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INTRODUÇÃO Nos últimos anos o ensino tem sido alvo de constantes estudos no campo da Educação, com a finalidade de se buscar subsídios teóricos para a compreensão do processo ensino-aprendizagem e das causas das dificuldades apresentadas pelos alunos em relação ao desenvolvimento escolar e intelectual. Também se discute muito a respeito do que é leitura, qual seu papel no ensino e se a escola ensina a ler ou a decodificar símbolos. A leitura, não só na vida escolar, mas em muitos aspectos, tem papel fundamental na construção do saber e do constituir-se enquanto cidadão, do indivíduo que sem a educação poderia ser apenas um ente humano, pouco diferenciado dos outros animais. Para Freire (1997) a leitura não se resume em decifrar e entender textos escritos, mas também no entendimento do mundo e das coisas que nos cercam, ele diz que a leitura “não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na leitura de mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra...” (p11). Afirma ainda que o início do aprendizado da leitura se dá desde o nascimento, a partir do momento em que se começa a perceber e compreender o ambiente a sua volta: A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas da minha mãe – o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial que se dava a mim como o mundo de minhas primeiras leituras. (Freire, 1997, p.12) Muito se fala em educação como uma possível solução para os problemas do país, assim como se discute sobre sua eficácia e de quem seria esta responsabilidade. Dentre as coisas que preocupam os estudiosos em educação está a formação de leitores e como a leitura, sobretudo em sala de aula, pode auxiliar a tão esperada boa educação. Pensando nisso este trabalho se propõe a pesquisar a importância da leitura e interpretação de textos na construção do saber dentro e fora do ambiente escolar. Partindo do princípio de que a leitura é fundamental para o desenvolvimento do sujeito, sobretudo para seu aprendizado enquanto estudante, esta pesquisa tem como objetivo promover uma reflexão sobre a questão da leitura na escola, buscando perceber se ela realmente pode ser uma aliada para melhor compreensão dos conteúdos. A questão que norteará esta investigação é como alunos e professores lidam com a questão da leitura e interpretação de textos no ambiente escolar e quais os reflexos desse ato na educação e na vida além dos muros escolares. Por isso, será desenvolvida uma pesquisa bibliográfica com base em autores que estudam o tema, tais como, Freire (1997), Schutz, Della Méa e Gonçalves (2009), entre outros. Refletir-se-á no decorrer do trabalho acerca dos conceitos de leitura, hábitos, se é trabalhada na escola e de que forma, causas de sucesso e/ou fracasso na formação de alunos leitores e quais as implicações na vida acadêmica e social do indivíduo. A hipótese levantada é que a leitura não tem sido uma prática constante na vida dos alunos, principalmente fora do ambiente escolar, embora esta seja uma grande aliada para desenvolver, juntamente à interpretação de textos, o pensamento crítico do sujeito. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Antigamente, a leitura era utilizada apenas como forma de receber uma mensagem importante, com o desenvolvimento econômico e tecnológico, a necessidade de pessoas mais capacitadas, capazes de interpretar textos e acontecimentos, tomar decisões e se posicionar diante das situações, esse conceito adquiriu novos significados, pois envolve processos mentais de vários níveis, que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto, tornando-se uma forma exemplar de aprendizagem. De acordo com Kleiman (2002, p. 90), “As sociedades altamente tecnologizadas precisam de indivíduos que possam continuar o processo de aprendizagem independentemente, e, para isso, o cidadão precisa ler”. O objetivo da alfabetização, conhecer as letras, não é suficiente para atender a essas demandas. Essa leitura aqui referida é aquela atividade do cotidiano, da prática social e não apenas a atividade escolar fragmentada devido à concepção escolar do conhecimento, segundo a qual a construção do saber restringe-se aos livros didáticos. Não que os livros didáticos sejam ruins, o problema do livro didático está na sua utilização como fonte principal ou até única de conhecimento, baseada na memorização de respostas prontas que, num breve espaço de tempo são esquecidas pelo aluno porque não tem relação nenhuma com seu interesse, nem com sua vida diária. Schutz, Della Méa e Gonçalves (2009), além da leitura gramatical, mais ligada à decodificação dos signos e compreensão de seus significados, falam sobre uma leitura sensorial, que se refere aos sentidos humanos e