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Choque em Pediatria Internato em Pediatria II Thaynara Silva # Definição: é a situação clínica resultante do desequilíbrio entre a oferta de oxigênio e nutrientes e a demanda metabólica dos tecidos. Déficit agudo de oxigênio nas células-> metabolismo anaeróbio e acidose láctica. Oferta de oxigênio (DO2)= Conteúdo arterial de oxigênio (CaO2) x Débito Cardíaco CaO2= Hb x 1,34 x SatO2 + (PaO2 x 0,003) Choque não é sinônimo de hipotensão!! A hipotensão é comum, mas não é necessária! "Choque indiferenciado" refere-se à situação em que o choque é reconhecido, mas a causa não é clara. # Fisiopatologia: PA= DC x RVP PA= (Volume sistólico x FC) x RVP Débito Cardíaco= Volume sistólico x Frequência Cardíaca Variáveis do Volume sistólico: · Pré-carga: lei de Frank-Starling (estiramento das fibras musculares- se o preenchimento ventricular aumenta durante a diástole, o volume ejetado durante a sístole também aumenta) · Contratilidade: inotropismo (quem tem inotropismo aumentado, ejeta mais) · Pós-carga: a força contra a qual o coração tem que ejetar (tem que vencer a resistência! o aumento da pós-carga diminui o DC). Variáveis da Resistência Vascular Periférica: · Diâmetro do vaso (tônus); · Comprimento do vaso; · Viscosidade sanguínea · Aumentada: trombocitose, leucemia aguda, leucostase Mecanismos compensatórios para manutenção do DC: · Taquicardia; · Redistribuição do fluxo (oligúria, íleo paralítico, vômitos); · Aumento da contratilidade cardíaca; · Aumento do tônus do sistema venoso. Maas, as crianças têm reserva de FC limitada pois já tem FC basal mais elevada e menor massa ventricular. # Classificação: -> Segundo o estado fisiológico: · Choque compensado: perfusão inadequada, mas com PAS normal · Choque descompensado/hipotensivo: com hipotensão -> Segundo o estado hemodinâmico: · Hipodinâmico ou frio: baixo DC, pele fria e marmórea, pulsos finos, TEC> 2 segundos. · Hiperdinâmico ou quente: Alto DC, baixa RVP, extremidades quentes, avermelhadas, com alargamento da pressão de pulso e TEC < 2 seg. -> Segundo a etiologia: · Choque Hipovolêmico; · Choque Distributivo; · Choque Cardiogênico; · Choque obstrutivo; · Choque tóxico. Choque Causas PVC DC RVP Hipovolêmico (volume intravascular inadequado relativo ao espaço vascular) Perdas hemorrágicas: · Trauma; · HDA/HDB; · Peri-operatório. Perdas não hemorrágicas: · Perda pelo TGI (diarreia, vômitos) · Desidratação · Renais/ extra-renais · Cetoacidose diabética (CAD) · Queimaduras. Diminuído Diminuído Aumentado Distributivo (distribuição inadequada de sangue aos tecidos) Sepse (62%) Politrauma Grande queimado Anafilático Adrenal (insuficiência de glicocorticoide) Pancreatite Pós-operatório Neurogênico: Trauma raquimedular (falta de tônus simpático) Normal ou diminuída Normal ou elevado Muito diminuída Cardiogênico (problema na bomba/ disfunção miocárdica) Cardiopatia Congênita Intoxicação IAM Taquiarritmias Bradiarritmias Valvopatia Miocardiopatia (miocardite) Aumentado Reduzido Aumentado Obstrutivo (obstrução a ejeção, seja mecânica ou vascular pulmonar) Pneumotórax hipertensivo TEP Tamponamento cardíaco Hipertensão pulmonar descompensada Lesões cardíacas dependente de ducto arterial Aumentado Reduzido Aumentado # Diagnóstico: Sinais de choque: · Alteração do nível de consciência; · Diminuição da diurese (<1ml/Kg/h ou 12ml/m2/h) · Acidose láctica · Hipotensão arterial é um sinal TARDIO de choque em crianças. Frequência cardíaca em Crianças- PALS Idade FC em vigília FC durante o sono RN a 3 meses 85 a 205 bpm 80 a 160 bpm 3 meses a 2 anos 100 a 190 bpm 75 a 160 bpm 2 anos a 10 anos 60 a 140 bpm 60 a 90 