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subscrever recursos sem a devida supervisão e acompanhamento de advogado”, concluiu, citando o artigo 3º, § 2º, do Estatuto da OAB. A decisão foi unânime. Processo: RR-103800-46.2008.5.06.0010 PROCURAÇÃO APENAS COM NOME DE REPRESENTANTES DE EMPRESA É CONSIDERADA VÁLIDA (12-8-2014) A Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho decidiu que é suficiente que a procuração contenha o nome das pessoas naturais que representam a empresa para que o documento tenha validade. Com esse entendimento, que consta da Orientação Jurisprudencial 373 da Subseção I Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do TST, a Turma reverteu decisão que não conheceu de recurso da Stemac S.A. – Grupos Geradores por irregularidade na representação processual. A decisão foi tomada em recurso interposto pela empresa em processo no qual foi condenada, pela 18ª Vara do Trabalho de Recife, a pagar adicional de periculosidade a um mecânico. O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (PE) não conheceu do recurso ordinário por entender que as advogadas responsáveis pelo protocolo das razões recursais não tinham poderes para representar a Stemac, porque a procuração não qualificava devidamente as pessoas físicas (os diretores) que assinavam em nome da empresa, em desrespeito aos requisitos do artigo 654, § 1º, do Código Civil. A empresa de geradores recorreu e no TST a decisão foi outra. O relator do recurso, desembargador convocado João Pedro Silvestrin, observou que a procuração continha o nome da empresa outorgante e a identificação das pessoas físicas que a subscreveram, qualificados como diretor presidente e vice-presidente. A rejeição do documento, portanto, caracterizou ofensa ao artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal (princípio do contraditório e da ampla defesa). Por unanimidade, a Turma determinou o retorno do processo ao TRT-PE para novo julgamento. Processo: RR-915-22.2011.5.06.0018 TRABALHADOR CONSEGUE RESTABELECER JUSTIÇA GRATUITA SUSPENSA POR ERRO NO EXAME DE CONTRACHEQUE (1º-8-2014) A Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho reformou decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas/SP) que considerou deserto o recurso de um trabalhador em processo movido contra a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). A deserção foi declarada devido à suspensão do benefício da justiça gratuita ao empregado, sem direito à defesa, pelo TRT, que considerou que ele havia mentido sobre o valor do próprio salário na inicial. Para a Quinta Turma, o erro partiu do próprio Regional, ao interpretar equivocadamente o contracheque do trabalhador. De acordo com o processo, junto com a declaração de pobreza, o trabalhador alegou receber mensalmente pouco mais de R$ 2.100 e anexou o contracheque como prova. No entanto, ao analisar a documentação, o Regional considerou que ele recebia mais de R$ 5.300. Entendendo ter havido má-fé, revogou os benefícios da gratuidade processual, condenando-o ao pagamento das custas processuais e a multa por litigância de má-fé. Como o trabalhador não fez o recolhimento, o recurso foi considerado deserto. O relator do recurso de revista do empregado, ministro Caputo Bastos, constatou um “manifesto equívoco” do TRT no exame do contracheque: o valor de R$ 5.300 era referente aos descontos realizados em folha naquele mês, no qual o salário líquido foi de R$ 1.577 – valor inferior até mesmo ao declarado por ele nos autos. “Logo, não subsiste o único fundamento constante da decisão regional para a cassação do benefício, qual seja, a má-fé do trabalhador”, afirmou. O ministro ressaltou que, mesmo que assim não fosse, o TST tem entendimento no sentido de ser indispensável, para a revogação do benefício da justiça gratuita, a intimação da parte para que se manifeste e, se for o caso, proceda ao recolhimento das custas processuais. A falta desse procedimento ofende o princípio da ampla defesa, garantido no artigo 5º, inciso LV, da Constituição da República. A decisão foi unânime no sentido de dar provimento ao recurso e restabelecer a justiça gratuita, afastando a deserção e a multa por litigância de má-fé. O processo retornará agora ao TRT-Campinas para que prossiga no exame do recurso ordinário. Processo: RR-1229-65.2010.5.15.0013 ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA É ABSOLVIDO DE CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ (24-7-2014) A Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho reconheceu a impossibilidade de condenação solidária do advogado e do escritório de advocacia ao pagamento da multa por litigância de má-fé imposta ao seu cliente. Para os ministros do TST, o Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região (ES) violou o artigo 32 da Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia) ao condenar solidariamente o escritório ao pagamento da multa. Segundo a relatora do recurso de revista, ministra Maria de Assis Calsing, há previsão expressa, no parágrafo único daquele dispositivo, “de que a conduta temerária do advogado em juízo deve ser apurada em ação própria”. Ela esclareceu que, havendo regência específica sobre a matéria, “não cabe ao juízo a imposição, de imediato, ao profissional do direito que protagoniza litigância temerária a responsabilidade pelo pagamento da multa correspondente”. Em decorrência desse entendimento, a Turma deu provimento ao recurso dos advogados que representavam o trabalhador e extinguiu a condenação solidária. Processo A reclamação trabalhista que deu origem à condenação por litigância de má-fé foi ajuizada por um cortador de calçados da Ducouro Industrial e Comercial S.A., que alegou que o desempenho da atividade em condição antiergonômica teria lhe causado danos irreparáveis à coluna e à perna esquerda. O TRT, no julgamento do recurso ordinário do trabalhador e após a análise do laudo pericial, entendeu que ele “falseou a realidade ao afirmar sofrer de sintomas inexistentes, buscando induzir o juízo e o perito a erro numa matéria tão delicada como a saúde do trabalhador”. Quanto aos advogados, declarou que agiram de má-fé, pois acusavam “levianamente um auxiliar do juízo de fazer ‘deduções injustas’, baseadas num exame superficial ‘com um simples olhar’ e de não ter conhecimento da ‘realidade laborativa’”. O TRT concluiu, então, que o trabalhador havia praticado a conduta prevista no artigo 17, incisos II e VI, do Código de Processo Civil (CPC), condenando-o, juntamente com o escritório de advocacia, ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Processo: ARR-91200-76.2011.5.17.0011 LANCHONETE NÃO PROVA INSUFICIÊNCIA ECONÔMICA E FICA SEM DIREITO A JUSTIÇA GRATUITA (21-7-2014) A Subseção 2 Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho negou provimento a recurso de uma lanchonete que pleiteou os benefícios da justiça gratuita, mas não conseguiu comprovar sua insuficiência econômica. A SDI-2 considerou que o balancete e a declaração de resultado negativo no ano de 2010 não eram suficientes para demonstrar a impossibilidade da empresa de arcar com as despesas do processo. A Produtos Alimentícios Guajajaras Ltda. impetrou mandado de segurança contra decisão da 5ª Vara do Trabalho de Betim (MG), que determinou a penhora de valores na boca do caixa da lanchonete para a quitação de verbas trabalhistas. A empresa pretendia substituir a penhora por eletrodomésticos e mobiliários, mas o pedido foi indeferido, o que a levou a agravar da decisão para requerer a concessão dos benefícios da Justiça gratuita. Ao negar provimento ao recurso, o Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG) afirmou que a isenção do pagamento das custas é concedida apenas ao trabalhador que recebe até dois salários mínimos ou que comprove a impossibilidade de cumprir com as despesas processuais. A lanchonete insistiu na possibilidade de concessão da justiça gratuita também para a pessoa jurídica que esteja em situação financeira difícil. Ao analisar o recurso, a SDI-2 afirmou que, no que tange às empresas, a jurisprudência da Corte é no sentido de que o benefício pode ser concedido excepcionalmente, desde que haja demonstração cabal de sua insuficiência econômica. O relator do recurso, ministro Emmanoel Pereira, destacou que a empresa foi condenada apenas ao recolhimento de custas processuais no valor de R$ 24,00, montante espontaneamente recolhido quando da apresentação do agravo, “o que reforça possuir condições financeiras para pagar as despesas do processo”. Processo: RO-563-05.2011.5.03.0000 IX INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROCESSO DO TRABALHO 1 INTRODUÇÃO O tema intervenção de terceiros é um dos mais complexos e controvertidos da ciência processual. Aliás, há vários entendimentos compartilhados pela melhor doutrina, e a jurisprudência manifesta- se em diversas linhas de pensamento. Sobre o tema, ensina o festejado Professor Athos Gusmão Carneiro81: “Impõe-se, de início, fixar o conceito de terceiro, admitido a intervir no curso de determinado processo. No plano do direito material, se examinarmos, v. g., um contrato de compra e venda, terceiro será todo aquele que não for nem o comprador, nem o vendedor, nem interveniente no mesmo negócio jurídico. No plano do direito processual, o conceito de terceiro terá igualmente de