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CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Prof. Ms. André Ricardo Blanco Ferreira Pinto andre_blanco_adv@uol.com.br Advogado e professor universitário. Orientador da Pós-Graduação da FGV (GVLaw) Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Grupo Cruzeiro do Sul. Professor da Graduação em Direito Civil e Processo Civil Fornecedor: Parte forte da relação Presunção Legal de Hipossuficiência Consumidor: Parte fraca da relação Custo adicional para o Fornecedor com defesas administrativas e defesas judiciais Código de Defesa do Consumidor SNDC – Procons Lei do Juizado Especial de Pequenas Causas OBS.: Além do Fórum Central da Capital, a Cidade de São Paulo tem XII Foros Regionais. Cada um deles tem um Juizado Especial Civil Existem, ainda, convênios com diversas Universidades que prestam serviços (delegados) de Juizados especiais – aproximadamente 18 postos de atendimento. Proteção do Consumidor A Lei nº 8.078/90 é dividida em seis títulos: dos direitos do consumidor: CDC. arts. 1º a 60; das infrações penais: CDC. arts 61 a 80; da defesa do consumidor em juízo: CDC. arts. 81 a 104; do sistema nacional de defesa do consumidor: CDC. arts 105 e 106; da convenção coletiva de consumo: CDC. arts. 107 e 108, e disposições finais: CDC. arts. 109 a 119. É organizado pelo Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) - Decreto nº 2.181/97 – e estabelece as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas no Código de Defesa do Consumidor. O Código de Defesa do Consumidor: O Código de Defesa do Consumidor é uma lei ordinária (Lei Federal nº 8.078/90), que se revela como um verdadeiro microssistema jurídico. É interdisciplinar, pois se relaciona com outros ramos do Direito, inclusive Constitucional, onde encontra respaldo fundamental (diálogo das fontes). Ou seja: além da existência de princípios bem específicos, expressados no binômio vulnerabilidade - destinação final, é também preciso que se entenda o referido “código” como sendo interdisciplinar, na medida em que se relaciona com outros ramos do direito 1. Administrativa (normas de vigilância sanitária, seguros, atividades bancárias). 2. Civil (Dano, Vício, Defeito, Contratos, Prescrição e Decadência). 3. Penal (Delitos previstos no Código Penal e Legislação Especial). O CDC como Microssistema Jurídico RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO O CDC incide em toda a relação de consumo - dois polos: consumidor e fornecedor (produtos e serviços). Lei 8078/90, arts. 2º e 3º - estabelecem estes conceitos. Conceito legal de Consumidor: Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final. Parágrafo único - Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Caput - consumidor direto ou padrão ou, ainda, strictu sensu: “standard” – todo aquele que adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final. Parágrafo único - consumidor indireto ou equiparado: “bystandard”. Consumidor Direto Destinatário final é aquela pessoa, física ou jurídica, que adquire ou se utiliza de produtos ou serviços em benefício próprio, ou seja, é aquele que busca a satisfação de suas necessidades através de um produto ou serviço, sem ter o interesse de repassar este serviço ou esse produto a terceiros. * Teoria Maximalista * Teoria Minimalista Conceito de Consumidor Conceito de consumidor: art. 2º caput e parágrafo único A primeira questão a ser tratada é a do destinatário final. Temos duas teorias acerca da abrangência “destinatário final”: a) teoria finalista: a expressão deve ser tratada de maneira restrita- consumidor é aquele que adquire ou utiliza o produto ou serviço (destinatário final econômico), colocando um fim na cadeia de produção. Ex: aquele que adquire produto para revender ou para uso profissional não será consumidor. Esta corrente aproveita a teoria econômica. Conceito de Consumidor PRODUÇÃO-CIRCULAÇÃO-DISTRIBUIÇÃO-CONSUMO É a teoria adotada pela doutrina e jurisprudência majoritária Caso o consumidor seja pessoa jurídica- os bens adquiridos são bens de consumo e não bens de capital e tem que haver um desequilíbrio econômico entre as partes de modo a favorecer o fornecedor. O STJ hoje aplica esta teoria ao afirmar que ao adquirir bens ou serviços com o objetivo de implementar ou incrementar sua atividade negocial é uma atividade de consumo intermediária não passível da necessária proteção do CDC. Mas a fim de não prejudicar a pessoa jurídica (pequeno empresário) o STJ analisa também a vulnerabilidade da empresa frente ao fornecedor.- teoria finalista mitigada. Conceito de Consumidor Pessoa Jurídica: Relações envolvendo pessoas jurídicas e contratos bancários ou de cartão de crédito - não incide o CDC - é consumo intermediário Casos pertinentes a profissionais ou contratos interempresariais - não incidência do CDC. Ex.: na relação envolvendo pessoa jurídica na aquisição de equipamentos médicos de vultuosos valor para fins de incrementar a atividade profissional lucrativa - consumo intermediário – (Ex.: hospital equipamento médico). Viabilidade da eleição contratual de foro- não incidência envolvendo empresa com capacidade financeira, técnica e jurídica para contratar. Não comprovada a hipossuficiência. Conceito de Consumidor b) teoria maximalista: destinatário final- interpretação ampla. Destinatário final se contrapõe ao destinatário econômico, ou seja, destinatário final é todo aquele que retira o bem de circulação independente da sua finalidade