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Filosofia e História da Ed Fís III

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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
UNIDADE III
EDUCAÇÃO FÍSICA 
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A história do futebol no Brasil
Em outubro de 1894 desembarca no Porto de Santos, proveniente da Inglaterra, o jovem estudante paulista Charles Miller, filho de pais ingleses. Assim como todo filho de família rica, Charles Miller foi estudar na Europa, na Inglaterra, onde aprendeu a jogar football , destacando-se como um excelente jogador. Em seu retorno, ao final dos estudos, trouxe em sua bagagem duas bolas, uma bomba para enchê-las, além de uniformes, apito e um livro de regras do esporte.
Foi somente um ano mais tarde que Charles Miller conseguiu organizar a primeira partida formal e documentada de futebol, com uma daquelas bolas, em um terreno baldio da várzea do Carmo, entre as ruas Santa Rosa e do Gasômetro, numa manhã de domingo, 14 de abril de 1895. Esse é considerado o primeiro jogo de futebol no país, uma partida entre ingleses e anglo-brasileiros, formados pelos funcionários da São Paulo Gás Company e da Estrada de Ferro São Paulo Railway. O amistoso terminou em 4 a 2, com vitória do São Paulo Railway.
Logo após a sua introdução, o esporte começou a se difundir por outros estados. Em 1897, o estudante Oscar Cox, regressando da Suíça, introduziu o futebol no Rio de
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A história do futebol no Brasil
Janeiro. A primeira equipe do estado foi o Rio Team, formada por Cox, em 1901, logo seguido de Fluminense Foot-ball Club (1902), o Rio Foot-ball Club (1902), o Botafogo Foot-ball Club, o America Foot-ball Club e o Bangu Athletic Club (os três últimos em 1904). Flamengo e Vasco da Gama se dedicavam ao remo e só aderiram ao futebol mais tarde, em 1911 e 1923, respectivamente.
O primeiro campeonato documentado ocorreu em 1899 pelas equipes do São Paulo Athletic Club, e do Sport Club Germânia, atual Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Com o surgimento de outras equipes voltadas ao futebol, é criada, em 19 de dezembro de 1901, a Liga Paulista de Football. Seu primeiro presidente foi Antônio Casemiro da Costa.
O futebol não demorou a contagiar as camadas menos favorecidas da população brasileira. O esporte que nasceu branco, dentro de clubes aristocráticos das grandes cidades industrializadas, passou a ter também uma identidade popular, quando negros se organizaram de maneira precária em times pelos subúrbios e cidades pequenas, além das cidades portuárias, que formavam times de locais para enfrentar times formados por tripulações de embarcações.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A história do futebol no Brasil
Foi nas favelas e periferias dos grandes centros urbanos que o futebol conquistou as parcelas menos favorecidas da população brasileira. Em campos irregulares de terra batida, com materiais improvisados e geralmente descalços, jovens, crianças e adultos praticavam o futebol. Devido às imperfeições do terreno e às dimensões reduzidas das bolas de meia, os praticantes dos bairros pobres tiveram que desenvolver maior agilidade e controle de bola. Passes longos não eram eficientes devido às condições do terreno e às irregularidades da bola. Por isso a condução e o drible eram muito mais frequentes nesse futebol pobre e negro.
A agilidade dos menos favorecidos despertava o interesse das equipes populares recém-formadas, que buscavam alternativas criativas para remunerar esses jogadores, uma vez que tal prática era malvista pela elite, que pregoava o amadorismo.
O sociólogo Gilberto Freyre defendeu o surgimento de um futebol brasileiro com identidade nacional a partir da miscigenação cultural com a população negra. Nesse contexto, o futebol herdou a malícia, a ginga, o drible, a cadência irregular dos
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A história do futebol no Brasil
quadris inerentes aos ritmos da cultura afrodescendente. O futebol negro estaria impregnado do samba, da capoeira, traços totalmente ausentes no futebol rígido, de velocidade, de longos passes e jogadas aéreas, como era o futebol europeu.
O conflito racial e de classes que se estabeleceu pelos campos do Brasil contribuiu para disseminar o estilo brasileiro de se jogar futebol, o que passou a ser conhecido mundialmente como futebol-arte. 
Em 1923, o clube Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, montou uma equipe com diversos atletas negros, causando muita polêmica na sociedade carioca, pois os atletas negros eram contratados pelo clube, enquanto os demais clubes contavam apenas com atletas brancos e amadores, que, sendo filhos da elite, podiam se dedicar ao esporte sem preocupações financeiras. Naquele ano, o Vasco da Gama sagrou-se campeão, mas foi expulso da liga carioca de futebol. O clube passou a jogar em uma liga extraoficial formada por times de clubes populares. Esse fato fez crescer o interesse no futebol negro, miscigenado, e em pouco tempo o Vasco da Gama foi reintegrado à liga principal carioca e outros clubes passaram a contratar atletas negros para compor suas equipes.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A história do futebol no Brasil
O governo brasileiro percebeu o potencial convocatório do futebol, a associação patriótica do esporte, quando representado por seleções nacionais em torneios internacionais. As primeiras disputas foram amistosas contra nossos vizinhos Uruguai e Argentina, mas foi na Copa do Mundo de 1938, com a conquista do 3º lugar, que o brasileiro viu no futebol a possibilidade de se afirmar como povo e país vencedor, que superava a condição subdesenvolvida e dependente.