ser encontrado por negação. Suposta uma relação jurídica processual pendente entre A, como autor, e B, como réu, apresentam-se como terceiros C, D, E etc., ou seja, todos os que não forem partes (nem coadjuvantes de parte) no processo pendente. Cassio Scarpinella Bueno observa, com precisão, que o mais interessante, para distinguir os ‘terceiros’ das ‘partes’, é o momento imediatamente anterior à intervenção. Assim, cumpre verificar nesse instante quem é parte e quem é terceiro, porque é então que se vai aquilatar quem pode e quem deve intervir na qualidade de terceiro juridicamente interessado: ‘É verificar quem pediu e em face de quem se pediu, para olhar, em última análise, para as relações de direito material, e constatar em que condições delas afloram eventuais situações legitimantes, vale dizer, situações que autorizarão a intervenção de outros no processo’ (Partes e terceiros no processo civil brasileiro, 2. ed., Saraiva, 2006, n. 2, p. 4). Conforme o magistério de Ovídio Baptista da Silva, caso ‘o terceiro ingresse no processo para defender um interesse próprio dependente da relação jurídica objeto do litígio, com o fim de auxiliar na vitória da parte a que seu direito se liga, ou, ao contrário, nele ingresse para contrapor-se a uma ou a ambas as partes, diz-se, no primeiro caso, que a intervenção é ad adjuvandum, enquanto no último será ad excludendum’ (Curso de processo civil, 7. ed., Forense, v. I, n. 11.1, p. 259). Convém, no entanto, melhor explicitar tal conceito. De maneira geral, determinada pessoa é alheia à imensa maioria, se não à totalidade das causas em andamento no Brasil (e no exterior), e nem sequer sabe da existência de tais demandas e, a fortiori, sobre que versam; de algumas poucas, o público em geral tem o sumário conhecimento decorrente de sua divulgação nos meios de comunicação. Nesses casos, cuida-se de pessoas totalmente indiferentes a tais demandas. Cândido Dinamarco alude àquele terceiro que é sujeito de uma relação compatível na prática com a decisão passível de ser pronunciada entre as partes, mas que dela pode receber um prejuízo de fato; àquele terceiro sujeito de uma relação na prática incompatível com a decisão, e assim capaz de ser juridicamente prejudicado; e menciona, com remissão a Enrico Allorio, também aqueles que são terceiros tout court, para os quais a causa apresenta-se absolutamente indiferente (Intervenção de terceiros, Malheiros, 1997, n. 4, p. 19). (...) Caso ao terceiro assista interesse jurídico na causa, poderá nela intervir. Pela intervenção, o terceiro torna-se parte (ou coadjuvante da parte) no processo pendente. A intervenção, ensinou Adolf Wach (1885), deve sua existência ‘à necessidade de diminuir o número de processos e evitar resultados contraditórios’, embora com frequência seja causa de incidentes processuais os mais diversos. (...) Evidentemente, a intervenção de terceiros somente deve ser aceita sob determinados pressupostos; um deles, ocorrente em todos os casos de intervenção, é o de que o terceiro deve ser juridicamente interessado no processo pendente”. No Direito Processual do Trabalho, além de termos que enfrentar a mesma problemática, o grande desafio é estudarmos o cabimento ou a incompatibilidade da intervenção de terceiros na Justiça do Trabalho, como veremos a seguir. 2 CONCEITOS Podemos conceituar a intervenção de terceiros como o instituto jurídico pelo qual um terceiro ingressa no processo para defender interesse próprio ou de uma das partes primitivas da lide. O conceito de terceiro é dado por um critério de exclusão. É considerado terceiro aquele que não é parte. E parte é aquele que pleiteia no Poder Judiciário a entrega do seu bem da vida, bem como aquele contra quem essa demanda é proposta. 3 FUNDAMENTOS São fundamentos da existência do instituto jurídico da intervenção de terceiros: harmonização dos julgados: minimizar o risco de decisões conflitantes proferidas pelo próprio Poder Judiciário, o que prejudica significativamente sua imagem e credibilidade perante a sociedade; princípio da economia processual em sua dimensão macroscópica: embora a admissão de um terceiro resulte em maior complexidade ao processo em tramitação, evita o ajuizamento de outras ações no Poder Judiciário. Sobre o tema, ensina o Professor Daniel Amorim Assumpção Neves82: “Por intervenção de terceiros entende-se a permissão legal para que um sujeito alheio à relação jurídica processual originária ingresse em processo já em andamento. Apesar das diferentes justificativas que permitem esse ingresso, as intervenções de terceiro devem ser expressamente previstas em lei, tendo fundamentalmente como propósitos a economia processual (evitar a repetição de atos processuais) e a harmonização dos julgados (evitar decisões contraditórias). É natural que, uma vez admitido no processo, o sujeito deixa de ser terceiro e passa a ser considerado parte; em alguns casos ‘parte na demanda’ e noutros ‘parte no processo’”. 4 CLASSIFICAÇÃO S egundo a doutrina clássica, assim podemos classificar o fenômeno jurídico da intervenção de terceiros: a) Intervenção de terceiro voluntária (espontânea): é aquela em que o terceiro ingressa nos autos por vontade própria. São intervenções voluntárias: assistência; oposição. b) Intervenção de terceiro provocada (forçada ou coacta): é aquela em que o terceiro ingressa nos autos mediante provocação da parte. São intervenções provocadas: nomeação à autoria; denunciação da lide; chamamento ao processo. Todavia, existem outras classificações da doutrina, como a do citado Professor Athos Gusmão Carneiro: a) Intervenções por “inserção”: mediante “inserção” na relação processual existente. São espécies: assistência: intervenção de terceiro ao lado de uma das partes; nomeação à autoria: intervenção de terceiro em substituição à parte ré; chamamento ao processo: intervenção de terceiro mediante litisconsórcio com o réu; recurso de terceiro prejudicado: seria uma espécie de assistência em fase recursal, ou seja, aquele que poderia ter intervindo no processo como assistente poderá recorrer posteriormente como terceiro prejudicado, demonstrando interesse jurídico (art. 996, caput e § 1º, do CPC/2015). b ) Intervenções por ação: mediante a formação de nova relação jurídica processual, no mesmo processo. Trata-se de intervenções por meio de nova ação in simultaneus processus, como: oposição: intervenção do terceiro como autor de nova ação; denunciação da lide: intervenção do terceiro como réu de nova ação (com simultânea “inserção” na ação principal). Vale ressaltar que, com a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, a oposição deixou de ser uma modalidade de intervenção de terceiro e se tornou um procedimentos especial plasmado nos arts. 682 a 686. Ademais, a nomeação à autoria foi extinta como modalidade de intervenção de terceiros. 5 RELAÇÕES JURÍDICAS A admissão da intervenção de um terceiro ao processo resulta na existência de duas relações jurídicas no processo: 1ª) relação jurídica principal ou originária: é a relação entre autor e réu; 2ª) relação jurídica secundária, periférica ou conexa: é a relação entre autor e terceiro, ou entre réu e terceiro. 6 PROCEDIMENTOS INCOMPATÍVEIS Em primeiro lugar, vale lembrar que o procedimento é a forma pela qual o processo se desenvolve. É inegável que o instituto jurídico da intervenção de um terceiro no processo traz complexidade e complicadores processuais, que não se coadunam com os princípios da economia processual (em sua dimensão microscópica), da celeridade e da efetividade do processo. Assim, alguns procedimentos são incompatíveis com o instituto em tela, principalmente pela questão da celeridade. No Processo Civil, a mencionada incompatibilidade é verificada em dois procedimentos, nos seguintes termos: 1º) Procedimento sumaríssimo (Juizado Especial Cível): não é cabível nenhuma espécie de intervenção de terceiro, nem mesmo assistência. Este é o teor do art. 10 da Lei n. 9.099/95: “Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio”. 2º) Procedimento sumário: em regra, não é cabível a intervenção de terceiro. Entretanto, essa regra não é absoluta, diante das seguintes exceções: a assistência; o recurso de terceiro prejudicado; e a intervenção fundada em contrato de seguro. Assim dispunha o art. 280 do CPC/73 (sem correspondência no CPC/2015): “No procedimento sumário não são admissíveis a ação declaratória incidental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada em contrato de seguro”. Diante do exposto, vem prevalecendo o entendimento na doutrina e na jurisprudência de que a intervenção de terceiro não é cabível nos procedimentos sumaríssimo e sumário trabalhistas. Apenas para recordar, o procedimento sumaríssimo abrange as demandas trabalhistas cujo valor da causa seja acima de 2 até 40 salários mínimos. Já o procedimento sumário engloba as causas trabalhistas cujo valor da causa não supera 2 salários mínimos. No entanto, vale apontar que parcela minoritária da doutrina sustenta o cabimento, pelo fundamento da ausência de proibição legal. Nossa posição: instituto da intervenção nos procedimentos sumaríssimo e sumário Com o devido respeito aos entendimentos em sentido contrário, defendemos a linha de raciocínio da incompatibilidade da intervenção de terceiro nos procedimentos sumaríssimo e sumário trabalhistas. Embora não haja realmente proibição legal, o instituto da intervenção de terceiro é incompatível com os princípios da celeridade, simplicidade e informalidade que vigoram nos mencionados procedimentos trabalhistas. Assim, se não há compatibilidade no Processo Civil, que é mais formal, com muito mais razão há incompatibilidade também no Processo do Trabalho, que é mais informal. Concluindo, o art. 769 da CLT é expresso ao afirmar que a aplicação subsidiária do Processo Civil ao Processo do Trabalho depende do preenchimento de dois requisitos cumulativos, quais sejam: lacuna na CLT (que há no caso); e compatibilidade de princípios e regras (ausente nessa parte da matéria). 