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Direito Constitucional 1
Unidade IV - Direitos Culturais, da Natureza e Sexuais e Reprodutivos
Unidade IV 
Direitos Culturais
Direitos da Natureza
Direitos Sexuais e Reprodutivos
Direitos da Pessoa com deficiência
Relações Étnicos Raciais
DIREITOS CULTURAIS
Direitos Culturais são aqueles afetos às artes, à memória coletiva e ao fluxo de saberes, que asseguram a seus titulares o conhecimento e uso do passado, interferência ativa no presente e possibilidade de previsão e decisão de opções referentes ao futuro, visando sempre à dignidade da pessoa humana.
Observação: “Quem não conhece o seu passado, está fadado a cometer os mesmos erros”
O que são direitos culturais?
Os direitos culturais foram previstos pela primeira vez, no plano internacional, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, que os qualificou como indispensáveis à dignidade e ao livre desenvolvimento da personalidade. 
Desde então, foram diversos tratados, declarações e convenções versando diretamente sobre os direitos culturais.
 
A Constituição Federal brasileira, em seu artigo 215, prevê que o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de alguém. A formação da personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo.
Moral é o conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano, e que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade. Etimologicamente, o termo moral tem origem no latim morales, cujo significado é “relativo aos costumes”.
Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica. É uma reflexão sobre a moral. 
A palavra “ética” vem do Grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”. Já a palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos costumes”.
Caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes. O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vão determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e comportamento.
No texto constitucional, é possível encontrar alguns exemplos do que a doutrina especializada usualmente considera como espécies de direitos culturais. São eles: o direito autoral (artigo 5º, XXVII e XXVIII), o direito à liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação (artigos 5º, IX, e 215, §3º, II), o direito à preservação do patrimônio histórico e cultural (artigos 5º, LXXIII, e 215, §3º, inciso I); o direito à diversidade e identidade cultural (artigo 215, caput, § 1º, 2º, 3º, V, 242, § 1º); e o direito de acesso à cultura (artigo 215, §3º, II e IV).
Direito Autoral
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
Direito à Liberdade de Expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação (artigos 5º, IX, e 215, §3º, II, da CF/88)
Art 5º (...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
...
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
(...)
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
II produção, promoção e difusão de bens culturais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
IV democratização do acesso aos bens de cultura; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
V valorização da diversidade étnica e regional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
 Direito à preservação do patrimônio histórico e cultural (artigos 5º, LXXIII, e 215, §3º, inciso I)
	
	Art 5º (...)
	LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
(...)
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
Direito à diversidade e identidade cultural (artigo 215, caput, § 1º, 2º, 3º, V, 242, § 1º)
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
(...)
V valorização da diversidade étnica e regional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos.
§ 1º - O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.
Direito de Acesso à Cultura (artigo 215, §3º, II e IV).
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
(...)
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual,visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
(...)
II produção, promoção e difusão de bens culturais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
(...)
IV democratização do acesso aos bens de cultura; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
Para tentar trazer um pouco de clareza ao tema, citamos uma série de conceituações de diversos autores:
 
José Ricardo Oriá Fernandes: Direitos culturais são aqueles em que “o indivíduo tem em relação à cultura da sociedade da qual faz parte, que vão desde o direito à produção cultural, passando pelo direito de acesso à cultura até o direito à memória histórica” [2]
Humberto Cunha Filho: “… os direitos culturais são aqueles afetos às artes, à memória coletiva e ao repasse de saberes, que asseguram aos seus titulares o conhecimento e uso do passado, interferência ativa no presente e possibilidade de previsão e decisão de opções referentes ao futuro, visando sempre a dignidade da pessoa humana” 
 
Alessane N`Daw: “… direitos culturais para cada povo consistem essencialmente no poder de manter, de fazer renascer, desenvolver e difundir os seus valores próprios. Para os indivíduos, estão ligados à exigência de condições econômicas e sociais capazes de assegurar a cada homem a possibilidade de desenvolver, ao máximo grau, o seu potencial criador, que está ligado à formação de sentimentos estéticos e à aquisição de conhecimento que permitam ao espírito exercer o seu direito de crítica.” 
 
Farida Saheed: “… os direitos culturais protegem os direitos de cada pessoa – individualmente, em comunidade com outros e como grupo de pessoas – para desenvolver e expressar sua humanidade e visão de mundo, os significados que atribuem a sua experiência e a maneira como o fazem. Os direitos culturais também podem ser considerados como algo que protege o acesso ao patrimônio e aos recursos culturais que permitem a ocorrência desses processos de identificação e desenvolvimento.” 
 
Patrice Meyer-Bisch: “Os direitos culturais podem ser definidos como os direitos de uma pessoa, sozinha ou coletivamente, de exercer livremente atividades culturais para vivenciar seu processo nunca acabado de identificação, o que implica o direito de acender aos recursos necessários para isso. São os direitos que autorizam cada pessoa, sozinha ou coletivamente, a desenvolver a criação de suas capacidades. Eles permitem a cada um alimentar-se da cultura como a primeira riqueza social; eles constituem a substância da comunicação, seja com o outro ou consigo mesmo, por meio das obras.” 
 