Grandes investimentos e negociações foram feitas para trazer a Copa do Mundo de 1950 para o Brasil. O Maracanã, o maior estádio do mundo até então, fora construído para abrilhantar a festa patriótica, mas a derrota calou o país e reforçou o sentimento de união em uma verdadeira comoção nacional.
Os êxitos competitivos vieram nas Copas de 1958, 1962 e 1970. Essas três vitórias mundiais corroboraram para o desenvolvimento de campanhas nacionalistas e jargões, como “com brasileiro não há quem possa”, “ninguém segura este país”, “a seleção é a pátria de chuteiras”. Nesse mesmo período, o País enfrentou uma grave crise política ocasionada pelo regime militar, que restringia a liberdade de expressão
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A história do futebol no Brasil
e oprimia os opositores com tortura e morte. O futebol foi uma arma ideológica instrumentalizada pelo governo brasileiro. No auge na repressão, a seleção brasileira de futebol conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo.
Atualmente, o futebol continua sendo uma preferência nacional. O País forma muitos jogadores protagonistas dos melhores times do mundo. A seleção brasileira conquistou mais dois mundiais, em 1994 e 2002. Mesmo após um período grande sem títulos expressivos, a população se mobiliza para acompanhar a seleção brasileira de futebol. A escalação, a escolha de um novo técnico, a disputa de outro campeonato ou mesmo um jogo amistoso é um evento de nível nacional.
Tomando ciência desse imenso poder convocatório, o marketing esportivo fez do futebol um negócio bilionário, em que espaços publicitários, direitos de transmissão, patrocínios esportivos, venda de ingressos e produtos licenciados e a venda de direitos confederativos de jogadores atraem grandes investimentos todos os anos.
Em meados dos anos 2000, o governo brasileiro não poupou esforços, nem
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A história do futebol no Brasil
investimentos, para alavancar a candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 e da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Essa empreitada, que passou a ser conhecida como a realização de megaeventos esportivos, teve efeito de distração de situações na esfera política e econômica que o País atravessou nas duas ocasiões.Em 2014, a Copa do Mundo de Futebol aconteceu meses antes de um disputado processo eleitoral no qual a então presidente obteve êxito e conseguiu a reeleição. A Copa do Mundo mostrou um País organizado e forte economicamente; após alguns meses, o País caiu em uma severa crise econômica.
No ano de 2016, os Jogos Olímpicos da cidade do Rio de Janeiro ocorreram em meio a um cenário tumultuado na política nacional. O Governo Federal tentou aproveitar as atenções voltadas para os Jogos Olímpicos para amenizar a crise, que acabou culminando no processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Essas situações ilustram a importância cultural que o esporte possui no Brasil e alertam para a necessidade de um envolvimento mais crítico com o consumo desse espetáculo de mídia com tamanho carisma.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A história da Educação Física no Brasil
A Educação Física brasileira teve influência dominante das escolas de ginástica europeias, sobretudo das ginásticas francesa, alemã e sueca. 
O Imperial Collegio de Pedro Segundo foi fundado no Rio de Janeiro em 1837. O principal objetivo do governo brasileiro ao organizar o CPII foi oferecer boa educação aos filhos da sociedade imperial. Foi no Colégio Pedro II que a Educação Física brasileira teve seus primeiros passos.
O Colégio Pedro II contratou seu primeiro mestre de gymnastica , o ex-capitão do Exército Imperial Guilherme Luiz de Taube, no ano de 1841. O professor dedicou-se à ginástica como elemento de formação de jovens, conforme acontecia nos mais renomados liceus da Europa.
De acordo com registros do colégio, as lições de exercicios gymnasticos eram ministradas em seis dias da semana, à exceção do domingo. O espaço destinado às lições era o pátio do colégio. Cada uma das aulas durava cerca de uma hora, menos na quinta-feira, quando a duração da aula seria aumentada para duas horas de
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A história da Educação Física no Brasil
exercícios. A prática regular e diária dos exercicios gymnasticos era defendida pelos médicos como um dos fatores necessários para garantir seus benefícios. Esse fato demonstra o caráter higienista da ginástica em seus primórdios.
Em 1846, três anos após a saída de Taube do Colégio Pedro II, Frederico Hoppe, ex-militar espanhol, solicitou o cargo de mestre de gymnastica da instituição. Hoppe se dedicou a ensinar esgrima aos jovens do colégio. De acordo com ele, a esgrima era componente fundamental da educação da elite europeia e superaria os resultados da “simples gymnastica ” até então ministrada no colégio. Os argumentos de Hoppe provêm, especialmente, dos discursos médico e militar, tão importantes no processo de escolarização da gymnastica no Brasil.
 
Em 1859, Pedro Guilherme Meyer, alferes do Exército Imperial Brasileiro, assumiu as lições de ginástica do Colégio Pedro II em seu novo ginásio, que deveria servir de referência para os demais estabelecimentos colegiais em prol da difusão da Educação Física da mocidade brasileira.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A história da Educação Física no Brasil
Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do coronel Francisco Amorós y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amorós, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinville-le-Point, local para o qual foi transferido em 1852.
Destacavam-se no método organizado por Amorós os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No Colégio Pedro II, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A Educação Física brasileira e os pareceres de Rui Barbosa
Em 1882, na Câmara dos Deputados, Rui Barbosa divulga o parecer sobre a reforma do ensino primário, no qual afirma que o desenvolvimento físico e o intelectual devem andar em paralelo. O deputado propõe as seguintes ações:
• A instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola normal.