7 CONTROVÉRSIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL DO CABIMENTO DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO NO PROCEDIMENTO COMUM TRABALHISTA Diante dos argumentos ora apresentados, há uma grande cizânia doutrinária e jurisprudencial quanto à compatibilidade ou não da intervenção de terceiros com o procedimento comum (ordinário) trabalhista. Nesse ponto, temos duas correntes: 1ª Corrente (Teoria Tradicional): defende a incompatibilidade do fenômeno jurídico da intervenção de terceiro no Direito Processual do Trabalho. São fundamentos dessa teoria: incompetência da Justiça do Trabalho, pois a admissão de um terceiro no procedimento comum trabalhista poderá resultar na situação processual de sujeitos com a mesma força em lados opostos, desnaturando a ideia tradicional de hipossuficiência em um dos polos da relação processual; a Justiça do Trabalho não possuía competência em razão da pessoa para processar e julgar ações envolvendo terceiro alheio ao empregado e ao empregador; incompatibilidade com os princípios da celeridade, informalidade, oralidade e simplicidade que vigoram no Processo do Trabalho; incompatibilidade com o princípio da economia processual em sua dimensão microscópica, por trazer complicadores ao processo em andamento; o grande papel da Justiça do Trabalho é a efetivação da prestação jurisdicional trabalhista, caracterizada pela entrega das verbas trabalhistas, cuja natureza é alimentar, denotando o caráter urgencial, incompatível com a complexidade oriunda da intervenção; obriga o reclamante a litigar contra quem não pretende; a Orientação Jurisprudencial n. 227 da SDI-1 do TST acena neste sentido: “DENUNCIAÇÃO DA LIDE. PROCESSO DO TRABALHO. INCOMPATIBILIDADE (cancelada) – DJ 22.11.2005”. 2ª Corrente (Teoria Moderna): advoga a tese da compatibilidade do fenômeno jurídico da intervenção de terceiro no Processo do Trabalho. São fundamentos dessa corrente: ampliação da competência material da Justiça do Trabalho após a entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 45, de 2004, conhecida como a Reforma do Judiciário. Com a inovação constitucional, compete à Justiça Laboral processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, bem como outras controvérsias dela decorrentes; lacuna na CLT; compatibilidade com o princípio da economia processual, em sua dimensão macroscópica – a admissão da intervenção até poderá trazer complicadores ao processo em trâmite, mas evitará outras ações na Justiça do Trabalho; minimiza o risco de decisões conflitantes entre a Justiça do Trabalho e a Justiça Comum, envolvendo a mesma lide; maior efetividade do processo trabalhista; pacificação dos conflitos que envolvem direta ou indiretamente a relação trabalhista; observância dos ideários de justiça e equidade; fixação da responsabilidade trabalhista do terceiro, com o escopo de garantir a satisfação do crédito trabalhista e maior efetividade da jurisdição trabalhista; cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da S DI-1 do TS T, que trazia a redação da incompatibilidade da denunciação da lide com o Processo do Trabalho; de acordo com o Enunciado n. 68 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual da Justiça do Trabalho, in verbis: “INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. I – Admissibilidade da intervenção de terceiros nos Processos submetidos à jurisdição da Justiça do Trabalho. II – Nos processos que envolvem crédito de natureza privilegiada, a compatibilidade da intervenção de terceiros está subordinada ao interesse do autor, delimitado pela utilidade do provimento final. III – Admitida a denunciação da lide, é possível à decisão judicial estabelecer a condenação do denunciado como corresponsável”. O Professor Carlos Henrique Bezerra Leite83 é favorável ao cabimento da intervenção de terceiros ao Processo do Trabalho, com as necessárias cautelas e adaptações: “O processo do trabalho é omisso a respeito da intervenção de terceiros. Daí a necessidade da aplicação subsidiária do CPC, com as necessárias cautelas e adaptações, como veremos mais adiante. (...) Para fins comparativos e tendo em vista a similitude de escopos jurídicos, políticos, econômicos e sociais dos Juizados Especiais Cíveis e da Justiça do Trabalho, cumpre advertir, desde logo, que o art. 10 da Lei n. 9.099/95 dispõe: ‘Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio’. Todavia, o art. 1.062 do NCPC admite uma espécie de intervenção de terceiro (desconsideração da personalidade da pessoa jurídica) no processo de competência dos juizados especiais. Cumpre lembrar que na 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, realizada em Brasília-DF, em 23 de novembro de 2007, foi aprovado o Enunciado n. 68, que admite a intervenção de terceiros no processo do trabalho (...)”. O Professor Mauro Schiavi84 posiciona-se favorável ao cabimento da intervenção de terceiros no Processo do Trabalho, em especial no procedimento comum (ordinário), com os seguintes argumentos: “No procedimento sumaríssimo trabalhista, não cabe tal intervenção em razão dos princípios da celeridade e da simplicidade do referido procedimento. Embora a Lei n. 9.957/2000 não vede expressamente a possibilidade de intervenção de terceiros, o art. 10 da Lei n. 9.099/95, aplicável subsidiariamente ao procedimento trabalhista, veda expressamente tal intervenção. No rito ordinário, há grandes controvérsias sobre a possibilidade ou não da intervenção de terceiros. Na doutrina, alguns autores sustentam a viabilidade da intervenção de terceiros no Processo do Trabalho mesmo antes da EC n. 45/2004. (...) Antes da EC n. 45/2004, a jurisprudência havia se firmado no sentido do não cabimento, como regra geral, do Instituto da Intervenção de Terceiros no Direito Processual do Trabalho. No nosso sentir, diante da EC n. 45/2004, o instituto da intervenção de terceiros passa a ser admitido com maior flexibilidade no Processo do Trabalho, máxime quando não se postula um crédito oriundo da relação de emprego. Entretanto, cabe ao juiz do trabalho, como diretor do processo, zelar pela celeridade e efetividade do procedimento (arts. 765 da CLT e 370 do CPC), avaliar o custo-benefício da intervenção de terceiros e indeferi-la quando não traga benefícios aos litigantes, não iniba o direito de regresso e gere complicadores desnecessários ao rápido andamento do processo. Não deve o Juiz do Trabalho deferir a intervenção de terceiro quando a empresa chamada a fazer parte do processo estiver sumida ou em notório estado de insolvência. Nestes casos, a intervenção somente complicará o Processo. A jurisprudência trabalhista tem admitido, após a EC n. 45/2004, a intervenção de terceiros no Processo do Trabalho para o fim de fixação de responsabilidade ao terceiro, tendo por objetivo assegurar a garantia de solvabilidade do crédito trabalhista e maior efetividade da jurisdição trabalhista. Em sendo acolhida a intervenção de terceiros provocada (nomeação à autoria, chamamento ao processo e denunciação da lide), deverá o Juiz do Trabalho adiar a audiência e propiciar a notificação do terceiro para que, em querendo, compareça na audiência de instrução e julgamento, apresentando defesa e as provas que pretende produzir. Caso a intervenção seja espontânea (assistência e oposição), deverá o Juiz do Trabalho notificar o terceiro para, em querendo, participar da audiência de instrução e julgamento, devendo ser intimado para participar do processo nos seus ulteriores atos. A decisão que defere a intervenção de terceiros tem natureza de decisão interlocutória, não sendo recorrível de imediato (art. 893, § 1º, da CLT). Não obstante, havendo ilegalidade na decisão ou se ela tumultuar o processo, a parte prejudicada poderá impetrar Mandado de Segurança ou propor a Correição Parcial”. Nossa posição Com o devido respeito aos entendimentos em sentido contrário, defendemos a tese da casuística no tema da compatibilidade ou incompatibilidade do fenômeno jurídico da intervenção de terceiro ao Direito Processual do Trabalho. A nosso ver, não é possível adotar um entendimento fechado, favorável ou desfavorável sobre o tema. O juiz do trabalho é o diretor do processo, tendo ampla liberdade na sua condução. Assim, deverá avaliar, no caso concreto, se a admissão de um terceiro no procedimento comum trabalhista possa trazer benefícios processuais, como, por exemplo, a fixação de responsabilidade trabalhista a um terceiro, resultando em um incremento na satisfação do crédito trabalhista. Sem dúvida, isso contribui significativamente para a efetividade da prestação jurisdicional trabalhista. De outra sorte, o magistrado trabalhista não deverá admitir a intervenção de terceiro quando ela resultar em complicadores desnecessários ao andamento do processo, como, por exemplo, no caso de empresa que encerrou as atividades, está em notório estado de insolvência e os sócios desapareceram. Ademais, teremos a incompatibilidade da intervenção com o Processo do Trabalho nos casos de ausência de benefícios diretos ou indiretos à satisfação do crédito trabalhista. Em suma, a compatibilidade ou incompatibilidade da intervenção de terceiros no Processo do Trabalho depende da casuística, da análise do caso concreto pelo juiz do trabalho. É o que denominamos Teoria Casuística da Intervenção de Terceiro no Processo do Trabalho. O magistrado deverá avaliar o custo-benefício dessa intervenção, ou seja, até que ponto a admissão traz benefícios à satisfação do crédito trabalhista. 