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Priscilla Peixoto P2A 1 Pancreatite INTRODUÇÃO- PÂNCREAS o pâncreas é um órgão lobular com distintos componentes exócrinos e endócrinos. A porção EXÓCRINA produz enzimas digestivas (produzidas por células acinares) e constitui de 80-85% do pâncreas. A porção ENDÓCRINA é composta por cerca de 1 milhão de pequenos aglomerados de células (ilhotas de Langerhans). As ilhotas de Langerhans secretam insulina, glucagon e somastatina. Constitui cerca de 1- 2% do órgão. O pâncreas é a principal fonte de lipase no organismo. Lipase: ajuda na digestão, quebrando gordura em moléculas menores. A PANCREATITE é uma infamação do pâncreas associada a uma disfunção em seu parênquima EXÓCRINO. PANCREATITE AGUDA PANCREATITE CRÔNICA Quase sempre dolorosa Pode ser assintomática, ter massa fibrótica ou com sintomas de insuficiência precária sem dor ↑amilase e lipase Concentrações normais Envolve grande parte do pâncreas inteiro com resposta inflamatória na maioria neutrofílica Doença focal irregular com infiltrado mononuclear e fibrose PANCREATITE AGUDA É uma lesão REVERSÍVEL do parênquima pancreático + inflamação. CAUSAS MAIS COMUNS Entre os fatores mais comuns (aproximadamente 80% dos casos) estão as doenças dos tratos biliares e alcoolismo. A INGESTÃO CRÔNICA DE ÁLCOOL resulta na secreção de um fluido pancreático rico em proteínas, levando à deposição de cálculos proteicos dentro dos ductos pancreáticos, promovendo sua obstrução. CAUSAS MENOS COMUNS -Obstrução do sistema de ductos pancreáticos: Causados por cálculos, neoplasias e pâncreas divisum. -Medicações: metronidazol, furosemida, azatiprina, estrogênios, entre outras. Incluem reações imunológicas, efeito tóxico direto, acúmulo de um metabólito tóxico, isquemia, trombose intravascular e aumento da viscosidade do suco pancreático -Distúrbios metabólicos: hipertrigliceridemia (TG>1000mg/dL), hiperparatireoidismo e hipercalcemia. Obs: obesidade. -Lesões isquêmicas: por choque, trombose vascular, embolia pulmonar e vasculite. -Trauma: lesões iatrogênicas, cirúrgica ou colangiopancreatografia endoscópica retrógrada. -Alterações herdadas no genes que codificam enzimas pancreáticas e seus inibidores. PANCREATITE HEREDITÁRIA É caracterizada por episódio recorrentes de pancreatite grave, geralmente se inicia na infância. Maioria dos casos é por mutação germinativa no gene tripsinogênio catiônico, que é o gene Priscilla Peixoto P2A 2 essencial para a clivagem (inativação) da tripsina pela própria tripsina Se uma pequena quantidade de tripsina for inapropriadamente ativada no pâncreas, pode ativar outas enzimas digestivas, resultando no desenvolvimento da pancreatite FATORES DE RISCO Idade avançada: +60 Obesidade: IMC >30 Uso pesado de álcool a longo prazo tabagismo MORFOLOGIA -ALTERAÇÕES BÁSICAS: Extravasamentos microvasculares causando edema. Necrose de tecido adiposo por enzimas lipolíticas. Inflamação aguda. Destruição proteolítica do parênquima pancreático Destruição dos vasos sanguíneos e subsequente hemorragia intersticial -NA FORMA BRANDA (PANCREATITE AGUDA INTERSTICIAL): Alterações HISTOLÓGICAS estão limitadas a uma: leve inflamação edema intersticial áreas focais de necrose gordurosa na porção central do pâncreas e no tecido adiposo peripancreático. A necrose gordurosa resulta da atividade enzimática da lipase -NA FORMA MAIS GRAVE (PANCREATITE NECROSANTE AGUDA): Tecidos acinares, tecidos ductais e ilhotas de Langerhans se encontram necróticos. Lesões vasculares provocam hemorragia no parênquima do pâncreas MACROSCOPICAMENTE, apresenta áreas hemorrágicas em vermelho e preto, intercaladas