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Estágio Básico em Psicologia I
Prof. Richard Couto 
 A comunicação 
Eis que o futuro chegou, e o que tomou a frente da cena parece ter sido mesmo o que diz respeito à comunicação. Acreditamos poder dizer que, no fim das contas, o que mais se acelerou em nossos tempos foram os laços que nos ligam, ou tentam nos ligar, uns aos outros. Afinal, a comunicação não visa isso? É verdade que mediados pela alta tecnologia — fios, eletricidade, dispositivos ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético —, mas o que está no centro da cena é o apelo à criação de laços com os outros.
Se em outros momentos da história da humanidade o homem apelava a outros valores para se haver com as dificuldades da vida — como a constituição da lei, a fé em Deus, as luzes da razão —, na contemporaneidade parece ser no anseio de criar laços, de comunicar-se, que o homem aspira a encontrar a salvação para suas dificuldades e, sobretudo, para o seu desamparo. Ancorados uns nos outros buscamos obter algum apoio, mesmo que o outro ao qual nos ligamos esteja nas mesmas condições de desamparo que nós mesmos. Isso parece estar bem representado na pintura A parábola dos cegos, de 1568, do pintor flamengo Pieter Brueguel, chamado o Ancião, na qual uns tantos cegos, andando pela rua em fila, encontram-se certamente uns apoiados nos ombros dos outros, porém todos juntos não sabem aonde vão chegar.
Diferentemente dos animais, a programação mental humana é incompleta. Seu sistema de comunicação é aberto porque o ser humano não é binário: é múltiplo e a linguagem que inventa comporta, como ele mesmo, uma “falha”. É ambígua, há flutuações contínuas nos sentidos das palavras — equívocos, deslizes de sentido, lapsos de língua, chistes, atos falhos, jogos de palavras, ficções, repetições, lapsos de memória, rasuras, lacunas, erros, tropeços. A linguagem humana carece do operador binário que põe tudo em ordem, que transforma o caos em um sistema de comunicação infalível. 
A verdade de nossa linguagem é inacabada e inominável — é inatingível. À linguagem humana falta verdade eterna. Por isso mesmo, a palavra, se nos revela, também nos oculta em sua opacidade. Resta ao homem se esgarçar no espaço da linguagem.
A capacidade humana para criar a linguagem se realiza na língua de uma comunidade lingüística específica. O sujeito utiliza essa língua em sua fala (ou discurso) individual. Dada sua origem “comunitária”, a fala de um sujeito é necessariamente vascularizada pelas vozes da cultura de que faz parte, dentro de uma sincronia em constante mutação, sem jamais atingir o “equilíbrio” ou o “ponto ideal” — que só poderia ser mítico. 
Por isso mesmo, aprender uma língua é simultaneamente conhecer os universos cultural, social e individual dos quais essa língua fala. Ou seja, a língua diz bem mais do que se pensa. Não é somente um “instrumento de comunicação”. Ao aprender uma língua, conhecemos como se organiza o campo de significações que ela reflete, tanto do indivíduo (campo da psicanálise) quanto de uma comunidade lingüística (campo da sociolingüística). 
Em outras palavras, as pacientes histéricas de Freud fazem fracassar a hipnose e fundam o lugar do analista — e a própria psicanálise — ao fazê-lo mudar a sua técnica: da hipnose ele passa a utilizar a associação livre. Dessa forma, Freud percebe que seus pacientes tinham um tipo de fala lacunar, partida, sem a sequência de causalidade esperada na fala comum. Eles utilizavam uma sintaxe na qual faltavam palavras em razão da impossibilidade de o paciente dizer toda a sua intenção semântica — dizer sobre seu desejo, enfim. 
A psicanálise nasce com o propósito — uma insistência de Freud — de desrecalcamento que advirá pela fala. Esta põe em exercício o mecanismo que rege o funcionamento da linguagem, em tudo similar ao dos sonhos: a condensação (a metáfora) e o deslocamento (a metonímia), tal como descritos na Interpretação dos sonhos (1900), em que Freud revela ao mundo a existência de uma instância mental sobre a qual o homem não tem controle e afirma que “o homem não é senhor de sua casa” porque está submetido às leis do inconsciente.
A escuta – clínica da escuta
Há uma diferença entre clínica da escuta e clínica do olhar (observação). A clínica da medicina é uma clínica do olhar.