• A extensão obrigatória da ginástica para ambos os sexos, na formação do professorado e nas escolas primárias de todos os graus, tendo em vista, com relação à mulher, a harmonia das formas e as exigências da maternidade futura.
• A inserção da ginástica nos programas escolares como matéria de estudo, em horas distintas das do recreio, e depois das aulas.
• Equiparação, em categoria e autoridade, dos professores de ginástica aos de todas as outras disciplinas.
Essas proposições vieram a influenciar a organização do ensino da Educação Física em todas as escolas brasileiras nas gerações que se seguiram.
É importante lembrar que a Escola Militar Brasileira havia adotado, desde meados do século XIX, o método de ginástica alemão e, portanto, apesar de o pioneirismo do
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A Educação Física brasileira e os pareceres de Rui Barbosa
Colégio Pedro II ter adotado a ginástica francesa, muitas escolas eram ministradas por professores militares formados com a vigorosa ginástica alemã de Friedrich Jahn. 
Somente em 1907, com a chegada de uma missão militar francesa que se instalou em São Paulo para ministrar instrução na Força Pública do Estado, foi que a ginástica alemã passou a perder terreno para a ginástica francesa. Em 1909, foi criada uma escola para formar professores de esgrima e ginástica na Escola Militar do Estado de São Paulo. Essa escola serviu de base para a criação da primeira escola de Educação Física do Brasil em 1929, na Vila Militar: o Curso Provisório de Educação Física. Esses fatores influenciaram bastante a consolidação da Educação Física no Brasil.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
Eugenia, higiene e nacionalismo, ideais brasileiros no início do século XX
Na década de 1920 surge, no Brasil e no mundo, uma preocupação com a depuração da raça e o fortalecimento do povo. Embasada nas teorias evolucionistas de Darwin, a ideia era privilegiar as características que permitissem a constituição de um povo robusto, resistente e inteligente. Nesse sentido, a miscigenação racial era vista como um agente de degeneração da raça, levando à perda de características desejáveis.
A elite branca brasileira gradativamente se aparelhou para a implementação de um plano de fortalecimento racial. Em 1918, foi criada, no Brasil, a Sociedade Eugênica de São Paulo, que produziu diversos documentos e utilizou como parceira de publicações a Revista Educação Physica , editada a partir de 1932.
A revista se alinhou aos ideais político-ideológicos do governo da época, simpatizante do nacional-socialismo alemão. O governo de Getúlio Vargas estreitou relações com a Alemanha e se deixou influenciar por questões raciais, legais e políticas, firmando acordos comerciais e intercâmbios culturais.
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Eugenia, higiene e nacionalismo, ideais brasileiros no início do século XX
O “embranquecimento” da raça brasileira se tornou oficialmente parte do plano de desenvolvimento nacional, empregando diferentes categorias profissionais, como médicos, intelectuais, professores e instrutores de Educação Física, que se esforçaram amplamente para difundir os conceitos eugênicos em meios sociais e educacionais.
O principal veículo de implementação do plano de eugenização da raça brasileira era o fortalecimento do corpo da mulher através do exercício físico. De acordo com a concepção da época, as mulheres mais fortesseriam capazes de gerar filhos mais hígidos, mais aptas à maternidade e à criação de cidadãos fortes para a construção de uma nova nação, livre da degeneração racial.
As mulheres deveriam dedicar-se a exercícios que as preparassem para a maternidade, reforçando suas formas curvilíneas propícias à atração de seus parceiros. Deveriam ser evitados os esforços violentos e impactantes, capazes de promover a “masculinização” da mulher, como o surgimento de músculos e o embrutecimento dos gestos. Os exercícios femininos deveriam fortalecer a mulher e, 
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Eugenia, higiene e nacionalismo, ideais brasileiros no início do século XX
ao mesmo tempo, ressaltar suas características suaves e femininas. O principal objetivo era a preparação para a gestação de filhos fortes. A mulher era vista como uma matriz depuradora da raça.
Natação, tênis, esgrima, ginástica e remo são algumas das principais atividades em número de mulheres inscritas nas primeiras décadas do século XX. A ginástica ganhou grande força no currículo das escolas primárias como modalidade a ser aplicada prioritariamente às meninas, enquanto os meninos teriam currículo envolvendo atividades mais robustas, como futebol, corridas, saltos, lutas, handebol e basquetebol. 
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
A institucionalização do esporte brasileiro
Em 1941, o Estado brasileiro legislou, através do Decreto-lei nº 3.199, o estabelecimento de bases para a organização do esporte no Brasil. Em seu primeiro capítulo, a lei institui o Conselho Nacional de Desportos (CND), órgão alocado no Ministério da Educação e Saúde, responsável por orientar, fiscalizar e incentivar a prática de esporte no País.
Essa estrutura vai ao encontro da política nacionalista do Estado Novo, que buscava centralizar as instituições sob o controle estatal. Dessa forma, clubes e federações esportivas passaram a ser atrelados de forma linear e submissa às deliberações do CND.
Com a lei, o desporto amador ficou definitivamente separado do desporto profissional, sendo o primeiro patrocinado pelo Estado, enquanto o segundo ficaria regulamentado como divertimento espetacular, organizado de acordo com as leis trabalhistas, sem qualquer incentivo público.
 
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A institucionalização do esporte brasileiro
O Art. 54 (Lei nº 3.199/41), do Capítulo IX, “ Disposições gerais e transitórias ”, afirma que “às mulheres não será permitida a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do País”. Em 1965, através da Deliberação nº 7/65, o CND criou a regra que dizia que às mulheres não seria permitida a prática “de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo, rugby , halterofilismo e beisebol”, decisão esta revogada somente em dezembro de 1979 .