com focos de branco-amarelado oriundos da necrose gordurosa calcificada NA FORMA MAIS GRAVE (PANCREATITE HEMORÁGICA): uma extensa necrose parenquimatosa é acompanhada por uma hemorragia abundante dentro da glândula pancreática. medidas laboratoriais que tem valor preditivo para pancreatite aguda grave: Níveis elevados de nitrogênio ureico e creatinina no sangue Hematócrito elevado. PATOGENIA- PANCREATITE AGUDA Autodigestão do tecido pancreático por enzimas pancreáticas ativadas inapropriadamente. Enzimas pancreáticas, incluindo a tripsina, são sintetizadas na forma de pró-enzimas inativas. Se a TRIPSINA por inapropriadamente ativada, ela pode ativar outras pró-enzimas que degradam células adiposas e danificam as fibras elásticas dos vasos sanguíneos. -MECANISMOS DE ATIVAÇÃO DAS ENZIMAS: Obstrução dos ductos pancreáticos: cálculos ou lamas biliares impactados na ampola de Vater pode elevar a pressão nos ductos intrapancreáticos, levando a um acúmulo intersticial de fluidos ricos em enzimas. A LIPASE (uma das enzimas) pode provocar necrose gordurosa local. Priscilla Peixoto P2A 3 ASPECTOS CLÍNICOS Requer pelo menos 2 dos seguintes: dor abdominal; elevados níveis de lipase e amilase; achados em imagens. -DOR ABDOMINAL: dor constante, intensa, muitas vezes referida na parte superior das costas e no ombro esquerdo -NÍVEIS ELEVADOS DE AMILASE E LIPASE: Amilase: aumenta em 2-12h após sintomas e normaliza em 3 dias. Lipase: aumenta em 2-12h após sintomas e normaliza em 7-10 dias. -ANOREXIA, NÁUSEAS E VÔMITOS FREQUENTES. -APARECIMENTO SÚBITO DE ABDOME AGUDO: devido a liberação de substâncias enzimáticas tóxicas, citocinas e mediadores no interior da circulação. Outra explicação é ativação da resposta inflamatória sistêmica, resultando na leucocitose, hemólise, coagulação intravascular disseminada, retenção de fluidos, síndrome da angústia respiratória aguda e necrose gordurosa difusa. -MÉTODOS DE IMAGEM: ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL: em todos os pacientes com suspeita de P.A. o Dilatação e cálculos no ducto biliar o Detecção de ductos biliares dilatados e obstrução biliar TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA ABDOMINAL: em pacientes com dor abdominal e com USA normal para excluir outras causas. se TAC e USG negativos = colangiorresonância -ACHADOS LABORATORIAIS: Elevação acentuada dos níveis amilase e lipase. Glicosúria Hipocalcemia COLETA FLUIDA PERIPANCREÁTICA AGUDA As coleções de fluidos geralmente se desenvolvem na fase inicial da pancreatite. Geralmente permanecem assintomáticas e se resolvem espontaneamente sem a necessidade de drenagem (7-10 dias). Apenas 6,8 dos pacientes estudados persistiram além de 4 semanas com pseudocistos pancreáticos. TRATAMENTO DIETAS: ORAL: pancreatite leve em 24h (na ausência de íleo paralítico, náusea ou vômito) ENTERAL: mais recomendada que a parenteral em pacientes com pancreatite ajuda moderadamente severa e grave que não toleram por via oral. Ela requer a colocação radiológica ou endoscópica de um tubo de alimentação jejunal além do ângulo de Treitz. Alto teor de proteínas e baixo teor de gordura. PARENTERAL: apenas em pacientes que não toleram alimentação enteral ou se a Priscilla Peixoto P2A 4 taxa alvo de alimentação enteral não for atingida em 48-72hrs. INDICAÇÕES DE ANTIBIOTICOTERAPIA: Antibióticos não são recomendados em pacientes com P.A, independente do tipo ou gravidade. Deve ser utilizado se houver suspeita de sepse enquanto aguarda o resultado da cultura. TERAPIA ENDOSCÓPICA CPRE (colangiopancreatografia) é usada principalmente em pacientes com pancreatite por cálculo