Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINES) AINEs Constituem uma das classes de fármacos mais difundidas em todo mundo; Utilizados no tratamento da dor aguda e crônica decorrente do processo inflamatório; Para compreensão dos efeitos destes fármacos, faz-se necessário uma discussão da fisiopatologia inflamatória. INFLAMAÇÃO é uma reação estereotipada complexa do tecido conjuntivo vascularizado, cujo maior objetivo é remover o agente causador (ex. corpo estranho, microorganismo) e reparar o tecido lesado. O estímulo lesivo, independentemente de sua natureza, química, física ou biológica, desencadeia no organismo uma série de alterações Alterações funcionais e morfológicas em células, tecidos, vasos sanguíneos e linfáticos na área afetada, circunscrevendo a lesão provocada pelo estímulo irritativo. AGENTES FÍSICOS • Trauma mecânico; • Temperaturas extremadas; • Variação súbita de pressão; • Efeito da radiação; • Choque elétrico. AGENTES QUÍMICOS • Glicose ou sal em excesso; • Medicamentos; • Agrotóxicos; • Produtos químicos industriais; • Raticidas; • Drogas de abuso. AGENTES INFECCIOSOS • Vírus • Bactérias • Fungos • Parasitas • Os mecanismos de lesão celular para cada um desses agentes são bastante específicos para cada grupo de agentes. As alterações fisiológicas que caracterizam os sinais cardinais da inflamação: calor, rubor, edema e dor, se expressam de forma padronizada, resultado do aumento do fluxo sanguíneo e metabolismo celular. Calor eritema é oriundo da dilatação de capilares e arteríolas (aumento do fluxo sanguíneo), que leva ao aumento de permeabilidade vascular e extravasamento de proteínas plasmáticas e outros elementos figurados do sangue para o interstício através de junções interendoteliais. Rubor Edema Experiência sensorial e emocional desagradável, relacionada com lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termo deste tipo de dano. Dor É uma consequência da liberação de mediadores químicos que sensibilizam ou afetam diretamente os receptores periféricos da dor (nociceptores). Adicionalmente, o acúmulo de líquidos e células comprime o tecido conjuntivo, que distendido pode estimular/pressionar as terminações nervosas sensoriais sensibilizadas, contribuindo para o agravamento da dor. INFLAMAÇÃO AGUDA Agente pouco patogênico; Contato único e ligeiro com um tecido saudável; Agressão leve; Reação inflamatória de curta duração (aguda) e de pequena intensidade. INFLAMAÇÃO CRÔNICA Agente muito resistente e patogênico; Contatos repetidos e persistentes, mesmo em tecidos saudáveis; Agressão mais grave com reação inflamatória de longa duração (crônica) e de maior intensidade. As funções da inflamação: Matar microorganismos. Coordenar reações imunitárias. Eliminar células lesadas. Reestruturar tecidos. Restaurar a função normal ! MEDIADORES QUÍMICOS DA INFLAMAÇÃO Os fenômenos da inflamação são mediados por substâncias químicas, cuja interação é complexa. Estas substâncias são oriundas do plasma, dos leucócitos, das plaquetas, do endotélio e do tecido conjuntivo. Histamina Encontrada nos mastócitos, basófilos e plaquetas. A quantidade de histamina é grande nos pulmões, pele e mucosa gastrointestinal. A liberação de histamina ocorre pela degranulação dos mastócitos, através do rompimento da membrana, ou por processo ativo envolvendo energia, microtúbulos e fusão da membrana do grânulo com a plasmática. A inativação da histamina ocorre no fígado, ou oxidação nos rins e intestinos através da histaminase. PAF (FATOR ATIVADOR DA PLAQUETA) É derivado das membranas dos mastócitos, endotélio, basófilos, plaquetas, neutrófilos e eosinófilos. Tem várias atividades, causando agregação e degranulação das plaquetas, migração e degranulação dos neutrófilos e aumento depermeabilidade vascular. É pelo menos 1.000X mais potente que a histamina. PROSTAGLANDINAS E LEUCOTRIENOS O ác. aracdônico está esterificado aos fosfolípidios da membrana celular; São produzidos localmente pela ação da fosfolipase A2. As PG e LT são portanto derivados da membrana celular. Antinflamatórios não-esteroidais (AINEs) Existem mais de 50 AINEs diferentes no mercado; Estão entre os agentes terapêuticos mais utilizados no mundo inteiro; Ações