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Trauma Cranioencefálico (TCE) Thaynara Silva Definição: TCE compreende diversos acometimentos desencadeados por uma força externa ao crânio e/ou cérebro subjacente. Lesões do SNC são a causa mais comum de morbimortalidade em criança: Pensar sempre em uma criança vitimizada perante um quadro de lesões incompatíveis com o mecanismo de trauma Características da criança que a diferencia do adulto: · Maior relação cabeça-corpo · Ossos do crânio mais finos · SNC menos mielinizado · Pescoço curto · Musculatura cervical pouco desenvolvida Epidemiologia: O TCE está presente na maioria das crianças vítimas de trauma e é responsável por 75% das mortes na infância. Picos de incidência: · 0-2 anos · 15 a 18 anos Principais causas: - Quedas (de trocador, cama, berço, andador, escada) - Acidentes automobilísticos - Esportes - Violência (maus tratos) Fisiopatologia: Tem TCE? Qual foi o mecanismo do trauma? Lesão primária: Ocorre no momento do trauma. É o resultado direto do impacto mecânico. - Por impacto: choque do encéfalo com protuberâncias ósseas · Lesões do couro cabeludo Contusões Lacerações Hematomas · Concussão: perda da consciência transitória pós- trauma · Contusão: lesões necro-hemorrágicas de parênquimas secundários à pressão do encéfalo contra estruturas ósseas · Fraturas da calota craniana: Lineares Afundamento Base do crânio -Por aceleração desaceleração: cisalhamento de estruturas · Hematoma extradural: sangue entre calota e dura máter. Sd de herniação cerebral. Lesão de artéria meníngea média. A criança tem “intervalo lúcido” seguido de sinais de HIC. · Hematoma subaracnóideo · Homorragia intraventricular · Hematoma subdural: crianças vítimas da “sd do bebê sacudido” ou Shaken baby syndrome– sinal da banana · Lesão Axonal Difusa (LAD): vias axonais, coma profundo, hemorragias puntiformes na TC Qual a tríade da Sd do bebê sacudido? 1. Hemorragias retinianas; 2. Hematomas subdurais; 3. Encefalopatia. Lesão secundária: Não ocorre no momento do trauma, aparece depois. É causada pela resposta bioquímica e fisiológica ao trauma - Hipoxemia; - Hipercapnia; - Hipocapnia; - Hipotensão arterial; - Hipertensão intracraniana; - Crises convulsivas; - Hipertermia; - Distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos. CONCEITOS Pressão Intracraniana (PIC)Autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral-> determinando a PIC - Tecido cerebral 80% - LCR 10 % - Sangue 10% Valores normais da PIC - Lactentes: 8 a 10 mmHg - Crianças maiores e adultos: <15 mmHg Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC): Dentro da faixa de pressão arterial média (PAM) de 60 a 150 mmHg Pressão de Perfusão Cerebral (PPC)=PAM-PIC = 50 a 60 mmmHg Nas primeiras 12-24h após o trauma o FSC diminui e complicações como hipotensão e hipóxia contribuem ainda mais para a lesão neuronal. EXAMES NEUROLÓGICO E FÍSICO DA CRIANÇA - Movimentação das extremidades; - Reflexo de Babinski; - Determinação dos sinais vitais.CUIDADO! Crianças < 2 anos de idade (ptte <12 meses) podem apresentar um exame clínico-neurológico normal, mesmo com alterações tomográficas que requeiram tto cirúrgico - Sinais de fraturas cranianas: Equimose periorbital (olho em guaxinim) Equimose retroauricular (Sinal de Battle) - Hemotímpano; - Sinal do duplo halo (coloca na gaze e observa); - Otorreia ou rinorreia; - Fratura complexa (afundamento); - ECG (Escala de Coma de Glasgow); - Reflexos pupilares à luz (PIFR?); - Exame dos nervos cranianos. #Todo pcte vítima de TCE deve ser avaliado em até 15 min da entrada na emergência!!! Tríade de cushing-> Aumento da PIC 1. Bradicardia; 2. Bradipneia/ ritmo respiratório; 3. Hipertensão arterial. O que mais pode sugerir aumento da PIC além da Tríade de Cushing? · Queda de dois ou + pontos na ECG · Alterações