É preciso, antes de tudo, que apareça alguma possibilidade de o sujeito escutar algo dele mesmo, no próprio ato de se queixar. É preciso que o sujeito se situe no que está falando e, no mínimo, se intrigue com o seu posicionamento. Fomentar no sujeito esse trabalho de investigação, de escuta da própria fala, de intriga quanto a si mesmo. Se ele vai ter ou não sucesso em seus esforços vai depender da situação, mas a parte dele ele tem que fazer.
Acontece também de o sujeito que chegou se queixando do mundo, dos seus insucessos, começar rapidamente a perceber que ele tem a ver com isso. Que suas atitudes, seu modo de se colocar, implicam certas manifestações que, ainda que ele não tenha consciência delas, promovem a situação da qual ele se queixa. Aperceber-se disso tanto pode provocar no sujeito uma vontade de investigar que motivações são essas que o conduzem malgrado a sua vontade, quanto fazer com que ele não queira mexer nisso e interrompa o processo aí, buscando, às vezes, um recurso apaziguador, algo que não solicite dele trabalho pessoal algum.
O “logro estrutural” da linguagem humana consiste em sua estrutura de rombo, análoga à do sujeito que a criou. Por isso mesmo, na constituição das chamadas línguas naturais (português, francês, inglês etc.) há sempre três elementos: EU (o sujeito que fala), TU (seu ouvinte) e ELE (o assunto de que se fala). Este último aponta para a simbolização inerente à existência da linguagem; a simbolização que está no lugar de uma ausência, da falta que também é do sujeito que fala. 
Para Coutinho e Rocha (2007), o trabalho com a palavra, ou mais especificamente, com uma fala endereçada, permite que questões emergentes possam ser desdobradas e arejadas, abrindo possibilidades de intervenção e de investigação.
A origem da Psicoterapia
psicoterapia al. Psychotherapie; esp. psicoterapia; fr. psychothérapie; ing. psychotherapy. Método de tratamento psicológico das doenças psíquicas que utiliza como meio terapêutico a relação entre o médico e o paciente, sob a forma de uma relação ou de uma transferência. O hipnotismo, a sugestão, a catarse, a psicanálise e todos os métodos terapêuticos próprios da história da psiquiatria dinâmica estão incluídos na noção de psicoterapia. 
A palavra psicoterapia como tal generalizou-se no vocabulário clínico a partir de 1891, quando Hippolyte Bernheim publicou Hipnotismo, sugestão e psicoterapia. Historicamente, a psicoterapia nasceu, ao mesmo tempo, do antigo “tratamento moral”,
aperfeiçoado pelo alienista francês Philippe Pinel (1745-1826), e do tratamento magnético inventado por Franz Anton Mesmer. No primeiro caso, o médico recorre, no doente, a um “resto de razão” através do qual uma consciência alienada escapa à loucura*, e no segundo, ele atribui à existência de um “fluido” (ou magnetismo animal) a causa do distúrbio psíquico. 
Entrevista psicológica
A conceituação clássica da entrevista psicológica, base para muitos autores que vieram a seguir, é a de Sullivan (1970), que a define como:
Uma situação de comunicação vocal entre duas pessoas (a two-group) mais ou menos voluntariamente integrados num padrão terapeuta-cliente que se desenvolve progressivamente com o propósito de elucidar formas características de vida das pessoas entrevistadas, e vividas por elas como particularmente penosas ou especialmente valiosas e, de cuja elucidação ela espera tirar algum benefício.
A entrevista psicológica pode ser entendida como aquela na qual se buscam objetivos psicológicos (investigação, diagnóstico, terapia, etc.).
De acordo com Bleger (1998) na consideração da entrevista psicológica como técnica, ela tem seus próprios procedimentos ou regras empíricas:
Com os quais não só se amplia e se verifica como também, ao mesmotempo, se aplica o conhecimento científico. Essa dupla face da técnica tem especial gravitação no caso da entrevista porque, entre outras razões, identifica ou faz coexistir no psicólogo as funções de investigador e de profissional, já que a técnica é o ponto de interação entre a ciência e as necessidades práticas; é assim que a entrevista alcança a aplicação de conhecimentos científicos e, ao mesmo tempo, obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da elaboração científica. E tudo isso em um processo ininterrupto de interação.
Conforme Augras (2002) na situação do encontro em psicologia clínica, o aspecto da informação para fins de diagnóstico é especificamente a fala do cliente, ou seja, a situação da fala aponta dois vetores: fala-se e ouve-se. Dessa forma, o registro realizado pelo entrevistador do discurso do cliente: quer seja o relato razoavelmente espontâneo obtido na entrevista, ou o conjunto das respostas a determinados estímulos que constituem o aparato instrumental próprio da sua profissão, é o material básico que fundamenta a compreensão do “caso” (Augras, 2002, p. 82).