Martins (1986 apud Schutz; Della Méa; Gonçalves, 2009, p. 57): […] aponta a leitura emocional (esta mexe com o que nos remete prazer, respondendo a uma necessidade pessoal) e a leitura racional, que, segundo a autora, tem o “status dos letrados” (a que é capaz de produzir e apreciar a linguagem). A autora afirma que esses três níveis de leitura são inter-relacionados, às vezes até simultâneos, pois a leitura é um ato dinâmico, e a simultaneidade desses três níveis faz com que o leitor possa refletir e estabelecer um diálogo com os diversos textos. Para Freire (1997), a leitura não se resume em decifrar e entender textos escritos, mas também no entendimento do mundo e das coisas que nos cercam, pois a leitura “não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na leitura de mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra” (FREIRE, 1997, p. 11). Dessa forma, a leitura e a interpretação de textos não são tarefas dissociadas e fundamentais para a aprendizagem ao longo da nossa vida. A leitura propicia a integração de novas informações a conhecimentos anteriores, pois o leitor interpreta o texto de acordo com a sua visão de mundo e seus princípios de conhecimento. Um texto não é uma peça isolada e, para se chegar a uma compreensão do que se leu, é preciso que conhecimentos anteriores sejam ativados. Como afirma Smole & Diniz (2001), é preciso que o leitor indague, questione e procure os aspectos relevantes do texto, encontrando pistas e percebendo os caminhos que o texto sugere. Para Kleiman (2002, p. 30), “[...] o significado de um texto não se limita ao que apenas está nele; seu significado resulta da intersecção com outros. Assim, a intertextualidade refere-se às relações entre os diferentes textos que permitem que um texto derive seus significados de outros”. Ainda segundo a autora, “a intertextualidade, propriedade constitutiva de todo texto, pode contribuir para o desenvolvimento de enfoques interdisciplinares no ensino pelo fato de fazer da leitura uma atividade eminentemente interdisciplinar” (KLEIMAN, 2002, p. 30). PROBLEMA INVESTIGADO Ultimamente tanto se ouve falar em “analfabetismo funcional” e “decodificação de símbolos”, que esses conceitos já têm se tornado clichês dos estudos de linguagem, sendo reproduzidos acriticamente no âmbito educacional, mas é a partir deles que se tem pensado o conceito de “leitura” no mundo de hoje. No âmbito universitário, vários pesquisadores discutem as causas do mal desempenho de muitoscursos avaliados e dentre elas, aparece a dificuldade dos acadêmicos em relação à leitura e compreensão dos diferentes textos e contextos, necessários à sua formação e qualificação profissional. Constantemente, ao chegar à universidade, o aluno não tem condições de compreender efetivamente o assunto abordado quando o professor universitário propõe os textos para discussão, boa parte das vezes os acadêmicos sequer realizam a leitura do texto anteriormente, e quando o fazem frequentemente é uma leitura superficial, sem compreensão real do texto e muito menos com posicionamentos próprios diante dos temas abordados. Schutz, Della Méa e Gonçalves (2009, p. 57), dizem que: […] a leitura não ocorre apenas com a decodificação de textos escritos, mas também de linguagens não verbais, pois há uma forte ligação entre a linguagem das imagens e a escrita. Uma vez que a linguagem, hoje, é concebida como um processo de interação em que os atos de fala são expressos num “jogo” de ação e reação, o indivíduo necessita estar apto à compreensão dos sentidos dos diferentes tipos de linguagens disponíveis. Em consequência disso os textos que eram para serem discutidos em sala de aula, acabam sendo explicados pelo professor, pois ou o estudante se cala, assume que não entendeu ou participa da aula com observações retiradas do senso comum, baseadas no tema da leitura e não em seu conteúdo propriamente dito. Sobre isso as autoras apontam: É possível notar que o principal problema do aluno está em processar inferências. Dessa forma, pretende-se uma proposta de ensino em que o aluno seja habilitado para apreender e avaliar uma segunda mensagem implícita no texto, que o aluno consiga desvendar as entrelinhas. (SCHUTZ; DELLA MÉA; GONÇALVES, 2009, p. 57) Ou seja, ir além do que está claro na escrita e relacionar o que está lendo com seus conhecimentos prévios, escolares e cotidianos, de maneira que possa recuperar informações acumuladas ao longo do seu fazer escolar e utilizá-las em sua vida social, cultural e política. Dessa forma, poderá não apenas discutir os conceitos atribuídos pelo autor do texto lido, como também poderá construir ou modificar seus próprios. Nesse sentido, Carvalho (apud PIRES, 2012, p.367), diz: […] uma leitura eficiente na sociedade