Fica clara a condução do esporte feminino, com a proibição legal de modalidades supostamente agressivas ao sistema reprodutor feminino. 
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A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro
Em 1979, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), por insistência do professor Joaquim Mamede de Carvalho e Silva, iniciou um trabalho para convencer o CND a revogar a proibição para a prática de lutas por parte das mulheres. Em outubro de 1979, Mamede conseguiu levar uma equipe feminina para participar do Campeonato Sul-Americano de Judô, realizado em Montevidéu, no Uruguai.
Para conseguir subsídios (passagens, estadia, inscrições e alimentação), as atletas foram relacionadas com nomes masculinos no CND. As atletas conquistaram várias medalhas no torneio, auxiliando o Brasil a alcançar a primeira colocação na contagem geral de pontos, somando-se a pontuação das categorias masculina e feminina.
Ao chegar ao Brasil, Mamede usou os resultados esportivos e o âmbito esportivo mundial para demover o CND a legalizar a participação esportiva feminina no judô. A Deliberação nº 7 foi revogada e substituída pelo Artigo 10º, permitindo, assim, a prática de esportes estigmatizados como viris. Com isso, as mulheres puderam participar de torneios e treinamentos por todo o mundo, bem como abrir caminho para que outras modalidades esportivas proibidas também se desenvolvessem.
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A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro
A mulher no esporte: gênero e mídia
O esporte contemporâneo pode ser caracterizado como um grande espetáculo veiculado pelos meios de comunicação de massa. Para tanto, as exigências do público espectador são levadas em consideração ao montar-se a programação a ser exibida. As empresas investidoras, como anunciantes, patrocinadores e apoiadores, estudam os índices de visibilidade das modalidades esportivas veiculadas para decidir seus planejamentos estratégicos de investimento. Cria-se um ciclo vinculado aos índices televisivos. Determinada modalidade tem mais ou menos investidores de acordo com a exibição que possui em mídia (jornais, internet, transmissão televisiva e rádio), o que acaba direcionando a montagem da programação e a cobertura esportiva jornalística. As modalidades detentoras do gosto popular são mais vistas e, portanto, têm mais investidores.
Existe uma grande diferença relacionada à questão de gênero no esporte brasileiro. De forma geral, as modalidades femininas possuem menor espaço na mídia e menos investimentos. Seguindo a lógica ilustrada anteriormente, percebe-se que essa situação é estabelecida pela cultura esportiva para meninas. 
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A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro
A mulher no esporte: gênero e mídia
Atualmente, estudos fisiológicos apresentam dados que amparam a participação esportiva das mulheres – elas são capazes de suportar plenamente as cargas competitivas e de treinamento. A diferença fica por conta da capacidade absoluta de produzir força menor em função das características biológicas distintas das dos homens. Por exemplo, a mulher produz menos testosterona, o que ocasiona uma menor quantidade de massa muscular e, consequentemente, uma menor condição de aplicação de força.
De forma geral, as mulheres sempre foram direcionadas a atividades ocupacionais que exigissem menos do físico. A sociedade brasileira criou uma estrutura cultural que não privilegiou a prática esportiva feminina vigorosa. A mulher foi sempre direcionada à dança, às habilidades manuais, à culinária e ao cuidado com as crianças. Essa condição criou uma disparidade na configuração da massa espectadora de esporte. Na sociedade brasileira machista, convencionou-se que “esporte é coisa de homem e novela é coisa de mulher”. Além disso, os valores associados ao esporte enfatizam a capacidade física máxima, o recorde e a proeza física desafiando os
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A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro
A mulher no esporte: gênero e mídia
limites do corpo. De forma absoluta, as marcas esportivas masculinas determinadas pelas capacidades físicas são sempre melhores do que as dos resultados femininos. Às mulheres são atribuídas qualidades como harmonia, equilíbrio, graciosidade e elasticidade.
Em função da caracterização predominantemente masculina da audiência esportiva, percebe-se uma desvalorização financeira dos eventos esportivos femininos, com menor exposição na mídia. Motivadas por essa condição machista, as modalidades esportivas acabam desenvolvendo uniformes esportivos diminutos para as mulheres a fim de delinear seus corpos e chamar a atenção do público masculino, elevando, assim, os índices televisivos, como é o caso do voleibol, do tênis e do handebol.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
As estruturas esportivas brasileirascontemporâneas
O esporte brasileiro não apresenta hoje uma política clara quanto ao seu desenvolvimento. As ações de incentivo se destinam a categorias de atletas com destaque no cenário nacional e internacional, ou seja, estimula-se o topo da cadeia de desenvolvimento esportivo e não se organizam os investimentos na base, na formação de novos atletas. Existe uma forte coordenação entre todas as instituições de esporte de elite, com clara definição e sem sobreposição das diferentes tarefas. O País possui ações voltadas para o desenvolvimento do esporte de alto nível oriundas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Ministério do Esporte, as quais são isoladas, algumas delas semelhantes, mas sem que haja uma diretriz central norteadora para elas.
Os esforços para a elaboração de uma política nacional de desenvolvimento esportivo não conseguem atingir efetivamente os incentivos ao esporte em nível municipal, na criação de escolinhas e categorias de base. Os investimentos nesse setor são desorganizados e, na maioria dos municípios, muito escassos. 
