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casos práticos de
Direito Educacional
- para professores
34
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 casos práticos de direito educacional 
Autor: Marcelo de Faria Corrêa Andreatta, Advogado e 
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação 
em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do 
Sul 
Ebook 
Setembro de 2018 
Escola de Direito Educacional 
 
O Autor autoriza a reprodução desta obra, desde 
que referida a fonte e resguardados os direitos 
autorais. 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
3 
 
 
 
PARTE I: TEMAS DE DIREITO E EDUCAÇÃO 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL E EDUCAÇÃO 
 
1. Acidente em aula de educação física na escola: de quem é a 
responsabilidade? ............................................................................................ 7 
 
2. Viagem ou passeio escolar e a responsabilidade legal do docente e da escola 
........................................................................................................................ 10 
 
3. Atropelamento em horário de aula e a responsabilidade da escola .............. 12 
 
4. Aluno se machucou com bola no intervalo na escola e ficou cego. 
Responsabilidade de quem? ......................................................................... 15 
 
5. Bullying na escola e a responsabilidade civil pela omissão dos professores 
gestores ......................................................................................................... 17 
 
6. Expulsão de estudante configura ato ilícito? ................................................. 20 
 
 
 
PEDAGOGIA E DIREITO 
 
7. Regimento disciplinar não deve ser subestimado pela comunidade escolar 
........................................................................................................................ 24 
 
8. “Coxinhas, petralhas e fascistas...”. Mas e a escola com tudo isso?............. 27 
 
9. Qual é a diferença entre ato indisciplinar e ato infracional? .......................... 30 
 
10. O limite entre medida pedagógica e excesso em um caso de falta disciplinar 
de aluno que teve repercussão nacional ....................................................... 32 
 
11. Sujar a classe de aula é indisciplina e o professor pode chamar a atenção 
....................................................................................................................... 35 
 
12. Avaliação à luz da LDB – Lei de Diretrizes e Bases (lei 9.394/1996) ........... 38 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
4 
 
13. ‘Escola Sem Partido’ sob o crivo jurídico e pedagógico ................................ 41 
 
14. Multa aos pais por abandono intelectual e evasão escolar. É possível? 
............................................................................................................................. 48 
 
15. Trabalho na escola e educação face à LDB .................................................. 50 
 
16. Proposta pedagógica e direito educacional, um diálogo promissor .............. 52 
 
17. Atos infracionais nas escolas são reduzidos graças a projeto inovador 
........................................................................................................................ 55 
 
18. O que o docente deve saber sobre a base nacional comum curricular 
(BNCC)? ........................................................................................................ 57 
 
19. Bullying na LDB: novidade da lei 13.663/18 que o professor deve saber 
........................................................................................................................ 61 
 
20. Reprovação de aluno às vésperas da formatura e sua (i)legalidade ............ 63 
 
 
DIREITOS DO PROFESSOR 
 
21. Jornada de trabalho do magistério público: 1/3 extraclasse? ....................... 65 
 
22. Assédio moral e síndrome de burnout entre professores nas escolas 
........................................................................................................................ 69 
 
23. É lícito demissão de professor no início do ano letivo? ................................. 72 
 
 
24. Atividades extraclasse contam para aposentadoria do professor? 
........................................................................................................................ 74 
 
25. Ofensa à docente em redes sociais e o dano moral? ................................... 76 
 
26. Indenização por assédio moral no ambiente escolar: a resposta do direito 
........................................................................................................................ 79 
 
27. Agressão à professora em sala de aula: o poder público é responsável? 
........................................................................................................................ 81 
 
28. Redução do salário de professor sem motivo gera danos morais 
........................................................................................................................ 84 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
5 
29. Horas extras por supervisão de estágio é direito de professora universitária 
........................................................................................................................ 86 
 
30. Rio grande do sul não implementou o direito à 1/3 extraclasse. Por quê? O 
que fazer? ...................................................................................................... 88 
 
31. Compensação de aulas em razão de licença-saúde é lícito? ....................... 91 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL E EDUCAÇÃO 
 
32. Porque o professor deve conhecer a Constituição Federal? Parte I ..............95 
 
33. Por que o professor deve conhecer a Constituição Federal? – parte II 
........................................................................................................................ 98 
 
34. Escola pública próxima e o fechamento de escolas: uma flagrante 
ilegalidade? .................................................................................................. 107 
 
 
PARTE II: JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: ASPECTOS 
 PRÁTICOS............................................................................................................. 110 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE I 
 
TEMAS DE DIREITO E EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
7 
 
 
1. ACIDENTE EM AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: DE QUEM É 
A RESPONSABILIDADE? 
 
 Acidente em aula de educação física na escola pode ter maior 
repercussão do que se imagina. A discussão do incidente pode chegar na esfera 
jurídica por uma questão eminentemente de direito. A responsabilidade civil 
envolvida deve ser conhecida pelos professores e pelos gestores educacionais para 
evitar problemas. O caso analisado contribui para compreensão do tema. 
 
Ocorreu que a família de um aluno de Escola Municipal de Ensino 
Fundamental ajuizou ação de danos morais, materiais e estéticos contra o Município 
de Alambari/SP. O jovem sofreu um grave acidente na aula de educação física. Uma 
queda de uma goleira de futebol. 
 
O aluno estava jogando futebol com os meninos enquanto um monitor 
praticava atividades com o grupo de meninas. Em certo momento, a bola de futebol 
teria ficado presa acima de um gol da quadra. Quando o referido aluno teria subido 
em uma das traves para pegá-la, aconteceu o acidente. 
 
Ao subir no gol a estrutura quebrou, e o aluno,depois de ter ficado 
pendurado pela pele no gancho da goleira por alguns instantes, caiu no chão. O 
indesejado acidente causou ferimentos na região pubiana que deixaram cicatrizes 
no estudante, passíveis de reparação apenas com cirurgia plástica. 
 
A pergunta que fica é: de quem é a responsabilidade por um acidente 
em aula de educação física na escola? 
 
Há que se lembrar que o acidente na aula de educação física aconteceu 
em uma escola pública de um município de São Paulo. Em primeira instância, o ente 
público municipal foi condenado a indenizar o aluno e a sua família. Em segunda 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
8 
instância, o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu o valor da indenização, mas 
manteve a obrigação de indenizar do município. 
 
O órgão julgador fundamentou que é dever da instituição de ensino, 
seja pública ou privada, zelar pela integridade física e moral do aluno 
regularmente matriculado sempre que estiver nas suas dependências. Tratando 
de ente público, a responsabilidade por acidente em aula de educação física na 
escola se dá conforme o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. 
 
Assim, os desembargadores do TJSP entenderam que a escola municipal 
é responsável por qualquer dano ou acidente que o aluno venha a sofrer, seja qual 
for a sua natureza, nas suas dependências. O dever de guarda e incolumidade 
física e moral do educando é de responsabilidade dos funcionários (monitores, 
professores, diretores, etc.) nas dependências da escola. 
 
Por isso, foi reconhecida omissão no dever de cuidado, na medida em 
que ocorreu o acidente na aula de educação física. O professor responsável não 
percebeu que o aluno subiu na trave para resgatar a bola de futebol presa. A 
decisão considerou ainda que medidas adequadas de segurança e vigilância 
poderiam ter impedido o acidente e as lesões resultantes deste evento. 
 
O dano moral nestes casos é o chamado dano in re ipsa de 
presunção absoluta. Isto é, fica dispensada a formação de qualquer prova 
concreta, tendo em vista que o dano decorre do próprio fato. É a chamada 
responsabilidade objetiva. 
 
Confira o resumo da decisão judicial: 
 
Ementa: Responsabilidade Civil do Estado – Indenização por danos 
morais e materiais – Lesão sofrida pelo autor decorrente de queda em 
escola municipal durante aula de educação física – Responsabilidade do 
Poder Público pela integridade física e moral da criança – Caracterizada a 
falha na prestação do serviço público, em razão do descumprimento do 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
9 
dever de vigilância – Configurado o dano moral passível de reparação e o 
dever de fornecer a cirurgia reparadora [...]. (Apelação nº 1002088-
75.2014.8.26.0269, TJSP, 13/06/2017). 
 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
10 
 
 
2. VIAGEM OU PASSEIO ESCOLAR E A RESPONSABILIDADE LEGAL 
DO DOCENTE E DA ESCOLA 
 
O professor que conduz uma turma de alunos em viagem de estudos ou 
lazer é responsável pela integridade de todos os estudantes. A escola também é 
responsável. Entenda a diferença. 
 
Em viagem ou passeio escolar, o professor assume os deveres de 
guarda, devendo zelar pela incolumidade física de todos que estão sob sua 
responsabilidade. Sua responsabilidade é subjetiva, isto é, responde culposamente 
por ação ou omissão, devendo ser examinada a sua conduta sob o aspecto da 
culpa. 
 
Já a Escola que autorizou e/ou consentiu com a viagem de estudos tem 
responsabilidade objetiva, isto é, a responsabilidade da Escola não depende das 
ações ou omissões dos professores, diretores ou prepostos, mas ocorre ipso 
facto, isto é, caracteriza-se tão somente por ter ocorrido o evento danoso, 
dispensando-se a prova da culpa. 
 