econômica (seja bem de capital ou bem de consumo). Consumidor Indireto Art. 17 - Para os efeitos desta Seção, que cuida da responsabilidade dos fornecedores pelo fato do produto e do serviço, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Art. 29 - Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. São os consumidores BYSTANDERS, que poderão ser amparados pelo CDC, INCLUSIVE PLEITEANDO INDENIZAÇÕES, pois todos serviços/produtos devem ter segurança, não só para quem diretamente o usa, mas para o público em geral, dentro do princípio que segurança é direito de todos e dever daquele que os coloca no mercado. Consumidor equiparado Consumidor equiparado ou bystanders: coletividade de pessoas (art. 2º, p.u); vítimas de acidente de consumo (art. 17) e pessoas expostas às práticas comerciais (art. 29) a) Coletividade de pessoas: pessoas indetermináveis que intervieram na relação de consumo. É a proteção da própria sociedade de consumo (direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos- art. 81). Ex: pessoas de uma festa que consumiram comida estragada- todas elas são consumidoras ainda que quem os tenha adquirido seja uma pessoa específica. Consumidor equiparado b) Vítimas do evento (acidente de consumo): Ex: alguém for atropelado por conta de uma falha no sistema de freios de um veículo pode processar a montadora para reparar o seu prejuízo. Ex: explosão no Shopping de Osasco c) Pessoas expostas às práticas comerciais e contratuais: (Ex: venda casada)- art. 29 trata de uma Política legislativa- Ex: todos que estão expostos a uma publicidade enganosa ou abusiva são consumidores por equiparação, mesmo que não tenham adquirido o produto ou serviço podem valer-se das regras protetivas do CDC. Serve para evitar o abuso do poder econômico. Exemplos Ex: Resp 540235 TO: o proprietário de uma casa sobre a qual caiu um avião é consumidor equiparado, podendo demandar a transportadora com base no CDC.Também podem ser citados os inúmeros casos de clientes bancários “clonados”, havendo inscrição indevida em cadastro de inadimplentes. Conceito legal de Fornecedor: Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Fornecedor: casos especiais 1.Entidade de previdência privada e seus participantes- Súmula 321 STJ: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes.” 2.Banco de Sangue e doador- erro de diagnóstico (indenização) – SIM RESP 540922/2009 3.Relação entre emissora de TV e telespectador- : a) eventual publicidade enganosa ou abusiva – não responsabilidade da emissora de TV; b) realização de um jogo- Show do Milhão- divulgação de concurso com promessa de recompensa segundo critérios que podem prejudicar participante- RESP 436.135. Fornecedor: casos especiais 4. relação entre cooperativa de assistência à saúde e filiados- RESP309.760- não é impeditivo para aplicar o CDC ainda que a relação entre os médicos seja a de associado. 5. relação entre agente financeiro do Sistema de habitação (SFH) e mutuário- em regra sim, salvo nas hipóteses dos contratos firmados com cobertura do Fundo de Compensação e Variações Salariais- cláusula protetiva do mutuário e do SFH (garantia de quitação do saldo residual do contrato oferecida pelo governo federal). 6. relação entre sociedade civil sem fins lucrativos e associados- aplica-se o CDC sendo irrelevante a natureza jurídica – Resp 519.310 Inexistência de relação de consumo 1. associações desportivas e condomínios: em regra não existe relação de consumo, pois o objeto social é deliberado pelos próprios interessados, devido a natureza comunitária entre seus filiados, sem caráter lucrativo. Exceção: Estatuto do Torcedor (lei 10.671/2003): Art. 3o Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo. ( haverá incidência em relação ás praticas desportivas e não incidência nas relações entre clube e associados) Condomínio: enquadra-se o condomínio dentro do conceito de consumidor quando houver cobrança indevida de tarifa de água e esgoto- Resp 1.135.528 RJ Inexistência de relação de consumo 2. atividade bancária e beneficiários de crédito educativo- não incidência do CDC, pois trata-se de programa governamental; em benefício da formação do aluno e não há conotação de serviço bancário.- Resp 560.405 3. advogado e cliente: decisões mais recentes no sentido da não incidência do CDC- Resp 914.104 OBS: O TST entendeu ser relação de consumo e também José Geraldo Brito Filomeno. Os responsáveis no CDC: O Código de Defesa do Consumidor, ao conceituar o fornecedor em seu art. 3º, o fez de maneira bem abrangente, de modo a alcançar todos do ciclo produtivo-distributivo. O CDC criou 3 modalidades de responsáveis: o real: fabricante, construtor, produtor; o presumido: importador; e o aparente: comerciante. O Estado como fornecedor Art. 22 - Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único - Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código. Obs.: O Código Civil, art. 43 repete a regra da CF., art. 37, § 6º Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Princípios do CDC: art. 4º e incisos I- vulnerabilidade: o fornecedor detém o conhecimento técnico de produção e fornecimento de seu produto ou serviço podendo impor suas vontades diante do despreparo do consumidor. Ex: compra de um carro, o modelo poderá ser escolhido dentre os modelos ofertados no mercado. No entanto, uma vez escolhido o modelo, os itens de série, opcionais e até a mesmo a cor serão preestabelecidos pelo fornecedor. Vulnerabilidade x Hipossuficiência Para o CDC, vulnerabilidade