do conhecimento prevê que: “o ser humano precisa realizar leituras diversificadas e de qualidade para sobreviver na era da globalização. O mais importante é saber selecionar as leituras evitando a sobrecarga informacional” o que resultará num melhor aproveitamento na obtenção da informação. Assim, conclui-se que a prática da leitura é fundamental para a construção de um indivíduo com melhor senso crítico. Segundo Boso et al. (apud PIRES, 2010, p. 24), a leitura é um “[...] importante instrumento para a vida social e cognitiva do sujeito, o que qualifica sua inserção no âmbito social, político, econômico e cultural” Lê-se por diversos motivos, seja um simples outdoor, uma faixada de loja, um folheto de propaganda. Seja para um fim religioso, para obtenção de informações, executar uma receita, ou para entretenimento, é indiscutível a importância da leitura na vida das pessoas. Como confirma Schutz, Della Méa e Gonçalves (2009, p.57): “A leitura deve ser desenvolvida globalmente, ou seja, envolvendo os conhecimentos linguísticos, visuais e auditivos; para que o aluno “leia” um artigo de revista, o noticiário da televisão ou o outdoor de rua”. De acordo com Carvalho (apud KRETZMANN; RODRIGUES, 1997, p. 393) Para vivermos em nossa sociedade, faz-se necessário saber ler e para isso há que se considerar a leitura de diferentes linguagens como da linguagem verbal, da linguagem visual, auditiva, olfativa, gustativa, bem como os gestos, os sons, os sentidos, as coisas, os traços, as linhas, a natureza, os comportamentos, a moda, a televisão, o cinema, o teatro, enfim, tudo o que é vivo e significativo. Seguindo este raciocínio a leitura escolar vem para complementar as outras formas de leitura, não se configura como a leitura mais importante, contudo é primordial no desenvolvimento das habilidades estudantis. Dessa forma, os educadores devem facilitar e promover o contato dos discentes com as diversas práticas de leitura. METODOLOGIA Esta pesquisa será baseada em dados bibliográficos, livros voltados para o tema, periódicos, Internet, bem como em revisões textuais, consistindo em publicações atualizadas da literatura especializada, a análise de materiais bibliográficos selecionados, utilização dos artigos de maior relevância para o objetivo alçado. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS As crianças, assim como os adultos deveriam ser incentivadas, ou melhor, deveriam aprender a ler, e quando digo “aprender”, me refiro à capacidade de compreender o que o texto quer dizer e não apenas juntar as sílabas formando palavras, e além de ler textos, aprender também a ler as mensagens auditivas e visuais, como propagandas, por exemplo, quer sejam em cartazes ou na televisão, desde o início de sua vida escolar. Quase todas as crianças não veem a hora de ir para a escola e “aprender a ler”. Então por que, depois de um tempo, muitas delas perdem o fascínio pela leitura ou até começam a ter pavor dessa tarefa? São muitos os prováveis motivos. A dificuldade de acesso a livros, a falta de estímulo da família, a dificuldade que muitas têm na interpretação, que se não for cuidadosamente trabalhada pelo professor, pode ser um obstáculo, assim como um trauma provocado por uma “bronca” decorrente da dificuldade de pronúncia da criança dentro de uma aula de leitura compartilhada, mas talvez o maior deles seja o desinteresse pela leitura proposta pelo professor. A criança leitora, possivelmente será um adulto leitor. Desse modo, desestimular a criança a ser um indivíduo amante da leitura, pode implicar em um bloqueio do futuro acadêmico em sua vida de leitor, o que pode prejudicar seu desempenho profissional e intelectual, pois vai pensar na leitura como uma tarefa desagradável decorrente da forma mal trabalhada que teve em seu letramento. Bamberger (2002), diz que a criança deseja, com a ajuda dos livros, busca fugir à monotonia cotidiana. O jovem leitor exige o inusitado, a libertação do mundo cotidiano, a vida intensificada, diz ainda que o desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que começa no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora, através da influência da atmosfera cultural geral e dos esforços conscientes da educação e das bibliotecas públicas. Infelizmente nem todas as crianças começam esse desenvolvimento em casa, muitos pais não têm tempo, outros não se interessam por isso e muitos não têm condições financeiras ou nem se dão conta da real importância da leitura na aprendizagem. Lajolo (1994, p.104), afirma: Os pais que leem, aqueles que já têm eles mesmos o hábito de leitura desenvolvido, podem estar tranquilos quanto ao fato de que seus filhos serão bons leitores. Sabemos, no entanto, que em nosso país eles são minoria. Por motivos