Encontram-se no soro mediadores liberados pelas plaquetas, que não estão presentes no plasma. Pode-se dizer que o soro é, basicamente, o plasma sem o fibrinogênio. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 29 ü Os eletrólitos Um outro componente celular do sangue são os eletrólitos. São ânions ou cátions com cargas elétricas negativas ou positivas, respectivamente. Os principais eletrólitos encontrados no homem são: Na+, K+ , Ca2 +, Mg2 +, Cl-, HCO3-, HPO4--, SO4, lactato, ácidos orgânicos, proteínas e oligoelementos. O papel dos eletrólitos no organismo vivo é bastante variado. Praticamente não existe nenhum processo metabólico que não seja dependente ou afetado pelos eletrólitos. Entre as várias funções dos eletrólitos se destacam: manter a pressão osmótica e a distribuição de água nos vários compartimentos do corpo, manter o pH fisiológico, regular a função apropriada do coração e músculos, envolvimento nas reações de oxidação-redução (transferência de elétrons) e participar da catálise como co-fatores para as enzimas. ü Os micronutrientes No sangue também estão presentes micronutrientes, como aminoácidos, pequenos peptídeos, glicose, lipídios, ácidos graxos, fosfolipídios, triglicérides. Estes micronutrientes circulam no sangue por meio de uma ligação com apolipoproteínas (parte protéica da lipoproteína). De acordo com a proporção da parte protéica em relação à parte lipídica, a densidade da molécula é diferente, pois os lipídios possuem densidade menor que a água e as proteínas possuem densidade maior que a água. ü Os hormônios e excretas metabólicas Também são encontrados no sangue hormônios, podendo ser protéicos, como a insulina, tireoidiano, ou lipídicos, derivados do colesterol, sendo representados pelos hormônios sexuais e supra-renais. Há também excretas metabólicas, derivadas do produto do metabolismo da circulação renal e linfática, como uréia, creatinina, assim como moléculas no estado gasoso, oxigênio e gás carbônico. Os ensaios bioquímicos consistem nas dosagens qualitativas e quantitativas dos diversos componentes presentes nos líquidos corporais, através de técnicas as quais estudaremos a seguir. Curiosidades! As desordens da homeostase da água e eletrólitos resultam em várias síndromes como desidratação, edema, hiponatremia e hipernatremia. Pacientes com estas desordens necessitam uma cuidadosa avaliação antes da aplicação da terapia adequada. O diagnóstico é realizado através dos achados clínicos e testes laboratoriais; estes últimos além de confirmar a clínica, ainda podem detectar anormalidades específicas como hipernatremia, insuficiência renal etc. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 30 UNIDADE VII – REAGENTES, SUBSTÂNCIAS E AMOSTRAS BIOLÓGICAS Uma equação química é a representação das substâncias, reagentes e produtos que estão participando de uma transformação química. Nessas equações são utilizados símbolos para especificar os reagentes e os produtos. Em uma reação química, uma ou mais substâncias sofrem transformações originando outra ou outras substâncias distintas das anteriores. São denominados reagentes, as substâncias de partida e de produtos, as novas substâncias originadas. Os reagentes e os produtos encontram-se separados por meio de uma seta, o que indica a ocorrência de uma transformação química. Essa representação é chamada de equação química. Ø Reagentes→ Produtos Destaque que nas equações químicas, por convenções internacionais, à esquerda são representados os reagentes, separados por uma seta que indica a transformação desses reagentes; e à direita, são representados os produtos. São consideradas amostras biológicas de material humano para exames laboratoriais: sangue urina, fezes, suor, lágrima, linfa (lóbulo do pavilhão auricular, muco nasal e lesão cutânea), escarro, esperma, secreção vaginal, raspado de lesão epidérmico (esfregaço) mucoso oral, raspado de orofaringe, secreção de mucosa nasal (esfregaço), conjuntiva tarsal superior (esfregaço), secreção mamilar (esfregaço), secreção uretral (esfregaço), swab anal, raspados de bubão inguinal e anal/perianal, coleta por escarificação de lesão seca/swab em lesão úmida e de pêlos e de qualquer outro material humano necessário para exame diagnóstico. No caso da bioquímica clínica a amostra ou espécime biológico mais utilizado para as dosagens é o soro. Curiosidades! A obtenção de sabões se dá por meio de reações químicas chamadas de saponificação. Nelas, o éster do ácido graxo e o hidróxido de sódio produzem um sal de ácido graxo e glicerina. O óleo não deve ser jogado no meio ambiente, pois uma pequena quantidade de óleo polui um volume muito grande de água. O vinagre é uma solução diluída de ácido acético, logo o ácido acético é um dos componentes do vinagre. O vinagre para consumo deve ter entre 4% e 6% de ácido acético. A legislação brasileira estabelece em 4% o teor mínimo de ácido acético para vinagre. EXERCÍCIOS 1. O que são carboidratos? 2. Defina monossacarídeo, oligossacarídeo e polissacarídeo. 3. Conceitue gliconeogênese, glicogonólise, glicólise e glicogênese. 4. Fale resumidamente sobre o metabolismo da glicosee as três fases da via glicolítica. 5. Descreva sobre a importância do sangue e função do sistema cardiovascular. 6. O que é volemia? 7. Fale resumidamente sobre os vários componentes do sangue. 8. Em uma reação química defina: reagentes e produtos. 9. Cite os tipos de amostras biológicas utilizadas no laboratório e qual seria a mais utilizada para as análises bioquímicas. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 31 UNIDADE VIII – ESTUDO DOS NÍVEIS DE GLICOSE NO SANGUE HIPERGLICEMIA E HIPOGLICEMIA Ø Diabetes Mellitus O diabetes é uma doença que afeta a habilidade do corpo de usar glicose. A glicose é um açúcar (carboidrato) simples que fornece energia para todas as células do corpo. As células captam a glicose presente no sangue e a quebram para obter energia. Algumas células, como as do cérebro e as sangüíneas vermelhas (hemácias), dependem somente da glicose como combustível. A glicose do sangue é proveniente do alimento que comemos. Quando comemos um alimento, a glicose é absorvida pelo intestino e distribuída através da corrente sangüínea para todas as células do corpo. O corpo tenta manter um suprimento constante de glicose para as células, mantendo uma concentração constante de glicose no sangue, caso contrário, as células teriam mais glicose do que o necessário logo após a refeição e ficariam sem nada entre as refeições e durante a noite. Portanto, quando temos um suprimento excessivo de glicose, o corpo armazena o excesso no fígado e nos músculos formando glicogênio, que é feito de cadeias longas de glicose. Quando as reservas de glicose estão baixas, o corpo mobiliza a glicose armazenada como glicogênio ou nos estimula comer. O importante é manter um nível constante de glicose no sangue. Para manter um nível constante de glicose no sangue, o corpo depende de dois hormônios produzidos no pâncreas que têm ações opostas: insulina e glucagon. Em condições normais, a glicose sangüínea (glicemia) é mantida em teores apropriados por meio de vários mecanismos regulatórios. Após uma refeição contendo carboidratos, a elevação da glicose circulante provoca: ü Remoção pelo fígado de 70% da glicose transportada via circulação porta. Parte da glicose é oxidada e parte é convertida em glicogênio para ser utilizada como combustível no jejum. O excesso de glicose é parcialmente convertida em ácidos graxos e triglicérides incorporados às VLDL (lipoproteínas de densidade muito baixa) e transportados para os estoques do tecido adiposo. ü Liberação de insulina pelas células β do pâncreas. Entre os tecidos insulino dependentes estão o tecido muscular, adiposo, diafragma, aorta, hipófise anterior, glândulas mamárias e lente dos olhos. Outras células, como aquelas do fígado, cérebro, eritrócitos e nervos não necessitam insulina para a captação de glicose (insulino independentes). ü Aumento da captação da glicose pelos tecidos periféricos. ü Inibição da liberação do glucagon. ü Outros hormônios (adrenalina, hormônio de crescimento, glicocorticóides, hormônios da tireóide) e enzimas, além de vários mecanismos de controle, também atuam na regulação da glicemia. Estas atividades metabólicas levam a redução da glicemia em direção aos teores encontrados em jejum. Quando os níveis de glicose no sangue em jejum estão acima dos valores de referência, denomina-se hiperglicemia, quando abaixo destes valores, hipoglicemia. A glicose é normalmente filtrada pelos glomérulos e quase totalmente reabsorvida pelos túbulos renais. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 32 Entretanto, quando os teores sangüíneos atingem a faixa de 160 a 180 mg/dL, a glicose aparece na urina, o que é denominado glicosúria. Em todas as células, a glicose é metabolizada para produzir ATP e fornecer intermediários metabólicos necessários em vários processos biossintéticos. Para manter um nível constante de glicose no sangue, o corpo depende de dois hormônios produzidos no pâncreas que têm ações opostas: insulina e glucagon. Ø Mecanismo de Ação Insulina – Glucagon no Controle da Glicemia A insulina é sintetizada e secretada pelas células β das ilhotas pancreáticas, pequenas ilhas de células endócrinas no pâncreas. O pâncreas está localizado no abdômen, abaixo do estômago é responsável pela produção de várias enzimas digestivas que quebram os alimentos (função exócrina) e hormônios (função endócrina) que regulam a glicose no sangue. Figura 16: Localização e constituição do pâncreas. Fonte: http://redes.moderna.com.br A insulina é um hormônio protéico formado por cerca de 51 aminoácidos. Ela é necessária para quase todas as células do corpo, porém seus principais alvos são as células do fígado, células adiposas e células musculares. Nessas células, a insulina atua da seguinte forma: · Estimula as células do fígado e dos músculos a armazenar glicose em forma de glicogênio; · Estimula as células adiposas a formar gorduras a partir de ácidos graxos e glicerol; · Estimula as células do fígado e dos músculos a formar proteínas a partir de aminoácidos; · Impede as células do fígado e dos rins de fazer glicose a partir de compostos intermediários das vias metabólicas (gliconeogênese). Dessa forma, a insulina armazena os nutrientes logo após uma refeição, diminuindo assim as concentrações de glicose, ácidos graxos e aminoácidos na corrente sangüínea. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 33 Ø O que acontece quando nos alimentamos? Quando estamos em jejum, o pâncreas libera glucagon para que corpo possa produzir glicose. O glucagon é outro hormônio protéico sintetizado e secretado pelas células α das ilhotas pancreáticas. O glucagon age nas mesmas células que a insulina, porém tem efeito contrário: ü Estimula o fígado e os músculos a quebrarem o glicogênio armazenado e liberar glicose (glicogenólise); ü Estimula a gliconeogênese no fígado e rins. Ao contrário da insulina, o glucagon retira glicose das reservas de dentro das células e aumenta as concentrações de glicose na corrente sangüínea; caso contrário, a glicose do seu sangue cairia para níveis muitos baixos. Ø Como o organismo sabe quando deve secretar glucagon ou insulina? Geralmente, níveis de insulina e glucagon são equilibrados na corrente sangüínea, por exemplo, logo após comer uma refeição seu corpo está pronto para receber a glicose, ácidos graxos e aminoácidos absorvidos da comida. A presença dessas substâncias no intestino estimula as células β do pâncreas a liberarem insulina no sangue e impedir as células pancreáticas α de secretarem glucagon. Os níveis de insulina no sangue começam a subir e agindo sobre as células; principalmente do fígado, adiposas e musculares, para que estas absorvam as moléculas de glicose, ácidos graxos e aminoácidos que estão entrando. Essa ação da insulina impede que a concentração de glicose no sangue bem como as concentrações de ácidos graxos e de aminoácidos aumente consideravelmente na corrente sangüínea. Dessa forma, o corpo mantém uma concentração constante de glicose sangüínea em particular. Em contrapartida, quando estamos entre as refeições ou dormindo, o corpo fica essencialmente em inanição. As células precisam de suprimentos de glicose do sangue para continuar funcionando. Nesses períodos, pequenas quedas nos níveis de açúcar do sangue estimulam a secreção de glucagon pelas células α do pâncreas e inibem a secreção de insulina das células β, dessa forma os níveis de glucagon no sangue aumentam. Ele age sobre os tecidos do fígado, músculos e rins para mobilizar glicose a partir de glicogênio ou para fazer com que a glicose seja liberada no sangue. Essa ação impede que a concentração de glicose no sangue caia drasticamente. Dessa forma podemos observar como o intercâmbio entre a secreção de insulina e de glucagon ao longo do dia ajuda a manter a concentração de glicose do seusangue constante. Curiosidades! Em concentrações muito altas, geralmente acima dos níveis máximos encontrados no corpo, o glucagon pode agir sobre as células adiposas degradando as gorduras em ácidos graxos e glicerol, liberando os ácidos graxos na corrente sangüínea. Contudo, isso é um efeito farmacológico e não fisiológico. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 34 Figura 17: Esquema de ação da Insulina e Glucagon. Fonte: http://news.slnutrition.com Ø Hiperglicemia A causa mais freqüente de hiperglicemia é o diabetes mellitus, um estado de intolerância à glicose e hiperglicemia em jejum resultante da ação deficiente da insulina. Apresenta, também, anormalidades no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios. Pacientes portadores de episódios hiperglicêmicos, quando não tratados, desenvolvem cetoacidose ou coma hiperosmolar. Com o progresso da doença, aumenta o risco de desenvolver complicações crônicas características, tais como: retinopatia, angiopatia, doença renal, neuropatia (câimbras, paresteses dos dedos dos pés, dor nos membros inferiores, neuropatia do nervo craniano), proteinúria, infecção, hiperlipemia e doença aterosclerótica. Esta última pode resultar em ataque cardíaco, doença coronariana, acidente vascular encefálico. 1. Tipos de Diabetes Ø Diabetes Mellitus Tipo I O Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1) é uma doença auto-imune caracterizada pela destruição das células beta produtoras de insulina. Isso acontece por engano porque o organismo as identifica como corpos estranhos. A sua ação é uma resposta auto-imune. Este tipo de reação também ocorre em outras doenças, como esclerose múltipla, Lupus e doenças da tireóide. Surge quando o organismo deixa de produzir insulina ou produz apenas uma quantidade muito pequena desse hormônio. Quando isso acontece, é preciso tomar insulina para viver e se manter saudável. As pessoas precisam de injeções diárias de insulina para regularizar o metabolismo do açúcar. Pois, sem insulina, a glicose não consegue chegar até às células, que precisam dela para queimar e transformá-la em energia. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 35 As altas taxas de glicose acumulada no sangue, com o passar do tempo, podem afetar os olhos, rins, nervos ou coração. A maioria das pessoas com DM1 desenvolve grandes quantidades de auto-anticorpos, que circulam na corrente sanguínea algum tempo antes da doença ser diagnosticada. Os anticorpos são proteínas geradas no organismo para destruir germes ou vírus. Auto-anticorpos são anticorpos com “mau comportamento”, ou seja, eles atacam os próprios tecidos do corpo de uma pessoa. Nos casos de DM1, os auto-anticorpos podem atacar as células que a produzem. Ø Sintomas Pessoas com níveis altos ou mal controlados de glicose no sangue podem apresentar: ü Vontade de urinar diversas vezes; ü Fome freqüente; ü Sede constante; ü Perda de peso; ü Fraqueza; ü Fadiga; ü Nervosismo; ü Mudanças de humor; ü Náusea; ü Vômito Ø Diabetes Mellitus Tipo II O Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2), possui um fator hereditário maior do que no tipo 1. Além disso, há uma grande relação com a obesidade e o sedentarismo. Estima-se que 60% a 90% dos portadores da doença sejam obesos. A incidência é maior após os 40 anos. Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Por muitas razões, suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sangüínea. Esta é uma anomalia chamada de "Resistência Insulínica". O diabetes tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum que o tipo 1 e pode responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Outras vezes vai necessitar de medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina. Figura 18: Esquema de sintomas comuns do Diabetes Mellitus Tipo 1. Fonte: http://www.soudiabetico.com.br/educacional/sinto mas-da-diabetes Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 36 ü Sintomas · Infecções freqüentes; · Alteração visual (visão embaçada); · Dificuldade na cicatrização de feridas; · Formigamento nos pés; · Furunculose. Ø Diabetes Gestacional Na gravidez, duas situações envolvendo o diabetes podem acontecer: a mulher que já tinha diabetes e engravida e o diabetes gestacional. O diabetes gestacional é a alteração das taxas de açúcar no sangue que aparece ou é detectada pela primeira vez na gravidez. Pode persistir ou desaparecer depois do parto. Ø Outros Tipos de Diabetes ü Diabetes Secundário ao Aumento de Função das Glândulas Endócrinas: Em determinadas doenças glandulares, quando ocorre aumento de função, a ação da insulina é de alguma maneira dificultada ou prejudicada, aparecendo diabetes em pessoas de alguma maneira predispostas. É o que pode ocorrer, por exemplo, com doenças da: § Tireóide (hipertiroidismo); § Supra-renal (doença de Cushing); § Hipófise (acromegalia ou gigantismo). Também pode aparecer na presença de tumores de: § Sistema nervoso simpático (feocromocitoma); § Células alfa do pâncreas (glucagonoma). ü Diabetes Secundário a Doenças Pancreáticas: Nesse grupo, o diabetes ocorre mais freqüentemente naqueles com antecedentes familiares do Tipo 2. § Retirada cirúrgica de 75% do pâncreas; § Pancreatite crônica (inflamação geralmente causada pelo alcoolismo crônico); § Destruição pancreática por depósito de ferro denominado hemocromatose (extremamente rara). Nesses casos, o diabetes está associado à diarréia com perda de gordura nas fezes, pois o pâncreas afetado extensamente também não produz enzimas digestivas suficientes. ü Resistência Congênita ou Adquirida à Insulina A produção de insulina está aumentada, porém com ação ineficaz por causa da diminuição ou defeito de receptores celulares (encaixes para insulina), em tecido gorduroso, músculo etc. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 37 Essas anormalidades, quando congênitas, podem ser defeitos dos receptores de insulina, presença de anticorpos anti-receptores. ü Diabetes Associado à Poliendocrinopatias Auto-Imunes Casos onde existem anticorpos anticélulas de ilhotas pancreática produtoras de insulina (Tipo 1). Destes, 20% apresentam anticorpos contra tireóide e (menos freqüentemente) anticorpos contra supra renal, mucosa do estômago, músculo e glândulas salivares, além da ocorrência de vitiligo, alopecia (intensa queda de cabelos), hepatite crônica, candidíase, etc. ·Diabetes Associado à Desnutrição e Fibrocalculoso Ocorre em jovens de países tropicais com baixa ingestão protéica, freqüentemente associada a alimentos que contêm cianetos, como a mandioca amarga. Esta associação pode causar dano pancreático, com destruição das ilhotas e diminuição da produção de insulina. ·Diabetes Relacionados à Anormalidade da Insulina (Insulinopatias) A produção da insulina está aumentada, porém com alteração de sua estrutura molecular, não sendo assim eficaz. Aplicando-se insulina, controla-se o diabetes. ·Diabetes Tipo LADA (Latent Autoimmune Diabetes in Adults) O LADA caracteriza-se pelo surgimento tardio do Diabetes Mellitus do Tipo 1 e atinge entre 2 e 12% dos casos, ou seja, 1,4 milhão de pessoas no Brasil. Também conhecido como Diabetes Tipo 1.5 (Type one-and- a-half), o LADA costuma ser confundido com o do tipo 2. A maior incidência concentra-se em pacientes entre 35 e 60 anos, magro e com cetose. O seu diagnóstico é feito pelo teste do anticorpo GAD. A hereditariedade do diabetes tipo 1, doenças de Hashimoto e Graves devem ser levadas em conta num histórico familiar. Atualmente, não há um consenso na literatura médica para o tratamento do LADA. A manutenção do controle de glicemia é o principal objetivo do tratamento do portador do diabetes LADA. Um aspecto que deve ser levado em conta, refere-sea progressão lenta para a insulino-dependência, assim como um risco maior de complicações cardiovasculares para esses pacientes. ·Pré – Diabettes e os Fatores de Risco Este termo é usado para identificar as pessoas que possuem risco potencial de desenvolver o diabetes. É uma forma ou um estado intermediário entre a normalidade e o diabetes do tipo 2 no adulto. No entanto, sabe-se que nem todos irão deixar a condição de pré-diabético para se tornar um diabético. Mas, por precaução, são considerados em estado de risco para essa progressão. Ø Fatores de Risco ü Idade (estar acima de 45 anos); ü Excesso de peso; ü Sedentarismo; ü Hipertensão arterial; ü Alterações nas taxas de colesterol e triglicérides sangüíneos; ü História familiar de diabetes. Isso serve para ambos os sexos. Mulheres que geraram filhos com mais de 4 kg ou que sejam portadoras de Síndrome dos Ovários Policísticos também têm risco aumentado. Nesses casos, preconizam-se a realização da dosagem de glicemia de jejum ou a realização do teste oral de sobrecarga com glicose, para possível detecção de pré-diabetes ou mesmo diabetes. A melhor maneira de identificar o pré-diabetes é através da dosagem da glicemia. Sua definição laboratorial dá-se quando a taxa de glicemia de jejum (mínimo de oito horas) encontra-se entre 100 e 125 mg/dl e/ou quando o valor de glicemia na segunda hora do teste de sobrecarga oral à glicose (também chamado de curva glicêmica) está entre 140 e 199 mg/dl (indivíduos classificados também como intolerantes à glicose). Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 38 A quantidade de pessoas que evoluem para o diabetes é parecida nos grupos que têm glicemia de jejum alterada e os que apresentam alterações nas taxas de glicemia na segunda hora do teste oral. É importante salientar que as pessoas que adquirem novos hábitos no estilo de vida; como a atividade física regular resultando na diminuição de 5 a 7% no peso corporal, ajudam a retardar o aparecimento do diabetes. Ø Hipoglicemia É a diminuição dos níveis plasmáticos de glicose no sangue. A hipoglicemia é uma condição médica aguda caracterizada pela concentração da glicose sangüínea abaixo dos limites encontrados no jejum (<50 mg/dL em adultos e <40 mg/dL em recém nascidos); no entanto é difícil definir limites específicos. Pode ocorrer redução em uma hora e meia a duas horas após uma refeição, sendo relativamente comum a obtenção de teores de glicose plasmática ao redor de 50 mg/dL no teste pós-prandial de duas horas. Mesmo em jejum, valores de glicose extremamente baixos podem ocasionalmente ser encontrados sem sintomas ou evidências de alguma doença. As principais causas de hipoglicemia são: Ø Neonatal ü Pequeno para a idade gestacional/prematuros. ü Síndrome do sofrimento respiratório. ü Diabetes mellitus materna. ü Toxemia da gravidez. ü Outras causas (ex.: estresse pelo frio, policitemia). Ø Crianças ü Hipoglicemia cetônica. ü Defeitos enzimáticos congênitos (doenças do armazenamento do glicogênio, deficiência de enzimas gliconeogênicas, galactosemia, intolerância hereditária à frutose). ü Hipersensitividade à leucina. ü Hiperinsulinismo endógeno (nesidioblastose). ü Síndrome de Reye. ü Idiopática. Ø Adultos ü A hipoglicemia em jejum é rara, mas sinaliza uma séria patologia subjacente. o Medicações/toxinas: doses excessivas de insulina ou agentes hipoglicemiantes orais, salicilatos e bloqueadores �-adrenérgicos. Pode ser classificada em hipoglicemia de jejum e pós-prandial. Hipoglicemia de jejum: causada por aumento na utilização ou por diminuição na produção da glicose. Hipoglicemia pós-prandial: apresenta glicemia de jejum normal e ataques hipoglicêmicos de 2 a 5 horas após a alimentação. Neste caso, para que seja feito o diagnóstico é necessário realizar o teste oral de tolerância à glicose (TOTG). 2. Diagnóstico Laboratorial e Monitorização do Diabetes Mellitus Ø Glicemia A medida da glicemia é o teste mais importante, pois reflete o nível exato de glicose sanguínea em um momento específico. A pessoa com Diabetes bem orientada quanto monitorização, certamente não entrará em coma, seja hipoglicêmico ou hiperglicêmico, além de aprender diariamente como melhor lidar com seu diabetes. A monitorização laboratorial é importante para ver como anda o controle. A hemoglobina glicada traduz a média das glicemias dos três últimos meses, e a frutosamina das três últimas semanas. A hemoglobina glicada deve ser realizada a cada três meses e deve ficar, idealmente, no máximo 1 ponto percentual acima do limite superior de referência do laboratório. Ø Diagnóstico Laboratorial Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 39 É feito através da realização dos seguintes exames: ü Glicemia de jejum Valor normal: 70 a 99 mg/dl. ü Glicemia 2h após 75g de glicose por via oral Valor normal: < 140 mg/dl. ü Glicemia 2h após almoço: Pós-prandial Diabetes: valores > 200 mg/dl ü Curva glicêmica: teste oral de tolerância a glicose (TOTG), com duração de 3 horas e 5 dosagens. O teste de tolerância à glicose consiste em após passar a noite em jejum, coleta-se uma glicemia de jejum e logo em seguida recebe para beber uma solução com alta concentração de açúcar (75 gr de glicose) e é colhida nova glicemia após 30, 60, 120 e 180 minutos. O teste de tolerência oral à glicose é considerado positivo quando a glicemia fica acima de 200 mg/dl após 120 min. Normalmente, a glicose não sobe muito e retorna ao normal após duas a três horas. Em um diabético, a glicose sangüínea é geralmente mais alta após o jejum, sobe mais depois de ingerir a solução de glicose e leva quatro a seis horas para cair. Valores de referência: Jejum: 70 a 99 mg/dl 30 min: 90 a 160 mg/dl 60 min: 90 a 160 mg/dl 120 min: 75 a 120 mg/dl 180 min: 70 a 99 mg/dl ü Glicosúria ü Cetonúria Dosagem da Glicose Significado Clínico Auxiliar no diagnóstico da Hiperglicemia e da Hipoglicemia. Princípio do teste A glicose é determinada de acordo com as seguintes reações: Glicose + O2 + H2O GOD Ácido Glucônico + H2O2 2H2O2 + 4-Aminoantipirina + fenol POD Antipirilquinonimina + 4H2O O peróxido de hidrogênio formado reage com 4-aminoantipirina e fenol, sob ação catalisadora da peroxidase, através de uma reação oxidativa de acoplamento, formando uma antipirilquinonimina vermelha cuja intensidade de cor é proporcional à concentração da glicose na amostra. Metodologia GOD-Trinder Amostra Usar soro, plasma ou líquor, colher a amostra após jejum de 8 horas não utilizar amostras hemolisadas. A determinação em líquidos biológicos auxilia na distinção entre processos inflamatórios e infecciosos. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 40 Procedimento Técnico Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir: Branco Teste Padrão Amostra Padrão (nº 2) Reagente 1 ---- ---- 1,0 ml 0,01ml ---- 1,0 ml ---- 0,01 ml 1,0ml Homogeneizar e incubar em banho-maria a 37 ºC durante 15 minutos. Observando que o nível da água deve ser superior ao nível dos reagentes no tubo de ensaio. Determinar as absorbâncias do teste e do padrão em 500 nm ou filtro verde (490 a 540), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos. Cálculos e Resultados Glicose (mg/dl) = Absorbância do Teste/Absorbância do Padrão x 100 Fator de calibração = 100/Absorbância do Padrão Glicose (mg/dl) = Absorbância do teste x Fator de calibração Exemplo: Padrão: 0,242 FC =100/ 0,242 = 413,22 Amostra 1 A = 0,240 [glicose] = 0,240 x 413, 22 = 99,17mg/dL Amostra 2 A = 0,258 [glicose] = 0,258 x 413,22 = 106,61mg/dL Linearidade A reação é linear até 500mg/dl. Quando o resultado for maior ou igual a 500mg/dl, diluir a amostra com NaCl 150 mmol/L (0,85%), realizar nova medição e multiplicar o resultado pelo fator de diluição. Diluira amostra até que o valor encontrado esteja entre 80 e 200 mg/dL. Relatar o procedimento de diluição utilizado no laboratório. Valores Desejáveis ou Recomendados em coletas feitas em pacientes com jejum de 8 horas Mg/dl Jejum Normal Jejum Alterado Provável Diabetes Mellitus Líquor Glicemia 70 - 99 100 - 125 > =126 2/3 da glicemia em dosagens feitas em coletas realizadas simultaneamente Discussão A determinação da glicemia deve ser realizada imediatamente após a coleta do sangue, pois há destruição enzimática da glicose sangüínea pelas hemácias e pelos leucócitos, nem mesmo em amostras congeladas a glicólise é inibida. Se a amostra a ser usada for soro, centrifugar o sangue dentro de 30 minutos após a coleta, caso contrário usar anticoagulante fluoreto como conservante. EXERCÍCIOS 1. Conceitue diabetes. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 41 2. O que acontece no organismo logo que ingerimos um alimento? 3. Qual a relação entre glicose e os triglicérides? 4. Descreva o mecanismo de ação da Insulina e Glucagon no controle dos níveis de glicose sanguínea. 5. Conceitue Hiper e Hipoglicemia. 6. Explique Diabetes Mellitus Tipo I e II e Gestacional com suas respectivas diferenças. 7. Cite os demais tipos de diabetes e suas características. 8. Como pode ser realizado o diagnóstico laboratorial do diabetes e quais amostras podem ser usadas para as medições? 