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Larissa Maria Miranda Santana Medicina 7º período 1 DOENÇA CORONARIANA ISQUÊMICA CRÔNICA • Introdução O termo isquemia denomina desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio, devido a diminuição da oferta e/ou aumento do consumo. O resultado da isquemia é a queda na produção celular de energia, o que leva a perda de função e se a isquemia for grave e persistente, culmina em necrose da célula. A doença isquêmica do miocárdio é caracterizada pelo surgimento de uma isquemia em uma ou mais porções do músculo cardíaco. Sua principal etiologia é a aterosclerose das artérias coronárias, outras causas como embolia, vasculite, dissecção coronariana são incomuns. A doença isquêmica do miocárdio secundária à aterosclerose coronariana pode ter três apresentações distintas: 1. Assintomática ou isquemia silenciosa, nessa forma o paciente é portador de fatores de risco para aterosclerose, porém os indícios de isquemia miocárdica só podem ser detectados através da realização de exames complementares. 2. Aguda, o paciente evolui em um curto espaço de tempo com sinais e sintomas de isquemia progressiva que acaba se manifestando em repouso. A causa desse problema se dá devido a instabilidade da placa de ateroma, que sofre rupturas em sua superfície originando um trombo. Existem 3 síndromes coronarianas agudas diferentes. 2.1- Angina instável 2.2- IAM sem supradesnível do segmento ST 2.3- IAM com supradesnível do segmento ST 3. Crônica ou angina estável, o paciente refere sinais e sintomas de isquemia durante o esforço, mas em repouso essas manifestações desaparecem. Não há instabilidade da placa de ateroma, mas esta é grande o suficiente para ocluir maior parte do lúmen coronariano, produzindo isquemia somente em face de um aumento da demanda miocárdica. A irrigação do coração é dada pelas artérias coronárias esquerda (esta possui os ramos descendente e circunflexo) e direita. • Epidemiologia A doença isquêmica do miocárdio é a principal causa de óbito no Brasil. Uma explicação para o tamanho do impacto seja o estilo de vida moderno, dietas gordurosas e calóricas associadas ao sedentarismo. Além disso o envelhecimento populacional é contribuinte. Homens e mulheres tem quase o mesmo percentual de acometimento, homens entre 65-84 anos 12-14% e mulheres na mesma faixa etária 10-12%. • Fisiopatologia 1- Isquemia miocárdica O tecido miocárdico possui uma peculiaridade fisiológica que facilita a ocorrência de isquemia na vigência de uma obstrução do lúmen, trata-se do tecido com maior taxa de extração de oxigênio do organismo. A importância disso se dá pela capacidade de aumentar o fluxo de sangue pelo leito coronário, tal proeza realiza-se através da reserva coronariana, que conseguem dilatar-se de acordo com a necessidade de oxigênio. Ou seja, na medida que surgirem oclusões hemodinamicamente significativas (>50%) nas coronarianas epicárdicas, a reserva coronariana será progressivamente requisitada, a fim de manter em equilíbrio a relação entre oferta e consumo de oxigênio. Se a obstrução for aguda e grave, ou seja >80% do lúmen, mesmo com uma vasodilatação arteriolar máxima o fluxo ficará tão baixo que não será suficiente para suprir a necessidade basal de oxigênio, sobrevindo isquemia miocárdica em repouso e posteriormente infarto. Larissa Maria Miranda Santana Medicina 7º período 2 Por outro lado, se a obstrução for mais gradual e não tão grave (50-80%) a reserva coronariana será parcialmente utilizada no estado de repouso, sobrando uma capacidade variável de vasodilatação adicional, ou seja, qualquer aumento da demanda miocárdica, o pouquinho de reserva coronariana residual poderá não ser suficiente para suprir as necessidades de O2. Justificando o surgimento da isquemia esforço- induzida como na angina-estável. 2- As consequências da isquemia miocárdica Os cardiomiócitos isquêmicos desenvolvem alterações bioquímicas que prejudicam suas funções mecânicas e elétricas. Num primeiro momento a isquemia induz a perda do relaxamento muscular (disfunção diastólica) que logo evolui para perda da capacidade contrátil (disfunção sistólica), caso a isquemia não se resolva. Descrevem-se 3 estágios evolutivos de gravidade crescente: - Hipocinesia: segmento isquêmico se contrai, porém essa contração é mais fraca que a dos segmentos não isquêmicos. -Acinesia: o segmento isquêmico não se contrai, ficando imóvel em relação aos segmentos não isquêmicos. -Discinesia: segmento isquêmico não se contrai e apresenta um movimento paradoxal de “abaulamento” em relação aos não isquêmicos. Em termos elétricos, os primeiros sinais de isquemia são as alterações na repolarização ventricular, como a onda T alta, pontiaguda e simétrica e a onda T invertida, pontiaguda e simétrica. ANGINA ESTÁVEL Representa a forma sintomática crônica da doença coronariana. O que caracteriza esta condição é a ocorrência de isquemia miocárdica transitória esforço-induzida que melhora