8 TRÂMITE PROCESSUAL Adaptando-se as regras previstas no Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho, e partindo-se da premissa da adoção da corrente que entende compatível a intervenção de terceiro no procedimento comum trabalhista, o respectivo trâmite processual dependerá da espécie de intervenção: I) Intervenção de terceiro voluntária (espontânea): como se trata da intervenção em que terceiro ingressa nos autos por vontade própria, após a petição por ele apresentada na Justiça do Trabalho pleiteando o seu ingresso, o juiz do trabalho deverá notificá-lo para que, querendo, compareça à audiência de instrução e julgamento, de modo que o interessado possa participar dos atos processuais posteriores ao seu ingresso. Em relação aos atos anteriores, ocorre o fenômeno da preclusão temporal. I I ) Intervenção de terceiro provocada (forçada ou coacta): como esta é a intervenção em que terceiro ingressa nos autos mediante provocação da parte, após a manifestação de vontade da parte em prol do ingresso do terceiro nos autos, deverá o magistrado trabalhista adiar a audiência, com o intuito de promover a notificação do terceiro para que, querendo, compareça à audiência de instrução e julgamento e possa apresentar a sua defesa, bem como produzir as provas que entenda necessárias. Vale ressaltar que, entre o recebimento da notificação postal e a data da audiência, deverá decorrer um prazo mínimo de cinco dias, por aplicação analógica do art. 841 da CLT. Por fim, a decisão do juiz do trabalho que defere a intervenção de terceiros tem natureza jurídica de decisão interlocutória, por resolver uma questão incidente. Dessa forma, não é cabível a interposição de recurso imediato (direto), diante do princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias previsto no art. 893, § 1º, da CLT. Todavia, a doutrina sustenta o cabimento da impetração de mandado de segurança, ou da propositura da correição parcial, na hipótese de ilegalidade ou abuso de poder impregnado na decisão, ou no caso de tumulto processual excessivo. 9 ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO O Professor Athos Gusmão Carneiro85 ensina didaticamente noções gerais sobre os casos de intervenção: “Assistência O assistente ingressa voluntariamente no processo não como parte, mas apenas como coadjuvante da parte (é ‘parte secundária’, segundo alguns), isto é, buscando auxiliar a defesa dos interesses do seu ‘assistido’, que tanto pode ser o demandante como o demandado. Não sendo parte, o assistente nada pede para si, não formula pretensão; nem é sujeito passivo de pretensão alheia, pois contra ele nada é pedido. (...) Oposição O opoente ingressa no processo pendente, apresentando uma ‘pretensão própria’ sobre a coisa ou o direito objeto da lide; busca fazer com que sua pretensão, dele opoente, prevaleça sobre as pretensões tanto do autor como do réu. A oposição é processualmente uma nova ação, em que é autor o terceiro, como opoente, e são réus o autor e o réu da ação já existente, como opostos. (...) Nomeação à autoria Na nomeação à autoria o objetivo visado é substituir o réu pelo terceiro, com o objetivo de afastar da relação processual um réu que seja parte ilegítima ad causam, nela fazendo ingressar um réu legitimado para a causa. O réu que se considera parte ilegítima ‘nomeia’ o terceiro, para que o venha substituir no polo passivo da relação processual. (...) Denunciação da lide Mediante o instituto da ‘denunciação da lide’, uma das partes (mais frequentemente o réu), como ‘denunciante’, promove no mesmo processo uma ‘ação regressiva’ contra terceiro – o ‘denunciado’. Citado, o terceiro torna-se réu na ação de denunciação. A denunciação pressupõe necessariamente que o denunciante tenha uma pretensão própria (um crédito de reembolso) contra o denunciado, pretensão que fará valer caso venha, ele denunciante, a sucumbir na ação principal. (...) Aliás, (...) o denunciado, além de réu na ação regressiva, torna-se litisconsorte do denunciante na ação principal. Realmente, ao denunciado assiste interesse em que o denunciante saia vitorioso na causa principal, pois destarte resultará improcedente a ação regressiva. (...) Chamamento ao processo Pelo instituto do ‘chamamento ao processo’, o réu B tem a faculdade de fazer citar um terceiro, para que este ingresse no processo como seu litisconsorte. Amplia-se, assim, pela vontade de B, o polo passivo da relação processual. O credor A pretendia acionar apenas o devedor B, mas passa a acionar não apenas B como também o ‘chamado’ C. O chamamento pressupõe, naturalmente, que ao ‘chamado’ seja atribuída a condição de codevedor ao autor. Assim, B e C são devedores solidários de A; este move ação de cobrança apenas contra B, e B chama C ao processo. (...) Recurso de terceiro prejudicado Os recursos podem ser interpostos não apenas pela parte vencida e pelo Ministério Público, como igualmente pelo ‘terceiro prejudicado’, nos termos do art. 499 do CPC[/73; art. 996 do CPC/2015]. Considera-se terceiro prejudicado, para efeitos recursais, aquele cujos interesses jurídicos são suscetíveis de ser afetados pela decisão judicial lançada em processo pendente, do qual não participou. Cumpre notar que o jurídico interesse em intervir no processo mediante a interposição de recurso pode apresentar-se mais amplo do que o jurídico interesse que autoriza a intervenção no curso do processo, mediante a assistência. Assim é que o assistente necessariamente ajuda uma das partes, ao passo que o terceiro prejudicado, ao recorrer, pode inclusive opor-se aos interesses tanto do autor como do réu” (grifos nossos). A seguir, apresentaremos tabela com a ideia principal de cada intervenção de terceiro típica: INTERVENÇÃO DE TERCEIRO IDEIA Assistência Auxiliar uma das partes primitivas da lide. Oposição Oposição a ambas as partes primitivas da lide. Nomeação à autoria Corrigir vício de legitimidade passiva (erro de postulação). Denunciação da lide Encurtar o caminho do exercício do direito de regresso. Chamamento ao processo Ampliação subjetiva da relação processual, no polo passivo, para acertamento de responsabilidades. 9.1 Assistência 9.1.1 Introdução A análise topológica do Código de Processo Civil revela que a assistência não está incluída no Capítulo VI, este dedicado à Intervenção de Terceiros. Dessa forma, parcela minoritária da doutrina sustenta que a assistência não é espécie de intervenção de terceiro. Não obstante, a posição majoritária sustenta a assistência como espécie de intervenção de terceiro. Com efeito, o erro estrutural do CPC não desnatura a natureza jurídica da assistência como espécie do instituto jurídico da intervenção de terceiro. O Professor Athos Gusmão Carneiro86 comenta a assistência: “A intervenção por assistência é uma forma de intervenção espontânea, e que ocorre não por via de ‘ação’ mas sim por inserção do terceiro na relação processual pendente. (...) O terceiro, ao intervir no processo na qualidade de assistente, não formula pedido algum em prol de direito seu. Torna-se sujeito do processo, mas não se torna parte. (...) O assistente insere-se na relação processual com a finalidade ostensiva de coadjuvar a uma das partes, de ajudar ao assistido, pois o assistente tem interesse em que a sentença venha a ser favorável ao litigante a quem assiste. Não é qualquer interesse que autoriza um terceiro a intervir no processo em favor de uma das partes, mas sim apenas o interesse jurídico. O interesse, v. g., meramente afetivo, ou meramente econômico, não faculta a assistência. Em face do inter-relacionamento, da maior ou menor interdependência das relações jurídicas, frequentemente a sentença proferida na causa entre A e B poderá refletir-se em relação jurídica entre A e o terceiro C, ou entre B e o terceiro C, quer favorecendo a posição jurídica do terceiro, quer prejudicando-o juridicamente. Assim, procedente a ação de despejo e operada a resolução do pacto de locação entre A e B, a sentença importa também na resolução das sublocações. Ao sublocatário assiste, pois, a faculdade de intervir no processo assistindo o locatário réu, já que a própria vigência do contrato de sublocação poderá ser afetada pelo teor da sentença. Vamos supor, outrossim, o caso de proprietário de moradia urbana. O dono do terreno vizinho pretende neste construir alto edifício, que poderá prejudicar a vista, a insolação, a privacidade do morador da casa. A Prefeitura nega a permissão de construção, invocando infringência a posturas, e surge o conflito judicial. O proprietário da casa tem manifesto interesse, até econômico, na não construção do edifício, e a doutrina e a jurisprudência têm entendido que tal interesse é também jurídico, autorizando assim seu ingresso no processo como assistente do Município. É jurídico o interesse no clássico exemplo do tabelião que requer ser admitido como assistente do réu em ação proposta para anular, por defeito formal, a escritura pública que redigiu. Se procedente a demanda, surgirá, em tese, em favor do interessado na validade da escritura, pretensão indenizatória contra o notário. Mas é meramente econômico, e assim não autoriza a intervenção, o interesse do credor A em que seja julgada improcedente a ação de cobrança, ou indenizatória, promovida por outro credor, B, contra o devedor comum. É certo que a vitória de B e a consequente execução sobre bens do patrimônio do devedor, diminuindo esse patrimônio, ou até mesmo exaurindo-o, irá privar o crédito de A da garantia representada pelos bens do devedor (CPC[/73], art. 591 [CPC/2015, art. 789]). Mas A não poderá intervir na causa como assistente do devedor comum, pois os direitos creditórios de A subsistirão íntegros no caso de vitória de B. O interesse de um credor na solidez econômica de seu devedor é, em princípio, apenas de fato”. 