é diferente de hipossuficiência: Vulnerabilidade versus hipossuficiência- Vulnerabilidade- fenômeno de direito material- todos os consumidores, pessoas físicas são considerados vulneráveis, mas no direito processual nem todos são hipossuficientes, devendo ser demonstrada no caso concreto- é o que acontece com a inversão do ônus da prova (art. 6º, VII do CDC). Hipossuficiência- demonstrada em cada caso concreto Espécies de vulnerabilidade Técnica (características ou utilidade): ausência de conhecimento técnico sobre o produto ou serviço. Jurídica/ cientifica: sem conhecimentos jurídicos ou a respeito de outros ramos científicos: de contabilidade, economia, matemática, financeira e outros. Ex: juros cobrados Ex: fraqueza do consumidor no que diz respeito as cláusulas contratuais- tem maior dificuldade em demonstrá-la a pessoa jurídica ou o profissional; Espécies de vulnerabilidade Fática/socioeconomica: fornecedor detém o poder econômico, estando numa posição de supremacia. Informacional: importância das informações a respeito dos bens de consumo e sobre sua influência cada vez maior no poder de persuadir o consumidor no momento de escolher. Alguns entendem ser uma modalidade de vulnerabilidade e outros uma subespécie da vulnerabilidade fática. Espécies de vulnerabilidade Concluindo: A vulnerabilidade, reconhecida pela lei, é um fenômeno de direito material com presunção absoluta de que todo consumidor é vulnerável. A hipossuficiência, é aferida no direito processual (art. 6º, VIII) que deverá ser analisado pelo juiz no caso concreto. Ex: mecânico que tem problemas de freios no seu veículo e ingressa com ação contra o fornecedor não é hipossuficiente apesar de ser vulnerável. Hipervulnerabilidade: São aqueles cuja fragilidade se apresenta em maior grau de relevância ou de forma agravada.- è o caso das gestantes (impossibilidade de se dirigirem ao caixa preferencial no segundo andar do banco), crianças (publicidade que merece cuidado devido a deficiência de julgamentos), idosos (crédito consignado em pagamento de aposentadoria), enfermos (limitação do tempo de internação), portadores de necessidades especiais, analfabetos. Outros princípios do CDC Princípio da boa-fé – aquele que proíbe conteúdo desleal de cláusula nos contratos sobre relações de consumo, impondo a nulidade do mesmo. Princípio da correção do desvio publicitário – é o que impõe a contrapropaganda. Principio da harmonização das relações de consumo – aquele que visa proteger o consumidor, evitando a ruptura na harmonia das relações de consumo. Princípio da identificabilidade – impõe a identificação de anúncio ou publicidade. Essa publicidade não podeser enganosa ou dissimulada, devendo indicar a marca, firma, o produto ou serviço, sem induzir a erro o consumidor. Princípio da identificação da mensagem publicitária – a propaganda deverá ser direta, para o consumidor de imediato identifica-la. Outros princípios do CDC Princípio da informação – o consumidor tem de receber informação clara, precisa e verdadeira, usando a boa-fé e lealdade. Princípio da inversão do ônus da prova – na seara cível ou administrativa, competirá ao fabricante ou fornecedor, diante da reclamação do consumidor, demonstrar a ausência de fraude, e que o consumidor não foi lesado na compra de um bem ou serviço. Em relação ao consumidor, a inversão do ônus da prova ficará a critério do juiz quando for verossímil a alegação do consumidor e quando o mesmo for hipossuficiente, para isso o magistrado deverá ater-se ao conjunto de juízos fundados sobre a observação do que de ordinário acontece. Princípio da lealdade – quando a concorrência legal dos fornecedores. Visa a proteção do consumidor ao exigir que haja lealdade na concorrência publicitária, ainda que comparativa. Outros princípios do CDC Princípio da não-abusividade da publicidade – reprime desvios prejudiciais ao consumidor, provocados por publicidade abusiva. Princípio da obrigatoriedade da informação – aquele que requer clareza e precisão na publicidade, ou seja, o anunciante terá obrigação de informar corretamente o consumidor sobre os produtos e serviços anunciados. Princípio da prevenção – é o que sustenta ser o direito básico do consumidor, a prevenção de prejuízos patrimonial e extrapatrimonial. Princípio da transparência – a atividade ou mensagem publicitárias devem assegurar ao consumidor informações claras, corretas e precisas. Outros princípios do CDC Princípio da veracidade – as informações ou mensagens ao consumidor devem ser verdadeiras, com dados corretos sobre os elementos do bem ou serviço. Princípio da vinculação contratual – o consumidor pode exigir do fornecedor o cumprimento do conteúdo da comunicação publicitária ou estipulado contratualmente. Princípio da vulnerabilidade do consumidor – aquele que, ante a fraqueza do consumidor no mercado, requer que haja equilíbrio na relação contratual. Princípio do respeito pela defesa do consumidor – princípio que requer que no exercício da publicidade não se lese o consumidor. Princípio geral de transparência – requer clareza nas informações dadas ao consumidor e, também, ao acesso pleno de informações sobre o produto ou serviço e sobre os futuros termos de um determinado negócio. Princípios do CDC Princípios da publicidade – são aqueles que regem a informação ou mensagem publicitária, evitando quaisquer danos ao consumidor dos produtos ou serviços anunciados, tais como: liberdade, o da legalidade, o da transparência, o da boa-fé, o