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• • • • CLASSE TREMATODA Os trematódeos digenéticos (espécies pertencentes à subclasse Digenea) são um dos grupos que apresentam maior diversidade morfológica entre os platelmintos. São endoparasitos ovíparos encontrados em todos os grupos de vertebrados e em todos os sistemas orgânicos. O tamanho das espécies é muito variável, sendo desde alguns poucos micrômetros até vários centímetros. Características morfológicas (Figura 19.1) Corpo não segmentado, com formato variável; pode ser arredondado, alongado, filiforme, circular, foliáceo etc. A maioria tem um par de ventosas, a anterior, ou ventosa oral, relacionada com o sistema digestório, e uma de posição média ventral ou posterior, chamada de acetábulo. É possível a presença de ventosas acessórias diversas; por exemplo, a ventosa genital, ou gonotil. As ventosas têm uma função basicamente sensorial, mas, ao mesmo tempo, atuam na fixação no hospedeiro e na locomoção do parasito A parede do corpo, ou tegumento, é sincicial (multinucleada) e contém numerosas mitocôndrias e vesículas; em algumas espécies (p. ex., Fasciola hepatica), pode estar coberta por espinhos. O tegumento está sustentado por duas camadas de fibras musculares Os órgãos internos dos digenéticos estão em um tecido chamado de parênquima, que forma uma matriz tissular na qual são encontrados todos os órgãos internos. Sistema digestório É incompleto (sem abertura anal). Apresenta boca, faringe, esôfago e cecos intestinais. Algumas espécies apresentam pré-faringe e outras não têm esôfago ou faringe. Os cecos intestinais apresentam uma configuração variável: podem ser únicos ou duplos, com formato circular, tubular ou ramificado. Os metabólitos são excretados por meio dos cecos intestinais e por protonefrídios ou células-flama, que são parte de um sistema osmorregulador primário que inclui uma série de ductos coletores e uma vesícula excretora posterior com o respectivo poro excretor. Figura 19.1 Morfologia geral de Trematoda. Fonte: adaptada de Roberts et al. (2004). Sistema reprodutor Os trematódeos são espécies hermafroditas, com algumas notáveis exceções (p. ex., Schistosomatidae). O sistema reprodutor masculino é formado por testículos (em número e formato variáveis), ductos eferentes e deferentes e uma parte terminal, composta de uma bolsa do cirro e um órgão copulatório protrátil ou cirro. Associadas à bolsa do cirro podem-se encontrar glândulas prostáticas e uma vesícula seminal. O sistema reprodutor feminino é formado por um ovário de formato variável. O oviduto está relacionado com o canal de Laurer, por meio do qual acontece a cópula. Os ovos são produzidos a partir das secreções das glândulas vitelogênicas (formadoras do vitelo) e do oótipo (formador da casca ou parte dura). As glândulas vitelogênicas estão amplamente distribuídas no corpo, têm formato diverso (foliculares, maciformes, esféricas, digitiformes, dendríticas etc.) e, por meio dos ductos vitelários, juntam o vitelo no reservatório vitelínico próximo ao oótipo. O oótipo está rodeado das glândulas de Mehlis, que têm como funções o endurecimento dos ovos e a produção de uma secreção para auxiliar na passagem deles para o útero. O útero é, em geral, muito longo, apresenta numerosas alças uterinas e armazena uma grande quantidade de ovos. Na parte terminal do útero, é possível encontrar uma estrutura similar a um esfíncter, chamada metratermo, que regula a eliminação dos ovos por meio do poro uterino, geralmente adjacente ao poro genital comum. Ciclo evolutivo geral dos trematódeos (Figura 19.2) Os trematódeos digenéticos apresentam um ciclo biológico heteróxeno, que tem como regra a participação de um molusco como primeiro hospedeiro intermediário. Os ovos