9.1.2 Conceito A assistência pode ser conceituada como a espécie de intervenção voluntária ou espontânea de terceiro em que este, denominado assistente, ingressa nos autos para defender interesse de uma das partes primitivas da lide, denominada assistido. O assistente tem por objetivo auxiliar o assistido. 9.1.3 Amparo legal A assistência encontra amparo legal nos arts. 119 a 124 do CPC/2015. “Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo. Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I – pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; II – desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido”. 9.1.4 Interesse jurídico O art. 119 do CPC/2015 aduz que, pendendo causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Assim, para que o assistente tenha o seu pleito de ingresso deferido, ele deverá demonstrar interesse jurídico, e não interesse meramente econômico ou moral. Podemos conceituar interesse jurídico como o decorrente de decisão que possa produzir efeitos negativos na relação jurídica conexa. Portanto, ficará demonstrado o interesse jurídico quando o assistente comprovar que possui interesse que a sentença seja favorável ao assistido. Objetivamente, o interesse jurídico é caracterizado quando a decisão a ser proferida na relação jurídica principal possa “repercutir” na relação jurídica secundária. Nesse sentido, aduz a Súmula 82 do TST: “ASSISTÊNCIA (nova redação) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 A intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o interesse jurídico e não o meramente econômico”. 9.1.5 Classificação A doutrina classifica a assistência em duas espécies: 1ª) assistência simples ou adesiva: é aquela em que o assistente tem relação jurídica apenas com o assistido. Nesta espécie de assistência, o assistente não tem relação jurídica com o adversário do assistido. Ademais, o assistente simples não é titular do direito em litígio e, dessa forma, não poderá assumir posição diversa do assistido. Exemplo: uma ação de despejo por falta de pagamento movida pelo locador em face do locatário. Nesse caso, o sublocatário poderá ingressar como assistente simples do locatário, pois, como ocupa o imóvel, tem interesse jurídico que a ação seja julgada improcedente, o que garantirá a sua posse no imóvel. Ademais, o sublocatário não tem relação jurídica com o locador, mas apenas com o locatário. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar- se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido; 2ª) assistência qualificada ou litisconsorcial: nesta modalidade o assistente tem relação jurídica tanto com o assistido quanto com o adversário do assistido. Ademais, o assistente qualificado também é titular do direito em litígio, podendo assumir posição diversa do assistido. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido; Exemplo: uma ação de cobrança de aluguéis atrasados movida pelo locador em face do locatário. O fiador poderá ingressar como assistente qualificado ou litisconsorcial do locatário. Nesse caso, há interesse jurídico do assistente, pois é garantidor da dívida. Ademais, o assistente tem relação jurídica com o locador, por assumir a condição de garante de seu crédito. A tabela a seguir contém, didaticamente, as principais diferenças entre assistência simples e assistência qualificada: ASSISTÊNCIA SIMPLES OU ADESIVA ASSISTÊNCIA QUALIFICADA OULITISCONSORCIAL O assistente simples ou adesivo tem relação jurídica com o assistido O assistente qualificado ou litisconsorcial tem relação jurídica com o assistido. O assistente simples ou adesivo não tem relação jurídica com o adversário do assistido. O assistente qualificado ou litisconsorcial tem relação jurídica com o adversário do assistido. O assistente simples ou adesivo não é titular do direito em litígio. O assistente qualificado ou litisconsorcial também é titular do direito em litígio, da mesma forma do assistido. O assistente simples ou adesivo não poderá assumir posição diversa do assistido. O assistente qualificado ou litisconsorcial poderá assumir posição diversa do assistido. 9.1.6 Regras Mencionaremos de forma didática as principais regras de assistência, que deverão ser memorizadas para as provas de Exame de Ordem e Concursos Públicos: 1ª) A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento, com a ressalva do procedimento sumaríssimo, conforme preconiza o art. 10 da Lei n. 9.099/95. 2ª) A assistência é cabível em todos os graus da jurisdição. Assim, o assistente poderá ingressar no processo em qualquer momento processual, mas recebe-o no estado em que se encontra. Em relação aos atos processuais praticados anteriormente ao seu ingresso, aplica-se o princípio da preclusão temporal. 3ª) O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se- á aos mesmos ônus processuais que o assistido. 4ª) Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. 5ª) A assistência simples ou adesiva não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. Conforme dito anteriormente, nesta espécie de assistência o assistente não é titular do direito em litígio, de forma que não poderá assumir posição diversa do assistido. Exemplo: o assistente poderá praticar todos os atos processuais no sentido de auxiliar o assistido. Todavia, caso o assistido tenha contra si uma sentença desfavorável, e exponha manifestação contrária à interposição de recurso, acatando o teor da decisão judicial, o assistente não poderá recorrer. 6ª) De outra sorte, na assistência qualificada ou litisconsorcial, o assistente também é titular do direito em litígio, podendo assumir posição diversa do assistido. Exemplo: no caso anterior, o assistente qualificado ou litisconsorcial poderá recorrer, ainda que o assistido manifeste expressamente a intenção em sentido contrário. 9.1.7 Sequência de atos processuais 1º) O assistente ingressa no Poder Judiciário com petição pleiteando o seu ingresso como assistente, até porque a assistência é uma espécie de intervenção de terceiro voluntária ou espontânea. 2º) O juiz abrirá prazo de quinze dias para as partes se manifestarem. 3º) Caso não haja impugnação por qualquer das partes no prazo de cinco dias, o pedido de assistência será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. 4º) S e qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo. 9.1.8 Justiça da decisão O art. 123 do CPC/2015 estabelece que, transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão. É importante salientar que a justiça da decisão não se confunde com a coisa julgada material. Com efeito, a coisa julgada material é o fenômeno jurídico que impede a discussão do dispositivo da sentença em outros processos. É o que a doutrina denomina de efeito extraprocessual. Os fundamentos da coisa julgada material são o princípio da segurança jurídica e a estabilidade das relações jurídicas e sociais. Em outra toada, a justiça da decisão pode ser conceituada como o fundamento que baseou a sentença. Assim, a coisa julgada material atinge o dispositivo da sentença. Já a justiça da decisão é relacionada com a fundamentação ou motivação da decisão. Nessa linha de raciocínio, há uma espécie de risco processual em ser assistente. Caso transite em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, ele não poderá discutir em processo posterior a justiça da decisão, ou seja, não poderá discutir em outro processo os fundamentos que basearam a sentença da causa em que ele interveio como assistente. Um exemplo torna a exposição mais clara. Imaginemos a seguinte situação: a vítima de um acidente de trânsito ingressa com ação de indenização por danos materiais em face da pessoa causadora dos prejuízos. O réu tem contrato de seguro, e poderá denunciar da lide a seguradora, tendo em vista que o exercício do direito de regresso é garantido contratualmente. Mas a denunciação da lide não é realizada. Em contrapartida, a seguradora ingressa como assistente, pois tem interesse jurídico que a sentença seja de improcedência. Caso o pedido seja julgado procedente, por envolver questão de responsabilidade civil, significa que o magistrado reconheceu presentes os elementos dessa responsabilidade civil, quais sejam: comportamento comissivo ou omissivo; nexo de causalidade; dano; e dolo ou culpa. Nessa situação, após o trânsito em julgado, o então réu ingressa com ação contra a seguradora, objetivando o exercício do direito de regresso. Nesse processo, a seguradora não poderá discutir os fundamentos que basearam a sentença da causa em que ela interveio como assistente, ou seja, os elementos da responsabilidade civil. Apenas poderá trazer outras fundamentações, como, por exemplo, inadimplemento contratual, problemas com a apólice etc. Diante do exposto, estudamos a regra de que, transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, ele não poderá, em processo posterior , discutir a justiça da decisão. Todavia, convém destacar que essa regra não é absoluta, comportando duas exceções: 1ª) se o assistente alegar e provar que, pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença. Podemos citar como exemplo o ingresso tardio nos autos; 2ª) se o assistente alegar e provar que desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. 