com o repouso. A maioria dos pacientes é do sexo masculino, diretamente proporcional a idade. Em mulheres, a prevalência só se torna significativa após a menopausa. Sinal de Levine O desconforto torácico (ANGINA TÍPICA) nesse tipo de quadro relaciona-se com 3 caracteres semiológicos: 1- Sensação de aperto, peso ou pressão retroesternal ( as vezes queimação ou pontada, mas raramente dor) 2- Início durante esforço físico ou emoções 3- Alívio após repouso ou nitrato sublingual (1- 5min) A presença de apenas 2 das características acima define a ANGINA ATÍPICA. Com somente 1 ou nenhum desses caracteres, a angina é dita como não anginosa. Um paciente que consegue delimitar bem a sensação, podendo apontar com o dedo a região inframamária fala contra a possibilidade de isquemia miocárdica, diferente do paciente que esfrega a mão difusamente sobre o esterno ou coloca o punho cerrado no meio do peito (Sinal de Levine). Muitos tem a noção errônea que a irradiação da dor anginosa se dá apenas para o membro superior esquerdo, na realidade a angina costuma irradiar para ambos os lados do corpo. Um detalhe útil na prática é que a dor isquêmica não se irradia para o músculo trapézio. Pacientes com Quando uma coronariana epicárdica evolui com oclusão aguda total, o tempo que leva para a necrose do miocárdio começar é cerca de 20 min, por este motivo na síndrome coronariana aguda com supradesnível de ST, a presença de dor no repouso >20min prediz com a ocorrência de infarto agudo. Larissa Maria Miranda Santana Medicina 7º período 3 dor precordial irradiada especificamente para essa topografia fala a favor de pericardite aguda. Além do esforço físico e das emoções, às vezes a angina é desencadeada pelo decúbito, despertando o paciente no meio da noite. As explicações para este fenômeno são: 1- No decúbito o retorno venoso aumenta fazendo aumentar a pré-carga ventricular e consequentemente o trabalho miocárdico. 2-Durante a noite, o paciente pode ter uma súbita desoxigenação no sangue. Se a área isquêmica for extensa, pode haver depressão transitória da função ventricular, levando a congestão pulmonar. Classe Gravidade da angina estável I Atividades ordinárias não desencadeiam angina, apenas esforços intensos, prolongados ou muito rápidos. II Atividades ordinárias desencadeiam angina, porém com pouca limitação.III Atividades ordinárias desencadeiam angina com limitação significativa. IV Qualquer atividade desencadeia angina Um ponto crucial na avaliação do paciente com angina é determinar se a síndrome coronariana é estável ou instável. As principais características que denunciam a presença de uma síndrome coronariana aguda são: 1-Paciente com angina prévia, porém com diminuição progressiva do limiar anginoso. 2-Angina de início há no máximo 2 meses, que evoluiu de forma rápida a classe III. 3- Angina em repouso com >20 min de duração Exame físico O exame físico pode ser absolutamente normal quando o paciente está em repouso e sem sintomas. Contudo, na vigência do episódio de angina é possível detectar alterações transitórias secundárias a disfunção cardíaca induzida pela isquemia. Possíveis alterações no exame físico: - Inspeção e palpação: percepção de um impulso discinético no ápice cardíaco; frêmito da regurgitação mitral. -Ausculta: Surgimento de B4 e/ou B3; sopro de regurgitação mitral; desdobramento paradoxal de B2, estertoração pulmonar. OBS: Muitos pacientes possuem exame físico alterado não pela doença coronariana em si, mas pelos seus fatores de risco. Por exemplo : HAS, obesidade centrípeta e acantose nigrans, diminuição e assimetria dos pulsos periféricos, sopro carotídeo, xantomas e xantelasmas. Exames complementares Todo paciente sob suspeita de doença coronariana deve realizar uma série de exames de rotina, visando a identificação de fatores de risco cardiovascular. Hemograma, lipidograma, função renal, glicemia/hemoglobina glicada, pesquisa de microalbuminúria e função tireoideana. Outro marcador inespecífico que tem sido valorizado é a dosagem de proteína C reativa. Este reagente de fase aguda é considerado fator de risco independente para morbimortalidade cardiovascular em coronariopatas • ECG de repouso Este exame pode estar completamente normal na angina estável. Existem alterações no ECG de repouso que denotam maior probabilidade de doença coronariana, porém isoladamente não são capazes de confirmar este diagnóstico; hipertrofia do ventrículo esquerdo, arritmias. • Testes provocativos São exames onde o coração é forçado a aumentar sua demanda metabólica, permitindo-nos visualizar o surgimento de alterações dinâmicas indicativas de isquemia. Os testes provocativos são divididos em 2 grupos: 1 – eletrocardiográfico Larissa Maria Miranda Santana Medicina 7º período 4 e 2- teste de imagem. O primeiro é representado pelo teste ergométrico (ECG de esforço) e os outros são cintilografia de perfusão miocárdica, eco-stress, RNM cardíaca e PET-scan. TESTE ERGOMÉTRICO Confirma o diagnóstico