do ritmo respiratório (Respiração de Biot?) · Alterações das reações pupilares à luz (anisocoria-> herniação) · Hipóxia · Convulsões As consequências da Hipertensão Intracraniana são: · Diminuição do FSC, com queda da pressão de perfusão cerebral. · Vasodilatação reacional à isquemia · Herniações cerebrais Escala de coma de Glasgow ADAPTADA 13-15 TCE leve 9-12 TCE moderado 3-8 TCE grave Classificação do TCE: · Quanto ao mecanismo de trauma: Fechado (contuso) Penetrante · Quanto à gravidade: Leve: ECG 13-15 Baixo risco: Não possui fatores de risco Não pede TC Observa por um período de 4-6h e libera pra casa com orientações de retorno Moderado risco: Profissional decide em pedir TC ou observar 4-6h Alto risco: Deve fazer TC de crânio Moderado: ECG 9-12 Todos farão TC (TC obrigatória) Observação rigorosa nas primeiras 48h, preferencialmente em UTI Grave: ECG 3-8 TC e tto intensivo obrigatórios Necessidade de monitorização da PIC Suporte intensivo Acompanhamento multidisciplinar · Quanto à morfologia Lesões extracranianas Lesões Intracranianas Fraturas de crânio Exames de imagem * RX crânio: baixo valor preditivo (Acalmar anseio dos pais?) * TC Crânio: Deve ser indicado para qualquer paciente que apresente alteração do nível de consciência, déficit neurológico focal ou sinal físico de trauma craniano. Exame de escolha. Sempre avaliar Custo X Benefício do uso de TC (exposição do SN em desenvolvimento a irradiação) 1 TC de crânio equivale a 100 raio X de tórax TEM QUE SABER QUANDO PEDIR TC DE CRÂNIO? PRA QUEM? “Ah mas meu serviço não faz TC” Então encaminha para onde faz! Não come bola! Solicitar TC nas seguintes situações: • Nos casos moderados e graves • Nos casos leves em que apresente: – Alteração do estado mental como: agitação, sonolência, questionamento repetitivo ou resposta lenta à comunicação verbal, – Suspeita de fratura craniana à palpação – Hematoma subgaleal importante em região occipital, temporal ou parietal – Perda de consciência, – Mecanismo de trauma grave: · Acidente com veículo com ejeção do paciente; · Morte de outro passageiro ou capotamento; · Pedestre ou ciclista sem capacete atingido por um veículo motorizado; · Quedas superiores a 0,9 m em menores de dois anos · Quedas > 1,5 m para maiores de dois anos; · Cabeça atingida por um objeto de alto impacto. – O paciente não está agindo normalmente na percepção dos pais; – A critério médico baseado na sua experiência, de acordo com avaliação individualizada. *RNM: Realizada após a TC quando necessária. Avaliação da extensão da lesão e prognóstico cognitivo. COMPLICAÇÕES - Hipertensão Intracraniana (HIC) - Herniação cerebral Reavaliar continuamente: Nível de consciência Pupilas Fraqueza muscular Tríade de Cushing TRATAMENTO Princípios do PALS (Pediatric Advanced Life Support) · Tratamento em UTI Monitorização Oferta de O2 Tratar convulsões Agressivamente · Objetivos Manutenção da PIC em níveis seguros: - RN e lactentes: até 5 mmHg - Crianças: 6-15mmHg - Adolescentes e adultos: <15mmHg Estabilidade hemodinâmica Estabilidade dos parâmetros de metabolismo cerebral · Medidas gerais CABEÇA em posição neutra, ELEVADA A 30° para otimizar o retorno venoso (movimentos de rotação para a direita podem aumentar a PIC mais que para a esquerda) Temperatura corporal: NORMOTERMIA (hipotermia controlada pode ser utilizada para o tratamento da HIC refratária; hipertermia causa maior consumo cerebral de O2) MONITORAÇÃO HEMODINÂMICA: catéter para PAM e PVC (pressão venosa central) -> tratar agressivamente a hipotensão (principal fator que agrava o prognóstico) - Se não houver resposta à expansão com volume: DOPAMINA (5-15 mcg/kg/min); noradrenalina (0,05-1mcg/kg/min) - Se houver disfunção ventricular: associar DOBUTAMINA (5-15mcg/kg/min) - HAS pode ser resposta ao aumento da PIC: não corrigir a HAS sem