Quando estão em cena alunos e professores de escola municipal, a 
responsabilidade é do município. Quando se tratam de alunos e professores de 
escola estadual, a responsabilidade é do estado. Quando se tratam de alunos e 
professores de estabelecimentos particulares de ensino a responsabilidade é dos 
estabelecimentos particulares. 
 
Nesses casos, que envolvem alunos e professores de escolas da rede 
pública, diz-se que a responsabilidade dos entes de direito público é objetiva e o 
dano é in re ipsa (da própria coisa), isto significa que o dano é presumido e emerge 
tão só da consumação do fato, sendo inexigível a prova da culpa por eventual dano. 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
11 
O mesmo ocorre com os estabelecimentos particulares de ensino, sejam 
eles de primeiro, segundo ou terceiro graus. Nesse sentido são as decisões judiciais 
dos tribunais brasileiros, que clarificam a compreensão dessa responsabilidade, 
como a decisão do Superior Tribunal de Justiça: 
 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ACIDENTE OCORRIDO COM ALUNO 
DURANTE EXCURSÃO ORGANIZADA PELO COLÉGIO. EXISTÊNCIA 
DE DEFEITO. FATO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. 
AUSÊNCIA DE EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE. 1. É 
incontroverso no caso que o serviço prestado pela instituição de ensino foi 
defeituoso, tendo em vista que o passeio ao parque, que se relacionava à 
atividade acadêmica a cargo do colégio, foi realizado sem a previsão de 
um corpo de funcionários compatível com o número de alunos que 
participava da atividade. 2. O Tribunal de origem, a pretexto de justificar a 
aplicação do art. 14 do CDC, impôs a necessidade de comprovação de 
culpa da escola, violando o dispositivo ao qual pretendia dar vigência, que 
prevê a responsabilidade objetiva da escola. [...]. 4. Os 
estabelecimentos de ensino têm dever de segurança em relação ao 
aluno no período em que estiverem sob sua vigilância e autoridade, 
dever este do qual deriva a responsabilidade pelos danos ocorridos. 
[...]. (REsp 762.075/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA 
TURMA, julgado em 16/06/2009, DJe 29/06/2009). 
 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
12 
 
3. ATROPELAMENTO EM HORÁRIO DE AULA E A RESPONSABILIDADE 
DA ESCOLA 
 
A escola tem o dever de zelar pela integridade física e psíquica dos 
alunos. Esse dever tem início no momento em que o aluno é entregue à instituição e 
só termina no instante em que está sob a guarda de familiares e ou responsáveis. 
 
Enquanto o estudante permanecer na escola, ou nas suas imediações na 
espera de transporte autorizado pelos pais, permanece a escola com a 
responsabilidade de oferecer aos alunos os cuidados indispensáveis à sua 
integridade. Portanto, há responsabilidade da instituição se um aluno sofrer um 
atropelamento no horário de aula. 
 
O Tribunal de Justiça do RS assim decidiu sobre um caso de 
atropelamento no horário de aula: 
 
Apelação cível. Responsabilidade civil em acidente de trânsito. ação 
indenizatória. Preliminar de ofensa ao princípio do juiz natural rejeitada. 
Atropelamento. Responsabilidade objetiva do município. CF/88, 
ARTIGO 37, PARÁGRAFO 6º. Dever de vigilância. MESMO QUE A 
CONDUTA DA VÍTIMA TENHA SIDO DETERMINANTE PARA O 
EVENTO EM QUESTÃO, foi fruto da NEGLIGÊNCIA POR PARTE DOS 
PROFESSORES E funcionários da escola, que não disponibilizaram 
as CONDIÇÕES DE SEGURANÇA necessárias à aluna. 
RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELO BEM ESTAR E 
INTEGRIDADE FÍSICA DOS ALUNOS DO ENSINO PÚBLICO QUANDO 
ESTES ESTIVEREM NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO OU SOB A 
GUARDA DOS PROFESSORES RESPONSÁVEIS. REPARAÇÃO POR 
DANO MORAL DEVIDA. DEVER DE INDENIZAR. DANO IN RE IPSA. 
DESNECESSIDADE DE PROVA. [...]. (Apelação cível Nº 70042454066 
2011, julgado em 1º de junho de 2011).Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
13 
Nesse julgado, paradigmático por abordar diversas situações que ocorrem 
nas instituições de ensino ou em suas imediações, ou de qualquer forma 
relacionadas à prestação do serviço educacional, envolvendo, ainda, atores da 
municipalidade, os desembargadores condenaram o ente público ao pagamento de 
verba indenizatória por atropelamento no horário de aula de aluna de seis anos, na 
saída da escola. 
 
Assim manifestou-se a douta Des.ª Katia Elenise Oliveira da Silva, 
relatora: 
 
Na hipótese dos autos trata-se de morte decorrente de atropelamento 
ocorrido em frente à escola municipal, no momento em que a vítima ao 
sair da aula, dirigia-se ao ônibus que realizava seu transporte, também 
oferecido pela Prefeitura de Condor/RS. 
Inicialmente cumpre referir que o caso em tela trata-se de típica hipótese 
de responsabilidade civil objetiva. 
Tal assertiva tem por base a redação dada pelo artigo 37, § 6°, da 
Constituição Federal que, de maneira inquestionável, sedimentou em 
nossa doutrina a responsabilidade objetiva da Administração 
Pública, embasada na teoria do risco administrativo, pelos danos 
que seus agentes, nessa qualidade, venham a provocar a terceiros. 
 
A família da aluna, que tinha apenas seis anos, ajuizou a Ação de 
Indenização contra o Município, a Empresa de Transporte Público e o motorista do 
ônibus, em razão do atropelamento no horário de aula que ocasionou a morte da 
filha. O fato se deu enquanto a criança esperava o ônibus na saída da aula, em 
frente à escola municipal, onde estudava. 
A ação foi julgada improcedente em primeiro grau de jurisdição e a família 
recorreu. Ao relatar o caso, a desembargadora registrou a responsabilidade objetiva 
do Estado em caso de atropelamento no horário de aula, pelo dever de guarda e 
segurança adequadas que deveria ter sido ofertado à criança, fazendo parte do 
acórdão a seguinte fundamentação: 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
14 
Desta forma resta indubitável a negligência por parte dos professores e 
funcionários da escola, que não ofertaram à vítima, uma criança de seis 
anos de idade, as condições de segurança adequadas. 
Assim, levando-se em conta que a partir do momento do embarque 
no ônibus, até o momento em que devolvida ao lar estava a aluna 
sob a custódia do Município, cabia ao Estado zelar pelo seu bem 
estar e integridade física, restando claramente caracterizada sua 
responsabilidade pelo ocorrido. 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
15 
 
4. ALUNO SE MACHUCOU COM BOLA NO INTERVALO NA ESCOLA E 
FICOU CEGO. RESPONSABILIDADE DE QUEM? 
 
 Uma bolada no olho esquerdo de estudante no intervalo entre as aulas 
deixou ele cego. O aluno se machucou na escola e ela não foi responsabilizada. 
Vamos entender por quê? 
 
A família de um aluno de escola pública ajuizou ação indenizatória contra 
a escola. O aluno machucou o olho esquerdo por acidente com uma bola de futebol 
durante o intervalo das aulas. Este episódio causou dor e cegueira no aluno. 
 
O aluno disse que logo após se machucar um professor se negou a levá-
lo ao hospital. Ele passou por três cirurgias para correção do deslocamento de 
retina. 
 
Por outro lado, a escola defendeu que os danos que o estudante sofreu 
decorreram do tempo que seus familiares levaram para procurar recurso médico: 
sete meses depois que o aluno se machucou. Também ressaltaram que a gravidade 
do caso não era aparente quando o aluno se machucou. Ainda, alegou que tomaram 
as primeiras providências necessárias depois do ocorrido. 
 
Em primeira instância, a ação foi julgada improcedente e não 
reconhecendo qualquer obrigação de indenizar. Em segunda instância, o Tribunal de 
Justiça do Rio Grande do Sul manteve a decisão do juiz de primeiro grau, afirmando 
que o aluno se machucou em atividade alheia ao controle da escola. 
 
O órgão julgador fundamentou que a bolada no olho ocorreu de forma 
acidental e não poderia ter sido evitada pela escola, o que faz com que não 
tenha havido omissão no dever de guarda e zelo pela integridade física quando 
o aluno se machucou. Acrescentou que ficou comprovado que a escola prestou os 
primeiros socorros devidamente e que os pais do aluno só procuraram o serviço 
médico sete meses depois que ele se machucou. 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
16 
 
Nesse sentido, observaram que a perícia destacou que a demora foi 
decisiva para o agravamento da lesão no olho do estudante. A demora dos pais 
que fez com que a situação de cegueira restasse irreversível. 
 
