Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Bronquiolite Infecção respiratória aguda de origem viral; Predominantemente em crianças < 2 anos; Frequente causa de insuficiência respiratória; Pode ser precedida ou acompanhada de episódios gripais (coriza, tosse), manifestando-se por quadro obstrutivo respiratório; H1N1 como diagnóstico diferencial OBS: Temos 2 tipos de doenças pulmonares: 1. Obstrutivas (Ex: Asma e bronquiolite) 2. Restritivas (Ex: Pneumonia) A diferença é que a doença restritiva compromete os alvéolos e o parênquima pulmonar. Etiologia Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Causa mais comum de internações hospitalares no primeiro ano de vida (30-60 dias de vida); Mais comum no inverno (junho a setembro); OBS: O VSR nos adultos (imunocompetentes) geraria apenas um resfriado, sem nenhum comprometimento mais grave. Porém nos lactentes, principalmente nos menores de 1 ano, cursa com quadros mais graves nas vias aéreas. Patogênese O bronquíolo já tem calibre pequeno e fica menor ainda com a infecção. Isso faz com que o lactente desenvolva uma IR de alta resistência. Temos alteração das secreções das vias aéreas. Temos espasmo da musculatura lisa bronquiolar. Atividade reduzida da IgA – já é reduzida nos lactentes, principalmente nos lactentes jovens. Por isso que o aleitamento materno é protetor para quadros graves de bronquiolite. Quando adquirem a IgA da mãe, as chances de desenvolverem quadros mais graves são reduzidas. Imagem: Temos inflamação das paredes do bronquíolo e associado a isso, produção de muco às custas de necrose epitelial. Por isso o mucolitico não funciona, tendo em vista que ele faz a lise do muco normal, que é composto por proteínas. Já esse tipo de muco é composto por restos epiteliais. Ou seja, terei acumulo de catarro + edema de parede bronquiolar, diminuindo muito o calibre das vias aéreas. Áreas de atelectasia e áreas de hiperinsuflação. Ou seja, tenho bronquíolos colapsados e ar aprisionado nos alvéolos pela dificuldade de saída. Na TC vemos áreas hiperinsufladas e áreas totalmente obstruídas/fechadas. Histopatologia Mais precoce: necrose do epitélio com destruição das células ciliadas. OBS: As células ciliadas são as responsáveis pela movimentação da secreção. Nesse caso, isso não vai acontecer. Junto com a perda das células ciliadas, temos o fato de serem bebes, que, de fato, não conseguem lidar com a secreção das vias aéreas, por não terem tosse efetiva ou escarro e outras manobras para limpar as secreções das vias aéreas baixas. Secreção: Restos celulares + fibrina que está tentando cicatrizar a necrose. Por esses fatores o muco da bronquiolite tem características próprias (muito pegajoso, viscoso). O fato do muco ser pegajoso, faz com que ele forme rolhas nas vias aéreas e isso causa obstrução em vários níveis das vias aéreas, causando inúmeras manifestações. Edema de submucosa. Então: Inflamação de mucosa, necrose dessa mucosa com descamação. Aumento da produção de muco. Associado a isso ocorre broncoespasmo (espasmo da musculatura lisa). Fisiopatologia Hiperinsuflalção x Atelectasia: o ar fica aprisionado nos pulmões. Essa doença gera dificuldade na entrada e na saída do ar, por isso, teremos hiperinsuflação. Assim, terei no RX arcos costais retificados e parênquima pulmonar bem escuro. Pode haver sinais clínicos de hiperinsuflação, como “peito estufado”. Junto com a dificuldade de saída do ar, temos as rolhas formadas. Se essas rolhas obstruírem um segmento pulmonar que colabar, chamamos isso de atelectasia. O que marca a bronquiolite num primeiro momento é a hiperinsuflação, mas não é raro vermos um RX com áreas de atelectasia. Isso é muito ruim se a criança precisar de ventilação mecânica. Pois como vou tratar com a ventilação a atelectasia se tenho regiões hiperinsufladas? Corre risco de “explodir” as vias aéreas e formar pneumotórax. Aumento do trabalho respiratório em até 6 vezes do normal. A criança tem pouca massa muscular e tem um tórax que não favorece a estafa, assim, esse aumento de esforço em