Os recursos têm foco em um número relativamente pequeno de esportes que possuem chances reais de sucesso internacional: 29 confederações recebem o repasse da verba
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As estruturas esportivas brasileiras contemporâneas
proveniente da Lei Agnelo/Piva, desde que atendam a determinados critérios preestabelecidos. No entanto, não existem estratégias para focar na aplicação de recursos em modalidades com chances reais de medalhas e que tenham tradição em Jogos Mundiais e Olímpicos, a fim de potencializar resultados internacionais expressivos. Fica claro que a ação de incentivo se preocupa mais com a obtenção de resultados e menos com a função social e educativa do esporte. Alguns projetos bem organizados recebem repasse de verba da Lei Agnelo/Piva, que prevê isenção fiscal para empresas apoiadoras do esporte. No entanto, a abrangência dessas iniciativas é amostral e grande parte da população é alienada da prática esportiva de base.
Países socialistas, como Cuba, China e União Soviética (que existiu até a década de 1990), pautavam sua organização esportiva no oferecimento de esporte para toda a população de forma gratuita e obrigatória. A formação esportiva era ampla e integral, envolvendo diversas modalidades. Apesar de saber-se que a formação esportiva nos países socialistas atendia a interesses estatais relacionados com a representação esportiva nacional e com a disciplina e capacitação energética da população, cabe admitir que a estrutura piramidal dá oportunidade de prática a grande parte da população e gera uma cultura de prática esportiva efetiva. O grande desafio seria
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As estruturas esportivas brasileiras contemporâneas
suplantar a tendência meramente tecnicista do modelo esportivo piramidal e torná-lo uma referência plural.
Nesse âmbito, surgiu, na década de 1970, o movimento mundial Esporte para Todos, que preconizava a participação esportiva massiva da população. O desporto para todos era o lema dessa época e formulava-se a pirâmide com a elite desportiva no cume, a organização desportiva, o equipamento básico urbano, a Educação Física/desporto escolar no meio, e o desporto de massa na base.
EDUCAÇÃO FÍSICA E EPISTEMOLOGIA
O debate epistemológico a respeito da Educação Física se desenvolve no Brasil com grande intensidade desde a década de 1980. Vários autores, cientistas e pedagogos de produção expressiva se manifestaram a respeito de qual seria o corpo de conhecimento compreendido na Educação Física. O debate se aprofundou em função das convicções políticas, pedagógicas e científicas de cada autor. Por muitas vezes, o debate, propriamente dito, tomou maior vulto que a atividade desenvolvida ou
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EDUCAÇÃO FÍSICA E EPISTEMOLOGIA
mesmo que a organização estrutural e política da Educação Física.
Alguns pontos consensuais entendem a Educação Física como uma prática social que comporta muitas manifestações diferentes, as quais tornam difícil a tarefa de gerar uma identidade bem delimitada de seu corpo de conhecimento. A Educação Física transita fortemente na área pedagógica, abordando a função do exercício físico na formação plena do indivíduo. Ela também se aventura pelas manifestações esportivas – formativas, participativas ou de rendimento. São áreas de atuação da Educação Física os aspectos do exercício físico relacionados à saúde e ao bem-estar físico, mental e social. Também existe a aproximação com o lazer, seja ele usado como complemento pedagógico, seja abordado como fim em si mesmo, isto é, como estratégia de participação lúdica visando exclusivamente à satisfação por meio de vivências prazerosas. A Educação Física ainda é tida como agente de grande importância nos processos de inclusão de pessoas portadoras de deficiência, tanto pelos benefícios físicos quanto pelas vantagens afetivas e sociais proporcionadas pela participação em programas de exercícios físicos.
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
EDUCAÇÃO FÍSICA E EPISTEMOLOGIA
Devido à grande quantidade de áreas afins, chegou-se a afirmar que a Educação Física não poderia ser tida como ciência, com objeto próprio de estudo, e sim como prática científica que se apropria de ferramentas de outras ciências para discutir as manifestações da cultura corporal e de movimento humano. A Educação Física, vista como prática social provida de história e contextualização social, contempla a possibilidade de engajamento pedagógico, de participação em práticas científicas.
Abordagens filosóficas da Educação Física no Brasil
A Educação Física desenvolveu-se no Brasil a partir das influências militares das escolas ginásticas europeias. Os métodos ginásticos europeus, desenvolvidos em meados do século XIX, visavam a formar cidadãos vigorosos para atender à qualificação do povo e à formação da nação. Tinham ainda forte influência médico-higienista, procurando desenvolver a aptidão física do indivíduo como alicerce para a formação moral e intelectual. As primeiras escolas brasileiras eram de formação militar, tendo, no período imperial, a influência da ginástica sueca. No início do período republicano, o Brasil foi governado por militares. Entre os anos de 1900 e
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Abordagens filosóficas da Educação Física no Brasil
1910, o Exército Brasileiro recebeu o intercâmbio de um destacamento militar francês, o que viria a determinar a linha de aplicação da Educação Física brasileira por várias décadas.
A partir da década de 1940, o governo de Getúlio Vargas passou a instrumentalizar a Educação Física e o esporte, lato sensu , como ferramentas de melhoria racial. Por meio do desenvolvimento físico, a ideia era melhorar a raça do povo brasileiro. Essa ação passou a ser referida como eugenia. No decorrer de várias décadas, a Educação Física manteve-se oficialmente com uma inclinação militarista, biológica e voltada ao desenvolvimento dos aspectos físicos.