9. Relacione os fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes. 10. Tendo como base os dados a seguir calcule as concentrações de glicose em mg/dl: [Padrão] = 100 Absorvâcia do padrão = 0,242 FC = Amostra 1 Amostra 3 Absorvância da amostra = 0,200 Absorvância da amostra = 0,510 [glicose] = [glicose] = Amostra 2 Amostra 4 Absorvância da amostra = 0,270 Absorvância da amostra = 0,180 [glicose] = [glicose] = Ø FRUTOSAMINA Frutosamina é o nome genérico dado a todas as proteínas glicosiladas, das quais a maior parcela é devida à albumina, que se constitui na maior massa protéica plasmática depois da hemoglobina. Assim como a formação da hemoglobina glicada é decorrente de uma modificação não enzimática, dependente dos valores de glicemia, o mesmo ocorre com a glicosilação de outras proteínas plasmáticas. O nível sérico de frutosamina representa o valor médio da glicose sangüínea em um prazo de duas a três semanas, inferior ao da glicohemoglobina e idêntico ao das proteínas glicadas. A meia vida das proteínas varia entre 1 a 3 semanas, ao contrário da hemoglobina cuja meia vida é de 120 dias. Portanto, é de se esperar que, enquanto o valor da hemoglobina glicada reflete o controle de glicemia nos 2 meses anteriores ao teste, a proteína glicada espelha as concentrações de glicose plasmática nos 20 dias anteriores. Significado Clínico A frutosamina está elevada em todos os casos de diabetes sob controle metabólico inadequado e tem sido observado que os valores retornam aos níveis de referência vinte dias após a estabilização da glicemia em níveis adequados. Quando se observa perda do controle glicêmico, a resposta da frutosamina (com elevação de valores) ocorre praticamente concomitante a hiperglicemia, retornando, entretanto aos valores de referência três semanas após a resposta ao tratamento. O problema do controle da glicemia a longo prazo é um tema de grande interesse para o diabético, já que está suficientemente demonstrado que a única maneira eficaz de prevenir os transtornos degenerativos próprios de diabetes é um controle estrito da glicemia, evitando flutuações importantes. O teste não sofre interferências de medicamentos, alimentação, glicemia do momento e não se observa diferença significativa entre homens e mulheres. Valores diminuídos têm sido observados em pacientes com perdas elevadas de albumina ou em doenças que aumentam o catabolismo protéico. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 42 A determinação da frutosamina (proteína glicada) em amostras de sangue é útil no controle do diabetes. Dosagem da Frutosamina Princípio do Teste A glicose se liga aos grupamentos amina das proteínas formando uma base de Schiff (aldimina), que após um rearranjo molecular, transforma-se em uma cetoamina estável denominada genericamente frutosamina1. Em pH alcalino a frutosamina é convertida à forma enólica, que reduz o azul de nitrotetrazólio a um "formazan púrpura”. A medida da diferença de absorbância, após incubação aos 10 e 15 minutos, é proporcional à concentração de frutosamina na amostra2. Metodologia Colorimétrico. Amostra Usar soro ou plasma (heparina, EDTA), sem hemólise. Recomenda-se jejum mínimo de 8 horas. Procedimento Técnico Rotular 2 cubetas do fotômetro como “Teste” e “Calibrador” e proceder como a seguir: Teste Calibrador Reagente de Trabalho 1,0 mL 1,0 mL Incubar a 37 ºC durante 2 minutos. Amostra 0,050 mL Calibrador 0,050 mL Misturar bem e incubar a 37 ºC. Após exatamente 10 minutos (cronometrados) determinar as absorbâncias (A1) do teste e do calibrador em 530 nm (510 – 550), acertando o zero com água destilada ou deionizada. Continuar a incubação a 37 ºC por mais exatamente 5 minutos (cronometrados) e determinar as absorbâncias (A2) do teste e do calibrador em 530 nm (510 – 550), acertando o zero com água destilada. Cálculos Calcular as diferenças de absorbâncias para o teste e o calibrador: DA = A2 - A1 DA do teste Frutosamina (µmol/L) = x Concentração do calibrador DA do Calibrador g/dl = g/dl Devido a grande reprodutibilidade que pode ser obtida com a metodologia, o método do fator pode ser empregado. Concentração do Calibrador Fator de calibração = DA do Calibrador Frutosamina ( mol/L) = A do teste x Fator Linearidade O resultado da medição é linear entre 20 mmol/L e 800 mmol/L. Para valores maiores que 800 mmol/L, diluir a amostra com NaCl 150 mmol/L (0,85%), realizar nova medição e multiplicar o resultado obtido pelo fator de diluição. Indicar o procedimento de diluição utilizado no laboratório. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 43 Valores Desejáveis ou Recomendados Para indivíduos não diabéticos: 205 a 285mmol/L. Considerações Importantes 1. O teste não sofre interferências de medicamentos, alimentação, glicemia do momento e não se observou diferenças significativas entre homens e mulheres. 2. Concentrações de hemoglobina acima de 100 mg/dL produzem interferência negativa significativa. 3. Concentrações de bilirrubina até 8,0 mg/dL e glicose até 1000 mg/dL não produzem interferências significativas. 4. Concentrações de Triglicérides até 1000 mg/dL e de Ácido Úrico até 14,0 mg/dL não interferem significativamente. Hemoglobina Glicada A hemoglobina é uma proteína dos glóbulos vermelhos ou hemácias que transporta o oxigênio para todo o corpo. Parte da hemoglobina existente nos glóbulos vermelhos se combina com a glicose do sangue, indicando que quanto maior for esta proporção, mais alta será a taxa de glicemia. Denominamos hemoglobina glicada a porcentagem de hemoglobina que está unida à glicose e que permite registrar os níveis de glicemia que o paciente apresentou durante os últimos dois ou três meses, já que a porção de sangue coletada apresenta glóbulos vermelhos de diferentes idades, independentemente da renovação dos glóbulos vermelhos a cada quatro meses. Existem várias classes de hemoglobina glicada e a mais utilizada é a hemoglobina glicada A1 C, que é a que se mede com maior freqüência em pacientes portadores de diabetes e para a qual foram estabelecidos níveis ideais. Significado Clínico Um número importante de trabalhos confirma a utilidade da determinação da Hb-G na avaliação do estado de controle da glicemia em pacientes diabéticos e está definitivamente provadoque a elevação da Hb- G é influenciado somente por fatores ligados ao diabetes. Portanto, a Hb-G se eleva com a deterioração da tolerância à glicose e com todos os fatores de risco como idade, obesidade, história familiar e história de recém nascido de grande peso. Quando pacientes diabéticos em estado de descontrole são submetidos ao tratamento e passam a apresentar valores da glicemia em níveis ótimos, observa-se redução progressiva da Hb-G que atinge o ponto de equilíbrio depois de 6 – 8 semanas. Assim, o conceito de que uma determinação de Hb-G reflete os níveis glicêmicos da sexta ou oitava semana precedente ao teste está definitivamente comprovado. Um resultado de Hb-G próximo ao valor superior referente indica que o paciente diabético tem estado sob controle metabólico adequado por várias semanas e exclui uma perda temporária do controle durante o período avaliado. Quando há perda do controle glicêmico os valores da Hb-G começam a se elevar logo na primeira semana de descontrole e a velocidade do aumento é muito maior que a velocidade de queda quando um paciente diabético é colocado em níveis desejáveis de glicemia. Portanto, um resultado elevado de Hb-G pode ocorrer na presença de um controle metabólico adequado quando a Hb-G ainda não atingiu o novo ponto de equilíbrio. Estudos recentes do DCCT (Diabetes Control and Clinical Trial) demonstram que a morbidade ou mortalidade do diabetes estão diminuídos quando ocorre um controle adequado da glicemia e que a dosagem de Hb-G é muito importante para informar o estado de controle da glicemia. Dosagem da Hemoglobina Glicada Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 44 Princípio do Teste A resina de troca iônica, carregada negativamente, exibe uma afinidade para molécula com carga positiva. Em força iônica e pH