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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ FENÔMENOS DE TRANSPORTE Professor: Rosemberg 2015 2 Capítulo I – Definição e propriedades dos fluidos I.1-Definição de fluido A matéria apresenta-se no estado sólido ou no estado fluido, este abrangendo os estados líquido e gasoso. O espaçamento e a atividade intermoleculares são maiores nos gases, menor nos líquidos e muito reduzido nos sólidos. Figura 1 – Configuração das moléculas nas três fases da matéria Os sólidos cristalinos tem tipicamente superfícies planas bemdefinidas, chamadas de faces do cristal, que fazem ângulos definidos umas com as outras. Essas faces são formadas por camadas ordenadas de átomos. Sólidos amorfos não têm faces bem- definidas a menos que tenham sido cortados ou molhados. Figura 2 – Arranjos cúbicos de sólidos 3 O arranjo de átomos, íons e moléculas dentro de um cristal é determinado por difração de Raios –X. Cada arranjo mostrado acima possibilita um empacotamento dos átomos levando a densidades diferentes. Figura 3 – Densidade atômica dos arranjos cúbicos de sólidos Fluido é qualquer substância que se deforma continuamente quando submetido a uma tensão de cisalhamento, ou seja, ele escoa isso implica se o fluido permanece estático não existirão forças de cisalhamento atuando. Fluidos existem como líquido (água, gasolina), gás (ar, hidrogênio) e como uma combinação de líquido e gás (vapor úmido). Todos os fluidos possuem certo grau de compressibilidade e oferecem pequena resistência à mudança de forma. A força ∆F que age em uma área ∆A pode ser decomposta em uma componente normal ∆F n e uma componente tangencial ∆Ft, como mostra a Figura abaixo. A força dividida pela área na qual ela age é chamada tensão. O vetor força dividida pela área é o vetor de tensão, a componente normal da força dividida pela área é a tensão normal e a força tangencial dividida pela área é a tensão de cisalhamento. Figura 4 – Representação esquemática dos tensores sobre uma superfície. A Tensão de Cisalhamento é a razão entre a o módulo da componente tangencial da força é a área da superfície sobre a qual a força está sendo aplicada. Equação 01 4 I.2-Propriedades dos fluidos As propriedades dadas no presente material são aquelas gerais de fluidos que são de interesse em Engenharia: Massa específica, peso específico, densidade, viscosidade cinemática, viscosidade dinâmica. I.2.1 – Viscosidade absoluta ou dinâmica(µ) � Consideremos um fluido em repouso entre duas placas planas. Suponhamos que a placa superior em um dado instante passe a se movimentar sob a ação de uma força tangencial. � A força Ft, tangencial ao fluido, gera uma tensão de cisalhamento. � O fluido adjacente à placa superior adquire a mesma velocidade da placa (princípio da aderência) � As camadas inferiores do fluido adquirem velocidades tanto menores quanto maior for a distância da placa superior ( surge um perfil de velocidades no fluido ). Também pelo princípio da aderência, a velocidade do fluido adjacente à placa inferior é zero. � Como existe uma diferença de velocidade entre as camadas do fluido, ocorrerá então uma deformação contínua do fluído sob a ação da tensão de cisalhamento. As partículas fluidas juntas ás superfícies sólidas adquirem as velocidades dos pontos das superfícies com as quais estão em contato, fenômeno denominado Princípio da aderência. Figura 5 – Deformação de um fluido entre duas placas A definição de viscosidade está relacionada com a Lei de Newton: “A tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à variação de velocidade ao longo da direção normal as placas” Na medida em que afasta da parede, a velocidade do fluido relativa à parede aumenta, variando desde a velocidade da superfície (zero) até um valor máximo finito (V0). Essa variação de velocidade é chamado de perfil de velocidade ou gradiente de velocidade. 5 A relação de proporcionalidade pode ser transformada em igualdade mediante uma constante, dando origem à equação 1 ( Lei de Newton ). Equação 02 A viscosidade dinâmica ( µ ) é o coeficiente de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento e o gradiente de velocidade. O seu significado físico é a propriedade do fluidoatravés da qual ele oferece resistência às tensões de cisalhamento. Os fluidos que apresentam esta relação linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação são denominados newtonianos e representam a maioria dos fluidos. O valor da viscosidade dinâmica varia de fluido para fluido e, para um fluido em particular, esta viscosidade depende muito da temperatura. Os gases e líquidos tem comportamento diferente com relação à dependência da temperatura, conforme mostra a Tabela 1: A Tabela 2 abaixo mostra a relação entre a viscosidade absoluta e o comprimento de cadeia de Hidrocarbonetos. Tabela 2 – Valores de viscosidade de alguns hidrocarboneto. As unidades de viscosidade nos sistemas de unidades mais comuns são : 6 CGS : [µ] poise = dina x s / cm2 { poise = 100 cetipoise (cp) } Métrico Gravitacional ( MK*S ) : [µ] = kgf × s/ m2 Sistema Internacional ( SI ) : [µ] = N x s / m2 {1 N/m2 = 1 Pa (Pascal)} I.2.2 - Massa específica (ρ), Peso específico(γ) e densidade relativa(d) � Massa específica é a razão entre a massa do fluido e o volume que contém esta massa. Equação 03 Onde: ρ = massa específica ou densidade absoluta; m = massa do fluido; V = volume do fluido. A Tabela 3 mostra a massa específica para alguns fluidos e sólidos a 20ºC. Tabela 3 - massa específica para alguns fluidos e sólidos a 20ºC As unidades de massa específica nos sistemas de unidades mais comuns são: No CGS: 7 No SI: No MKS: � Peso específicoé a é a razão entre o peso do fluido e o volume que contém esta quantidade de matéria. Equação 04 As unidades de Peso específico nos sistemas de unidades mais comuns são: No CGS: No SI: No MKS: � Densidade relativa é a razão entre a massa específica do fluido em questão e a massa específica de uma substância de referência numa temperatura definida, sendo assim uma grandeza adimensional. Se o fluido for líquido a substância de referência é a água a 25ºC e se o fluido for um gás a substância de referência é o ar a 25ºC. Equação 05 Na indústria do petróleo, a densidade relativa de derivados do petróleo é geralmente dado em termos de uma escala hidrométrica chamada °API. é uma escala arbitrária que mede a densidade dos líquidos derivados do petróleo. Foi criada pelo American Petroleum Institute - API, juntamente com a National Bureau o fStandards.Quanto maior densidade o óleo tiver, menor será seu grau API. O º API é calculado segundo a expressão: 8 Equação 06 Petróleos com °API maior que 30 são considerados leves; entre 22 e 30 °API, são médios; abaixo de 22 °API, são pesados; com °API igual ou inferior a 10, são petróleos extra pesados. Obs: A indústria do petróleo elegeu a temperatura de 60°F (15,5°C) como a temperatura padrão. I.2.3– Viscosidade cinemática( ) - É a razão entre a viscosidade absoluta e a massa específica do fluido, ou seja: Equação 07 As unidades de Viscosidade cinemática nos sistemas de unidades maiscomuns são:No CGS: (Stokes) No SI: No MKS: Exercícios resolvidos 1) Um reservatório reservatório de óleo que possui uma massa de 825 kg tem uma capacidade de 0,917 m3 determine a massa específica, peso específico e densidade do óleo. 9 2) Um fluido tem uma viscosidade dinâmica de 5x10-3 N.s/m2 e uma massaespecífica de 0,85kg/dm3. Determinar asua viscosidade cinemática. 3) Duas placas planas paralelas estão situadas a 3mm de distância. A placa superior move-se com velocidade de 4m/s, enquanto a inferior está imóvel. Considerando que um óleo(v=0,15Stokes e ρ=905Kg/m3) ocupa o volume entre elas, determinar a tensão de cisalhamento que agirá sobre o óleo. V=0,15Stokes=0,15cm2/s=1,5m2/s Como x905=0,0136(N.s)/m2 Logo: ou seja =18,1Pa 10 Capítulo I I – Fundamentos da Hidrostática II.1 – Introdução Considera-se um fluido em repouso quando não há velocidade diferente de zero em nenhum dos seus pontos e, neste caso, esta condição de repouso é conhecida por Hidrostática. Os princípios da Hidrostática ou Estática dos Fluidos envolvem o estudo dos fluidos em repouso e das forças sobre objetos submersos. II.2 – Lei de Stevin Considere um elemento de fluido em repouso num referencial inercial conformeo esquema mostrado na figura 6. Figura 6 – Elemento de um fluido em repouso Em cada uma das faces do elementoo vetor tensão t tem módulo igual a pressão p orientado normalmente`a face no sentido de compressão, e o elemento está sujeito ao seu peso (força do corpo) na direção vertical. Obviamente, nas direções x e y as forças de superfície nas faces opostas devem se equilibrar. A resultante das forças desuperfície na direção z é: Equação 8 e a força peso(gravitacional) Equação 9 11 Uma vez que a resultante total deve ser nula (caso contrário o fluido aceleraria) tem- se: Eq. 10 Dividindo (Eq. 10) pelo volume do elemento ∆x∆y∆z: Equação 11 Tomando-se o limite quando ∆z → 0, tem-se a Equação Diferencial da Hidrostática: Equação 12 Conclusões: 1 – A diferença de pressões entre 2 pontos de uma massa líquida em equilíbrio é igual à diferença de profundidade multiplicada pelo peso específico. 