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Anotações - Direito Civil IV

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Direito Civil IV
Bibliografia Sugerida
Diniz, Maria Helena – “Curso de Direito Civil – Direitos Reais” São Paulo. Saraiva V. VI
Gonçalves, Carlos Roberto – “Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisa” São Paulo. Saraiva V. VI
Direito Civil Esquematizado – Carlos Roberto Gonçalves
Venosa, Silvio de Salvo – “Direito Civil – Direitos Reais” São Paulo. Atlas V. IV
INDICE CÓDIGO CIVIL
LIVRO III - Do Direito das Coisas
	TÍTULO I - Da posse
		CAPÍTULO I - Da Posse e sua Classificação					Art. 1.196 – 1.203
		CAPÍTULO II - Da Aquisição da Posse						Art. 1.204 – 1.209
		CAPÍTULO III - Dos Efeitos da Posse						Art. 1.210 – 1.222
		CAPÍTULO IV - Da Perda da Posse						Art. 1.223 – 1.224
	TÍTULO II - Dos Direitos Reais
		 CAPÍTULO ÚNICO - Disposições Gerais					Art. 1.225 – 1.227
	TÍTULO III - Da Propriedade
		CAPÍTULO I - Da Propriedade em Geral
			 Seção I - Disposições Preliminares						Art. 1.228 – 1.232
			Seção II - Da Descoberta							Art. 1.233 – 1.237
		CAPÍTULO II - Da Aquisição da Propriedade Imóvel
			Seção I - Da Usucapião							Art. 1.238 – 1.244
			Seção II - Da Aquisição pelo Registro do Título				Art. 1.245 – 1.247
			Seção III - Da Aquisição por Acessão					Art. 1.248
				Subseção I - Das Ilhas							Art. 1.249
				Subseção II - Da Aluvião							Art. 1.250
				Subseção III - Da Avulsão							Art. 1.251
				Subseção IV - Do Álveo Abandonado					Art. 1.252
				Subseção V - Das Construções e Plantações				Art. 1.253 – 1.259
		CAPÍTULO III - Da Aquisição da Propriedade Móvel
			 Seção I - Da Usucapião							Art. 1.260 – 1.262
			Seção II - Da Ocupação							Art. 1.263	
			Seção III - Do Achado do Tesouro						Art. 1.264 – 1.266
			Seção IV - Da Tradição							Art. 1.267 – 1.268
			Seção V - Da Especificação							Art. 1.269 – 1.271
			Seção VI - Da Confusão, da Comissão e da Adjunção 			Art. 1.272 – 1.274
		CAPÍTULO IV - Da Perda da Propriedade					Art. 1.275 – 1.276
		CAPÍTULO V - Dos Direitos de Vizinhança
			Seção I - Do Uso Anormal da Propriedade					Art. 1.277 – 1.281
			Seção II - Das Árvores Limítrofes						Art. 1.282 – 1.284
			Seção III - Da Passagem Forçada						Art. 1.285
			Seção IV - Da Passagem de Cabos e Tubulações				Art. 1.286 – 1.287
			Seção V - Das Águas								Art. 1.288 – 1.296
			Seção VI - Dos Limites entre Prédios e do Direito de Tapagem		Art. 1.297 – 1.298
			Seção VII - Do Direito de Construir						Art. 1.299 – 1.313
		CAPÍTULO VI - Do Condomínio Geral
			Seção I - Do Condomínio Voluntário
				Subseção I - Dos Direitos e Deveres dos Condôminos			Art. 1.314 – 1.322
				Subseção II - Da Administração do Condomínio				Art. 1.323 – 1.326
				Seção II - Do Condomínio Necessário					Art. 1.327 – 1.330
		CAPÍTULO VII - Do Condomínio Edilício
			Seção I - Disposições Gerais							Art. 1.331 – 1.346
			Seção II - Da Administração do Condomínio				Art. 1.347 – 1.356
			Seção III - Da Extinção do Condomínio					Art. 1.357 – 1.358
			Seção IV - Do Condomínio de Lotes						Art. 1.358-A
		CAPÍTULO VII-A Condomínio em Multipropriedade
			Seção I – Disposições Gerais						Art. 1.358-B – 1.358-E
			Seção I – Da Instituição da Multipropriedade				Art. 1.358-F – 1.358-H
			Seção III - Dos Direitos e das Obrigações do Multiproprietário		Art. 1.358-I – 1.358-K
			Seção IV - Da Transferência da Multipropriedade				Art. 1.358-L
			Seção V - Da Administração da Multipropriedade				Art. 1.358-M – 1.358-N
			Seção VI - Disposições Específicas Relativas às Unidades Autônomas de Condomínios Edilícios																Art. 1358-O - 1.358-U
		CAPÍTULO VIII - Da Propriedade Resolúvel					Art. 1.359 – 1.360
		CAPÍTULO IX - Da Propriedade Fiduciária					Art. 1.361 – 1.368-B
	TÍTULO IV - Da Superfície								Art. 1.369 – 1.377
	TÍTULO V - Das Servidões
		CAPÍTULO I - Da Constituição das Servidões					Art. 1.378 – 1.379
		CAPÍTULO II - Do Exercício das Servidões					Art. 1.380 – 1.386
		CAPÍTULO III - Da Extinção das Servidões					Art. 1.387 – 1.389
	TÍTULO VI - Do Usufruto
 		CAPÍTULO I - Disposições Gerais						Art. 1.390 – 1.392
		CAPÍTULO II - Dos Direitos do Usufrutuário					Art. 1.394 – 1.399
		CAPÍTULO III - Dos Deveres do Usufrutuário					Art. 1.400 – 1.409
		CAPÍTULO IV - Da Extinção do Usufruto					Art. 1.410 – 1.411
	TÍTULO VII - Do Uso								Art. 1.412 – 1.413
	TÍTULO VIII - Da Habitação								Art. 1.414 – 1.416
	TÍTULO IX - Do Direito do Promitente Comprador				Art. 1.417 – 1.418
	TÍTULO X - Do Penhor, da Hipoteca e da Anticrese
		CAPÍTULO I - Disposições Gerais						Art. 1.419 – 1.430
		CAPÍTULO II - Do Penhor
			Seção I - Da Constituição do Penhor					Art. 1.431 – 1.432
			Seção II - Dos Direitos do Credor Pignoratício				Art. 1.433 – 1.434
			Seção III - Das Obrigações do Credor Pignoratício				Art. 1.435
			Seção IV - Da Extinção do Penhor						Art. 1.436 – 1.437
			Seção V - Do Penhor Rural
				Subseção I - Disposições Gerais						Art. 1.438 – 1.411
				Subseção II - Do Penhor Agrícola					Art. 1.442 – 1.443
				Subseção III - Do Penhor Pecuário					Art. 1.444 – 1.446
			Seção VI - Do Penhor Industrial e Mercantil 				Art. 1.447 – 1.450
			Seção VII - Do Penhor de Direitos e Títulos de Crédito			Art. 1.451 – 1.460
			Seção VIII - Do Penhor de Veículos						Art. 1.461 – 1.466
			Seção IX - Do Penhor Legal							Art. 1.467 – 1.472
		CAPÍTULO III - Da Hipoteca
			Seção I - Disposições Gerais							Art. 1.473 – 1.488
			Seção II - Da Hipoteca Legal							Art. 1.489 – 1.491
			Seção III - Do Registro da Hipoteca						Art. 1.492 – 1.497
			Seção IV - Da Extinção da Hipoteca						Art. 1.499 – 1.501
			Seção V - Da Hipoteca de Vias Férreas					Art. 1.502 – 1.505
		CAPÍTULO IV - Da Anticrese							Art. 1.506 – 1.510
			
			
			
				
			
	
		
		
	
		
DIREITO DAS COISAS
1		Generalidades
1.1		Conceito e Abrangência
O direito das coisas regula as relações jurídicas estabelecidas entre as pessoas e os elementos passíveis de apropriação – ou seja, que podem ser dominados pelo homem para atender a necessidades ou conveniências. Abrange dois temas centrais: a posse e os direitos reais, de modo que a expressão “Direito das Coisas” é mais completa do que “Direitos Reais”, um dos temas desta disciplina. Coisa é tudo o que existe a exceção do ser humano e bens são coisas de valor econômico, por serem úteis e raras; porém, a lei nem sempre respeita esta distinção, ao tratar bem como coisa e coisa como bem.
1.2		Direito Real e Direito Pessoal
Os direitos patrimoniais são aqueles que apresentam valor econômico e por isso podem ser negociados, classificando-se em direito real e direito pessoal. Direito real é o poder jurídico exercido diretamente sobre um bem, de modo concreto e imediato e contra todos (erga omnes); estabelece uma relação entre pessoas e coisa, dispensando a colaboração de outrem para o seu exercício e definindo um sujeito passivo universal e indeterminado, representado por toda a sociedade, cuja obrigação é não perturba-lo. Já o direito pessoal é o crédito que nasce de uma relação obrigacional, impondo ao devedor uma prestação em favor do credor; a relação se dá entre pessoa e pessoa e o crédito depende da satisfação do devedor; logo, o sujeito passivo é determinado e o vínculo é “inter partes”. Quase sempre o direito real decorre do cumprimento do direito pessoal, ou seja, da satisfação um crédito. Isso se dá num momento em que se transmite o bem ao credor, i e, com a tradição; por exemplo enquanto se espera receber o bem o comprador (direito pessoal) quando o vendedor lhe transmite este bem (tradição), o adquirente se torna titular da propriedade (direito real). Uma exceção é a usucapião, pela qual a propriedade não decorre de uma relação jurídica prévia, um contrato, mas de uma simples situação de fato: a posse prolongada no tempo. 