9.1.9 Exemplos no Processo do Trabalho Adotando-se a corrente favorável ao cabimento da assistência na Justiça do Trabalho, podemos citar os seguintes exemplos: sócio que ingressa nos autos como assistente da empresa; empresa pertencente a grupo econômico que ingressa nos autos como assistente de outra empresa do mesmo grupo; empregado que ingressa nos autos como assistente do sindicato, que atua na qualidade de substituto processual. 9.2 Oposição É importante destacar que o Código de Processo Civil de 2015 tornou a oposição uma espécie de procedimento especial (arts. 682 a 686) e não mais uma modalidade de intervenção de terceiro. Mantivemos o estudo da oposição para fins didáticos. 9.2.1 Conceito A oposição é a espécie de intervenção de terceiro voluntária ou espontânea na qual terceiro, denominado opoente, ingressa nos autos pleiteando o reconhecimento como seu, no todo ou em parte, do direito ou da coisa de que controvertem autor e réu, denominados opostos. Diferentemente da assistência, que traz no seu bojo a ideia de auxílio, a oposição carrega o ideário da controvérsia, da impugnação, do embate jurídico. O Professor Athos Gusmão Carneiro87 ensina o tema: “Vamos supor que A e B litigam em juízo, e o bem da vida objeto do pedido seja uma coisa (v. g., ação reivindicatória, ação de reintegração de posse) ou um direito obrigacional (v. g., um invocado crédito de A contra B). Pode ocorrer que um terceiro, C, considere que o verdadeiro titular do domínio, da posse, do crédito etc. seja ele, C, e não A nem B. Sabemos que a sentença a ser proferida na ação entre A e B somente fará coisa julgada entre as partes (CPC[/73], art. 472 [CPC/2015, art. 506]); portanto, não prejudicará os eventuais direitos de terceiro. Este pode, em princípio, aguardar a prolação da sentença, e resguardar-se para agir mais tarde em defesa de seus interesses. Todavia, de fato (por um motivo econômico, digamos), pode convir ao terceiro uma imediata afirmativa de suas pretensões sobre a coisa ou o direito controvertidos entre autor e réu; e também pode ser-lhe conveniente, de jure, agir sem mais delongas, para interromper, por exemplo, o prazo de prescrição de seu alegado direito (CPC[/73], art. 219, caput [CPC/2015, arts. 59 e 240]). Ao terceiro, então, é facultada (intervenção espontânea) a propositura da ação de oposição (também denominada ‘intervenção principal’), que é, como já exposto, uma das formas de intervenção de terceiro no processo pendente. (...) Como anotou Hermann Roenick, ‘a oposição é, iniludivelmente, uma ação. Atento ao princípio da economia processual é que se a embute em outra ação, caracterizando, assim, a forma intervencional. O opoente exercita ação sua, significando pretensão própria, e no dizer de Pontes de Miranda ‘pede o que está em contradição com o que o autor da ação ajuizada pede e o réu, nela, contesta, e com o que o réu, por sua vez, afirma, defendendo-se’. Para o ilustre mestre, a oposição é ‘ação declarativa’ contra o autor, e ‘de condenação’ contra o réu do primeiro processo’ (Intervenção de terceiros – a oposição, Aide, 1995, p. 36). Trata-se de instituto de origem germânica, ligado ao princípio da universalidade do juízo (Arruda Alvim, Código de Processo Civil comentado, cit., 1976, v. 3, p. 168; Dinamarco, Intervenção de terceiros, Malheiros, 1997, n. 16), que se contrapõe ao princípio da singularidade, que caracterizou o direito romano”. Vale ressaltar que, à luz do Código de Processo Civil de 1973 (Código Alfredo Buzaid), a oposição consubstanciava hipótese de intervenção de terceiro espontânea ou voluntária. Não obstante, o Código de Processo Civil de 2015 disciplinou a oposição como um procedimento especial, alinhavado nos arts. 682 a 686, Livro I, Título III, Capítulo VIII. 9.2.2 Amparo legal A oposição encontra amparo legal nos arts. 56 a 61 do CPC/73 (arts. 682 a 686 do CPC/2015), abaixo apontados: “Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido, observando os requisitos exigidos para a propositura da ação (arts. 282 e 283). Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa dos seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias. Parágrafo único. Se o processo principal correr à revelia do réu, este será citado na forma estabelecida no Título V, Capítulo IV, Seção III, deste Livro. Art. 58. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. Art. 59. A oposição, oferecida antes da audiência, será apensada aos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas pela mesma sentença. Art. 60. Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento do processo, por prazo nunca superior a 90 (noventa) dias, a fim de julgá-la conjuntamente com a oposição. Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar”. 9.2.3 Classificação A oposição pode ser classificada em: a) oposição total: quando o opoente ingressa nos autos pleiteando o reconhecimento como seu, no todo, do direito ou da coisa de que controvertem autor e réu (opostos); b) oposição parcial: quando o opoente ingressa nos autos pleiteando o reconhecimento como seu, em parte, do direito ou da coisa de que controvertem autor e réu. 9.2.4 Regras Elencaremos as principais regras da oposição. 1ª) A oposição somente poderá ser oferecida até a sentença. 2ª) O opoente deduzirá o seu pedido, observando os requisitos exigidos para a propositura da ação nos moldes dos arts. 282 e 283 do CPC/73 (arts. 319 e 320 do CPC/2015), quais sejam: endereçamento; qualificação das partes; causa de pedir; pedido; valor da causa; protesto por provas e documentos necessários. 3ª) Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa dos seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 dias. 4ª) Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. 5ª) A oposição, oferecida antes da audiência, será apensada aos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas pela mesma sentença. 6ª) Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar o andamento do processo, por prazo nunca superior a 90 dias, a fim de julgá-la conjuntamente com a oposição. 7ª) Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar. 9.2.5 Sequência de atos processuais 1º) O opoente ajuíza a petição no Poder Judiciário pleiteando o seu ingresso nos autos, até porque a oposição é uma espécie de intervenção de terceiro voluntária ou espontânea. 2º) A oposição será distribuída por dependência. 3º) Após a distribuição, os opostos serão citados, na pessoa dos respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 dias. 4º) Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. 5º) O momento de ingresso da oposição tem influência marcante no trâmite processual. Assim, o CPC traz duas regras: a) S e a oposição for oferecida antes da audiência, ela será apensada aos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas pela mesma sentença. b) De outra sorte, se oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Observação: Nesse caso, temos um grave problema processual e, diga-se de passagem, uma séria preocupação com a imagem do Poder Judiciário perante o jurisdicionado. O juiz fatalmente julgará a ação principal antes da oposição. Todavia, surge a seguinte indagação: e se a oposição for julgada procedente? O juiz terá que retirar o bem da vida do oposto vencedor da demanda principal e entregá-la para o opoente. O CPC previu esse incômodo processual e trouxe a seguinte regra: o magistrado poderá suspender o andamento da ação principal, por prazo até 90 dias, com o objetivo de julgar a ação principal e a oposição simultaneamente. A nosso ver, com o devido respeito aos entendimentos em sentido contrário, o juiz sempre deverá sobrestar o andamento da ação principal, para evitar que o resultado posterior da oposição possa prejudicar o resultado anterior da ação principal, evitando-se problemas processuais futuros. 6º) Na hipótese de o magistrado ter que julgar simultaneamente a ação principal e a oposição, ele deverá se pronunciar sobre a oposição em primeiro lugar . Dessa forma, há uma relação de prejudicialidade entre a ação principal e a oposição. 