2 – No interior de um fluido em repouso, pontos de uma mesma profundidade suportam a mesma pressão. II.3 – Princípio de Pascoal Segundo Pascal: “A pressão exercida sobre a superfície da massa líquida é transmitida no seu interior, integralmente e em todas as direções.” A Figura 7 mostra como este princípio é aproveitado através do funcionamento de uma prensa hidráulica. Quando uma força F1 é exercida para baixo sobre o pistão menor de área A1 (ramo da esquerda), o líquido (incompressível) contido no dispositivo exerce uma força para cima de módulo F2 sobre o pistão maior de área A2 (ramo da direita). A fim de manter o sistema em equilíbrio, uma carga externa (não mostrada) deve exercer uma força para baixo no valor de F2 sobre o pistão menor. A variação de pressão ∆P produzida pela força de entrada F1 exercida pelo pistão 12 menor é transferida ao pistão maior, sobre o qual passa a atuar uma força de saída F2. A equação que segue relaciona estas grandezas: Figura 7 – Prensa hidráulica Equação 13 Como A2 > A1, pela relação acima fica claro que a força de saída F2 exercida sobre a carga é maior que a força de entrada F1. Exemplo:Uma prensa hidráulica tem dois êmbolos de áreas iguais a 10 cm2 e 80 cm2. Calcular a força transmitida ao êmbolo maior, quando se aplica ao menor uma força de 120 N. II.3 – Princípio de Arquimedes 13 “Um corpo total ou parcialmente imerso em um fluido em equilíbrio recebe uma força vertical para cima denominada empuxo, de intensidade igual, mas de sentido contrário ao peso da porção deslocada de fluido e aplicada no ponto onde estava localizado o centro de massa desta porção de fluido.” Figura 8 – Corpo imerso em um fluido estático Esta força denominada empuxo será tanto maior quanto mais denso for o líquido e sua origem está relacionada com o fato da pressão no líquido aumentar com a profundidade (Princípio de Stevin). Considere um objeto totalmente imerso em um fluido estático, como na Figura 8. Considere, também, elementos finitos de volume que serão utilizados para determinação da força vertical sobre o corpo em função da pressão hidrostática. Da Equação 12 tem-se: Equação 14 A força vertical dFE resultante sobre o volume elementar é igual a: Observe que (h2-h1)dA = dV é volume do elemento cilíndrico. A força total FB denominada força de empuxo é obtida por integração sobre todo o volume do objeto, ou seja: Equação 15 Onde V é o volume do objeto. Como ρliq é a densidade do líquido (e não do objeto), temos que ρliq.V corresponde à massa do líquido deslocado pela imersão do objeto e 14 então pode-se anunciar o resultado anterior (equação 2.20) como Princípio de Arquimedes. II.3.1 - Equilíbrio de corpos imersos e flutuantes Seja um corpo mergulhado em um líquido. Sabemos que apenas duas forças agem sobre ele: o seu peso P e o empuxo E. Distinguem-se três casos, que veremos a seguir: 1° caso: O peso é maior que o empuxo (P > E). Neste caso o corpo descerá com aceleração constante (condições ideais). Verificando-se as expressões de P e E, conclui-se que isso acontecerá se a densidade do corpo for maior que a densidade do líquido. 2° caso: O peso é menor que o empuxo (P < E). Neste caso o corpo subirá com aceleração constante até ficar flutuando na superfície do líquido. Isso acontecerá quando a massa específica do corpo for menor que a massa específica do líquido, isto é, Quando o corpo, na sua trajetória de subida, aflorar na superfície do líquido, o empuxo começará a diminuir, pois diminuirá a parte submersa e, portanto, o volume do líquido deslocado. O corpo subirá até que o empuxo fique igual ao peso do corpo, que é constante. Nesta condição (P = E) o corpo ficará em equilíbrio, flutuando no líquido. 3° caso: O peso é igual ao empuxo (P = E). Neste caso o corpo ficará em equilíbrio, qualquer que seja o ponto em que for colocado. Isso acontecerá quando a massa específica do corpo for igual a massa específica do líquido, isto é, Exemplo 1: Um cubo de madeira de densidade 0,2 g/cm3 e aresta 20 cm flutua na água. Determinar a altura da parte imersa do cubo. Considere a densidade da água igual a 1 g/cm3. Como Vc = Vl 15 Capítulo III – Fundamentos da Hidrodinâmica. 16 A hidrodinâmica estuda o comportamento dos fluidos em movimento, abrangendo uma gama enorme de fenômenos comuns do nosso dia-a-dia. As equações desenvolvidas é a base para o dimensionamento de bombas, compressores, tubulações, válvulas, tanques, torres, entre outros inúmeros equipamentos que trabalham com o escoamento de um fluido, seja ele líquido ou gasoso. III. 1 – Definições III.1.1 – Linha de corrente Linha de Corrente é a linha tangente aos vetores velocidades de diferentes partículas no mesmo instante. Figura 8 – Representação de linha de corrente em escoamento de fluido No interior de um fluido em escoamento existem infinitas linhas de corrente, definidas por suas partículas fluidas. III.1.2 – Movimento permanente Quando fixado um ponto num sistema de referência, neste ponto, com o decorrer do tempo, não mudam as propriedades. 17 O nível do reservatório não muda com o tempo. Figura 9 – Representação de um movimento permanentede um fluido III.1.3 - Movimento Transiente ou não permanente Quando fixado um ponto num sistema de referência, neste ponto, com o decorrer do tempo, mudam as propriedades. 18 O nível do reservatório diminui com o tempo. Figura 10 – Representação de um movimento transiente III.1.4 –Vazão volumétrica (Q) É o volume de fluido que atravessa uma secção transversal por unidade de tempo e pode ser calculado segundo a equação: t VQ = Equação 16 Velocidade média é uma velocidade fictícia constante na seção tal que multiplicada pela área resulta na vazão do líquido. Q = A.Vm Equação 17 Nos sistemas usuais são as seguintes as unidades utilizadas: 19 • sistema CGS: cm3/s (centímetro por segundo); • sistema MKS (técnico): m3/s (metro cúbico por segundo); • sistema SI: m3/s (metro cúbico por segundo); III.1.5 –Vazão Mássica (Qm) É o massa de fluido que atravessa uma secção transversal por unidade de tempo e pode ser calculado segundo a equação: t mQ = Equação 18 Nos sistemas usuais são as seguintes as unidades utilizadas: • sistema CGS: g/s (grama por segundo); • sistema MKS (técnico): utm/s (unidade técnica de massa por segundo); • sistema SI: Kg/s (Quilograma por segundo); A vazão mássica relaciona-se com a vazão volumétrica segundo a equação: QQm .ρ= Equação 19 20 III.1.6 – Escoamento compressível e incompressível Os escoamentos onde as variações de densidade do fluido são desprezíveis denominam-se incompressíveis. Quando estas variações não podem ser desprezadas os escoamentos são ditos compressíveis. Para a maioria dos casos práticos os escoamentos de líquidos são incompressíveis. Os gases também podem se comportar como fluidos incompressíveis desde que a velocidade do escoamento seja pequena em relação à velocidade do som neste gás. C vM = Equação 20 M = número de Mach, V = velocidade do fluido, C = velocidade do som Para M < 0,3, a variação da massa específica é inferior a 5% e o escoamento pode ser considerado incompressível. III.2 – Equação da Continuidade Figura 11 – Volume de controle diferencial em coordenadas retangulares. 21 Pelo Princípio da conservação de massa aplicado ao volume de controle da Figura 11 temos: 0 controle de volume dointerior no massa da Variação controle de superfície da através massa de fluxo O = + Matematicamente temos: 0... = ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ tz w y v x u ρρρρ Equação 21 Aplicando o princípio de conservação da massa para um escoamento permanente unidimensional de um fluido em uma tubulação sem bifurcação temos: Figura 12 – Conservação de massa em escoamento de fluido em tubulação. 