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pratica profissional: laboratório de ensino aprendizagem de historia

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Nós e os outros: identidade(s) em confronto*

 
 
Carolline Martins de Andrade 
Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos -2º 
CP/EBAP/UFMG 
Faculdade de Filosofia/História- FAFICH 
 
Introdução 
 
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência e essa foi realizada com 
alunos jovens e adultos de duas turmas iniciantes – 76 e 77 - do Projeto de Ensino 
Fundamental de Jovens e Adultos – 2º Segmento, também conhecido como PROEF 2, 
desenvolvido pelo Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional 
desta UFMG. É parte integrante de uma proposta coletiva de ensino desenvolvida por 
todos os professores dos diferentes campos do conhecimento e tendo como eixo 
condutor o tema Identidade. 
Sendo este tema bastante amplo, cabe-nos restringi-la a um de seus 
fundamentos: o eu em relação a um outro. Assim, na disciplina história, a alteridade, 
concebida de acordo com Todorov (1993a, 1993b), é condição indispensável para que 
nós nos (re)conheçamos, uma vez que ao dirigirmos nosso olhar para o outro podemos 
nos diferenciar e, assim, perceber aquilo que nos é próprio. 
A alteridade, segundo esse autor, vai para além do olhar e permite ao indivíduo 
perceber as diferenças, pois ela conduz à compreensão; para que, mesmo na 
impossibilidade de integrar o outro ao nosso universo, possamos, pelo menos, aceitá-lo 
como é, sem que haja postura de superioridade. 
 
Justificativa 
 
Pretendemos trabalhar com a alteridade no que tange à questão do indígena na 
sociedade brasileira. É um olhar lançado do presente para o passado, de uma construção 
histórica e representativa que se fez dos grupos indígenas e que ainda hoje configuram, 
em alguma medida, em dificuldade para integrá-lo à nação brasileira e garantir seus 
direitos já estabelecidos na Constituição de 1988. 
Justifica-se um projeto de ensino como este, pois seus objetivos são 
proporcionar aos estudantes do Projeto de Educação de Jovens e Adultos do 2º 
Segmento
1
 (Centro Pedagógico/UFMG) um relativo conhecimento sobre as 
representações que foram sendo construídas, ao longo do tempo, sobre os povos 
indígenas sejam elas oriundas do olhar etnocêntrico dos primeiros conquistadores e 
 
 Trabalho orientado pelos professores Pablo Luiz de Oliveira Lima, da Faculdade de Educação, e Edna 
Maria Santana Magalhães, do Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG, 
coordenadores de área (Matemática) e de equipe do Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos – 
2º Segmento/CP/EBAP/UFMG, respectivamente. 
1
 Doravante PROEF 2. 
viajantes, seja por meio das legislações produzidas pela Coroa Portuguesa, 
posteriormente, pelo Império e, finalmente, pela República. 
Violentamente empurrados para o interior do território brasileiro com a marcha 
desenvolvimentista para o oeste, os indígenas hoje ainda passam pela expropriação de 
suas terras por grileiros e grandes latifundiários; bem como as insistentes construções de 
hidrelétricas em iniciativas público-privadas – para se ter uma ideia cerca de 24 grupos 
indígenas serão afetados pela construção da usina de Belo Monte. 
Ainda que durante a República vários progressos tenham sido obtidos no que se 
refere ao respeito e à preservação dos povos indígenas – com os projetos idealizados por 
Rondon e os irmãos Villas Boas, a eleição de Juruna para deputado federal (1983-1987), 
o reconhecimento dos indígenas como cidadãos brasileiros pela Constituição Federal 
(1988), entre outros - mantêm-se, até hoje, grande desconhecimento das culturas e 
necessidades desses grupos. Dizem por aí que para compreender é preciso conhecer! 
De modo que dupla é a nossa razão para trabalhar a questão da alteridade com 
enfoque nos povos indígenas: trata-se de uma questão de cunho social, visto que são 
populações que compõe às identidades brasileiras e, ao mesmo tempo, o comparativo da 
diferença e semelha entre culturas pode estender-se para outros diálogos. Ademais, leva 
em consideração a postura oficial, que, em março de 2008, por meio da lei 11.645, 
tornou obrigatório o ensino das culturas e histórias dos povos indígenas e afro-
brasileiros como constituintes da identidade nacional brasileira, nas escolas. 
 