Assim, os desembargadores do TJRS entenderam que os primeiros 
socorros foram devidamente prestados pela escola quando o aluno se machucou. 
Mais ainda, a gravidade da lesão não era aparente quando do ocorrido, tanto que os 
próprios pais dele demoraram sete meses para buscar recurso médico. Portanto, 
concluíram que não houve omissão no dever de guarda da escola. Veja, pois, a 
decisão: 
 
Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. ESCOLA PÚBLICA. TEORIA DA 
GUARDA. ALUNO ATINGIDO NO OLHO POR BOLA DE FUTEBOL. 
PERDA DA VISÃO. VIGILÂNCIA DILIGENTE DOS PROFESSORES. 
ACIDENTE INERENTE À ATIVIDADE ESPORTIVA. ATENDIMENTO 
POSTERIOR ADEQUADO, DENTRO DO POSSÍVEL. OBRIGAÇÃO DE 
INDENIZAR NÃO CONFIGURADA. A escola pública assume o dever de 
guarda do aluno que lhe é confiado, respondendo, na forma do art. 37, § 
6º, da Constituição Federal, pela omissão específica que venha a causar 
lesão à integridade física do mesmo. Caso em que o autor, com 16 anos 
de idade, teve o olho esquerdo atingido por uma bola durante uma 
partida de futebol. [...]. Prova pericial segundo a qual o retardamento 
no atendimento cirúrgico agravou a lesão, pois o descolamento da 
retina evoluiu para a perda da visão monocular. Esta demora, 
todavia, não é atribuída à escola, pois a gravidade da lesão não era 
aparente - tanto que os pais levaram o filho ao hospital sete meses 
depois - e os professores adotaram as medidas que reputaram 
necessárias para o momento (bolsa de gelo e repouso). [...]. 
(Apelação Cível Nº 70072876527, Décima Câmara Cível, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em 25/05/2017). 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
17 
 
5. BULLYING NA ESCOLA E A RESPONSABILIDADE CIVIL PELA 
OMISSÃO DOS PROFESSORES GESTORES 
 
A família de uma aluna de um grupo educacional privado ajuizou ação de 
danos morais contra a instituição de ensino. A estudante foi alvo de ofensas, 
perseguição e discriminação por parte de algumas colegas de sala de aula. Situação 
esta que começou aos poucos e foi se agravando. Bullying. 
 
Diante disso, os pais da aluna comunicaram ao colégio. Mesmo assim, o 
bullying se agravou ao ponto de ser necessário trocar a aluna de instituição. As 
ofensas, que antes eram somente em horários de aula, continuaram por meios 
digitais. A intimidação sistêmica está conceituada no artigo 2º da Lei 13.185/15 – Lei 
do Bullying. 
 
Como a conduta hostil começou no ambiente escolar e se propagou para 
além do colégio, a família disse que houve sério prejuízo moral. Por isso, alegaram 
ter sofrido graves danos na esfera moral a partir do bullying na escola, que não foi 
devidamente solucionado. 
 
Em primeira instância, a instituição particular de ensino foi condenada a 
indenizar a aluna e a sua família pelo bullying. Em segunda instância, o Tribunal de 
Justiça do Distrito Federal e Territórios reduziu o valor da indenização, mas manteve 
a obrigação de indenizar. 
 
Os julgadoresestabeleceram que a relação entre aluna e instituição de 
ensino particular é de consumo. Isso com base nos artigos 2º e 3º do Código de 
Defesa do Consumidor. Para eles, o bullying sofrido pela estudante se configura em 
falha na prestação de serviço por parte do colégio. 
 
Os desembargadores entenderam ainda que restou caracterizada a 
prática reiterada de bullying, fato que dá ensejo à indenização à titulo de danos 
morais à aluna. Por outro lado, o Tribunal não acolheu a tese de responsabilidade 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
18 
de terceiros. Entendeu que a responsabilidade da instituição de ensino por bullying é 
objetiva, conforme o artigo 14, § 1º do CDC. 
 
Ao final, os julgadores ressaltaram que o colégio faltou com o dever de 
guarda ao não proporcionar um ambiente seguro aos alunos. Os responsáveis 
pela instituição não deveriam permitir que o bullying fosse praticado na 
escola. 
 
Confira o resumo da decisão judicial sobre o caso: 
 
Ementa: CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. BULLYING. VIOLAÇÃO A 
DIREITOS DA PERSONALIDADE EVIDENCIADOS. FALHA DA 
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE 
POR ATO DE TERCEIRO. AFASTADA. DANO MORAL CONFIGURADO. 
VALOR DA INDENIZAÇÃO REDUZIDO. SENTENÇA PARCIALMENTE 
REFORMADA. 1. Segundo a Lei nº 13.185/2015 ataques físicos, insultos 
pessoais, comentários sistemáticos e apelidos pejorativos, ameaças por 
quaisquer meios, grafites depreciativos, expressões preconceituosas, 
isolamento social consciente e premeditado, pilhérias (zombarias) são 
alguns exemplos de atos que podem ser considerados bullying. [...] 3. 
Comprovada a ocorrência de intimidações sistemáticas contra a Apelada, 
patente é a violação aos seus direitos da personalidade, razão pela qual 
restam configurados os danos extrapatrimoniais, os quais são, portanto, 
passíveis de serem compensados. 4. O Apelante, como centro de ensino, 
é incumbido do dever de guarda, devendo, assim, proporcionar um 
ambiente seguro e voltado às práticas educacionais, de modo a assegurar 
o saudável desenvolvimento cognitivo dos estudantes. No entanto, ao 
deixar de fiscalizar e apurar de forma efetiva os fatos ocorridos em suas 
dependências, permitindo-se, assim, a prática reiterada de bullying contra 
a apelada, a qual não lhe restou outra alternativa a não ser mudar de 
colégio, tem-se por evidenciada a conduta negligente do apelante e a 
prestação de um serviço defeituoso, na medida em que o ambiente 
escolar ofertado pelo apelante não ofereceu a segurança razoável que 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
19 
dele se podia esperar. [...]. (Processo nº 0011617-45.2015.8.07.0006, 
TJDFT, 01/06/2016). 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
20 
 
6. EXPULSÃO DE ESTUDANTE CONFIGURA ATO ILÍCITO? 
 
Com frequência recebo este questionamento ao dialogar com professores 
a respeito do tema da judicialização da educação. Por isso resolvi escrever a 
respeito dos fundamentos jurídicos envolvidos na expulsão de aluno. Vamos lá, 
confira. 
 
Inicialmente, adotando o correto pressuposto de que a educação é um 
direito inscrito no rol dos direitos sociais. Direito este protegido pelo texto 
constitucional e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, expulsão de aluno do 
âmbito escolar não seria ato eivado de ilicitude, passível de reparação no Poder 
Judiciário? 
 
Assim, importa consignar que nossa compreensão de educação não se 
coaduna com ‘expulsar’ ou ‘excluir’ sujeitos dos processos educativos. Uma das 
tarefas da escola é promover a humanização, a vocação ontológica do ser humano 
de ‘ser mais’, no sentido pugnado por Freire. 
 
Em termos jurídicos, poderíamos entender tal vocação a partir de um dos 
objetivos da educação: a promoção da cidadania. E neste ponto não há espaço para 
expulsão. 
 
À despeito desta posição pedagógica, há circunstâncias excepcionais que 
autorizam a expulsão, ao passo que há situações em que expulsão de aluno é 
absolutamente incompatível com o ordenamento jurídico vigente. 
 
A partir da análise de dois casos concretos, entenderemos alguns 
parâmetros que a coordenação deve observar ao avaliar a expulsão de aluno 
como providência. 
 
Expulsão de aluno constitui-se em medida excepcional. Do ponto de vista 
pedagógico, importa a garantia de que a escola envidou os melhores esforços para 
 
 
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incluir o estudante no processo de formação. Do ponto de vista jurídico, veda-se a 
arbitrariedade, o desrespeito ao Regimento Escolar e aos princípios elementares do 
direito ao contraditório e à ampla defesa. 
 
Há, enfim, um conjunto de protocolos e medidas imprescindíveis que os 
gestores devem adotar, mormente em um cenário em que cada vez mais estas 
temáticas, como expulsão de aluno, passam pelo crivo do Poder Judiciário. Veja a 
seguir os dois casos de expulsão: 
 
CASO 1 (EXPULSÃO DE ALUNO): DANOS MORAIS. “Expulsão” de 
aluno. Processo conduzido em conformidade com as normas do 
Regulamento Comum da unidade escolar. Ampla defesa 
devidamente oportunizada. Ausência de ato ilícito por parte da 
instituição de ensino. Ação julgada improcedente. Sentença mantida. 
Recurso desprovido. (Apelação n. 1001870-68.2014.8.26.0068, TJSP, 
10/04/2017) 
 
CASO 2 (EXPULSÃO DE ALUNO): REEXAME NECESSÁRIO. 
MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO À EDUCAÇÃO. EXPULSÃO DO 
ALUNO DE ESCOLA MUNICIPAL. 1. Não sendo observado o disposto 
no Regimento Interno Escolar, bem como não sendo oportunizado 
ao adolescente e seus pais exercerem o direito de defesa, mostra-se 
descabida a expulsão sumária do adolescente da instituição de 
ensino. 2. É cabível o reexame de sentença pelo segundo grau de 
jurisdição, pois enquadra-se o presente caso na exigência legal. 
Inteligência do art. 14, §1º, da Lei nº 12.016/09. Sentença confirmada. (Nº 
70060776903, TJRS, 27/08/2014) 
 
ANÁLISE DO CASO 1 – EXPULSÃO DE ALUNO 
 
 No primeiro caso, a expulsão da escola ocorreu em razão de o aluno 
ter cometido uma série de atos indisciplinares. Estas ocorrências foram objetos de 
apuração pela gestão pedagógica da escola, com os devidos registros de 
 
 
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22 
desentendimentos com alunos e professores, indisciplina e agressividade, 
comportamento perigoso, agressões a alunos e funcionários, dentre outros. 
(Acórdão). 
 