da identificabilidade, o da vinculação contratual, o da obrigatoriedade da informação, o da veracidade, o da lealdade, o da responsabilidade objetiva, o da inversão do ônus da prova na publicidade e o da correção do desvio publicitário. Estes princípios são a base do Direito do Consumidor, norteando as condutas e sanções aplicadas relativamente aos consumidores bem como aos fornecedores nas relações de consumo tendo como objetivo principal das normas de proteção e defesa do consumidor, intervir nessas relações para defender uma das partes, consubstanciado nos princípios norteadores do Direito de Defesa do Consumidor. Direitos Básicos (art. 6°) Direito à vida, saúde e segurança, educação, informação e divulgação adequada sobre produtos e serviços, proteção contra as publicidades enganosa e abusiva, contra as práticas abusivas, facilitação de acesso aos meios de defesa com vistas à reparação de danos experimentados, e a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Direitos Básicos (art. 6°) Direito à segurança: deve ser respeitada e garantida a vida, a saúde e a segurança do consumidor, de modo que os produtos e serviços colocados no mercado não podem causar nenhum dano ao mesmo, exceto os considerados normais e previsíveis. Direito à educação para o consumo: o consumidor deve ser informado e/ou educado quanto ao produto ou serviço, no que diz respeito a quantidade, características, data de validade, composição, qualidade, preço e riscos apresentados, de modo a aumentar seu nível de consciência e possibilitar sua decisão pelo que for mais adequado aos seus interesses, podendo ele exercer seu direito de escolha. Direitos Básicos (art. 6°) Direito à proteção contratual: esse direito diz respeito à inaplicabilidade das cláusulas tidas como abusivas e exageradas, bem como a proteção do consumidor contra a publicidade enganosa e abusiva, práticas essas elencadas no CDC de modo taxativo. Direito à indenização: na ocorrência de qualquer dano, moral ou material, a interesse ou direito individual, coletivo ou difuso do consumidor, cabe indenização por parte do fornecedor. Do contrário, não teria nenhuma eficácia uma lei que assegura a proteção àquele. Nesse caso, o consumidor goza de alguns benefícios, como facilitação ao acesso à Justiça, inversão do ônus da prova em seu favor e assistência judiciária. Vida, saúde e segurança Defeito x Vício Publicidade e Propaganda Práticas abusivas Responsabilidade civil Temas de Interesse: Vida, saúde e segurança Por se cuidarem dos bens mais valiosos de que são titulares todos os seres humanos, o Código de Defesa do Consumidor começa por traçar medidas de caráter preventivo: Art. 8º - Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único - Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Art. 9º - O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. Art. 10 - O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. § 1º - O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2º - Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3º - Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito. Defeito x Vício O Código de Defesa do Consumidor faz uma distinção entre defeito e vício Defeito: anomalia que pode manifestar-se num produto ou na prestação de um serviço, tornando-se perigoso ou nocivo ao consumidor, ou então causando-lhe efetivamente um dano à vida, saúde ou segurança. Vício: embora não deixe também de ser uma anomalia, tem a ver, todavia, com a adequação do produto ou serviço ao uso a que se destinam, podendo essa anomalia referir-se à qualidade, quantidade, ou informação inadequada. Defeito do produto ou serviço: Os defeitos consistem em imperfeiçõesde natureza grave, capazes de causar dano à saúde ou à segurança do consumidor. A noção de defeituosidade está essencialmente ligada à expectativa do consumidor. Afirma-se, portanto, que um produto é defeituoso quando ele é mais perigoso para o consumidor ou usuário do que legitimamente ou razoavelmente se espera dele. Trata-se de anomalia que o produto ou serviço apresenta, que os torna perigosos ou nocivos ao consumidor ou até causa-lhe efetivamente dano a vida, a saúde ou a segurança. Defeito do produto ou serviço: Conforme dita o parágrafo 1º do artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor: “o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III- a época em que foi colocado em circulação”. De acordo com o parágrafo 3º do mesmo artigo: “O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II -que embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III- a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Vícios do produto ou do serviço: Vícios de qualidade Vícios de quantidade Vícios de informação Art. 18 - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. Vícios: direitos do consumidor § 1º - Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2º - Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a 7 (sete) nem superior a 180 (cento e oitenta) dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. Vícios: direitos do consumidor § 3º - O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4º - Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1º deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1º deste artigo. § 5º - No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. Vícios: direitos do consumidor § 6º - São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. OBS.: É crime comercializar produtos impróprios. Vícios de qualidade: Vícios