222111 .... vAvA ρρ = Equação 22 Para fluidos incompressíveis a equação 22 pode ser simplificada em: 2211 .. vAvA = Equação 23 22 Exemplo 1 - Ar escoa num tubo convergente. A área da maior seção do tubo é 20 cm² e a da menor é 10 cm². A massa específica do ar na seção 1 é 0,12 utm/m³ enquanto que na seção 2 é 0,09 utm/m³. Sendo a velocidade na seção 1 de 10 m/s, determinar a velocidade na seção 2 e a vazão em massa. Aplicando a equação da continuidade ao sistema temos: Como mQvAvA == 222111 .... ρρ temos: III.3 – Classificação do escoamento Em 1883, Osborne Reynolds publicou um estudo sobre os escoamentos que atualmente é conhecido como Experimento de Reynolds, que consiste 23 basicamente na injeção de um corante líquido na posição central de um escoamento de água interno a um tubo circular de vidro transparente. O comportamento do filete de corante ao longo do escoamento no tudo define três características distintas (Gomes, M. H. R). Os escoamentos viscosos são classificados como escoamentos laminar e turbulento tendo por base a sua estrutura. O escoamento laminar se caracteriza pelo movimento suave e em lâminas ou camadas de fluidos. O escoamento turbulento é caraterizado por movimentos aleatórios, tridimensionais de partículas fluidas adicionadas ao movimento principal. No escoamento laminar é válida a relação entre a tensão de cisalhamento e o gradiente de velocidade (lei de viscosidade de Newton). Para o escoamento turbulento flutuações aleatórias e tridimensionais da velocidade transportam quantidade de movimento através das linhas de corrente do escoamento aumentando a tensão de cisalhamento efetiva. Desta forma nos escoamentos turbulentos não existe uma relação universal entre o campo de tensões e o campo de velocidades. Segundo Reynolds o escoamento pode ser classificado em: Laminar ou Turbulento. Figura 13 – Representação esquemática do experimento de Reynolds(. Para caracterizar se um escoamento é laminar ou turbulento existe um parâmetro adimensional denominado número de Reynolds (Re): Equação 24 Onde: V é uma velocidade característica do escoamento; ρ _ é a massa específica; D – é o diâmetro da tubulação µ é a viscosidade dinâmica do fluido; v é a viscosidade cinemática do fluído. A partir das conclusões de Reynolds temos: Re ≤ 2000 - tem-se o escoamento laminar; 2000 < Re < 2400 - tem-se o escoamento em transição; Re >2400 tem-se o escoamento turbulento. 24 Exemplo 1- Água flui por um tubo de 1in de diâmetro interno. A viscosidade cinemática da água é10–5ft2/s. Determinar a maior vazão possível em que o fluxo ainda seja laminar. Exemplo 2 Calcular o número de Reynolds e identificar se o escoamento é laminar ou turbulento sabendo-se que em uma tubulação com diâmetro de 4cm escoa água com uma velocidade de 0,05m/s. Dados: µ = 1,0030 × 10−3 Ns/m² e ρ=1000kg/m3 Re=1994 (Escoamento laminar) II.4 – Equação da conservação de Energia para um Volume de Controle A primeira lei da termodinâmica é um enunciado da conservação de energia aplicado a um sistema. Esse princípio de conservação afirma que a soma algébrica de toda energia que cruza a fronteira do sistema deve ser igual à variação na energia do sistema. Como calor (Q) 25 e trabalho (W) são as únicas formas de energia (E) que podem atravessar uma fronteira de sistema, pode-se escrever a primeira lei (para um processo que conduz o sistema do estado 1 para um estado 2): Q 1→ 2 Calor trocado com o sistema durante o processo 1 → 2, ou apenas Q W1→ 2 Trabalho trocado com o sistema durante o processo 1 → 2, ou apenas W O sinal negativo do trabalho é proveniente da convenção de sinais: Q – calor: é definido como a energia em transito devido à diferença de temperaturas e que não esta associada com transferência de massa. Calor não é energia armazenada ou possuída por um sistema ou volume de controle, ou seja, não é uma propriedade (propriedade é qualquer característica observável do sistema). A troca de calor de ou para um sistema necessariamente exige uma mudança de estado daquele sistema e a quantidade de calor trocada é uma função do caminho que o sistema segue durante o processo que causa a mudança de estado. W – trabalho: forma de energia em transito não associada com transferência de massa, e devido à diferença de um potencial que não seja temperatura. Do mesmo modo que o calor não é uma propriedade do sistema. O volume de controle (∀C)ilustrado abaixo (em linha tracejada) é usado para obtenção da equação da conservação da energia. Uma quantidade de massa, ou seja, um sistema, que ocupa diferentes regiões nos instantes t e t + ∆t é mostrado atravessando o volume de controle. Equação 25 26 Em um determinado instante de tempo t a energia do volume de controle é )(tEVC e corresponde a soma da energia interna, cinética e potencial gravitacional da massa contida no volume de controle. Passado um intervalo de tempo ∆t, o fluido contido na região (1) indicada na figura, entra completamente no volume de controle. Simultaneamente outra quantidade de fluido (que estava no volume de controle) sai pela região (2). Para os dois instantes no tempo a energia do sistema é: (sistema formado pela região 1 e o volume de controle) (sistema formado pela região 2 e o volume de controle) Durante o intervalo de tempo em que há escoamento, calor e trabalho são trocados com o meio. A massa e energia dentro do volume de controle podem variar, e as massas, m 1 e m 2 não são necessariamente iguais. Usando a equação da conservação de energia para o sistema (Eq.25) temos: WQtEttE −=−∆+ )()( Equação 28 Substituindo as equações Eq.26 e Eq.27 na Eq.28: Rearranjando a última equação: Dividindo pelo intervalo de tempo ∆t: Equação 27 Equação 26 Equação 27 Equação 28 27 Tomando o limite para o intervalo de tempo tendendo a zero: Assim: Generalizando para diversas entradas e saídas: II.4 – Equação de Bernoulli Considerando o desenvolvimento de um escoamento em regime permanente, na ausência de trocas de calor, máquinas e perdas 21,0,0 uuWQ vc === e .. 2 . 1 mmm == ainda fluido incompressível ( 21 ρρ = ) Simplificando: Dividindo pela aceleração da gravidade: Equação 29 Equação 30 Equação 31 Equação 32 Equação 33 Equação 33 28 A equação Eq.34 é conhecida como Equação de Bernoulli. Muitos livros texto adotam a nomenclatura “carga” (H): Deste modo, a equação de Bernoulli pode ser escrita da seguinte forma: 21 HH = Exemplo 1 : Determine a velocidade do jato de líquido na saída do reservatório de grandes dimensões mostrado na figura. Considere ρ=1000Kg/m3 e g=10m/s2 Aplicando a Equação de Bernoulli entre os ponto 1 e 2 temos: Conclui-se que: 2 2 1 **2 zgV = ∴ 21 **2 zgV = Substituindo temos: 5*10*21 =V V1= 10m/s Equação 34 Equação 35 Equação 36 29 Fundamentos da Transferência de Calor Índice Capítulo 1 – Conceitos Fundamentais Capítulo 2 – Equações Básicas da Transferência de Calor por Condução Capítulo 3 – Condução de Calor Unidimensional em Regime Permanente Capítulo 4 – Condução de calor bidimensional em regime permanente Capítulo 5 - Condução de calor em regime transitório Capítulo 6 - Transferência de calor por convecção 30 Capítulo 1 – Conceitos Fundamentais 1.1 - INTRODUÇÃO Sabe-se da prática que um objeto quente em contato com um objeto frio torna- se mais frio, enquanto o objeto frio torna-se mais quente. A explicação mais aceitável é que alguma “entidade” é transferida do corpo quente para o corpo frio, e chamamos esta “entidade” de calor, Q. Assim dizemos que o calor sempre passa no sentido do corpo de maior temperatura para o corpo de menor temperatura. Isso leva ao conceito de temperatura como sendo a força motriz para a transferência de energia na forma de calor. A taxa com que o calor é transferido de um corpo para outro é proporcional a diferença de temperatura entre os dois corpos, sendo assim, quando não há diferença de temperatura entre os corpos não há transferência de calor. Segundo a termodinâmica, calor nunca é visto como estocado no interior de um corpo. Assim como trabalho, ele só existe como energia em trânsito de um corpo para outro, ou entre o sistema e sua vizinhança. Quando energia na forma de calor é adicionada a um corpo, ela é armazenada não na forma de calor, mas como energia cinética e potencial dos átomos e moléculas que constituem o corpo. A termodinâmica trata das transições quantitativas e das transformações de energia em calor nos sistemas materiais. A transferência de calor é a ciência que trata das taxas de troca de calor entre um corpo quente denominado fonte e um corpo frio denominado receptor. Transmissão de calor é a denominação dada à passagem da energia térmica ( que durante a transferência recebe o nome de calor) de um corpo para outro ou de uma parte para outra de um mesmo corpo. Essa transmissão pode se processar de três mecanismos diferentes: condução, convecção e radiação. Entretanto no dia a dia esses mecanismos ocorrem simultaneamente. 