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REFLEXOS DA REFORMA TRABALHISTA (Lei 13.467/2017) NAS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS Adilson Rinaldo Boaretto Advogado O que é Negociação Coletiva de Trabalho? A negociação coletiva é o mais importante instrumento das relações do trabalho. Por meio dela se permite que empregados e empresas, ainda que indiretamente, estabeleçam, de comum acordo, regulação específica e adequada para as diferentes realidades de trabalho existentes. Quais são as partes envolvidas numa negociação coletiva? Quando negociam Sindicato(s) de Empregados X Sindicato(s) de Empregadores o resultado desejado é a celebração de uma CCT – Convenção Coletiva de Trabalho. Quando negociam Sindicato de Empregados X Empresa(s) o resultado desejado é a celebração de um ACT – Acordo Coletivo de Trabalho. PREVALÊNCIA DO ACT EM RELAÇÃO A CCT Art. 620. As condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho. Entendeu o legislador que, por ser mais específico, o acordo coletivo sempre deve prevalecer sobre a convenção coletiva, independentemente de ser mais favorável ao trabalhador. Princípios da Negociação Coletiva: Princípio da Inescusabilidade Negocial (Art. 616 da CLT) Princípio da lealdade e Transparência; Princípio da obrigatoriedade da atuação Sindical; Princípio da paz social. Também não se pode perder de vista outros princípios que norteiam o Direito do Trabalho, a saber: Princípio da proteção ao empregado; Princípio da primazia da realidade; Princípio da continuidade; Princípio da inalterabilidade contratual lesiva; Princípio da intangibilidade salarial; Princípio da irrenunciabilidade de direitos. Qual a importância da Negociação Coletiva? A negociação coletiva é considerada o melhor sistema para resolução de conflitos, que são inerentes a condição de empregado e empregador, não apenas para regular aumento salarial e estabelecer condições laborais, mas permite a regulação das relações de trabalho entre as partes de forma profunda. Nesse sentido, a Lei no 13.467/2017, traz o importante fortalecimento da negociação coletiva ao estabelecer explicitamente a prevalência do negociado sobre o legislado, desde que observadas as condições mínimas estabelecidas na lei. Quais são os tipos de Negociação Coletiva de Trabalho? Existem quatro tipos de negociação coletiva, a saber: a) negociação coletiva de criação, quando não há convenção coletiva preexistente, e cria-se a solução para um conflito (inerente a condição de empregado e empregador); b) negociação coletiva de modificação, quando há apenas a alteração de cláusulas da convenção vigente; c) negociação coletiva de substituição, usada para substituir uma convenção coletiva por outra; e d) negociação coletiva de esclarecimento, cuja finalidade é apenas de interpretação da convenção coletiva vigente. Os Sindicatos (empregado e empregadores) estão preparados para esse novo momento??? ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO: A não realização da reforma sindical aprovada pelo FNT e encaminhada para o congresso em 2005; Fragmentação expressiva de entidades sindicais laborais. Em 2006 foi autorizada a criação de 9.382 sindicatos, mais da metade dos 17.xxx de hoje. São 11.xxx sindicatos de trabalhadores, 5.xxx de empregadores, sem contar federações, centrais, associações, conselhos de classe etc. Surgimento de milhares de sindicatos de fachada; Diminuição do índice de participação nas assembleias sindicais; Acomodação e falta de renovação das lideranças sindicais; Crescente enfrentamento com o Ministério Público do Trabalho; Aumento da litigiosidade por questões contributivas e anulatórias de cláusulas convencionadas; Aumento dos ataques da mídia por conta das mobilizações (greves, protestos, etc.) e, nos últimos anos, associando a assunção ao poder dos partidos de esquerda ao patrocínio sindical, principalmente nas redes sociais. A Lei 13.467/2017 MANTEVE TODAS AS ATRIBUIÇÕES AOS SINDICATOS E DIMINUIU SUA CONDIÇÃO DE ENFRENTAMENTO A Lei 5584/70 - Art 14. Estabeleceu que na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador. Art. 8º da CF - É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; O STF decidiu que a Contribuição Confederativa (Art. 8º, IV da CF) e a Contribuição Assistencial (Art. 513 da CLT) são devidas apenas pelos associados do sindicato. A lei 13.467/2017 alterou o disposto no Art. 579 da CLT, condicionando o desconto da contribuição sindical a autorização prévia e expressa dos que participem de uma determinada categoria econômica ou profissional; Já no Art. 611-B, XXVI, também condicionou o desconto de qualquer contribuição a ser inserida nos instrumentos coletivos a prévia e expressa anuência do trabalhador. O QUE MUDOU ATÉ AGORA? PANORAMA ATUAL: Quanto as partes - Os Sindicatos profissionais continuam sendo indispensáveis no processo negocial coletivo (Art. 8º, III e VI da CF). Quanto ao conteúdo - A nova lei trouxe parâmetros mais objetivos do que pode e o que não pode ser negociado, apesar do Art. 611- A trazer um rol de possibilidades, este é puramente exemplificativo. Quanto ao objetivo perseguido - Verifica-se que estamos num momento de transição, onde as representações de empregados procuram resistir a inovações e garantir sua sobrevivência econômica, enquanto as representações do setor econômico procuram consolidar a nova legislação, trazendo para o abrigo do instrumento coletivo as novas possibilidades. O QUE DEVE MUDAR? PANORAMA DE CURTO PRAZO Quanto as partes - Os Sindicatos profissionais