bpm > 10 anos 60 a 100 bpm 50 a 90 bpm Frequência Respiratória em Crianças- PALS Idade FR Bebê 30 a 60 irpm 1 a 3 anos 24 a 40 irpm Idade pré-escolar 22 a 34 irpm Idade escolar 18 a 30 irpm Adolescente 12 a 16 irpm CHOQUE HIPOVOLÊMICO · A hipovolemia é a causa mais comum de choques em crianças!! · Pré-carga diminuída; · Contratilidade cardíaca normal ou elevada; · Pós-carga aumentada; · O choque é sempre frio com extremidades frias e pálidas. Quadro clínico: · Taquipneia com ou sem esforço respiratório; · Taquicardia; · PA normal ou hipotensão; · Pulsos periféricos fracos ou ausentes; · Pulsos centrais normais ou fracos; · TEC lentificado; · Pele pálida e fria; · Alteração do nível de consciência; · Oligúria. Tratamento do Choque hipovolêmico: · Objetivo: reconstituir o volume intravascular · SF 0,9% ou RL 20ml/kg em bolus rápido · Reavaliação após cada alíquota (tá melhorando? tá piorando?) · Em choque hipovolêmico decorrente de perda sanguínea (trauma) é aconselhável adm derivados do sangue, quando disponíveis em vez de cristalóides, para a ressuscitação de volume contínuo. · Em casos refratários a volume (raros) está indicado uso de DVAs · Nos casos de Cetoacidose Diabética que cursam com hipovolemia a reposição deve ser realizada de forma mais lenta (10 a 20ml/Kg em 1 h) pelo risco de edema cerebral. CHOQUE DISTRIBUTIVO · Distribuição do volume sanguíneo inadequada -> CHOQUE SÉPTICO think: could this be sepsis? Fatores de risco para choque séptico: · Lactentes jovens e RN; · Oncológicos; · Asplenia; · Transplantados; · Uso de dispositivos invasivos; · Imunodeficiências. Principais causas de infecções entre pacientes pediátricos com sepse e choque séptico: · Infecções respiratórias; · Bacteremia primária. Diagnóstico: · Foi atualizado com revisão do diagnóstico para os adultos, mas as crianças não acompanharam; · Em breve isso pode ser revisto, mas por enquanto, seguimos assim. · Cada instituição pode definir seus critérios também. CONCEITOS Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) Pelo menos 2 do critérios abaixo sendo pelo menos 1 deles anormalidade de temperatura ou de contagem de leucócitos: · T > 38,5ºC ou < 36ºC**; · Taquicardia ou bradicardia; · FR > 2 DP para idade ou VM em processo agudo (não relacionado a anestesia geral nem a doença neuromuscular); · Aumento ou diminuição dos leucócitos** para a idade (não secundário à quimioterapia) ou > 10% neutrófilos imaturos. Infecção Suspeita ou confirmada (Cultura, PCR) por qualquer patógeno OU síndrome clínica associada a alta probabilidade de infecção. Sepse SIRS + evidência de infecção confirmada ou suspeita Sepse grave: Sepse associada a um dos critérios: · Disfunção cardiovascular; · Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo OU 2 ou + disfunções orgânicas outras Choque séptico Sepse associada a disfunção cardiovascular NÃO responsiva a 40-60ml/kg de volume. Hipotensão refratária a volume. Tratamento do Choque Séptico: # Condutas na 1º hora: · Monitorização; · O2; · Acesso vascular (2 acessos); · Exames laboratoriais: pesquisa de disfunção orgânica · Hemograma com plaquetas; · Gasometria arterial (lactato arterial); · Ur, Cr; · BT e frações; · TGO, TGP. · Coleta de culturas pertinentes · ATB de amplo espectro: · Cefalosporina de 3º geração ou adequada ao foco infeccioso · Oxacilina (se celulite por staphylococcus) · Culturas vão nortear o tratamento · Se suspeita de Choque tóxico, o tratamento empírico deve incluir CLINDAMICINA para diminuir a produção de toxinas. · Se infecção de foco abdominal: tazocin + carbapenêmico ou Tazocin + clindamicina ou metronidazol · Ressucitação volêmica: · Se tem UTI no serviço: 10-20ml/kg até 40-60ml/kg · Sem UTI: mais cuidado! 