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Resenha 2 Relatório Questão Agrária

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Instituto de Geociências
Curso de Geografia
Unidade Curricular: Geografia Agrária 
Orientação e Docência: Walter
2014.2
 Resenha 2 Geografia Agrária
“Questão Agrária no Brasil atual: uma abordagem a partir da Geografia”
Aluno:
Mateus Henrique Gomes Soares
Niterói, novembro de 2014
O texto “Questão Agrária no Brasil atual: uma abordagem a partir da Geografia” do professor do departamento de Geografia da UERJ, Paulo Alentejano, aborda a reinterpretação da questão agrária no Brasil. Interpretada dentro de um novo arranjo político brasileiro, é vista como uma consequência da predominância do agronegócio como modelo agrário, em detrimento da agricultura tradicional. 
Está preocupado o autor em fornecer uma análise voltada mais para a Geografia do que para a Economia (Delgado) acerca de atualizar a interpretação da questão agrária sem que, de um lado, caie nos modismos formados nessa questão e, de outro, dispense uma produção teórica e política necessária para fazer sua análise. Com base nessa perspectiva, o autor realiza uma análise firmada em quatro pontos relacionados ao quadro atual da questão agrária brasileira. São:
Concentração fundiária e desigualdade gerada por esta;
O crescente processo de internacionalização da agricultura brasileira;
As transformações ocorridas dentro da dinâmica produtiva;
Os constantes quadros de violência, exploração do trabalho humano e devastação ambiental.
Para o primeiro ponto, Paulo afirma três causas responsáveis para a solidificação do processo de concentração fundiária no Brasil. Com raízes históricas, argumenta que desde o processo de cultivo de culturas com a finalidade de exportação, desde o período Colonial brasileiro, pode ser compreendido como um marco para estabelecimento de uma lógica de apropriação da terra e de sua produção.
A segunda e terceira, relacionadas, derivam do crescimento do agronegócio e do avanço da fronteira agrícola em direção ao norte do País, mais precisamente a Amazônia. Com base nas três causas, criou-se um quadro de desigualdade da estrutura fundiária brasileira. Analisando a quantidade e extensão dos estabelecimentos brasileiros, com base nos dados do IBGE, vemos o contraste brasileiro em que há muitos estabelecimentos com pouca terra e poucos estabelecimentos que detém de grande parte dos hectares:
“(...) os pequenos estabelecimentos – com menos de 10 há – são 47% do total, mas a área ocupada pelos mesmos é de apenas 2,7% do total, ao passo que no pólo oposto, os estabelecimentos com mais de 1000 há são apenas 0,9% do total, mas ocupam 43% da área.” (ALENTEJANO p.2).
Tal quadro ocasionou outros três pontos importantes: a discrepância da representação política entre pequenos agricultores e grandes proprietários, a expulsão dos trabalhadores no campo e contribuição da transferência do patrimônio nacional para o controle estrangeiro. 
O segundo ponto, sobre o processo de internacionalização da agricultura brasileira, demonstra o domínio de empresas estrangeiras na produção agrícola nacional. Este contexto é baseado na interpretação do geógrafo David Harvey acerca de um atual processo de “renovação do imperialismo” (p.5). Tal processo pode ser exemplificado pelo fortalecimento do agronegócio como modelo produtivo.
O Brasil, por ser um país rico tanto em quantidade de terra cultivável como em fornecimento de água, é considerado como um território propício para o enriquecimento de empresas do agronegócio. Com o crescimento desse modelo a terra é vista cada vez mais como uma mercadoria, ao passo que a visão do agro como um lugar e modo de vida cai no esquecimento.
O controle das empresas transnacionais na agricultura brasileira é possível por conta das mazelas legais do sistema que facilitam o acesso estrangeira a terra, como também a fraca fiscalização do Estado. Por conta do controle estrangeiro, vem ocorrendo um crescente investimento no tratamento de transgênicos, porém este não é exclusividade dessas empresas, visto que muitas nacionais também vêm investindo nesse tratamento.
Por conta da concentração fundiária mais o crescimento da internacionalização da agricultura brasileira, com suas consequências enunciadas, o autor constrói o quadro de fragilização existente, em que a dinâmica produtiva atual da agropecuária brasileira contribui para a solidificação de um quadro de insegurança alimentar no país. O terceiro ponto do artigo, portanto, trata das alterações na dinâmica produtiva.
Ao ponto em que a produção de alimentos básicos, voltados muitas vezes para o consumo interno como o arroz, feijão e mandioca, decrescem, as culturas voltadas da para exportação ou para fins industriais (combustíveis, por exemplo) aumentam, como a cana-de-açúcar, a soja e o milho. Atenta-se para o fato de que essa segunda produção vem recebendo fortes investimentos do setor público, como o autor exemplifica com o caso do BNDES e a utilização da verba do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
	O quarto e último ponto analisa a situação de violência, exploração e devastação existente no modelo agrário brasileiro. Considerando como sempre presentes na história brasileira, o autor reforça que tais características têm sido reforçadas pela questão agrária atual. Unindo a questão da violência e da exploração têm-se a questão da escravidão na produção agrícola, relembrando que apesar de se mostrar uma clara violação dos direitos humanos, o trabalho escravo representa uma maior fonte de lucro para os empresários, reduzindo seus custos com pagamento de trabalhadores do campo por exemplo. Lembra também da participação do setor público na manutenção dessa escravidão do campo, seja com participação acionária ou com financiamento público através do BNDES.
	Quanto à questão da devastação ambiental, o autor considera dois pontos relevantes, o crescimento do uso de agrotóxicos e o já mencionado uso avanço da fronteira agrícola. Dentro de sua conclusão, o autor explicita o caso de redução da Amazônia Legal, em que se exclui o Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, aumentando dessa forma a área para exploração, e consequentemente, aumentar o desmatamento ambiental. 
 	Forma-se um confronto entre estratégias elaboradas pelo agronegócio para aumentar a exploração e produção em áreas de preservação ambiental ou assentamentos rurais e de uso comum contra a resistência de movimentos e pequenos segmentos defensores de justiça no campo, da reforma agrária, como o papel desempenhado pelo MST. Infelizmente o Estado brasileiro tem contribuído com o sucesso do lado do agronegócio, visto que seus investimentos neste modelo produtivo. Aos pequenos proprietários e trabalhadores tem restado a desapropriação de suas terras e a proletarização de suas funções.
Durante o artigo o autor utilizou uma linguagem clara e objetiva para tratar do tema da questão agrária, de modo que até um iniciante no tema consegue entender o contexto e as ideias contidas no artigo. Junto da linguagem com a utilização de quadros, gráficos e citações, o autor conseguiu solidificar seus argumentos. Contudo, poderia ter utilizado de uma base teórica maior para tratar de temas relacionados, por exemplo, à herança histórica brasileira e o processo de desenvolvimento da agricultura e a construção de seus agentes históricos.

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