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Conflito de Normas entre Código Penal Militar e Lei Maria da Penha

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FACULDADE DE PARÁ DE MINAS 
Curso de Direito 
 
André Teixeira Machado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CASAL DE MILITARES ESTADUAIS E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: conflito 
aparente de normas existentes entre o Código Penal Militar e a Lei nº. 
11.340/06 – Lei Maria da Penha: de quem é a competência para o processo e o 
julgamento do crime da Lei Maria da Penha? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pará de Minas 
2013 
André Teixeira Machado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS EXISTENTES ENTRE O CÓDIGO PENAL 
MILITAR E A LEI Nº. 11.340/06 – LEI MARIA DA PENHA 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação do Curso 
de Direito da Faculdade de Pará de Minas como 
requisito parcial para a conclusão do curso de 
bacharel em Direito. 
 
Orientador: Ronaldo Galvão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pará de Minas 
2013 
André Teixeira Machado 
 
 
 
 
 
 
 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS EXISTENTES ENTRE O CÓDIGO PENAL 
MILITAR E A LEI Nº. 11.340/06 – LEI MARIA DA PENHA 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação do Curso 
de Direito da Faculdade de Pará de Minas como 
requisito parcial para a conclusão do curso de 
bacharel em Direito. 
 
 
 
Aprovada em _____/_____/_____ 
 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________________________________ 
Orientador Professor Ronaldo Galvão 
 
 
 
 
 
_____________________________________________________________ 
Examinador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço Senhor Deus, por não me 
deixar esquecer que você me habita e é a 
força que dá vida à minha alma. Agradeço 
a Deus por ter me dado saúde e 
sabedoria para chegar até aqui. Agradeço 
a minha Mãe pelo apoio. Aos meus 
amigos que sempre estiveram comigo 
nessa luta, pelos conselhos e ajudas dado 
no decorrer do curso. E aos professores 
Ana Paula Diniz e Ronaldo Galvão que 
me ajudaram nessa caminhada. Muito 
obrigado a todos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“No fundo, não há bons nem maus. Há 
apenas os que sentem prazer em fazer o 
bem e os que sentem prazer em fazer o 
mal”. (Mario Quintana.) 
LISTA DE SIGLAS 
 
CLADEM - Comitê Latino Americano de defesa dos Direitos da Mulher 
 
CP – Código Penal 
 
CPP – Código de Processo Penal 
 
CPM – Código Penal Militar 
 
CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
 
ONU – Organização das Nações Unidas 
 
PM – Polícia Militar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O tema da presente monografia é de grande importância para a área jurídica, no que 
tange, principalmente, ao Direito Penal e Processual Penal Comum/ Direito Penal e 
Processual Penal Militar, pois, à primeira vista, a situação hipotética de crime de 
violência doméstica se constituiria num crime tipificado pela Lei Maria da Penha, 
estando a mulher vítima de tal abuso amparada, indubitavelmente, pelos institutos 
de proteção previstos naquela Lei. Em 1969, quando surgiram o Código Penal Militar 
e o Código de Processo Penal Militar não havia mulheres nas intuições militares, 
porém com as mudanças socioculturais advindas mundialmente, mais notadamente 
à abertura dos mercados à força feminina, as mulheres têm buscado se efetivar em 
funções que, antes, eram tidas como que exclusivas do gênero masculino. Neste 
prisma, as instituições militares, que outrora traziam em seus efetivos apenas 
homens, hoje se deparam, indistintamente, com mulheres. Destarte, não são raros 
os casos de militares estaduais, homens e mulheres que contraem matrimônio ou 
vivem em união estável, gerando para aquele casal de militares os direitos e 
obrigações inerentes à sociedade conjugal. Desta forma, vem a discussão sobre a 
possibilidade de aplicação dos institutos da Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006, 
denominada “Lei Maria da Penha” ao Direito Penal Militar, em face de negligência do 
legislador na observância da situação da mulher que poderá sofrer violência 
doméstica ou familiar praticado pelo militar companheiro, mostrando, assim, a 
complexidade do assunto, sendo controverso e não existindo ainda um 
entendimento pacificado sobre o tema, quais as consequências nos casos do casal 
ser de militares, consequências administrativas, penais no âmbito da Lei Maria da 
Penha ou crime Militar. Assim, este trabalho busca o debate sobre a questão, 
contudo não a encerra. 
 
Palavras-chave: Competência. Violência doméstica. Casal militar. Crime militar. Lei 
Maria da Penha. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8 
 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO MILITAR ............................................... 10 
2.1 A justiça militar no Direito Brasileiro ................................................................... 11 
2.2 A violência contra a mulher no Brasil: Lei 11.340/06 Maria da Penha ................ 15 
2.2.1 Formas e manifestação da violência doméstica .............................................. 19 
 
3 O DIREITO PENAL MILITAR ................................................................................ 22 
3.1 A aplicação da norma penal militar ..................................................................... 24 
 
4 APLICAÇÃO DA LEI 11.340/2006 E A JUSTIÇA MILITAR ................................... 28 
4.1 O casal de militares e a violência doméstica ...................................................... 30 
 
5 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA VERSUS CRIME MILITAR .......................................... 37 
 
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 45 
 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
1 INTRODUÇÃO 
 
A violência contra a mulher não é uma situação recente, sendo reflexo de uma 
realidade histórica baseada na desigualdade da relação de poder entre os sexos, da 
subordinação e da inferioridade da mulher frente ao homem. 
 
A violência dentro do seio familiar tornou-se corriqueira, certos homens eivados de 
raiva e ódio descarregam sua carga de tensão em suas esposas e companheiras as 
quais muitas das vezes suportam em silêncio, devido ao medo ou dependência 
econômica, financeira, emocional. 
 
Foi com objetivo de modificar esta realidade que foi sancionado em sete de Agosto 
de 2006, pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei 11.340/06, 
denominada como Lei Maria da Penha, que tem o objetivo de coibir, prevenir e 
erradicar a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
O nome da Lei é uma homenagem à Maria da Penha Fernandes, mãe de três filhas 
e vítima emblemática da violência doméstica. 
 
No ano de 1983, seu ex-marido, Marco Antonio Herredia, tentou matá-la por duas 
vezes. Na primeira tentativa ele atirou contra ela, deixando-a tetraplégica. Na 
segunda, tentou eletrocutá-la, sem, no entanto atingir seu objetivo. Sendo que esse 
ex-marido ficou impune pormais de uma década, resultando repúdio de 
organizações nacionais e internacionais. 
 
No artigo 1º da Lei Maria da Penha fica clara a intenção do legislador de proteger a 
mulher na esfera familiar, seja qual for o nível social, econômico, racial, religioso, ou 
mesmo “profissional”. A Lei está respaldada no artigo 226, parágrafo oitavo, da 
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/88, na Convenção 
sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Mulheres e na 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher. 
 
9 
Desta forma, a presente monografia irá abordar a possibilidade de aplicação dos 
institutos protetivos, previstos na Lei 11.340/06 à mulher militar, tendo em vista a 
necessidade de adequar a desídia do legislador em face dos militares, uma vez que 
o casamento entre militares é comum, exceção é a agressão e a violência, motivo 
pelo qual não se poderia excluir a mulher militar da proteção legal aplicada à civil, 
sob pena de desrespeito ao principio da isonomia – direito à igualdade. 
 
O Código Penal Militar considera crime militar o praticado por militar em situação de 
atividade contra militar na mesma situação (art. 9º, inciso II, alínea “a” CPM). 
 
Como o Código Penal Militar dita que certos atos de violência contra a mulher militar 
sejam considerados como crime militar, e a Lei Maria da Penha preceituam sua 
aplicação quando de violência doméstica, surge então a dúvida de qual legislação a 
ser aplicada no caso concreto de uma mulher militar ser vítima de violência 
doméstica perpetrada por seu companheiro também militar, dessa forma mostra-se a 
possibilidade de ser afastada a competência de a Justiça Militar nos casos em que 
militares cônjuges se vêem cercados pela violência domestica no âmbito particular, 
privado e familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO MILITAR 
 
O Direito Militar é o ramo do Direito relacionado à legislação das Forças Armadas, o 
qual é aplicado às forças auxiliares, neste caso, as Policias Militares, que são forças 
auxiliares e reserva do Exército Brasileiro e integram o Sistema de Segurança 
Pública e Defesa Social brasileiro. Seus integrantes são chamados de militares dos 
Estados, artigo 42 da CRFB/88 (BRASIL, 1988), assim como os membros dos 
Corpos de Bombeiros Militares. 
 
Tem sua origem no Direito Romano, onde era utilizado para manter a disciplina das 
tropas da Legião Romana. Por vezes conhecido como Direito Castrense - palavra de 
origem latina, que designa o direito aplicado nos acampamentos do Exército 
Romano. 
 
De acordo com Silva (2009, p. 13), “a história registra que o Império Romano só se 
formou graças à disciplina de seus exércitos, através de um rígido Direito Militar. 
Quando Roma perdeu o Controle da disciplina dos militares, sobreveio o caos e 
Roma ruiu”. 
 