e estratifica o prognóstico. Consiste no registro contínuo do ECG antes, durante e após o protocolo específico de esforço físico. A PA, a FC e os sintomas devem ser monitorados. CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA É um excelente método não invasivo para detecção de isquemia miocárdica, sendo capaz não apenas confirmar o diagnóstico como também fornecer parâmetros prognósticos, uma vez que visualiza a extensão da área isquêmica. ECOCARDIOGRAMA COM STRESS Permite uma análise em tempo real da função contrátil global e segmentar. Se durante o exame for aplicada alguma forma de stress, pode se diagnosticar isquemia miocárdica frente ao surgimento de um déficit na contração segmentar que melhora com o repouso. CORONARIOGRAFIA É um método padrão-ouro para diagnóstico de doença coronariana. Identifica com precisão anatômica, obstruções coronarianas secundárias a aterosclerose, assim como outras formas de lesão desses vasos. ISQUEMIA SILENCIOSA Não existe consenso absoluto acerca da melhor estratégia terapêutica para a isquemia silenciosa. O controle dos fatores de risco identificados evidentemente deve ser agressivo. Porém em relação a isquemia miocárdica em si, é preconizada uma estratégia individualizada em função das múltiplas variáveis do paciente. TRATAMENTO CLÍNICO 1- Mudança dos hábitos de vida - Parar de fumar -Fazer dieta – Emagrecer - Exercício físico regular – Controlar a PA - Controlar níveis de LDL e a DM -Vacinação contra influenza 2- Anti agregantes plaquetários 2.1 Ácido acetilsalicílico : dose recomendada 100mg/dia . A aspirina inibe de forma irreversível a enzima ciclo-oxigenase das plaquetas, impedindo a formação do tromboxano 2. Portanto o efeito antiagregante só desaparece Larissa Maria Miranda Santana Medicina 7º período 5 quando novas plaquetas surgem no sangue. A inibição plaquetária reduz a probabilidade de se formar um trombo intracoronariano, fator precipitante do IAM. Efeitos adversos: doença péptica gastroduodenal, hemorragia digestiva, outros sangramentos, alergia. 2.2 Tienopiridinas ( Clopidogrel e Ticlopidina) São potentes agentes antiplaquetários, inibem a ativação plaquetária por inibição da glicoproteínaIIB/IIIa. A Clopidogrel é a droga de escolha e deve ser utilizada na dose de 75mg 1x dia em todos os pacientes com contra indicação ou intolerância ao ASS. 3- Anticoagulante oral – Cumarínico A warfarina (marevan) pode ser utilizada em associação ao AAS em pacientes coronariopatas que apresentam alguma indicação específica para anticoagulação. 4- Drogas antilipêmicas- estatinas Existem 6 classes de medicações capazes de tratar as dislipidemias. A mais importante para redução do risco cardiovascular são as estatinas. Elas agem inibindo a enzima HMG, responsável pela síntese de colesterol nos hepatócitos. Quando os níveis de colesterol intracelular se reduzem aumenta a expressão de receptores de LDL na membrana plasmática o que transforma um fígado num órgão que passa a depurar o excesso de LDL da circulação ao invés de produzi-lo. 5- Drogas antiangionosas Essas drogas são capazes de reduzir a isquemia miocárdica, controlando a angina ou aumentando o limiar anginoso. Proporciona: -Aumento da perfusão coronariana no miocárdio isquêmico. -Redução da demanda metabólica miocárdica Os principais antianginosos são os nitratos, betabloqueadores e os antagonistas de cálcio. Estas drogas devem ser usadas em conjunto com os antiplaquetários e as estatinas nos pacientes com angina estável. Nitratos Aumentam a produção endotelial de óxido nítrico, um poderoso vasodilatador. Com isso seus benefícios são: redução da pré-carga, redução da pós-carga e vasodilatação coronariana. Os nitratos de ação rápida ( isossorbida, propatilnitrato) são administrados por via sublingual e começa agir nos primeiros 5 minutos, mantendo seus efeitos por 30-45 minutos. Os nitratos de ação longa não são mais recomendados como antianginosos de primeira linha, pois eles levam a vasodilatação prolongada o que leva a um agravamento da disfunção endotelial. Betabloqueadores Agem bloqueando os receptores Beta1 do miocárdio e nódulo sinusal, reduzindo a contratilidade miocárdica e a frequência cardíaca. São a droga de escolha para prevenir a angina de esforço. Essas drogas não possuem propriedades vasodilatadores, pelo contrário, a inibição dos beta1 pode levar a vasoconstrição. Antagonista de cálcio Exercem efeito vasodilatador coronariano e sistêmico, através do bloqueio dos canais L de cálcio na membrana da célula muscular lisa vascular. A nifedipina e a anlodipina são mais vasosseletivas, tendo um efeito coronariodilatador maispotente. A forma de liberação curta da nifedipina não deve ser utilizada no paciente anginoso, pois produz taquicardia reflexa. IECA e BRA Os pacientes de alto risco como diabéticos, nefropatas crônicos, hipertensos, história prévia de IAM, pacientes com disfunção sistólica devem receber IECA.
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