1.2 – Mecanismo e Equações Básicas da Transferência de Calor. A - CONDUÇÃO É o processo de transmissão de calor em que a energia térmica passa de um local para outro através das partículas do meio que os separa. Na condução a passagem da energia de uma região para outra se faz da seguinte maneira: na região mais quente, as partículas têm mais energia, vibrando com mais intensidade; com esta vibração cada partícula transmite energia para a partícula vizinha, que passa a vibrar mais intensamente; esta transmite energia para a seguinte e assim sucessivamente. Neste mecanismo de transferência de calor o transporte se dá através de um material fixo, como a parede indicada na figura abaixo. 31 Verifica-se experimentalmente, que o fluxo de calor( a quantidade de calor que flui através da placa) é proporcional à área transversal da placa normal ao fluxo de calor A, à diferença de temperatura entre os meios (1) e (2) que ela separa e é inversamente proporcional à espessura da placa x. Se T for a temperatura em qualquer parte da placa e x for a espessura da placa na direção do fluxo de calor, a quantidade de calor que flui será dada pela conhecia equação de Fourier: −= dx dTkAdQ (1) O termo dx dT − denomina-se gradiente de temperatura e possui sinal negativo quando supomos que a temperatura mais elevada seja a da face da placa para x=0 e que a temperatura mais baixa corresponda à face para x= X. A constante de proporcionalidade k é peculiar aos processos de transferência de calor por condução e é conhecida como condutividade térmica. Os metais são muito bons condutores de calor, logo, apresentam k maior, enquanto a madeira é péssima condutora de calor, logo, apresenta k menor. Figura 1 – Transferência de calor em placa. Unidades e dimensões [ ] [ ][ ][ ][ ][ ]TA LqK . . θ = No sistema Internacional(SI) temos: Km WK . 32 No sistema inglês temos: Ffth BtuK .. B- CONVECÇÃO Na convecção ocorre a transferência de calor entre uma porção quente e uma quantidade fria de um fluido por meio movimento do próprio fluido, que constitui uma corrente de convecção. Um fluido aquecido localmente em geral diminui a densidade e, por conseguinte tende a subir sob o efeito gravitacional, sendo substituído por fluido mais frio, o que gera naturalmente, o que denominamos, corrente de convecção. Consideremos uma sala na qual se liga um aquecedor elétrico em sua parte inferior. O ar em torno do aquecedor se aquece, tornando-se menos denso que o restante. Com isto ele sobe e o ar frio desce, havendo uma troca de posição do ar quente que sobe e o ar frio que desce. A esse movimento de massas de fluido chamamosconvecção natural e as correntes de ar formadas são correntes de convecção. Caso a agitação seja provocada por qualquer outra mecanismo, como por exemplo um agitador, a convecção é denominada convecção forçada. Portanto, convecção é um movimento de massas de fluido, trocando de posição entre si. Este tipo de transferência de calor pode ser descrito pela equação que imita a equação da condução e é dada por: hAdTdQ = (2) A constante de proporcionalidade h é um termo que é influenciado pela natureza do fluido e pela natureza da agitação. Esta constante é denominada coeficiente de transferência de calor. Quando a equação 2 é escrita na forma integral, ela é denominada lei de Newton do resfriamento. 2) À beira-mar, a areia, tendo calor específico sensível muito menor que o da água, se aquece mais rapidamente que a água durante o dia e se resfria mais rapidamente durante a noite. DURANTE O DIA: O ar próximo da areia fica mais quente que o restante e sobe, dando lugar a uma corrente de ar da água para a terra. É o vento que, durante o dia, sopra do mar para a terra. DURANTE A NOITE: O ar próximo da superfície da água se resfria menos. Com isto 33 ele fica mais quente que o restante e sobe, dando lugar a uma corrente de ar da terra para a água. É o vento que, durante a noite, sopra da terra para o mar. Figura 2 – Convecção de calor a beira mar. Nas geladeiras o congelador é sempre colocado na parte superior, para que o ar se resfrie na sua presença e desça, dando lugar ao ar mais quente que sobe.As prateleiras são feitas em grades (e não inteiriças) para permitir a convecção do ar dentro da geladeira. Figura 3 – Convecção de calor em uma geladeira. 34 C - RADIAÇÃO É o processo de transmissão de calor através de ondas eletromagnéticas (ondas de calor). A energia emitida por um corpo (energia radiante) se propaga até o outro, através do espaço que os separa. Entretanto, uma parte da energia é absorvida pelo receptor e outra parte é refletida pelo receptor. Na condução de calor através de um sólido, o mecanismo consiste de um mecanismo de transmissão de calor através de um corpo, cujas moléculas, exceto vibrações, permanecem sempre em posições fixas. Na convecção, o calor é inicialmente absorvido de uma fonte pelas partículas do fluido imediatamente adjacente a ela e é então transferido para o interior do fluido misturando-se com ele. Ambos mecanismos necessitam da presença de um meio para conduzir o calor de uma fonte até o receptor. A transmissão de calor por radiação não necessita de um meio intermediário, e o calor pode ser transmitido por radiação através do vácuo absoluto. Quando uma radiação incide sobre um material, parte dessa radiação é absorvida, parte é refletida e parte é transmitida, conforme mostra a Figura abaixo: Pelo princípio de conservação de energia temos: Boltzmann verificou que o fluxo máximo de radiação que uma superfície pode emitir é proporcional a temperatura absoluta elevada a quarta potência, ou seja: 4AdTdQ σε= (3) Esta relação ficou conhecida como a lei da quarta potência, na qual T é a temperatura absoluta. σ é uma constante de Stefan-Boltzmann e ε é um fator peculiar a cada radiação e denominada-se emissividade. 35 Unidades e dimensões No sistema Internacional(SI) temos: 42 8 . 10.67051,5 Km W − =σ No sistema inglês temos: 42 8 .. 10.173,0 Ffth Btu − =σ Capítulo 2 – Equações Básicas da Transferência de Calor por Condução. 36 2.1 – Introdução A lei de Fourier foi desenvolvida a partir da observação dos fenômenos da natureza em experimentos. Imaginemos um experimento onde o fluxo de calor resultante é medido após a variação das condições experimentais. Consideremos, por exemplo, a transferência de calor através de uma barra de ferro com uma das extremidades aquecidas e com a área lateral isolada termicamente, como mostra a Figura abaixo. Figura 4 – Transferência de calor em barra metálica Com base em experiências, variando a área da seção da barra, a diferença de temperatura e a distância entre as extremidades, chega-se a seguinte relação de proporcionalidade: dx dTAKQ ..−= • (1) onde, k, condutividade térmica do material; Essa relação ficou definida como sendo a Lei de Fourier pode ser enunciada da seguinte maneira: A quantidade de calor transferida por condução, por unidade de tempo, em um material, é igual ao produto das seguintes quantidades: k, condutividade térmica do material; A , área transversal ao sentido do fluxo de calor e ao gradiente de temperatura. 37 A condutividade térmica dos sólidos é muito maior do que a dos líquidos, por sua vez é maior que a dos gases, conforme pode ser observado na Figura 5. Conseqüentemente é mais fácil transmitir calor em um sólido do que em um líquido do que em um gás. A condutividade térmica dos sólidos pode crescer ou decrescer com a temperatura, enquanto a condutividade térmica da maioria dos líquidos decresce com o aumento de temperatura, embora a água seja uma exceção notável. As Figuras a seguir explicitam bem essas caracteristicas Figura 5 – Comparação da condutividade de diversos materiais(Incropera, F. P) 38 Figura 6 – Comportamento da condutividade de diversos sólidos com a temperatura(Incropera, F. P) 2.2 – Equação Geral da Condução de calor 2.2.1 – Balanço de energia em coordenadas cartesianas Consideremos a transferência de calor por condução através de uma parede plana submetida a uma diferença de temperatura. Um bom exemplo disto é a transferência de calor através da parede de um forno, como pode ser visto na figura 1.7, que tem espessura L, área transversal A e foi construído com material de condutividade térmica k. Do lado de dentro do forno uma fonte de calor mantém a temperatura na superfície interna da parede constante e igual a T1 enquanto que a temperatura da superfície externa permaneça igual a T2. 