1.3		Classificação dos direitos reais
A princípio, os direitos reais podem ser sobre coisa própria ou sobre coisa alheia. A propriedade é único direito real sobre coisa própria. Os direitosreais sobre coisa alheia dividem-se em: direitos reais de gozo ou fruição (superfície, servidão, usufruto, uso, habitação, concessão do direito de uso, concessão de uso especial para moradia e laje). Direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese); e Direito real de aquisição (Direito do promitente comprador). 
1.4		Princípios do direito real
1.4.1		Princípio Absolutismo
Qualifica o direito real enquanto absoluto, i. e, exercido em face de toda a coletividade (“erga omnes”). Decorrem daí dois poderes para um titular: o direito de sequela (“jus persequendi”), que permite perseguir o bem retirado e toma-lo das mãos de quem injustamente o detenha, de modo direto e pessoal (pela autotutela) ou indireto e judicial (pelas ações cabíveis); e o direito de preferência (“jus praeferendi”), pelo qual deve-se atender primeiro ao direito real quando ele concorrer com o direito pessoal em certo processo – por exemplo numa falência, primeiro se paga uma hipoteca para depois se cumprir uma nota promissória.
1.4.2		Princípio da tipicidade
Enuncia que apenas são válidos os direitos reais expressamente previstos em lei, que lhes define a estrutura e o funcionamento. Já os direitos pessoais podem ser atípicos, ou seja, criados originariamente pelos próprios particulares, desde que respeitem o sistema jurídico – por exemplo quando produzem um novo contrato, ainda sem previsão legal. Não se admite direito real atípico porque causaria insegurança jurídica um novo direito de caráter “erga omnes” nascido de relações particulares e sem a publicidade de uma previsão legal.
1.4.3		Princípio da taxatividade
Determina que os direitos reais devem ser regulados num rol taxativo, i. e, apresentados numa relação fechada (“números clausus”), de modo a não se aceitar direito válido fora desta relação. Tal previsão taxativa encontra se no art. 1.225 CC. Entretanto, visualiza-se em artigos esparsos do mesmo código um direito real não taxativo: a retenção. Ela assiste aquele que faz jus a ser reembolsado por benfeitorias, podendo ele reter o bem (não devolve-lo ao proprietário) até receber pelo que merece. Prevalece o entendimento de que a retenção é direito real válido, embora, não taxativo, ao se exercer diretamente sobre um bem em caráter “erga omnes”. 
1.4.4		Princípio do desmembramento	
É aplicado aos direitos reais sobre coisa alheia, que derivam da propriedade a partir da separação de um ou mais de seus poderes e da atribuição destes a outrem. Estes poderes são o uso, o gozo ou fruição, a disposição e a reivindicação. Para se criar o usufruto por exemplo, separam-se o uso e a fruição, tornando assim a propriedade agora limitada. Por outro lado, como regra essa separação não é definitiva, nem irreversível, pois com a extinção do direito real alheio, seus poderes retornam ao proprietário – por exemplo morrendo o usufrutuário, os poderes de uso e gozo voltam a ser do dono do bem.
2		Posse
2.1		Modalidades Genéricas (“jus possdendi” / “jus possessionis”)
Do ponto de vista histórico, a posse aparece relacionada a propriedade, enquanto exercício concreto desse direito real. Fala-se aqui em posse causal ou titulada (“jus possidendi”) que pressupõe uma causa jurídica, não só a propriedade mas qualquer outro fundamento anterior (usufruto, locação, comodato etc.) sua evolução histórica a conduz a uma plena autonomia, surgindo a posse não causal ou não titulada (“jus possessionis”), que recebe proteção legal por si só, Enquanto mera situação de fato, desvincula de uma causa anterior; é o caso daquele que encontra um bem abandonado, e permanecendo com ele por mais de anos passa a ter proteção legal enquanto autentico possuidor.
2.2		Teorias
2.2.1		Subjetiva de Savigny
Explica a estrutura da posse pela conjugação de dois elementos, o “corpus” e o “animus”. Essa análise é necessária para diferenciar a posse da simples detenção, que não produz os direitos da posse (por exemplo não gera a usucapião). O “corpus” é a apreensão física do bem e o “animus” é a intenção com que o indivíduo lida com este bem: se ele o aproveita para, isso é posse ou; se ele o guarda para outrem, isso é detenção. Como a resposta só e dada pelo “animus”, pois o “corpus” é exatamente igual na posse e na detenção, para Savigny o elemento subjetivo é o mais importante. 
2.2.2		Objetiva de Ihering
Qualifica a posse enfatizando o “corpus” como elemento prioritário e dando a ele um novo conteúdo. Para Ihering, o corpus não é a simples apreensão do bem, como defendia Savigny, mas um comportamento, qualificado como conduta de dono. Sempre que alguém exercer de fato algum poder inerente a propriedade será considerada possuidor, até que eventualmente fique demonstrado que o caso é detenção. Com isso, o animus é embutido no corpus, ou seja, é deduzido do comportamento do agente, de modo que a posse torna-se a regra e a detenção é a exceção. Na prática, este tratamento reforça a proteção jurídica da posse e por esta razão a teoria objetiva foi acolhida pelo código civil Brasileiro.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
2.3		Posse e detenção (arts. 1.196, 1.198 e 1.208)
De um modo geral, a posse caracteriza o uso do bem em benefício próprio e com autonomia (como na locação, comodato etc). A detenção verifica-se em três hipóteses: na guarda e conservação do bem no interesse alheio, recebendo destas ordens ou instruções (por exemplo administrador de uma fazenda). Na fase de tomada do bem por violência ou clandestinidade; nos atos de mera tolerância ou permissão (por exemplo ceder uma vaga de garagem por um breve período). 
2.4		Composse “pro indiviso” / “pro diviso” (art. 1.199)
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros co-possuidores.
Caracteriza a posse compartilhada de um bem, que se torna objeto de uso por dois ou mais titulares ao mesmo tempo. Verifica-se de um modo geral em toda a situação de condomínio, ou sejam de propriedade conjunta de um mesmo bem; é o que se dá por exemplo num bem recebido por herança e compartilhado por dois herdeiros. Enquanto a totalidade do bem encontra-se sobre a posse de todos os titulares, a composse é “indiviso” e nenhum possuidor pode usar o bem ou parte dele com exclusividade, afastando os outros, sob pena de sofrer ação possessória. Se o bem é dividido fisicamente entre eles e esta divisão perdura por mais de ano e dia, a composse se torna “pro diviso” e dá origem a posses autônomas, de modo que um possuidor não pode perturbar o outro na sua porção, também se sujeitando a ação possessória. 
2.5		Classificação 
2.5.1		Direta e Indireta (art. 1.197, cc)
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
Posse direta é a que implica a apreensão material do bem e o seu uso efetivo. Posse indireta é aquele que, por fixam legal, o proprietário conserva ao atribuir a outrem a posse indireta; por exemplo na locação, o inquilino recebe a posse direta ficando o locador com a indireta. Trata-se de posses equivalentes, que não se anulam entre si. Pois têm o mesmo valor jurídico. A partir desta divisão, são possíveis três medidas: que cada possuidor atue sozinho perante terceiros na defesa do bem; que os dois atuem em conjunto contra terceiros em “litis consorcio ativo voluntário”; que um se volte contra o outro em caso de molestamento da posse. 
2.5.2		Justa e Injusta (art. 1.200, cc)
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
Posse justa é a que se mostra não violenta (roubo), clandestina (furto) ou precária (apropriação indébita), apresentando-se injusta na presença destas práticas. Posse violenta é obtida com o emprego de força física ou grave ameaça, caracterizandoo roubo na esfera penal se o bem for móvel. Posse clandestina é a obtida as escondidas, de modo não percebido pelo titular, configurando o crime de furto se o bem for móvel. Posse precária é a daquele que deveria devolver um bem recebido regularmente, mas não o faz (por exemplo não restitui coisa emprestada), configurando a apropriação indébita também se o bem for móvel. 
2.5.3		De boa-fé e má-fé (art. 1.201 e 1.202 CC)
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. 
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
2.5.3.1		Conceito e Aplicabilidade
É aquela cujo o bem foi atribuído de modo irregular, porém o adquirente desconhece essa irregularidade, supondo erroneamente que o bem lhe pertença; é o caso por exemplo de quem recebe um bem por testamento, mas não sabe que este documento é nulo, julgando ser possuidor legitimo, quando não é. Já a posse de má-fé é a daquele que conhece a irregularidade da sua condição, mas ainda sim permanece com o bem. O tema tem relevância em duas questões essenciais: na usucapião e na indenização por benfeitorias. Quanto a estas, o possuidor de boa-fé merece ser reembolsado pelas benfeitorias necessárias, pela úteis e pelas voluptuárias, se estas últimas não puderem ser retiradas sem danos ao bem principal. O possuidor de má-fé só recebe pelas necessárias, que de todo o modo seriam feitas pelo legitimo proprietário. 