Em síntese, a escola comprovou que tentou dialogar com os pais, 
solicitou apoio do Conselho Tutelar e fez o que julgou possível para manter o 
estudante inserido nos processos de aprendizagem. Tais medidas, entretanto, foram 
insuficientes e esbarraram na impossibilidade de a escola realizar um 
acompanhamento e tratamento na área da saúde, imprescindível para a situação 
verificada. 
 
Por tudo isso, o desligamento do estudante não foi entendido pelo Poder 
Judiciário como ato ilícito. Destaca-se que todos passos administrativos que levaram 
à expulsão do aluno foram acompanhados pelos pais, que tiveram garantidos o 
contraditório e a ampla defesa. 
 
ANÁLISE DO CASO 2 – EXPULSÃO DE ALUNO 
 
 Por outra senda, no segundo caso restou claro que a escola agiu 
arbitrariamente na expulsão do aluno, que sequer foi ouvido. Verificou-se que o 
estudante não estava adotando comportamento compatível com o ambiente escolar. 
Entretanto, a escola não demonstrou ao Juízo qualquer providência no sentido de 
apurar as ocorrências identificadas. 
 
 Além disso, não observou o Regimento Escolar, que prevê uma escala 
de punições disciplinares, sendo a expulsão do estudante a derradeira alternativa.Igualmente, os gestores pedagógicos não avaliaram a necessidade de um apoio 
psicológico. Tratou-se, portanto, de expulsão de aluno sumária, visto que sequer o 
direito à ampla defesa e ao contraditório foi respeitado. 
 
 Expulsão de estudante constitui-se em medida excepcional. Do ponto 
de vista pedagógico, importa a garantia de que a escola envidou os melhores 
esforços para incluir o estudante no processo de formação. Do ponto de vista 
 
 
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23 
jurídico, veda-se a arbitrariedade, o desrespeito ao Regimento Escolar e aos 
princípios elementares do direito ao contraditório e à ampla defesa. 
 
 Há, enfim, um conjunto de protocolos e medidas imprescindíveis que 
os gestores devem adotar, mormente em um cenário em que cada vez mais estas 
temáticas passam pelo crivo do Poder Judiciário. 
 
 
 
 
 
 
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7. REGIMENTO DISCIPLINAR NÃO DEVE SER SUBESTIMADO PELA 
COMUNIDADE ESCOLAR 
 
Percebemos no cotidiano escolar uma violência latente, física e simbólica. 
Mas e qual é o papel do Regimento Disciplinar neste cenário? Entenda no texto 
abaixo. 
Há uma grande confusão na escola em face da violência. Há dúvidas 
sobre a correção de procedimento frente a ato infracional e ato indisciplinar. A 
comunidade escolar ainda subestima o regimento disciplinar. Primeiramente temos 
que diferenciar ato infracional de ato indisciplinar. 
 
Ato infracional é o ato descrito como crime ou contravenção penal, 
conforme artigo 103 do ECA. Ato indisciplinar, por sua vez, consiste em ações 
perpetradas por estudantes no contexto da escola que estão em desacordo com as 
condutas preconizadas pela instituição no regimento disciplinar. 
 
REGIMENTO DISCIPLINAR E ATO INDISCIPLINAR 
 
Devemos destacar aqui a importância do Regimento Disciplinar, 
verdadeiro balizador do comportamento esperado. O Regimento Disciplinar dispõe 
sobre os atos indisciplinares, sua descrição e as sanções correspondentes a estes 
atos. 
 
Nele deve estar previsto, por exemplo, o horário que a direção dispõe 
para conversas individuais com docentes. Ou em qual dia a equipe diretiva ou 
pedagógica está à disposição dos pais. 
 
Caras professoras, caros professores. O regimento disciplinar deve 
ser público, quiçá disponível no site ou em redes sociais, pois é o balizador 
das condutas dos estudantes. Tem, ainda, o condão de normatizar o 
funcionamento e a organização da vida escolar, do ponto de vista institucional, 
prático. 
 
 
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25 
 
Cada ato indisciplinar previsto no regimento disciplinar deve estar 
acompanhado de uma sanção determinada. Além disso, é importante que se tenha a 
previsão de uma comissão escolar responsável pela apuração do ato indisciplinar. 
Com estes cuidados a escola supera a discricionariedade das punições aplicadas. 
Discricionariedade significa tratar aleatoriamente, sem padrão, cada 
situação. O poder discricionário é o poder arbitrário, livre de qualquer fundamento ou 
justificativa anterior. Para evitá-lo, nada melhor que um regimento disciplinar 
transparente que tipifique condutas indisciplinares e suas respectivas punições. 
 
REGIMENTO DISCIPLINAR E ATO INFRACIONAL 
 
Do ponto de vista estritamente legal, não é correta a afirmativa 
reproduzida pelo senso comum de que “com adolescente não dá nada”. O ECA 
contém um sistema de responsabilização juvenil cuja carga é indiscutivelmente 
penal, pois versa sobre a liberdade do sujeito. No limite, um jovem de doze anos 
pode sofrer uma medida socioeducativa de meio fechado e ficar até três anos preso. 
 
Ao vislumbrar a ocorrência de ato infracional, a gestão pedagógica e os 
responsáveis pela disciplina escolar devem fazer uma primeira apuração, buscando 
aclarar os fatos. Estando obscura a autoria do delito, o Boletim de Ocorrência pode 
ser confeccionado, mas a escola deve se abster de indicar autores, sob pena de 
imputação indevida. 
 
Em se confirmando o ato infracional, é imprescindível que existam 
elementos probatórios suficientes para fazer o registro do Boletim de Ocorrência. O 
restante da apuração e responsabilização, no que toca ao ato infracional, é do 
sistema de justiça da infância e juventude. 
 
Ocorre que se o ato infracional perpetrado também estiver disposto 
nas condutas indisciplinares previstas no Regimento Disciplinar, a escola tem 
todo o direito de adotar o procedimento frente a ato infracional disposto e 
promover a sanção correspondente. 
 
 
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A sanção disciplinar no âmbito da escola, portanto, independe da 
apuração do ato infracional no sistema de justiça. Tal procedimento frente a ato 
infracional tem, inclusive, mais celeridade, pois decorrente de um procedimento mais 
simplificado previsto no Regimento Disciplinar. 
 
 
 
 
 
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8. “COXINHAS, PETRALHAS E FASCISTAS...”. MAS E A ESCOLA COM 
TUDO ISSO? 
 
Coxinhas, petralhas e fascistas são expressões que revelam intolerância 
e acirramento de posicionamentos políticos. E qual o papel da escola neste cenário? 
Cabe aos docentes da Educação Básica fomentar a discussão, problematizando tais 
questões? A solução é o diálogo plural na escola, moderado e respeitoso. 
 
É inegável que passamos por tempos de crescente intolerância e 
acirramento de posicionamentos políticos. Como norte, extraímos um caminho de 
reflexão nas diretrizes do Plano Nacional de Educação. Seus princípios apontam na 
direção da cidadania, promoção humanística, gestão democrática, o respeito aos 
direitos humanos e à diversidade. Um diálogo plural na escola. 
 
Pretendemos não nos estender no aspecto legal, visto que poderíamos 
abordá-lo inclusive do ponto de vista constitucional. No entanto, importa sublinhar 
que os preceitos normativos de direito educacional são transparentes no sentido de 
uma escola democrática e dialógica. Em outras palavras, se aposta num diálogo 
plural na escola para promoção da cidadania. 
 
Neste sentido, como proceder? Acreditamos que este cenário abre 
diversas oportunidades de debates, não apenas em sala de aula. Se o noticiário 
recente é farto em abordar a Justiça e o Poder Judiciário, por que não aproveitar 
para discutir regras de comportamento no ambiente escolar? 
 
Nessa linha, em última análise se discute hodiernamente condutas de 
agentes políticos e as sanções respectivas, oportunidade ímpar para que se discuta 
um novo Regimento Escolar - RE, ao menos no que toca a condutas inadequadas e 
suas respectivas sanções. Então um documento que afirme o diálogo plural na 
escola pode ser uma boa ideia. 
 
 
 
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Discussão coletiva, cujo desiderato não é simplesmente o resultado final 
(uma reescrita deste capítulo do RE). Porém o exercício do debate democrático 
substancial e consequente. Substancial porque os estudantes terão que discutir 
temas pertinentes a seu contexto imediato. Consequente, pois tais deliberações 
terão repercussão na vida escolar. 
 
