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Resenha O Povo Brasileiro (Darcy Ribeiro)

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SOBRE O AUTOR
Darcy Ribeiro nasceu em 26 de outubro de 1922, em Montes Claros, Minas Gerais. Era filho de uma professora e um farmacêutico. Formou-se em Ciências Sociais, em 1946, na Escola de Sociologia e Politica de São Paulo. 
Construiu uma brilhante carreira intelectual de projeção internacional, notadamente nos campos da antropologia, etnologia e educação.
Devido a sua formação, Darcy decidiu se dedicar ao estudo das comunidades indígenas do Brasil, em especial do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia, nos anos 1946 a 1956. No mesmo período, criou o Museu do Índio e formulou o projeto de criação do Parque Indígena do Xingu.
Nos anos seguintes, dedicou-se à educação primária e superior. Criou a Universidade de Brasília, a UnB, da qual foi o primeiro reitor. Em 1964, por conta do golpe militar, Darcy foi exilado.
Em 1976, quando retornou ao Brasil continuou se dedicando à educação e à política, sendo eleito vice-governador do estado Rio de Janeiro em 1982. Elegeu-se senador da República pelo estado do Rio de Janeiro em 1991. Em 1995, publicou “O povo brasileiro”, livro que encerra a coleção de seus “Estudos de Antropologia da Civilização”. Darcy faleceu em 17 de fevereiro e 1997, em Brasília.
Atualmente, a Fundação Dary Ribeiro (FUNDAR), localizada no Rio de Janeiro, possui todo o acervo documental do autor e de sua esposa Berta Ribeiro, que reúne aproximadamente 30 mil volumes. Esse material, reunido durante 50 anos, representa grande parte da história do Brasil e da América Latina. Apresenta, principalmente, diversos estudos sobre a formação cultural e identidade brasileira.
SOBRE A OBRA
“O povo brasileiro” é uma obra escrita pelo sociólogo e antropólogo Darcy Ribeiro, publicada em 1995, o livro aborda a história da formação do povo brasileiro, se aprofundando nas diversas raças que resultaram em nossa miscigenação.
De acordo com o prefacio da obra, esse livro foi o mais difícil que Darcy já escreveu, demorou cerca de trinta anos para ficar pronto.
“Escrever
este
livro
foi
o
desafio
maior
que
me
propus.
Ainda
é.
Há
mais
de
trinta
anos
eu
o
escrevo
e
reescrevo,
incansável.

O
 pior
 é
 que
 me
 frustro
 quando
 não
 o
 faço,
 ocupando‐me
 de
 outras
empresas.
Nunca
 pus
 tanto
 de
mim,
 jamais
me
 esforcei
 tanto
 como
 nesse
empenho,
 sempre
 postergado,
 de
 concluí‐lo.
 Hoje
 o
 retomo
 pela
terceira
vez,
isto
se
só
conto
aquela
primeira
vez
em
que
o
escrevi
e
completei,
e
a
segunda
 em
 que
 o
 reescrevi
 todo,
 inteiro,
 esquecendo
 as
 inumeráveis
retomadas
episódicas
e
inconsequentes.



Ultimamente
 essa
 angústia
 se
 aguçou
 porque
 me
 vi
 na
 iminência
 de
morrer
 sem
 concluí‐lo.
 Fugi
 do
 hospital,
 aqui
 para
 Maricá,
 para
 viver
 e
também
para
escrevê‐lo.
Se
você,
hoje,
o
tem
em
mãos
para
ler,
em
letras
de
fôrma,
é
porque
afinal
venci,
fazendo‐o
existir.
Tomara”.

 Foi a ultima obra publicada antes de sua morte, escrita em Maricá, litoral do Rio de Janeiro.
O livro possui 332 páginas, excluindo a bibliografia, que soma mais 55, resultando em 358 páginas, é dividido em cinco seções/capítulos:
O Novo Mundo; 
(II) Gestação Étnica; 
(III) Processo Sociocultural; 
(IV) Os Brasis na História; 
(V) O Destino Nacional.
E cada seção se divide em aproximadamente três subseções, o que deixa a obra bem organizada e fácil de ser compreendida.