9.2.6 Exemplos no Processo do Trabalho Partindo-se da premissa da adoção da corrente favorável à compatibilidade da oposição ao Processo do Trabalho, podemos elencar os seguintes exemplos: um empregado ingressa com oposição e pleiteia o reconhecimento como seu da patente ou invenção disputada entre outro empregado e o empregador; um empregado ingressa com oposição e pleiteia o reconhecimento como seu de um instrumento de trabalho disputado entre outro empregado e o empregador; um sindicato ajuíza ação e pleiteia o recebimento de contribuição sindical, e outro sindicato oferece oposição, com a alegação de que a contribuição sindical deve ser-lhe revertida, por ser o legítimo representante da categoria a que pertence o trabalhador. 9.3 Nomeação à autoria Vale ressaltar que o Código de Processo Civil de 2015 excluiu a nomeação à autoria como espécie de intervenção de terceiros. Mantivemos o estudo da nomeação à autoria para fins didáticos. 9.3.1 Introdução Tratava-se de intervenção que tem por escopo corrigir vício de legitimidade passiva, corrigir erro de postulação. Vale ressaltar que o Código de Processo Civil de 1973 (Código Alfredo Buzaid) adotou a Teoria Eclética de Enrico Tullio Liebman, sendo três as condições da ação: possibilidade jurídica do pedido, interesse processual e legitimidade das partes. Com efeito, caso o autor não preencha uma dessas condições da ação, teremos o fenômeno da carência da ação, resultando na extinção do processo sem resolução do mérito. Assim, se o autor ajuizar uma ação contra alguém não dotado de legitimidade passiva, ele será considerado carecedor de ação, e o processo será extinto. Todavia, existem algumas situações processuais, como no caso de ações possessórias, em que a figura do verdadeiro réu e do terceiro são muito próximas, e facilmente ensejam equívocos. Portanto, a lei “dá uma chance” para a correção do polo passivo, sem a extinção do processo sem resolução do mérito, por meio da nomeação à autoria. Nessa linha de raciocínio, são fundamentos da existência da intervenção de terceiro em tela: princípio da economia processual; princípio da instrumentalidade das formas ou da finalidade. Alertamos o leitor para a seguinte pegadinha: embora o nome do instituto em comento é nomeação à autoria, apenas o réu poderá utilizar-se dessa saída processual. Logo, a palavra autoria está sendo empregada com a ideia de responsabilidade, de garantia. O Professor Athos Gusmão Carneiro88 ensina: “A nomeação à autoria (laudatio auctoris ou nominatio auctoris) objetiva a substituição do réu parte ilegítima para a causa por um réu parte legítima para a causa. Em última análise, visa corrigir a legitimação passiva. Normalmente, quando o réu se considera parte ilegítima ad causam (v. g., em ação de despejo o demandado entende não ser inquilino do autor; em ação de anulação de um contrato, nega ser um dos contratantes), arguirá a falta de legitimação como uma das prefaciais da contestação; e o juiz, se comprovada tal assertiva, julgará o autor ‘carecedor de ação’ contra o contestante (caso de extinção do processo sem resolução do mérito, art. 267, VI). O autor ficará, então, na contingência de propor nova demanda contra quem juridicamente se encontre na posição de legitimado passivo. Pelo instituto da nomeação à autoria, em determinados casos o réu é obrigado (‘deverá’, diz o art. 62) a provocar, desde logo, sua ‘substituição’, o que representa evidente vantagem prática quer para o demandante, que irá litigar com o ‘verdadeiro’ réu, quer para o demandado, a quem se faculta afastar-se do processo e dos ônus e incômodos que aquele acarreta. Caso clássico de nomeação à autoria é aquele em que o réu, demandado em nome próprio, se afirma simples detentor da coisa objeto do litígio (CPC/73, art. 62). O Código fala, com certa impropriedade de expressão, naquele ‘que detiver a coisa em nome alheio’. Entretanto, a mera detenção é sempre em nome alheio; quem dispõe de uma coisa em nome próprio é possuidor, e não detentor. O detentor apresenta-se como mero instrumento de posse alheia, longa manus do vero possuidor; é o empregado, o preposto, ‘aquele que, estando em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas’ – Código Civil, art. 1.198. Se alguém, apenas detentor de uma coisa (v. g., o assalariado encarregado da guarda de uma gleba rural), for citado em ação reivindicatória, ou de reintegração de posse, como se fora, ele réu, o possuidor do imóvel e não um simples detentor, ‘deverá’ tal réu ‘nomear à autoria o proprietário ou o possuidor’ (CPC/73, art. 62). Cassio Scarpinella Bueno lembra a redação do art. 1.128 do novo Código Civil, pela qual não apenas o possuidor, mas também o detentor da coisa é legitimado passivo na ação reivindicatória. Todavia, esta circunstância não afasta a possibilidade de que o detentor possa (e deva) nomear à autoria o possuidor, sempre que tenha agido ‘em nome de seu patrão’ ( Partes e terceiros no processo civil brasileiro, 2. ed., Saraiva, 2006, p. 222-224). A hipótese não é de ocorrência rara, pois para o autor vezes muitas apresenta-se difícil averiguar a que título uma pessoa dispõe da coisa objeto do pedido. A nomeação à autoria também é prevista em ações de indenização por danos causados à coisa, sempre que o autor material dos prejuízos alegar que agiu por ordem ou em cumprimento de instruções de terceiro (art. 63 do CPC/73). Assim, quem de boa-fé cortou árvores, ou abriu valo em terreno alheio, mas o fez como simples preposto ou empregado, nomeará à autoria seu mandante ou empregador. É inadmissível, todavia, a nomeação à autoria em se tratando de demanda indenizatória processada sob rito comum sumário, a teor do art. 280 do CPC/73, na redação da Lei n. 10.444, de 7-5-2002; e assim também nas demandas processadas perante os Juizados Especiais, ut art. 10 da Lei n. 9.099, de 26-9-1995”. 9.3.2 Conceito A nomeação à autoria era espécie de intervenção de terceiro provocada (forçada ou coacta) pela qual o terceiro, denominado nomeante, pleiteava a sua saída do polo passivo para ingresso em seu lugar do verdadeiro réu, denominado nomeado. 9.4 Denunciação da lide 9.4.1 Introdução Inegavelmente, a denunciação da lide é a intervenção de terceiro mais importante e comum na praxe forense. Traduz a ideia principal de encurtamento do caminho do exercício do direito de regresso, pautado nos princípios da economia e da efetividade processuais. É oportuno consignar que a denunciação da lide é a única intervenção de terceiro forçada que poderá ser provocada tanto pelo autor quanto pelo réu. As outras duas intervenções de terceiros forçadas (nomeação à autoria e chamamento ao processo) somente poderão ser provocadas pelo réu. O Professor Athos Gusmão Carneiro89 leciona: “A denunciação da lide, como já exposto anteriormente, é prevista no vigente Código de Processo Civil como uma ação regressiva, in simultaneus processus, proponível tanto pelo autor como pelo réu, sendo citada como denunciada aquela pessoa contra quem o denunciante terá uma pretensão indenizatória, pretensão ‘de reembolso’, caso ele, denunciante, venha a sucumbir na ação principal. (...) Teremos, pois, ‘no mesmo processo’, duas ações, duas relações jurídicas processuais. Portanto, um só processo, uma só instrução, uma mesma sentença para ambas as ações, a ação principal e a ação de denunciação da lide. É fenômeno ‘típico do processo de conhecimento, ao qual se confina sua admissibilidade’ (Dinamarco, Intervenção de terceiros, cit., n. 79). A denunciação da lide pode apresentar duas finalidades fundamentais: pela primeira, o instituto visa trazer o terceiro ao processo para que defenda (colabore na defesa) o interesse da parte que o convocou; como segundo aspecto, o terceiro é convocado para indenizar os danos que a parte que o convocou venha a sofrer, caso perca a demanda. Em direito comparado, ora prepondera um desses objetivos, ora o outro. No direito brasileiro, a denunciação soma ambos os objetivos: o denunciado tem a oportunidade de corroborar na defesa do denunciante, e igualmente torna-se réu em antecipada ação (condicional) de regresso. Não existe denunciação ‘à lide’, mas sim denunciação ‘da lide’. Cumpre, pois, evitar o erro, muito comum na prática forense, na utilização da expressão: ‘Fulano foi denunciado à lide’. Não ‘se cuida de denunciar alguém ‘à lide’, mas sim de ‘denunciar a lide a alguém’. A lide, a pendência da causa entre A e B, é que é comunicada ao terceiro C, através da ação regressiva. Como disse Cândido Dinamarco, ‘não se concebe que alguém pudesse ser denunciado a ela’ (Intervenção de terceiros, cit., n. 77). No magistério de Barbosa Moreira, a denunciação ‘se converte na verdadeira propositura de uma ação de regresso antecipada, para a eventualidade da sucumbência do denunciante’ (Estudos sobre o novo Código de Processo Civil, Rio de Janeiro, Liber Juris, 1974, p. 87-8). Igualmente Aroldo Plínio Gonçalves, para quem ‘sempre, no Direito Brasileiro, a denunciação da lide, em princípio, traz em si provimento de natureza condenatória’, adotada a linha de pensamento de Chiovenda, fazendo mais relevante, na denunciação, sua natureza indenizatória, ‘deixando a aspecto secundário o aspecto da obrigação ou do ônus da defesa em juízo’ (Da denunciação da lide, Forense, 1983, p. 165-70 e passim). A denunciação da lide, conforme Dinamarco, ‘é a demanda com que a parte provoca a integração de um