Loureiro Neto (1995) ensina que teve o exército romano seu direito criminal. Assim, 
o estigma da infâmia estava ligado a certos crimes e aos atos de covardia. Quando a 
falta disciplinar grave era de uma centúria, por exemplo, o tribuno formava o corpo e 
fazendo tirar a sorte certo número dentre os soldados culpados, os fazia bastonar 
até matá-los. 
 
Porém, a organização se modificou com o respectivo direito quando o império 
romano estendeu mais longe as suas conquistas. 
 
Loureiro Neto (1995) ensina que: 
 
No período gallo-franco, no final do século III, alguns imperadores criaram 
um "império gálico" semi-independente, que serviu como engodo contra as 
invasões germânicas. O império ocidental, o império gálico, foi devastado 
pelos germanos (godos, hunos e vândalos) no século III. Esse território se 
fracionou quando os francos, os burgúndios, os visigodos etc, invadiram a 
Gallia (província constituída pelo império romano na França) levaram não 
sua organização militar, porque não se pode chamar assim a formação de 
11 
bandos desordenados de bárbaros, mas o modo de combater os romanos. 
É inquestionável que as origens históricas do direito criminal militar, como 
de qualquer ramo de direito são principalmente as que oferecem os 
romanos. (LOUREIRO NETO, 1995, p. 19). 
 
Isso mostra que a política romana sempre foi de dominação antes de tudo, ou seja, 
o intuito era dominar os povos pela força das armas e depois consolidar a conquista 
pela justiça das leis e sabedoria das instituições. 
 
Por isso, em duas direções os romanos serviram de guia para os povos modernos: 
na legislação e na arte militar. 
 
Já na Grécia, considerando que os gregos não possuíam noção exata dos crimes 
militares, conforme dispõe Loureiro Neto (1995): 
 
[...], pois todo cidadão era considerado soldado da pátria, a justiça militar não 
era nitidamente separada da justiça comum. A justiça militar era exercida no 
início pelo Archonte, juiz sacerdote, que conhecia os delitos militares. 
Gradativamente, esses crimes passaram a ser do conhecimento dos 
Strateges e finalmente do Taxiarcos. (LOUREIRO NETO, 1995, p. 20). 
 
Mas, foram com a Revolução Francesa, 1789, na Idade Moderna, ao regulamentar 
as relações do poder militar com o poder civil, que os princípios da jurisdição militar 
moderna foram estabelecidos, despojando-se de seu caráter feudal de foro 
privilegiado, estabelecendo-se a restrição ao foro em razão das pessoas e da 
matéria, limitações que já havia acolhido o direito romano. 
 
2.1 A justiça militar no Direito Brasileiro 
 
Com relação à justiça militar no Brasil, pode-se dizer segundo Lobão (2006, p. 49): 
 
[...] durante o período da regência entendia-se por crimes puramente 
militares aqueles que eram cometidos por militares e ofensivos das leis 
militares. Não era militar todo o crime cometido por militares, mas somente 
os que importavam violação dos deveres que incumbem aos indivíduos 
alistados no exército ou na armada. (HIGINO apud LOBÃO, 2006, p. 49). 
 
A primeira lei brasileira a ampliar o conceito do crime militar foi a Lei de 18 de 
setembro de 1851, porém, na provisão de 20 de outubro de 1834 já existia a questão 
do crime militar e é considerado um dos documentos mais antigos sobre a matéria. 
12 
Paula Pessoa (Código de Processo Criminal de Primeira Instância do Império do 
Brasil, 1882), citada por Lobão enumera os delitos que a citada provisão de 1834 
fixou como militares: 
 
[...] os que violam a santidade e religiosa observância do juramento 
prestado pelos que assentam praça; os que ofendem a subordinação e boa 
disciplina do exército e da armada; os que alteram a ordem pública e 
economia militar, em tempo de guerra ou de paz; o excesso ou abuso da 
autoridade em ocasião de serviço, ou influência de emprego militar, não 
excetuados por lei, que positivamente prive o delinquente do foro militar. 
(PESSOA apud LOBÃO, 2006, p. 50). 
 
Ocorrem que, antes deste documento vigorava em Portugal o Regulamento de 1763, 
conhecido como Artigos de Guerra do Conde de Lieppe, que vigorou no Brasil, 
juntamente com legislação esparsa em grande número de alvarás, provisões, 
decretos, leis, regulamentos, avisos, etc. 
 
Com a República, conforme dispõe Lobão (2006), foi editado o Código Penal para a 
Armada, pelo Decreto n. 18 de 7 de março de 1891, mandando aplicar ao Exército 
pela Lei 612 de 29 de setembro de 1899, que deu legitimidade ao diploma 
repressivo castrense, cuja constitucionalidade era contestada por haver sido 
instituído por decreto e não por lei. Ainda segundo o autor: 
 
Os artigos de guerra, no entanto, não conceituavam o delito militar, que já 
era objeto de outras normas legais, como o Regimento dos Governadoresdas Armas, de 1º de junho de 1678; o Alvará de 21 de outubro de 1763; os 
artigos de guerra aprovados pela Resolução do Conselho do Almirantado de 
12 de julho de 1763 e aprovado pelo Alvará de 25 de abril de 1800; dentre 
outros. (LOBÃO, 2006, p. 51). 
 
Assim, no ano de 1808, com a vinda da família real para o Brasil, o qual deixou a 
condição de colônia para ser elevada a categoria de Reino Unido a Portugal e 
Algarves, foi preciso criar várias instituições. 
 
Por ordem do rei Dom João VI, foi criado a Guarda Real e com esta nasce a Justiça 
Militar, sendo o primeiro órgão formalmente do Poder Judiciário criado. 
 
Além disso, segundo Lobão (2006) as Polícias Militares existentes nos Estados 
membros da Federação, são descendentes da Guarda Real de Policia, criada por 
Dom João VI, de onde vieram as sua tradições, a farda e até mesmo a estrutura 
13 
militar, que permanece ate hoje e continua sendo essencial para o cumprimento da 
missão institucional reservada aos policiais militares. 
 
Desta feita, ao lado da legislação penal militar extravagante, o Código Penal da 
Armada de 1897 vigorou até 1944, quando foi editado novo diploma penal castrense, 
o Código Penal Militar de 1944, através do Decreto lei 6227 de 24 de janeiro de 
1944, seguindo-se do atual Código Penal Militar (Decreto lei 1001 de 21 de outubro 
de 1969). 
 
Lobão (2006, p. 51) destaca ainda que “o crime militar alcançou nível constitucional 
com a lei fundamental republicana de 1891 (artigo 77). Seguiram-se a de 1934, a de 
1937, a de 1946, a de 1967, emendada em 1969, e, finalmente, a atual, de 5 de 
outubro de 1988 (artigo 124)”. 
 
Assim, pode-se dizer que o Direito Militar é um ramo do direito que desperta o 
interesse das pessoas em razão de cuidar de uma categoria, de militares os quais 
são agentes administrativos estatutários, desde a Emenda Constitucional 18/98, 
considerados como uma espécie distinta dos servidores públicos, com direitos e 
prerrogativas que na sua maioria não são assegurados aos funcionários civis. 
 
Mas, ao mesmo tempo em que os militares estaduais ou federais possuem direitos 
especiais também possuem obrigações diferenciadas, como por exemplo, o 
sacrifício da própria vida no cumprimento de missão constitucional, o que se 
denomina de tributo de sangue, ou “TRIBUTUS SANGUINIS”. Em razão destas 
particularidades, o legislador constituinte originário assegurou aos militares o direito 
de serem processados e julgados perante uma justiça especializada, que é a Justiça 
Militar da União ou Justiça Militar dos Estados e do Distrito Federal. 
 
Importante ressaltar que esse ramo do Direito visa proteger não os militares em si, 
mas sim as Instituições Militares, Estaduais, do Distrito Federal ou da União, sendo 
que inclusive, na área penal as penas são em grande parte mais rígidas do que 
aquelas estabelecidas no vigente Código Penal Brasileiro. 
 
14 
Segundo Toledo (1994, p. 17), o Código Penal Militar “não define o que seja crime 
militar, nem é pacífica, entre os doutrinadores, essa conceituação, fazendo com que 
os estudiosos da ciência criminal adotem vários critérios para a fim de suplantar 
essa dificuldade”. 
 
Mirabete, citado por Lobão (2006, p. 51) já afirmava que “árdua por vezes é a tarefa 
de distinguir se o crime se o fato é crime comum ou militar, principalmente nos casos 
de ilícitos praticados por policiais militares.” 
 
Para Jorge Alberto Romeiro (1994) crime militar é o que a lei define como tal. Esta 
conceituação se baseia no critério ratione legis adotado pela CRFB/88 quando 
prescreve que à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares 
definidos em Lei. Não obstante a discordância acerca do critério mais adequado 
para definir crime militar, os autores são quase unânimes em dividi-los em duas 
categorias: Os crimes militares próprios e os crimes militares impróprios, que vem 
desde a antiga Roma, sofrendo pequenas variações que, no entanto, não afetaram 
sua essência, vindo a ser consagrada tal divisão na atual CRFB/88, em seu art. 5º, 
LXI. 
 