que saem com as fezes (em alguns casos, por via oral) geram um indivíduo (embrião) ciliado chamado miracídio; este tem um cone cefálico com glândulas que produzem substâncias que, associadas às condições ambientais, abrem o opérculo do ovo, por onde eclode e passa para o meio aquático, necessário para sua sobrevivência. Entretanto, em algumas espécies (Dicrocoeliidae), não há necessidade de um ambiente aquático. O miracídio nada até atingir o hospedeiro intermediário, que geralmente é um molusco aquático ou terrestre, no qual penetra nas partes moles, perde os cílios e passa a ser chamado de esporocisto. O esporocisto divide-se inúmeras vezes no • • • • • • • • hepatopâncreas do molusco, originando milhares de formas infectantes, que saem pelas partes moles e infectam o ambiente. O esporocisto pode ter uma ou duas gerações. Quando da primeira geração, pode-se formar a rédia (também no hospedeiro intermediário), que origina numerosas cercárias. As cercárias têm cauda e saem do molusco à procura de um substrato (pode ser vegetação subaquática) ou de um segundo hospedeiro intermediário (geralmente um invertebrado ou um vertebrado menor), encistando-se e perdendo a cauda; nesse momento, passam a ser chamadas de metacercárias, que são consideradas a forma infectante para o hospedeiro definitivo, em que o digenético jovem, às vezes, percorre uma rota de migração característica e relacionada com o seu local de infecção, onde vai alcançar a maturidade sexual. Figura 19.2 Esquema geral do ciclo biológico dos Trematoda. ESPÉCIES DE MAIOR IMPORTÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA E ANIMAL Subclasse Digenea Ordem Echinostomatiformes Família Fasciolidae Gênero Fasciola Espécie Fasciola hepatica (Figuras 19.3 e 19.4) Características morfológicas Trematódeos foliáceos Apresentam uma projeção cônica anterior ou cone cefálico Tegumento coberto de espinhos e acetábulo próximo da ventosa oral Ovos amarelados com aproximadamente 150 mm de comprimento (Figura 19.5) Mede até 30 mm de comprimento Testículos, ovário, cecos intestinais e canais excretores muito ramificados. Hospedeiros Definitivos: ovinos, bovinos, bubalinos, caprinos, suínos e outros animais, inclusive silvestres. Acidentalmente parasita o ser humano Intermediários: moluscos aquáticos – Lymnaea columella, L. cubensis e L. viatrix. Local de infecção. Ductos biliares e parênquima hepático. Ciclo biológico (Figura 19.6) A Fasciola hepatica apresenta ampla distribuição geográfica, particularmente nas zonas alagadiças e sujeitas a inundações. Os ovos são arrastados pela bile, misturam-se com as fezes e, assim, alcançam o meio exterior. Passam por um desenvolvimento embrionário, no meio externo, estimulado pela luz e pela temperatura (22 a 28°C). O tempo requerido é de 9 a 25 dias. O miracídio tem capacidade natatória e é totalmente ciliado; seu poder infectante para o hospedeiro intermediário é de até 8 h. Os hospedeiros intermediários são moluscos pulmonados do gênero Lymnaea. No Brasil, as espécies L. viatrix, L. columella e L. cubensis parecem ser as principais. No interior do molusco, o miracídio transforma-se em esporocisto e rédias, podendo eventualmente existir duas gerações de rédias. Figura 19.3 Fasciola hepatica (espécime corado). Figura 19.4 Fasciola hepatica (espécimes conservados em formol). Ventosa oral (1) e acetábulo (2). As cercárias (Figura 19.7) tardarão 1 mês para formarem-se e mais outro para abandonarem o molusco. São ovais e têm uma cauda simples; em poucos minutos, aderem-se, com suas ventosas, à vegetação aquática ou a outro suporte. A seguir, as glândulas cistógenas excretam seu conteúdo, o que produz duas camadas císticas e gera a metacercária. As metacercárias são viáveis na água durante 3 meses e