Objetivos gerais 
Como objetivos gerais, pretende-se com este trabalho: 
 estimular nos alunos do PROEF 2 o conhecimento de algumas 
características e influências das culturas indígenas; 
 desconstruir padrões de etnocentrismo e de comportamentos 
preconceituosos; 
 possibilitar a identificação do outro como igual, que possui direitos e 
deveres. 
 
Metodologia 
 
Este tema foi planejado para 6 horas aulas, podendo sofrer variações. 
Aula 1 – No primeiro momento, solicitar que os alunos escrevam algumas frases 
com suas percepções acerca dos indígenas. Segundo momento, apresentar imagens e 
músicas que estão, de certa forma, presentes em nosso cotidiano e que retratam “índios” 
– livros didáticos, por exemplo, e músicas como Baila comigo (Rita Lee), Xingu 
(Língua de Trapo). E, a partir das imagens e letras das músicas questioná-los a respeito 
de suas próprias representações. Para finalizar a aula, utilizarei a música Um índio, de 
Caetano Veloso. 
Aula 2 – Nesta aula trabalharemos com relatos de viajantes e dos primeiros 
europeus que adentraram as Américas e as visões etnocêntricas a respeito dos habitantes 
do Novo Continente. 
Aula 3 – As políticas oficiais – Coroa Português, Império do Brasil e República. 
Inicialmente, será uma aula expositiva, abordando as legislações do período colonial e 
império. O segundo momento consistirá na leitura e debate de alguns fragmentos da 
Constituição brasileira de 1988. Tem por objetivo pensar a questão do indígena ao 
longo da história brasileira e sua situação atual no que tange às leis federais. 
Aulas 4 e 5 – Filme: Xingu. Direção: Cao Hambúrguer. 2012. 
 
Aula 6 – Dividir a turma em grupos pequenos a fim de que sejam produzidos 
textos (poemas, sínteses, entre outros) sobre o que conseguiram compreender da relação 
entre o “homem branco” e os indígenas brasileiros ao longo do tempo. 
 
Resultados 
 Esse trabalho ainda está em andamento, mas espera-se com ele alcançar os 
seguintes produtos: apresentação no projeto de extensão UFMG Jovem 2013; 
apresentação no Iª FEBRAT - Feira Brasileira de Colégios de Aplicação e Escolas 
Técnicas na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2013 e também no XVI Semana 
de Extensão, integrada ao evento UFMG Conhecimento e Cultura. Além disso, 
pretende-se que este relato de experiência possa ser uma oportunidade de diálogo com 
outros docentes da área de história e de educação em geral, na modalidade de Educação 
de Jovens e Adultos como para outros níveis e modalidades de ensino. 
 Outra possibilidade de produto final é a produção de um vídeo por turma, o qual 
será produzido em um momento fora da sala de aula. Este vídeo incluirá a utilização do 
material escrito em sala aula e a realização de pequenas entrevistas – cujas perguntas 
serão formuladas pelos próprios alunos – com alguns indígenas que estudam na 
Faculdade de Educação (UFMG) falando da relação que suas comunidades 
estabeleceram com o restante da sociedade brasileira. 
 
Conclusão 
Como conclusão, para os alunos da Educação de Jovens e Adultos envolvidos no 
projeto, espera-se que sejam desenvolvidos os seguintes conhecimentos, habilidades e 
comportamentos: a habilidade do trabalho em grupo; a construção de uma nova 
concepção de história, a qual consiste em construções e interpretações, podendo ser 
múltipla e, ao mesmo tempo limitada, pelas fontes e pelo trabalho da pesquisa 
historiográfica;a compreensão de que as relações de poder são construídas e 
estabelecidas ao longo do tempo e que permeiam a vida em sociedade; a percepção e a 
compreensão de que comportamentos e padrões sociais são frutos de escolhas humanas 
e construções sociais; e o auto questionamento em/sobre suas próprias condutas e 
posicionamentos políticos, sociais e culturais. 
 Por fim, a percepção, para todos os sujeitos envolvidos e para os 
possíveis leitores deste projeto e dos seus produtos finais, de que uma história útil é 
aquela que promove reflexão e crítica no indivíduo, que o faz enxergar o outro, que o 
conduz à empatia e que o confronta com seus próprios preconceitos, além de (re)definir 
posições individuais e coletivas oriundas do senso comum e também do questionamento 
das “verdades” e transmitidas pelos documentos, ditos, oficiais. 
 