Na década de 1970, o caráter biológico foi acrescido da tendência esportivista. A ideia do governo vigente era usar a Educação Física escolar como um instrumento de formação e detecção de atletas que pudessem representar a nação em competições nacionais e internacionais, mostrando o valor do povo brasileiro e angariando prestígio político. A partir desse período, a Educação Física ganhou forte conotação biológica, esportivista e tecnicista.
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Abordagens filosóficas da Educação Física no Brasil
No final da década de 1970 e início de 1980, com o retorno de professores pós-graduados do exterior, novas abordagens filosóficas e pedagógicas passaram a ser defendidas como alternativas ao modelo hegemônico biológico esportivista. O modelo biológico passou a ser entendido como excludente, injustoe eugênico.
As principais abordagens discutidas resultam da articulação de diferentes teorias psicológicas e sociológicas e de concepções filosóficas. Todas essas correntes têm ampliado os campos de ação e reflexão para a área, aproximando-a das ciências humanas.
Algumas abordagens que tiveram maior impacto, a partir da década de 1970, são as seguintes:
• Psicomotricidade: comprometida com o desenvolvimento integral da criança, extrapola os limites biológicos do rendimento corporal e valoriza os conhecimentos de ordem psicológica. A ação educativa deve ocorrer a partir de movimentos espontâneos da criança e de suas atitudes corporais. Deve haver equilíbrio entre o desenvolvimento funcional e afetivo. 
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• Desenvolvimentista: abordagem dirigida a crianças de 4 a 14 anos. Tem por objetivo caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social na aprendizagem motora. Defende que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física. Essa proposta não visa a resolver problemas sociais. A Educação Física deve dar condições para que o comportamento motor do aluno seja desenvolvido por meio da interação entre o aumento da diversificação e da complexidade dos movimentos.
• Construtivista-interacionista: objetiva a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo. Critica as propostas tecnicistas hegemônicas, caracterizadas pela busca do desempenho máximo sem considerar as diferenças individuais. Para a abordagem construtivista, deve-se respeitar o universo cultural do aluno, explorando variadas possibilidades educativas e lúdicas. A proposição de tarefas desafiadoras é uma forma de construir o conhecimento. 
• Crítico-superadora: embasada no discurso da justiça social no contexto da sua prática. Busca levantar questões de poder, interesse e contestação e faz uma leitura dos dados da realidade à luz da crítica social dos conteúdos. Ela pode ser tida como uma
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reflexão pedagógica e desempenha um papel político-pedagógico, pois encaminha propostas de intervenção e possibilita reflexões sobre a realidade dos homens. Por meio do jogo, da ginástica, da dança e do esporte, busca criar condições educativas que contestem a realidade de injustiças sociais e que não reproduzam a ótica capitalista hegemônica e injusta.
• Crítico-emancipatória: centrada no ensino dos esportes, foi concebida para a Educação Física escolar. Busca uma ampla reflexão sobre a possibilidade de ensinar os esportes pela sua transformação didático-pedagógica e de tornar o ensino escolar um espaço de aquisição de uma competência crítica e emancipada, voltada para a formação da cidadania do jovem, indo além de mera instrumentalização técnica para o trabalho. A condição de emancipação pode ser entendida como um processo contínuo de libertação do aluno das condições limitantes de suas capacidades racionais críticas e até mesmo do seu agir no contexto sociocultural e esportivo.
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Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea 
A atual conjuntura pedagógica da Educação Física procura adotar um discurso conciliatório voltado ao desenvolvimento de ações que conjuguem as abordagens discutidas desde a década de 1970. O intuito de síntese dos temas convergentes busca desenvolver experiências pedagógicas plurais, evitando o restabelecimento de aspectos que foram severamente criticados no passado.
Historicamente, a discussão epistemológica sobre a Educação Física vem se desenvolvendo desde meados da década de 1970, quando professores trouxeram ao meio acadêmico da Educação Física debates já iniciados em outras esferas da educação. O aspecto mais criticado foi a visão tecnicista e biológica adotada pela Educação Física até então. Por essa visão, a Educação Física era responsável apenas pelo desenvolvimento das capacidades físicas e motoras dos jovens, visando à melhoria da aptidão física para objetivos esportivos e à melhoria da saúde da população. O discurso da saúde populacional estava, na década de 1970, impregnado de um viés político e nacionalista, que visava a fortalecer a nação pelo fortalecimento físico do povo.
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Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea 
A necessidade do estabelecimento da crítica e da mudança motivou inúmeros pesquisadores, que apresentaram variadas vertentes de aplicação alternativa ao quadro biológico e esportivista hegemônico. O debate fervoroso entre os defensores de novas abordagens pedagógicas se estendeu de 1980 até meados da década de 1990. Diante da grande quantidade de doutrinas sendo discutidas, o estabelecimento de um consenso foi dificultado e a prática pedagógica da Educação Física, outrora controlada pelo dirigismo estatal, passou a ser negligenciada devido à falta de definição para os planos de ação oficiais.
A partir da segunda metade da década de 1990, esforços para a ação pedagógica conjugada se estabeleceram. Em 1998, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física (PCN), documento produzido por uma força-tarefa de professores da Educação Física, que buscou o estabelecimento de temas transversais e do diálogo entre as ideias discutidas até então. Um consenso foi estabelecido: a necessidade de direcionar o ensino da Educação Física a uma prática autônoma e consciente, que desenvolva o indivíduo em seus aspectos físicos, cognitivos e socioafetivos.