de qualidade dos produtos - Aqueles que tornam impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuem o valor, entendendo-se ser impróprios ao uso e consumo os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos, os deteriorados, alterados, adulterados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação, bem como os produtos que, por qualquer motivo, se revelam inadequados ao fim a que se destinam. A questão da qualidade: Pelo Código de Defesa do Consumidor, bem como pelo chamado “Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial” - SINMETRO, qualidade de um produto ou serviço significa sua adequação a uma norma técnica. Tanto assim que pelo que estabelece o inc. VII do art. 39 do mesmo Código, é considerada prática abusiva a simples circunstância de o fornecedor "colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - CONMETRO". A questão da qualidade: Desta forma, a existência de normas técnicas, preparadas pela ABNT, e auditadas pelo CONMETRO, além de executadas pelo INMETRO e seus órgãos delegados e sua constante fiscalização, é uma garantia não apenas para os consumidores, como para os próprios fornecedores. Vícios de quantidade: Vícios pela quantidade dos produtos – São aqueles em que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido é inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária. Há disparidade entre o conteúdo e o peso ou medida indicados pelos fornecedores, sendo que a quantidade inferior causa prejuízos ao consumidor. Tal questão envolve o produto e o serviço em si, isto independe a figura do produtor. A figura do produtor será considerada na medida em que é o responsável pelo prejuízo, assim o produtor, será o justificador da responsabilidade do fornecedor, no âmbito em que deva indenizar o consumidor. Art. 8º - Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único - Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Direito de Informação (art. 8°) O dever de informar: Um dos deveres primordiais do fornecedor é o de informar o consumidor acerca do produto ou do serviço comercializado. O segundo deve ter conhecimento dos dados específicos do produto ou do serviço, como quantidade, características, data de validade, composição, qualidade e preço, além dos riscos que eles possam apresentar. Essa informação deve ser clara, precisa, correta e ostensiva, de modo a educar o consumidor, aumentando seu nível de consciência, possibilitando sua decisão pelo que for mais adequado aos seus interesses, e alertando-o sobre os prováveis riscos inerentes à sua saúde ou segurança. Princípio da transparência: Conseqüência do dever de informar O princípio da transparência segue essa mesma linha de raciocínio. Diz ele que o consumidor tem o direito de conhecer o conteúdo do contrato antes de assumir qualquer obrigação. Isso visa a evitar que ele seja enganado no momento da contratação. Porém, mesmo depois de realizado o negóciojurídico, o consumidor não estará obrigado a cumprir com sua obrigação se houver inadimplência da outra parte ou, ainda, se restou duvidoso para ele o conteúdo do contrato. No que se refere à publicidade, o fornecedor não tem o dever de anunciar seu produto ou serviço, tal ato é uma mera faculdade. Porém, se o fizer, tem ele o dever de informar somente a verdade, e de forma clara, conforme visto há pouco. Anúncio Obrigatório: O anúncio obrigatório versa somente em caso de informação falsa, incorreta ou obscura, em que é imposta a contrapropaganda (arts. 56, XII e 60 do CDC), ou seja, o anunciante deve reparar o que foi veiculado. Outra hipótese, contudo, é o conhecimento ulterior de riscos acarretados ao consumidor que possam ser apresentados pelo produto ou serviço (art. 10, § 1.° do CDC). Livre escolha de produtos/serviços: Desde que a publicidade seja correta, ou seja, não apresente os vícios acima mencionados, e com base na liberdade garantida pela Carta Magna, é o consumidor investido de livre arbítrio para escolher qualquer produto ou contratar qualquer serviço dentre os presentes no mercado de consumo. É sabido que o consumidor tem seus direitos protegidos pela Constituição Federal e pelo CDC. Contudo, no que diz respeito à publicidade, é necessário elencar alguns desses direitos, conforme segue. Publicidade ou Propaganda? Propaganda vem do latim “propaganda”, gerundivo de “propagare”, que significa propagação de princípios, idéias, conhecimentos ou teorias, visando à adesão do expectador. Tem cunho ideológico, não lucrativo. Já a publicidade refere-se a algo que é público, feito em público ou de conhecimento de todos, tem natureza comercial, que visa lucro. No sentido etimológico, corresponde também à “arte de exercer uma ação psicológica sobre o público com fins comerciais ou políticos”. Tendo por base essas definições, conclui-se que o CDC trata somente da publicidade, dado o objetivo de lucro, e não da propaganda. Sinônimos? Porém, em nosso ordenamento jurídico, os termos são usados como se sinônimos fossem. A CF, por exemplo, fala em “propaganda” (artigo 220, § 3.°, II), “propaganda comercial” (artigos 22, XXIV e 220, § 4.°), “publicidade dos atos processuais” (artigo 5.°, LX) e “publicidade” (artigo 37, caput e § 1.