2.5.3.2		Justo Título
É o documento que seria capaz de conferir a propriedade se não fosse o vício de irregularidade que apresenta, trata-se por exemplo de uma escritura pública falsa a de um testamento nulo, documentos perfeitos na aparência, porém inválidos no conteúdo. Quase sempre a boa-fé do possuidor está amparada por um justo título, tanto que a lei presume a boa-fé nesse caso com mais intensidade, por outro lado, é possível posse de boa-fé sem justo título, como no caso do herdeiro que ainda durante o inventário, toma posse do imóvel do falecido “de cujus” sem saber que existe um testamento deixando esse imóvel para outra pessoa.
2.5.4		Nova e Velha – Art. 558 CPC
Posse nova é aquela cujo exercício ainda não superou ano e dia revelando-se ainda frágil e dispondo de prova de proteção legal. Já o possuidor é aquele que já superou ano e dia e assim se apresenta sólida, com ampla proteção legal, fortalecendo o possuidor até mesmo diante do legítimo proprietário; ex. se o ocupante de um imóvel abandonado já se encontra nele a mais de ano e dia, provavelmente conseguirá derrubar ima reintegração ou posse proposta pelo dono. Não se deve confundir essa classificação com a ação de força nova e de força velha. Ela não é de força quando proposta até ano e dia contados da doença, dando direito a um rito especial (mais célere) e medida liminar (que antecipa o resultado). ela é força velha quando a proposta após ano e dia, sendo processada pelo rito comum sem direito a liminar. 
2.6		Aquisição
2.6.1		Apreensão
É a tomada da coisa sem dono, que pode ser coisa de ninguém ou coisa abandonada.
A coisa de ninguém (“res nullis”) nunca tem um proprietário, de modo que a sua apreensão produz posse e propriedade originais, ex: os peixes de um rio. A coisa abandonada (“res dirilicta”) é aquela que tem um dono que a deixa voluntariamente; ele não se confunde com a coisa perdida, que se acha afastada do seu titular de modo involuntário e deve ser restituída a ele de autoridade competente, prevendo-se uma recompensa a quem a encontrou.
2.6.2		Constituto possessório.
É o mecanismo pela qual o proprietário de um bem, ao aliena-lo (ex: vende-lo), não o entrega para o adquirente, permanecendo com ele sob outra condição jurídica. É o caso por exemplo: de quem vendo o imóvel, mas continua nele enquanto o locatário, comodatário etc. não se presume Constituto possessório, que sempre deve derivar de clausula expressa (chama-se Constituto). No ponto de vista físico, nada munda, apenas no sentido técnico, pois a antiga posse de dono é substituída por uma posse de locatário, comodatário e etc.
2.6.3		Tradição
Caso mais comum de aquisição da posse, consiste na entrega do bem ao adquirente. Em se tratando de bem imóvel, essa entrega é simbolizada pelo registro do título de propriedade no cartório imobiliário, falando-se em tradição solene. Vale ressaltar que no direito Brasileiro é sempre a tradição e não o simples contrato de obrigação, que transfere propriedade e posse.
2.6.1.4.	Perda
Verifica-se nas hipóteses de abandono, quando o titular desponha do bem, de modo permanente; constituto possessório, que faz cessar para o alienante sua posse de proprietário; tradição, que encerra a posse daquele que transfere o bem; e destruição da coisa, pela regra seguindo a qual perece o direito quando perece objeto sobre o qual ele é exercido. 
2.7		Efeito da Posse
2.7.1		Proteção Possessória
2.7.1.1		Autodefesa
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
2.7.1.2		Modalidades de ofensa à posse
A posse pode ser ofendida por três condutas: ameaça de agressão iminente, a turbação e o esbulho. Ameaça, caracteriza uma situação do possuidor, porém sem ataque físico do bem. A turbação representa toda conduta de embaraço a posse aonde tentativa da sua retirada. O esbulho é a perda total e consumada da posse. Na esfera da autodefesa ou autotutela possessória, combata-se a turbação pela legitima defesa e o esbulho pelo desforço imediato. Quanto a ameaça prevalece o entendimento de que ela só pode ser afastada pela via judicial, de modo que a conduta pessoal do possuidor é proibido e ainda pode configurar o exercício arbitrário das próprias razões.
2.7.1.3		Requisitos
O exercício da autodefesa exigi a seguinte condições: reação proporcional a agressão, punindo-se o excesso nos campos civil e penal – admita-se aqui o emprego de armas, respeitada referida proporcionalidade; reação imediata como logo após do ataque, tendo a jurisprudência já considerado “logo após” como “assim que possível” em momento ainda próximo do ataque; reação pessoal, de modo que o próprio ofendido deve ter essa iniciativa, ainda que se servia de auxiliares, como por exemplo os funcionários. 
2.7.1.4		Ações possessória
2.7.1.4.1	Aspectos gerais
São previstas três reações possessória típicas ou clássicas: por interdito proibitório, para afastar ameaça de agressão iminente; ação de manutenção de posse, para combater a turbação; e ação de reintegração de posse, para combater o esbulho. De modo acessório e complementar, ainda são previstas ação de imissão da posse, para o proprietário que pretende obter a posse negada; ação de nunciação de obra nova, para paralisar a construção ou trata atividade danosa a prédio vizinho; e os embargos de terceiros, para se recuperara o bem tomado inerente em certa penhora judicial.
2.7.1.5		Legitimação
2.7.1.5.1	Ativa
Pode ajuizar com a ação possessória quem tenha a condição de possuidor. Não basta ser proprietário se este nunca teve a posse. Da mesma forma, não está legitimado o detentor, isto é, aquele que cuida do bem no interesse alheio, como por exemplo um caseiro de uma chácara, embora ele possa exerce a autodefesa como auxilio do possuidor. Também não é parte legitima o nascituro (ser humano concebido, mas não nascido). Porter somente expectativa de direito no campo patrimonial. O herdeiro poderá defender o bem mesmo antes de receber fisicamente, uma vez que a lei lhe defere a propriedade e posse da herança desde do memento que falece o seu titular. 
2.7.1.5.2	Passiva
Podem ser réus de uma ação possessória o autor da ameaça, da turbação ou do esbulho, bem como um terceiro que recebeu a coisa esbulhada de má-fé (sabendo da sua procedência ilícita ou tendo razões para saber); trata-se aqui por exemplo do receptador de coisa furtada ou roubada, contra quem caberá reintegração de posse. Se o terceiro está de boa-fé, significa que ele tem a convicção de ter recebido a propriedade do bem e neste caso o esbulhado deve propor ação reivindicatória, pois é nessa ação que se discute quem tem a propriedade verdadeira. Ao perder a ação reivindicatória, esse terceiro sobre a evicção, perdendo o bem para o reivindicante. Além disso, o alienante (esbulhador que passou o bem ao terceiro) também é condenado, pois participa do mesmo processo, cabendo ao terceiro agora exigir dele indenização.
2.7.1.5.2.1	Fungibilidade das ações possessórias 
É a qualidade pela qual a ação possessória pode ser substituída por outra pelo próprio juiz ao se revelar inadequada. Isso se dá em dois momentos: no início e ao longo do processo. Na primeira hipótese, o autor propõe uma ação equivocada para os fatos narrados (por exemplo manutenção de posse contra esbulho), e o juiz, percebendo o erro, converte para a reintegração de posse. Na segunda, a ação inicial foi correta, mas a ofensa possessória se altera durante o processo (por exemplo a turbação vira esbulho), e o juiz, novamente faz a adequação para a nova medida. A fungibilidade atende aos princípios da economia e da celeridade processuais. 
2.7.1.5.2.2	Caráter dúplice dos interditos
A lei processual permite que o réu da ação possessória na oportunidade da sua contestação (quando ele se defendo do pedido do autor formule o seu próprio pedido neste processo. A partir daí, existirão dois pedidos contrapostos numa mesma ação, gerando como consequência uma só sentença julgando tanto o pedido do autor quanto o réu. Esse mecanismo também atende aos princípios da economia e da celeridade processuais, pois se evita um segundo processo, pois se evita um segundo processo do réu contra o autor e se garante uma solução mais rápida 
2.7.1.5.2.3	Prestação de Caução
A lei processual também prevê que o réu peça ao juiz que imponha ao autor a prestação de uma caução, quando este réu puder demonstrar que o autor da possessória não terá patrimônio para indeniza-lo, caso fique provado que o réu é quem tinha razão. Isso se faz importante quando o autor é mantido ou reintegrado na posse de modo antecipado (por liminar), gerando prejuízo para o réu (que por exemplo que precisou paralisar uma obra) essa caução pode ser uma garantia pessoal fiança ou aval, ou uma garantia real (oferecimento de um bem móvel ou imóvel)
2.7.1.5.3	Ações de manutenção e reintegração de posse
2.7.1.5.3.1	Prova da Posse	
2.7.1.5.3.2	Prova da Ofensa
3		Percepção dos Frutos
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.
Os frutos são elementos acessórios gerados por um bem principal e como regra, pertencem ao dono do bem, já que o acessório acompanha o principal. Todavia, no caso do possuidor de boa-fé essa regra é apartada pela lei, visto que ela entrega a ele esse fruto. A boa-fé aqui é desconhecida daquele bem que não o pertence e geralmente ela está fundada num fato típico. Trata-se do documento formal que atribuirá à propriedade se não fosse seu vício de irregularidade. Leva-se que, apesar de haver posse de boa-fé sem junta de título é endereçável para arrecadas o fruto. O possuidor mesmo de boa-fé só tem direito aos frutos.