Referências Bibliográficas 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF, Senado, 1998. 
ALEGRE, MARIA Sylvia P. Imagem e representação dos índios no século XIX. In: 
Carupioni, LDB (org.). Índios do Brasil. Brasília: MEC, 1994. 
ANCHIETA, José de. Cartas: correspondência ativa e passiva [Introd. e org. do Pe. 
Hélio Abranches Viotti]. São Paulo: Edições Loyola, 1984, p. 74-75. 
BOSCHI, Caio César. Por que estudar história? São Paulo: Ática, 2007. 
Apud. COELHO, Antônio Borges. No rastro de Cabral. Revista USP, São Paulo (45): 
22, mar.abr. maio 2000. 
CUNHA, Manuela C. (org.). Legislação Indigenista no século XIX. São Paulo: 
Edusp/Comissão Pró-Índio de São Paulo, 1992. 
CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: LP&M, 2003. 
TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América. A questão do outro. São Paulo: Martins 
Fontes, 1993a, p. 87 – 99. 
__________________. Nós e os outros. A revolução francesa sobre a diversidade 
humana. Trad. Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993b. 
Somos índios. A saga de um povo desconhecido. Revista de História da Biblioteca 
Nacional. Ano 8, nº91, abril 2013. 
 
Outras fontes: 
Músicas 
LEE, Rita. Baila Comigo. Bossa n’roll, 1991. 
MELO, Carlos; SARRUMOR, Laert. Xingu. Língua de Trapo, 1982. 
VELOSO, Caetano. Um índio. Bicho, 1977. 
 
Filme 
Xingu. Direção: Cao Hambúrguer. Brasil: Globo Filmes; 02 Filmes, 2012. 1 fita VHS 
(97 MIN.). 
 
Imagens 
AA, Pieter van der. Comedores de homens na América, século XVIII. Gravura. In: 
Revista de História da Biblioteca Nacional. ANO 8, nº91¸ abril 2013, p.28. 
ECKHOUT, Albert. Dança dos Tapuia, 1637-1644. Óleo sobre tela, s.d., 168x294 cm. 
Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague. Reprodução fotográfica: autoria 
desconhecida. Disponível em http://artenaescola.org.br/midiateca/publicacao/?id=58772&. 
Acesso em 28/05/2013. 
DEBRET, Jean Baptiste, século XIX. Litogravura. Fundação Biblioteca Nacional. 
Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/solucao-caseira. Acesso em 
28/05/2013. 
Anexos 
Aula 1 
 
 
Música 1 – Baila Comigo (Rita Lee) 
Se Deus quiser 
Um dia eu quero ser índio 
Viver pelado 
Pintado de verde 
Num eterno domingo 
Ser um bicho preguiça 
Espantar turista 
E tomar banho de sol 
Banho de sol! 
Se Deus quiser 
Um dia acabo voando 
Tão banal assim 
Como um pardal 
Meio de contrabando 
Desviar do estilingue 
Deixar que me xingue 
E tomar banho de sol 
Banho de sol! 
Baila Comigo! 
Como se baila na tribo 
Baila Comigo! 
Lá no meu esconderijo 
Ai! Ai! Ai! 
Baila Comigo! 
Ah! Ah! Uh! Uh! 
Como se baila na tribo 
Oh! Oh! Baila 
Baila Comigo! 
Lá no meu esconderijo. 
Se Deus quiser 
Um dia eu viro semente 
E quando a chuva 
Molhar o jardim 
Ah! Eu fico contente 
E na primavera 
Vou brotar na terra 
E tomar banho de sol 
Banho de sol! 
Música 2 – Xingu Disco (Língua de 
Trapo) 
 
Tiveram a manha de me emancipar 
Sabe como é, eu era índio no Pará 
Aí pintou toda aquela transação 
Era Funai, Fazenda e demarcação 
 