Tavares (2002) ressalta que as técnicas de entrevistas favorecem a manifestação das particularidades do sujeito, permitindo assim ao profissional:
Acesso amplo e profundo ao outro, a seu modo de se estruturar e de se relacionar, mais do que qualquer outro método de coleta de informações. Por exemplo, a entrevista é a técnica de avaliação que pode mais facilmente se adaptar às variações individuais e de contexto, para atender às necessidades colocadas por uma grande diversidade de situações clínicas e para tornar explícitas particularidades que escapam a outros procedimentos. Por meio dela, pode-se testar limites, confrontar, contrapor e buscar esclarecimentos, exemplos e contextos para as respostas do sujeito. Esta adaptabilidade coloca a entrevista clínica em um lugar de destaque inigualável entre as técnicas de avaliação (p. 75).
Enfatizando o tema, pode-se dizer que o objeto da entrevista psicológica é a relação entre entrevistador (a quem se pede ajuda) e o entrevistado (aquele que pede ajuda). Da mesma forma, mesmo que a entrevista psicológica seja usada com a finalidade explícita de se fazer algum tipo de avaliação – e nesse caso seu objeto seria o de avaliação de aspectos psicológicos da personalidade – a observação participante, como diz Sullivan (1970), ou a observação da interação, ou a observação do campo, segundo Bleger (1998), é o ponto básico e principal dessa técnica.
Gill e colaboradores citados por Thomä & Kächele (1992) apontam que a entrevista psiquiátrica tradicional contrapõe-se à “entrevista dinâmica” a qual se orienta segundo três metas: estabelecer uma relação entre duas pessoas, uma que sofre e pede ajuda e outra que é um profissional; proceder a uma avaliação, daquela que sofre e reforçar o seu desejo de tratamento.
A observação, exercida pelo entrevistador participante do campo da entrevista, torna-se a principal estratégia técnica para a coleta e a organização das informações de que ele necessita para a avaliação das funções psíquicas do entrevistado. Sem esse procedimento não é possível entrar em contato com o mundo mental do entrevistado, o que é uma das metas da entrevista de avaliação. A questão aqui é que essa avaliação se faz ao vivo e não in vitro. Vivos estão o entrevistador e o entrevistado e, como já dissemos, o objeto da observação é a relação entre os dois. Por isso, diz-se que a observação é participante, uma vez que o entrevistador também compõe, com as suas vivências, o campo da entrevista (Hulak, 1988).
É importante ressaltarmos o trabalho de E. Rolla (1981), psicanalista argentino, sobre a entrevista psicanalítica usada com fins de avaliação. Ele propõe alguns passos estratégicos na condução da entrevista que permitem a avaliação das ansiedades e defesas e a qualidade das relações de objeto do entrevistado, bem como dos pontos nodais dos seus conflitos. Sugere que o entrevistador fique atendo à organização de três momentos da entrevista: a chegada do entrevistado; o curso intermediário da conversa e o momento final da entrevista, quando se dá a separação. Propõe também que as análises das ansiedades e defesas reveladas nesses momentos sejam os indicadores mais importantes para avaliação desejada. Fala de ansiedades paranóides, fóbicas, de defesas maníacas ou obsessivas usando uma linguagem psiquiátrica emprestada à psicanálise
Dessa forma, para Silveira (2001) os referenciais teóricos oriundos da Psicanálise, Gestalt, Behaviorismo, influenciam tanto a técnica da entrevista quanto a sua análise, ou seja:
A fundamentação teórica do psicólogo permite realizar a entrevista em condições metodológicas mais restritas, convertendo-a em instrumento científico com resultados confiáveis. Entretanto, a entrevista, utilizada isoladamente, não substitui outros procedimentos de investigação da personalidade, mas completa os dados obtidos por outros instrumentos (p. 100).Temos também segundo Bleger (1998) que a entrevista pode ser de dois tipos fundamentais: aberta e fechada.
Na fechada as perguntas já estão previstas, assim como a ordem e a maneira de formulá-las, e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas disposições. Na entrevista aberta, pelo contrário, o entrevistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções, permitindo-se toda a flexibilidade necessária em cada caso particular. A entrevista fechada é, na realidade, um questionário que passa a ter uma relação estreita com a entrevista, na medida em que uma manipulação de certos princípios e regras facilita e possibilita a aplicação do questionário (p. 3).