poderão resistir 2 semanas à dessecação. Elas são ingeridas pelo hospedeiro vertebrado (nas plantas subaquáticas ou na pastagem de ambientes alagados) e o desencistamento dá-se no intestino. Liberadas dos cistos, as larvas perfuram a parede intestinal e invadem a cavidade peritoneal em 2 h. A migração para o fígado é contínua, e há perfuração da cápsula de Glisson. Uma quarta parte dos parasitos chega ao parênquima hepático por volta do sextodia, mas demora cerca de 2 meses para se alojar definitivamente nos ductos biliares, onde alcança a maturidade sexual. A longevidade pode chegar a até 10 anos. Figura 19.5 Fasciola hepatica – ovo. Figura 19.6 Ciclo biológico de Fasciola hepatica. Figura 19.7 Fasciola hepatica – cercária. Período pré-patente. Três a 4 meses. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública As formas jovens migram no parênquima hepático, destruindo-o – é a fase aguda da doença. Os adultos provocam espoliação nos ductos biliares (Figura 19.8) e, na forma crônica da doença, pode haver calcificação desses ductos. Essa infecção provoca fibrose hepática e hiperplasia dos canais biliares, além de perdas na produção animal e mortes, muitas vezes pela migração das formas jovens; por isso o exame de fezes é negativo, pois ainda não há eliminação de ovos. Diagnóstico O diagnóstico laboratorial é feito tradicionalmente pela constatação e identificação de ovos mediante exames coprológicos. Contudo, deve-se considerar que a Fasciola hepatica pode demorar ao menos 2 a 3 meses para alcançar a maturidade sexual e formar ovos. As técnicas imunológicas de diagnóstico têm sido muito usadas nos últimos anos e a técnica de ELISA (do inglês enzyme-linked immunosorbent assay) é considerada a mais eficaz. • • • • • • • Figura 19.8 Fasciola hepatica sendo removida do ducto biliar. Foto: Aline Girotto Soares. Controle A redução da pastagem contaminada pode ser feita com o uso de anti-helmínticos, manejo adequado, molusquicidas e competidores biológicos como componentes de um programa de controle integrado. O uso de animais resistentes para reduzir o impacto da infecção pode ser importante quando os custos do tratamento forem relativamente altos. O tipo do programa de controle está relacionado com as condições climáticas e os fatores socioeconômicos da região. É importante também observar a proveniência das verduras e de outros alimentos vegetais toda vez que essa espécie for passível de parasitar humanos (zoonose). Família Echinostomatidae Gênero Echinostoma Espécie Echinostoma revolutum (Figura 19.9) Características morfológicas Ventosa oral com colar de espinhos (Figura 19.10) Ventosa ventral maior do que a oral Testículos situados na metade posterior do corpo, um anterior ao outro Ovário anterior aos testículos Glândulas vitelogênicas situadas na lateral e na região posterior do corpo. Hospedeiros Definitivos: aves anseriformes e galiformes e humanos Intermediários: caramujos aquáticos da família Planorbidae. Local de infecção. Reto e cecos intestinais. Ciclo biológico Está relacionado com o ambiente aquático. Os hospedeiros intermediários são caramujos da família Planorbidae, que desenvolvem uma geração de esporocisto e duas de rédias, que vão originar as cercárias. As cercárias não abandonam o caramujo e se encistam, formando metacercárias próximo ao pericárdio, mas, eventualmente, podem usar anfíbios (rãs) ou outros moluscos para formar as metacercárias. Figura 19.9 Espécime corado de Echinostoma revolutum. • • • • • • • • Figura 19.10 Echinostoma revolutum (detalhe do colar cefálico). Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública É considerado pouco patogênico, mas infecções intensas podem provocar enterite catarral. Em humanos, os aspectos clínicos têm sido pouco estudados, mas o quadro pode incluir cólicas intestinais e diarreia. Diagnóstico Baseado na constatação de ovos nas fezes. Controle Em razão da escassa importância clínica, não há necessidade de estabelecer programas de controle. Entretanto, o uso de anti- helmínticos tem se mostrado eficaz. Família Typhlocoelidae Gênero Typhlocoelium Espécie Typhlocoelium cucumerinum Características morfológicas Faringe desenvolvida Ventosas ausentes Cecos fusionados com divertículos Gônadas posteriores Testículos lobulados Ovário arredondado e glândulas vitelogênicas extracecais. Hospedeiros Definitivos: aves anseriformes (patos e similares) Intermediários: moluscos gasterópodes da família Planorbidae. Local de infecção. Traqueia, sacos aéreos e esôfago. Ciclo biológico • • • • • • • • • • • • • • • Está relacionado com o ambiente aquático. Os hospedeiros intermediários são caramujos da família Planorbidae, que desenvolvem uma geração de esporocisto e duas de rédias, que vão originar as cercárias. As cercárias não abandonam o caramujo e se encistam, formando metacercárias próximo ao pericárdio. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública Podem provocar obstrução traqueal e, às vezes, dispneia e asfixia. Família Brachylaimidae Gênero Brachylaemus Espécie Brachylaemus mazzantii (Figura 19.11) Características morfológicas Corpo alongado Cecos intestinais longos Testículos e ovário na extremidade posterior do corpo, podendo o ovário ser visualizado entre os testículos. Hospedeiros Definitivos: pombos e aves galiformes (galinhas, faisões, galinha-d’angola etc.) Intermediários: moluscos terrestres – Subulina octona, Bradybaena similaris, Bulimulus tenuissimus e Phyllocaulis variegatus. Local de infecção. Cecos intestinais. Ciclo biológico Pouco estudado. O ciclo é terrestre, com participação de lesmas e caramujos terrestres como hospedeiros intermediários. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública Os parasitos eventualmente podem provocar irritação cecal. Ordem Plagiorchiformes Família Dicrocoeliidae Gênero Eurytrema Espécie Eurytrema coelomaticum (Figuras 19.12 e 19.13) Características morfológicas Trematódeos de forma lanceolada Ventosas situadas na metade anterior do corpo Testículos levemente pós-acetabulares Ovário posterior aos testículos, próximo ao acetábulo Glândulas vitelogênicas laterais, na região mediana do corpo A bolsa do cirro vai até a margem anterior do acetábulo Poro genital central, pré-acetabular Mede até 16 mm de comprimento Quando recém-colhidos, apresentam coloração vermelha com manchas escuras Ovos operculados, escuros, pequenos, com 40 a 50 mm de comprimento (Figura 19.14). • • ■ ■ Figura 19.11 Espécime corado de Brachylaemus mazzantii. Hospedeiros Definitivos: bovinos, caprinos e ovinos Intermediários: Primeiro: molusco terrestre – Bradybaena similares Segundo: insetos ortópteros – gafanhoto, Conocephalus sp. Local de infecção. Ductos pancreáticos. Ciclo biológico (Figura 19.15) Os hospedeiros intermediários são caramujos de hábitos terrestres do gênero Bradybaena, que se infectam passivamente ingerindo os ovos dos trematódeos. Quatro semanas após a infecção, esporocistos de duas gerações são encontrados nas glândulas digestivas dos moluscos. Não há geração de rédias. Um esporocisto de primeira geração dá origem a cerca de 100 esporocistos de segunda geração, os quais, por sua vez, podem originar cerca de 200 cercárias, que são eliminadas pelo molusco ainda no interior do esporocisto de segunda geração na vegetação. A cercária é do tipo microcercária, com forma oval, cauda curta e um estilete na parte anterior. No meio externo, as cercárias se aglutinam em uma mucosidade, constituindo as bolas mucilaginosas, que se aderem à vegetação. Essas bolas evitam que as cercárias sofram dessecamento. O segundo hospedeiro intermediário, o gafanhoto de hábitos carnívoros Conocephalus sp., ingere as bolas mucilaginosas, atraído por elas, e nele são encontradas, em 21 dias, as metacercárias infectantes. Os hospedeiros definitivos infectam-se ao ingerirem pasto com o segundo hospedeiro intermediário infectado. Os parasitos adultos são encontrados nos canais pancreáticos dos hospedeiros definitivos mais ou menos 7 semanas depois de terem ingerido os gafanhotos infectados. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública Apesar de eventualmente acontecer danos pancreáticos, é questionada a sua ação patogênica, tendo em vista que o animalnão exterioriza a doença. Ocasionalmente, podem provocar uma fibrose grave, produzindo atrofia pancreática. Figura 19.12 Espécime corado e montado em lâmina de Eurytrema coelomaticum. Diagnóstico É feito por meio de exames coprológicos para a detecção dos ovos. Controle É indicado o uso de diversos anti-helmínticos. Gênero Platynosomum • • • • • • ■ ■ Platynosomum illiciens (Figura 19.16) Características morfológicas Corpo estreito e alongado Adultos medem até 8 mm de comprimento Testículos volumosos, na mesma linha horizontal, pós-acetabulares Ovário menor que os testículos, abaixo do testículo direito. Hospedeiros Definitivos: felídeos, mas podem parasitar primatas e aves silvestres Intermediários: Primeiro: moluscos (lesmas) – Subulina octona Segundo: pode ser um lacertídeo (lagartixas) ou um crustáceo decápode. Figura 19.13 Eurytrema coelomaticum (espécimes sem coloração). Figura 19.14 Ovo de Eurytrema coelomaticum. Figura 19.15 Ciclo biológico de Eurytrema coelomaticum. PPP: período pré-patente. Figura 19.16 Espécime corado de Platynosomum illiciens. Local de infecção. Fígado e ductos biliares. Ciclo biológico Os ovos, eliminados com as fezes dos hospedeiros, são ingeridos pelo caramujo terrestre Subulina octona. No caramujo, ocorrem duas gerações de esporocistos. As cercárias se desenvolvem no interior dos esporocistos da segunda geração, que emergem dos caramujos em bolas mucilaginosas. O segundo hospedeiro intermediário é um crustáceo decápode ou um lacertídeo (Tropidurus sp.), que ingere os esporocistos com cercárias, as quais evoluem para metacercárias nos ductos biliares. Os gatos adquirem o parasitismo ao ingerir os répteis ou anfíbios parasitados. O parasito migra pelo ducto colédoco para os canais biliares e a vesícula biliar e alcança a maturidade sexual em 8 a 12 semanas. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública Em infecções intensas, a presença de P. illiciens está associada à disfunção hepática, mas há relatos de importantes lesões hepáticas, com dilatação de ductos biliares e hepatomegalia. Diagnóstico Por meio da constatação da presença de ovos em exames coprológicos. Métodos de ultrassonografia também detectam a presença desse parasito. Controle • • • • • • • • • • • • O tratamento com anti-helmínticos é o mais adequado. Ordem Paramphistomiformes Família Paramphistomatidae Gênero Paramphistomum Espécie Paramphistomum cervi (Figuras 19.17 e 19.18) Características morfológicas Corpo robusto, piriforme, com secção transversal circular Tegumento sem espinhos Acetábulo robusto, localizado na extremidade posterior Ventosa oral, às vezes com dois divertículos Faringe ausente Ovário pequeno, em geral pós-testicular Vitelária desenvolvida e lateral. Poro genital mediano, situado após a bifurcação cecal Não apresenta ventosa genital Adultos medem até 13 mm de comprimento Ovos acinzentados, com um opérculo; medem em torno de 150 μm de comprimento (Figura 19.19). Hospedeiros Definitivos: bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos Intermediário: molusco aquático da família