diversos, principalmente de ordem econômico-social, a maioria de nossa população não lê. Antigamente, antes da invenção da imprensa, reservava-se a poucos o privilégio de leitura, e assim apenas uma elite culta tinha acesso a ela. Hoje, embora haja grande preocupação da escola, projetos e propagandas para se incentivar a leitura,essa realidade não mudou muito, pois o preço dos livros no Brasil não condiz com a situação financeira de muitas famílias, o acesso à cultura continua caro. Numa sociedade como a nossa, em que a divisão de bens, rendas e de lucros é tão desigual, não se estranha que desigualdade similar presida também à distribuição de bens culturais, já que a participação e, boa parte destes últimos é mediada pela leitura, habilidade que não está ao alcance de todos, nem mesmo aqueles que foram à escola. (LAJOLO, 1994, p.106) Mesmo que a escola não consiga deixar a cultura letrada acessível a todos, é uma das formas de minimizar esse problema, ensinando os alunos a ler as coisas que eles têm acesso e ajudando a despertar neles o gosto pela leitura. Assim, ao passar para a vida adulta e ingressar na universidade, o aluno não precisará aprender a ser leitor, tal prática será automática, pois é acostumado ler desde a tenra idade. Já que a estrutura das escolas e universidades públicas também não é das melhores, os professores precisam aprender a trabalhar com o que é possível. Kleiman (2002) sugere o trabalho com jornais e revistas semanais, que são de fácil acesso e favorecem a diversificação das práticas de leitura e interpretação, propiciando a criação de oportunidades para o aluno entrar em contato com diversas formas de apresentação da informação e diversos modos de abordar os textos segundo os objetivos da disciplina. Isso também facilita ao aluno aprender a duvidar da veracidade das coisas ditas na TV e escritas nos jornais, perceber que os repórteres não são totalmente imparciais e que por trás de quase tudo há uma ideologia tentando ser imposta a eles. Segundo a autora, “[...] a seleção dos ‘fatos’ a serem noticiados está longe de ser objetiva; ela obedece a interesses específicos dos formadores de opinião bem como as representações que a imprensa se faz do seu público leitor”. (KLEIMAN, 2002, p.70) Assim é possível formar alunos críticos, capazes de serem mais do que sujeitos passivos que, sem condições de participar e escolher, apenas reclamam da política, enquanto escolhem seus governantes como se estivessem votando em um participante do Big Brother Brasil ou escolhendo um filme no Intercine. Como diz Bamberger (2002, p. 97), “a leitura desprovida de crítica pode levar à simples aceitação mecânica de argumentos e situações. Por isso é que é tão importante desenvolver as capacidades críticas juntamente às capacidades de leitura”. É necessário ensinar as crianças a ler as entrelinhas, a ler as situações, uma vez que desde pequenas elas são educadas mais pela TV do que pela escola ou até pelos próprios pais, com ela aprendem a amar ou a odiar, a falar, a consumir, mas o que geralmente não se ensina é perceber essa manipulação. Não só as crianças, mas também a maioria dos adultos, não percebem a leitura de mundo a qual que se refere Paulo Freire ao dizer que ao olharmos uma nuvem e saber que vai chover, estamos “lendo”, bem ou mal, o mundo que nos cerca (p.71); não conseguem ver além do que está escrito, incapaz de ler situações ou figuras, uma propaganda comercial ou uma pintura, por exemplo. As novelas e filmes, apesar de terem muita influência sobre a formação das pessoas, ainda são consideradas ficção, no entanto, os jornais, como já comentado acima, são tidos como verdades absolutas. Sobre a imparcialidade dos textos jornalísticos, Fiorin concorda com Kleiman (2002), ao dizer: Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para através dele, marcar uma posição ou participar de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre alguma intenção por trás. (FIORIN, 1993, p.13) De acordo com o autor, para fazer uma boa leitura, deve-se sempre levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a ser lida. A leitura deve ser uma interação à distância entre autor e leitor, este procura pistas, formula hipóteses, tira conclusões, aquele, busca a adesão do leitor, deixando pistas para facilitar-lhe a compreensão. Ambos lutam para que essa interação não seja perdida, mesmo que haja divergências entre as opiniões de ambos. Se não ocorrer isso, ou seja, se o leitor não procurar pensar “junto” com o autor, como ocorre na fala, e o leitor ouvir apenas sua voz interior, a leitura vai se tornando uma atividade difícil. É imprescindível que a leitura se faça presente desde o início da vida da criança. Se possível, antes de chegar à escola. Desde pequena