A nossa tribo Ubajara se alterou 
Nosso cacique comprou um televisor 
Até o pajé, que curtia misticismo 
Se converteu, de cara, pro catolicismo 
 
Xingu, Xingu, Xingu 
O índio já tomou 
E agora até trocou 
O tupi pelo I love you 
Xingu, Xingu, Xingu 
O índio já tomou 
E agora até trocou 
A Iracema pela lady Zu 
 
A minha irmã 
foi trabalhar na Zona 
Franca de Manaus, 
no comércio de japona 
Peri, meu mano, 
é campeão de fliperama 
Meu pai é revendedor 
dos produtos da Brahma 
E se não fosse 
o milagre brasileiro 
Os meus parentes inda eram 
seringueiros 
E eu não seria presidente da Brazil 
United Corporation Bauxita and Steel 
 
Xingu, Xingu, Xingu 
O índio já tomou 
E agora até trocou 
O tupi pelo I love you 
Xingu, Xingu, Xingu 
O índio já tomou 
E agora até trocou 
A Iracema pela lady Zu 
 
Música III - Um índio (Caetano 
Veloso) 
 
Um índio descerá de uma estrela 
colorida e brilhante 
De uma estrela que virá numa 
velocidade estonteante 
E pousará no coração do hemisfério sul, 
na América, num claro instante 
Depois de exterminada a última nação 
indígena 
E o espírito dos pássaros das fontes de 
água límpida 
Mais avançado que a mais avançada das 
mais avançadas das tecnologias 
Virá, impávido que nem Muhammed 
Ali, virá que eu vi 
Apaixonadamente como Peri, virá que 
eu vi 
Tranquilo e infalível como Bruce Lee, 
virá que eu vi 
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá 
Um índio preservado em pleno corpo 
físico 
Em todo sólido, todo gás e todo líquido 
Em átomos, palavras, alma, cor, em 
gesto e cheiro 
Em sombra, em luz, em som magnífico 
Num ponto equidistante entre o 
Atlântico e o Pacífico 
Do objeto, sim, resplandecente descerá 
o índio 
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, 
não sei dizer 
Assim, de um modo explícito 
E aquilo que nesse momento se revelará 
aos povos 
Surpreenderá a todos, não por ser 
exótico 
Mas pelo fato de poder ter sempre 
estado oculto 
Quando terá sido o óbvio 
 
Imagem I 
 
Imagem 2 
 
Base para a formação da economia colonial, a captura e a escravização. Litogravura de 
Jean Baptiste Debret, século XIX. Fundação Biblioteca Nacional. 
Imagem 3 
Encontra-se impressa na Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 8, n 91, p.28. 
Trata-se de uma gravura do século XVIII de Pieter van der Aa, em que este retrata um 
ritual dos índios tamoyos: “comedores de homens na América”. 
 
Aula 2 
Documento 1 - Carta de Pero Vaz de Caminha 
 
Senhor [El-Rei D. Manuel], 
 
Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim (mesmo) os outros capitães 
escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora 
nesta navegação achou, não deixarei de também dar nisso minha conta a Vossa Alteza, 
assim como eu melhor puder... 
[...] A partida de Belém foi – como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de 
março. 
[...] E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até terça -feira das 
Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra... os quais 
eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho [...] E 
quinta-feira pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra. E chegaríamos a 
esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos... E dali avistamos homens que 
andavam pela praia, uns sete ou oito... Pardos, nus, sem cousa alguma que lhes cobrisse 
suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. A feição deles é serem pardos, 
um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos... Oscabelos deles são 
corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa 
grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. 
[...] E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, saímos em terra com nossa 
bandeira; e fomos desembarcar no rio acima [...] Até agora não podemos saber se há 
ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal [....] Contudo a terra em si é de muitos bons 
ares, frescos e temperados como dos de Entre-Douro e Minho [...] Em tal maneira é 
graciosa que, querendo a aproveitar-se há nela tudo, por causa das águas que tem! [...] 
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta 
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que 
não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação 
 
Documento 2 - Carta do Padre José de Anchieta (1554) 
 
Estes [índios] entre os quais trabalhamos, estão espalhados pelo interior [...] e 
todos comem carne humana, andam nus e habitam casas de madeira e barro, cobertas de 
palha ou casas de árvores. Não estão sujeitos a nenhum rei ou chefe [...] Vivendo sem 
lei, nem autoridade, segue-se que não se podem conservar em paz e concórdia [...] 
Juntam-se a isso matrimônios contraídos com os mesmos consanguíneos até primos 
diretos [...] São tão bárbaros e indômitos que parecem estar mais perto da natureza das 
feras do que dos homens. 
 