Planorbidae. Fortes mencionou a espécie Biomphalaria tenagophyla. Localização do parasito. Rúmen. Ciclo biológico Os ovos saem nas fezes e são liberados no meio ambiente. O miracídio eclode em meio líquido e nada até esbarrar com caramujos planorbídeos (Bulinus, Planorbis, Lymnaea, Glyptanisus e outros), tendo preferência pelos caramujos jovens. No hospedeiro intermediário, formam-se esporocisto, duas gerações de rédias e cercárias, no período mínimo de 1 mês. A cercária é do tipo “anfistoma” e facilmente reconhecível pela presença das ventosas nas extremidades do corpo. Após um período de maturação e estimuladas pela luz, as cercárias emergem dos caramujos, na água, onde se transformam em metacercárias, após penetrarem na pastagem ou nas plantas aquáticas, em aproximadamente 10 min. Os ruminantes se infectam ingerindo as plantas com as metacercárias. Inicialmente, as formas imaturas se desenvolvem no intestino; após 2 semanas, migram para o rúmen, onde alcançam a maturidade sexual. O ciclo completo é realizado em aproximadamente 110 dias para ovinos e 132 dias para bovinos. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública Os parasitos irritam as mucosas intestinal e gástrica, provocando diarreias fétidas e escuras, e o animal fica muito debilitado, apresentando anemia, abatimento e edema intermaxilar. Diagnóstico Mediante a constatação de ovos em exames coprológicos (Figura 19.19). • • • • • • • • • • • Figura 19.17 Paramphistomum cervi (espécime corado). Ventosa oral (1), acetábulo (2). Controle Similar ao indicado para Fasciola hepatica. Gênero Cotylophoron Espécie Cotylophoron cotylophorum (Figura 19.20) Parasito do rúmen de ovinos, bovinos e outros de maneira geral. Tem aparência similar à de Paramphistomum cervi, mas apresenta uma ventosa genital rodeando o poro genital (Figura 19.21). Ordem Strigeiformes Família Schistosomatidae Gênero Schistosoma Espécie Schistosoma mansoni (Figura 19.22) Características morfológicas Trematódeos alongados e dioicos Ventosas pouco desenvolvidas Cecos intestinais reunidos posteriormente para formar um tubo que se prolonga até a extremidade posterior Machos mais largos e mais robustos do que as fêmeas Fêmeas, em geral, mais compridas do que os machos Poro genital próximo ao acetábulo O macho, com quatro ou mais testículos, apresenta as margens laterais do corpo ventralmente curvas, conformando o canal ginecóforo, no qual a fêmea permanece durante grande parte da sua vida A fêmea tem ovário alongado e compacto, situado próximo da união dos cecos Ovos não operculados, às vezes com espinho lateral ou terminal (Figura 19.23) Cercárias do tipo furcocercária não encistam e penetram ativamente pela pele do hospedeiro Parasitos do sistema porta de mamíferos e aves. Figura 19.18 Paramphistomum cervi conservado em formol. Figura 19.19 Ovo de Paramphistomum cervi. Opérculo (1). • • Figura 19.20 Espécime corado de Cotylophoron cotylophorum. Figura 19.21 Cotylophoron cotylophorum. Detalhe da ventosa genital (1). Hospedeiros Definitivos: humanos e bovinos, embora tenham sido encontrados em vários hospedeiros silvestres, principalmente roedores Intermediários: moluscos aquáticos dos gêneros Biomphalaria e, eventualmente, espécies de Helisoma e Lymnaea. Local de infecção. Veias mesentéricas e hepáticas, sistema porta. Figura 19.22 Espécime corado de Schistosoma mansoni: macho (1) e fêmea (2). Figura 19.23 Ovo de Schistosoma mansoni. Ciclo biológico (Figura 19.24) As fêmeas alcançam a maturidade sexual no sistema da veia porta intra-hepática, onde acasalam. Para a ovipostura, as fêmeas migram contra o sentido da corrente venosa para as ramificações das veias mesentéricas e para as vênulas do plexo hemorroidário. A ovipostura é realizada nas vênulas do reto