RESUMOS
I – O NOVO MUNDO
Em resumo, o primeiro capítulo da obra possui trinta e três páginas, divididas em três subtítulos: “Matrizes Étnicas”, “O Enfrentamento dos Mundos” e “O Processo Civilizatório”. 
Essas páginas contam como aconteceu a colonização brasileira pelos portugueses. 
No Brasil já havia os povos nativos, que somavam mais de um milhão de pessoas, Portugal tinha aproximadamente a mesma quantidade de habitantes. Eles superavam todas as dificuldades da era paleolítica, possuíam hortas, conheciam técnicas de caça, tinham os próprios dialetos, etc. A chamada “Ilha Brasil”, se deu, pois os Tupis, um dos povos nativos, se instalaram beira-mar e ao longo de toda costa atlântica. 
O autor, Darcy Ribeiro, deixa claro em um dos trechos da obra que temos apenas uma versão da história, a dos colonizadores portugueses: “[...] só temos o testemunho de um dos protagonistas, o invasor. Ele é quem nos fala de suas façanhas. É ele também, quem relata o que decidiu aos índios e negros, raramente lhes dando a palavra de registro de suas próprias falas. O que a documentação copiosíssima nos conta é a versão do dominador” segundo ele, isso empobrece a nossa historia.
Além de empobrecer, sabemos que ao chegar, os europeus transformaram completamente a vida dos nativos, transmitiram diversas doenças (onde muitos morreram), abusaram sexualmente, os escravizaram, os forçou a seguir a cultura europeia (catequização), os escravizaram, entre outros males.
Darcy afirma que a nação brasileira se formou de maneira única, houve muita resistência por parte dos nativos à colonização portuguesa, esse povo que acaba de se formar (os mestiços, derivados dos abusos sexuais principalmente) acabou enfrentando muitas barreiras, como rebaixar ainda mais os indígenas que foram escravizados, e tentar manter a regência colonial dos portugueses.
Há certa incerteza na relação entre índio e português, pois os nativos foram de certa maneira receptivos com os europeus, mas com o passar do tempo, ficou evidente as reais intenções daquele povo, uma relação de dominação.
II- GESTAÇÃO ÉTNICA 
Por sua vez, o segundo capítulo da obra possui sessenta e três páginas, divididas em três subtítulos, “Criatório de Gente”, “Moinhos de Gastar Gente”, “Bagos e Ventres”.
“A instituição social que possibilitou a formação do povo brasileiro foi o cunhadismo, velho uso indígena de incorporar estranhos à sua comunidade. Consistia em lhes dar uma moça indígena como esposa. Assim que ele a assumisse, estabelecia, automaticamente, mil laços que o aparentavam com todos os membros do grupo.”
“Isso se alcançava graças ao sistema de parentesco classificatório dos indígenas, que relaciona, uns com os outros, todos os membros de um povo. Assim é que, aceitando a moça, o estranho passava a ter nela sua temericó e, em todos os seus parentes da geração dos pais, outros tantos pais ou sogros. O mesmo ocorria em sua própria geração, em que todos passavam a ser seus irmãos ou cunhados. Na geração inferior eram todos seus filhos ou genros.”
	O cunhadismo foi imprescindível para a formação do Brasil, já que através dessa relação os europeus encontraram uma maneira de facilitar o domínio das terras onde se encontravam. De modo que cada europeu que chegava a ilha, podia fazer muitos casamentos, a instituição funcionava como uma forma ampla e eficiente de recrutar mão-de-obra.
Como uma maneira de preservar seus interesses, ameaçados pelo cunhadismo descontrolado, a Coroa portuguesa, em 1532, colocou em pratica o regime das donatarias, popularmente conhecidas como capitanias hereditárias. Quase todos os contemplados (donatários) vieram tomar posse com a função de povoá-las e fazê‐las produzir, tentando desse modo, melhorar a economia colonial.
As capitanias, distribuídas a grandes donatários, ligados ao trono e com fortunas próprias para colonizá‐las, constituíram verdadeiras províncias. 
Algumas delas tornaram-se um sucesso, como as de Pernambuco e de São Vicente. Outras fracassaram desastrosamente como a de Pereira Coutinho, em Ilhéus, que acabou engolida pelos índios. Quase todas as donatarias deixaram novos povoadores europeus, onde o índio deixava de ser um parente, e se tornava mão‐de‐obra recrutável como escrava.
