Buscar

CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Prévia do material em texto

CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Existem no Código Civil previsões que excluem a responsabilidade de agente causador do dano. Parte da doutrina brasileira, como Maria Helena Diniz, por exemplo, acredita tratar-se de causas excludentes da imputabilidade do agente, enquanto outra corrente, adotada por Carlos Roberto Gonçalves, acredita haver exclusão do nexo causal.
Ainda, uma terceira corrente, sustenta que se trata de exclusão da culpa. No enquanto, embora haja divergência doutrinária acerca do tema, certo é que diante dessas hipóteses, não será o agente responsável civilmente.
 
4.1. LEGÍTIMA DEFESA E EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
Proclama o art. 188, I, do Código Civil:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
Desse modo, agindo o causador do dano contra o próprio agressor, e em legítima defesa real, não pode aquele ser responsabilizado civilmente pelos danos provocados, exceto quando, por engano ou erro de pontaria, atingir pessoa diversa ou alguma coisa de valor, caso em que deverá o agente reparar o dano. No entanto, neste caso, terá ação regressiva contra o agressor, para se ressarcir da importância desembolsada, conforme expresso no parágrafo único do artigo 930, do Código Civil.
Note-se que somente a legítima defesa real exclui a ilicitude do ato, consistindo a legitima defesa putativa somente exclui a culpabilidade e não a antijuridicidade do ato. Embora a esfera criminal a legítima defesa seja considerada erro de fato não ensejando condenação criminal, na esfera cível, mesmo a culpa de natureza levíssima enseja reparação do dano. Nesse sentido:
"Se o ato foi praticado contra o próprio agressor, e em legítima defesa, não pode o agente ser responsabilizado civilmente pelos danos provocados. Entretanto, se por engano ou erro de pontaria, terceira pessoa foi atingida (ou alguma coisa de valor), neste caso deve o agente reparar o dano. Mas terá ação regressiva contra o agressor, para se ressarcir da importância desembolsada." (GONÇALVES, 2011, p. 460)
Já no caso do exercício regular de direito, leciona Venosa:
"A/ssim como a legítima defesa, também não são passíveis de indenização os danos praticados no exercício regular de um direito. Na mesma dicção, deve estar subentendida outra excludente de índole criminal, o estrito cumprimento do dever legal, porque atua no exercício regular de um direito reconhecido quem pratica ato no estrito cumprimento do dever legal." (VENOSA, 2010, p. 67)
 
4.2.ESTADO DE NECESSIDADE
O dispositivo supracitado ainda continua:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Assim, o agente que, em estado de necessidade, causar dano a outrem, não estará cometendo ato ilícito. No entanto, mesmo diante da licitude do ato, não será o agente dispensado do dever de reparar o prejuízo que causou, desde que a pessoa lesada não tenha ensejado o perigo, conforme preceitua o Código Civil:
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
E ainda prossegue no dispositivo seguinte:
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Desse modo, se o perigo decorreu por ato de terceiros, o agente deverá ressarcir o dano causado, mas terá direito de regresso contra o terceiro culpado, para se ressarcir das despesas efetuadas.
À primeira vista, os artigos 929 e 930 parecem estar em contradição com a previsão do artigo 188, uma vez que obrigam o agente a indenizar um dano decorrente de ato considerado lícito. No entanto, entendeu o diploma que a vítima inocente do prejuízo não pode ficar irressarcida.
 
4.3.FATO DE TERCEIRO
Em algumas situações, a ato causador do dano pode não ser provocado pelo agente, mas sim por terceiro. No entanto, no âmbito civil há predominância o princípio da obrigatoriedade do causador direto de reparar o dano. No entanto, nessas situações, terá o autor do dano direito de ação regressiva contra o terceiro responsável por causar o dano para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado, conforme regulado nos artigos 929 e 930 supratranscritos.
 