biliar Indicada em pacientes com evidências de colangite (caso mais grave de pancreatite). PANCREATITE CRÔNICA É uma síndrome que envolve alterações inflamatórias progressivas no pâncreas que resultamem dano estrutural PERMANENTE, o que pode levar ao comprometimento da função endócrina e exócrina. uma inflamação do pâncreas com uma destruição IRREVERSÍVEL do parênquima exócrino, presença de fibrose, e, na fase tardia, destruição do parênquima endócrino. Pode se apresentar como repetidos surtos de pancreatite aguda. A principal distinção entre a pancreatite aguda e crônica é o comprometimento IRREVERSÍVEL na função pancreática característica de pancreatite crônica. Taxa de mortalidade de 50% dentro de 20 a 25 anos. CAUSAS MAIS COMUNS A causa mais comum é o abuso de álcool a longo prazo. tabagismo Paciente geralmente do sexo masculino e de meia idade. CAUSAS MENOS COMUNS -Obstruções a longo prazo nos ductos pancreáticos: causadas por pseudocistos, cálculos, traumatismos, neoplasias ou pâncreas divisum. -Pancreatite tropical: encontrada na Ásia e África. -Pancreatite hereditária: na aguda e crônica. -Mutações no gene CFTR: diminuem a secreção de bicarbonato pelas células dos ductos pancreáticos, promovendo adesão de proteínas neles e desenvolvimento de pancreatite crônica. -Doenças sistêmicas: lúpus eritematoso sistêmico, hipertrigliceridemia, e hiperparatireoidismo. -Pancreatite auto-imune Pancreatite idiopática: sem causa específica MECANISMOS DA PANCREATITE CRÔNICA -Obstrução ductal por concreções: o aumento das concentrações de proteínas no suco pancreático forma cálculos proteicos aderidos aos ductos. -Efeitos tóxicos: algumas toxinas, inclusive o álcool, podem exercer efeito tóxico direto sobre as células acinares. -Estresse oxidativo: quando induzido por álcool, pode gerar radicais livres nas células Priscilla Peixoto P2A 5 acinares, podendo causar necrose celular acinar, inflamação e fibrose. MORFOLOGIA Fibrose parenquimatosa Redução de número e tamanho de ácinos Relativo acometimento das ilhotas de Langerhans Variável dilatação dos ductos pancreáticos. -HISTOLOGICAMENTE: Os ductos interlobulares e intralobulares estão frequentemente dilatados e com proteínas em seu lúmen. O epitélio ductal pode estar atrofiado ou hiperplásico ou com metaplasia escamosa -MACROSCOPICAMENTE A glândula é rígida e muitas vezes com ductos extremamente dilatados Visíveis concentrações calcificadas. ASPECTOS CLÍNICOS -Associada a ataques repetidos de dores abdominais: A dor é uma característica dominante da pancreatite crônica. Dor em barra na região epigástrica. Muitas vezes irradia para as costas. Parcialmente aliviada ao sentar-se ereto ou inclinado para frente. Muitas vezes piora com 15-30 minutos após a alimentação Ocasionalmente associada a: Febre baixa Leve a moderada elevação nos níveis séricos de amilase Náuseas e vômitos -Pode ser silenciosa -Insuficiência pancreática: 90% da função do pâncreas perdido; esteatorréia (7g/24h) geralmente ocorre antes das deficiências proteicas. -Má absorção da gordura: pode ocasionar esteatorréia (gordura nas fezes). Suco pancreático deficiente. -Diabetes pancreático: por causa da destruição de ilhotas de Langerhans. Mais comum quando há calcificações. *pode gerar quadro de hipoglicemia quando há deficiente nas células alfa que produzem glucagon. -Ataques recorrentes de icterícia ou esporádicos ataques de ingestão: geralmente desencadeado pelo abuso de álcool, excessos alimentares (aumenta a demanda do pâncreas) ou uso de drogas que aumentam o tônus do esfíncter de Oddi. Obs.: quando a doença está presente há muito tempo, a destruição das células