O grupo específico dos crimes propriamente militares é constituído por infrações que 
prejudicam os alicerces básicos e específicos da ordem e disciplina militar, que 
esquecem e apagam, com o seu implemento um conjunto de obrigações e deveres 
específicos do militar, que só como tal pode infringir. 
 
Bem como afirma Jorge César de Assis: "Crime militar é toda violação acentuada ao 
dever militar e aos valores das instituições militares". (ASSIS, 2001, p.38) 
 
Tem-se assim que, os crimes propriamente militares são aqueles cuja prática não 
seria possível senão por militar, sendo esta qualidade do agente essencial para que 
o fato delituoso se verifique. A caracterização de crime militar obedece ao critério ex 
vis legis, portanto, verifica-se que crime militar próprio é aquele que só está previsto 
no Código Penal Militar e que só poderá ser praticado por militar. A exceção está no 
crime de insubmissão, que apesar de só estar previsto no Código Penal Militar, art. 
183, só pode ser cometido por civil. 
15 
Os crimes impróprios para serem considerados como militar necessitam de que lhe 
seja agregada uma nova circunstância, que passará a constituir a verdadeira 
elementar do tipo. Estão definidos tanto no Código Penal castrense como no Código 
Penal comum e Leis esparsas. São crimes impropriamente militares, o homicídio, a 
lesão corporal, o furto, a violação de domicílio, entre outros. 
 
2.2 A violência contra a mulher no Brasil: Lei nº 11.340 de 2006 – Lei Maria da 
Penha 
 
No Brasil a violência contra a mulher vem sendo desde séculos passados um fato 
normal a mulher sempre teve que ser dependente subordinada as vontades do 
marido (homem) sempre teve que acatar as ordens e aceita calada traições, 
agressões físicas e morais, uma das maiores justificativa para aceitar calada é a 
dependência financeira, as ameaças de morte e manutenção da família, porem em 
2006 os legisladores aprovaram uma lei que traz mais proteção as mulheres lei essa 
aprovada depois de denunciado o caso da senhora Maria da Penha. 
 
A Farmacêutica Maria da Penha, que dá nome à lei contra a violência 
doméstica, foi espancada de forma brutal e violenta diariamente pelo marido 
durante seis anos de casamento, em 1983, por duas vezes, ele tentou 
assassiná-la, tamanho o ciúme doentio que ele sentia, na primeira vez, com 
arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda, por eletrocussão e 
afogamento, após essa tentativa de homicídio ela tomou coragem e o 
denunciou. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de 
julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado, para revolta de 
Maria com o poder público. (RIBEIRO, 2008, p. 51). 
 
Em razão desse fato, o centro pela justiça pelo Direito internacional e o 
Comitê Latino Americano de defesa dos Direitos da Mulher - CLADEM, 
juntamente com a vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que é um órgão internacional 
responsável pelo arquivamento de comunicações decorrentes de violação 
desses acordos internacionais. (RIBEIRO, 2008, p. 51). 
 
 
Desta forma, foi criada esta lei, com os objetivos de impedir que os homens venham 
espancar, baterem ou ofendam a integridade psicológica e moral de suas esposas e 
namoradas, e proteger os Direitos da mulher, sendo que esta lei 11.340/06 foi 
decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente do Brasil 
Luiz Inácio Lula da Silva, em 7 de agosto de 2006. Dentre as várias mudanças 
promovidas pela lei está o aumento no rigor das punições das agressões contra a 
16 
mulher quando ocorridas no âmbito domésticoou familiar. Ela obriga o Estado e a 
sociedade a proteger as mulheres contra esse tipo de violência durante toda a sua 
vida, não importa idade, classe social, cor/raça, lugar onde mora, religião e 
orientação sexual. A lei entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006, e já no dia 
seguinte o primeiro agressor foi preso, no Rio de Janeiro, após tentar estrangular a 
ex-esposa. 
 
Até o advento da Lei Maria da Penha, a violência doméstica não mereceu a devida 
atenção, nem da sociedade, nem do legislador e muito menos do Judiciário, pois 
eram situações que ocorriam sempre dentro da família, então o Estado procurava 
não interferir no modo como as pessoas daquela família se relacionavam. 
 
Cavalcanti (2007) explica que, apesar de estar presente em todas as fases da 
história, apenas recentemente a violência tornou-se um problema central para a 
humanidade, discutido e estudado por várias áreas do conhecimento. No século XIX, 
com a constitucionalização dos direitos humanos, o tema da violência passou a ser 
estudado com maior profundidade e apontado por diversos setores representativos 
da sociedade como um grande desafio a ser enfrentado pela sociedade 
contemporânea. 
 
No início do século XXI, em que se tinha a expectativa de que a sociedade 
estaria tão evoluída a ponto de convier em paz, a mídia continua a 
denunciar o aumento sem precedentes de várias formas de violência, seja 
pela prática de crimes, como assassinatos, seqüestros, roubos, estupros. 
[...] A face menos visível continua escondida e pouco reconhecida. São 
dados sobre o aumento do desemprego, da prostituição infantil, da 
diferença salarial entre homens e mulheres, entre pessoas brancas e 
negras, da prática da violência doméstica, etc. (CAVALCANTI, 2007, p. 30). 
 
Os movimentos feministas do século XX surtiram efeitos, dentre eles a positivação 
dos direitos humanos das mulheres de acordo com a Organização das Nações 
Unidas, através da edição de vários pactos e tratados. 
 
A criação, no Brasil, de juízos especiais para o julgamento de delitos menores foi 
determinada pela CRFB/88 e a Lei dos Juizados Especiais veio para dar efetividade 
ao comando constitucional e significou verdadeira revolução no sistema processual 
penal brasileiro. Conforme explica Cavalcanti: 
 
17 
[...] com a criação das medidas despenalizadoras, o legislador auxiliou na 
agilidade dos processos, mas na opinião da autora, acabou atrapalhando 
outra situação, pois deixou de priorizar a pessoa humana, preservar sua 
vida e sua integridade física. Isso porque, ao condicionar à representação 
as lesões corporais leves e as lesões culposas, omitiu-se o Estado de sua 
obrigação de punir, transmitindo à vítima a iniciativa de buscar a apenação 
de seu agressor. (CAVALCANTI, 2007, p. 169). 
 
Assim, os Juizados Especiais foram uma medida interessante para agilizar os crimes 
de menor potencial ofensivo, mas de acordo com Cavalcanti (2007, p. 169), eles 
acabaram por esvaziar a Delegacia de Mulheres: 
 
que se viram obrigadas a lavrar um termo circunstanciado e encaminhar os 
agressores ao Juizado Especial, porque a lesão corporal de natureza leve, 
que muitas vezes é o que ocorre no caso da violência doméstica, acabou 
sendo um crime para julgamento neste juízo. 
 
Dias (2007, p. 23) explica que: 
 
[...] em 2002 foi instituída a lei 10455 que criou uma medida cautelar de 
natureza penal, ao admitir a possibilidade de o juiz decretar o afastamento 
do agressor do lar conjugal na hipótese de violência doméstica. Em 2004 foi 
criada a lei 10886 que acrescentou um subtipo à lesão corporal leve, 
decorrente de violência doméstica, aumentando a pena do agressor de 3 
para 6 meses de detenção. Desta forma, a violência doméstica continuou 
aumentando, porque no final das contas o agressor seria julgado mesmo 
pelo Juizado Especial, podendo transacionar e ter apenas uma pena de 
multa ou alguma restritiva de direitos. Neste caso, a mulher, que ficava em 
casa, na volta do marido ou companheiro, voltava a sofrer violência 
doméstica e, às vezes, de forma muito mais grave, como uma forma de 
castigo imposto pelo agressor por ter denunciado. (DIAS, 2007, p. 23-24). 
 
Com isso, ao ver tanto desrespeito e impunidade, a mulher acabava por se calar e 
não denunciar o agressor, porque, caso o fizesse, poderia ser espancada 
novamente e, não possa sair de casa, pois poderia ser uma opção inviável, às vezes 
devido aos filhos, ou por não ter como se sustentar, etc. E, para enfatizar esta 
questão, como bem explicado por Cavalcanti: 
 
[...] a violência doméstica no Brasil não está ligada apenas à lógica da 
pobreza, desigualdade social e cultural. Estes são fenômenos marcados 
profundamente pelo preconceito, discriminação e abuso de poder do 
agressor para com a vítima, geralmente mulher, criança, adolescente ou 
idoso, pessoas que, em razão das suas peculiaridades estão em situação 
de vulnerabilidade na relação social. Independentemente do país que esteja 
sendo analisado, estes são os elementos nucleares desta forma de 
violência. (CAVALCANTI, 2007, p. 34). 
 