saber a causa e não usar nitroprussiato de sódio MANEJO RESPIRATÓRIO: - Se HIC, Glasgow <ou= 8, sofrimento respiratório, hipercapnia, hipoxemia refratária=> IOT - Manter SatO2>95% e a PaCO2 aproximadamente 30-40mmHg (evitar hiperventilação empírica) Manter Hb>10g/dL e/ou Ht>30% Lidocaína a 1% (1mg/kg) antes da aspiração da cânula traqueal Hidratação: 2/3 das necessidades diárias Glicemia, eletrólitos e osmolaridade sérica: de 6 em 6 horas Evitar hipo/hiperglicemiaSódio sérico: 140-150 mEq/L Suporte nutricional com alimentação do paciente o mais precoce possível (administrar 30-60% do gasto metabólico basal) SEDAÇÃO, ANALGESIA E BLOQUEIO Benzodiazepínicos: MIDAZOLAM (0,1 – 0,3 mg/kg/h) Analgésico efetivo: fentanil* (1 – 3 mcg/kg/h) * reduz QI Bloqueadores neuromusculares: - Indicados se HIC grave - VECURÔNIO (ataque: 0,06 – 0,08 mg/kg; manutenção: 0,02 a 0,03mg/kg/h) - ATRACÚRIO (ataque: 0,3 – 0,5 mg/kg; manutenção: 0,2 – 1mg/kg/h) CRISES CONVULSIVAS Ocorre em 10% das crianças com TCE grave Uso profilático de DIFENIL-HIDANTOÍNA por 7 dias Na vigência de crise convulsiva: BZD de ação rápida (DIAZEPAM 0,2 – 0,3 mg/kg/dose) Manutenção com difenil-hidantoína Pacientes em uso de bloqueadores musculares devem realizar eletroencefalograma PREVENÇÃO Primária Secundária Terciária #Síndrome do bebê sacudido TCV: Traumatismo Craniano Violento Efeito de chicote cervical Hemorragia retiniana/ Hematoma subdural/ Encefalopatia Lactentes são mais vulneráveis (até 5 anos de idade) ALTA COM ORIENTAÇÕES, RETORNAR CASO OCORRA: · Cefaleia persistente ou progressiva; · Vômitos persistentes 8h após o trauma; · Sonolência, fraqueza ou gestos inábeis; · Equilíbrio precário ao deambular; · Alteração de comportamento; · Convulsão; · Corrimento aquoso ou sanguinolento por nariz ou por ouvido. COMO PREVENIR AS LESÕES SECUNDÁRIAS? · Prevenir e tratar rapidamente a hiponatremia; · Reposição volêmica com soluções isosmolares (o que piora a PIC é a hiposmolaridade e a hiponatremia); · Evitar hipertermia (diminuir consumo de O2); · Não retardar a IOT; · Prevenir convulsões com uso de anticonvulsivantes em pacientes de alto risco (contusão cortical, fratura craniana deprimida, hematomas intracranianos, ferimentos penetrantes de crânio, Glasgow <9, crianças <1 ano de idade); · Ajustar o aporte de glicose. Sinal de hipertensão intracraniana PIC aumentada Precoce: papiledema Tríade de Cushing: (Bradicardia, hipertensão arterial e respiração irregular) ORIENTAÇÕES PARA OBSERVAÇÃO EM DOMICÍLIO PARA TRAUMATISMO CRANIANO EM CRIANÇAS A criança deverá ser avaliada pelo familiar em intervalos regulares e se aparecer algum dos seguintes sintomas deverá levar a criança imediatamente ao hospital: · A criança pode dormir, porém, é importante observar sonolência maior que o habitual ou dificuldade de acordar (acordar a criança a cada 4 horas durante o dia para avaliar estado neurológico e 2 vezes durante a noite); · Incapacidade de mover um lado do corpo com a mesma facilidade que o outro lado ou diminuição de força de um dos lados ou formigamento; · Confusão mental, agitação ou mudança de comportamento, irritabilidade ou ansiedade; · Dor de cabeça forte ou progressiva; · Vômitos persistentes; · Palidez; · Dificuldade em manter-se em pé ou andar, engatinhar ou executar as atividades que já sabe fazer (em caso de bebês rolar e sentar ); · Dificuldade para falar ou entender; · Movimento estranho dos olhos, visão dupla; · Alteração da respiração; · Alteração no tamanho das pupilas e ausência de reação das pupilas a luz; · Saída de líquido aquoso ou sanguinolento pelo nariz ou ouvido; · Inchaço na frente ou acima do lóbulo da orelha ou que aumentando de tamanho; · No caso de bebês observar presença de abaulamento da fontanela ( moleira estufada);
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