39 Figura 7 – Transferência de calor em coordenadas cartesianas Aplicado a equação de Fourier, tem-se: dx dTAKQ ..−= • Fazendo a separação de variáveis, obtemos : dTAKdxQ ..−= • Na Figura 7 vemos que na face interna ( x=0 ) a temperatura é T1 e na face externa ( x=L ) a temperatura é T2. Para a transferência em regime permanente o calor transferido não varia com o tempo. Para a área transversal da parede “A” e a condutividade “k” constante, a integração da equação 1.2, fica assim: ∫∫ −= • 2 1 .. 0 T T l dTAKdxQ ∴ ).(.)0( 12 TTAKLQ −−=− • Considerando que ( T1 - T2 ) é a diferença de temperatura entre as faces da parede (.∆T ), o fluxo de calor a que atravessa a parede plana por condução é : T L AKQ ∆= • . (2) � Analogia entre Resistência Térmica e Resistência Elétrica 40 Dois sistemas são análogos quando eles obedecem a equações semelhantes. Por exemplo, a equação 2 que fornece o fluxo de calor através de uma parede plana pode ser colocada na seguinte forma: AK L T Q . ∆ = • O denominador e o numerador da equação acima podem ser entendidos assim: ∆T , a diferença entre a temperatura é o potencial que causa a transferência de calor; K.A L , é equivalente a uma resistência térmica (R) que a parede oferece à transferência de calor; Portanto, o fluxo de calor através da parede pode ser expresso da seguinte forma : R TQ ∆= • (3) onde: ∆T é potencial térmico; R é a resistênciatérmica da parede. Consideremos um sistema de paredes planas associadas em série, submetidas a uma diferença de temperatura. Assim, haverá a transferência de um fluxo de calor contínuo no regime permanente através desta parede composta. Analisemos a transferência de calor através da parede de um forno, que pode ser composta de uma camada interna de refratário (condutividade k1 e espessura L1), uma camada intermediária de isolante térmico ( condutividade k2 e espessura L2) e uma camada externa de chapa de aço ( condutividade k3 e espessura L3). A figura abaixo ilustra o perfil de temperatura ao longo da espessura desta parede composta: 41 O fluxo de calor que atravessa a parede composta pode ser obtido em cada uma das paredes planas individualmente: )(. 21 1 11 TT L AKQ −= • ; )( . 32 2 22 TT L AKQ −= • ; )(. 43 3 33 TT L AKQ −= • Colocando em evidência as diferenças de temperatura nas equações acima e somando membro a membro obtemos: 11 1 21 . . AK LQTT • =− 22 2 32 . . AK LQTT • =− ; 11 1 43 . . AK LQTT • =− Somando as equações acima temos: ( ) 11 1 22 2 11 1 433221 . . . . . . AK LQ AK LQ AK LQTTTTTT ••• ++=−+−+− Rearranjando os termos da equação acima temos: ( ) ++=− ••• 11 1 22 2 11 1 41 . . . . . . AK L AK L AK LQTT , ou seja: 42 ( ) ( )32141 RRRQTT ++=− ∴ ( ) ( )321 41 RRR TTQ ++ − = • (4) 2.2.2 - Balanço de energia em coordenadas cilíndricas Consideremos um cilindro vazado submetido à uma diferença de temperatura entre a superfície interna e a superfície externa, como pode ser visto na Figura 8. Figura 8 – Transferência de calor em coordenada cilíndrica. O fluxo de calor que atravessa a parede cilíndrica poder ser obtido através da equação de Fourier, ou seja : dr dTAKQ ..−= • , onde o termo dr dT − é o gradiente de temperatura na direção radial. Para configurações cilíndricas a área é uma função do raio : LrA ..2pi= Substituindo na equação de Fourier, obtemos: 43 dr dTLrKQ )...2.( pi−= • Fazendo a separação de variáveis e integrando entre T1 em r1 e entre T2 em r2 chega- se a: ∫∫ −= 2 1 2 1 .2. T T r r dTLK r drQ pi , ou seja: ( ) ( )121 ...2lnln 2 TTLKrQ −−=− pi Aplicando-se propriedades dos logaritmos, obtemos: ( )12 1 2 ...2ln TTLK r rQ −−= pi O fluxo de calor através de uma parede cilíndrica será então : ( )12 1 2ln ...2 TT r r LKQ − − = • pi (5) O conceito de resistência térmica também pode ser aplicado à parede cilíndrica. Devido à analogia com a eletricidade, um fluxo de calor na parede cilíndrica também pode ser representado como: R TQ ∆= • onde: ∆T é potencial térmico; R é a resistência térmica da parede cilíndrica Então para a parede cilíndrica, obtemos: 44 R TT r r LKQ ∆=∆ − = • 1 2ln ...2 pi ∴ LK r rLn R ...2 1 2 pi = � Para o caso geral em que temos uma associação de n paredes cilíndricas associadas em paralelo, por analogia com paredes planas, o fluxo de calor é dado por : total total R TQ )(∆= • onde: n n oi it RRRRR ...21 ++== ∑ = 2.2.3 - Condução de Calor Através de uma Configuração Esférica Consideremos uma esfera oca submetida à uma diferença de temperatura entre a superfície interna e a superfície externa, como pode ser visto na Figura 9. Figura 9 – Transferência de calor em coordenada esférica O fluxo de calor que atravessa a parede esférica poder ser obtido através da equação de Fourier, ou seja: dr dTAKQ ..−= • , onde o termo dr dT − é o gradiente de temperatura na direção radial. 45 Para configurações esféricas a área é uma função do raio : 2..4 rA pi= . Substituindo na equação de Fourier, obtemos: dr dT rKQ )..4.( 2pi−= • Fazendo a separação de variáveis e integrando entre T1 em r1 e entre T2 em r2, chega-se a seguinte expressão : ∫∫ −= − • 2 1 2 1 )..4.( 22 T T r r dTrKdrrQ pi ∴ ( )12 21 ..411 TTK rr Q −−= −− ∗ pi Rearranjando a equação acima temos: ( )21 21 ..411 TTK rr Q −= − ∗ pi O fluxo de calor através de uma parede esférica será então: ( )21 21 11 ..4 TT rr KQ − − − = • pi (6) 46 47 Exercícios 1) Considere um aquecedor elétrico de superfície que dissipa 500W uniformemente sobre um lado, com área de 0,5m2, de uma placa de gesso, com isolamento térmico perfeito do lado oposto, conforme mostrado na Figura abaixo. A placa tem icm de espessura e a temperatura na superfície externa é de 27°C. Determine a temperatura do gesso na superfície que faceia o aquecedor. Dados: K= 0,79W/m.K 2)Um processo de transferência de calor em regime permanente ocorre através de um envólucro com uma espessura de 5mm e K= 0,35w/m.K cuja temperatura intyerna é desconhecida e a temperatura da superfície é de 85C para uma área de troca e 4cm2. O lado externo esta exposto a um fluido com T∞ =25C e h = 25W/m2 K e ε = 0,9. Determine a taxa de calor transferida por convecção e radiação e a temperatura T1 necessária. 3) Um equipamento condicionador de ar deve manter uma sala, de 15 m de comprimento, 6 m de largura e 3 m de altura a 22 oC. As paredes da sala, de 25 cm de 48 espessura, são feitas de tijolos com condutividade térmica de 0,14 Kcal/h.m.oC e a área das janelas são consideradas desprezíveis. A face externa das paredes pode estar até a 40 oC em um dia de verão. Desprezando a troca de calor pelo piso e teto, que estão bem isolados, pede-se o calor a ser extraído da sala pelo condicionador ( em HP ). Dado: 1HP = 641,2 Kcal/h 4) Uma parede de um forno é constituída de duas camadas: 0,20 m de tijolo refratário (k = 1,2 kcal/h.m.oC) e 0,13 m de tijolo isolante (k = 0,15 kcal/h.m.oC). A temperatura da superfície interna do refratário é 1675 oC e a temperatura da superfície externa do isolante é 145 oC. Desprezando a resistência térmica das juntas de argamassa, calcule: a) o calor perdido por unidade de tempo e por m2 de parede; b) a temperatura da interface refratário/isolante. 49 5)Um tubo de aço ( k = 35 kcal/h.m.oC ) tem diâmetro externo de 3”, espessura de 0,2”, 150 m de comprimento e transporta amônia a -20 oC ( convecção na película interna desprezível ). Para isolamento do tubo existem duas opções: isolamento de borracha ( k = 0,13 kcal/h.m.oC ) de 3” de espessura ou isolamento de isopor ( k = 0,24 kcal/h.m.oC ) de 2” de espessura. Por razões de ordem técnica o máximo fluxo de calor não pode ultrapassar 7000 Kcal/h. Sabendo que a temperatura na face externa do isolamento é 40 oC, pede-se : a) As resistências térmicas dos doisisolamentos; b) Calcule o fluxo de calor para cada opção de isolante e diga qual isolamento deve ser usado; c) Para o que não deve ser usado, calcule qual deveria ser a espessura mínima para atender o limite. 