farmacológicas: antiinflamatórios analgésicos antipiréticos Os AINEs possuem como estratégia terapêutica básica retardar ou inibir o processo responsável pela lesão, no sentido de aliviar a dor e reduzir o edema presente em algumas patologias inflamatórias; Entretanto, somente os AINEs possuem a propriedade de reduzir a febre oriunda da destruição tecidual ou infecções induzidas por microorganismos. A aspirina, considerada o protótipo dos AINES, foi até pouco tempo um dos fármacos mais utilizados, sem prescrição no tratamento da inflamação. Atualmente, outros AINEs com ação terapêutica e segurança superior vêm substituindo o papel da aspirina. Mecanismo de ação Inibição periférica e central da atividade da enzima ciclooxigenase e subsequente diminuição da biosíntese e liberação dos mediadores da dor, inflamação, e febre (PGs). Mecanismo da ação antinflamatória Bloqueio da formação de PGs por inibição da COX; Inibição da liberação de histamina; Diminuição da migração PMN e monócitos Mecanismo da ação analgésica Bloqueio da formação de PGs por inibição da COX; Mecanismo da ação antitérmica Bloqueio da formação de PGs por inibição da COX Ciclooxigenase COX-1 está presente na maioria das células de tecidos do organismos e catalisa a formação das prostaglandinas e tromboxano na manutenção homeostásica (função fisiológica) COX-2 responsável pela inflamação (induzida por gatilhos inflamatórios como hipóxia e dano de tecidos) COX-3 provável isoforma da ciclooxigenase encontrada no sistema nervoso central Salicilatos Aspirina® (ácido acetilsalicílico); Apesar da molécula de aspirina ser ativa farmacologicamente, a maior atividade anti-inflamatória dessa substância é resultante da ação do seu produto de metabolização. Ações farmacológicas: Analgesia: fármacos eficazes contra a dor latejante da inflamação, mas são pobres no tratamento de dor profunda, intermitente de vísceras consequente à estimulação direta de nervos sensitivos. Antipirese: ação hipotermizante, em doses moderadas, é rápida e eficaz, sendo mais eficiente em estados febris decorrentes de infecções por microorganismos e outras causas. Anti-inflamatória: bloqueio de ambas COX com inibição da síntese de PG potentes agentes vasodilatadores responsáveis pelo rubor, calor e aumento de permeabilidade vascular. A aspirina possui também ação direta sobre células inflamatórias, reduzindo assim a adesão e quimiotaxia dos leucócitos e macrófagos. Adicionalmente, a aspirina causa estabilização dos lisossomos e interfere na síntese de cininas. Ação antiagregante plaquetário: Doses baixa e única de aspirina (<100 mg ao dia) causam aumento discreto no tempo de sangramento, devido à inibição da agregação plaquetária, provavelmente decorrente da inibição da COX plaquetária. Tal efeito perdura por volta de uma semana ou 10 dias, tempo máximo de sobrevida da plaqueta. Assim, a incidência de ataques isquêmicos transitórios, tromboses, angina e incidência de câncer de cólon é bastante reduzida. Farmacocinética São bem absorvidos por via oral; Após absorvidos, os salicilatos distribuem-se pela maioria dos tecidos e líquidos orgânicos; Biotransformação ocorre em muitos tecidos, principalmente no fígado; São excretados pelo rim, nas formas de ácido salicílico livre e demais metabólitos. Efeitos Adversos e tóxicos Distúrbios gastrintestinais; A ingestão, mesmo de doses moderadas, de salicilatos pode produzir dor epigástrica, indigestão, náuseas e vômitos. Sintomas mais sérios incluem a ulceração gástrica, exacerbação de úlcera péptica e hemorragias gastrintestinais em indivíduos submetidos a altas doses do fármaco. Em tratamentos duradouros, existe a possibilidade de se instituir um quadro de gastrite erosiva e anemia, devido provavelmente, a perda de sangue (hemorragia) deflagrada pelo aumento da secreção ácida no estômago. Derivados da Pirazolona dipirona, aminopirina e fenibultazona; Potentes antitérmicos; Rapidamente absorvidos pelo trato gastrintestinal, transformados no fígado e lentamente excretados pelo rim, o que aumenta sua toxicidade. Efeitos adversos mais comuns: náuseas, vômitos e ardor epigástrico. Derivados do ácido para-aminofenol Exibem ações antitérmica e analgésicas, com baixa