°). O próprio CDC também faz essa confusão ao tratar da “publicidade“ nos artigos 36 a 38, e da “contrapropaganda”, no artigo 56, XII, como sendo uma medida que visa a desfazer o mal que proporcionou ao consumidor certa publicidade. Assim, em vista de toda essa situação, é que Luiz Antônio Rizzatto Nunes entende que, juridicamente, as duas palavras – propaganda e publicidade - podem ser usadas como sinônimos. Publicidade: Princípios a) Princípio da identificação da publicidade: o anúncio deve ser feito de maneira clara, para que o consumidor possa identificá-lo facilmente (inibição de publicidade clandestina). b) Princípio da veracidade: a publicidade deve ser honesta e verdadeira, não devem ser passadas falsas informações ao consumidor, levando-o a erro. c) Princípio da não-abusividade: a publicidade não deve atacar valores tidos como éticos e/ou morais, tampouco levar o consumidor a praticar atos prejudiciais. d) Princípio da transparência da fundamentação: a publicidade deve apoiar-se em dados fáticos, técnicos e científicos, de modo que seu teor possa ser comprovado sempre que solicitado. Publicidade: Princípios e) Princípio da obrigatoriedade de cumprimento: o fornecedor é obrigado a cumprir tudo que anuncia e da forma como o faz (veda-se publicidade para mera atração da clientela). f) Princípio da inversão do ônus da prova: como o consumidor não é dotado de conhecimento científico ou técnico do produto que adquire ou do serviço que contrata, é mais difícil para ele provar os vícios de veracidade das informações prestadas pelo fornecedor. g) Princípio da irrenunciabilidade dos direitos pelo consumidor: é defeso ao consumidor renunciar qualquer direito seu previsto no CDC. Publicidade: Princípios h) Princípio da norma favorável: as novas leis a serem editadas, referentes a essa matéria, deverão manter ou ampliar a proteção ao consumidor, e nunca diminuí-la. Além disso, se houver mais de uma interpretação possível a uma norma, será utilizada aquela mais benéfica ao consumidor, devido à sua inexperiência e vulnerabilidade. i) Princípio das presunções favoráveis ao consumidor: a legislação do consumidor deve elencar presunções, absolutas ou relativas, de atos que possam vir a prejudicá-lo. Como exemplo, temos o “caput” artigo 12 do CDC, que prevê responsabilidade objetiva ao fornecedor de produto defeituoso. Publicidade Enganosa e Abusiva Art. 37 - É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1º - É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2º - É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3º - Para os efeitos deste Código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. Fase de Pós-produção Práticas Comerciais: 1 – Oferta; 2 – Publicidade; 3 – Práticas Comerciais Abusivas; 4 – Cobranças de dívidas; 5 – Bancos cadastrais. Práticas abusivas Aqui se têm em conta não apenas os abusos praticados pelos fornecedores no oferecimento de bens e serviços em venda casada, por exemplo, ou então o envio de produtos sem que o consumidor os tenha pedido, como também as cláusulas contratuais abusivas em contratos de adesão. RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade civil: conjunto de princípios e normas que disciplinam a obrigação de reparar o dano resultante de inadimplemento de um contrato, da inobservância de um dever geral de conduta ou, nos casos previstos em lei, da prática de ato lícito. Maria Helena Diniz conceitua: “A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.” Segundo o critério de MHD Os Doutrinadores dividem a resp. civil em: a) contratual: conseqüências do inadimplemento de uma obrigação contratualmente assumida; b) extracontratual: que regula as conseqüências danosas da inobservância de um dever geral de conduta (CC., 186, 187, 927) c) ope legis ou decorrente da lei: há uma ilicitude, (não dizem onde está), mas é vontade da lei que haja a reparação do dano em função de um ato qualquer (independente de quem o tenha causado), desde que haja nexo (legal, in caso). Responsabilidade Civil: Fontes As fontes da responsabilidade civil (ou do dever de reparar) seguem três teorias básicas: 1) Teoria Aquiliana: Responsabilidade Subjetiva 2) Teoria do Risco: Responsabilidade Objetiva 3) Responsabilidade contratual (violação positiva do contrato, culpa e dolo) Responsabilidade Civil: Culpa Culpa (em sentido amplo) é tida como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou cautela e compreende: a) o dolo:violação intencional do dever jurídico (vontade consciente de violar o direito), e b) culpa em sentido estrito: caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever. Condutas Culposas negligência (negligentia): desleixo, descuido, incúria, desatenção, menosprezo, indolência, falta de diligência necessária à execução do ato. MOSTRA CULPA DO AGENTE imperícia (imperitia): Falta de experiência ou conhecimentos práticos necessários ao exercício de sua profissão, inábil. É O QUE SE FAZ SEM CONHECIMENTO DA “ARTE”. imprudência (imprudentia): imprevisão do agente ou da pessoa, em relação às conseqüências de seu ato ou ação, quando devia e podia prevê-las (desatenção culpável). IMPREVIDÊNCIA DO MAL QUE SE PODERIA PREVER Resp. Civil: Silvio Rodrigues Sílvio Rodrigues nos ensina que a responsabilidade civil vem definida por Savatier (Traité de la responsabilité civile, Paris, 1939, v. I, n. 1) como sendo a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam. Diz ele que: “temos duas formas de encarar o dano, através da responsabilidade subjetiva e objetiva, sendo subjetiva a responsabilidade quando se inspira na idéia de culpa, e objetiva quando esteada na teoria do risco”. Para que surja o dever de indenizar na teoria subjetiva, necessária se faz a presença de quatro pressupostos, conforme ensina SILVIO RODRIGUES: a) Ação ou