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Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea 
Um dos objetivos dos PCN foi a percepção do praticante como um agente transformador da própria realidade, contribuindo para a melhoria do meio ambiente em que vive. Buscaram desenvolver o autoconhecimento e a autoestima, melhorando as capacidades integrativas, afetivas e físicas dos praticantes, estimulando o conhecimento do próprio corpo e valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida.
Os parâmetros procuraram adotar linguagens diversas e não apenas a esportiva, abordando veículos artísticos e outros próprios das demais disciplinas da educação formal, como a matemática, a interpretação textual e a computação, para desenvolver os aspectos culturais do movimento humano.
Adotando um discurso oficial, porém conciliador, plural e crítico, os PCN se estabeleceram como documento referencial para políticas educacionais na área de Educação Física.
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Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea 
O discurso plural adotado pela prática pedagógica atual busca uma aprendizagem com foco no indivíduo, objetivando benefícios ao seu desenvolvimento harmonioso e integral. O processo pedagógico atual permite ao aluno participar ativamente da construção do conhecimento, saindo da postura exclusiva de receptor e passando a interagir com a aquisição do conhecimento por meio de pesquisas e apresentações de atividades corporais, tais como danças e manifestações folclóricas.
Os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física se diversificaram, incluindo a prática de lutas, danças e jogos de diversas naturezas (recreativos, cooperativos e educativos). A ginástica foi resgatada como forma de expressão e de conhecimento corporal amplo. Apesar da crítica ao tecnicismo esportivista hegemônico do passado, as modalidades esportivas continuam sendo importantes conteúdos das aulas de Educação Física, uma vez que o esporte é uma manifestação cultural contemporânea grande abrangência, porém não é mais a única opção e não é mais voltado ao desenvolvimento da aptidão física, da seleção e da detecção de talentos esportivos 
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Educação Física e aspectos da saúde 
Historicamente, a Educação Física esteve relacionada à área da saúde. O movimento ginástico europeu é visto como um marco importante do surgimento da Educação Física moderna, ocorrido no início do século XIX. Naquele momento, dezenas de pedagogos, pensadores, militares e médicos desenvolveram métodos sistematizados de ginástica voltados à formação do cidadão forte, saudável e produtivo. O exercício físico foi utilizado como ferramenta formadora de corpos ditos saudáveis, aptos a suportar grandes sobrecargas de trabalho, não considerando as pessoas como reais beneficiárias da atividade. Na Europa, por volta de 1830, inúmeros países desenvolviam a ginástica em diversas modalidades: cívica, militar e médica higiênica, esta última amplamente difundida como instrumento gerador da saúde da população, tida até então como o estado físico de bem-estar, vigor e ausência de doença.
A Educação Física no Brasil foi muito influenciada pelas correntes de ginástica da Europa, sobretudo pelas ginásticas militares sueca e francesa, introduzidas pelas escolas militares e depois difundidas em todo o ensino civil. A medicina brasileira também se espelhou no modelo europeu e disseminou forte campanha para a prática de atividades físicas. No início do século XX, o objetivo era formar o indivíduo “saudável”, com uma boa postura e aparência física. Posteriormente, com a
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Educação Física e aspectos da saúde 
implantação do Estado Novo, na década de 1930, surge a tendência militar nos programas de atividade física escolar, privilegiando a eugenia da raça. O exercício físico, segundo as concepções da época, tornaria o povo mais saudável e forte, ajudando a acabar com os degenerados, uma concepção declaradamente racista.
 
Na década de 1970, diversos laboratórios de avaliação física e fisiologia do exercício foram instalados por universidades e centros de pesquisa, visando a obter conhecimentos biológicos para a área da Educação Física. Essa abordagem foi questionada pela corrente mais crítica de estudiosos, pois reforçava o ponto de vista higiênico e até eugênico. A linha de pensamento biológico coexiste, atualmente, em paralelo a correntes críticas, humanistas, construtivistas e desenvolvimentistas, sendo vista como uma abordagem renovada da atividade física como instrumento de promoção de saúde e qualidade de vida.
Atualmente, a saúde é definida não apenas como a ausência de doenças. O conceito contemporâneo de saúde se identifica por meio de diversos aspectos do comportamento humano voltados a um estado de completo bem-estar físico, mental e
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Educação Física e aspectos da saúde 
social. A Educação Física contemporânea se relaciona com essa concepção abrangente e múltipla de saúde. Age como ferramenta de promoção de saúde, atuando na esfera física, melhorando o condicionamento corporal e combatendo o sedentarismo. Atua também nos aspectos psicológicos da saúde ao promover melhora significativa da autoestima e a formação de uma autoimagem positiva, e ainda age em benefício da saúde no âmbito social, promovendo a inclusão em grupos de convívio em academias, clubes e centros esportivos.
 
Além da atividade física, outros fatores comportamentais e ambientais são importantes geradores de saúde, tais como hábitos alimentares, segurança, infraestrutura sanitária, relacionamento afetivosocial estável com amigos, familiares e parceiros. Dessa forma, pode-se entender como saúde as formas e condições de vida promovidas pelas pessoas que geram um estado de bem-estar geral e não apenas físico.
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Educação Física e saúde mundial
 
A tendência mundial de aproximação da Educação Física com a área da saúde pode ser evidenciada com as resoluções da 57ª Assembleia Mundial, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, evento que propôs aos países-membros a Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, aprovada pela resolução WHA 57.17. 