18 
Assim, segundo Cavalcanti (2007), a violência contra a mulher é qualquer conduta, 
ação ou omissão, de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada pelo simples 
fato de a vítima ser mulher e que cause dano, morte, constrangimento, limitação, 
sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda 
patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos como 
privados. 
 
É importante entender que a violência doméstica é uma forma de violência contra a 
mulher e, de acordo com a Convenção Interamericana para prevenir, punir e 
erradicar a Violência contra a mulher, este tipo de violência pode ser definida como: 
 
[...] qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou 
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública 
como na esfera privada. Esta convenção expõe ainda que a violência contra 
a mulher constitui ofensa contra a dignidade humana e é manifestação das 
relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens que 
permeia e sempre permeou toda a sociedade, independentemente de 
classe, raça ou grupo étnico, renda, cultura, nível educacional, idade ou 
religião e afeta negativamente suas próprias bases. (CONVENÇÃO 
INTERAMERICANA apud CAVALCANTI, 2007, p. 37). 
 
A ONU considerou a Lei Maria da Penha como uma das três melhores legislações 
do mundo no enfretamento à violência contra as mulheres. 
 
A introdução da lei diz que ela cria mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art.226 da Constituição 
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de 
Discriminação contra as mulheres e da Convenção Internacional para 
prevenir, punir e erradicar a violência doméstica e familiar contra mulher; 
altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução 
Penal; e dá outras providencias. (BRASIL, 2006). 
 
Isso comprova que a lei Maria da Penha alterou o Código Penal Brasileiro 
possibilitando assim que o agressores de mulheres no âmbito doméstico ou familiar 
sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada, bem como 
não existe mais a possibilidade dos agressores serem punidos com penas 
alternativas, a legislação também aumenta o tempo máximo de detenção previsto de 
um para três anos, a lei ainda prevê medidas que vão desde a saída do agressor do 
domicílio e a proibição de sua aproximação da mulher agredida e ate dos filhos. 
 
19 
O Objetivo maior da Lei é qualificar a violência contra a mulher em seu ambiente 
doméstico, familiar ou de intimidade. A lei possui caráter repressivo, preventivo, 
assistenciale educativo. E trata também da violência praticada dentro do espaço do 
lar, entre pessoas com vínculo familiar, inclusive quanto aos que são agregados 
durante o tempo a família. O vínculo familiar vislumbrado no contexto da lei abrange 
natureza: conjugal, parentesco em linha reta ou colateral, vontade expressa 
(adoção), agregados. 
 
2.2.1 Formas e manifestação da violência doméstica 
 
A lei Maria da Penha traz em seu contexto as formas de violência contra a mulher. 
Estas formas estão no artigo 7º da lei: 
 
Art. 7
o
 São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal; 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e 
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância 
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de 
seus direitos sexuais e reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, 
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou 
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas 
necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2006). 
 
Para Cavalcanti (2007, p. 40) “violência física consiste em atos de acometimento 
físico sobre o corpo da mulher através de tapas, chutes, golpes, queimaduras, 
mordeduras, estrangulamentos, punhaladas, mutilação genital, tortura, assassinato, 
dentre outros”. 
 
20 
É o uso da força, é ofender a integridade física ou a saúde corporal da vítima, 
deixando ou não marcas aparentes. 
 
A violência psicológica é a conduta omissiva ou comissiva que cause dano ao 
equilíbrio emocional da mulher vítima desta agressão, privando-a de autoestima e 
autodeterminação. É nitidamente ofensiva ao direito fundamental à liberdade feita 
através de ameaças, insultos, ironias, chantagens, vigilância contínua, perseguição, 
depreciação, etc. 
 
É a agressão emocional que muitas vezes é pior do que a violência física. Cunha e 
Pinto (2007, p. 37) explicam que “o comportamento típico se dá quando o agente 
ameaça, rejeita, humilha ou discrimina a vítima, demonstrando prazer quando vê o 
outro se sentir amedrontado, inferiorizado e diminuído”. 
 
A violência sexual, para Cavalcanti (2007) se identifica com qualquer atividade 
sexual não consentida incluindo também o assédio sexual. Sua ocorrência é 
bastante comum durante os conflitos armados, bem como em razão do tráfico 
internacional de mulheres e crianças para fins sexuais ou pornográficos. 
 
De acordo com Cunha e Pinto (2007) é qualquer conduta que constranja a mulher a 
presenciar, manter ou a participar de alguma relação sexual que ela não queira, 
mediante intimidação, ameaça coação ou até mesmo uso da força, induzindo a 
comercializar ou a utilizar de qualquer modo, a sua sexualidade para conseguir 
alguma coisa, ou então impedindo a mulher de utilizar algum método contraceptivo 
para engravidar, ou induzindo-a a praticar aborto, prostituição, etc. 
 
Violência moral consiste na desmoralização da mulher, parecida com a violência 
psicológica, e ocorre sempre que é imputada à mulher conduta que possa configurar 
calúnia, difamação ou injúria. 
 
Estes tipos penais estão elencados no Código Penal e podem ser definidos, de 
acordo com Hermann (2008, p. 115) “como imputação falsa de crime, no caso da 
calúnia; falsa atribuição diante de terceiros de atos e condutas desonrosas e 
21 
vergonhosas que é a difamação; e a ofensa ou insulto proferido contra a vítima 
pessoalmente, que é a injúria”. 
 
A violência patrimonial é aquela praticada contra o patrimônio da mulher e é muito 
comum nos casos de violência doméstica e familiar. É a forma de manipulação para 
subtração da liberdade da mulher, consistindo na negação do agressor em entregar 
os bens que são devidos à mulher, como documentos, dinheiro, etc., ocorrendo, 
principalmente, quando a mulher tenta acabar com a relação e, como forma de 
vingança, o agressor retém seus bens para tentar reatar a relação. 
 
Portanto, cabe salientar que o artigo da lei Maria da Penha traz um rol 
exemplificativo, pois pode haver outras formas de violência que não estão 
expressamente neste artigo, mas que são formas ou manifestações da violência 
doméstica e familiar contra a mulher, sendo função deste artigo delinear situações 
que implicam em violência doméstica e familiar contra a mulher, para todos os fins 
da Lei Maria da Penha, inclusive para agilização das ações protetivas e preventivas. 
 
Desta forma, é importante demonstrar estes esboços históricos e alguns conceitos, 
pois a monografia em questão tratará da violência doméstica no âmbito da justiça 
militar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
3 O DIREITO PENAL MILITAR 
 
As instituições armadas, especialmente as Polícias Militares, dispõem da força e do 
poder de coerção em nome do Estado. Sem disciplina, podem converter-se em 
bandos armados com riscos para o cidadão, para as instituições civis e o próprio 
regime. 
 
Assim, é preciso está habituado com a justiça castrense, conhecer seu regulamento 
a vida militar para está capacitado a preservar os seus valores básicos, entre os 
quais, a ética profissional, a disciplina e a hierarquia, essenciais para melhor 
prestação de serviço ao povo e à Nação. 
 
Segundo a Revista do Tribunal Militar de Minas Gerais (2008) o policial militar e o 
bombeiro militar são os agentes do Estado a serviço do povo para manter a ordem, 
garantir a segurança da sociedade e proteger os cidadãos e seus bens. É 
fundamental que seus atos sejam julgados com isenção por quem conheça a fundo 
os diversos fatores interferentes em suas ações (riscos, elementos psicológicos e 
culturais, aspectos técnicos e operacionais e os fatores criminológicos), de forma a 
assegurar-lhes tranquilidade e serenidade para o desempenho de suas funções e 
infundir-lhes a certeza da reprimenda penal quando ultrapassar os limites da lei. 
 
As instituições militares, portanto, estão sujeitas a um ordenamento jurídico 
particular, códigos, leis, estatutos, regulamentos etc. 
 
Desta forma, como encontrado na Revista do Tribunal Militar de Minas Gerais (2008, 
p. 6), “existe a necessidade de uma justiça especial: a justiça militar, que aplica essa 
legislação particular. Assim, a Justiça Militar existe não em função da classe militar, 
mas sim devido à condição militar dos integrantes das instituições militares”. Silva 
(2009) explica que: 
 
[...] a finalidade das Justiças Militares é garantir, no âmbito de sua 
competência especializada, a efetiva prestação jurisdicional, com celeridade 
e independência,protegendo os bens jurídicos tutelados pela lei penal 
militar, controlando as ações e atos disciplinares, visando a manutenção da 
ordem, da disciplina e da hierarquia das instituições militares. (SILVA, 2009, 
p. 13). 
 