omissão do agente: O ato inclui qualquer fato ou evento da vida propriamente dito, que tenha a potencialidade de causar dano. São os fatos ou condutas comissivas ou omissivas do próprio agente, os fatos de terceiro, os fatos de animais ou das coisas. b) Culpa do agente: negligencia, imperícia ou imprudência (até o dolo). c) Relação de causalidade: O nexo causal é a relação de causa e efeito entre o fato e o dano. d) Dano experimentado pela vítima: é o prejuízo causado à vítima, sendo considerado o principal pressuposto da responsabilidade civil, pois representa também uma quebra do equilíbrio social a exigir reparação. Há dois elementos necessários para apurar-se e danos: * valoração do prejuízo; * lucros cessantes. Responsabilidade do Fornecedor Basicamente quatro são os casos de responsabilidade civil fundada no CDC: vicio do produto; fato do produto (defeito); vicio do serviço; fato do serviço (defeito) A diferença entre vicio e fato é que no vicio o problema permanece nos limites do produto ou do serviço, já no fato há outras repercussões alem do bem de consumo: outros danos materiais, danos morais e danos estéticos Responsabilidade do Fornecedor Dos quatro casos (vício do produto / fato do produto / vício do serviço / fato do serviço ), em três deles haverá solidariedade (opção de demanda), podendo o consumidor demandar qualquer dos envolvidos no fornecimento ou prestação. A única hipótese em que não há solidariedade é no fato do produto, pois nos termos dos artigos 12 e 13 do CDC, haverá uma responsabilidade imediata ou principal do fabricante. O comerciante tem responsabilidade subsidiaria ou indireta somente respondendo nas hipóteses do artigo 13 do CDC Responsabilidade do Fornecedor Art. 12 - O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Os responsáveis: O Código de Defesa do Consumidor, ao conceituar o fornecedor em seu art.3º, o fez de maneira bem abrangente, de modo a alcançar todos do ciclo produtivo-distributivo. O CDC criou 3 modalidades de responsáveis: o real: fabricante, construtor, produtor; o presumido: importador; e o aparente: comerciante. Os responsáveis: Tratando-se de fato de responsabilidade pelo fato do produto, todavia, o art.12 do Código responsabiliza somente o fabricante, o produtor, o construtor e o importador. O comerciante foi excluído em via principal porque ele, nas relações de consumo em massa, não tem nenhum controle sobre a segurança e qualidade das mercadorias - recebe os produtos fechados. Advertência do doutor Zelmo Denari: “ainda que o consumidor tenha adquirido o automóvel da concessionária; o eletrodoméstico da loja de departamento; o medicamento da drogaria; a vacina ou agrotóxico do comerciante, deverá postular seus direitos contra o fabricante do produto, operador econômico que, em via principal, é o responsável pelos danos causados aos consumidores”. Solidariedade: Havendo mais de um fabricante para um mesmo produto, ou mais de um causador do dano, todos respondem solidariamente pela reparação. O Código trata da solidariedade em várias passagens – arts.7º, parágrafo único, 18 e 25, parágrafo 1º e 2º. Na hipótese de um determinado produto ter mais de um fabricante um de matéria prima, outro de componente e outro de produto final, todos são solidariamente responsáveis pelo defeito e por suas conseqüências, cabendo, evidentemente, ação regressiva contra aquele que, efetivamente, deu causa ao defeito. Responsabilidade do Comerciante O comerciante pelos acidentes de consumo, teve a sua responsabilidade excluída em via principal. O código, em seu art. 13, atribui-lhe apenas a responsabilidade subsidiária. Pode ser responsabilizado em via secundária quando o fabricante, o construtor, o produtor ou importador não puderem ser identificados; o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador ou na hipótese mais comum - quando o comerciante não conservar adequadamente os produtos perecíveis. São casos, em que a conduta do comerciante concorre para o acidente de consumo, merecendo destaque os chamados “produtos anônimos”, tais como legumes, verduras, frutas, adquiridos nos supermercados sem identificação da origem; os produtos mal identificados e aqueles outros produzidos por terceiros mas produzidos com a marca do comerciante. Convém ressaltar que a inclusão do comerciante como responsável subsidiário foi para favorecer e reforçar a posição do consumidor, não para enfraquecê-lo. Importa dizer que a inclusão do comerciante não exclui o fornecedor; aumenta a cadeia dos responsáveis. Responsabilidade do Comerciante Roberto Senise Lisboa afirma que “a presunção de culpa pode admitir ou não a produção de prova em sentido contrário. Na primeira hipótese, a presunção da culpa é relativa (juris tantum), possibilitando-se àquele que se encontra responsável, por força da norma jurídica, a produção de prova que exclua seu dever de reparar o dano causado. No outro caso, a presunção legal de culpa é absoluta (iure et de iure), não se admitindo a produção de qualquer elemento demonstrativo de liberação da responsabilidade do agente”. Excludentes do dever de reparar 1- Quando a responsabilidade é objetiva só isenta-se do dever de reparar o dano caso haja culpa exclusiva da vítima, culpa exclusiva de terceiro ou em caso fortuito ou de força maior. Mas a questão da aplicação das excludentes oriundas de caso fortuito ou de força maior não é pacífica, como veremos. 