terceiro ao processo pendente, para o duplo efeito de auxiliá-lo no litígio com o adversário comum e de figurar como demandado em um segundo litígio’ ( Instituições de direito processual civil, Malheiros, 2001, v. 2, n. 600, p. 394). Como expõe Humberto Theodoro Júnior, a denunciação visa ‘enxertar’ no processo uma nova lide, que irá envolver o denunciante e o denunciado em torno do direito de garantia ou de regresso que o primeiro pretende (eventualmente) exercer contra o segundo: ‘A sentença, de tal sorte, decidirá não apenas a lide entre autor e réu, mas também a que se criou entre a parte denunciante e o terceiro denunciado’ (Curso de direito processual civil, 44. ed., Forense, 2006, v. 1, n. 117). Na lição de Arruda Alvim: ‘Sendo feita a denunciação, teremos duas ações tramitando simultaneamente. Uma, a principal, movida pelo autor contra o réu; outra, eventual, movida pelo litisdenunciante contra o litisdenunciado. Diz-se que a segunda ação é eventual, porque somente terá resultado prático, se e quando do julgamento desfavorável ao denunciante na primeira ação. Aí, então, é que se apreciará a sua procedência ou improcedência (art. 76) em si mesma: existe, ou não, o pretendido direito de regresso’ (Manual, cit., 10. ed., 2006, v. 2, n. 68, p. 163). (...) De início, cumpre ressaltar o caráter de prejudicialidade do resultado da primeira demanda, da ‘ação principal’, sobre a ação de denunciação da lide. Realmente, se o denunciante for vitorioso na ação principal, a ação regressiva será necessariamente julgada prejudicada; se, no entanto, o denunciante sucumbir (no todo ou em parte) na ação principal, a ação de denunciação da lide tanto poderá ser julgada procedente (se realmente existir o direito de regresso) como improcedente. No magistério de Cândido Dinamarco, ‘a pretensão do litisdenunciante perante o litisdenunciado é trazida em via eventual, para que este seja condenado a ressarcir somente no caso de aquele sair vencido perante o adversário inicial. Em caso de vitória do denunciante sobre este, a denunciação ficará prejudicada e não se julgará pelo mérito’ (Intervenção de terceiros, cit., n. 9)”. 9.4.2 Conceito A denunciação da lide é a intervenção de terceiro provocada (forçada ou coacta), pela qual terceiro, denominado denunciante, tem por objetivo principal encurtar o caminho processual do exercício do direito de regresso em face do terceiro, denominado denunciado, uma vez que este é responsável por obrigação prevista em lei ou contrato. 9.4.3 Amparo legal A denunciação da lide encontra amparo legal nos arts. 125 a 129 do CPC/2015. 9.4.4 Dupla finalidade A denunciação da lide apresenta duas finalidades fundamentais: 1ª) trazer ao processo terceiro para que ele colabore com a defesa dos interesses da parte que o convocou; 2ª) convocar terceiro para que ele indenize os danos que a parte que o convocou venha a sofrer, caso perca a demanda. A ideia principal da denunciação da lide é trazer ao processo o garante, aquele obrigado pela lei ou pelo contrato a indenizar, em ação regressiva, os prejuízos daquele que perder a demanda. 9.4.5 Hipóteses de cabimento A denunciação da lide apresenta as seguintes hipóteses de cabimento, promovida por qualquer das partes: 1ª) evicção – ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resulta. A Professora Maria Helena Diniz90 comenta a evicção: “O alienante tem o dever não só de entregar ao adquirente o bem alienado, mas também o de garantir-lhe o uso e gozo, defendendo-o de pretensões de terceiro quanto ao seu domínio, resguardando-o dos riscos da evicção, pois pode ocorrer que o adquirente venha a perder a coisa, total ou parcialmente, em razão de sentença judicial, baseada em causa preexistente ao contrato. Portanto, evicção vem a ser a perda da coisa, por força de decisão judicial, fundada em motivo jurídico anterior, que a confere a outrem, seu verdadeiro dono, como o reconhecimento em juízo da existência de ônus sobre a mesma coisa, não denunciado oportunamente no contrato”; 2ª) exercício do direito de regresso – àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo (garante). Exemplos: contratos de seguros; responsabilidade civil indireta ou por fato de outrem. Imaginemos a situação processual em que a vítima ingressa com ação de indenização em face do empregador por prejuízos ocasionados por seu empregado. A legitimidade passiva está correta, tendo em vista a responsabilidade civil objetiva do empregador por atos praticados pelo seu empregado, no exercício do trabalho que lhe competir, ou em razão dele (art. 932, III, do CC). Já o art. 934 do CC assegura o exercício do direito de regresso do empregador em relação ao empregado, e isso poderá ser efetivado nos próprios autos, por meio da denunciação da lide, trazendo significativa economia processual. Nesse contexto, o direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. Por fim, admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma. 9.4.6 Obrigatoriedade ou facultatividade? Conforme aduzia o caput do art. 70 do CPC/73, a denunciação da lide é obrigatória nas três hipótese de cabimento. Isso significa que, caso ela não seja realizada, a parte não poderá ingressar com ação autônoma no Poder Judiciário. Todavia, prevalecia o entendimento tanto na doutrina quanto na jurisprudência de que a denunciação da lide era obrigatória apenas no caso de evicção Sobre o tema, preleciona o Professor Athos Gusmão Carneiro91: “Em segundo lugar, a obrigatoriedade da denunciação da lide (v. art. 70 [CPC/73; art. 125, CPC/2015]) deve ser entendida nos devidos termos. Aroldo Plínio Gonçalves, em tese de livre-docência à Faculdade de Direito da UFMG, apreciou o tema da ‘obrigatoriedade’ da denunciação da lide a partir da distinção entre garantia própria (formal), derivada da ‘transmissão de direitos’, e garantia imprópria, vinculada apenas à ‘responsabilidade civil’, sustentando que a não denunciação acarreta a perda do direito de regresso nos casos de garantia própria (o adquirente de direitos perderá a garantia prometida pelo transmitente); nos casos de garantia imprópria, restaria assegurado, embora a não denunciação, o direito de regresso contra o responsável civil, em processo autônomo. O ilustre professor e magistrado liga a garantia própria às hipóteses do art. 70, I e II, e algumas hipóteses do item III [CPC/73; art. 125, I e II, CPC/2015]; a garantia imprópria aos casos de responsabilidade civil do art. 70, III [CPC/73; art. 125, II, CPC/2015] (Da denunciação, cit., p. 223, 324 e passim). No mesmo sentido, o magistério de Agrícola Barbi: ‘Realmente, no caso do item I do art. 70 [CPC/73; art. 125, I, CPC/2015], não há dúvida de que a denunciação é ônus imposto pelo Código Civil para que o evicto possa haver a indenização pela evicção. Mas, nos casos dos itens II e III do art. 70 [CPC/73; art. 125, II, CPC/2015], a lei civil não criou condição ou ônus para o exercício do direito de indenização ou de regresso’ (Comentários ao CPC, 10. ed., Forense, 1998, v. I, n. 407). Nem sempre, pois, a omissão da parte no provocar a intervenção do terceiro acarretará a perda do direito (rectius, da pretensão) regressivo contra este. Em Ciclo de Estudos de Processo Civil (realizado em Curitiba, em agosto de 1983, pela OAB e pela Associação dos Magistrados do Paraná), resultou aprovada por unanimidade tese por nós apresentada, com a seguinte conclusão: ‘A não denunciação da lide somente acarreta a perda da pretensão regressiva nos casos de garantia formal, ou seja, de evicção e de transmissão de direitos’. José Ignacio Botelho de Mesquita lembra não ser uniforme, no direito comparado, o tratamento dispensado à obrigatoriedade da denunciação da lide: ‘É facultativa a denunciação da lide no Código Civil da França (art. 1.640), da Itália (art. 1.485), da Argentina (art. 2.111), e no Código de Processo Civil de Portugal (art. 325). O evicto que não denunciar a lide ao transmitente fica sujeito ao risco de perder a ação de evicção se o transmitente provar que tinha meios para fazer rejeitar a ação do terceiro contra o adquirente, ou que este, consoante dispõe o Código de Processo Civil português, não usou de todos os meios para evitar a evicção. É facultativa também no Código de Processo Civil alemão (§ 72), que não dispõe expressamente sobre a mencionada sanção, muito embora esta decorra das regras sobre a coisa julgada’ (in Ajuris, v. 22). ‘É obrigatória a denunciação da lide no Código Civil da União Soviética (art. 250), da Espanha (art. 1.482), do México (art. 2.124), da Colômbia (art. 1.899), do Peru (art. 1.375), do Chile (art. 1.843), do Uruguai (art. 1.705) e da Bolívia (art. 1.056), sempre sob pena de perder o adquirente o direito que da evicção lhe resulta’ (Da ação de evicção, conferência proferida por Botelho de Mesquita na OAB/DF, em 12-8-1980, e publicada em Ajuris, v. 22, p. 86-87)”. Nossa posição Com o devido respeito aos entendimentos em sentido contrário, entendemos que a denunciação da lide é sempre facultativa. A nosso ver, a parte sempre terá assegurado o seu direito de exercício de ação autônoma no Poder Judiciário, pelos seguintes fundamentos: princípio da interpretação das leis em conformidade com a Constituição. Dessa forma, o art. 70, caput, do CPC/73 devia ser interpretado à luz do art.
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