ela precisa aprender a ler, primeiro oralmente, pois o simples ato de entender a estória contada, já é uma forma de leitura, depois por meio das figuras, mais tarde, palavras seguidas de pequenas frases, para posteriormente, passar a textos. Essa leitura refere-se ao ato de interpretar, ler e captar o sentido das coisas sejam elas escritas ou não. Assim, serão adultos independentes, que buscam sua própria informação e ao chegar à universidade estarão aptos a trabalhar com os textos oferecidos, tendo apenas que aperfeiçoar sua leitura, e não que começar a criar este hábito. Além disso, não é suficiente que o aluno leia os textos propostos pelo professor, é necessário que vá além, buscando leituras adicionais para complementar e facilitar sua compreensão. É preciso que o leitor seja capaz de perceber a intertextualidade entre os conteúdos lidos e depreender o que é importante para si. Contudo há de se tomar cuidado com a quantidade de informações, sobretudo quando estes textos estão disponíveis na rede mundial de computadores. Para Sanches (apud SOUTO, 2008, p. 39) “o grande volume de fontes de informação disponíveis, principalmente, aquelas acessíveis por meio da internet, faz com que a busca e consulta de notícias e novidades de uma área específica, converta-se em um processo difícil”. A este respeito o autor afirma que para que o usuário não se perca em sua busca é necessário que haja mediações a fim de “agregar valor aos serviços de disseminação seletiva de informações uma vez que, dentre várias outras possibilidades, pode ser usada para definir o papel do usuário. Assim, pode facilitar a identificação das reais necessidades de informação que motivaram o processo de busca de informação”. Choo (apud SOUTO, p. 67) [...] considera que as necessidades de informação 'são muitas vezes entendidas como as necessidades cognitivas de uma pessoa: falhas ou deficiências de conhecimento ou compreensão que podem ser expressas em perguntas ou tópicos colocados perante um sistema ou fonte de informação'. Contudo, o autor alerta para o fato de que a necessidade de informação também tem que satisfazer as necessidades afetivas ou emocionais – aquelas decorrentes dos sentimentos relacionados à necessidade de informação e de como o indivíduo se reconhece dentro do próprio processo de busca de informação. Ou seja, além de saber ler, o sujeito precisa saber filtrar e selecionar os assuntos de seu interesse, pois, ao mesmo tempo em que a internet se apresenta como uma forte aliada na busca de informações, seu conteúdo é muito amplo, assim se não for filtrado o leitor pode se perder na busca, trazendo informações desnecessárias e esquecendo-se do seu objetivo real. Para Pires (p. 30), “A prática dessa atividade intelectual também é fundamental na qualificação do profissional, porquefaz parte da atualização e, consequentemente, o instrumentaliza para adentrar no mercado de trabalho com qualidade, oferecendo mão-de-obra extremamente proficiente na execução das atividades”. Dessa forma, vemos que mais que propiciar informações técnicas para os futuros profissionais para que de fato se qualifique o egresso da universidade, é indispensável a preocupação com formação intelectual, adquirida através da leitura e discussão de ideias, situações e fatos, para que assim haja realmente uma educação superior, que refletirá na educação básica desde as séries iniciais, pois ao aprender a ser leitor, o professor passará a ensinar a prática da leitura e que futuramente afetará positivamente na qualidade dos novos universitários. Como afirma Saviani (1992, p. 29), [...] a compreensão da natureza da educação enquanto um trabalho não material cujo produto não se separa do ato de produção nos permite situar a especificidade da educação como referida aos conhecimentos, idéias, conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular, na forma de uma segunda natureza, que se produz, deliberada e intencionalmente, através de relações pedagógicas historicamente determinadas que se travam entre os homens. (SAVIANI, 1992, p. 29) Para Cagliari (2005, p. 148), “a leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”. No entanto, boa parte dos acadêmicos que ingressam no ensino superior apresentam dificuldades na leitura e compreensão dos textos propostos pelos professores, decorrente dos mais variados motivos. Entre as principais causas da chegada de maus leitores na educação superior está o déficit trazido da educação básica. Segundo Kretzmann e Rodrigues (2006, p.392) “O não leitor é resultado da ineficiência da mediação que tem entre suas causas a má formação dos professores, as condições precárias de trabalho nas escolas, os professores não- leitores e o desconhecimento de que a criança já é leitora antes