3 - Equação da Difusão de calor 3.1- Coordenadas cartesianas 50 Consideremos o fluxo de calor através de um elemento de volume de lados dx, dy e dz, representado pelo cúbico da figura abaixo. Figura 11- difusão de calor em um elemento de volume de coordenadas cartesianas Para tal sistema temos que: dx x qqq xxdxx ∂ ∂ +=+ (1) dy y q qq yydyy ∂ ∂ +=+ (2) dz z qqq zzdzz ∂ ∂ +=+ (3) 51 A equação 1 afirma que a componente x da taxa de transferência de calor no ponto x + dx é igual ao valor da componente em x mais o produto da variação da taxa em relação a x por dx. Levando em consideração que no interior do elemento de volume pode haver uma fonte de energia que proporciona um termo referente à taxa de geração de calor. Este termo pode ser representado por: dxdydzqEg •• = (4) onde : • q é a taxa de geração de energia por unidade de volume do meio(w/m3). Considerando ainda que pode ocorrer variação quantidade de calor que é acumulada pelo material no interior do volume de controle. Esse termo pode ser equacionado pela expressão: dxdydz t TCpEac ∂ ∂ = • .ρ (5) onde: t TCp ∂ ∂ .ρ corresponde a taxa de variação, em função do tempo, da energia interna do meio, por unidade de volume. Aplicando a equação de balanço de energia para o volume de controle temos: acsge EEEE •••• =−+ (6) Considerando as expressões que representam cada uma dos termos da equação 6 temos: dxdydz t TCpqqqdxdydzqqqq dzzdyydxxzyx ∂ ∂ =−−−+++ +++ • .ρ (7) Substituindo as equações 1, 2, 3 na equação 7 temos: 52 dxdydz t TCp z dzqqdy y q qdx x qqdxdydzqqqq zz y y x xzyx ∂ ∂ = ∂ ∂ −− ∂ ∂ −− ∂ ∂ −−++++ • .ρ (8) Rearranjando a equação 8 temos: dxdydz t TCp z dzqdy y q dx x qdxdydzq zyx ∂ ∂ = ∂ ∂ − ∂ ∂ − ∂ ∂ − • .ρ (9) Como as taxas de condução de calor podem ser representadas pela equação de Fourier, ou seja: x TKdydzqx ∂ ∂ −= (10) y TKdxdzqy ∂ ∂ −= (11) z TKdxdyqz ∂ ∂ −= (12) Substituindo as equações 10, 11 e 12 na equação 10 e dividindo pelas dimensões do volume de controle temos: t TCpq z TK zy TK yx TK x ∂ ∂ =+ ∂ ∂ ∂ ∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ • .ρ (13) Caso a condutividade térmica possa ser considerada constante para o estudo em questão a equação 13 pode ser simplificada: 53 t T K q z T y T x T ∂ ∂ =+ ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ • α 1 2 2 2 2 2 2 (14) onde : Cp k .ρ α = é denominada difusividade térmica Para sistemas que operam em regime permanente não pode haver variação da energia acumulada, logo temos: 0=+ ∂ ∂ ∂ ∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ •q z TK zy TK yx TK x (15) Para um sistema onde a transferência de calor for unidimensional(por exemplo na direção x) e se não houver geração de energia a equação 15 resume-se em: 0= dx dTK dx d (16) ou seja: 0 " = dx dq x (17) 3.1.1 – Propriedades relevantes dos materiais No estudo da transferência de calor são empregadas várias propriedades dos materiais. Essas propriedades são denominadas propriedades termofísicas e constituem uma combinação entre as propriedades de transporte e as propriedades termodinâmicas. As primeiras incluem os coeficientes de difusão de calor, como por exemplo, a condutividade térmica(K) enquanto as segundas referem-se ao estado de equilíbrio do sistema. Um exemplo destas propriedades, exaustivamente empregadas na análise termodinâmicas de sistemas, são a densidade(ρ) e a capacidade calorífica(Cp). O produto dessas duas propriedades (ρ.Cp),expresso em [J/m3 K], mede 54 a capacidade do material em armazenar energia térmica, e é denominado capacidade calorífica volumar. As substâncias com densidade elevada apresentam calores específicos pequenos, como conseqüência, sólidos e líquidos, que são meios muito bons para armazenar energia, apresentam capacidade calorífica volumar comparáveis(ρ.Cp>1MJ/m3.K), conforme pode ser observado na Tabela A3. Em contrapartida, os gases que apresentam baixa densidade são pouco apropriados para armazenar energia térmica(ρ.Cp~1KJ/m3.K) No estudo da transferência de calor, a difusividade térmica é uma propriedade que mede a relação entre a capacidade de o material conduzir energia térmica e a sua capacidade de armazenar energia térmica. Essa propriedade é expressa segundo a equação: Cp K .ρ α = (18) Os materiais com α grande respondem rapidamente as variações do ambiente térmico, enquanto os materiais com α pequeno respondem mais lentamente e levam mais tempo para atingir uma nova condição de equilíbrio. Exemplo: Calcular difusividade térmica para os seguintes materiais , nas condições mencionadas, mediante aos valores de K, ρ e Cp da Tabela A. a) Alumínio puro a 300K b) Alumínio puro a 700K 55 c) Carbeto de silício a 1000K d) Uretana 56 3.2 – Coordenadas Cilíndricas Consideremos o fluxo de calor através de um elemento de volume de lados dr, dΦ e dz, representado pela figura abaixo. Figura 12 – difusão de calor em um elemento de volume de coordenada cilíndrica. Quando a difusão de calor é expressa em coordenada cilíndrica, o vetor de fluxo de calor apresenta a seguinte forma geral: ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ −=∇−= z TkT r j r TiKTKq φ 1 .' (19) onde: 57 r TKq r ∂ ∂ −=' φφ ∂ ∂ −= T r Kq' z TKq z ∂ ∂ −=' (20) São as componentes do fluxo de calor nas direções radial, circunferencial e axial, respectivamente. Aplicando a equação de balanço de energia para o volume de controle temos expresso pela figura 12, obtém-se a seguinte equação geral: t TCpq z TK z TK rr TKr rr ∂ ∂ =+ ∂ ∂ ∂ ∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ + ∂ ∂ ∂ ∂ • . 11 2 ρφφ (21) Exemplo. A distribuição de temperatura em uma parede de 1m de espessura, num certo instante é dado por: 2)( cxbxaxT ++= onde T é a temperatura em ºC e x, em metros, enquanto a=900ºC, b=-300ºC/m e c=- 50ºC/m2. Uma geração de calor uniforme 3/1000 mWq = • , atua na parede, numa área de 10m2. As propriedades da parede são: ρ=1600Kg/m3, K=40w/m e Cp= 4Kj/Kg.K. a)Determinar a taxa de transferência de calor afluente á parede(x=0) e efluente (x=1m) b) A taxa de variação da energia acumulada na parede. 58 c)A variação de temperatura com o tempo em x=0,025 e 0,5m 59 60 61 62 3.3 – Condução com geração de energia térmica em estadoestacionário 63 Nesta secção iremos monitorar o efeito de processos que estão ocorrendo no interior do volume de controle, sobre a distribuição de temperatura. Particularmente iremos estudar sistemas nos quais há geração de energia térmica oriunda da conversão de alguma outra forma de energia. A geração de energia térmica envolve a conversão de energia elétrica em térmica no interior de um condutor. A taxa de geração de energia, pela passagem de uma corrente elétrica (i) através de um meio de resistência elétrica (R) é dado segundo a expressão: 2 .iRE = • (22) Se tal geração de potência (W) ocorrer uniformemente em um meio de volume V, tem-se que a taxa de geração volumar é dado segundo a expressão: V iR V Eq 2 . == • • (23) A geração de energia pode ocorrer em função da desaceleração e absorção de nêutrons, ou em função de reações exotérmicas ou endotérmicas que ocorrem no interior do volume de controle. 3.4.1- Geração de energia em sistemas com coordenadas cartesianas. Imagine uma parede plana na qual há geração de energia por unidade de volume de tal forma que as superfícies se mantém a temperaturas T1 e T2. 64 Figura 13 – Condução de calor em geometria plana com geração Admitindo que a condução ocorre em regime permanente tem-se: = 0 dt dT Para coordenadas cartesianas tem-se: ≅ 0 dy dT e ≅ 0 dz dT Admitindo que a condutividade térmica(K) mantém-se constante na faixa de temperatura de operação, a equação de difusão de calor pode ser simplificada em: 22 11 2 2 )(2 )(1 0 TxTcc TxTcc K q dx Td g =⇒ =⇒ =+ • (24) Integrando a equação 24 temos: 1CxK q dx dT g +−= • (25) Integrando a equação acima temos a solução geral da equação, em termos da temperatura do sistema: 65 21 2 2 )( CxCx K q xT g ++−= • (26) Aplicando a cc1 a equação 26 temos: 1211 2 11 2 )( TCxCx K q xT g =++−= • (27) A equação 27 mostra que para a condução de calor em regime permanente, com geração de calor, a distribuição de temperatura apresenta um perfil parabólico, conforme mostra a figura abaixo: Figura 14 perfil de temperatura Aplicando a cc2 a equação 26 temos: 2221 2 22 2 )( TCxCx K q xT g =++−= • (28) Subtraindo a equação 28 da equação 27 temos: 66 121211 22 2 )()(2 TTxxCxxK qg −=−+−− • (29) A partir da equação 29 pode-se concluir que: ( ) −+− − = • 11 22 212 12 1 )(2)( 1 xx K q TT xx C g (30) Substituindo a equação 30 na equação 28 temos: −+− − −+= •• )()(2 2 1 2 212 12 12 112 xxK q TT xx x x K q TC gg (31) Para um processo de condução de calor em regime permanente, com geração de calor em coordenadas cartesianas a equação de Fourier se apresenta da seguinte forma: dx dTKAq −= • Substituindo a equação 25 na equação acima temos: 67 +−−= • • 1CxK q KAq g ou seja: −= •• KCxqAq g 1 (32) Exercício 1) Um longo cilindro maciço de 10cm de raio, consiste de um material nuclear reativo, cuja condutividade térmica é 0,5W/mK e gera 2400W/m3 uniformemente em seu volume. Esse cilindro é encapsulado em outro cilindro oco com raio externo de 20cm e condutividade térmica de 4W/mK. Determine a temperatura na superfície externa da cápsula, sabendo que a temperatura ambiente é de 100C e a h=20W/m2K. 68 3.4.1- Geração de energia em sistemas radiais. A geração de calor pode se dá em diferente geometria radial. Considerando o cilindro maciço, representado na figura abaixo. 