3.1		Produtos e Frutos
Os elementos acessórios de um bem principal apresentam-se como produtos ou frutos. Produtos são os elementos que quando retirados da sua fonte não são renováveis, levando progressivamente ao seu esgotamento (exemplo: minérios no subsolo). Já os frutos são acessórios renováveis que se repõem periodicamente, não esgotando a sua fonte (exemplo: produção de um pomar, cria de um animal). Ao possuidor de boa-fé pertencem os frutos cabendo a ele devolver ou indenizar ao proprietário os produtos eventualmente recolhidos.
3.1.1		Requisitos
O interdito proibitório exige a comprovação de uma ameaça de agressão iminente, ou seja, de um constrangimento que prova evoluir para um ataque material já eirado. Além disso, uma ameaça deve configurar uma possibilidade tão real a ponto de gerar junto um receio de sofrer o ataque. Apura-se junto ao receio a partir da expectativa do homem médio (conhecimento popular) a partir do qual esse temor será junto se outra pessoa normal da mesma situação objetiva provavelmente tiver o mesmo receio. 
3.2		Caráter Cominatório
Qualifica a aplicabilidade de uma pena pecuniária para o autor da ameaça de agressão iminente. A condenação aqui se faz mediantes a imposição de multa diária somando-se os dias em que o condenado permanecer na conduta ameaçadora. O valor da multa dever ser expressivo a ponto de desestimular o ataque pretendido, porém não deve ser tão alto.
 
3.3		Classificação dos Frutos
Quanto a sua origem, os frutos podem ser naturais, quando gerados pelas forças da natureza (por exemplo a produção de um pomar); industriais, gerados pela atividade humana (por exemplo a produção de uma fábrica); e civis, representando rendimentos de um bem principal usado por outrem (por exemplo juros e aluguéis). Quanto ao seu estado, eles podem ser percebidos, quando já colhidos; pendentes, ainda presos ao bem principal (manga no pé); percipiendos, quando já deveriam ter sido colhidos; estantes, quando armazenados (prontos para a distribuição); e consumidos, já usados ou alienados.
3.4		Disciplina Legal (art. 1214 a 1216)
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
O possuidor de boa-fé tem direitos aos frutos percebidos, não importa se já foram consumidos ou se encontra estantes. Os demais devem ser devolvidos ou indenizados ao legitimo proprietário, inclusive os colhidos antecipadamente e os que se perderam por sua culpa, fazendo jus ao reembolso das despesas de produção e conservação. O possuidor de má-fé perde todos os frutos, precisando devolve-los ou indeniza-los, sendo também reembolsado das despesas de produção e conservação. Os frutos naturais e os industriais consideram-se colhidos assim que separados, enquanto os civis consideram se colhidos dia-a-dia (pro-rata), mesmo sem um ato material diário – exemplo retornando o proprietário no meio de um mês, o respectivo aluguel do imóvel estará garantido ao possuidor no valor proporcional aos quinze dias transcorridos até ali.
3.5		Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (Arts. 1217 e 1218)
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
Fala-se aqui no perecimento total ou parcial do bem, estando na posse de outrem. Indaga-se da natureza dessa posse, de boa-fé ou de má-fé. Se o possuidor estava de boa-fé, ele responderáele responderá pela perda ou deterioração apenas se agiu com culpa (foi negligente ou irresponsável). Se o perecimento não se deu por sua culpa (caso fortuito ou força maior), o possuidor de boa-fé é isento de responsabilidade. Já o de má-fé responde sempre por este perecimento, tendo ou não agido com culpa, salvo se demonstrar que o dano de todo o modo ocorreria se o bem estivesse com o dono. 
4		Propriedade (arts. 1228 e CC)
4.1		Conceito e Conteúdo
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.
Propriedade ou domínio é o direito real que atribuí ao titular o pleno aproveitamento do bem, caracterizando a fonte de todos os outros direitos reais. Quando plena, reúne quatro poderes: o uso, emprego do bem segundo sua destinação natural; o gozo ou fruição, retirada dos frutos e exploração econômica; a disposição, capacidade de alienar o bem; e a reivindicação, retomada do bem de quem injustamente o detêm. Os direitos reais sobre coisa alheia se constituem pela separação de um ou mais destes poderes, pelo fenômeno do desmembramento (por exemplo o usufruto é formado pelos poderes de uso e fruição). 
4.2		Aquisição da propriedade imóvel (art. 1238 e CC)
4.2.1		Registro do Título
É a formalização do título aquisitivo de propriedade junto ao cartório imobiliário competente (jurisdição). Opera-se aqui a chamada tradição solene simbolizando a entrega do imóvel. A primeira inscrição deste documento abre a chamada matricula do imóvel, base de dados onde são lançadas as transações e negociações que o envolvam (hipoteca, alienação fiduciária, locação, etc). O propósito do registro também é conferir publicidade a condição jurídica do imóvel, bem como efeito “erga omnes”. O título de propriedade imóvel tradicional é a escritura pública, realizada no tabelionato enquanto contrato solene, porém também se admitem outros documentos, como formal de partilha (que particulariza a herança de cada sucessor) e o compromisso particular de compra e venda que seja irretratável (sem direito de arrependimento), esteja quitado e registrado (segundo jurisprudência do STF).
4.2.2		Acessão
Art. 1.248. A acessão pode dar-se:
I - por formação de ilhas;
II - por aluvião;
III - por avulsão;
IV - por abandono de álveo;
V - por plantações ou construções.
Caracteriza todo acréscimo realizado a um bem principal, fazendo-o expandir-se e atribuindo a área incorporada como propriedade do titular favorecido. Pode ser artificial ou natural. Ela é artificial quando resulta da ação humana (por exemplo benfeitorias). Ela é natural quando provocada pela ação da natureza, particularmente das aguas de um rio. Destacam-se aqui quatro4 fenômenos: a aluvião1, que, sendo própria, caracteriza o deposito progressivo de sedimentos às margens de um terreno banhado pelo rio e, sendo impropria, deriva do recuo permanente dessas aguas fazendo aparecer trecho de terreno antes submerso; a avulsão2, desprendimento abrupto de um bloco de terra que se agrega a outro terreno, impondo a lei que o favorecido consinta com a remoção deste bloco ou indenize o prejudicado; formação de ilha3 pelo deposito progressivo de sedimentos no leito do rio fazendo surgir com o tempo uma formação solida que se destaca sobre as aguas; Álveo abandonado4, quando um trecho elevado no leito (álveo) do rio sobressai acima das aguas pela redução permanente do seu volume – tanto neste casso quanto na formação de ilha, o novo terreno passa a pertencer proporcionalmente aos proprietários ribeirinhos mais próximos, levando-se em conta a projeção de suas divisas e as porções obtidas a partir daí. 
4.2.3		Direito hereditário
Atribui a propriedade e a posse dos bens da herança ao sucessor de um titular falecido. Isso se dá no exato momento do falecimento, quando se fala em abertura da sucessão, ainda que o herdeiro não saiba deste falecimento ou até desconheça sua própria condição. A sucessão pode ser legitima ou testamentária. Na primeira (legitima) não existe testamento válido e a lei confere a herança a uma relação de beneficiários denominada ordem de vocação hereditária (herdeiros legítimos), pela qual eles recebem uma relação preferencial: descendentes, ascendentes, cônjuges ou companheiro e colaterais até o quarto. Na testamentária, o dono do patrimônio deixa um documento apontando diretamente quem ele deseja favorecer com a sua herança. 
4.2.4		Usucapião
4.2.4.1		Conceito e Objetivos
Também chama de prescrição aquisitiva, é o modo originário de aquisição da propriedade, móvel ou imóvel, que conjuga uma posse qualificada por certos atributos e a inércia do legitimo proprietário. Seu fundamento é a função da posse e da propriedade, pela qual premia-se o possuidor zeloso ao mesmo tempo em que se penaliza o proprietário omisso. Todos os bens estão sujeitos a usucapião, exceto os bens públicos e as coisas fora do comércio (por exemplo: bens do menor e da fundação).
4.2.4.2		Requisitos Gerais 
4.2.4.2.1	“animus domini” (intenção de dono); 
É o elemento subjetivo pelo qual o possuidor relaciona-se com o bem com o zelo e o cuidado próprios de quem é dono. A partir daí, ele passa a alimentar o desejo de obter com o tempo a legitima propriedade. Considera-se este requisito afastado na presença de toda a posse contratual (de locatário, comodatário, arrendatário etc), por dois motivos principais: por que a existência de um contrato revela que a posse foi consentida e não abandonada pelo proprietário e porque o possuidor tem consciência de que essa posse tem duração certa, estando limitada pelo tempo do contrato, enquanto a usucapião pressupõe o exercício indefinido da posso. Ao final do contrato, entretanto, não havendo a reclamação do proprietário, o “animus domini” pode se manifestar. 
4.2.4.2.2Decurso do tempo
Qualifica a usucapião enquanto fenômeno essencialmente temporal. A passagem do tempo amadurece e fortalece a posse do usucapiente, ao mesmo tempo em que consolida a inércia do proprietário, são previstos três prazos mínimos: cinco, dez e quinze anos e a exigência de requisitos especiais dependerá deste prazo – quanto menor ele for, mais condições serão cobradas. De modo especial, o direito brasileiro prevê a usucapião familiar, com prazo mínimo de dois anos, possibilitando ao cônjuge abandonado, pelo outro obter a sua metade no bem conjugal. 