O espírito democrático e o respeito genuíno à diferença se constroem na 
prática, no seu exercício cotidiano. E não há espaço mais adequado a este exercício 
que as instituições educacionais. Ou seja, através de um diálogo plural na escola. Aí 
reside um dos grandes equívocos do autodenominado “escola sem partido”, que 
quer o silêncio diante das grandes questões contemporâneas. 
 
Importante, pois, fazer uma ressalva: a democracia não podeservir de 
blindagem para autorizar a promoção de discursos de ódio, autoritário ou 
discriminatório. Ao abordar temas quentes do Brasil contemporâneo, necessário que 
o docente faça uma espécie de preliminar, indicando tais restrições e moderando 
ativamente qualquer troca de ideias que resvale para este caminho. A construção de 
um espaço dialógico e de um diálogo plural na escola exige redobrada atenção. 
 
Particularmente, ao tempo em que exerci a docência (seja na Educação 
Básica ou no ensino superior) sempre organizei minhas aulas de modo a garantir um 
“tempo para o nosso tempo”. E o fazia de duas maneiras. 
 
A primeira, mais simples, consistia em fazer pontes entre o período 
histórico estudado e a realidade. Quando não havia esta possibilidade, e o tema 
realmente estava na ordem do dia, preservava alguns minutos iniciais para instaurar 
o diálogo. Momento este não raras vezes extraordinário de participação discente. 
Minha intervenção nestes instantes? Aclarar equívocos conceituais e históricos e 
moderar os ânimos mais acalorados. 
 
Enfim, para usar a clássica assertiva da teoria pedagógica, a escola não é 
uma ilha. Os fundamentos jurídicos do trabalho pedagógico autorizam o debate 
democrático e o diálogo plural na escola. O tão festejado pluralismo de ideias. 
 
 
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29 
 
Por fim, o direito educacional preconiza uma escola que aposte nos 
valores da cidadania. Este sim é corolário maior do Estado Democrático e Social de 
Direito instituído na Constituição de 1988, não por outra razão chamada de 
constituição cidadã. Por isso insistimos que é importante o docente conhecer a 
Constituição. 
 
 
 
 
 
 
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9. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE ATO INDISCIPLINAR E ATO 
INFRACIONAL? 
 
Indisciplina na escola é fato comum nas escolas do Brasil. Nem tão raro 
também são os casos de infrações. Por isso, é importante para professoras e 
professores entender a diferença entre ao indisciplinar e ato infracional na escola. 
 
Aparentemente simples esta questão merece toda a atenção dos gestores 
educacionais na apuração de infração ou indisciplina na escola cometida por 
estudantes. Ato indisciplinar não pode ser confundido com ato infracional. 
 
Ato indisciplinar diz respeito às condutas que ferem as normas de 
comportamento escolar, ou o regimento disciplinar. Já ato infracional versa sobre 
fato descrito como crime no Código Penal, conforme previsão do art. 103 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente. Diz o artigo que “considera-se ato infracional a 
conduta descrita como crime ou contravenção penal”. 
 
Ou seja, quando um adolescente comete dano ao patrimônio público, 
quebrando vidros ou destruindo classes, à rigor não se trata apenas de indisciplina. 
O aluno, na realidade, está cometendo ato infracional, pois é crime previsto no art. 
163, inciso III, “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”. 
 
Neste caso, o encaminhamento devido é o registro de Boletim de 
Ocorrência em Delegacia de Polícia Especializada, para formação do Inquérito 
Policial. A finalidade é a apuração de autoria e materialidade. O Inquérito será 
encaminhado pelo Ministério Público que fará a denúncia na respectiva Vara de 
Infância e Juventude. 
 
A condenação poderá resultar em medida socioeducativa, verdadeira 
sanção de natureza penal, visto sua carga retributiva. Há acaloradas discussões 
sobre a natureza das medidas socioeducativas. A nosso juízo, não temos dúvidas se 
 
 
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31 
tratar de sanção de natureza eminentemente penal, por ser compulsória e, no limite, 
prever a privação de liberdade. 
 
Ato indisciplinar, por sua vez, geralmente não é um fato cujo apuramento 
sai da alçada da instituição. Por outro lado, quando um adolescente comete ato 
indisciplinar, o correto procedimento é a sua apuração por uma comissão que 
desempenhe esta atribuição por certo período. Esta comissão deve ser subsidiada 
pelo regimento disciplinar, que deve conter sanções a respectivos comportamentos 
descritos como indisciplina na escola. 
 
Evidentemente, o aluno autor do ato de indisciplina na escola deve ser 
ouvido pela comissão, que apresentará um breve relato seguido (ou não) de sanção. 
Com o regimento disciplinar, a comissão de apuração acima descrita e a oitiva do 
acusado, protege-se a legalidade das eventuais sanções e a instituição de ensino se 
afasta da arbitrariedade no enfrentamento da questão. 
 
 
 
 
 
 
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32 
 
10. O LIMITE ENTRE MEDIDA PEDAGÓGICA E EXCESSO EM UM CASO 
DE FALTA DISCIPLINAR DE ALUNO QUE TEVE REPERCUSSÃO 
NACIONAL 
 
Professoras e professores diariamente têm dúvidas acerca de qual é a 
medida pedagógica correta para cada situação. O medo da responsabilização por 
excesso pode frear atitudes dos docentes. O texto a seguir resume um caso de 
repercussão nacional. 
 
A família de um aluno de Escola Estadual de Ensino Médio ajuizou ação 
de danos morais contra o Estado do Rio Grande do Sul. O aluno, segundo os pais, 
teria sido humilhado pela professora em frente aos colegas. Para eles, a atitude da 
professora teria ultrapassado os limites de uma medida pedagógica. 
 
No processo, foi comprovado que o adolescente pichou o seu apelido em 
uma parede da escola. Isso ocorreu logo após uma ampla mobilização da 
comunidade para revitalização da instituição através da pintura das paredes das 
salas de aula. Diante deste fato, a vice-diretora solicitou ao aluno que pintasse 
novamente a parede, em frente a seus colegas. 
 
Neste momento, o aluno teria ironizado a situação, ao tempo em que a 
professora teria lhe chamado a atenção para levar a situação a sério. Inconformada 
com o claro desrespeito, a professora teria chamado o jovem de “bobo da corte” no 
contexto dos atos praticados. 
 
O evento foi filmado por outro aluno com o celular e ganhou repercussão 
na internet e na mídia com o questionamento da medida pedagógica. Por isso, a 
família disse que o aluno ficou muito abalado, envergonhado e sem ir à aula por 
algum tempo. 
 
No juízo de primeiro grau, o ente público foi condenado a indenizar o 
aluno e a sua família. Em segunda instância, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
33 
Sul, reformou a decisão, concluindo que a atitude se tratou de medida pedagógica 
enérgica no contexto dos fatos. 
 
Após ponderarem a situação sob aspectos do direito educacional e 
fazerem uma análise do caso concreto, os julgadores desobrigaram o Estado a 
pagar indenização. Concluíram que a resposta da professora não excedeu os limites 
de uma medida pedagógica. 
 
Os Desembargadores entenderam que restou demonstrada a intenção 
disciplinar da docente. Reconheceram que não houve qualquer intenção de humilhar 
o aluno, mas de lhe aplicar uma medida pedagógica adequada à transgressão 
cometida. 
 
O Tribunal lembrou que pichação se constitui em dano ao patrimônio 
público, com previsão no Código Penal. Portanto, o adolescente poderia ser 
responsabilizado pelo cometimento de ato infracional, sujeito à aplicação de medida 
socioeducativa. O que, geralmente, é mais forte que uma medida pedagógica. 
 
O julgador relator da decisão lembrou que tanto o aluno quanto seus pais 
não participaram do mutirão para revitalização da escola. Observou ainda que a 
repercussão pública do caso decorreu da “tentativa dos pais do educando de tirar 
proveito da situação”. 
 
O Tribunal pontuou, aofinal, que a conduta reprovável do estudante 
se deve à omissão dos pais, destacando que a medida pedagógica da 
professora não causou danos efetivos ao aluno. A extensa decisão abordou a 
situação sob o ponto de vista do direito e da cidadania. 
 
Confira o resumo da decisão judicial: 
 
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALTA 
DISCIPLINAR PRATICADA POR ALUNO DE ESCOLA PÚBLICA 
ESTADUAL. APLICAÇÃO DE MEDIDA PEDAGÓGICA POR 
 
 
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PROFESSORA. REPARAÇÃO INDEVIDA. [...] Realizada a pintura em 
toda escola, o autor pichou uma das paredes com o seu apelido, atitude 
deveras reprovável, especialmente diante do contexto dos fatos. Em 
razão disso, a então Vice-Diretora lhe aplicou uma medida pedagógica 
determinando que realizasse a pintura do espaço que havia pichado e 
também que a ajudasse a realizar outras pinturas pequenas em demais 
locais da escola, assim como os demais colegas tinham realizado no dia 
anterior. In casu, muito embora a professora possa ter sido indelicada na 
forma como aplicou a medida pedagógica, restou evidenciado que sua 
atitude não foi de constranger o aluno. [...]. (Apelação Cível nº 
70070165360, TJRS, 09/11/2016). 
 