23 
Santos (2009, p. 19) entende que: 
 
[...] trata-se de uma ordem normativa especial, com princípios e diretrizes 
próprias, na qual a maioria das disposições é aplicável somente aos 
militares e, excepcionalmente, a civis que cometem crimes contra as 
instituições militares, diferentemente do que ocorre no Direito Penal comum, 
em que as normas aplicam-se a todos os cidadãos, indistintamente. O 
Direito Penal Militar é especial não só porque se aplica, em princípio, a uma 
classe ou categoria de indivíduos, mas também pela natureza do bem 
jurídico tutelado, as instituições militares, com princípios rígidos de 
hierarquia e disciplina, armadas e encarregadas de cuidar da defesa 
territorial, da ordem interna e da segurança das pessoas, em situações 
adversas ou que gerem conflitos. (SANTOS, 2009, p. 19). 
 
Importa dizer que o Direito Penal Militar é um ramo autônomo e possui seus próprios 
fundamentos e princípios, mas estes guardam estreitas relações com o Direito 
Penal, sendo que muitos crimes e faltas administrativas podem levar a um processo 
crime perante as auditorias militares. 
 
Um dos mais importantes princípios refere-se ao Principio da Inocência como 
Garantia Constitucional. Segundo este princípio o Militar possui os mesmos direitos 
que são assegurados ao civil quando é levado a julgamento perante seus pares, em 
decorrência de prática de ato ilícito penal, administrativo ou civil. 
 
A CRFB/88, no art. 5° inciso LVII dispõe que “Ninguém será considerado culpado até 
o transito em julgado de sentença penal condenatória”. (BRASIL, 1988). Diante 
disso, observa-se que o artigo em tela preceitua que, aos litigantes em processo 
judicial ou administrativo e os acusados em geral são assegurados o contraditório e 
a ampla defesa. 
 
Assim fica evidenciado que o principio da inocência é aplicável na Justiça Militar, em 
que a ampla defesa e o contraditório pressupõem o respeito ao principio do devido 
processo legal, no qual se encontra inserido o principio da inocência. Rosa (2007) 
afirma que: 
 
[...] no Direito Penal Militar, assim como no Direito Penal, ninguém pode ser 
condenado sem a existência de provas concretas que demonstrem a autoria 
e a culpabilidade. O jus libertatis é um direito fundamental do cidadão, não 
admitindo meras ficções para ser cerceado. A prova é feita de forma 
dialética, devendo existir igualdade entre defesa e acusação na busca da 
verdade dos fatos. No campo disciplinar, assim como ocorre no Direito 
Penal, vige o princípio da verdade real, e não formal, como ocorre no 
processo civil. (ROSA, 2007, p. 4). 
24 
 
Outro princípio de fundamental importância é o da legalidade. O art.5° II, da 
CRFB/88 reza que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei”. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado, só 
por meio de normas devidamente elaboradas pelo processo legislativo constitucional 
pode obrigar o cidadão a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. 
 
A efetiva aplicação desta garantia constitucional pressupõe o respeito à ampla 
defesa e ao contraditório para que uma pessoa, brasileira ou estrangeira residente 
no país, possa ter o seu jus libertatis cerceado, seja na esfera criminal ou 
administrativa. Rosa (2007) ensina que: 
 
O militar (federal ou estadual) no exercício de suas atividades 
constitucionais fica sujeito às leis especiais, entre elas o Código Penal 
Militar, o Código de Processo Penal Militar, o Estatuto dos Militares, e os 
regulamentos disciplinares, estaduais ou federais. O Código Penal Militar 
traz os crimes militares em tempo paz, e em tempo de guerra. O 
regulamento disciplinar é o diploma castrense que trata das transgressões 
disciplinares, à quais estão sujeitos os militares pela inobservância dos 
princípios de hierarquia, disciplina e ética. Em tema de liberdade, que é um 
bem sagrado e tutelado pela Constituição Federal, não se pode permitir ou 
aceitar que normas de caráter geral, que não estavam previamente 
previstas, possam cercear o jus libertatis de uma pessoa, no caso o militar. 
As normas desta espécie, previstas nos regulamentos disciplinares 
militares, são inconstitucionais, pois permitem a existência do livre arbítrio, 
que pode levar ao abuso e ao excesso de poder. (ROSA, 2007, p. 10). 
 
Assim sendo, o não cumprimento do principio da legalidade significa o desrespeito a 
nossa lei maior a qual trouxe modificações que ainda estão sendo incorporadas 
gradativamente ao sistema. 
 
3.1 A aplicação da norma penal militar 
 
O atual Código Penal Militar apresenta algumas modificações, conforme esclarece 
sua própria exposição de motivos. 
 
Na distribuição da matéria dividiu-se o Projeto em Parte Geral e Parte Especial, de 
acordo com os Códigos Penais Militares mais modernos. A parte especial faz 
menção aos crimes militares em tempo de paz e em tempo de guerra. 
 
25 
Na definição de tempo de guerra, para os efeitos penais militares, desprezou-se a 
extensão do conceito de “estado de guerra”. Loureiro Neto (1995) ensina que: 
 
É importante mencionar o que traz o Código acerca da modalidade especial 
de estado de necessidade, disposição esta relativa à inexigibilidade de outra 
conduta como excludente da culpabilidade, justificando-se que a “vida 
militar”, sempre obediente aos princípios de hierarquia e disciplina, muitas 
vezes se defronta com situações em que não se pode exigir do agente 
conduta diversa da que ele exerceu. Entre as causas de exclusão de 
antijuridicidade, previu a “ação do comandante que compelem subalternos a 
executar serviços ou manobras urgentes para evitar perda de vidas ou de 
bens materiais, nos casos que especifica, ou ainda o esfacelamento da 
autoridade ou de ordem militar”. (LOUREIRO NETO, 1995, p. 21). 
 
No caso de concurso de agentes, aquele que dirige a ação fica com a autoria 
necessária, seja provocando, instigando ou excitando a ação dos demais. O mesmo 
ocorre na hipótese do crime ser cometido por inferiores e um ou mais oficiais, 
ocasião em que estes são considerados autores, assim como os inferiores que 
exerçam função de oficial. 
 
Loureiro Neto (1995) explica que: 
 
No capítulo das penas principais, o impedimento constitui modalidade de 
pena privativa de liberdade. Aplicada ao delito de insubmissão, sujeita o 
condenado a permanecer no quartel, sem prejuízo da instrução militar. 
Inclui-se a conversão da pena da suspensão do exercício do posto, 
graduação, cargo ou função em detenção, quando o condenado já estiver 
na reserva, ou reformado ou aposentado. (LOUREIRO NETO, 1995, p. 22). 
 
Existe também o caso da suspensão condicional da pena, o sursis, exceto para 
determinados delitos que atingem gravemente a ordem e a disciplina militar. 
 
Entre as penas acessórias, existem as de indignidade para o oficialato e a 
incompatibilidade com o oficialato. 
 
A ação penal é pública incondicionada, exceção feita para os crimes militares contra 
a segurança do país, que depende de requisição do Ministro da Justiça. 
 
A reabilitação foi incluída entre as causas extintivas da punibilidade, incentivando 
dessa maneira a regeneração do delinquente. 
 
26 
Quanto à parte especial, ela é integrada por dois livros: crimes em tempo de paz e 
crimes em tempo de guerra. 
 
Existe, dessa forma, o crime de genocídio, os crimes de lesão corporal, crimes 
sexuais, crimes contra o patrimônio, crimes de dano, crimes contra a incolumidade 
pública etc. 
 
Conforme dito no capítuloanterior, crime militar é aquele definido no CPM e que 
atinge valores inerentes as instituições militares, tais como a hierarquia e a disciplina 
militares, daí sua existência do critério “ratione legis”. Assim, os crimes militares 
próprios são aqueles que só os militares cometem e estão previstos no CPM. E os 
crimes militares impróprios são previstos tanto no CPM quanto no Código Penal, 
como por exemplo, homicídio e furto. 
 
Todavia, segundo Roth (2009, p. 47), “para a configuração do crime impropriamente 
militar, além da existência do tipo penal no CPM, tem que haver a tipificação das 
circunstancias do artigo 9º, inciso II do CPM”, o qual reza que: 
 
Art. 9º - Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso 
na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, 
salvo disposição especial; 
II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual 
definição na lei penal comum, quando praticados: 
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na 
mesma situação ou assemelhado; 
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à 
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou 
assemelhado, ou civil; 
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de 
natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à 
administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; 
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da 
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio 
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; 
III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, 
contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os 
compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: 
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem 
administrativa militar; 
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de 
atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério Militar ou da 
Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; 
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, 
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou 
manobras; 
27 
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em 
função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, 
garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, 
quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a 
determinação legal. (BRASIL, 1940). 
 
Roth (2009, p. 49) ainda ensina que, “correta aplicação da norma penal militar para 
caracterização do crime impropriamente militar, depende da previsão do crime no 
CPM e da existência de uma da circunstancias do art. 9º inciso II do CPM”. Para o 
autor o crime impropriamente militar não se configura porque somente o militar 
pratica, mas este só incorre nessa categoria de crime militar quando em situação 
bem especificadas do CPM, além da própria previsão do tipo penal não cabendo 
outras exigências para seu reconhecimento, caso contrário, será um crime comum. 
É esse o critério ratione legis, que não deixa dúvida sobre a caracterização do crime 
militar e deve ser o norte para o interprete nesta matéria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
4 A APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.340 DE 2006 E A JUSTIÇA MILITAR 
 
Conforme já exposto anteriormente, à polícia judiciária militar cabe a apuração dos 
crimes militares e sua autoria. 
 