Porém, devemos desde já destacar que a liberdade do entrevistador, no caso da entrevista aberta, reside num manejo que permita, na medida do possível, que o entrevistado configure o campo da entrevista segundo sua estrutura psicológica particular ou – dito de outra maneira – “que o campo da entrevista se configure, o máximo possível, pelas variáveis que dependem da personalidade do entrevistado” (Bleger, 1998, p. 4).
Assim sendo, a entrevista aberta permite um aprofundamento mais amplo da personalidade do entrevistado, embora a entrevista fechada permita uma melhor comparação sistemática de dados, além de outras vantagens próprias de todo método padronizado.
De outro ponto de vista, considerando o número de participantes, distingue-se a entrevista em individual e grupal, seja um ou mais os entrevistadores e/ou os entrevistados. Vale ressaltar aqui como exemplo de entrevista grupal as entrevistas sistêmicas para avaliar casais e famílias que estão se tornando cada vez mais relevantes em psicologia, sobretudo quando há a demanda de atenção psicológica para crianças e adolescentes (Féres-Carneiro, 1996). 
Elas podem focalizar a avaliação da estrutura ou da história relacional ou familiar. Podem também avaliar aspectos importantes da rede social de pessoas e famílias. Essas técnicas são muito variadas e fortemente influenciadas pela orientação teórica do entrevistador (Tavares, 2002). Para Bleger (1998) a realidade é que, em todos os casos, “a entrevista é sempre um fenômeno grupal, já que mesmo com a participação de um só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função da psicologia e da dinâmica de grupo” (p. 4).
Ainda para Bleger (1998) pode-se diferenciar também as entrevistas segundo o beneficiário do resultado; assim, podemos distinguir: a) a entrevista que se realiza em benefício do entrevistado – que é o caso da consulta psicológica ou psiquiátrica; b) a entrevista cujo objetivo é a pesquisa, na qual importam os resultados científicos; c) a entrevista que se realiza para um terceiro (uma instituição). Cada uma delas implica variáveis distintas a serem levadas em conta, já que modificam ou atuam sobre a atitude do entrevistador, assim como do entrevistado, e sobre o campo total da entrevista. Uma diferença fundamental é que, excetuando o primeiro tipo de entrevista,os dois outros requerem que o entrevistador desperte interesse e participação, que “motive” o entrevistado.
Da mesma forma, conforme Tavares (2002), as diversas técnicas de entrevista têm em comum o objetivo de avaliar para fazer algum tipo de recomendação, seja diagnóstica ou terapêutica. A entrevista, como ponto de contato inicial, é crucial para o desenvolvimento de uma relação de ajuda. A aceitação das recomendações ou a permanência no tratamento dependem de algumas características importantes desse primeiro contato, que são influenciadas por um conjunto de competências do entrevistador. A dificuldade de aceitação das recomendações ou a desistência de iniciar um processo terapêutico, quando ocorre, se dá nos primeiros contatos.
Uma entrevista, na prática, antes de poder ser considerada uma técnica, repetindo, deve ser vista como um contato social entre duas ou mais pessoas. O sucesso da entrevista dependerá, portanto, da qualidade geral de um bom contato social, sobre o qual se apoiam as técnicas clínicas específicas. Desse modo, a execução da técnica é influenciada pelas habilidades interpessoais do entrevistador. Essa interdependência entre habilidades interpessoais e o uso da técnica é tão grande que, muitas vezes, é impossível separá-las. O bom uso da técnica deve ampliar o alcance das habilidades interpessoais do entrevistador e vice-versa. Para levar uma entrevista a termo de modo adequado, Tavares (2002) ainda nos sugere que o entrevistador deve ser capaz de:
1) estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro naquele momento, e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais;
2) ajudar o entrevistado a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho;
3) facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou a buscar ajuda;
4) buscar esclarecimento para colocações vagas ou incompletas;
5) gentilmente, confrontar esquivas e contradições;
6) tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;
7) reconhecer defesas e modos de estruturação do sujeito, especialmente quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador (transferência);
8) compreender seus processos contratransferênciais;
9) assumir a iniciativa em momentos de impasse;
10) dominar as técnicas que utiliza.