 
 
 
 
 
 
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35 
 
11. SUJAR A CLASSE DE AULA É INDISCIPLINA E O PROFESSOR PODE 
CHAMAR A ATENÇÃO 
 
A família de um aluno de escola particular ajuizou ação de danos morais 
contra a instituição de ensino e um professor de geografia que nela trabalha. O 
aluno disse que se sentiu humilhado quando o professor lhe chamou a atenção por 
estar sujando a classe de aula. 
 
O episódio aconteceu durante uma aula de geografia. O docente pediu 
que o aluno limpasse a classe que riscou com “errorex”. Este episódio, segundo o 
que disse a família em juízo, teria causado danos e prejuízos de relacionamento ao 
aluno. 
 
O aluno afirmou que o professor foi ofensivo lhe acusando injustamente 
na frente da turma de sujar a classe. O estudante disse que o “errorex” respingou no 
seu material quando ele foi abri-lo e acabou por sujar a classe. 
 
Os pais do referido aluno exigiram a demissão do professor para manter o 
seu filho na escola. Eles disseram que o docente humilhou seu filho em frente aos 
colegas ao chamar a atenção do jovem por sujar a classe de aula. 
 
Por outro lado, o colégio e o professor defenderam que o aluno estava 
escrevendo o seu nome na mesa propositalmente. Alegaram que, mesmo assim, 
apenas lhe foi chamada atenção pelo comportamento inadequado de forma 
respeitosa. 
 
O colégio também ressaltou que o referido professor é muito querido 
pelos alunos, devido ao seu tratamento afetuoso e digno. Além disso, alguns 
colegas confirmaram que viram o referido aluno sujar a classe. 
 
Em primeira instância, a ação foi julgada improcedente e não reconheceu 
qualquer obrigação de indenizar. Em segunda instância, o Tribunal de Justiça do Rio 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
36 
Grande do Sul manteve a decisão do juiz de primeiro grau entendendo que sujar a 
classe de aula não é uma conduta adequada, nem esperada, de um estudante. 
 
O órgão julgador fundamentou que as testemunhas ouvidas não 
deixaram dúvidas de que a versão do aluno era inverídica. Por outro lado, se 
comprovou que o aluno riscou a classe. 
 
Os julgadores acrescentaram que o aluno não chamou qualquer colega 
que tenha presenciado o episódio para testemunhar, mesmo que tenha mantido 
amizade com vários. Em sentido contrário, concluiu que as testemunhas foram 
coerentes ao dizerem que o colega estava riscando a mesa com “errorex” e o 
professor lhe chamou atenção educadamente. 
 
Assim, os desembargadores do TJRS entenderam que não há qualquer 
ato ilícito que enseje o dever de indenizar. Igualmente, com base no pensamento 
de filósofos contemporâneos (como Zygmunt Bauman, Leandro Carnal e Mario 
Sérgio Cortella) dissertaram que sujar a classe de aula é conduta 
completamente inadequada. 
 
O Tribunal referiu que o processo foi o produto de uma verdadeira 
inversão de valores. Ainda, que este problema assola a sociedade moderna, 
onde passou a se confundir autoridade com autoritarismo. Em que fazer e 
ensinar o certo (não sujar a classe) passou a ser considerado abusivo. 
 
Nesse sentido, concluíram que o professor buscou educar o aluno ao 
constatar o fato. Inclusive foi procurada ajuda dos pais que, por outro lado, se 
voltaram contra o colégio e o educador. 
 
Confira o resumo da decisão judicial, que ressaltou o caráter disciplinar da 
atitude do professor: 
 
Ementa: APELAÇÃO CIVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSTITUIÇÃO DE ENSINO. 
 
 
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ALEGADO TRATAMENTO DESRESPEITOSO DE PROFESSOR EM 
FACE DE ALUNO. PROVA ROBUSTA EM SENTIDO CONTRÁRIO. 
PRETENSÃO QUE BEIRA A MÁ-FÉ. [...]. O docente apenas se limitou a 
ordenar que o aluno limpasse a classe escolar que havia rabiscado, o que 
fez em tom apropriado e com a firmeza que a situação exigia. Não se 
pode confundir autoridade com autoritarismo. Ensinar um jovem a assumir 
a responsabilidade de seus atos e consertar o dano cometido é tarefa 
primeira dos pais, tendo a escola função supletiva/complementar. Nesse 
contexto, a ordem para que o autor limpasse a sujeira feita não teve 
qualquer viés de humilhação, mas objetivou apenas educá-lo, 
transformando-o num cidadão consciente de seus deveres e limites, 
ciente das conseqüências de seus atos. [...]. (Apelação Cível Nº 
70073219685, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Eugênio Facchini Neto, Julgado em 24/05/2017). 
 
 
 
 
 
 
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38 
 
12. AVALIAÇÃO À LUZ DA LDB – LEI DE DIRETRIZES E BASES (LEI 
9.394/1996) 
 
 É consenso que a avaliação de aluno cumpre função de relevo nos 
processos educativos escolares. Na realidade, cotidianamente constitui-se em 
argumento central do docente para atenção em sala de aula, ou para que sejam 
realizadas as tarefas escolares. Qual professor nunca utilizou a expressão ‘prestem 
atenção, porque vai cair na prova’? 
 
Há, ainda, uma miríade de teorias pedagógicas: a compreensão advinda 
da tradição, em que avaliação confunde-se com provas pontuais, cumulativas e 
classificatórias; a leitura de que a avaliação deve ser processual e diversificada, 
abarcando atividades extraclasse, trabalhos de pesquisa, comunicação de 
resultados; ou de que ela é o verdadeiro coração do processo de aprendizagem. 
 
Pois aí reside o poder docente. Pode-se ainda referir a percepção de que 
a avaliação é o mecanismo de disciplinamento da criança ou do adolescente, o que 
desautorizaria seu manejo. 
 
Nesta cena, o que a legislação educacional dispõe sobre a avaliação de 
aluno? Vejamos o inciso V do art. 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional: 
 
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será 
organizada de acordo com as seguintes regras comuns: 
(...) 
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes 
critérios: 
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com 
prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos 
resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
39 
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso 
escolar; 
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação 
do aprendizado;d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; 
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos 
ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem 
disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; 
 
 Da leitura deste dispositivo é possível concluir que a avaliação de aluno 
como tradicionalmente é concebida não se alinha aos valores dispostos na 
legislação. A ideia contida na LDB é que a avaliação seja feita processualmente (ao 
contrário de pontualmente). Veja a alínea “a”, em que o legislador tem o cuidado de 
expressamente afastar as provas finais. 
 
 Depreende-se também o descompasso com a legislação na 
reprovação de ano em razão da insuficiência em uma ou duas disciplinas, conforme 
a dicção da alínea “d”, “aproveitamento dos estudos concluídos com êxito”. Assim, o 
sujeito reprovado em matemática ou história não deve, em respeito ao dispositivo 
em comento, repetir todas as disciplinas, visto que os outros componentes, a rigor, 
foram concluídos com êxito. 
 
 Na perspectiva legal, a avaliação é parte de um plano de trabalho. Isso 
na medida em que propicia ao docente fazer um diagnóstico das dificuldades da 
turma a respeito do conteúdo ministrado, dos avanços e das dificuldades 
enfrentadas pelos estudantes. Uma espécie de termômetro. 
 
 Neste sentido, a avaliação é ferramenta indispensável para o bom 
desenvolvimento das atividades escolares, visto que a partir de um bom diagnóstico 
é possível ao docente planejar (e replanejar...) as atividades de sala de aula. Vejam, 
nenhuma menção à classificação de estudantes. Foco dirigido aos processos de 
aprendizagem. Melhor, foco na qualificação dos processos de aprendizagem. 
 
 
 
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40 
 Na realidade, o escopo da LDB, no que toca à avaliação, é incluí-la no 
bojo de um projeto pedagógico inclusivo e democrático, sem descuidar da qualidade 
dos processos de aprendizagem. Para tanto, a avaliação é entendida como um 
processo permanente, contínuo, em que a aprendizagem não é verificada no fim do 
percurso, mas no curso de toda a caminhada. 
 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
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13. ‘ESCOLA SEM PARTIDO’ SOB O CRIVO JURÍDICO E PEDAGÓGICO 
 
Pretendemos analisar sob o prisma jurídico e o debate pedagógico as 
propostas articuladas em torno do movimento (?) ‘Escola Sem Partido’ (ESP). É 
legítimo do ponto de vista jurídico? É correto do ponto de vista pedagógico? Vejam o 
que a Escola de Direito Educacional entende a respeito do movimento. 
 
Em um primeiro momento, definiremos o tema, utilizando-nos das 
palavras de seus protagonistas. Sujeitos cujo lócus de trabalho é o direito e a 
política.1 Na sequência, pretende-se abordá-lo a partir do direito educacional. Área 
jurídica que toma corpo nos últimos anos. 
 