10-20ml/kg até 40ml/kg (reavaliando após cada alíquota) · Paciente sem hipotensão: evitar a ressuscitação, use o soro de manutenção. · PRIORIZAR: soluções balanceadas (plasmalyte ou RL) pois o SF pode levar à acidose hiperclorêmica, inflamação sistêmica, lesão renal, coagulopatia e aumento da mortalidade. *Reavaliar sinais de sobrecarga constantemente (não vá encharcar o paciente hein) · Controlar o foco infeccioso: · Retirada de acessos venosos infectados; · Drenagem de abscesso, desbridamento de tecidos desvitalizados; · Ressecção cirúrgica (apendicite supurativa, foco abdominal); · Retirada de SVD;· Retirada de DVP. Drogas vasoativas no choque séptico: · Choque refratário a volume; · Pode ser iniciada em veia periférica-> CVC; · Adrenalina (1º escolha) · Indicada para choque séptico com disfunção miocárdica (a maioria) · Efeito inotrópico em doses baixas (beta) · Efeito vasoconstritor em doses elevadas (alfa) · Dose: 0,1 a 1 mcg/kg/min (Diluir 1 ml de adrenalina em 9 ml de SF 0,9% e adm 1ml/kg desta solução EV) · Noradrenalina · Efeito vasoconstritor; · Usado em caso de vasoplegia “choque quente”- hipotensão severa · Efeito alfa 1 · Dose: 0,1 a 0,2 mcg/Kg/min Hidrocortisona: · 50mg em lactentes · 100mg em crianças maiores e adolescentes · Dose máxima: 200mg/dia · Recomendada no choque séptico associado ao uso prévio de GC · HAC · Púrpura fulminans (meningococcemia, sufusões hemorrágicas)-> risco de necrose da adrenal. Sd de Waterhouse-Friderichsen # OBS: No choque séptico o sedativo de escolha é a ketamina (na ausência de contraindicações é claro: Hipertensão intracraniana por exemplo) -> CHOQUE ANAFILÁTICO É uma resposta alérgica multissistêmica aguda, causada por um fármaco, vacina, alimento, toxina, planta, veneno ou outro antígeno. Caracterizo por: - Vasodilatação arterial sistêmica; - Venodilatação; - Aumento da permeabilidade capilar; - Vasoconstrição pulmonar-> aumenta a pós-carga no VD. Quadro clínico: · Agitação; · Náusea ou vômitos; · Urticária; · Angioedema (inchaço de face, lábios e língua); · Desconforto respiratório com estridor e/ou sibilos; · Taquicardia; · Síncope, convulsões; · Hipotensão. Diagnóstico: Presença de anafilaxia + sinais de choque Principais sinais e sintomas de anafilaxia: Tratamento do Choque anafilático: · -> CHOQUE NEUROGÊNICO - Resulta de lesão cranioencefálica ou vertebral que rompe a inervação do sistema nervoso simpático dos vasos sanguíneos e do coração; - Contexto de trauma, TRM; - Leva a vasodilatação descontrolada; - Não consegue fazer taquicardia compensatória. Quadro clínico: · Taquipneia sem esforço respiratório (exceto se há PNM ou edema pulmonar); · Taquicardia? · Hipotensão com pressão de pulso ampla, choque quente, pressão de pulso estreita, choque frio ou normotensão; · Pulso periférico fraco; · TEC lentificado; · Alteração do nível de consciência; · Oligúria; · Variação de temperatura. Tratamento do choque neurogênico: · Fluidos; · Trendelenburg; · Vasopressores (Vasopressina); · Controlar a temperatura. CHOQUE CARDIOGÊNICO · Disfunção miocárdica / Falência da bomba cardíaca; · Principal causa: miocardite viral; · Redução do Índice Cardíaco (IC< 2,8); · Diferente dos outros tipos de choque, o paciente piora clinicamente quando é feita reposição rápida de volume. Quadro clínico: · Oligúria; · Cianose; · Diminuição do nível de consciência; · Extremidades frias; · Pulso periférico fino; · PA normal ou Hipotensão com pressão de pulso estreita; · Taquicardia; · Elevação da pressão capilar pulmonar-> sinais clínicos de edema pulmonar (taquipneia e esforço respiratório) · Rebaixamento do