Já a lei 11340/06 estabelece em seu artigo 5º que configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe 
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial”. (BRASIL, 2006). 
 
O artigo 7º desta mesma lei descreve as formas de violência: violência física, 
psicológica, a patrimonial e a moral, sendo esta última entendida como qualquer 
conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 
 
Segundo Rocha (2009) qualquer das condutas elencadas no artigo 7º da lei só será 
crime militar se presentes duas circunstâncias, a saber: primeiro, se estiver tipificada 
no Código Penal Militar e; segundo, tratando-se o agressor e a ofendida de militares 
em situação de atividade, que é a hipótese do artigo 9º, II, “a” do Código Penal 
Militar. 
 
O artigo 1º da Lei Maria da Penha deixa bem nítida a intenção do legislador de 
proteger a mulher na esfera familiar, seja qual for o nível social, econômico, racial, 
religioso, ou mesmo profissional. 
 
Já o Código Penal Militar, conforme Freua (2009) considera 
 
crime militar o praticado por militar em situação de atividade contra militar na 
mesma situação (art. 9º, inc. II, alínea “a” CPM). Como o CPM dita que certos 
atos de violência contra a mulher militar sejam considerados como crime 
militar, e a Lei Maria da Penha preceituam sua aplicação quando da violência 
doméstica, surge então à dúvida de qual legislação a ser aplicada no caso 
concreto de uma mulher militar ser vítima de violência doméstica perpetrada 
por seu companheiro também militar. 
 
 
Isso mostra que não há uma consonância entre o que dispõe o Código Penal Militar 
e a Lei Maria da Penha, deixando, assim, uma inexistência de uma norma jurídica 
29 
aplicada in concreto o qual deve ser preenchida pelo poder judiciário, pela doutrina 
e jurisprudência. 
 
Segundo Kobal (2008), a Lei 11.340/06 não contemplou a situação da mulher militar, 
a qual também poderá ser vítima de violência por parte do seu companheiro, 
também militar. A ocorrência de crime praticado no âmbito das relações domésticas, 
envolvendo militares da ativa, ofende bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal-
Militar, em especial a regularidade das instituições militares. 
 
Neste sentido, Coimbra e Streifinger, citados por Kobal (2008) explicam que: 
 
[...] mesmo que em um homicídio praticado por militar contra militar haja a 
violação primeira da vida, há igualmente uma tutela específica, da 
instituição militar, caracterizada pela regularidade do desempenho de suas 
missões. Como se vê, em respeito ao caráter especial do Direito Penal-
Militar, a Justiça Militar é competente para conhecer e julgar os delitos 
envolvendo militares em situação de atividade, motivo pelo qual deixar de 
observar os institutos protetivos da “Lei Maria da Penha”, nas hipóteses de 
violência doméstica praticada entre militares é desrespeitar o princípio da 
isonomia (material), motivo pelo qual a autoridade de polícia judiciária bem 
como o juízo militar tem o dever-poder de aplicá-la no caso concreto. 
(COIMBRA; STREIFINGER apud KOBAL, 2008, p. 12). 
 
No caso da Lei Maria da Penha, esta não mencionou nenhuma alteração no Código 
Penal Militar, motivo este que gera bastante dúvida no caso da aplicação destas leis 
diante de um caso concreto. 
 
No seu artigo 33 a lei determina que as varas criminais acumulem as competências 
cíveis e criminais para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de 
violência doméstica e familiar contra a mulher, enquanto não for estruturados os 
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 
 
Para Kobal (2008), o acúmulo de competência cível e criminal na mesma vara não é 
novidade em nosso ordenamento jurídico, a exemplo do que ocorre na Justiça 
Eleitoral, e na Justiça Militar, estando esta apta para atuar na área civil, nas “ações 
judiciais contraatos disciplinares militares”, nos termos da Emenda Constitucional nº 
45. 
30 
Diante do exposto, o juízo militar não poderá se furtar em aplicar de imediato as 
medidas protetivas de urgência, descritas na Lei Maria da Penha, se requeridas, 
ainda que tenham natureza cível, sob pena de preterir direitos da mulher militar. 
 
Rocha (2008), todavia, em seu artigo, entende em outro sentido, exemplificando o 
assunto da seguinte maneira: 
 
[...] a violência psicológica, que, segundo disposição expressa da lei, deve 
ser entendida como qualquer conduta que cause à mulher dano emocional 
e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, 
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação do 
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde 
psicológica e à autodeterminação. A ameaça (art. 223) e o constrangimento 
ilegal (art. 222) são condutas tipificadas no CPM. Então, sendo a mulher e o 
seu agressor militares do serviço ativo, esta espécie de violência doméstica 
e familiar constituirá também crime militar. Ocorre, todavia, que a Lei Maria 
da Penha não promoveu no Código Penal Militar as modificações que 
operou no Código Penal Comum, criando, por exemplo, nova circunstância 
agravante genérica consistente em ser o crime praticado com abuso de 
autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou 
de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei 
específica (alínea “f” do inciso II do art. 61 do Código Penal). (ROCHA, 
2008, p. 3). 
 
Assim, pelas palavras do autor, entende-se que, neste caso, fica o julgador impedido 
de aplicar nos crimes militares as circunstâncias de aumento da pena que a Lei nº 
11.340/06 criou em face da falta de previsão legal. 
 
4.1 O casal de militares e a violência doméstica 
 
Importante destacar que a mulher foi incluída nas instituições militares e, 
consequentemente, daí surgiram relações estáveis como o casamento. Assim, com 
a existência do casal de militares surge também a polêmica quanto à aplicação da 
lei Maria da Penha quando a mulher militar se vê como vítima de violência 
doméstica tendo seu marido, também militar, como agressor. 
 
Caso a intimidade do casal de militares não seja levada em consideração, os mais 
variados crimes militares poderiam ocorrer entre um casal de militares. Neste 
sentido, Freua (2009) tem o seguinte entendimento: 
31 
 
Seria necessário analisar a qual força pertencem os militares, que fato 
ocorreu, qual a graduação ou posto dos envolvidos, o lugar, o motivo, entre 
outros. Para isso seria necessário fazer uma construção jurídica 
fundamentada na legislação, na jurisprudência e na doutrina, analisando 
caso a caso para se chegar à conclusão da existência de crime, qual crime 
ocorreu e se é ou não crime militar. Havendo entendimento que a Justiça 
castrense não tem competência para julgar a violência doméstica 
envolvendo casal de militares, descartando a aplicação do CPM e do 
CPPM, pouco vai importar que sejam militares estaduais, federais, ou 
mesmo um estadual e outro federal, tampouco se é um casal militar 
heterossexual ou homossexual, já que a Justiça comum seria competente 
para processar e julgar crimes de violência doméstica envolvendo militares 
na liberdade conjugal. Caso contrário haveria violação à Constituição 
Federal. (FREUA, 2009, p. 3). 
 
Assim, diante destes casos concretos, pode-se dizer que a Lei 9099/05 não é 
aplicada na Justiça Militar. Da mesma forma, a Lei Maria da Penha no artigo 41 
proibiu também o emprego da Lei 9.099/95 nos crimes de violência doméstica contra 
a mulher. Isso mostra que a lei dos Juizados Especiais não é utilizada na Justiça 
Militar nem para a Lei Maria da Penha, contudo, a dúvida é se esta deve ser 
utilizada da forma como é proposta em caso de agressão entre um casal de 
militares. 
 
Segundo Freua (2009): 
 
a simples leitura do artigo 9º, inciso II, alínea “a” do CPM, poderia levar à 
conclusão precipitada de que quando um militar da ativa comete contra outro 
militar na mesma situação algum ato passível de ser tipificado como crime no 
CPM, ainda que numa relação íntima, estaríamos diante de um crime militar. 
Nesse sentido, os acontecimentos da vida privada e da intimidade do casal 
de militares seriam resolvidos com fulcro na legislação militar, afastando 
outras leis, inclusive as medidas protetivas e inovadoras da Lei Maria da 
Penha. 
 
O Código Penal Militar, ainda que proteja outros bens, sempre protegerá direta ou 
indiretamente a disciplina e a hierarquia, ou seja, visa proteger a regularidade das 
forças militares. Nesse sentido, expõe Assis, citado por Freua: 
 
Vale trazer a lume, que a vida militar é repleta de situações peculiares. À 
Justiça Militar cabe não só o processar e julgar os crimes militares, mas 
também velar pela integridade das instituições militares, cujas vigas mestras 
são a disciplina e a hierarquia. (ASSIS apud FREUA, 2009, p. 5). 
 