e do sigmoide. Os ovos são postos um de cada vez, na proximidade da luz intestinal. Parte dos ovos alcança o lúmen intestinal; outros ficam retidos nas paredes do intestino ou continuam na circulação venosa até chegar ao fígado. Ao chegar à luz intestinal, os ovos, já embrionados, são eliminados conjuntamente com as fezes do hospedeiro. Na água, com influência de estímulos fotoquímicos, térmicos e osmóticos, o miracídio eclode. O miracídio, com uma viabilidade de aproximadamente de 8 a 12 h, é acentuadamente fototrópico. O hospedeiro intermediário é um molusco da família Planorbidae. No Brasil, são conhecidas três espécies de Biomphalaria como hospedeiros intermediários de S. mansoni: B. glabatra, B. tenagophila e B. straminea. No molusco, o miracídio transforma-se no esporocisto primário, nas proximidades do local de penetração. O esporocisto secundário migra para as regiões do hepatopâncreas e do ovotestículo do molusco.O amadurecimento dura até 4 semanas, incluindo a formação de cercárias (Figura 19.25). Os moluscos intensamente infectados podem sofrer castração parasitária ou morrer em consequência da destruição causada no hepatopâncreas ou em outros órgãos. As cercárias têm uma cauda bifurcada no extremo distal e emergem do molusco nos horários mais quentes e de maior luminosidade, em um ritmo circadiano; elas têm uma viabilidade de até 60 h. A infecção em humanos ocorre pela penetração das cercárias pelas mucosas ou através da pele, por ocasião dos banhos ou trabalhos na água. A cercária perde a cauda e modifica seu tegumento, transformando-se em esquistossômulo, que representa a fase juvenil dos vermes adultos. Estes penetram nos vasos cutâneos, entram na linfa ou no sangue e daí vão para o coração, e depois para os pulmões. Pela circulação geral, são levadas para a rede capilar terminal da circulação arterial, passando finalmente para o sistema veia porta intra-hepática. A longevidade desses parasitos é de até 5 anos, mas foram registrados casos com períodos superiores. Período pré-patente. Dois meses e meio a 3 meses. Figura 19.24 Ciclo biológico de Schistosoma mansoni. Figura 19.25 Cercária de Schistosoma mansoni. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública Algumas espécies ocorrem em roedores e bovinos e suspeita-se que estes atuem como hospedeiros alternativos. É importante o tratamento de fontes de água natural, pois a água é o meio de infecção tanto para o hospedeiro definitivo quanto para o intermediário. Em humanos, os sintomas são diarreia sanguinolenta e com muco, anorexia, sede e anemia e foi constatada a chamada dermatite cercariana, ou “dermatite do nadador”, provocada pela penetração das cercárias de S. mansoni na pele. Os ovos são os elementos fundamentais da patogenia da esquistossomose e, quando em grande número, alcançam a luz intestinal e podem provocar hemorragias, edemas e formações ulcerativas. Entretanto, os ovos que chegam ao fígado lá permanecem e causam reações inflamatórias granulomatosas, com a presença de processos necróticos. Esplenomegalia, varizes e ascite também foram relatadas. Entretanto, a patogenia está ligada a vários fatores, como a cepa do parasito, a carga parasitária adquirida, a idade, o estado nutricional e a resposta imunitária. Controle As condições inadequadas de saneamento básico são os principais fatores responsáveis pela presença de focos de transmissão. O combate aos caramujos transmissores, o saneamento básico e o tratamento da população infectada são medidas profiláticas fundamentais. Em relação aos bovinos, é importante identificar os meses de população máxima de caramujos pela temperatura, a fim de evitar que os bovinos fiquem expostos a extensões de água contaminada com cercárias nessas ocasiões. Diagnóstico