69 Figura 15 – Condução de calor em cilindro maciço com geração de energia térmica. Consideremos o sistema representado pela figura 15, que opera em regime permanente e com condutividade térmica do material constante na faixa de temperatura de trabalho. Aplicando a equação da condução de calor para o sistema de coordenada cilíndrica (equação 21) ao sistema representado pela figura 15 e fazendo as devidas considerações tem-se: 01 =+ • K q dr dT r dr d r g (33) Rearranjando a equação acima temos: r K q dr dT r dr d g • −= Integrando a expressão acima, admitindo que a geração de calor é uniforme temos: 70 1 2 2 Cr K q dr dT r g +−= • (34) Rearranjando a equação 34 temos: r C r K q dr dT g 1 2 +−= • Integrando a expressão acima, admitindo que a geração de calor é uniforme temos: 21 2 ln 4 .)( CrC K rq rT g ++−= • (35) A equação 35 representa a solução geral para a distribuição de temperatura para o sistema em estudo. Considerando as condições de contorno abaixo é possível determinar os valores das constantes C1 e C2 , ou seja: 0 0 = =rdr dT e sTrT =)( 0 Aplicando a primeira condição de contorno a equação 34 temos: C1 =0 (36) 71 Aplicando a segunda condição de contorno a equação 35 temos: Quando r=r0 T(r0)=Ts , ou seja: 201 2 0 ln 4 . CrC K rq T gs ++−= • Trabalhando a equação acima temos: K rq TC gs 4 2 0 2 • += (37) Substituindo a equação 37 na equação 35 temos: s g T r r K rq rT + −= • 2 0 22 0 1 4 .)( (38) Calculando a temperatura no eixo mediante a equação 38 e dividindo a equação 38 pelo resultado obtido, tem-se: 2 00 1 )( −= − − r r TT TrT s s (39) onde T0 é a temperatura no eixo. 72 A equação 38 possibilita determinar a taxa de transferência de calor como função da distância ao eixo. A relação entre a temperatura de superfície(TS )e a temperatura do fluido(TS ) pode ser determinada pelo balanço de energia na superfície ou seja: ))(2()( 020 ∞ • −= TTLrhLrq spipi ou h qrTTs 2 • ∞ += (40) 3.4.2 – Condições de contorno e condição inicial A distribuição de temperatura em um meio pode ser determinada através da resolução da equação de transferência de calor por condução para o sistema em estudo. Entretanto, essa solução depende das condições físicas estabelecidas nas fronteiras do meu sistema e do instante inicial, quando o fenômeno for dependente do tempo. A primeira é denominada condição de contorno e a segunda é denominada condições iniciais. Como a expressão de difusão de calor por condução é uma equação de segunda ordem nas coodernadas espaciais, há necessidade de duas condições de contorno para cada coordenada. Entretanto essa mesma expressão é de primeira ordem em relação ao tempo, necessitando apenas de uma condição inicial.Na tabela abaixo se verifica a principal condição de contorno encontrada no estudo da transferência de calor. Tabela 1 – Principais condições de contorno estudadas em transferência de calor 73 A primeira condição de contorno faz referência à situação na qual a superfície( em x=0) apresenta temperatura constante(Ts). Essa situação é verificada na pratica quando a superfície encontra-se em contato com um sólido ou um líquido em transição de fase. Essa condição é denominada condição de Dirichlet ou condição de contorno de primeira espécie. A segunda condição de contorno, na qual a superfície(x=0) apresenta um fluxo constante de calor( sq • ). Na prática essa situação pode ser verificada quando a superfície encontra-se em conato com um calefator elétrico, sendo que, quando o fluxo de calor é nulo, é um caso especial dessa segunda condição de contorno. Essa condição de contorno é denominada condição de Newmann, ou contorno de contorno de segunda espécie. As condições de contorno de terceira espécie são aquelas nas quais a superfície encontra-se aquecida ou resfriada por um fluxo convectivo, sendo necessário um balanço de energia na superfície para seu equacionamento. 3.5 – Transferência de calor em superfícies expandidas. 74 Superfícies expandidas ou aletas consiste de um sólido que sofre transferência de energia por condução no interior de suas fronteiras e também transferência de energia por convecção ou radiação, ou por ambos entre as suas fronteiras e as vizinhanças. Para um melhor entendimento do papel desempenhado pelas aletas na transferência de calor consideremos um exemplo prático. Imaginemos que se pretende aumentar a taxa de transferência de calor de um sistema de aquecimento que utiliza água quente que escoa por uma tubulação. O fluxo de calor transferido para o ambiente pode ser obtido pela seguinte expressão: 321 RRR TTq ei ++ − = • (41) onde: ii Ah R . 1 1 = ; LK r r R i e ..2. ln 2 pi = e ee Ah R . 1 3 = As principais formas de promover esse aumento são: � Aumentar a velocidade de escoamento do fluido; � Aumentar a diferença de temperatura entre o fluido e a superfície; � Substituir o material por outro que apresente maior termocondutividade(K); � Aumentar a área interna (alterar dimensão); � Aumentar a área externa (colocar aletas) sistema representado pela figura 16 Imaginemos. A necessidade de se aumentar a taxa de transferência de calor fez com que o homem promovessem alterações nos sistemas em estudo 75 4.0 – Condução de calor bidimensional em regime permanente 4.1 - Introdução Nos capítulos anteriores do nosso estudo de calor nos preocupamos apresentar soluções para problemas cujo gradiente de temperatura era predominante na direção de uma única coordenada. Em muitos problemas práticos, a consideração de uma condução unidimensional é insatisfatório, necessitando uma abordagem mais realista, que leve em conta os efeitos multidimensionais. Neste capítulo iremos estudar uma técnica para o equacionamento de condução bidimensional de calor em regime permanente. 4.2- Equacionamento Imaginemos um sólido prismático, comprido onde uma condução bidimensional de calor se processa, conforme mostra a figura 1. Considere que duas das quatro superfícies estão isoladas e as outras se encontram a temperaturas constantes T1 e T2 sendo que 21 T T > . A transferência de calor de calor por condução ocorrerá da superfície 1 para a superfície 2 e segundo a equação de Fourrier, fluxo de calor é um vetor em todos os pontos normal as isotermas. As direções do vetor de fluxo de calor são representados pelas linhas de fluxo térmico e o vetor é a resultante das componentes do fluxo térmico nas direções x e y, conforme mostra a Figura 1. 76 Figura 1 – Condução de calor bidimensional em sólido prismático. O primeiro objetivo a ser alcançado consiste em determinar a distribuição de temperatura no meio, T(x,y), o que para o sistema em estudo, passa pela resolução da equação de difusão de calor. Na condução bidimensional de calor, sem geração de calor e em regime permanente, esta equação toma o seguinte arranjo: 02 2 2 2 = ∂ ∂ + ∂ ∂ y T x T (1) Superando a dificuldade de se resolver a equação 1, podemos nos empenharmos na determinação das componentes do fluxo de calor, por meio da equação das taxas: x TKq x ∂ ∂ −= " ; y TKq y ∂ ∂ −= " ; z TKq z ∂ ∂ −= " ; (2) A solução da equação 1 pode ser feita com base numa resolução analítica, gráfica ou numérica, entretanto vamos nos determos na solução analítica. Para tal devemos adotar o método da separação de variáveis. 4.3 – Método da Separação das Variáveis. O método de Separação de Variáveis se aplica diretamente à solução de um problema simulado por uma equação diferencial parcial e com condições de contorno lineares e homogêneas, com exceção de uma condição de contorno que é linear e não-homogênea. Para introduzirmos a aplicação do Método de Separação das Variáveis, na resolução de problemas de condução bidimensional de calor, consideraremos o sistema da Figura 2. 