Além disso, faremos uma análise preliminar dos propósitos do movimento 
Escola Sem Partido. Neste ponto tendo por pano de fundo o complexo debate 
pedagógico contemporâneo, em que várias tendências se complementam e se 
opõem, em um mosaico desprovido de verdades inquestionáveis. 
 
Segundo artigo publicado pelo ‘El País’,2 o movimento Escola Sem 
Partido iniciou em decorrência de um episódio em São Paulo, no qual um professor 
teria comparado Che Guevara a São Francisco de Assis. Tal analogia foi 
compreendida como doutrinação ideológica de esquerda, motivando críticas, em 
meados de 2003. Em 2004 foi criado o movimento Escola Sem partido com 3 
objetivos definidos pelos seus idealizadores.3 
 
Um, a descontaminação e desmonopolização política e ideológica das 
escolas. Dois, o respeito à integridade intelectual e moral dos estudantes. Três, o 
 
1
 Note-se que aqui não se faz qualquer juízo de valor. É fato. O pioneiro deste movimento é o Dr. 
Miguel Nagib, advogado paulista e articulador do ESP, na medida em que criou uma associação para 
fins de multiplicação de suas ideias. Outrossim, tais ideias tem sido repercutidas eminentemente por 
vereadores e deputados alinhados ao Dem e ao PP, inexistindo notícia de que instituições de 
pesquisa acadêmica a corroboram. 
2
 Artigo: Movimento Escola Sem Partido foi criado a partir da indignação de um pai com um professor. 
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/23/politica/1466654550_367696.html 
3
 Consulta ao site http://www.escolasempartido.org/objetivos em 28 de março de 2017. 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
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respeito ao direito dos pais de dar aos seus filhos a educação moral que esteja de 
acordo com suas próprias convicções. 
 
Para levar a cabo tais objetivos, o Escola Sem Partido propõe uma 
estratégia eminentemente jurídica. Assim destacando no seu site um modelo de 
notificação extrajudicial. Além disso, indica um “dia nacional de luta contra a 
doutrinação política e ideológica nas escolas”. 
 
ESCOLA SEM PARTIDO E O PRISMA JURÍDICO 
 
Particularmente, admito que subestimei o Escola Sem Partido. Há cerca 
de dois anos, provocado por colega de longa data, resumi-o apontando sua flagrante 
inconstitucionalidade. Esta foi reconhecida recentemente pelo Ministro Luís Roberto 
Barroso, do STF. Nessa linha, deferindo liminar para suspender Lei promulgada pelo 
Estado de Alagoas cujo teor alinha-se ao Escola Sem Partido, Barroso foi enfático. 
 
Disse ele: “A norma [lei inspirada no Escola Sem Partido] é, assim, 
evidentemente inadequada para alcançar a suposta finalidade a que se destina: a 
promoção de educação sem ‘doutrinação’ de qualquer ordem. É tão vaga e 
genérica que pode se prestar à finalidade inversa: a imposição ideológica e a 
perseguição dos que dela divergem. Portanto, a lei impugnada limita direitos e 
valores protegidos constitucionalmente sem necessariamente promover 
outros direitos de igual hierarquia.”4 
 
Deste modo, tais considerações dariam conta de encerrar o tema. Ocorre 
que os sucessivos embates criados pelo Escola Sem Partido faz crescer a 
preocupação dos professores que exercem diariamente seu ofício. Pretende o 
Escola Sem Partido que o ensino seja ministrado com neutralidade. Ainda, que os 
docentes se abstenham de compartilhar qualquer opinião que diga respeito a credo, 
ideologia e gênero. 
 
 
4
 Site do Supremo Tribunal Federal: 
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=338884 
 
 
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Ademais, aos militantes do Escola Sem Partido propõe-se que 
primeiramente notifiquem os docentes e as escolas que diretamente ou por omissão 
deixem que tal ocorra.5 Acompanhado por Barroso, reconhecido constitucionalista e 
Ministro do STF, entendo que os objetivos do Escola Sem Partido são ilegais e 
inconstitucionais. Isso porque pretendem cercear a liberdade do docente no 
exercício de seu trabalho, nos exatos limites do componente curricular do qual é 
titular. 
 
De igual modo, a Constituição Federal não autoriza a censura. Ao 
contrário, aposta na liberdade de expressão, condição para o pleno exercício do 
magistério. Tal direito constitui-se em garantia fundamental. Veja-se, pois, o teor do 
artigo 5º, IV e IX, da CF, por exemplo: 
 
Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
(...) 
IV: É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o 
anonimato;IX: é livre a expressão artística, científica e de comunicação, 
independente de censura ou licença. 
 
Sobre a questão educacional, vejamos o que dispõe o texto 
constitucional: 
 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
(...) 
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o 
pensamento, a arte e o saber; 
III – pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, e coexistência 
de instituições públicas e privadas de ensino; 
 
5
 Diga-se de passagem que esta notificação, a nosso juízo, contém inequívoco intento intimidatório. 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
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Forçoso concluir, portanto, não haver espaço para censura no ambiente 
escolar. Educação é sinônimo de liberdade, diálogo, pluralismo de ideias e 
concepções pedagógicas. De antemão, sujeitos que não detém formação acadêmica 
na área da educação, não participaram dos inúmeros colegiados legítimos que 
debatem e deliberam sobre a temática educacional Brasil afora, estabelecer o que 
pode ser dito em uma aula consiste, sem sombra de dúvidas, em censura. 
 
Assim, o Escola Sem Partido não se consegue se legitimar sequer nos 
seus próprios fundamentos. Seguindo este itinerário, a LDB, inspirada pela 
Constituição Federal, apresenta a seguinte principiologia: 
 
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos 
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem 
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; 
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; 
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; 
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
VII - valorização do profissional da educação escolar; 
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da 
legislação dos sistemas de ensino; 
IX - garantia de padrão de qualidade; 
X - valorização da experiência extra-escolar; 
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. 
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
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Diante do exposto, inolvidável concluir que as proposições do Escola Sem 
Partido revestem-se de manifesta inconstitucionalidade. Igualmente de notória 
ilegalidade. Por esta razão os docentes e escolas eventualmente notificados podem 
se utilizar destes fundamentos e encaminhar uma contra notificação, já que é nesta 
seara que o embate está se realizando. 
 
ESCOLA SEM PARTIDO E O PRISMA PEDAGÓGICO 
 
Acerca das questões pedagógicas, os fundamentos epistemológicos do 
Escola Sem Partido remontam o medievo. Seguramente, seus proponentes não 
estudaram o acervo pedagógico produzido ao longo do século XX. Confundem, pois, 
formar cidadãos com doutrinação (!!). Atacam Paulo Freire, afirmando estarem nesta 
pedagogia as causas dos problemas educacionais brasileiros. 
 
Poderíamos escrever muito sobre a pedagogia freireana. Sobre a 
compreensão dos processos de aprendizagem que Freire, a partir de uma longa 
caminhada que combinou teoria e prática, exemplarmente elaborou. Poderíamos 
nos estender ao descrever a trajetória admirável deste teórico, reconhecido 
mundialmente como um dos grandes teóricos da educação do século XX e 
vilipendiado por estultices como as observadas no site do Escola Sem Partido. Em 
razão dos limites deste artigo, limitaremo-nos a apontar duas inconsistências 
teóricas do Escola Sem Partido. 
 
Então, deixemos as outras para outro momento. O último lócus em que se 
propõe a resoluta neutralidade no mundo do conhecimento é o Escola Sem Partido. 
A neutralidade, no âmbito científico, notavelmente nas ciências humanas, é uma 
quimera.6 Ao abordar um fenômeno histórico, por exemplo, é humanamente 
impossível restringir assepticamente o conteúdo, de modo que se possa atingi-lo 
com neutralidade. 
 
 
6
 Boaventura de Sousa Santos alerta para a impossibilidade da neutralidade também nas chamadas 
ciências duras. 
 
 
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Imaginemos, caros leitores já enfastiados com a extensão deste artigo, 
uma aula sobre o nazismo, a Revolução Francesa ou a chamada Era Vargas. O 
historiador, para ministrá-la, seguramente estudou tais processos. Carrega leituras, 
impressões, eventualmente pré-conceitos, de sorte que resta impossível neutralizá-
los. Nessa linha, impor a neutralidade é impor o silêncio. 
 
Olvida, assim, o Escola Sem Partido que o ambiente escolar agrega uma 
profusão de atores que carregam suas convicções ideológicas, morais e éticas. Este 
movimento (movimento?) ignora que a vida pulsante da comunidade escolar decorre 
exatamente das diferenças que a constituem. A alteridade educa, e é no bojo das 
diferenças que o processo educativo acontece. Observando os objetivos do Escola 
Sem Partido, constata-se uma desconexão com esta realidade. 
 
Deste modo, não há razões para “descontaminação política e ideológica” 
porque não há pensamento único institucionalizado. A sabedoria popular já ensinou 
que quando João fala mal de Pedro, sabemos mais de João do que de Pedro. 
Certamente os protagonistas do Escola Sem Partido não conhecem o dia a dia 
escolar. Assim, reduzem a um debate vergonhosamente simplório um cenário 
extremamente complexo e variado, multifacetado, em que não há lugar para 
determinismos oriundos da guerra fria. 
 