fígado; · Sinais de congestão cardíaca: · Estase jugular; · Hepatomegalia; · Edema pulmonar. Tratamento do choque cardiogênico: · Adm cuidadosa de cristalóides: 5 a 10 ml/kg LENTO · Reavaliação a cada alíquota; · DVA inotrópicas · · Considerar diuréticos: · Indicado em pacientes com edema pulmonar ou congestão venosa · Furosemida 1mg/kg · Adm apenas após a restauração da perfusão sistêmica. · Solicitar ajuda de especialista (cardioped, CIPE) CHOQUE OBSTRUTIVO · Causa mais comum: pneumotórax hipertensivo Quadro clínico: · Sinais de choque; · Diminuição do MV; · Timpanismo à percussão. · Tamponamento cardíaco: geralmente ocorre por trauma penetrante, cirurgia cardíaca, desordens inflamatórias que levam a efusão pericárdica importante. · CHOQUE DISSOCIATIVO Falha na entrega de O2 Intoxicação por Monóxido de Carbono (CO) Tratamento: remoção da fonte + oferta de o2 em alto fluxo Metahemoglobinemia Tratamento: remoção da droga + oferta de O2 + azul de metileno ou ácido ascórbico em casos graves ### TRATAMENTO DE FORMA GERAL- TODOS TIPOS DE CHOQUE ### Principal fator de sucesso: identificação precoce do paciente em risco para desenvolver o choque e encaminhamento para um serviço especializado. Alvo do tratamento: restabelecer a perfusão e oxigenação tecidual adequadamente. Evitar a progressão para PCR. Quais os sinais de restabelecimento da perfusão e oxigenação? R- TEC < 2 segundos Pulsos normais Extremidades aquecidas Diurese > 1 ml/Kg/h Nível de consciência sem alterações PA adequada para idade Saturação venosa central de oxigênio > 70% #ABCDE A- airway: Abertura das vias aéreas (cuidado se história de trauma-> fazer elevação de mandíbula e evitar o Chin lift), aspiração se necessário Quando intubar o paciente chocado? R- A IOT reduz o consumo de O2 pelos músculos respiratórios e deve ser instituída nas seguintes situações: · Aumento do trabalho respiratório; · Hipoventilação; · Diminuição do nível de consciência (Glasgow < 8); · Instabilidade hemodinâmica grave. B- breathing: Máscara não reinalante C- circulation: Ressuscitação hídrica: · Pegou acesso já pode começar a adm de cristaloide nos choques hipovolêmico, distributivo ou séptico (no cardiogênico não, né) · Enquanto faz a ressuscitação hídrica, deve-se obter acesso venoso central (para aferir PVC e adm DVA se necessário) · SF 0,9% 20ml/Kg em 5 a 20 min - Meta: PVC > 8 a 12 mmHg caso não haja sinais de sobrecarga hídrica Concentrado de hemácias: · Transfusão de 10-15ml/kg se Hb <7 mg/dl · Recomendado em vítimas de trauma Plasma fresco: · Usar se coagulopatia (10ml/Kg) · não usar para expandir volume Abordagem global do paciente em choque: 1. Monitorização: oximetria, PA, monitor cardíaco; 2. Suporte respiratório com a maior FiO2 possível; 3. Acesso venoso (2 acessos venosos periféricos calibrosos)-> via intraóssea (IO) é uma opção caso não seja possível obter acesso venoso periférico rapidamente. 4. Controle térmico; 5. Nutrição; 6. Correção de distúrbios metabólicos; 7. Controle da causa base; 8. Suporte cardiovascular; 9. Correção da pré-carga, da função cardíaca e da pós carga; 10. Uso de drogas ; 11. Tratamento das complicações. Medidas gerais: -> Ofertar O2 -> Volume e distribuição: Fluidos e DVA -> Reduzir a demanda de O2: controle da febre e da dor, sedação se necessário, VM Quando intubar o paciente chocado? R- A IOT reduz o consumo de O2 pelos músculos respiratórios e deve ser instituída nas seguintes situações: · Aumento do trabalho respiratório; · Hipoventilação; · Diminuição do nível de consciência · Instabilidade hemodinâmica grave Principais drogas vasoativas utilizadas no choque
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