77 Figura 2 – Condução bidimensional de calor numa chapa retangular Estamos interessados na distribuição de temperatura no meio, e para simplificarmos a resolução, vamos introduzir uma variável: 12 1 TT TT − − =θ (3) Transformando a equação 1 por meio da equação 3 temos: 02 2 2 2 = ∂ ∂ + ∂ ∂ yx θθ (4) Como a expressão acima é uma equação derivada de segunda ordem em relação a x e a y, para sua solução são necessária duas condições de contorno para cada coordenada x e y: 0),0( =yθ e 0)0,( =xθ 0),( =yLθ e 1),( =wxθ 78 Verifique que por meio da transformação da equação 3, três das quatro condições de contorno são homogêneas e o valor de θ encontra-se entre 0 e 1. Aplicando a técnica da separação das variáveis e admitindo que solução possa ser expressa pelo produto de duas funções (X e Y), sendo que uma é dependente de x e a outra é dependente de y temos: )().(),( yYxXyx =θ (5) Derivando a equação 5 com base na equação 4 temos: 22 2 11 dy Yd Ydx Xd X =− (6) Como a equação 6 é de variáveis separáveis, ou seja, cada um dos dois termos da equação depende de uma de variáveis diferentes, a igualdade dó é verdadeira(para qualquer valor de x e de y) se os dois membros forem iguais a uma mesma constante. Se arbitrarmos um valor para tal constante, λ2 temos: 022 2 =+ X dx Xd λ (7) 022 2 =− Y dy Yd λ (8) As soluções gerais para as equações 7 e 8 são respectivamente: 79 xsenCxCX λλ 21 cos += (9) yy eCeCY λλ +− += 43 (10) Sendo assim a solução geral para a condução bidimensional em regime permanente sem geração torna-se: ))(cos( 4321 yy eCeCxsenCxC λλλλθ ++= − (11) Para determinarmos a solução específica devemos substituir as condições de contorno. Aplicando a condição de contorno 0),0( =yθ , temos que C1=0. Aplicando a condição ed contorno 0)0,( =xθ na equação 11 temos: 0)( 432 =+ CCxsenC λ A expressão acima só pode ser satisfeita se 43 CC −= , uma vez que se C2 =0 elimina- se a dependência comvariável x, o que contradiz a essência do problema. Aplicando a condição 0),( =yLθ na equação 11 temos: 0)(42 =− − yy eeLsenCC λλλ Para que a expressão acima satisfaça uma das soluções para a equação, consiste em fazer λ assumir valores discretos par os quais 0=Lsenλ . Estes valores devem satisfazer a equação: L npiλ = ,...3,2,1=n (12) Levando em consideração a equação 12 a solução desejada torna-se: 80 −= − L yn L xn ee L xn senCC pipi piθ 42 (13) Combinando as constantes e considerando que a nova constante pode depender de n , logo temos: L yn senh L xn senCyx n pipiθ =),( (14) A expressão acima apresenta um número infinito de soluções que satisfazem a equação diferencial e as condições de contorno. Uma solução mais adequada é obtida pela superposição com a forma: L yn senh L xn senCyx n n pipiθ ∑ ∞ = = 1 ),( (15) A solução da equação acima passa pela determinação da constante segundo a expressão: ( )[ ] ( )LwnsenhnC n n / 112 1 pipi +− = + ...3,2,1=n (16) Substituindo a equação 16 na equação 11 temos: ( ) ( ) ( )Lwnsenh Lynsenh L xn sen n yx n / /112),( 1 pi pipi pi θ ∑ +− = + (17) 81 A equação 17 é uma série convergente, na qual θ pode ser calculado para qualquer valor de x e de y. Os resultados aparecem na forma de isotermas numa chapa retangular, conforme indicado na figura 3. Figura 3 – Isotermas de condução bidimensional numa chapa retangular 4.3 – O fator de forma da condução A configuração de um sistema que participa da transferência de calor influencia na taxa de transporte de energia térmica, conforme indicado na equação abaixo: TSKq ∆= (18) onde: S é o fator forma de condução. O fator forma foi calculado para numerosos sistemas bidimensionais e encontram-se resumidos na Tabela abaixo. 82 83 84 Exercícios 1) Uma chapa retangular bidimensional está sujeita a condição de contorno com temperatura constante, conforme a figura indica. Calcular a temperatura no centro da chapa, considerando os 5 primeiros termos não nulos da série infinita que deve ser somada. 85 2)Um furo cilíndrico, com diâmetro D=0,3m,é broqueado ao longo do eixo de u bloco soído, com secção reta quadrática, com lado W=2m. O furo é paralelo ao comprimento do bloco, que vale L=2m. A condutividade térmica do material do bloco é k=300w/mK. Um fluido quente que passa através do furo mantém uma temperatura da superfície interna T1=175C, enquanto a superfície externa é mantida a T2=25C. 86 3) Dois oleodutos paralelos, separados por 0,5m, estão enterrados num solo de condutividade térmica 0,5W/mK. Os diâmetros externos dos dutos são respectivamente 100 e 75mm e as temperaturas são 175 e 5C. Estimar a taxa de transferência de calor, entre os dutos, por unidade de comprimento. 87 Capítulo 06 – Transferência de Calor por Convecção. I – Introdução A convecção de um fluido tem uma forte uma forte influência sobre o processo de transferência de calor, conforme mencionado nos capítulos precedentes. Até o momento só focalizamos nossa atenção na transferência de calor por condução e só consideramos a convecção na medida em que ela se apresenta como condição de contorno nos problemas de condução. Nesta secção vamos examinar mais alguns detalhes de situações de escoamentos e da correlação com a transferência de calor, bem como desenvolver modelo matemático para quantificar a energia transferida. II – Camada limite Quando um fluido escoa ao longo de uma superfície, seja o escoamento em regime Laminar ou turbulento, as partículas na vizinhança da superfície são desaceleradas em virtude das forças viscosas. A porção de fluido contida na região de variação substancial de velocidade, ilustrada na figura 1, é denominada de camada limite hidrodinâmica. 88 Figura 1 – representação esquemática da camada limite hidrodinâmica Consideremos agora o escoamento de um fluido ao longo de uma superfície quando existe uma diferença de temperatura entre o fluido e a superfície. Neste caso, O fluido contido na região de variação substancial de temperatura é chamado de camada limite térmica. Por exemplo, analisemos a transferência de calor para o caso de um fluido escoando sobre uma superfície aquecida, como mostra a figura 1.15. Para que ocorra a transferência de calor por convecção através do fluido é necessário um gradiente de temperatura ( camada limite térmica ) em uma região de baixa velocidade ( camada limite hidrodinâmica ). O mecanismo da convecção pode então ser entendido como a ação combinada de condução de calor na região de baixa velocidade onde existe um gradiente de temperatura e movimento de mistura na região de alta velocidade. Portanto: 89 � Na região de baixa velocidade a condução é mais importante � Na região de alta velocidade a mistura entre o fluido mais quente e o mais frio é mais importante. III – Escoamento externo Considere o escoamento de um fluido que se aproxima de uma superfície plana, onde o fluido e a superfície apresentam temperaturas diferentes, conforme mostra a Figura 3. Uma transferência de calor e de quantidade de movimento ocorre entre o fluido e a superfície sólida, a qual admitimos ter temperatura constante Ts e uma velocidade igual a zero. O atrito viscoso desacelera o fluido, de modo que sua velocidade, essencialmente paralela a superfície, varia do valor na corrente livre, V∞, distante da superfície, até zero na superfície. A distancia medida, normal a superfície, e sobre a qual a velocidade varia, é chamada camada limite dinâmica, ou de velocidade. Figura 3- Representação esquemática das camadas limite dinâmica e térmica Essa camada é definida como sendo a distância δ, onde a velocidade atingiu 99% do valor da velocidade de corrente livre V∞. a temperatura apresenta uma variação similar do valor da corrente livre T∞ até a temperatura da superfície Ts, sobre uma distância correspondente a camada limite térmica δT. Essas duas camadas estão esquematizadas na Figura 4. 90 Figura 4- Representação esquemática da camada limite dinâmica e térmica A taxa de calor local "• q , avaliada no fluido em contato com a superfície, em y=0, é dado segundo a expressão: 0 ' = • ∂ ∂ −= Yy tkq (1) Para toda a camada limite térmica, a lei de resfriamento de Newton pode ser escrita da seguinte forma: )( " ∞ • −= TThq s (2) A partir da igualdade das equações 1 e 2 pode se expressar o coeficiente de transferência de calor por convecção da seguinte forma: ( )∞− ∂ ∂ − = = TT y TK h s y 0 (3) Para a determinação desse coeficiente de transferência de calor , a temperatura T(x,y) deve ser conhecida de forma a permitir a avaliação do gradiente na superfície.
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