A chegada dos negros foi diferente, foram considerados apenas mão de obra escrava, era extremamente necessário para produção, tendo em vista que os índios não iriam desempenhar os inacabáveis trabalhos.
Os mestiços que surgiram das relações entre as diferentes raças que se encontravam no Brasil (índios, europeus e negos), onde se fundiram as heranças culturais e étnicas, formaram os verdadeiros brasileiros, um povo miscigenado.
Como consequência da formaçãode um novo povo, com a geração de filhos de brancos surgiu o neobrasileiro, este fato foi denominado “Moinho de Gastar Gente”. Também se notou o surgimento da etnia brasileira dada pela forma de vários tipos de mestiçagem como os mulatos, cafuzos ou mamelucos.
Os mamelucos (mestiços de índios e brancos) foram vítimas de duas rejeições fortes. A dos pais, que os viam como impuros filhos da terra, e a do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o homem deposita sua semente. Quem nasce é o filho do pai, e não da mãe. Assim é que, por via do cunhadismo, se criou um gênero humano novo, que não era, nem se reconhecia e nem era visto como tal pelos índios, pelos europeus e pelos negros.
Os negros do Brasil foram trazidos principalmente da costa ocidental africana. A
contribuição
cultural
do
negro
foi
pouco
relevante
na
formação
da cultura
 brasileira. 
Apesar
do
seu
papel
como
agente
cultural
ter
sido
mais
passivo
do que
ativo, o
negro
teve
uma
importância
crucial, tanto
por sua
presença
como
a
massa
 trabalhadora
que
produziu
quase tudo que aqui
se
fez, como
por
sua introdução
sorrateira
mas
tenaz e continuada, que
remarcou a mistura racial
e
cultural
brasileira
com
suas
cores
mais
fortes.
As comunidades neobrasileiras nascentes se capacitaram a dar dois passos evolutivos. Primeiro o de abranger maior número de membros do que as aldeias indígenas, liberando parcelas crescentes deles das tarefas de subsistência para o exercício das funções especializadas. Segundo, incorporar todos eles numa só identidade étnica, estruturada como um sistema socioeconômico integrado na economia mundial.
O primeiro brasileiro consciente de si foi, talvez, o mameluco, que não podendo identificar-se com os que foram seus ancestrais americanos – que ele desprezava - nem com os europeus – que o desprezavam -, e sendo objeto de mofa dos reinóis e dos luso-nativos, via-se condenado à pretensão de ser o que não era nem existia: o brasileiro. Através dessas oposições e de um persistente esforço de elaboração de sua própria imagem e consciência como correspondentes a uma entidade étnico-cultural nova, é que surge, pouco a pouco, e ganha corpo a brasilianidade.
O filho da índia, gerado por um estranho, branco ou preto, se perguntaria quem era se já não era índio, nem tampouco branco ou preto. O filho do negro escravo, crioulo, nascido na terra nova, racialmente pura ou mestiçado, sabendo-se não africano como os negros boçais que via chegando, nem branco, nem índio e seus mestiços, se sentia desafiado a sair da ninguendade, construindo sua identidade. É a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não índios, não europeus e não negros, que eles se veem forçados a criar a sua própria identidade étnica: a brasileira.
O resultado fundamental dos três séculos de colonização e dos sucessivos projetos de viabilização econômica do Brasil foi a formação do povo brasileiro e sua incorporação a uma nacionalidade étnica e economicamente integrada.
 III - PROCESSO SOCIOCULTURAL
Tal capítulo possui sessenta e sete páginas, divididas em cinco subtítulos: “Aventura e rotina”, “A urbanização caótica”, “Classe, cor e preconceito”, “Assimilação ou segregação”, “Ordem versus progresso”.
De acordo com o autor, a formação do povo brasileiro foi caracterizada pelo encontro de índios, negros, brancos criando uma raça não pura, já que esse encontro aconteceu desde a chegada dos colonizadores.