até 6 vezes, acaba prejudicando muito as vias aéreas. É por isso que há muitas internações. Aumento da capacidade residual funcional em até 2 vezes. Quadro Clínico IVAS (coriza, tosse, anorexia e pode ter febre). Febre presente em 2/3 dos casos. Sendo que essa febre não é alta nem persistente. Aproximadamente no 2º dia a criança começa a respirar um pouco mais rápido, indicando a fase de insuficiência respiratória. A história natural da bronquiolite atinge o pico de piora entre o 3º e 5º dia de doença, onde no 5º dia já começa a apresentar melhora. Bom estado Geral, apesar do cansaço- geralmente o bebe mama, mas para muito nesta atividade pois cansa facilmente. Obstrutivos: sibilos, taquipnéia, expiração prolongado. Exemplo: Sei que o pico de piora é entre o 3º e 5º dia- se chegar uma mãe entre o 3º e 4º dia e dizer que a criança está com o nariz escorrendo e apresentou febre, agora está com a respiração mais rápida e está sentindo o peito da criança “cheio”, que apresenta vibração quando coloca a mão. Ao exame físico tenho uma ausculta rica (som de secreção, sibilo, estertores grosso e fino), não tem FR muito alta, nem desconforto e está saturando bem (96% em ar ambiente). Nesse caso devo me tranquilizar, pois já está no fim do período viral e tem o exame físico bom. Além disso, se seguir o ciclo normal da doença, o bebe apresentará em breve o quadro de melhora. Diferente do bebe que começa com coriza e febre e, ao longo do dia fica cansado para respirar. A noite evolui com muito catarro, tiragem e tórax insuflado. No exame físico tem FR moderada, está saturando 92% em ar ambiente e tem tiragem- tudo isso no primeiro dia da infecção. Nesse caso devo me preocupar, tendo em vista que este bebe pode piorar a ponto de precisar de suporte ventilatório. É uma doença muito comum em lactentes e por isso, a maioria das vezes conduzo os casos em casa com acompanhamento ambulatorial. Se a mãe relatar 10 dias de doença, isso não pode ser viral. Por isso devemos nos atentar pela história natural de cada doença. OBS: Em pediatria não devo usar Berotec e sim Salbutamol, pois dá menos efeitos cardíacos. Diagnostico É para ser feito baseado na História + Exame físico (Recomendação nível B, com evidencias fortes de sucesso). FR > 70 ipm > grave. O grau da taquipnéia é critério de gravidade na bronquiolite. Sendo que nas bronquiolites com FR acima de 70 ipm, as chances de evoluir para complicações e gravidade são maiores. RX de tórax: não usar como rotina (Como a história + exame físico têm grandes recomendações, talvez nem precisamos de RX. Sendo assim, a recomendação de NÃO fazer radiografia é nível B e tem evidencias moderadas de sucesso. Ou seja, se tenho um exame físico bastante característico, não preciso do RX para confirmar o diagnóstico da minha bronquiolite). PCR para VSR: se for feito, terei 60 – 75% de positividade para o VSR. OBS: 1/3 dos casos podem apresentar coinfecções com outros tipos de vírus, por isso que podemos ter evoluções e apresentações clinicas diferentes. Sibilo expiratório é bastante abundante numa fase menos grave. Quando o quadro obstrutivo estar muito grave e causar obstrução, o murmúrio vesicular e o sibilo estão quase ausentes. Assim, pode haver silencio na ausculta. O clássico são os sibilos expiratórios. Sendo que se a criança ter muito muco na via aérea, muitas vezes dificulta ouvir o sibilo. Tratamento Broncodilatadores: NÃO usar (RecomendaçãoB para não usar/ forte). o O Guideline ainda nos permite fazer uma inalação teste com um Beta-2 de curta duração (Salbutamol) em crianças. Isso acontece, pois, como minha patogênese é multifatorial, posso ter uma bronquiolite que tem predomínio importante de bronquioconstrição e isso é agravante para este quadro. Se for este o caso, quando fizer inalação com Beta-2, a criança pode piorar. Logo, devo fazer essa inalação teste e fazer sucessivas auscultas para verificar se melhorou os sibilos ou piorou. Caso melhore, devo manter. Contudo, se não melhorar ou não haver alterações, suspendo a medicação. Inalação com