2- Quando a responsabilidade é subjetiva exclui da responsabilidade a conduta pautada na legítima defesa, no estado de necessidade; exercício regular de direito, ou no estrito cumprimento do dever legal e, também, por caso fortuito ou decorrente de força maior. Excludentes do dever de reparar Excludentes do dever de reparar Excludentes deresponsabilidade civil pelo CDC (art.12, § 3º e 14, § 3º do CDC): ausência de dano (ausência de defeito ou de vicio): culpa exclusiva da vitima (consumidor) culpa exclusiva de terceiro Excludentes do dever de reparar Polemica: o CDC não prevê como excludentes o caso fortuito (evento totalmente imprevisível) e a força maior (evento previsível mas inevitável). Entre os consumeritas prevalece à tese da responsabilidade por tais ocorrências, pois o rol do CDC e taxativo (casal Nery, Claudia Lima Marques, Rizzatto Nunes). Porém, tem prevalecido na doutrina e na jurisprudência a diferenciação entre evento interno e externo, levando-se em conta os riscos do negocio (Sergio Cavallieri Filho, Carlos Roberto Gonçalves, Venosa): caso fortuito interno e força maior interna: tem relação com o fornecimento ou prestação = não exclui a responsabilidade; caso fortuito externo e força maior externa não têm relação com a prestação ou fornecimento = exclui a responsabilidade. Responsabilidade Civil: Dano A responsabilidade civil, por sua vez, pode comportar a reparação do dano patrimonial (material) ou moral. O Professor Luiz Antonio Rizzato Nunes, nos ensina que a constituição de 1988 garante como invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. Essa proteção pode ser exercida de maneira preventiva pelo titular do direito para evitar sua violação. Todavia, caso esta se consume o dano assiste direito à vítima de ser indenizada. O dano e a CF A constituição usa a disjuntiva “ou” (dano moral ou material), mas é claro que não o faz de modo adversativo. O texto apresenta uma alternativa exemplificativa. Não se trata de dano material ou moral, mas sim de dano material “e” moral. A questão está hoje em dia, claramente retratada na súmula 37 do STJ, que estabelece que “são cumuláveis as indenizações por danos materiais e morais oriundos do mesmo fato”. Como o conceito de dano material é amplamente conhecido (composição em dinheiro visando a reposição do status quo ante: valor efetivamente perdido – dano emergente, e receita que se deixa de aferir – lucros cessantes), não é preciso longa explicação do tema. Havendo dano material, este tem de ser ressarcido integralmente (CF. artigo 5º, V e X). Dano significa estrago. É uma “danificação” sofrida por alguém, causando-lhe prejuízo. Implica, necessariamente, a diminuição do patrimônio da pessoa lesada. Moral, pode-se dizer, é tudo aquilo que está fora da esfera material, patrimonial do indivíduo. Diz respeito à alma, aquela parte única que compõe a intimidade. É o patrimônio ideal da pessoa, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico. Jamais afeta o patrimônio material. Assim, o dano moral é aquele que afeta a paz interior de cada um. Atinge o sentimento da pessoa, o decoro, o ego, a honra, enfim, tudo aquilo que não tem valor econômico, mas que lhe causa dor e sofrimento. É pois, a dor física e/ou psicológica sentida pelo indivíduo. O dano Parâmetros para a determinação da indenização por danos morais: a) a natureza específica da ofensa sofrida; b) a intensidade real, concreta, efetiva do sofrimento ofendido; c) a repercussão da ofensa no meio social em que vive o ofendido e também sua posição social; d) a existência de dolo por parte do ofensor, na prática do ato danoso, e o grau de sua culpa; e) a situação econômica do ofensor; f) a posição social do ofendido; g) a capacidade e a possibilidade real de o ofensor voltar a praticar e/ou vir a ser responsabilizado pelo mesmo fato danoso; h) a prática anterior do ofensor relativa ao mesmo fato danoso, ou seja, se ele já cometeu a mesma falha; i) as práticas atenuantes realizadas pelo ofensor visando diminur a dor do ofendido. DOS ATOS ILÍCITOS NO CC Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Obrigação de Indenizar: CC., arts. 927 a 943 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Responsabilidade da PJ Todas as pessoas jurídicas respondem civilmente pela prática de ilícito ou ato que contrarie suas estipulações estatutárias como também, segundo os arts. 12 a 25 do Código de Defesa do Consumidor, trazem consigo a responsabilidade objetiva – independente de sua culpabilidade – caso decorra de vício no produto ou no serviço, danos que podem ser morais e materiais ( ver tb CF. 173, § 5º ). Profissionais liberais têm responsabilidade subjetiva (CDC art. 14, §§ 1º ao 4º). No campo da responsabilidade extracontratual é sabido que as pessoas jurídicas de direito privado devem reparar o dano causado pelo seu representante. [1] Responsabilidade indireta Responsabilidade da PJ Os arts. 931 e 1009 do CC, estipularam a responsabilidade civil para as pessoas jurídicas que têm finalidade lucrativa ou empresarial ao dizer que respondem pelos produtos postos em circulação. Mesmo combinando-se o art. 932, III com o 933 do novo código civil, inova e traz a responsabilidade objetiva, naqueles casos, pelos danos porventura provocados. Quanto aos fornecedores de produtos e serviços o CDC já havia estipulado essa modalidade de responsabilidade. Powered by André Ricardo Blanco Ferreira Pinto Proibida reprodução total ou parcial, apresentação protegida por leis nacionais e internacionais de Copyright
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