Junto com a nossa formação, surgiram diversos conflitos sobre as variadas dimensões como: étnica, social, econômica, religiosa e racial, etc. Desse modo, seria muito difícil nos enxergar de uma maneira “pura”, logo, precisaria prestar mais atenção em características predominantes. Na obra são citados alguns conflitos que exemplificam essas características singulares: A luta dos cabanos, que muitas vezes apresentou um caráter de genocídio; A guerra de Palmares, caso clássico de enfrentamento inter-racial; O conflito de Canudos, que apresentou o enfrentamento de classes.
Darcy apresenta também o surgimento do Brasil como uma empresa, em seu plano econômico, o Brasil é resultado da implantação e da interação de quatro ordens de ação empresarial, com diferentes funções, muitas formas de recrutamento da mão-de-obra e diferentes níveis de rentabilidade. A principal delas, por conta de sua alta eficácia operativa, foi à empresa escravista, dedicada seja à produção de açúcar, seja à mineração de ouro, ambas baseadas na força de trabalho importada da África.
A segunda empresa de sucesso foi à comunitária jesuítica, fundada a partir da mão-de-obra indígena. Embora perdesse em uma disputa com a primeira, e nos conflitos com o sistema colonial, também alcançou uma significativa importância e prosperidade. 
 A terceira, de rentabilidade bem menor, inexpressiva como fonte de enriquecimento, mas de alcance social substancialmente maior, foi à multiplicidade de microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado, baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-obra, que iam de formas falsas de parceria até a escravização do indígena, crua ou disfarçada.
A identidade brasileira era para ser colônia, mas por falta de planejamento surgiram vilas e cidades. A primeira cidade a se formar foi a Bahia, logo após surgiu o Rio de Janeiro e João Pessoa, no século seguinte surgiram mais quatro, e no próximo século nasceu São Paulo. Quando completamos cinco séculos todo o território brasileiro já estava preenchido.
 Desse modo, apesar das grandes diferenças que mediavam entre as formações socioculturais europeias e brasileiras, ambas eram fruto de um mesmo movimento civilizatório. Com a industrialização se altera essa sociedade urbana em sua parte fundamental, a tecnologia produtiva, transformando todo o seu modo de ser, de pensar e de agir. O que provocou uma serie de alterações nas sociedades dependentes, de natureza tanto técnica quanto ideológica que, aqui também, transfiguravam o carácter da própria civilização.
A industrialização repentina promoveu empregos urbanos às pessoas do campo. Este processo de êxodo levou as grandes cidades brasileiras a receberem grande parte da população rural, se encontraram obrigados a sair do campo em decorrência da evolução tecnológica, do monopólio dos latifundiários e do direito oculto de se manter a terra improdutiva. A precária infraestrutura das cidades, despreparadas para receber este grande numero de pessoas entre 1940 a 1960, teve por consequência as superlotações dos grandes centros de todo o território. Ou seja, pela má organização e com falta de espaço, problemas começaram a surgir, já que com tudo, a classe dominante economicamente e socialmente obtém estes espaços, fazendo com que os negros e pessoas mais pobres começassem a ser alvo desse método de exclusão. 
Levando isso em consideração, a grande concentração de pessoas nos centros urbanos nos deixa entender como surgiram às desigualdades que vemos atualmente, como as favelas, gerando assim, uma separação entre o pobre e o rico, o negro e branco, nos dando uma noção de que a urbanização mal planejada em meio às lutas de classes, poder e raças. 
IV- OS BRASIS NA HISTÓRIA 
O quarto capítulo da obra é constituído de cem paginas, divididas em seis subtítulos: “Brasis”; “O Brasil crioulo”; “O Brasil caboclo”; “O Brasil sertanejo”; “O Brasil caipira”; “Brasis sulinos: gaúchos, matutos e gringos”.
O autor dividiu nossa historia em cinco cenários, cinco tipos de Brasis, divididos em diferentes regiões onde os costumes, tradições e culturas são distintas, ele explica sobre a identidade do povo brasileiro, segundo ele, nossa formação foi precoce e flexível, o que permitiu uma longa adaptação, ajustes locais e a sobrevivência dos ciclos de produção.