selecionado, a hemoglobina glicada (Hb-G) tem carga positiva menor que a hemoglobina A e se liga mais fracamente à resina. A aplicação do tampão Hb-Rápida (nº 1) promove a eluição da hemoglobina glicada, ficando as outras hemoglobinas retidas na resina. A medida espectrofotométrica do eluato (Hb-G) e da hemoglobina total (Hg-total) permite o cálculo da percentagem de Hb-G na amostra. Metodologia Colorimétrico (Trivelli modificado). Amostra Sangue total colhido com EDTA. Pode-se obter resultado falsamente elevado quando a amostra é colhida em heparina. Recomenda-se jejum mínimo de 8 horas. Procedimento Técnico Ø Preparo do hemolisado Em um tubo 12 x 75 adicionar 0,4 mL de hemolisante (nº 2) e 0,1 mL da amostra. Agitar fortemente por 20 segundos e esperar 5 minutos. Se a hemólise for incompleta (o líquido no tubo se mostra turvo), centrifugar e usar o sobrenadante. Antes de iniciar a cromatografia, assegurar-se de que o hemolisado, o tampão e as colunas tenham a mesma temperatura ambiente. Nunca realizar a cromatografia se o hemolisado, tampão e coluna tiverem temperaturas diferentes do ambiente no qual se realizará a cromatografia. Ø Preparo da coluna A presença de bolhas de ar no filtro ou na resina interfere na drenagem do tampão, aumentando o tempo de eluição da hemoglobina glicada. Retirar a tampa superior da coluna, introduzir o bastão fazendo movimentos giratórios descendentes a ascendentes para ressuspender a resina. Remover imediatamente a tampa inferior, colocar a coluna em um tubo de ensaio e esperar que todo o líquido penetre na resina. A partir daí, a coluna estará pronta para uso e a cromatografia deverá ser iniciada imediatamente. Jamais iniciar a cromatografia em temperatura inferior a 16 ºC ou superior a 30 ºC. Medir a temperatura do líquido que drenou da coluna para correção do resultado. Ø Cromatografia Adicionar 0,05 mL do hemolisado sobre a resina, de modo que não haja ressuspensão da mesma, evitando a formação de bolhas de ar. Esperar que o hemolisado penetre na resina. Transferir a coluna para um tubo de ensaio limpo e seco, marcado com o número 1 e adicionar lentamente, com a ponta da pipeta tocando a parede da coluna, 3,5 mL de Tampão Hb-Rápida (nº 1). A eluição da Hb-G se completa quando todo o tampão penetra na resina. Desprezar a coluna. Ø Colorimetria Homogeneizar o conteúdo do tubo número 1 (Hb-G) e usá-lo para a colorimetria sem qualquer tratamento adicional. Para um tubo limpo e seco, marcado com o número 2 (Hb-total) pipetar 7,0 mL de água destilada, adicionar 0,02 mL do hemolisado e misturar. Determinar as absorbâncias dos tubos número 1 (Hb-G) e número 2 (Hb.total) em 415 nm ou filtro azul (405 a 430 nm) acertando o zero com água destilada. A cor é estável por 4 horas. Cálculos A1 A1 Hemoglobina Glicada (%) = x 100 ou x 20 Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 45 5 x A2 A2 A1 = Absorbância do tubo número 1 (Hb-G) A2 = Absorbância do tubo número 2 (Hb-Total) Efeito da temperatura A cromatografia deve ser realizada a 22 °C. Se for realizada em temperatura diferente, corrigir o resultado para a temperatura de 22 °C, multiplicando-se o resultado encontrado pelo fator de correção correspondente à temperatura de trabalho. Temperatura de trabalho (ºC) Fator de correção 16 1,16 17 1,13 18 1,10 19 1,08 20 1,05 21 1,03 22 1,00 23 0,98 24 0,95 25 0,93 26 0,90 27 0,88 28 0,86 29 0,84 30 0,82 Linearidade O sistema é linear até 30%. Valor superior a 30% não foi relatado na literatura. Valores Desejáveis ou Recomendados 5,3 a 8,0%. Considerações Importantes 1. Em amostras lipêmicas ou ictéricas obtêm-se resultados falsamente elevados. 2. A presença de hemoglobina F na amostra leva à obtenção de resultados falsamente elevados, enquanto a presença das hemoglobinas S e C produzem resultados falsamente diminuídos. A anemia ferropriva produz resultados falsamente elevados. Em todas as condições onde a meia-vida das hemácias está modificada, podem ocorrer alterações nos valores da hemoglobina glicada. EXERCÍCIOS 1. Em que consiste a dosagem da Frutosamina. 2. Qual a importância da realização desse exame na monitorização e controle do diabetes? 3. Em que consiste a dosagem da Hemoglobina Glicada. 4. Qual a importância da realização desse exame na monitorização e controle do diabetes? 5. Faça uma comparação entre as dosagens de Frutosamina e Hemoglobina Glicada e qual a vantagem de cada um desses exames. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 46 6. Levando em consideração tudo o que estudamos sobre o diabetes e seus fatores de risco, faça um plano de prevenção e controle da doença e estabeleça os exames que fazem parte do diagnóstico e monitorização da doença. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 47 UNIDADE IX - AS LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS A maior parte do colesterol é sintetizado no fígado a partir do acetato, sendo que o colesterol proveniente da dieta inibe a síntese hepática e após ser sintetizado é transportado como lipoproteína. As Lipoproteínas são moléculas compostas por lipídeos e proteínas em várias proporções. Em geral são insolúveis em água e na maioria dos líquidos biológicos, e para serem transportadas necessitam de proteínas incorporadas nas moléculas ou ligadas a proteínas plasmáticas. Devido a isso, existem quatro tipos básicos de lipoproteínas: HDL (alta densidade), LDL (baixa densidade), VLDL (densidade muito baixa) e quilomícron. A concentração do quilomícron na circulação linfática é infinitamente maior do que na circulação sangüínea. A diferença na densidade dessas lipoproteínas explica o porquê da maior concentração de HDL ser protetora para eventos cardiovasculares. No processo de desenvolvimento de arterosclerose, assim como infarto do miocárdio e infarto cerebral, a concentração de HDL, sendo maior, irá proporcionar uma maior captação de colesterol do endotélio, devido a sua maior parte protéica, levando-o ao meio para ser metabolizado. Em contraposto, o aumento da concentraçãode LDL contribui com o desenvolvimento de aterosclerose, pois ela tem o papel de distribuição do colesterol em direção ao endotélio. O aumento dos lipídeos plasmáticos é denominado dislipidemias. Figura 19: HDL e LDL. Fonte: http://blogdaobesidade.blogspot.com De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose as dislipidemias podem ser classificadas como: Ø Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL, com valores maiores ou iguais a 160 mg/dL. Ø Hipertrigliceridemia isolada: observa-se um aumento somente do TG, com valores maiores ou iguais a 150 mg/dL,o aumento do TG reflete no aumento de partículas ricas desta lipoproteína como o VLDL e quilomícrons. Ø Hiperlipidemia mista: é caracterizada pelos valores aumentados de LDL e TG. Em casos onde o TG é maior ou igual a 400 mg/dL, e o cálculo do LDL pela equação de Friedewald não é preciso, considera-se hiperlipidemia mista se o CT for maior ou igual a 200 mg/dL. Ø HDL – baixo: ocorre uma redução do HDL, onde para estar nesta condição os valores de referência são para homens menor que 40 mg/dL e mulheres menor que 50 mg/dl. Esta redução pode ser considerada de forma isolada ou com associação de um aumento de LDL ou TG. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 48 Figura 20: Esquema de formação das placas ateromatosas. Fonte: http://bioquimica.faculdade.zip.net/ O metabolismo das lipoproteínas pode ocorrer por dois ciclos, que estão interligados e acontecem no fígado, um ciclo exógeno e um endógeno. ü Ciclo exógeno O lipídeo originado da dieta é absorvido no intestino delgado e se agregam aos quilomícrons, que entram na circulação linfática e ganham a corrente sanguínea pelo ducto torácico. Já na circulação, os TG são removidos gradualmente das lipoproteínas por ação das enzimas lipases. Essa enzima se localiza no endotélio dos vasos que irrigam os músculos e no tecido adiposo, a taxa de captação dos TG é proporcional à atividade da lipase no tecido. Dessa forma, a lipase direciona os ácidos graxos para oxidação (no músculo) ou armazenamento como TG (no tecido adiposo). À medida que perdem os TG, os quilomícrons ficam menores e serão removidos pelo fígado, onde serão metabolizados. ü Ciclo endógeno Tem início com a síntese hepática de uma lipoproteína denominada VLDL, a qual contém como principal lipídeo os TG. E na circulação capilar as VLDL entram em contato com a lipase, dando origem aos remanescentes de VLDL, que poderá seguir por dois caminhos: serão absorvidos pelo fígado ou sofrerão ação da lipase, dando origem às LDL. A LDL é retirada da circulação principalmente pelo fígado. Uma vez no interior das células, estas lipoproteínas são fragmentadas e liberam colesterol livre e aminoácidos. O colesterol livre é utilizado imediatamente ou armazenado. A síntese intracelular de colesterol varia na razão inversa da captação do colesterol plasmático. Parte do material liberado pela ação da lipase sobre os quilomícrons e as VLDL é utilizada na fabricação de outra lipoproteína conhecida como a HDL, que é sintetizada no intestino e no fígado. A única maneira que o organismo dispõe para eliminar o colesterol é através da bile, como colesterol livre ou como ácido biliar. A HDL promove o retorno do colesterol, originado dos tecidos periféricos, até o fígado para sua remoção na forma de ácidos biliares. Este processo é denominado transporte reverso do colesterol. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 49 Figura 21: Metabolismo das lipoproteínas, ciclo endógeno e exógeno. Fonte: BIOQUÍMICA CLÍNICA. 2 ed., 2001, P.121. Significado Clínico O colesterol sérico total consiste de todo colesterol presente nas várias lipoproteínas, é o principal componente das LDL, e em menor quantidade das VLDL e HDL. As LDL têm sido amplamente associadas ao risco de desenvolvimento de aterosclerose e há dificuldade em dosá-las, a dosagem do colesterol total no soro tem sido utilizado como substituto com grande êxito. Há um consenso geral sobre uma forte relação entre níveis elevados de colesterol sérico e a probabilidade de desenvolver aterosclerose. Figura 22: Esquema de ação do HDL e LDL. Fonte: http://www.melhoramiga.com.br A dislipidemia é o aumento da taxa de lipídios no sangue, fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e apresenta altos índices de mortalidade. Contudo níveis elevados de colesterol são encontrados na nefrose, hipotireoidismo, doenças colestáticas do fígado e nas hiperlipoproteínemias dos tipos IIa, IIb, III. E níveis baixos são observados nos pacientes com hipertireoidismo, doenças consuptivas e desnutrição crônica. Ø DOSAGEM DO COLESTEROL TOTAL Princípio do teste O colesterol total é determinado de acordo com as seguintes reações: Ésteres de colesterol Colesterol Colesterol + Ácidos graxos Esterase Colesterol + O2 Colesterol Colest-4-en-ona + H2O2 Oxidase Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 50 2H2O2 + Fenol + 4-Aminoantipiridina Peroxidase Antipirilquinonimina + 4 H2O Onde os ésteres de colesterol são hidrolisados pela colesterol esterase, colesterol livre e ácidos graxos. O colesterol livre é oxidado pela colesterol oxidase, a colest-4-em-ona e peróxido de hidrogênio. Na presença de peroxidase e peróxido de hidrogênio, o fenol e a 4-aminoantipirina são oxidados formando a antipirilquinonimina que tem absortividade máxima em 500nm. A intensidade da cor vermelha formada na reação final é diretamente proporcional à concentração do colesterol na amostra, por reação de ponto final. Metodologia Enzimático-Trinder Amostra Recomenda-se que todos os ensaios dos lípides sanguíneos, incluindo o colesterol, sejam realizados em amostras colhidas em jejum de 12 a 14 horas. Usar soro, pois anticoagulantes como citrato ou EDTA produzem resultados falsamente diminuídos. Procedimento Técnico Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir: Bran co Teste Padrão Amostra Padrão (nº 2) Reagente 1 ---- ---- 1,0 ml 0,01ml ---- 1,0 ml ---- 0,01 ml 1,0ml Homogeneizar e incubar em banho-maria a 37 ºC durante 10 minutos. Observando que o nível da água deve ser superior ao nível dos reagentes no tubo de ensaio. Determinar as absorbâncias do teste e do padrão em 500 nm ou filtro verde (490 a 510), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos. Cálculos Colesterol (mg/dl) = Absorbância do Teste/Absorbância do Padrão x 200 Fator de calibração = 200/Absorbância do Padrão Colesterol (mg/dl) = Absorbância do teste x Fator de calibração Exemplo: Padrão: 0,345 FC =200/ 0,345 = 580 Amostra 1 A = 0,290 [colesterol] = 0,290 x 580 = 168 mg/dL Linearidade A reação é linear até 500mg/dl. Quando o resultado for maior ou igual a 500mg/dl, diluir a amostra com NaCl 150 mmol/L (0,85%), realizar nova medição e multiplicar o resultado pelo fator de diluição. Valores Desejáveis ou Recomendados Mg/dl Desejável Limiar Elevado Alto Risco Colesterol Total < 200 200 - 239 > = 240 Ø DOSAGEM DO COLESTEROL HDL Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 51 Estudos comprovam que os níveis plasmáticos de colesterol HDL possuem correlação inversa com o risco de desenvolvimento de coronariopatia aterosclerótica, sendo que quanto maior o nível de HDL no sangue menor será o risco. Princípio do teste As lipoproteínas de muita baixa densidade (VLDL) e as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) são quantitativamente precipitadas e após centrifugação o colesterol ligado às lipoproteínas de alta densidade (colesterol HDL) é determinado no sobrenadante, por reação de ponto final. Metodologia Labtest Amostra Usar soro, colhendo a amostra após jejum de 12 horas não utilizando amostras fortemente hemolisadas. Procedimento Técnico Manter uma relação Amostra/Precipitante igual1:1. Precipitação das VLDL E LDL. Colocar em tubo 12 x 75: Soro 0,25 ml Precipitante 0,25 ml Agitar vigorosamente durante 30 segundos. Esse procedimento é necessário para que se obtenham resultados consistentes. Centrifugar a 3.500 rpm por pelo menos 15 minutos para obter um sobrenadante límpido. Remover o sobrenadante límpido dentro de 15 minutos, tomando o cuidado para não ressuspender o precipitado, para evitar resultados falsamente elevados. Colorimetria Usar o Reagente 1 do colesterol Liquiform Labtest. Utilizar 3 tubos de ensaio para a realização do teste. Branco Teste Padrão Sobrenadante Padrão (nº 2) Reagente 1 ---- ---- 1,0 ml 0,1 ml ---- 1,0 ml ---- 0,1 ml 1,0 ml Homogeneizar e incubar em banho-maria a 37 ºC durante 10 minutos. Observando que o nível da água deve ser superior ao nível dos reagentes no tubo de ensaio. Determinar as absorbâncias do teste e do padrão em 500 nm ou filtro verde (490 a 510), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos. Cálculos Colesterol HDL (mg/dl) = Absorbância do Teste/Absorbância do Padrão x 40 Fator de calibração = 40/Absorbância do Padrão Colesterol HDL (mg/dl) = Absorbância do teste x Fator de calibração Exemplo: Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 52 Padrão: 0,320 FC = 40/ 0,320 = 125 Amostra 1 A = 0,290 [HDL] = 0,290 x 125 = 36 mg/Dl ü COLESTEROL LDL Comprovou-se também através de estudos que a fração das lipoproteínas de baixa