ou nenhuma ação anti-inflamatória; Acetanilida, acetofenetidina (fenacetina) e seu metabólito acetaminofeno (paracetamol); São fármacos bem absorvidos pelo trato gastroduodenal e são metabolizados no fígado. Em doses terapêuticas, não afetam o tempo de coagulação, não produzem irritação ou erosão gástrica ou fenômenos hemorrágicos. Porém, a superdosagem causa hepatoxicidade grave e a ingestão crônica aumenta o risco de lesão renal. Derivados do ácido propiônico (ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno e outros). Apresentam efeitos anti-inflamatório, antitérmico e antiálgico. Apresentam efeitos adversos representados por irritação da mucosa do trato gastrintestinal e lesões pré-ulcerosas. Outros fármacos dessa classe são cetoprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno e oxaprozina. Inibidores seletivos da COX2 A primeira geração disponibilizada no mercado farmacêutico nacional: celocoxiba, rofecoxiba e nimesulida. A principal característica dos inibidores seletivos da COX2 é a redução da incidência de efeitos adversos gastrintestinais. Em função da baixa seletividade pela COX1, acreditava-se que esses fármacos em doses terapêuticas adequadas não interfeririam nos processos fisiológicos normais de tecidos, como na integridade das mucosas do estômago e intestino e na agregação plaquetária. Celecoxiba Moderadamente absorvida pelo trato gastrintestinal, com pico de concentração variando entre 2 e 4 horas. O fármaco apresenta alta afinidade pelas proteínas plasmáticas. A biotransformação ocorre no fígado e a menor parte do fármaco na forma inalterada é excretada na urina e nas fezes. Potente anti-inflamatório e antirreumático, mas também é utilizado em analgesia pós-cirúrgica em ortopedia e cirurgia oral menor. Nimesulida tem atividade anti-inflamatória, analgésica e antitérmica. Além da inibição seletiva da COX2, a nimesulida inibe a ativação de neutrófilos e exibe propriedades antioxidantes. Apresentam baixa incidência de efeitos adversos, especialmente efeitos gastrintestinais. Estudos clínicos em crianças fazem com que seja indicada em Pediatria. Anti-inflamatórios não esteroidais: não seletivos ou seletivos, qual o melhor? AINES não seletivos atuam inibindo preferencialmente a COX-1, e em quase todos os tecidos normais é detectada a presença desta enzima; A COX-2 está em maior número nos tecidos inflamados, fatores de crescimento e estimulantes tumorais, concentrando um aumento de citonas. E é responsável pela liberação de diversas substâncias relacionadas a inflamação e a dor, como prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos. A preferência pela utilização de fármacos seletivos inibindo a ação da COX-2, pode-se combater a inflamação sem causar tantos efeitos colaterais; Erosões e ulcerações gástricas COX-1 na mucosa gástrica; Prevenindo as lesões mais frequentes na utilização de AINE não seletivos as gastropatias, hepatopatias e nefropatias. 1995 primeira geração de Coxibes Rofecoxib e Celecoxib, começam a ser sujeitos a vários ensaios clínicos; Fármacos reduzem a dor e a inflamação aguda e crónica, tendo igual eficácia aos AINEs e melhor segurança GI. 2000 primeiras dúvidas a respeito do risco CV dos Coxibes, dado o aumento de ocorrência de eventos CV graves nos pacientes. Na sequência destes resultado e de alertas de ocorrência de eventos arteriais trombóticos após a comercialização do Rofecoxoib e Celecoxib, em julho de 2002 a EMA dá início a um procedimento de revisão de segurança dos Coxibes. O risco CV inerente à utilização dos Coxibes depende de vários fatores como o tempo de exposição, os antecedentes cardiovasculares do próprio paciente, predisposição genética para a trombose, HTA o que condiciona a sua utilização terapêutica em inúmeros pacientes que poderiam beneficiar com a melhor tolerabilidade GI destes fármacos, comparativamente com os AINEs clássicos. Conclui-se assim, que os Coxibes são uma classe de fármacos que requer precaução no momento da sua prescrição, sendo necessário ponderar as características individuais do doente, administrando sempre a menor dose com eficácia, durante o menor período de tempo, de modo a que o tratamento com os Coxibes seja seguro.
Compartilhar