De forma convergente a essas resoluções, as ações específicas priorizadas pela Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), criada em 2006, incluem a prática corporal e a atividade física (PCAF) nas ações na rede básica de saúde e na comunidade, fundamentando a inserção do profissional da Educação Física no Serviço de Atenção Básica ao compor as equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
As equipes do NASF são multidisciplinares e visam a melhorar a qualidade de vida da população em ações ativas domiciliares e também em Unidades Básicas de Saúde (UBSs). São médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e professores de Educação Física, que agem em programas voltados para o atendimento às necessidades de saúde e para a propagação de informações e bons hábitos geradores de qualidade de vida de forma preventiva.
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Educação Física e saúde mundial
 
A ação dos profissionais de Educação Física nas equipes do NASF se apoia no conceito de educação para a saúde. O papel da educação na promoção da saúde é fortalecer a ação individual e coletiva, estimulando a autonomia da comunidade, além do desenvolvimento de habilidades individuais de modo a contribuir para que sua participação seja efetiva. A promoção da saúde deverá ser viabilizada por meio da educação em saúde, enquanto processo político de formação para cidadania ativa, contribuindo para a construção de posturas autônomas em relação à própria saúde, sendo de fundamental importância a sedimentação de novos significados e valores para melhoria da sua qualidade de vida.
No NASF, o profissional de Educação Física tem uma perspectiva de atuação voltada à capacitação da comunidade para melhorar a sua qualidade de vida, considerando não apenas as necessidades percebidas, mas o seu contexto cultural. A importância do profissional de Educação Física é evidenciada ao favorecer abordagens da diversidade das manifestações da cultura corporal presentes localmente, bem como das difundidas nacionalmente, procurando expandir as possibilidades de exercícios em programas que não se restrinjam a ações tecnicistas dos clássicos da Educação Física, pois os resultados da adesão da comunidade dependem do nível de adequação das propostas aos costumes e contexto locais.
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Atividade física e nível socioeconômico
 
O sedentarismo é o fator de risco das doenças crônicas não transmissíveis mais importantes na sociedade contemporânea. Os índices de sedentarismo alcançam níveis maiores que outros indicativos para doenças degenerativas, tais como o fumo, a hipertensão arterial e o excesso de peso corporal, sendo que esses fatores estão muitas vezes associados. Entretanto, percebe-se que pessoas ativas fisicamente possuem índices de morbidade e mortalidade menores, mesmo apresentando outros fatores de risco, como diabetes, obesidade e hipertensão arterial.
Devido à atividade física regular ser considerada componente importante para a saúde, é de extrema importância torná-la um hábito entre os indivíduos. Aspectos socioeconômicos parecem estar relacionados ao grau de envolvimento com atividades físicas na vida diária. As condições socioeconômicas têm uma forte associação com a morbidade e com a mortalidade, incidindo sobre a prevalência de fatores de risco para algumas doenças, tais como obesidade e doenças associadas com o hábito de fumar e com o sedentarismo.
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Atividade física e nível socioeconômico
 
O nível de escolaridade indica que indivíduos com menor grau de instrução possuem menores índices semanais de atividade física. A escolaridade está diretamente relacionada com a ocupação profissional e a remuneração. Indivíduos com maior escolaridadetendem a ter melhor nível socioeconômico. As pessoas com menor escolaridade tendem a ter ocupações profissionais com maior carga horária semanal, o que diminui o tempo livre para a prática de exercícios físicos. As pessoas com menor remuneração tendem a usar o transporte público e possuem residência em locais periféricos, distantes de seus locais de trabalho. Em consequência disso, tendem a gastar um tempo maior no trajeto da residência ao trabalho, o que diminui o tempo destinado para o lazer e para o exercício físico.
A prática de exercícios físicos regulares na vida adulta tem relação com a prática de exercícios na Educação Física escolar e com a prática esportiva extracurricular durante a infância e a adolescência. Percebe-se que as crianças e os jovens de nível socioeconômico mais elevado possuem mais acesso à prática de exercícios físicos sistematizados. O desenvolvimento de hábitos saudáveis durante a infância é de grande importância para que esses hábitos sejam mantidos na vida adulta.
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Atividade física e nível socioeconômico
 
Os aspectos sociais e econômicos podem ter alguma influência sobre o estado de saúde da sociedade, bem como sobre a prevenção primária das doenças. O enredo de globalização da economia, que provoca alta competitividade, desemprego, insegurança no trabalho, desigualdades sociais, baixa coesão social etc., poderia estar provocando uma elevada pressão sobre os trabalhadores e, por isso, favoreceria o aumento do estresse, da pressão arterial e das doenças cardiovasculares. Por outro lado, o trabalhador estaria com seu tempo diminuído para cuidar de si próprio, além de haver um maciço programa de marketing desenvolvido para vender cigarros, alimentos do tipo fast-food e/ou refrigerantes, os quais, notadamente, favorecem uma pior condição de saúde.
A sociedade deve mudar sua interpretação sobre a saúde e deixar de entendê-la apenas como estado de ausência de doenças, passando a visualizá-la como um estado de bem-estar físico, social e mental. Dessa forma, os esforços e os gastos públicos com a saúde deveriam ser deslocados para ações preventivas que melhorassem a qualidade de vida da população e evitassem o surgimento de doenças degenerativas. Essas ações passam pela estabilidade econômica, que permitiria uma melhor condição socioeconômica para as pessoas e maior tempo livre para o lazer e para a prática de exercícios físicos sistematizados.

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