O aconselhamento psicológico 
O aconselhamento originou-se com Frank Parsons, em 1909, com o objetivo de promover ajuda a jovens em processo de escolha da carreira e em face à emergência de novas profissões e ocupações devido à Revolução Industrial. O foco do aconselhamento era, portanto, conhecer as principais inclinações desses jovens para que eles pudessem ser encaminhados para ocupações consideradas adequadas a esses perfis profissionais (Patterson e Eisenberg, 1988), tanto no cenário escolar como no organizacional, em uma clara referência à teoria de traço e fator. Para essa teoria, muito empregada no contexto da orientação escolar e profissional à época, os indivíduos poderiam ser diferenciados entre si em termos de habilidades físicas, aptidões e interesses, de modo que essas características estariam mais diretamente relacionadas a determinadas profissões e ocupações. 
Assim, o processo de escolha deveria ser racional, encaminhando as pessoas para as profissões consideradas ideais a partir do exame dessas características apresentadas por cada um. Tal teoria alinhava-se aos princípios da psicometria e do positivismo, que priorizava a adaptação e o ajustamento do indivíduo ao mundo do trabalho, por meio do reconhecimento das habilidades e competências de cada um e dos processos de aprendizagem, distanciando o aconselhamento do campo da psicoterapia (Scheeffer, 1980; Schmidt, 2012).
Com o tempo, o campo do aconselhamento se ampliou, passando a designar uma relação de ajuda na qual o cliente, ou a pessoa em busca de atendimento, buscava alívio para suas tensões, esclarecimentos para suas dúvidas ou acompanhamento terapêutico em face de problemáticas enfrentadas em diversos domínios da vida, como o educacional, o profissional e o emocional, não envolvendo apenas o fornecimento de informações, a aplicação de testes psicológicos e a orientação considerada diretiva (Hutz-Midgett e Hutz, 2012; Morato, 1999; Pupo e Ayres, 2013; Rosenberg, 1987; Scorsolini-Comin e Santos, 2013; Trindade e Teixeira, 2000). 
Foi o estudo de Carl Rogers (1942), especificamente a publicação da obra Counseling and Psychotherapy, que promoveu essa ampliação no campo do aconselhamento e a sua maior aproximação com a área da Psicologia Clínica e da psicoterapia, que já tinha bastante tradição à época. É por esse motivo que as discussões existentes na literatura científica que aproximam aconselhamento e psicoterapia possuem como ponto de referência os estudos de Rogers, o que traz à baila a abordagem centrada na pessoa, também destacada neste presente estudo como forma de possibilitar a aproximação desses campos de saber e intervenção psicológica. Para Rogers, havia semelhanças e diferenças entre esses campos, embora não devesse ser tarefa fundamental delimitar os objetivos de cada uma dessas atuações, pois ambas se colocavam a serviço de pessoas em sofrimento que buscavam ajuda (Almeida, 2009; Castelo Branco, 2011). Esses embates já foram mais tradicionais na Psicologia, que buscava um maior esclarecimento acerca de seus campos de atuação, notadamente nos anos seguintes à publicação desse trabalho de Rogers. No entanto, ainda hoje, esses campos parecem chocar-se, mesclar-se e complementar-se em diversas questões do processo de ajuda. 
O aconselhamento psicológico é uma das disciplinas consideradas básicas na formação do psicólogo e tem sua prática regulamentada no Brasil, sendo, muitas vezes, utilizado como forma de aproximar o aluno do universo clínico e dos atendimentos nos estágios específicos supervisionados (Scorsolini-Comin e Santos, 2013). A prática do aconselhamento esteve tradicionalmente atrelada a diversas possibilidades de atuação, como fornecimento de informações, feedback positivo, direcionamento, orientação, encorajamento e interpretação. Essa diversidade pode ser constatada no modo como são conhecidos os profissionais que atuam nessa área: psicólogos, terapeutas, conselheiros, aconselhadores, orientadores, profissionais de saúde, entre outros (Corey, 1983; Schmidt, 2012).
Há diversas formas de definir o aconselhamento psicológico, desde a adoção de referenciais generalistas que focam na explicitação do processo de aconselhamento sem menção direta a abordagens psicológicas, até mesmo de posicionamentos que partem exclusivamente de uma dada abordagem teórica para explicitar o que se concebe como aconselhamento psicológico. Genericamente, trata-se de uma experiência que visa a ajudar as pessoas a planejar, tomar decisões, lidar com a rotina de pressões e crescer, com a finalidade de adquirir uma autoconfiança positiva. Pode ser considerada uma relação de ajuda que envolve alguém que busca auxílio, alguém disposto a ajudar e apto para essa tarefa, em uma situação que possibilite esse dar e receber apoio (Hackney e Nye, 1977). Outra definição clássica é de uma “relação face a face de duas pessoas, na qual uma delas é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional, profissional, vital e a utilizar melhor os seus recursos pessoais” (Scheeffer, 1980, p. 14). 