	O primeiro é o Brasil crioulo, localizado de Pernambuco a Bahia, com uma enorme quantidade de negros trazidos da África, devido à resistência dos índios em relação à escravidão, onde a mão de obra escrava negra era usada principalmentena produção de açúcar devido às terras propicias para a plantação de cana. Era completamente dominado pelos senhores de engenho, sendo assim, é no mundo do engenho que se fixou o núcleo fundamental da área que chamamos de cultura crioula.
	O segundo é o Brasil caboclo, dessa vez se localiza na Amazônia, com a intenção de explorar os recursos naturais que ali existiam, como o ouro, ,madeira, pedras preciosas e principalmente os seringais. A “dominação” europeia se deu, pois os seringais cobriam enormes extensões de terra, não permitindo que a população se organizasse em grupos consideráveis. Também ocorreu a introdução de uma nova cultura, a criação de gado e plantio de lavouras, feito de forma desordenada, acabou forçando os índios a irem “mata a dentro”, dificultando o processo de catequização indígena.
O terceiro é o chamado Brasil sertanejo, localizado no nordeste do país, possuía uma economia gerada pelo gado criado pelos senhores de engenho, sistema que surge como dependente da atividade açucareira, utilizando das pastagens e do gado trazidos pelos portugueses de Cabo Verde. Esta região enfrenta diversas dificuldades pelo calor excessivo e longos períodos de estiagem, a população local possui características próprias como: vestimenta, culinária, linguagem e visão de mundo bastante sofrida.
O quinto Brasil foi chamado de Brasil caipira, dessa vez localizada em sua maioria na região sudeste do país, em especial no interior de cada estado. Diferentemente da região nordeste que estava enriquecendo por conta dos engenhos de açúcar e criação de gado, a situação do sudeste era de pobreza profunda, esse cenário muda com a descoberta de minas vieram multidões de todo o país e também de Portugal, ricos, remediados ou pobres, tentavam a ascensão com o ouro, que até então era extremamente fácil de ser encontrado. Por conta disso, a Coroa Portuguesa sofreu fortes invasões de outros países, como a Espanha, com isso sociedade mineira, adquiriu aparência peculiar com influências paulistas, europeias, escravas e de brasileiros de outras regiões, além de declinar a economia mineradora da região.
Com o declínio da mineração, mineradores se fazem fazendeiros de lavouras de subsistência e de gado, inspirando-se na região nordeste, mas esse cenário não dura muito, já que logo surgiu uma nova forma de produção agroexportadora: o plantio do café, que renovou a economia da região.
Graças principalmente à região de São Paulo (maior exportador de café), a população foi se espalhando e dominou a região sulina do país, antes controlada por espanhóis, surgindo assim, o Brasil sulino (denominado por Darcy). Nessa região houve também diversas missões jesuíticas, que vieram com o objetivo de catequizar os índios (guaranis), em seguida se deram os conflitos com os bandeirantes que dizimaram muitos índios, obrigando os jesuítas a irem para outros lugares como Argentina e Paraguai. Para o autor, há três componentes sociais no Brasil sulino: o nativo de origem açoriana, o gaúcho (mestiço do espanhol ou do português com o indígena guarani) e o gringo (descendente do imigrante). Pela grande influencia europeia, essa região possui alta taxa de bilinguismo, hábitos europeus, alto nível educacional e um modo de vida confinado em pequenas propriedades, com uma produção diversificada. Nessa região ocorreu ainda à distribuição de terras chamadas sesmarias.
V- O DESTINO NACIONAL 
Para finalizar a obra, o ultimo e menor capitulo possui sete páginas, divididas em apenas dois subtítulos: “As dores do parto” e “Confrontos”.
Darcy classifica o Brasil como um “consulado” a partir da miscigenação, apoiando a perpetuidade da condição proletária. O que gera essa situação são os interesses das classes dominantes (burguesia), logo buscavam a manutenção do sistema escravista, pois era a mão de obra que proporcionava maior lucro. Diferentemente de alguns ideais, o autor defende que a culpa do subdesenvolvimento do país não é dos índios, mas da má ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população.
“Nosso destino é nos unificarmos com todos os latino-americanos por nossa oposição comum ao mesmo antagonista, a América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na comunidade européia, a nação latino-americana sonhada por Bolívar. Hoje somos quinhentos milhões, amanhã seremos um bilhão, contingente suficiente para encarar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e neobritânicos. Somos povos novos ainda na luta para fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que nunca existiu antes.” 