Documento 3: Crítica do Capitão Manuel Fernandes Vila Real (1641): 
O intento de grandes empresas para ensinar a verdadeira fé aos bárbaros gentios 
é admirável, é santo, mas privá-los de suas vidas, de suas liberdades, é pernicioso, 
diabólico. Fazer escravos, a quem a Natureza fez livres, não é obedecer a Deus, é 
contradizer as suas obras... Se acaso lhes salvam a alma, é à custa da sua liberdade, é 
privando-os de seus bens e da sua pátria. 
 
Aula 3 
 
Documento 1: Constituição Federal de 1988 
Art. 3. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
IV – promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
[...] 
Art.5. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
Art. 20. São bens da União: 
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. 
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das 
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para 
defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei. 
 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
XIV - populações indígenas; 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de 
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
XI - a disputa sobre direitos indígenas. 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; 
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado 
exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo 
este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. 
§ 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, 
levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos 
garimpeiros. 
§ 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na 
autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais 
garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o Art. 
21, XXV, na forma da lei. 
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais 
a que se refere o caput deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização 
ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa brasileira de 
capital nacional, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas 
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. 
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de 
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, 
nacionais e regionais. 
[...] 
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, 
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e 
processos próprios de aprendizagem. 
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e 
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão 
das manifestações culturais. 
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e 
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. 
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material 
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à 
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, 
nos quais se incluem: 
I - as formas de expressão; 
II - os modos de criar, fazer e viver; 
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
manifestações artístico-culturais; 
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, 
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá 
o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, 
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. 
[...] 
CAPÍTULO VIII 
Dos Índios 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, 
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, 
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
 § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em 
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à 
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua 
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. 
§ 2.º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse 
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas 
existentes. 
§ 3.º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a 
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com 
autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada 
participação nos resultados da lavra, na forma da lei. 
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos 
sobre elas, imprescritíveis. 
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do 
Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou 
no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em 
qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. 
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos quetenham por 
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração 
das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante 
interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade 
e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às 
benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé. 
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, §§ 3º e 4º. 
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para 
ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em 
todos os atos do processo. 
ADCT 
Art. 67. A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a 
partir da promulgação da Constituição. 
ANEXO 2 – Alunos participantes do PROEF 2/CP/EBAP/UFMG 
Turma 77 
ALIDA FARIAS PASSAINI 
ANA RODRIGUES DA CRUZ 
ANTONIO CÉLIO CARDOSO 
CANDIDO RODRIGUES PAIXÃO 
ELISA COSTA DE AGUIAR 
GERALDO SABINO DE OLIVEIRA 
HILDA GOMES VIANA 
IRACI TEODORO CEZAR 
JOELMA APARECIDA BORGES DE OLIVEIRA 
JOSÉ BERDOTE DE ANDRADE 
JOSÉ ESTÁQUIO DA FONSECA 
MARIA LÚCIA RODRIGUES DE OLIVEIRA 
SARA RODRIGUES PEREIRA 
SIRLENE JERONIMO DE SOUZA 
ZÉLIA DE ASSIS VON RANDOW 
 
Turma 76 
 
ADELAIDE FERREIRA CARDOSO ANTERO 
APARECIDA DAVID DA SILVA POFINO 
ANA CLAUDIA QUEIROGA 
ANA MARIA GOMES 
ERIKA FLORÊNCIO MOREIRA DA SILVA 
IRANI LEANDRO FERNANDES 
IVANICI MOREIRA DOS SANTOS 
JOSÉ LIBERATO SIMEÃO 
LUCAS PINTO MOREIRA 
MARIA HELENA DE FÁTIMA MEIRELES 
MARIA INÊS DOS SANTOS 
ORTENCIA DE LIMA FERREIRA 
WILLIAN DE OLIVEIRA

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