Para Freua (2009), aceitar que o Código Penal Militar seja aplicado para resolver 
problemas da intimidade e da vida privada do militar, sem nenhuma relação com a 
regularidade militar, pode gerar danos irreparáveis à regularidade da instituição 
32 
familiar. Além de certos crimes militares, estaria o militar também sujeito às 
transgressões disciplinares, que são bem rígidas, pois também visam à regularidade 
militar. Sendo assim, seria impossível viver um relacionamento íntimo ou mesmo 
familiar, caso levássemos a legislação militar para dentro da intimidade do militar, 
sem dar ao menos certa liberdade na sua vida pessoal. Como os crimes militares 
são em regra de ação pública incondicionada, por qualquer deslize dentro da relação 
pessoal o militar seria preso e levado a julgamento, mesmo se o ofendido não 
quisesse a ação. O autor ainda explicita um exemplo: 
 
[...] um homem, Capitão PM, casado com uma mulher, Coronel Feminino 
PM, teria que tratá-la sempre como seu superior mesmo na intimidade do 
casal, pois caso contrário poderia ter inúmeras complicações perante a 
Justiça Militar, inclusive problemas administrativos perante a sua instituição 
no caso de transgressões disciplinares. Com a aplicação da legislação 
comum, a vítima tem a faculdade de não representar ou de renunciar à 
representação, dando maior liberdade à intimidade do casal de militares. O 
Código Penal Militar não pode invadir a intimidade do casal de militares a 
pretexto de garantir a regularidade das forças militares, pois estaria 
ultrapassando os limites impostos pela Constituição Federal, violando 
direitos fundamentais à intimidade e à vida privada (inciso X, do artigo 5º da 
CF/88), bem como o direito de formar uma família com a especial proteção 
do Estado (artigo 226 da CF/88), demonstrando assim que o legislador 
constituinte não permitiu intromissões no instituto família sem a devida 
legalidade, salvo para coibir a violência contra a própria estrutura familiar, 
conforme o parágrafo 8º, do artigo 226 da Lei Maior: “O Estado assegurará 
a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando 
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. (FREUA, 
2009, p. 5-6). 
 
Todavia, em contraturno a este pensamento do doutrinador acima citado, estabelece 
o artigo 10 da Lei nº 11.340/06 que, na hipótese da iminência ou da prática de 
violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar 
conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis, 
referindo-se a norma, obviamente,ao registro da ocorrência e demais 
desdobramentos atinentes à polícia judiciária. 
 
Para Rocha (2008) esta deve ser também uma preocupação da polícia judiciária 
militar ao registrar um crime militar que envolver qualquer uma das formas de 
violência contra a mulher no âmbito das relações domésticas e familiares. 
 
Os Comandantes de Unidades, autoridades exercentes da polícia judiciária militar 
nos termos do artigo 7º do Código de Processo Penal Militar, devem tratar com 
33 
especial atenção os casos em que a mulher militar lhes participar a ocorrência de 
ameaças por parte do marido, companheiro ou namorado que também for militar. 
 
Rocha (2008) explica que a história tem demonstrado que nestes casos a 
possibilidade de concretização do mal anunciado é extraordinariamente grande, 
principalmente em razão da intimidade do casal, do compartilhamento de 
informações personalíssima e, em alguns casos, do ciúme exacerbado. Alie-se tudo 
isto ao fato de que ambos podem conviver sob o mesmo teto. 
 
Por isso, mesmo que a Lei Maria da Penha não tenha alterado o Código Penal 
Militar ou o Código de Processo Penal Militar, a mulher militar agredida deve receber 
assistência da autoridade de polícia judiciária militar. 
 
Freua (2009), em seu artigo, explica que, fundamentado na Lei Máxima e em 
tratados internacionais de que o Brasil foi signatário, o legislador atual criou a Lei 
Maria da Penha como instrumento para coibir a violência doméstica contra a mulher. 
Não pode a legislação castrense tirar da mulher militar e de sua família as inovações 
e garantias trazidas pela Lei Maria da Penha, instrumento este que veio para 
atender à instituição familiar, seja ela formada ou não por militares, mesmo porque 
tal intromissão viola preceitos constitucionais. 
 
Mas, Lobão (2006) adverte que muito antes do advento da Lei Maria da Penha, a 
Justiça castrense não deveria interferir na esfera pessoal do casal de militares. 
Neste sentido, assevera o autor: 
 
Com a incorporação de mulheres às Forças Armadas, à Polícia Militar e ao 
Corpo de Bombeiros Militares, surge o problema relativo à competência da 
Justiça Militar para conhecer do delito cometido por um cônjuge ou 
companheiro contra outro. Se a ocorrência diz respeito à vida em comum, 
permanecendo nos limites da relação conjugal ou de companheiros, sem 
reflexos na disciplina e na hierarquia militar, permanecerá no âmbito da 
jurisdição comum. Tem pertinência com a matéria à decisão da Corte 
Suprema, segundo a qual a administração militar „não interfere na 
privacidade do lar conjugal, máxime no relacionamento do casal‟. É questão 
a ser decidida pelo juiz diante do fato concreto. (LOBÃO, 2006, p. 121-122). 
 
O ensinamento deste autor traduz a ideia de que deve haver privacidade no convívio 
do casal de militares. 
 
34 
Contudo, não se pode deixar de lembrar que a Lei Maria da Penha protege qualquer 
mulher, independente de sua profissão, de atos que violem seus direitos, 
principalmente naquilo que é pertinente à violência doméstica. 
 
Júnior Silvano Alves (apud FOUREAUX, 2012), em seu trabalho, entrevistou 08 
juízes militares e 04 juízes de Varas Criminais de Belo Horizonte a respeito da 
natureza do crime e aplicabilidade da Lei Maria da Penha. Uma das perguntas 
consistiu no entendimento dos juízes militares e civis sobre crime militar de lesão 
corporal ou crime comum de lesão corporal qualificado pelas circunstâncias da 
violência doméstica, a prática de violência doméstica de natureza física por militar 
estadual da ativa contra a militar estadual da ativa, no lar conjugal. Dos 08 juízes 
militares, 07 responderam que se trata de crime comum, 
 
[...] por não haver, nestes casos, afronta à hierarquia e disciplina e numa 
interpretação consentânea com os princípios constitucionais, verifica-se que 
devem prevalecer os princípios da tutela à mulher vítima de violência 
quando não se vislumbra nenhuma motivação de caráter especificamente 
militar. Os juízes da Vara Criminal foram unânimes em afirmar que o crime é 
comum, sendo argumentado que não fere os interesses da administração 
militar. (ALVES apud FOUREAUX, 2012, p. 498). 
 
A segunda pergunta da entrevista de Júnior Silvano Alves consistiu no entendimento 
dos juízes militares e civis sobre crime militar de lesão corporal ou crime comum de 
lesão corporal qualificado pelas circunstâncias da violência doméstica, a prática de 
violência doméstica de natureza física por militar estadual da ativa contra a militar 
estadual da ativa, em local sob a administração militar (quartel), em razão de vínculo 
doméstico, familiar ou afetivo (exemplo: ciúmes entre casal): 
 
Os juízes militares foram unânimes em responder que configura crime 
militar por haver ofensa à hierarquia e disciplina e a repercussão do fato ser 
militar. Já 03 dos juízes das Varas Criminais manifestaram ser crime comum 
e 01 ser crime militar, por haver ofensa à hierarquia e disciplina. (ALVES 
apud FOUREAUX, 2012, p. 499). 
 
Portanto, na opinião destes juristas, no âmbito das relações conjugais entre militares 
(seja superior e subordinado e vice-versa) prevalecerá as relações privadas e não a 
relação superior-subordinado. Nesse caso, se aplicará as regras do Código Penal 
(CP) comum e as medidas protetivas elencadas no art. 22 da lei Maria da Penha. 
 
Neste sentido, leciona Pedro Paulo Pereira Alves: 
35 
 
Assim, qualquer conduta que configure fato típico, ilícito e culpável à luz da 
norma penal militar, ocorrida em uma das situações previstas no art. 5°, 
incisos I, II ou III da lei Maria da Penha, não será considerado crime militar, 
mas tão somente ilícito comum, com tratamento regrado no CP, conforme o 
caso. (ALVES apud FOUREAUX, 2012, p. 499). 
 
Todavia, este é um assunto que gera polêmica, pois a princípio, a intimidade, por ser 
um direito fundamental, deve prevalecer assim à regra é que os crimes entre casais 
de militares sejam comuns, uma vez que estão amparados pela questão hierárquica. 
 
Todavia, segundo Foureaux (2012) quando houver envolvimento dos princípios 
regentes do militarismo, a relação deixa de ser particular-particular e passa a ser 
superior--subordinado, subordinado-superior ou par-par, conforme o caso. Nestes 
casos, há ofensa à hierarquia e disciplina, logo o crime será militar, pois o interesse 
público prevalece sobre as relações privadas. 
 
Segundo Rocha (2008), a mulher militar, vítima de violência doméstica, deve ser 
assistida, sendo que, tal assistência deve consistir se necessário: 
 
[...] na garantia de proteção, encaminhamento da ofendida ao Hospital 
Militar ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal, fornecer transporte 
para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando 
houver risco de vida, se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar 
a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar. 
(ROCHA, 2008, p. 4). 
 