continuarão sendo indispensáveis no processo negocial coletivo (Art. 8º, III e VI da CF). As Comissões de Empregados prevista na nova lei não alcançarão tal prerrogativa. O efetivo exercício da negociação é que fortalecerá a instituição. As partes buscarão se preparar melhor (tecnicamente) para o exercício da negociação. Quanto ao conteúdo – Haverá maior preocupação com a redação dos instrumentos, que por sua vez tratará de matéria antes não abordada nas negociações coletivas. Quanto ao objetivo perseguido - O Equilíbrio, a satisfação das partes com o resultado obtido. A nova lei será interpretada em harmonia com os princípios jurídicos trabalhistas para garantir maior segurança jurídica ao pactuado. PANORAMA DE MÉDIO/LONGO PRAZO: Mais negociação com novos e variados temas Negociações mais complexas Maior preparo do negociadores Fortalecimento do Acordo Coletivo de Trabalho Dirigentes sindicais laborais cada vez mais preparados Necessidade de sustentabilidade dos negócios e das relações de trabalho Mais transparência e participação nas negociações Maior participação dos trabalhadores e empregadores nas assembleias sindicais Fortalecimentos das entidades sindicais pelo exercício da negociação Mais clareza na redação dos instrumentos coletivos “Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I - pacto quantoà jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; II - banco de horas anual; III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei no 13.189, de 19 de novembro de 2015; V - plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI - regulamento empresarial; VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X - modalidade de registro de jornada de trabalho; . XI - troca do dia de feriado; XII - enquadramento do grau de insalubridade; XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV - participação nos lucros ou resultados da empresa. § 1o No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3o do art. 8o desta Consolidação. § 2o A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico. § 3o Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. § 4o Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito. § 5o Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos.” Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: I - normas de identificação profissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III - valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); IV - salário mínimo; V - valor nominal do décimo terceiro salário; VI - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; VII - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; VIII - salário-família; IX - repouso semanal remunerado; X - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% (cinquenta por cento) à do normal; XI - número de dias de férias devidas ao empregado; XII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XIII - licença-maternidade com a duração mínima de cento e vinte dias; XIV - licença-paternidade nos termos fixados em lei; XV - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; . XVI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XVII - normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; XVIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas; XIX - aposentadoria; XX - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador; XXI - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; XXII - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; XXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; XXIV - medidas de proteção legal de crianças e adolescentes; XXV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso; XXVI - liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; XXVII - direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender; XXVIII - definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve; XXIX - tributos e outros créditos de terceiros; XXX - as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 desta Consolidação. Parágrafo único. Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo.” Recomendações: TER PREDISPOSIÇÃO PARA A BUSCA DE ENTENDIMENTO ADOTAR POSTURA ÉTICA SEMPRE TER CONHECIMENTO DA LEGISLAÇÃO E DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ESTABELECER DE IMEDIATO UMA AGENDA DE REUNIÕES FORMALIZAR O REGISTRO DAS REUNIÕES EM ATAS ASSEGURAR-SE DA LEGITIMIDADE DO REPRESETANTE – Inclusive das providências burocráticas pertinentes para a referida negociação. ZELAR PELO BOM RELACIONAMENTO – o bom relacionamento se constrói ao longo do tempo e é necessário para o alcance de negociações bem sucedidas. DEDICAR-SE TAMBÉM AS EXPLICAÇÕES DA CLÁUSULAS – Os “considerandos” por vezes são mais importante que as próprias cláusulas. Relação Empresa x Sindicato Os Sindicatos terão que se “reinventar” - essa é a palavra de ordem - para enfrentarem os desafios dos novos tempos. O efetivo exercício da negociação coletiva ética, equilibrada e bem instrumentalizada é o caminho. Concluindo: “Essa reforma trará desafios para toda a sociedade. Para os sindicatos a necessidade de romperem definitivamente com paradigmas antigos e se reinventarem; para as empresas os mais variados tipos de impactos, desde a necessidade de mudanças na forma de relacionamento com seus empregados, alterações sistêmicas para processamento da folha de pagamento e muitas outras, inclusive de preservarem os sindicatos, pois são vitais para toda a sociedade” OBRIGADO! Adilson Rinaldo Boaretto adilson@arboaretto.adv.br
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