adrenalina: NÃO usar (Recomendação B para não usar/ forte). Corticoide: NÃO usar (Recomendação nível A para não usar/ forte). o Se o usarmos corticoide estamos PIORANDO o quadro do bebe, por aumentar o tempo de clearance/liberação viral, ou seja, o vírus que normalmente sairia da via aérea entre 7 e 10 dias, pode permanecer por mais tempo. Assim, o pico da história não seria mais no 3º ao 5º dia, não obedecendo a história natural da doença. OBS: se chegar um bebe de 2 meses em um primeiro episódio de bronquiolite, não devo usar corticóide. Mas se este mesmo bebe chegar alguns meses depois com um novo episódio de bonquiolite (um segundo episódio de sibilancia em lactente), devo usar o corticoide. Normalmente os quadros de sibilancia são únicos, mas se o mesmo bebe começa a fazer quadros recorrentes de sibilancia, pode evoluir para uma categoria que chamamos de “bebe chiador”. E esta categoria define se a criança será ou não asmática. Fisioterapia: NÃO fazer (Recomendação B para não fazermos/ moderada). o Os estudos dizem que a fisioterapia com aspiração das vias aéreas com sonda de drenagem tem o contra de aumentar a descamação do epitélio da via aérea. Assim, na tentativa de retirar a secreção, acabo fazendo com que a produção seja maior. o Neste caso, o que e é permitido são as fisioterapias de manobras para mover o catarro. Solução salina Hipertônica: Existem trabalhos a favor e outros que não afirmam efeitos positivos. Os que dizem a favor, afirmam que a solução salina estimula a diminuição da viscosidade e da quantidade do muco. o Logo, NÃO recomenda-se a solução salina na emergência. Já na Internação, devemos usar (Recomendação nível B para usarmos/ fraca). Exemplo: bebe com bronquiolite chega e encontra-se taquidispneico, apesar do BEG, está saturando 91%, por isso precisa de O2. Está no segundo dia de história. Nesse caso, não devo mandar a criança para casa, pois ela precisa de O2 e pode haver piora, então interno e o deixo em observação. Para esse bebe, vou usar solução salina hipertônica. OBS 1: Há casos em que devemos deixar a criança em jejum, pois apresenta muito cansaço e pode fazer broncoaspiração. OBS 2: devo dar o tratamento de suporte para a criança não piorar. Mas não há tratamento efetivo para a cura. Devo esperar a história natural da doença. Medidas Gerais Hidratação venosa- se não houver condições de dieta nem por sonda nasoenteral nem VO por conta da broncoaspiração pelo cansaço. Oxigenoterapia- sempre que a saturação for menor que 94%. Heliox- Hélio + O2 que já vêm misturados no cilindro. Esse gás tem uma efetividade muito grande (define se haverá ou não intubação) em quadros obstrutivos, como a asma e a bronquiolite. o Fazemos inação com heliox e, ele faz com que o fluxo de entrada e saída de ar seja laminar. E se tenho um fluxo laminar em uma via que está mais estreita, acaba facilitando. o Geralmente, os bebes com esse quadro estão chorando e isso faz com que o fluxo aéreo da criança turbilhone, dificultando mais ainda a entrada e saída de ar. Logo, o heliox ajuda isso não acontecer. o Problema do heliox: alto custo, por isso não o encontramos em muitos hospitais. Suporte ventilatório: VNI (ventilação não invasiva) / VM (ventilação mecânica) - o que me dita qual devo usar é o quadro clínico da insuficiência respiratória. Prevenção Palivizumabe: É um anticorpo monoclonal para o VSR, recomendada para grupos específicos, como prematuros extremos (menores de 32 semanas), cardiopatas e pneumopatas graves (fibrose cística). Tendo em vista que para essas pessoas a bronquiolite é potencialmente fatal. Esses grupos tomam uma dose por mês até o 6º mês de vida e depois para. Uso de álcool gel nas mãos- como todas doenças virais a disseminação está nas mãos das pessoas. Aleitamento materno até pelo menos 6 meses- é um fator protetor. Sendo que a ausência do aleitamento não é fator de risco. Mas a presença dele, garante IgA para as criança, assim, terão uma proteção extra, que permite uma melhor evolução dos bebes que apresentam quadros mais graves.
Compartilhar