4.4.CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR
Nos casos em que o dano ocorrer por força de eventos inevitáveis, como por exemplo, inundações, guerras ou raios, ficará excluída a responsabilidade do agente causador do dano, pois rompem com o nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente. Assim preceitua o Código Civil:
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
Verifica-se, portanto, que o diploma legal não fez distinção entre caso fortuito e força maior, equiparando-os perante a lei, no entanto a doutrina costuma distingui-los. Desse modo, caso fortuito é aquele que decorre de ação humana alheia à vontade das partes, como é o caso das greves e motins, por exemplo. Já a força maior é decorrente de acontecimentos naturais, como raios e terremotos, por exemplo.
Anote-se que o caso fortuito não pode jamais provir de ato culposo do obrigado, pois a própria natureza inevitável do acontecimento que o caracteriza exclui essa hipótese. Somente pode resultar de uma causa estranha à vontade do devedor, irresistível, o que já indica ausência de culpa.
 
4.5.CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA
 Nos casos em que o dano causado decorrer exclusivamente por culpa da vítima, a responsabilidade do agente desaparece, pois a relação de causa e efeito entre o ato deste e o prejuízo daquela deixa de existir.
No entanto, nos casos em que a vítima apenas concorrer para o evento danoso em conjunto com o agente, ou seja, quando ambos contribuírem para o evento danoso, ao mesmo tempo, haverá repartição da responsabilidade, de acordo com o grau de culpa, sendo a indenização fixada de acordo com a participação do agente para o prejuízo. Assim preceitua o artigo 945, do Código Civil:
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
Ainda, em alguns casos, como o previsto no parágrafo 2º, do artigo 17, do Decreto 2.681/12, o qual trata sobre as estradas de ferro, somente a culpa exclusiva da vítima isenta a responsabilidade do transportador, inexistindo, portanto, a figura de culpa concorrente entre vítima e agente causador do dano. Assim:
Art. 17 – As estradas de ferro responderão pelos desastres que nas suas linhas sucederem aos viajantes e de que resulte a morte, ferimento ou lesão corpórea.
A culpa será sempre presumida, só se admitindo em contrário alguma das seguintes provas:
2ª - Culpa do viajante, não concorrendo culpa da estrada.
 
4.6.CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR
Silvio Venosa leciona que a cláusula de não indenizar é aquela pela qual uma das partes se exime de responsabilidade por danos emergentes do contrato, seu inadimplemento total ou parcial, alterando, assim, o sistema de riscos no contrato. Trata-se da exoneração convencional do dever de reparar o dano, sendo que, nessa situação, os riscos do contrato são transferidos para a vítima. (VENOSA, 2010, p. 73)
Sobre o assunto, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho afirmam:
 “Essa cláusula só deve ser admitida quando as partes envolvidas guardarem entre si uma relação de igualdade, de forma que a exclusão do direito à reparaçãonão traduza renúncia da parte economicamente mais fraca”. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 163)
 Tem como finalidade isentar uma das partes do dever de indenizar, transferindo os riscos para a vítima. O ordenamento jurídico atual não simpatiza com essa previsão nos contratos, sendo que o Código de Defesa do Consumidor veda expressamente sua utilização nas relações de consumo, as quais constituem a grande parte dos contratos atuais. Explicita o referido diploma:
 Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
E mesmo quando possível a sua utilização, várias limitações são impostas à sua validade:
Consentimento bilateral: a declaração unilaterial será considerada totalmente ineficaz.
Não colisão com norma de ordem pública: mesmo havendo acordo de vontades, a cláusula não será válida se violar interesse de ordem pública ou se atentar contra os bons costumes. Desse modo, a cláusula deve versar exclusivamente sobre interesse individual.
 Igualdade entre as partes: deve haver paridade entre as partes, desse modo, totalmente inaceitável essa previsão em contratos de adesão, nos quais uma das partes se mostra em superioridade perante a outra.
 Inexistência do escopo de eximir o dolo ou a culpa grave do estipulante: clausula não pode abranger os casos de dolo e de culpa grave.
Ausência da intenção de afastar obrigação inerente à função.
 
4.7. PRESCRIÇÃO
O dever de indenizar o dano se extingue quando atingido o prazo prescricional a pretensão punitiva. Prevê o artigo 206, do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
§ 3o Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;
Note-se que o prazo é universal, ou seja, diferentemente do diploma de 1916, não há previsão de prazo menor para pretensão se reparação civil contra a Fazenda Pública.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BRASIL. Código Civil, de 10 jan. 2002.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010, v. IV.

Continue navegando