Por outra senda, o conceito que o Escola Sem Partido tem dos 
estudantes em seus escritos é anacrônico, remontando o século XIX. Os estudantes 
não são – na realidade nunca foram... – marionetes manipuláveis que assimilam 
passiva e voluntariamente o que lhes é imposto por “espertos e ardilosos” 
professores, de esquerda ou de direita. 
 
Ao contrário, o sujeito da educação contemporânea está em posição de 
diálogo. Mais que isso, é protagonista de seu processo formativo. E vejam bem, tais 
considerações são consensuais no ambiente da pesquisa acadêmica. Qualquer 
manual de pedagogia editado no século XXI explica isso. 
 
 
 
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Por derradeiro, constato o que muitos colegas já apontam. O Escola Sem 
Partido é pura e simplesmente um movimento político. Por isso, deve ser enfrentado 
pelo conjunto dos docentes que hoje estão desafortunadamente sendo por ele 
atacados na esfera do debate político. 
 
Jurídica e pedagogicamente, é anacrônico, inconsistente e, no limite, 
inconstitucional. Melhor seria que estes militantes se ocupassem substancialmente 
com a melhoria da educação brasileira, apoiando, por exemplo, a legítima demanda 
por uma remuneração justa dos professores, respeitando-os e, quem sabe, 
estudando um pouco. 
 
 
 
 
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14. MULTA AOS PAIS POR ABANDONO INTELECTUAL E EVASÃO 
ESCOLAR. É POSSÍVEL? 
 
Abandono intelectual de aluno que não frequentava escola resulta em 
condenação dos pais ao pagamento de multa. A responsabilidade pela evasão 
escolar recaiu sobre os genitores, com base na Lei 8.069/1990, que instituiu o 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
O Ministério Público doEspírito Santo ajuizou ação de apuração de 
infração administrativa às normas do Estatuto da Criança e do Adolescente. O 
objetivo era investigar suposto abandono intelectual de aluno. Os pais do aluno 
foram condenados ao pagamento de multa de 3 salários mínimos em razão da 
evasão escolar do filho. 
 
Em segunda instância, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo manteve a 
decisão do juiz de primeiro grau. Os julgadores ressaltaram que, mesmo quando 
chamados ao processo judicial, os pais não tomaram nenhuma providência em 
relação à evasão escolar de seu filho. 
 
O Direito Educacional é claro em casos como este. O Estatuto da Criança 
e do Adolescente, Lei 8.069/90, estabelece como dever dos pais de crianças e 
adolescentes zelar pela sua educação. O artigo 249 do ECA, que prevê multa 
administrativa de três a vinte salários mínimos, dispõe: “Descumprir, dolosa ou 
culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrentes de tutela 
ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho 
Tutelar”. 
 
Confiram abaixo a ementa do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça 
do Espírito Santo: 
 
Ementa: RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 
13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PERDA DE UMA 
 
 
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CHANCE. PROFESSORA. DISPENSA NO INÍCIO DO ANO LETIVO. De 
acordo com a teoria da responsabilidade civil pela perda de uma chance, 
o prejuízo material indenizável é aquele decorrente de uma probabilidade 
séria e real de obtenção de um resultado positivo legitimamente esperado 
pela vítima que é obstado por ato ilícito praticado pelo ofensor. A 
despedida de empregado sem justa causa encontra-se dentro do poder 
potestativo do empregador, não caracterizando, por si só, ato ilícito ou 
abuso de direito. No presente caso, todavia, conforme se depreende do 
acórdão do Tribunal Regional, restou demonstrado o uso abusivo do 
exercício do direito de rescisão contratual por parte do reclamado. Com 
efeito, a dispensa da reclamante no início do ano letivo, quando ela 
já tinha a expectativa justa e real de continuar como professora da 
instituição de ensino reclamada e auferir daí os ganhos 
correspondentes, evidencia o abuso do poder diretivo do 
empregador de dispensa, notadamente pela dificuldade que a 
reclamante teria em lograr vaga em outra instituição de ensino, tendo 
em vista o início das aulas. Recurso de revista não conhecido. (Recurso 
de Revista nº 246-65.2013.5.04.0531, Segunda Turma do TST, Relatora: 
Álvaro Manoel RosindoBourguignon, Julgado em 30/01/2018) 
 
 
 
 
 
 
 
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15. TRABALHO NA ESCOLA E EDUCAÇÃO FACE À LDB 
 
Tema controvertido é a questão do trabalho na escola. Este texto tem o 
objetivo de apontar os fundamentos jurídicos da questão traçando um paralelo com 
o conceito de educação contido na LDB. 
 
A legislação educacional autoriza os estudantes a exercerem tarefas 
afetas ao mundo do trabalho na escola? Não restam dúvidas que a resposta é 
positiva, na forma do §2º do art. 1º da Lei 9394/96 (LDB): “A educação escolar 
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. 
 
O próprio texto constitucional aborda o trabalho na escola como elemento 
fundamental. Assim dispõe o art. 205 da Constituição: “A educação, direito de todos 
e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da 
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. 
 
Entretanto, não é qualquer trabalho que deve estar presente no cotidiano 
pedagógico. Evidentemente, veda-se a exploração (comercial/industrial/agrária) do 
trabalho da criança e do adolescente, visto que o objetivo do legislador foi eleger o 
trabalho como um dos princípios educativos que devem informar o currículo escolar. 
 
Note-se que uma das finalidades do Ensino Médio previstas na LDB é a 
compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, 
relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (Art. 35, IV). 
 
Salvo raras exceções, sabemos que o trabalho na escola não é percebido 
como elemento relevante de formação humana. Ao bem da verdade, a origem desta 
dissociação entre o mundo da escola e o mundo do trabalho remonta há pelo menos 
dois séculos, quando as instituições escolares foram progressivamente se afastando 
do mundo da vida e as salas de aula passaram a ser percebidas como o lugar por 
excelência dos processos de aprendizagem. 
 
 
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À despeito de hegemônica, esta concepção sobre trabalho na escola tem 
sido verdadeiramente bombardeada por um muitos docentes e teóricos. Note-se 
também que os sujeitos da educação são outros, crianças e jovens hiperconectados, 
nascidos no século XXI. A tríade sala de aula, quadro negro e monólogo docente 
cada vez mais cede espaço a aulas interativas, recheadas com pesquisas, 
apresentações, experimentos e comunicação. 
 
Neste cenário, a dimensão do trabalho na escola como elemento 
constituinte do currículo pode oferecer excelentes possibilidades de aprendizagem. 
Não nos referimos à formação técnica de nível médio (outro segmento previsto na 
LDB), mas de oportunidades de aprendizagem de conhecimentos científicos a partir 
de processos produtivos reais, concretos. O inciso XI do art. 3º da LDB aponta a 
vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais como um dos 
princípios do ensino. 
 
O desafio da gestão pedagógica, em diálogo com os docentes das 
disciplinas ou áreas de conhecimento, é viabilizar estratégias pedagógicas que 
contemplem o mundo do trabalho. Tal providência, indubitavelmente, trará mais vida 
à escola, abrindo novos horizontes para a juventude. 
 
 
 
 
 
 
Faça do direito o melhor aliado da prática docente 
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16. PROPOSTA PEDAGÓGICA E DIREITO EDUCACIONAL, UM DIÁLOGO 
PROMISSOR 
 
Este texto inaugura uma questão que será recorrentemente abordada 
pela Escola de Direito Educacional. Proposta pedagógica e direito, o que um tem a 
dizer para o outro? Tal pergunta abre janelas para um sem número de 
questionamentos. 
 
Há um leque de abordagens verdadeiramente inesgotável, pois os 
preceitos normativos de Direito Educacional iluminam a vida escolar. Por isso, 
fizemos um recorte de algumas dimensões que julgamos mais pertinentes sobre 
proposta pedagógica e direito. Vamos lá! 
 
Seguidamente somos questionados sobre as responsabilidades do 
professor no que toca à elaboração da proposta pedagógica. Cabe ao docente de 
uma determinada área do conhecimento redigir o PPP ou estudar pedagogia? A 
resposta exige que se conceitue proposta pedagógica. 
 
Em apartada síntese, e desde logo pedindo escusas aos estudiosos de 
tão relevante assunto, proposta pedagógica diz respeito ao perfil de ser humano que 
a instituição educacional pretende formar e o modo pelo qual pretende fazê-lo. 
 
Neste sentido, o PPP contém um conjunto de valores, conhecimentos, 
habilidades e competências que a escola elencou como importantes para a vida do 
estudante. Igualmente, prevêem-se neste documento estratégias pedagógicas com 
o potencial para atingi-los. 
 
Se aceitarmos esta incipiente definição de proposta pedagógica, não 
restam dúvidas que é imprescindível a participação do docente na sua elaboração. 
Ao menos, é necessário que este se aproprie do PPP. 
 
 
 
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Como uma professora

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