mesmo de ser alfabetizada.” Contudo, não se pode valer-se disto como desculpa para eternizar o problema, mesmo porque não é o único. Outro fato a se considerar é a falta de políticas públicas voltadas para a educação no sentido de incentivar a leitura na população, sobretudo a adulta. Apesar disso, pouco se faz para sanar o problema, como se pode observar analisando a quantidade de espaços públicos para leitura. Tais espaços se restringem a algumas salas ou espaços abertos em determinados parques, geralmente em grandes cidades, e às bibliotecas públicas, as quais estão cada vez com menos espaço no planejamento dos municípios e sem verbas para sua manutenção. Barbosa (2003, pp. 60-61), É muito importante o papel da biblioteca no contexto da educação, coisa que torna surpreendente observar o quanto é reduzida - por vezes inexistente - a parte reservada às bibliotecas nos orçamentos do ensino fundamental. […] É importante destacar o papel da Biblioteca Nacional, verdadeira memória do patrimônio bibliográfico de um país e fonte fundamental da formação dos estudantes em todos os níveis do sistema de ensino. Aliado ao fato do pouco incentivo a espaços de leitura, ou talvez, derivado deste problema, está a falta da cultura de leitura nas famílias brasileiras. Tal prática não é incentivada pelos pais, pois nem mesmo eles leem. A leitura na educação da criança se restringe às exigências escolares, escola está que também não está preparada, conforme discutido anteriormente. Assim, o indivíduo vai se formando, passa pela adolescência e chega à universidade sem a prática da leitura de forma proficiente, o que se vai tornando um círculo vicioso, pois o estudante não leitor de hoje, via de regra, será o pai de amanhã, que assim como não foi educado a ser leitor também não educará seu filho, salvo raras exceções. CONSIDERAÇÕES FINAIS A leitura, além de indispensável no contexto social, político e econômico, atuando na construção do sujeito enquanto cidadão se apresenta como aliada fundamental na formação do conhecimento, sendo indispensável em qualquer nível educacional. Como se vê nas discussões acima é grande a dificuldade em se inserir a leitura no cotidiano das pessoas e que este problema se dá desde o início da vida estudantil e infelizmente se estende pela universitária. Partindo-se deste princípio, percebe-se que os estudantes brasileiros tanto na educação básica quanto no ensino superior apresentam déficit em relação à prática de leitura, o que dificulta sua interpretação e compreensão dos textos, retendo-se a mera decodificação de símbolos. Contudo não se deve colocar a decodificação como a grande vilã dos problemas relacionados às dificuldades do leitor. A decodificação de signos faz parte do processo de aprendizagem, o grande problema é parar nela. Após decodificação o leitor precisa conseguir compreender o que o escritor quis dizer para que faça a interpretação que é um processo subjetivo que envolve o conhecimento que o sujeito adquire no decorrer da vida, ainda que num curto espaço de tempo, no caso das crianças e que assim possa não só apreender significados como também se posicionar diante do assunto, baseado em suas concepções de mundo. Esta concepção de leitura vai de encontro às definições discutidas ao longo deste artigo, que afirmam que seu conceito não pode estar restrito a relações linguísticas, escolares ou afins, mas que se relaciona a leitura de mundo e influencia em como o sujeito vai se construir como cidadão atuante não apenas em seu trabalho, mas em todos os âmbitos da vida em comunidade, interferindo positivamente na construção de sua sociedade. Ou seja, não há como dicotomizar educação escolar da educação social, formação do sujeito para a vida. E nesse ínterim a importância da leitura é inquestionável, ousando-se dizer que a mesma seja a grande responsável pelo sucesso deste processo educacional. A partir da análise realizada neste estudo percebe-se que a leitura não é uma prática constante na vida dos alunos, principalmente fora do ambiente escolar. Constata também que esta pode ser uma grande aliada para desenvolver, junto à interpretação de textos, o pensamento crítico do discente. REFERÊNCIAS BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 2002. BARBOSA, R.L.L. Formação de Educadores: desafios e perspectivas. São Paulo: Editora UNESP,2003. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & linguística. São Paulo: Scipione, 1998. FREIRE, P. A importância do ato de ler. 47. ed. São Paulo: Cortez, 2006. FIORIN, J. L. & SAVIOLI, F. P. Para Entender o Texto. 7. ed. São Paulo: Ática, 1993. KLEIMAN, A. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. 9. ed. Campinas: Pontes, 2002.
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