4.2.4.3		Posse Ininterrupta
Por este requisito, apenas a posse justifica a usucapião, não a simples detenção – o caseiro de uma chácara não poderá se valer dessa medida, por que é mero detentor. Também se exige uma posse regular, continua: saídas breves e esporádicas do possuídos não comprometem este requisito salvo se houver o abando efetivo do bem, a lei permite que o usucapiente some ao seu tempo de posso (art. 1.207 CC) o tempo de um antecessor, de quem ele recebeu essa posse por herança ou contrato, desde que o exercício da posse pelo antecessor também tenha sido ininterrupta.
4.2.4.4		Posse mansa e pacífica
4.2.4.4.1	Espécies
É aquela exercida sem a oposição do legitimo proprietário e que portanto revela o pleno abandono do bem. Para comprometer este requisito, a jurisprudência exige que essa oposição seja formalizada pela via judicial, i. e, que o proprietário proponha alguma ação, ainda que ele saia derrotado dela. Atos extraprocessuais, por mais expressivos que sejam, são insuficientes (por exemplo uma notificação). Também se qualifica nessa posse sempre em face do legitimo proprietário, de modo que medidas de terceiros, ainda que tomadas pela via judicial, não afetam essa posse. 
4.2.4.4.1.1	Ordinária (art. 1.242 CC)
Verifica-se como regra geral e residual, quando no caso concreto não se possa aplicar uma usucapião especial. É admitida com posse mínima de cinco anos ou dez anos. Com cinco anos, exigem-se justo título (documento que seria capaz de dar a propriedade não fosse o seu vício, como uma escritura de compra falsa e um testamento nulo), boa-fé (convicção de ter se tornado dono do bem, quando isso não ocorreu), Aquisição Onerosa (o usucapiente deve ter pago pelo bem), moradia ou investimentos (requisitos alternativos, considerando se investimento toda a forma de benfeitoria). Com posso de 10 anos, basta o justo título e boa-fé – portanto, o usucapiente pode ter recebido o bem por doação ou testamento.
4.2.4.4.1.2	Extraordinária (art. 1.238 CC)
É a modalidade que considera os maiores prazos mínimos de posse e por isso a que exige menos condições. Pode se verificar com posse mínima de 10 (dez) anos ou 15 (quinze) anos. Com 10 (dez) anos, os requisitos são ter ou não justo título, ter ou não boa-fé, moradia ou obras (novamente requisitos alternativos, entendendo por obra qualquer intervenção que promova a expansão material deste bem). Com 15 (quinze anos), os requisitos são apenas ter ou não justo título, ter ou não boa-fé. Vale lembrar porém que os requisitos gerais devem ser comprovados para todas as modalidades de usucapião.
4.2.4.4.1.3	Especial rural ou “pro labore” (art. 1.239 CC e 191 CF)
Configura-se com a posse mínima de cinco anos, como ou sem justo título, com ou sem boa-fé, de uma área de 50 hectares, ocupada para moradia e trabalho (requisitos agora cumulativos), desde que o requerente já não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Observa-se que este último requisito não é expressamente previsto para as formas ordinária e extraordinária. Para alguns autores, a falta de referência não permite considerar este requisito válido, pois não se pode interpretar de modo ampliativo um restrição legal; para outros, não ser proprietário de outro imóvel é inerente a toda a forma de usucapião, mesmo sem expressa menção em lei, dado o seu caráter claramente social. 
Trabalho
Fernando entra na posse de um sítio amparado formalmente por uma escritura pública de doação. Ali permanece residindo e trabalhando por 8 anos, ausentando-se algumas vezes para resolver problemas relativos a um terreno de seu pai. Quem lhe doou o imóvel foi Augusto, que havia se apossado clandestinamente do bem e, buscando formalizar sua condição, forjou toda a documentação do imóvel, circunstância ignorada por Fernando. Descobrindo não ter a propriedade real do imóvel, Fernando pretende obte-la por usucapião.
Pergunta-se :
Que modalidade de usucapião melhor assiste Fernando. Suas ausências comprometem a posse ininterrupta. Que outras condições são exigidas para usucapião considerada. Explique
Supondo-se, num outro cenário, que o pai de Fernando tenha falecido ao longo dos 8 anos e sendo ele o único herdeiro, ainda se pode invocar a mesma usucapião. Seria possível a usucapião ordinária. Justifique
Durante a sua permanência no imóvel, Fernando foi réu de algumas ações possessórias, porém venceu todas elas. Pode se dizer que a posse mansa e pacífica de Fernando foi comprometida. Justifique
05\04\2019
4) Aquisição da propriedade móvel (arts 1260 e s, CC)
Tradição
É a transmissão do bem ao seu adquirente, caracterizando a hipótese mais comum de aquisição da propriedade móvel. Além dessa tradição real, que implica a atribuição física do bem, também se considera a tradição ficta, que não se processa materialmente, mas de modo formal ou simbólico; é o que se dá por exemplo no constituto possessório, quando o proprietário aliena o bem formalmente mas não o entrega fisicamente, continuando na sua posse sob outra condição jurídica (por exemplo locatário); nesse caso, o adquirente recebe a propriedade sem a aquisição física do bem.
Ocupação
É a tomada de coisa sem dono, tornando-se a partir daí o seu proprietário e possuidor. A coisa sem dono pode se apresentar como coisa de ninguém (“res nullius”) ou coisa abandonada (“res derelicta”). Na primeira, o bem nunca teve proprietário (por exemplo os peixes de um rio). Na segunda, o bem foi deixado voluntariamente pelo seu titular; ela não se confunde com a coisa perdida, e deve ser devolvida ao proprietário ou autoridade competente. Destaca-se aqui o achado de tesouro, ato-fato jurídico e trará os seguintes efeitos legais: se ele ocorrer em terreno do descobridor, o tesouro passa a lhe pertencer; se ele ocorrer em terreno alheio de exploração autorizada, metade do tesouro é do descobridor e a outra metade do é do dono do terreno; se essa exploração não foi autorizada, o tesouro pertencerá apenas ao dono do terreno.
Especificação
11/04
 E) Usucapião
Caracteriza a aquisição da propriedade pelo exercício regular de uma posse por certo período de tempo e sem a contestação do proprietário. Na esfera dos bens moveis, admite duas espécies : a ordinária, a partir da posse mansa e pacifica pelo prazo mínimo de 3 anos, mediante justo titulo (por exemplo contrato nulo) e boa-fé (desconhecimento de que o bem pertence a outrem); e extraordinária, a partir da mesma posse descrita acima, porem com o prazo mínimo de 5 anos, dispensando justo titulo e boa-fé.
5) Direitos da Vizinhança 
Aspectos conceituais
Os direitos de vizinhança integram um conjunto de regras destinadas a harmonizar as relações entre proprietários ou possuidores de imóveis vizinhos. Elas procuram evitar a ocorrência de conflitos e, num segundo momento, solucionar as contendas já instaladas. São regras comportamentais que expressam de um modo geral obrigações “propter rem”, isto é, derivadas da própria relação com o bem e que vinculam todo aquele que se encontra na condição de vizinho.
Uso anormal da propriedade (arts 1277 e s, CC)
- Atos ilegais, abusivos e lesivos
Os direitos de vizinhança combatem o uso anormal da propriedade, traduzindo na prática de atos ilegais, abusivos ou lesivos. São atos que, de um modo geral, ofendem a saúde, a segurança ou o sossego do vizinho. Já se decidiu que não se pode impedir a instalação de prostitutas em apartamento com base nas questõesde vizinhança, pois o decoro (decência, moralidade) não é bem jurídico tutelado nessa esfera. Os atos ilegais são as condutas ofensivas e danosas não necessariamente praticadas por um vizinho, podendo partir de um terceiro (por exemplo um transeunte da rua). Atos abusivos são aqueles praticados necessariamente por vizinho, que acaba extrapolando o exercício regular de certo direito (por exemplo barulho excessivo). Atos lesivos são aqueles que, embora perturbadores ou incômodos, decorrem de atividade regular, muitas vezes até autorizada pelo poder público, de modo a impossibilitar quase sempre alguma medida de restrição (por exemplo estabelecimento com funcionamento regular, mas que incomoda a vizinhança, e a emissão de fuligem por uma fábrica devidamente autorizada.
- Medidas de solução
A primeira tentativa de preservação da harmonia de boa convivência entre os vizinhos é adequar a atividade perturbadora a padrões de tolerância e razoabilidade, fixando-se por exemplo o seu horário de funcionamento ou a sua intensidade. Não se tratando de solução efetiva, a segunda medida é a cessação dessa atividade, também nas hipóteses de resistência do vizinho em adequá-la a limites razoáveis. Em se tratando de atividade pública ou de caráter público (por exemplo unidade dos bombeiros, hospital etc), não sendo frutífera a tentativa de adequá-la, a solução é o pagamento de indenização ao prejudicado, tendo em vista a supremacia do interesse publico sobre o particular.