 “O Brasil é já a maior das nações neolatinas, com magnitude populacional e começa a sê-lo também por sua criatividade artística e cultural. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura civilização, para se fazer potência econômica, de progresso auto-sustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma, mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidade, mais generosa, porque aberta à convivência com todas as nações e todas as culturas e porque está assentada na mais bela e luminosa província da terra”.
CRÍTICA 
Darcy estudou essa obra durante trinta anos, foram longos trinta anos para entender nossa colonização, logo ele tem propriedade em suas falas, escreveu com uma linguagem relativamente fácil de ser compreendida, claro que em alguns trechos procurou escrever de maneira mais rebuscada, em com uma escrita recheada do seu toque de humor e análise crítica. Também expos sua orientação politica evidentemente ao longo da obra.
Preocupou-se em apresentar o Brasil pelo olhar da diferentes regiões, focou bastante no sofrimento dos nativos com a chegada dos portugueses, evidenciando a relação entre povo dominante e povo dominado, essa obra é de extrema importância para entendermos quem somos esse trabalho remete a nossas raízes, a história que construímos, a realidade que vivemos é reflexo dessa nossa colonização.
Nos brasileiros nos entendemos e nos sentimos como um só povo, mas esse sentimento não significa uma uniformidade. Todo o país fala a mesma língua, porem com diferentes sotaques, diferentes gírias, temos diferentes gostos musicais ou culinários, únicos nas cinco regiões do Brasil. Foi essa mistura de vários povos, diversa cultura que formou a nossa nação, um povo único, descendente de brancos, negos e índios, um povo que não tem um só rosto, tem brasileiros brancos, negro, amarelos, loiros, morenos, altos, baixos, gordos, magros, de todas as cores de olhos, cabelos e pele. 
Por esse motivo acho de extrema importância que todo brasileiro leia esse livro, com ele podemos entender nossa história e percebermos que algumas coisas que acontecem atualmente na verdade sempre aconteceram, como o “medo” da elite de que as classes baixas consigam subir um pouco de nível. Percebemos também o porquê somos como somos de maioria cristã, principalmente católica. 
Outra coisa que da para refletir sobre nossa colonização é nossa língua, como a Língua Portuguesa se tornou o nosso idioma oficial sendo que aqui existiam os nativos com vários dialetos nas mais diversas tribos e em uma população muito maior? Como Darcy disse em um dos capítulos, os negros foram trazidos de diferentes regiões da África, logo também possuíam diferentes dialetos e culturas propositalmente, para não conseguirem se comunicar foram colocados juntos em grandes senzalas, mas constantemente ouviam gritos e ordens dos portugueses, tanto os negros quanto os indígenas, isso fez com que ambos aprendessem o português, tornando a Língua Portuguesa oficial no território brasileiro.
Um ponto que me vem à cabeça quando me lembro da nossa violenta colonização, das barbaridades que os colonizadores fizeram com os nativos e africanos, com a dor, sofrimento e humilhação que eles passaram, é que isso nos uniu, e nos fez um povo forte, que mesmo com todas as dificuldades tentamos olhar pelo lado bom e semprecom um sorriso no rosto, tentando dar o famoso “jeitinho brasileiro” para burlar as piores fases, se temos hoje a fama de hospitaleiro e de um povo educado, com certeza é por conta de nossas raízes. 
Por fim, mais uma vez sobre a obra, que antes dessa resenha não a conhecia, mas agora, com certeza indicarei para muitas pessoas, foi um livro gostoso de ler em relação ao conteúdo, porem achei um pouco repetitivo, sempre que se passava um capitulo ele retomava algo do anterior, mas em geral gostei muito e acho muito importante que nos brasileiros conheçamos mais sobre nossas origens. 
BIBLIOGRAFIA
http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/darcy-ribeiro/
https://www.revistaprosaversoearte.com/o-povo-brasileiro-a-formac%CC%A7a%CC%83o-e-o-sentido-do-brasil-darcy-ribeiro/
http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Darcy_Ribeiro_-_O_povo_Brasileiro-_a_forma%C3%A7%C3%A3o_e_o_sentido_do_Brasil.pdf

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