acinares pode excluir essas pistas de diagnóstico. Obs.: obstruções causadas por cálculos podem ser evidentes na icterícia ou aumento dos níveis séricos da fosfatase alcalina. -Perda de peso e edema hipoalbuminência de má absorção: causado pela insuficiência pancreática exócrina. COMPLICAÇÕES Formação de pseudocisto Obstrução do ducto biliar ou do duodeno Ascite pancreática Derrame pleural Trombose da veia esplênica Pseudoaneurisma Câncer de pâncreas Necrose pancreática PSEUDOCISTOS: Priscilla Peixoto P2A 6 Intra ou extrapancreáticos Volumosos Comprime o estômago ou duodeno Pode infectar ou sangrar Pode causar dor, náuseas, vômitos e massa abdominal palpável Tratamento pode ser conservador ou drenagem cirúrgica (estômago ou duodeno). Pode apresentar resolução espontânea. DIAGNÓSTICO Complicado, pois exames laboratoriais e de imagem podem ser normais. Paciente pode ter sintomas de pancreatite crônica, mas ser carcinoma pancreático. Maioria dos sintomas aparecem tardiamente. TRÍADE: sugere fortemente o diagnóstico Calcificações pancreáticas Esteatorréia Diabetes mellitus -Tomografia computadorizada, pancreatograma anormal e função pancreática de secretina anormal confirmam o diagnóstico. TÉTRADE CLÍNICA: Dor abdominal Perda de peso Esteatorréia Diabetes mellitus ESTUDOS LABORATORIAIS: Concentrações séricas de amilase e lipase ligeiramente elevadas, mas costumam aparecer normais, pois: o É uma doença focal e irregular, levando a um aumento mínimo das enzimas o Frequentemente há fibrose, o que diminui a abundância das enzimas. Obs.: Exacerbação= agutização= durante sustos de inflamação, a crônica se apresenta como a aguda e apresenta altos níveis de amilase e lipase. hemograma completo, eletrólitos e testes de função hepática são tipicamente normais. IMAGINOLOGIA: CPRE (colangiopancreatografia endoscópica): tem sido o teste de escolha para o diagnóstico quando as calcificações não estão presentes e não há esteatorréia. Avalia parênquima, dilatação, estenoses e alterações em VB. RADIOGRAFIA SIMPLES DO ABDOME: pois em 50% dos casos, há presença de calcificações pancreáticas. Deve ser utilizado primeiramente. TC, RM E US: podem mostrar calcificações, dilatação ductal, aumento do pâncreas e coleções líquidas (pseudocistos) adjacentes à gândula. US ENDOSCÓPICA: pode ser tão visível quando a CPRE ou o teste de função pancreática, mas requer um gastro altamente especializado. TESTE DE SUDAN: teste de triagem simples para investigar esteatorréia. TESTES DE FUNÇÃO PANCREÁTICA: Priscilla Peixoto P2A 7 Testes diretos: estimulam o pâncreas com refeição ou secretagogos hormonais para coletar o fluido duodenal e quantificar o conteúdo da secreção pancreática (poucos laborat.) Testes indiretos: medem as consequências da insuficiência pancreática e estão mais disponíveis TESTES GENÉTICOS: genes CFTR é responsável pela fibrose cística, o SPINK-1 codifica o inibidor de tripsina e o PRSS-1 está ligado à pancreatite hereditária. TRATAMENTO CIRÚRGICO INDICAÇÕES: Persistência da DOR Cistos complicados Ascite Derrame pleural Necrose infectada Obstrução biliar ou duodenal PRINCÍPIO DA CIRURGIA: Alívio da dor Correção da obstrução Lesar menos o parênquima Retorno das enzimas ao tubo digestivo TRATAMENTO MEDICAMENTOSO PANCREATITE ESCLEROSANTE LINFOPLASMACÍTICA (PANCREATITE AUTOIMUNE) É uma forma distinta de pancreatite crônica que possui um infiltrado celular inflamatório misto no centro dos ductos, venulite, e aumento do número de células produtoras de plasma IgG4 Pode se assemelhar ao câncer pancreático e RESPONDE À TERAPIA ESTEROIDAL.
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