12/04
Árvores limítrofes (arts 1282 e s, CC)
A árvore cujo tronco encontra-se na divisa de dois terrenos, presume-se pertencente aos dois proprietários. Instala-se aqui um autêntico condomínio, pois se trata de uma propriedade compartilhada. Toda atitude a ser tomada por um vizinho em relação a árvore dependerá da anuência (consentimento) do outro, inclusive a retirada dos frutos, mesmo que pendentes para um dos lados. Os frutos que tombarem (caírem) naturalmente em certo terreno serão do respectivo proprietário; se tombarem em área pública (por exemplo calçada, rua), serão daquele que os encontrar primeiro. Se o tronco está inteiramente em um terreno, porém seus galhos invadirem terreno vizinho, o proprietário poderá corta-los até o limite das propriedades; porém, não poderá colher os frutos pendentes para o seu lado, pois eles pertencem ao vizinho enquanto dono da árvore – regra pela qual o dono do principal (arvore) também é dono do acessório (frutos). 
D)		Passagem forçada (art. 1.285)
A lei garante ao proprietário de um imóvel encravado, isto é sem acesso à via pública, nascente ou porto, o direito de exercer passagem forçada sobre terreno vizinho mediante indenização. Deve-se escolher o vizinho que menos sofrer com a passagem e esta deve ocorrer do modo menos gravoso (inconveniente) para o vizinho escolhido. Ela se difere da servidão de passagem, quando certo imóvel tem saída para a via pública, mas ela é muito difícil ou custosa – neste caso, o vizinho poderá propor um contrato autorizando a melhor passagem, de modo gratuito ou oneroso. Enquanto a passagem forçada é direito garantido por lei e pode ser imposta, a servidão de passagem é direito derivado de contrato e por isso depende da concordância de vizinho.
E) Passagem de cabos e Tubulações (art. 1.286 a 1.287)
O proprietário é obrigado a tolerar, mediante indenização que inclua também a eventual desvalorização do imóvel, a passagem de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública (luz, telefonia, esgoto etc), quando de outro modo for impossível o atendimento destas necessidades. O vizinho poderá exigir que as instalações se façam da forma menos onerosa ao seu imóvel, bem como, a sua custa, que ela seja removida para outro local do terreno. Se forem necessárias obras de segurança em virtude de riscos oferecidos pela tubulação, essas obras podem ser exigidas do vizinho favorecido. 
6)		Passagem de Águas (art. 1.288 a 1.296)
O recebimento de aquedutos (condutos de canalização de águas) é direito do vizinho que precisa utilizar terreno alheio, mediante indenização. Quando se trata de rios, lagos e minas d’água presentes em propriedade vizinha, o proprietário necessitado desse recurso pode propor servidão para buscar água necessária. Havendo rio que atravesse as duas propriedades vizinhas, o proprietário do bem superior (que recebe o rio primeiro) deve se abster de qualquer conduta que possa afetar o imóvel inferior – por exemplo represamento, contaminação das águas, retenção do seu volume etc. Se as águas forem desviadas do imóvel superior para o inferior de modo artificial, o dono do imóvel inferior pode requerer a correção desse desvio ou indenização. Se houver poluição provocada pelo proprietário superior que comprometa a saúde do rio e o consumo de suas águas, o proprietário inferior pode exigir a despoluição mais o pagamento de perdas e danos.
7) Limites entre prédios de tapagem (arts 1297 e s, CC)
A) Aspectos conceituais
A construção de tapumes e outros elementos divisórios entre imóveis limítrofes também integra o direito de vizinhança. É direito do proprietário cercar, murar, valar e estabelecer qualquer demarcação capaz de definir os exatos limites entre os imóveis e de preservar a privacidade dos seus titulares. Os muros e cercas se presumem comuns (em regime de condomínio) e por isso a sua construção e conservação devem ser suportadas pelos dois vizinhos. As “sebes vivas” (árvores) que sirvam de elemento divisório também se presumem comuns e qualquer atitude de um proprietário (por exemplo a sua retirada ou poda) dependerá da anuência do outro.
B) Regras especiais
A construção de tapumes específicos para impedir a entrada de animais de pequeno porte ou para outras finalidades pode ser exigida de quem provocou a necessidade desses tapumes, não estando o requerente obrigado a participar das despesas geradas. Se os limites entre os imóveis forem confusos ou imprecisos, serão determinados a princípio pela posse justa do trecho contestado; não sendo possível provar essa posse a favor de ninguém, o trecho será dividido em partes iguais pelos vizinhos; se essa divisão não for conveniente (por exemplo levar a remoção de uma árvore), o juiz pode definir a adjudicação (incorporação) desse trecho a um dos proprietários, com a indenização do outro proprietário.
25\04
8) Direito de Construir (arts 1299 e s, CC)
Regras gerais
O proprietário tem direito de construir em seu terreno a obra que desejar, desde que respeitando as regras de vizinhança e os regulamentos administrativos. A primeira regra essencial é que faça essa construção de forma a não projetar água diretamente sobre o imóvel vizinho. Além disso, é proibida a abertura de varanda ou janela a menos de 1 metro e meio do terreno vizinho. Na zona rural, não se permite edificação a menos de 3 metros do terreno vizinho, em atenção as peculiaridades do solo, quase sempre destinado a produção agrícola.
Parede divisória
O confinante que primeiro fizer sua edificação poderá definir a parede divisória até a meia espessura no terreno limítrofe, tendo direito de exigir do vizinho a metade do valor dessa parede, caso o vizinho pretenda travejá-la, isto é, usa-la para alguma obra. Se essa parede não puder ser travejada e assim o vizinho precisar fazer outra parede anexa, deverá comunicar o primeiro proprietário e eventualmente prestar caução em vista de possíveis danos. O condômino dessa parede pode usa-la até a meia espessura desde que não ponha em risco a segurança do outro. Se esse travejamento envolver a agregação de obra já existente no lado oposto (por exemplo armários), precisará do consentimento do primeiro vizinho. Por fim, não se pode encostar a essa parede divisória forno ou equipamento que possa trazer danos por alta emissão de calor ou por infiltração, regra que não se aplica porém aos fogões comuns e as chaminés.
Obras proibidas
São proibidas obras capazes de poluir ou inutilizar águas subterrânias, de poçosou mesmo de rios e lagos. Não se permitem obras ou escavações que comprometam a quantidade de água indispensável ao atendimento das necessidades regulares dos usuários. Havendo obra que envolva o desmoronamento ou que comprometa o prédio vizinho, exigem-se obras de segurança, cabendo indenização se, apesar dessas obras, o dano ocorrer. Aquele que violar essas previsões pode ser condenado a demolir a obra feita e ainda responder por perdas e danos.
Ingresso no imóvel alheio
O proprietário ou possuidor deve tolerar que o vizinho entre no seu imóvel, mediante aviso prévio, para realizar reparação, construção ou limpeza ligada ao seu imóvel ou ao muro divisório e também para se apoderar de objetos e animais que lhe pertençam e que assim se encontrem de modo casual. Vale destacar que essa possibilidade é direito assegurado legalmente ao vizinho, que portanto não depende da anuência, embora este possa definir horários e formas mais adequadas de realização desses direitos. Se ocorrerem danos no exercício desses direitos, o prejudicado poderá requerer ressarcimento.
10\05
V) Condomínio (arts 1314 a 1358, CC)
1) Conceito e aspectos gerais
Condomínio é a propriedade compartilhada, quando dois ou mais titulares são donos de um mesmo bem ao mesmo tempo. A princípio, ele parece violar o princípio da exclusividade, pelo qual não pode haver dois direitos reais iguais sobre o mesmo objeto de modo simultâneo. Entretanto, no condomínio cada titular é proprietário apenas da sua fração abstrata, sobre a qual sua propriedade é exclusiva, não dono da totalidade do bem. Logo, o condomínio respeita o princípio da exclusividade.
Modalidades
Quanto à origem (convencional, eventual e legal)
O condomínio é convencional ou voluntario quando duas ou mais pessoas adquirem um mesmo bem, que passa a ser de todas em conjunto. Ele é eventual quando deriva da atitude de um terceiro, a partir de herança, doação ou testamento que favoreça dois ou mais indivíduos. Ele é legal ou necessário quando derivado da lei, sendo automático e não escolhido, como no caso dos muros e paredes divisórias entre vizinhos.
Quanto à forma (“pro diviso/pro indiviso”; transitório/permanente)
Condomínio “pro diviso” é o que já foi fracionado na pratica, gerando porções distintas sobre as quais a posse se torna exclusiva, caracterizando condomínio de direito, mas não de fato. Ele é “pro indiviso” quando a totalidade do bem é compartilhada por todos, não havendo fracionamento em porções, configurando condomínio de fato e de direito. Ele é transitório quando pode ser desfeito por iniciativa dos condôminos, representado pelo condomínio convencional e eventual; ele é permanente quando não pode ser encerrado pela vontade particular, equivalendo ao condomínio legal.
Quanto ao objeto (universal e singular)
O condomínio é universal quando recai sobre a totalidade de um patrimônio, dando direito também aos frutos e rendimentos eventualmente gerados e cuja participação de cada titular se dá por fração ideal; é o caso da herança que contempla automaticamente dois ou mais favorecidos com todo o patrimônio do falecido. Ele é singular quando recai sobre um bem determinado e individualizado, como se dá na doação de um certo imóvel para dois ou mais beneficiários.