densidade LDL possui relação direta com o risco de desenvolvimento da aterosclerose, níveis elevados desta fração conferem maior risco de desenvolvimento de coronariopatia. Valores Desejáveis ou Recomendados mg/dl Desejável Risco Moderado Alto Risco Colesterol LDL < 130 130 - 159 > =160 Valores Desejáveis ou Recomendados mg/dl Desejável Risco moderado Alto Risco Colesterol HDL (masculino) > 55 35 - 55 < 35 Colesterol HDL (feminino) > 65 45 - 65 < 45 Discussão O soro é estável por uma semana congelado. Algumas substâncias podem causar interferências, medicamentos contendo brometos causam resultados aumentados. Acido ascórbico, neomicina, ácido nicotínico, heparina, glucagon são algumas substâncias que podem diminuir a concentração do colesterol. Ø TRIGLICÉRIDES Os triglicérides são primariamente encontrados nos quilomícrons e nas VLDL. Relata-se uma forte correlação dos níveis elevados de triglicérides e o aumento do risco de coronariopatia, quando relacionados com outros fatores de risco. Os Triglicérides é a principal gordura proveniente da alimentação, não pode ser sintetizado pelo organismo, seu aumento não está relacionado apenas com uma dieta rica em gordura, mas também com excesso de carboidratos principalmente açúcares, desordens como diabetes e ingestão de álcool. Significado Clínico Há uma relação inversa entre os níveis plasmáticos de triglicérides e de HDL, onde os níveis elevados de triglicérides tendem a estar associados a níveis baixos de HDL que estão associados ao maior risco de desenvolvimento de coronariopatia. Atualmente, a dosagem de triglicérides é usada principalmente para calcular as LDL e VLDL, valendo-se equação de Friedewald, útil na triagem da hiperlipidemia e o estabelecimento de fenótipos das lipoproteínas. As causas da elevação dos triglicérides são várias doenças chamadas de hiperlipidemias ou hiperlipoproteinemias, podem ocorrer secundariamente no diabetes, pancreatite, doença do armazenamento de glicogênio, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hipotireoidismo, gravidez e mieloma múltiplo. Pode estar relacionado também ao uso de alguns medicamentos como contraceptivos orais, estrógenos, bloqueadores beta-adrenérgicos, corticosteróides, diuréticos tiazídicos e retinóides. ·DOSAGEM DOS TRIGLICÉRIDES Princípio do Teste São determinados de acordo com as seguintes reações: Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 53 Triglicérides Lipase lipoprotéica Glicerol + Ácidos graxos Glicerol + ATP Glicerolquinase Glicerol-3-fosfato + ADP Mg 2+ Glicerol-3-fosfato + O2 Glicerol-3-fosfato Dihidroxiacetona + H2O2 Oxidase 2H2O2 + 4-Aminoantipiridina + 4-Clorofenol Peroxidase Quinoneimina + 4 H2O A lipase lipoproteíca promove a hidrólise dos triglicérides liberando o glicerol, que é convertido, pela ação da glicerolquinase, em glicose-3-fosfato. Este é oxidado a dihidroxiacetona e peróxido de hidrogênio, 4- aminoantipirina e 4-clorofenol, catalisada pela peroxidase, produzindo uma quinoneimina que tem máximo de absorbância em 505 nm. A intensidade da cor vermelha formada é diretamente proporcional à concentração dos triglicérides na amostra. Metodologia Enzimático-Trinder Amostra Usar soro ou plasma com EDTA, colhendo a amostra após jejum de 12-14 horas , permanecer com o torniquete o menor tempo possível no braço do paciente não mais que um minuto Procedimento Técnico Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir: Branco Teste Padrão Amostra Padrão (nº 2) Reagente 1 ---- ---- 1,0 ml 0,01ml ---- 1,0 ml ---- 0,01 ml 1,0ml Homogeneizar e incubar em banho-maria a 37 ºC durante 10 minutos. Observando que o nível da água deve ser superior ao nível dos reagentes no tubo de ensaio. Determinar as absorbâncias do teste e do padrão em 505 nm ou filtro verde (490 a 520), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos. Cálculos Triglicérides (mg/dl) = Absorbância do Teste/Absorbância do Padrão x 200 Fator de calibração = 200/Absorbância do Padrão Triglicérides (mg/dl) = Absorbância do teste x Fator de calibração Padrão: 0,202 FC = 200/ 0,202 = 990 Amostra 1 A = 0,174 [Triglicérides] = 0,174 x 990 = 172 mg/dL Linearidade A reação é linear até 1100mg/dl. Para valores maiores, diluir a amostra com NaCl 150 mmol/L (0,85%), realizar nova medição e multiplicar o resultado pelo fator de diluição. Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 54 Valores Desejáveis ou Recomendados mg/dl Desejável Limiar Alto Elevado Muito Elevado Triglicérides < 150 150 - 199 200 - 499 > 500 Discussão Na mesma idade, os níveis de triglicerídeos nos homens são maiores do que nas mulheres. Estes níveis não são afetados no ciclo menstrual, porém, estão aumentados na gravidez. O uso de anticontraceptivos orais provocam o aumento em cerca de 45%. ü Equação de Friedewald Usada para calcular os valores de LDL e VLDL à partir das dosagens do colesterol total, colesterol HDL e triglicérides. Colesterol VLDL = Triglicérides/5 Colesterol LDL = Colesterol – HDL – VLDL Linearidade A reação é linear até 200mg/dl. Quando o resultado for maior ou igual a 200mg/dl, diluir a amostra 1:2 com NaCl 150 mmol/L (0,85%), realizar nova medição e multiplicar o resultado pelo fator de diluição. EXERCÍCIOS 1. Defina dislipidemias e cite os fatores de risco para o desenvolvimento das mesmas. 2. Defina e relacione as principais lipoproteínas plasmáticas. 3. De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose como as dislipidemias podem ser classificadas? 4. Descreva sobre o ciclo endógeno e exógeno das lipoproteínas. 5. Qual a importância da dosagem do perfil lipídico de um paciente e quais exames fazem parte dessa rotina? 6. Qual a importância para o organismo da manutenção das taxas de HDL E LDL bem controladas? 7. Qual a importância do controle dos Triglicérides para o organismo? 8. Qual a relação existente entre Triglicérides, VLDL e LDL? 9. Para que serve a equação de Friedewald e descreva suas fórmulas. 10. De acordo com dados abaixo monte o perfil lipídico (aplicando as fórmulas utilizadas acima) dos pacientes e faça um breve comentário sobre o resultado dos exames. a) Paciente 1: José Mário Felipe – Idade: 61 anos b) Benedita Marcelina – Idade: 59 anos Colesterol TotalAbsorbância do teste = 0,450 [padrão] = 200 [Colesterol T] = Absorbância do padrão = 0,345 FC = Absorbância do teste = 0,310 [Colesterol T] = Colesterol-HDL [padrão] = 40 Absorbância do teste = 0,280 Absorbância do padrão = 0,320 [HDL-c] = FC = Absorbância do teste = 0,460 [HDL-c] = Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 55 Triglicérides Absorbância do teste = 0,400 [padrão] = 200 [Triglicérides] = Absorbância do padrão = 0,202 FC = Absorbância do teste = 0,130 [Triglicérides] = [VLDL] = [VLDL] = [LDL-c] = [LDL-c] = Curso Técnico em Análises Clínicas Bioquímica 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MOURA, Roberto de Almeida. WADA, Carlos S. PURCHIO, Adhemar. ALMEIDA, Therezinha Verrastro de. Técnicas de Laboratório. 3ª ed., ATHENEU – Editora Atheneu: Belo Horizonte, 2006. 2. GAW, Allan. COWAN, Roberto A.. O`REILLY, Denis St. J.. STEWART, Michael J.. SHEPHERD, James. Bioquímica Clínica. 2ª ed.,GUANABARA – Editora Guanabara Koogan S.A.: Rio de Janeiro, 2001. 3. ROITT, Ivan m. DELVES, Peter J. Fundamentos de Imunologia. 3ª ed.,GUANABARA – Editora Guanabara Koogan S.A.: Rio de Janeiro, 2004. 4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose, 2007. 5. Site: http//www.labtest.com.br 6. Site: http//www.wamadiagnostica.com.br. 7. Site: http//www.goldanalisa.com.br. 8. Site: http//www.bioclin.com.br.
Compartilhar