Ainda em termos das abordagens genéricas acerca do aconselhamento, é compreendido por Patterson e Eisenberg (1988, p. 20) como um “processo interativo, caracterizado por uma relação única entre conselheiro e cliente, que leva este último a mudanças em uma ou mais das seguintes áreas”: comportamento, construtos pessoais, capacidade para ser bem-sucedido nas situações da vida ou conhecimento e habilidade para a tomada de decisão. Para Corey (1983), aconselhamento é o processo pelo qual se dá a oportunidade de os clientes explorarem preocupações pessoais, ampliando a capacidade de tomar consciência e das possibilidades de escolha. 
Em que pesem as definições mais diretamenterelacionadas a abordagens psicológicas específicas, Santos (1982, p. 6), um dos pioneiros do aconselhamento psicológico no Brasil e cujo pensamento esteve fortemente alinhado à abordagem centrada na pessoa, define a tarefa de aconselhar como o “processo de indicar caminhos, direções e de procedimentos ou de criar condições para que a pessoa faça, ela própria, o julgamento das alternativas e formule suas opções”. Nesse sentido, o aconselhamento seria diferente da orientação e da psicoterapia, embora guarde semelhanças com essas outras tarefas ligadas a uma relação de ajuda. Esse mesmo autor, evocando as contribuições de Carl Rogers para o campo, afirma que o aconselhamento pode ser compreendido como um “[...] método de assistência psicológica destinado a restaurar no indivíduo suas condições de crescimento e de atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a realidade que o cerca e a agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla satisfação pessoal e social” (Santos, 1982, p. 7). 
Em uma perspectiva fenomenológica, trata-se de uma relação entre duas pessoas na qual a “presença de um aconselhador torna-se existencialmente terapêutica [...] para os aconselhandos” (Forghieri, 2007a, p. 1), motivo pelo qual o aconselhamento psicológico é também referido como aconselhamento terapêutico nessa abordagem. Essa relação interpessoal requer “a presença genuína do aconselhador, manifestada por ele mediante diferentes atuações” (Forghieri, 2007a, p. 1), como fornecimento de informações, exame e reflexão sobre situações conflitantes vivenciadas pelo cliente, o reconhecimento e a exploração de recursos e capacidades pessoais do aconselhando. O foco no indivíduo e a presença genuína do conselheiro é também um dos elementos centrais no aconselhamento proposto por Rogers (1942) na abordagem centrada na pessoa. Para esse autor, o objetivo do aconselhamento é facilitar o crescimento do indivíduo, ao invés de resolver problemas específicos, ou seja, o conselheiro seria um facilitador desse crescimento e da busca por maior autonomia e liberdade por parte daquele que busca ajuda
Ser realmente o que se é, eis o padrão da vida que lhe parece ser o mais elevado, quando é livre para seguir a direção que quiser. Não se trata simplesmente de uma opção intelectual, mas parece ser a melhor descrição do comportamento hesitante, provisório e através do qual procede à exploração daquilo que quer ser (Rogers, 1973, p. 155).
O processo de aconselhamento possui determinadas etapas nas quais algumas tarefas estão presentes e contribuem para uma intervenção bem-sucedida. A partir da leitura de teóricos como Corey (1983), Patterson e Eisenberg (1988), Santos (1982) e Tyler (1953), Pupo e Ayres (2013) condensaram desse modo as etapas do aconselhamento, que podem variar segundo algumas abordagens: (a) identificar e analisar problemas específicos; (b) ampliar a compreensão da pessoa acerca do problema; (c) avaliar os recursos pessoais existentes e que podem ser desenvolvidos para resolver o problema; (d) definição do potencial de mudança dessas condições e atitudes pessoais; (e) utilização de ações específicas e que podem contribuir para o processo de mudança e/ou transformação referente ao problema relatado. Desse modo, também considerando as diferenças existentes entre as abordagens teóricas, Pupo e Ayres (2013, p. 1091) sumarizam, a partir da literatura científica, que o aconselhamento é uma “tecnologia de ajuda, de cuidado, e como uma prática instrumental que oferece auxílio estruturado e personalizado para o manejo de situações difíceis e de crise que exigem ajustamentos e adaptações, para a solução de problemas específicos e para a tomada de decisões”.

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