 
16/05
Condomínio voluntário (arts 1314 e s, CC)
Administração
- Síndico e conselhos
A administração do condomínio é exercida por um síndico, cujo mandato inicial é de 2 anos, permitida a reeleição. Entre outras funções, cabe a ele representar o condomínio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele. Pode ser condômino ou terceiro, pessoa física ou jurídica. Geralmente é pessoa física assessorada por empresa especializada. Nomeia-se um conselho consultivo para apoiar o síndico, do qual participam três condôminos para o mandato de 2 anos, também permitida a reeleição. Também se prevê de modo facultativo um conselho fiscal, cuja principal função é acompanhar as contas do síndico, também composto de três condôminos para um mandato renovável de 2 anos.
- Assembleia geral
É o órgão máximo do condomínio, tendo decisões soberanas que subordinam inclusive o síndico e os conselhos, podendo ser ordinária ou extraordinária. A ordinária reúne-se anualmente por convocação do síndico, cabendo a ela prioritariamente examinar o orçamento e a prestação de contas do síndico. O quórum para aprovação de seus temas é o que a convenção determinar e suas decisões vinculam presentes e ausentes, vencedores e vencidos, proprietários, possuidores e detentores. A extraordinária é convocada pelo síndico ou por um quarto dos condôminos, para questões emergências e não corriqueiras, bem como para temas específicos (por exemplo a mudança da convenção).
Extinção
- Regras gerais
A lei procura facilitar a extinção do condomínio, que constantemente se revela uma fonte de conflitos. Nesse propósito, proclama ser possível a todo tempo exigir-se o seu desfazimento. Ainda que os titulares tenham convencionado a não divisão do bem, o acordo valerá por 5 anos, embora possa ser prorrogado. Em se tratando de condomínio eventual, se o doador ou testador estipulou a não divisão, esta igualmente não passará de 5 anos. Mesmo assim, se houver grave motivo que a justifique, a extinção pode ser requerida por qualquer condômino antes desse prazo.
- Condomínio divisível 
Nessa hipótese se encerra o condomínio pelo fracionamento do bem, de modo amigável (consensual)ou judicial. A divisão amigável acontece por escritura pública e é possível quando todos os condôminos são maiores e capazes e concordam com a divisão. Se um deles for incapaz ou não houver acordo, procede-se a divisão judicial. A ação de extinção do condomínio (ou de divisão condominial) é imprescritível e apenas declaratória, pois os condôminos já eram proprietários antes dela, porém de frações ideais.
- Condomínio indivisível
Nesse caso, a extinção se dá pela venda da coisa comum, repartindo-se o preço obtido de modo proporcional entre os condôminos. Antes disso porém o condômino pode oferecer a sua porção para a venda, respeitando a preferência dos demais. Havendo mais de um interessado, usam-se os seguintes critérios : tem prioridade quem fez mais benfeitorias; sendo elas ausentes ou equivalentes, prioriza-se o condômino do maior quinhão. Não cabendo esse critério, o alienante faz uma licitação (oferta) entre terceiros e outra entre os condôminos e se a melhor proposta de um condômino for igual ou superior a melhor proposta de um terceiro, o condômino tem prioridade.
23/05
VI) Condomínio edilício (arts 1331 e s, CC; Lei n 4591/64)
Notas conceituais
Condomínio edilício ou em edificações é a realidade patrimonial formada por propriedades privativas ao lado de áreas e coisas comuns. O condômino é titular de uma unidade autônoma (apartamento, casa, sala comercial etc) e ainda de uma fração ideal das áreas e coisas comuns (corredores, elevadores, sistema hidráulico etc). Esse condomínio não é considerado pessoa jurídica, mas um ente despersonalizado, com atributos de entidade – por exemplo sua representação processual pelo síndico. 
Requisitos formais
- atos de instituição
É o documento de fundação do condomínio, representado por uma escritura pública ou testamento, a ser registrado no cartório de registro de imóveis. É com base nessa regra de registro que se nega ao condomínio edilício a qualidade de pessoa jurídica, pois esta como regra é registrada no seu próprio cartório, especialmente quando se trata de escritura e testamento. Nesse documento, definem-se as unidades autônomas, as áreas comuns com suas frações ideais e a finalidade do condomínio.
- convenção
É o documento em que se estabelecem os direitos e deveres dos condôminos e deve ser subscrito por 2/3 deles. Ela vincula presentes e ausentes a sua deliberação, proprietários, possuidores e detentores. Pode conter regras especificas, desde que não violem as leis, sendo celebrada por instrumento público ou mesmo particular. Sua alteração exige o corum de 2/3, regra geralpara as decisões da assembleia. Entretanto, a lei n 4591/64 exige unanimidade para mudança de fachada, das unidades autônomas, das frações ideais e das áreas comuns – temas para os quais o código civil prevê o corum de 2/3.
- regulamento ou regimento interno
É documento voltado a detalhar o conteúdo da convenção, trazendo regras específicas sobre o uso das áreas e coisas comuns. Está subordinado tecnicamente a convenção e por isso não pode altera-la (por exemplo suprimindo direitos ou deveres), devendo ser afixado em local visível para fácil acesso e conhecimento geral.
Estrutura
- unidades autônomas 
Todas elas devem ter acesso a entrada do condomínio e a via pública, sendo identificadas (por letra ou número) e individualizadas. Não se exige quantidade ou metragem mínima para elas. O seu proprietário aliena-la ou aluga-la a quem desejar, pois não a direito de preferência; esta só existirá se a mesma unidade tiver mais de um dono de um quiser vender ou alugar a sua parte. A locação de parte acessória (por exemplo garagem) deve respeitar a preferência dos condôminos e será oferecida a terceiros se não houver proibição pela convenção. Já a venda dessa parte depende de duas condições : permissão da convenção e não oposição da assembleia geral.
- áreas comuns
São os espaços compartilhados pelos condôminos e de utilização geral, de modo que a atribuição do seu uso exclusivo por um titular depende de aprovação em assembleia. Esse uso geral deve obedecer regras que respeitem a saúde, a segurança e o sossego dos condôminos. A presença de animais em condomínio não foi tratada pelo código civil, porém recente decisão de uma turma do STJ entendeu que o condomínio só pode proibi-los por deliberação motivada. De modo inovador, o código civil passou a sancionar com multa o condômino de grave comportamento antissocial reiterado, com possibilidade até de sua expulsão por deliberação da assembleia geral.
24/05/2019
VII - DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA
1.	SUPERFÍCIE (ART. 1369)
a)	Dados Conceituais
É o direito real pelo qual o proprietário (chamado fundieiro ou concedente), atribui ao superficiário a possibilidade de construir ou plantar no seu terreno. Constitui-se por escritura pública registrado em cartório, tendo o prazo determinado. Pode ser gratuita ou onerosa e, neste caso, o pagamento pode ser feito de modo fixo ou parcelado. Quase sempre atende a conveniência do proprietário que, sem recurso para construir em seu terreno, transfere essa prerrogativa ao superficiário, que em contra partida permanece nesse bem de modo gratuito por um tempo expressivo. A superfície não autoriza obras no subsolo, salvo se elas forem inerentes a construção por exemplo o alicerce do imóvel. 
b)	Regras Gerais
O superficiário responde pelos encargos e tributos que incidirem sob o imóvel. O proprietário tem a expectativa de receber de volta o terreno, fazendo jus as plantações ou construções, independentemente de indenização. Significa que o ressarcimento só será devido quando previsto no contrato. A superfície poderá ser extinta se o superficiário der ao terreno uma destinação diferente da que foi pactuada. 
c)	Alienação
O direito de superfície pode ser transferido a terceiro, e o concedente não pode cobrar pagamento por essa transferência. Pode se transmitir também aos herdeiros do superficiário falecido, o que representa uma exceção ao princípio da consolidação, pelo qual a morte do titular determina a devolução dos seus poderes ao proprietário. Ao alienar a superfície, deve ser respeitada a preferência de um concedente em readquiri-la; se um terceiro a adquiri, precisa respeitá-la até o seu termo final. Na alienação do próprio bem, o superficiário tem preferência nessa aquisição.
2.	SERVIDÃO (arts. 1378 a 1389 CC)
a)	Conceito e Fundamento
É um benefício, facilidade ou utilidade prestada por um imóvel a outro em caráter indeterminado. O imóvel favorecido é chamado dominante e o imóvel onerado é chamado serviente. O fundamento da servidão é o negócio jurídico (contrato ou testamento), embora ela também possa derivar de sentença proferida em ação de demarcação de terrenos. Está representada por exemplo pelo aqueduto, a tubulação elétrica, a pastagem, sendo a mais comum a servidão de passagem ou transito.
b)	Características 
A servidão estabelece um vínculo entre o prédio e o dominante e o serviente, estando este submetido a uma obrigação “propter rem” (vinculada ao bem). E esses prédios devem pertencer a donos diferentes e, como a servidão serve ao bem, não ao seu proprietário, o dono do prédio serviente fica obrigado a suportar até que se verifique uma hipótese legal de sua extinção. Constituída por escritura pública registrada em cartório, a servidão não se presume, sendo afastada em caso de dúvida. Seu reconhecimento pode ser judicial, mediante ação confessória. 
c)	Extinção
Pode ser deferida judicialmente a partir de um pedido do proprietário pelo serviente, nas seguintes hipóteses: renúncia do interessado, pode ser expressa (declarada) ou tácita (por exemplo quando o proprietário dominante realiza obras incompatíveis com a servidão; cessação da sua utilidade para o dominante; resgate, que depende de previsão contratual e encerra a servidão pela vontade do proprietário; confusão, ao se reunirem na mesma pessoa a propriedade dominante e a serviente; não uso da servidão durante 10 anos contínuos.