O diagnóstico parasitológico direto é feito por meio de exames de fezes para constatar a presença de ovos. Entretanto, é importante mencionar que a fêmea elimina diariamente cerca de 200 ovos pelas fezes, portanto a possibilidade de detectá-los nas fezes é baixa, de modo que devem ser realizados vários exames. Outro método é a biopsia ou raspagem retal. Entre os métodos imunológicos ou indiretos, há a intradermorreação, reação de fixação de complemento, reação de hemaglutinação indireta, ELISA etc. Família Eucotylidae Gênero Paratanaisia • • • • • Espécie Paratanaisia bragai (Figura 19.26) Características morfológicas Testículos pré-equatoriais e na mesma zona ou um pouco deslocados Ovário pré-testicular e com lobos pequenos Útero situado entre o esôfago e a margem posterior do corpo. Hospedeiros Definitivos: pombos, aves galiformes e aves silvestres; por exemplo, Columbina talpacoti e Paroaria dominicana Intermediários: lesma Leptinaria unilamellata, Subulina octona. Figura 19.26 Paratanaisia bragai (espécime corado). Local de infecção. Ductos renais. Ciclo biológico Ciclo terrestre. Keller e Araújo registraram a lesma Leptinaria unilamellata como hospedeiro intermediário de P. bragai. Brandolini e Amato estudaram o desenvolvimento larval de Paratanaisia bragai por meio de infecções experimentais em Subulina octona, o qual se completou aos 40 dias pós-infecção, com o encistamento da metacercária. Apresenta duas gerações de esporocistos. Importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública A análise histopatológica demonstrou grande dilatação dos ductos coletores renais, com destruição e achatamento das células epiteliais de revestimento, sem reação inflamatória. LEITURAS RECOMENDADAS ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y Enfermedades Transmisibles Comunes al Hombre y a los Animales. 3. ed. Organización Panamericana de la Salud, 2003. 544 p. v. 3. BRANDOLINI, S. V. P. B.; AMATO, S. B. Morfologia externa de espécimes adultos de Paratanaisia bragai (Santos, 1934) (Digenea: Eucotylidae). Rev. Bras. Parasitol. Vet., v. 16, n. 3, p. 129-132, 2007. BUSH, A. O.; FERNÁNDEZ, J. C.; ESCH, G. W.; SEED, J. R. Parasitism: the Diversity and Ecology of Animal Parasites. Cambridge: Cambridge University, 2001. 576 p. DALTON, J. P. Fasciolosis. Wallingford: CABI, 1998. 544 p. FORTES, E. Parasitologia Veterinária. 4. ed. São Paulo: Ícone, 2004. 607 p. KELLER, D. G.; ARAÚJO, J. L. B. Ciclo evolutivo de Paratanaisia bragai (Santos, 1934) (Trematoda, Eucotylidae) com novo hospedeiro intermediário no Brasil: Leptinaria unilamellata (D’Orbigny, 1835) (Gastropoda, Pulmonata, Subulinidae) em condições de laboratório. Rev. Bras. Parasitol. Vet., v. 1, n. 2, p. 89-92, 1992. NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 11. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. 494 p. PINTO, R. M.; MENEZES, R. C.; TORTELLY, R. Systematic and pathologic study of Paratanaisia bragai (Santos, 1934) Freitas, 1959 (Digenea, Eucotylidae) infestation in ruddy ground dove Columbina talpacoti (Temminck, 1811). Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 56, n. 4, p. 472-479. REY, L. Parasitologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 856 p. ROBERTS, L. S.; JANOVY JR., J.; SCHMIDT, P. Foundations of Parasitology. 7. ed. New York: McGraw-Hill, 2004. 720 p. SOULSBY, E. J. L. Parasitología y Enfermedades Parasitarias en los Animales Domésticos. 7. ed. México D.F.: Interamericana, 1987. 823 p. THIENGO, S. C.; AMATO, S. B. Phyllocaullis variegatus (Mollusca: Veronicellidae), A new intermediate host for Brachylaima sp. (Digenea: Brachylaimatidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 90, n. 5, p. 14-18, 1995.
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