E estas medidas, caso sejam necessárias, não prejudicam a adoção, por parte da 
polícia militar, das medidas judiciais cabíveis ao caso no âmbito de sua jurisdição. 
 
Assim, segundo Rocha (2008), a autoridade militar deve determinar a realização do 
exame de corpo de delito da militar ofendida e requisitar outros exames periciais 
necessários, mesmo que não seja esta sua vontade porque, em se tratando de 
crime militar, a ação penal será sempre pública incondicionada. 
 
Desta forma, seguindo esta linha de raciocínio, dispõe Foureaux sobre algumas 
conclusões a respeito do tema: 
 
a) Crime ocorrido em suas residências sem estarem fardados: se não 
estiver afeto à discussão de serviço, o crime será comum. Caso contrário, 
militar. Por exemplo: um Capitão casado com uma Tenente, queao chegar 
36 
em casa é agredida, violentamente, pelo marido por ter feito a comunicação 
disciplinar de um determinado soldado; 
a) Crime ocorrido em suas residências sem estarem fardados: se não 
estiver afeto à discussão de serviço, o crime será comum. Caso contrário, 
militar. Por exemplo, um Capitão casado com uma Tenente que ao chegar 
em casa é agredi da violentamente pelo marido por ter feito a comunicação 
disciplinar de um determinado Soldado. 
b) Crime ocorrido dentro de suas residências estando os dois fardados, ou 
um deles fardado: o mesmo raciocínio da letra “a”, uma vez que o fato de 
estar farda do, sobretudo em suas residências (local privado) não tem o 
condão de atrair querelas de cunho pessoal para a Justiça Militar; 
c) Crimes ocorridos em locais públicos sem estarem fardados: o mesmo 
raciocínio da letra a; 
d) Crimes ocorridos em locais públicos estando os dois fardados, ou um 
deles fardado: o mesmo raciocínio da letra “b”; 
e) Crime ocorrido dentro de quartéis (fardados ou não; em serviço ou de 
folga): entendemos ser crime militar, pois há ofensa à hierarquia e 
disciplina, mesmo em se tratando de avenças de cunho pessoal o fato 
ofende diretamente as Instituições Militares. Constitui um desprestígio e 
abalo moral para a Corporação; 
f) Crime ocorrido em serviço e em lugar não sujeito à administração militar: 
o mesmo raciocínio da letra “a”. (FOUREAUX, 2012, p. 503-504). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
5 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA VERSUS CRIME MILITAR 
 
Conforme pôde ser visto nos comentários dos capítulos anteriores, as inovações na 
legislação penal ocorreram com mais frequência na justiça comum e menos na 
justiça militar. A Lei 9.099/95 visou menor intervenção penal em certas infrações 
intituladas “de menor potencial ofensivo”, todavia, esta lei não pode ser aplicada na 
justiça militar. Da mesma forma, a Lei Maria da Penha no artigo 41 proibiu também o 
emprego da Lei 9.099/95 nos crimes de violência doméstica contra a mulher. 
 
A simples leitura do artigo 9º, inciso II, alínea “a” do CPM, poderia levar, segundo 
Freua (2009) à conclusão precipitada de que quando um militar da ativa comete 
contra outro militar na mesma situação algum ato passível de ser tipificado como 
crime no CPM, ainda que numa relação íntima, estaríamos diante de um crime 
militar. Nesse sentido, os acontecimentos da vida privada e da intimidade do casal 
de militares seriam resolvidos com fulcro na legislação militar, afastando outras leis, 
inclusive as medidas protetivas e inovadoras da Lei Maria da Penha. 
 
Demonstrando que a intimidade familiar é protegida pela CRFB/88, afirma Moraes: 
 
No restrito âmbito familiar, os direitos à intimidade e vida privada devem ser 
interpretados de uma forma mais ampla, levando-se em conta as delicadas, 
sentimentais e importantes relações familiares, devendo haver maior 
cuidado em qualquer intromissão externa. (MORAES apud FREUA, 2009, p. 
4). 
 
O Código Penal Militar tem como princípios básicos a disciplina e a hierarquia, além 
da proteção à regularidade das forças militares. 
 
Assim, para alguns autores, conforme preceitua Freua (2009), aceitar que o CPM e 
o CPPM devem ser aplicados para resolver problemas da intimidade e da vida 
privada do militar, sem nenhuma relação com a regularidade militar, pode gerar 
danos irreparáveis à regularidade da instituição familiar. 
 
Além de certos crimes militares, estaria o militar também sujeito às transgressões 
disciplinares, que são bem rígidas, pois também visam à regularidade militar, 
conforme dispõe Freua: 
 
38 
Sendo assim, seria impossível viver um relacionamento íntimo ou mesmo 
familiar, caso levássemos a legislação militar para dentro da intimidade do 
militar, sem dar ao menos certa liberdade na sua vida pessoal. Como os 
crimes militares são em regra de ação pública incondicionada, por qualquer 
deslize dentro da relação pessoal o militar seria preso e levado a 
julgamento, mesmo se o ofendido não quisesse a ação. Como exemplo: um 
homem, Capitão PM, casado com uma mulher, Coronel Feminino PM, teria 
que tratá-la sempre como seu superior mesmo na intimidade do casal, pois 
caso contrário poderia ter inúmeras complicações perante a Justiça Militar, 
inclusive problemas administrativos perante a sua instituição no caso de 
transgressões disciplinares. Com a aplicação da legislação comum, a vítima 
tem a faculdade de não representar ou de renunciar à representação, dando 
maior liberdade à intimidade do casal de militares. (FREUA, 2009, p. 5). 
 
Assim, alguns doutrinadores alegam que o Código Penal Militar, se invadisse a 
intimidade do casal de militares poderia violar o princípio fundamental referente ao 
direito à intimidade e à vida privada. Neste sentido, estes autores que defendem tal 
ideia, relatam que se fosse utilizado o pretexto de que a intervenção estaria sendo 
feita para garantir a regularidade das formas armadas, ainda assim, o princípio da 
intimidade estaria sendo ferido. 
 
E, para garantir o direito das mulheres, diante da observância de sua condição 
perante os homens, foi criada a lei Maria da Penha para coibir a violência contra a 
mulher. Esta lei traz punição maior para o agressor, além de um atendimento 
multidisciplinar à vítima, aos filhos etc. A lei dispõe sobre a criação de juizados com 
competência específica para julgar estes casos de violência contra a mulher, porém, 
a localidade que não dispuser de tais juizados, terá a vara criminal como competente 
para processar tais casos. 
 
Mediante a criação desta lei, surgiu a dúvida, que nesta monografia é debatida, 
sobre a seguinte questão: em caso de violência doméstica ocorrida com o casal de 
militares, qual legislação será observada; o Código Penal Militar ou a Lei Maria da 
Penha? 
 
Segundo Freua (2009), não pode a legislação castrense tirar da mulher militar e de 
sua família as inovações e garantias trazidas pela Lei Maria da Penha, instrumento 
este que veio para atender à instituição familiar, seja ela formada ou não por 
militares, mesmo porque tal intromissão viola preceitos constitucionais. 
 
39 
Todavia, outros doutrinadores e até magistrados possuem entendimento diferente. 
 
Júnior Silvano Alves (apud FOUREAUX, 2012), em seu trabalho acadêmico, 
entrevistou alguns juízes e, um dos entrevistados relatou o seguinte, nas palavras de 
Alves: 
Em face da doutrina e da jurisprudência vigente não se aplicam os 
dispositivos da lei n, 11.340/06 no âmbito da Justiça Militar, e nos termos do 
art. 125, § 4°, da CRFB/88, a competência da Justiça Militar de primeiro 
grau se restringe ao processamento e julgamento de crimes militares e 
ações cíveis contra atos disciplinares militares. Ainda disse que não é da 
competência do juiz militar as medidas de natureza cível, como, por 
exemplo, o afastamento do lar do cônjuge agressor, e estas deverão ser 
requeridas perante a Justiça Comum, cabendo à Justiça Militar se ater ao 
crime praticado. (ALVES apud FOUREAUX, 2012, p. 536). 
 
Antes mesmo do advento da Lei Maria da Penha, Célio Lobão já doutrinava que a 
Justiça militar não deveria interferir na esfera pessoal do casal de militares: 
 
Com a incorporação de mulheres às Forças Armadas, à Polícia Militar e ao 
Corpo de Bombeiros Militares, surge o problema relativo à competência da 
Justiça Militar para conhecer do delito cometido por um cônjuge ou 
companheiro contra outro. Se a ocorrência diz respeito à vida em comum, 
permanecendo nos limites da relação conjugal ou de companheiros, sem 
reflexos na disciplina e na hierarquia militar, permanecerá no âmbito da 
jurisdição comum. Tem pertinência com a matéria a decisão da Corte 
Suprema, segundo

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