30\05
Usufruto (arts. 1390 a 1411, CC)
Conceito e conteúdo
É o direito real que atribui ao titular a posse, a administração, o uso e o gozo de um bem, móvel ou imóvel, de forma vitalícia ou temporária. É a modalidade que mais enfraquece a propriedade, restando ao proprietário os poderes abstratos de disposição e reivindicação. Por ficar privado da posse e assim do aproveitamento material do bem, o dono passa a ser chamado de nu-proprietário.
Características
O usufruto é um direito real e por isso atribui ao titular todas as prerrogativas inerentes a esse direito, como a eficácia “erga omnes”, o direito de sequela e a proteção possessória. Pode ser temporário (com prazo definido ou por 30 anos, se constituído em favor de pessoa jurídica) ou vitalício (até a morte do usufrutuário); legal (automático, decorrendo de causa prévia, como a menoridade do proprietário do bem) ou convencional (definido por contrato, exigindo-se escritura pública para os imóveis); “inter vivos” (constituído de contrato, geralmente sob a forma de doação) ou “causa mortes” (derivando de testamento); quase sempre gratuito, embora possa ser oneroso (remunerado); é direito inalienável, não sendo transferível a terceiro, embora se possa transferir o seu exercício, a título gratuito ou oneroso.
Caráter impenhorável 
- dívida do usufrutuário 
O caráter inalienável do usufruto determina o seu caráter impenhorável. O direito em si não pode ser penhorado numa execução movida por dívida do usufrutuário, porém o seu exercício, como pode ser cedido a outrem pode ser penhorado. Nesse caso o usufrutuário fica privado provisoriamente da retirada dos frutos da coisa, pois eles servirão para pagar o crédito do autor da execução. Ao deferir a penhora, o juiz nomeia um administrador para a arrecadação dos rendimentos.
- dívida do nu-proprietário
Nesse caso, a penhora pode recair sobre todos os direitos do proprietário em relação ao bem, inclusive o direito de disposição. A partir daí, o bem pode ser alienado em “hasta publica” (leilão). Inclusive sendo arrematado por algum interessado. Entretanto, continuará incidindo sobre esse bem, a todo tempo, o direito de usufruto, até a sua extinção por alguma causa legal. Como consequência, o arrematante se torna proprietário, mas não desfruta do bem. 
Direitos do usufrutuário
- posse
Atribui-se ao titular a posse direta, ficando o nu-proprietário com a indireta. Em razão disso, o usufrutuário pode se valer da auto defesa possessória (desforço imediato e legítima defesa) e das ações possessórias clássicas (interdito proibitório, manutenção de posse ereintegração). Também são previstas a ação confessória, para o reconhecimento judicial de um usufruto negado e a imissão na posse, para o usufrutuário que esbarra na resistência do proprietário ou de um terceiro em repermitir o seu ingresso no bem. 
------------------------------------(31\05 COMPLETAR A MATERIA DO DIA)-------------------------------------
06\06
Uso e habitação (arts 1412 a 1418, CC)
O direito de uso restringe o titular a empregar o bem apenas para a sua destinação natural, sem a exploração econômica própria do usufruto. O usuário tem direito somente de recolher eventuais frutos para seu consumo pessoal e de sua família. O exemplo mais corriqueiro é o jazigo de família, aplicando-se ao uso as regras do usufruto quando necessário. Já a habitação é o mais restrito direito real, limitando o titular a residir em certo imóvel, sem direito a qualquer fruto. É o direito que assiste por exemplo o viúvo ou viúva cujo cônjuge ou companheiro falecido deixou um único imóvel para sua moradia e da família; esse direito é vitalício, independe do regime de bens e só se perde se o favorecido se casar ou constituir união estável.
Direitos reais de garantia (arts 1419 a 1510, CC)
Modalidades
Correspondem ao penhor, a hipoteca e a anticrese. Estabelecem a chamada garantia real, que vincula determinado bem do devedor ao cumprimento da obrigação. No caso do penhor (bens moveis) e da hipoteca (bens imóveis), o seu objeto é penhorado se houver o inadimplemento da dívida e levado a hasta pública (leilão). O produto da arrematação é destinado preferencialmente ao credor pignoratício ou hipotecário, restando aos outros credores (chamados quirografários) receber o que sobrar. A anticrese entrega um bem imóvel para que o credor retire seus rendimentos até o pagamento do seu crédito.
Efeitos 
- direito de preferência 
Atribui ao titular do direito de garantia prioridade no recebimento do seu crédito quando concorrer com o titular de um direito pessoal. É o que se dá por exemplo num leilão pelo qual são executadas uma hipoteca (direito real) e uma nota promissória (direito pessoal); o credor hipotecário é credor privilegiado, restando ao credor da nota promissória receber depois e o que houver do produto das arrematações em leilão.
- direito de excussão
É a prerrogativa pela qual o credor pignoratício ou hipotecário pode vender o bem em hasta pública, mediante processo de execução patrimonial, desde que a dívida garantida por esse bem já esteja vencida. A excussão as vezes é precedida pela retomada do bem que se encontra em posse de terceiro mediante esbulho. Aqui é exercido o direito de sequela, que autoriza a perseguição do bem e a sua retomada de modo pessoal (auto tutela possessória) ou judicial (ação de reintegração de posse). Vale observar que a penhora realizada para se proceder ao leilão não se confunde com o penhor. O penhor é figura do direito civil que leva a entrega espontânea de um bem móvel como garantia, ao passo que a penhora é instrumento processual que produz a tomada compulsória do patrimônio do devedor.
Penhor (arts 1431 a 1472, CC)
- conceito e características
É o direito real que vincula um bem móvel ao pagamento de uma obrigação. É direito real ao recair diretamente sobre o bem e ter eficácia “erga omnes”. É direito acessório, pois extinta a obrigação, encerra-se o penhor. Consuma-se pela tradição do bem, exceto penhores especiais como o de veículos. Recai sobre bens móveis mas também pode incidir sobre imóveis por acessão intelectual (como os animais e os tratores de uma fazenda enquanto estiverem a serviço dela). Decorre de contrato solene, formalizado por instrumento particular ou público a ser registrado em cartório de títulos e documentos – exceto penhor rural, registrado em cartório imobiliário.
07\06
- penhor legal
É aquele que se estabelece de modo automático em certas hipóteses legais, dispensando contrato prévio. É o que se verificam favor do dono de hotel, pousada ou estabelecimento semelhante sobre as bagagens, dinheiro, joias e moveis do hospede inadimplente e também em favor do locador sobre os moveis do inquilino em debito com o pagamento dos alugueis. Esses favorecidos podem reter os bens antes de autorização judicial, porem o penhor legal só se aperfeiçoa com a sua homologação.
- extinção
Encerra-se o penhor nas hipóteses de extinção da obrigação, tendo em vista ser um direito acessório; remição, pela qual alguém autorizado por lei resgata o bem antes de ir a leilão (por exemplo o cônjuge do devedor); adjudicação, quando o juiz incorpora ao patrimônio do arrematante o bem vendido no leilão; e venda do penhor, desde que autorizada pelo contrato.
Hipoteca (arts 1473 a 1505, CC)
- conceito e características
É o direito de garantia que vincula bem imóvel ao pagamento de uma obrigação. Além dos imóveis, também podem ser seu objeto navios, aviões e vias férreas. Trata-se de direito acessório, vinculado a obrigação principal, e de caráter indivisível, recaindo sobre a totalidade do bem. É formalizada por instrumento público a ser registrado em cartório imobiliário.
- espécies 
A hipoteca pode ser convencional, estabelecida por escritura pública; legal, quando encosta de modo automático pela lei – por exemplo o patrimônio dos pais é hipoteca legal que garante a administração dos bens do filho menor; e judicial, determinada por sentença para assegurar o cumprimento da condenação patrimonial do réu.
- perempção
Caracteriza a extinção da hipoteca convencional ao final de 20 anos da sua constituição. Durante esse prazo, ela pode ser renovada por mera averbação (anotação) no cartório imobiliário; porém, com 20 anos de hipoteca deve-se fazer um novo instrumento com novo registro para garantir o seu numero de ordem na execução patrimonial. Já a hipoteca legal não tem prazo de validade, mas a cada 20 anos os dados do imóvel devem ser atualizados junto ao cartório.
Anticrese (arts. 1506 a 1510, CC)
É o direito de garantia pelo qual o devedor atribui ao credor anticrético a posse de um imóvel para a retirada de rendimentos até o montante do crédito. Nesse sentido, o próprio credor se paga. Porém, ao contrario no que se da na hipoteca, na anticrese o credor não pode levar o imóvel a leilão caso a divida não seja paga. A anticrese caduca em 15 anos, quando o credor passa a ser qualificado como quirografário (não privilegiado).
Direito real de aquisição (arts. 1417 e 1418, CC)
É o direito do promitente comprador de imóvel a obter a escritura definitiva ou a adjudicação do bem, isto é, a sua incorporação ao patrimônio por sentença judicial. Para tanto, a promessa ou compromisso particular de compra e venda deve ser irretratável (sem direito de arrependimento), estar quitado e registrado em cartório (para sua eficácia “erga omnes”). Diante da recusa ou impossibilidade do promitente vendedor em outorgar a escritura, o juiz supre essa omissão por meio de sentença que, transitada em julgado, valerá como título translativo de propriedade, a ser registrado em cartório.

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