Concluindo, os direitos culturais são aqueles que tutelam a criação, transmissão, preservação e distribuição do patrimônio e do capital cultural, atividades essas basilares ao desenvolvimento da identidade e das capacidades do ser humano. Deixemos o aprofundamento dessa proposta teórica para outra oportunidade.
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão em seu Artigo XXII – Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela  cooperação  internacional  e  de  acordo  com  a  organização  e  recursos  de  cada  Estado,  dos  direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. 
O Artigo XXVII  –  1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.
Direitos da Natureza
A Natureza como sujeito de direitos e titular de dignidade
O homem é o principal poluidor e degradador da natureza, a despeito de sua racionalidade. Diante de tal constatação é preciso refletir sobre a (re)construção de uma relação de respeito e cuidado entre a humanidade e a natureza, tendo por premissa a igualdade, uma vez que as pessoas compõem mais um conjunto de ser vivo no planeta terra.
Natureza: O termo "natureza" faz referência aos fenômenos do mundo físico, e também à vida em geral. Geralmente não inclui os objetos construídos pelo homem. A palavra "natureza" provém da palavra latina natura, que significa "qualidade essencial, disposição inata, o curso das coisas e o próprio universo".
Meio Ambiente: é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural, e incluem toda a vegetação, animais, microorganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites.
Recursos naturais são bens que estão à disposição do Homem e que são usados para a sua sobrevivência, bem-estar e conforto. São considerados recursos naturais os bens que são extraídos da natureza de forma direta ou indireta, e são transformados para a utilização na vida do ser humano.
Recurso Renováveis: Qualquer coisa que possa se renovar é chamada de recurso renovável.  Animais, insetos, árvores e plantas são recursos renováveis. Mas nem todos são seres vivos. A luz do Sol, o vento e os marés são chamados de recursos renováveis '' de fluxo '' , pois eles são contínuos. Apesar de a água ser um recurso renovável , apenas 3% do total da água do mundo é utilizável. O resto está congelado ou é muito salgado para se usar.
Recursos não Renováveis: qualquer coisa que leve muito tempo para se formar novamente é um recurso natural não renovável. O carvão e o petróleo são recurso não renováveis. Isso porque eles levam milhões de anos para se formar. Outros recursos naturais não renováveis são: gás natural , minerais , como os diamantes, metais como o ferro, minério, cobre, ouro e prata. A quantidade de um recurso que está disponível, o tempo que leva para se renovar e seu uso é o que se considera para estabelecer o valor ou o preço de cada recurso natural.
Desenvolvimento Sustentável: A definição mais aceita é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Modelo de Desenvolvimento Sustentável
Todos os atores sociais (Estado, empreendedores, cidadãos, acadêmicos, engenheiros, mídia etc.) devem ter em mente que, por mais esforços que se faça para preservar a Natureza, sempre haverá elementos que, em certo grau, causam-lhe algum tipo de degradação. 
Desta feita, cabe aos homens – seres racionais – a tarefa de buscar soluções que diminuam os impactos negativos sobre o ecossistema em sentido amplo (planeta Terra), refletindo no bem-estar e na saúde de todos os seres vivos, incluindo aqui, as pessoas, os animais, as águas e demais elementos da flora. Já defendia o filósofo grego ARISTÓTELES que o homem justo é aquele que agrega todas as virtudes não apenas em benefício próprio, mas para o bem da coletividade.
A ética ambiental, concebida como um conjunto de princípios e regras morais que impõe uma relação de cuidado e respeito entre o homem e a natureza, é um aspecto de extrema relevância para o direito, devendo ser considerada pelos formuladores de políticas públicas (administrativas ou legislativas) voltadas para a proteção e a preservação dos recursos naturais.
Abordar a ética ambiental implica conciliar discurso e ação, com o intuito de alçar a responsabilidade social à regra motriz do agir humano, reconhecendo valores norteadores da relação homem-natureza. 
LEONARDO BOFF defende a ética do cuidado, fundada em duas premissas básicas: a autolimitação e a justa medida. A primeira (autolimitação) compreende “a renúncia necessária que fazemos de nossos desejos e da voracidade produtivista e consumista para salvaguardar a integridade e a sustentabilidade de nosso planeta”; de tal sorte que a ética do cuidado para com o ecossistema deva ser o mote do agir humano.
A justa medida, por sua vez,“está na base de todas as virtudes, porque a justa medida é o ótimo relativo, o equilíbrio entre o mais e o menos” (BOFF, 2010). 
Esse equilíbrio, no que diz respeito às ações humanas que geram impactos negativos ao meio ambiente, exige um exercício de cidadania ecológica, somado à vontade de mudar padrões de conduta.
No passo de ALBERTO ACOSTA, reconhece-se a necessidade de releitura de alguns institutos do Direito, com o propósito de se criar condições à defesa da tese de que a Natureza pode ser sujeito de direitos e titular de dignidade.
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Nessa linha de pensamento, defende-se, a exemplo da Constituição do Equador de 2008, que seja inserido de forma expressa na Constituição Federal de 1988 um capítulo sobre os direitos da natureza, com a finalidade de, não apenas reconhecer este macro ser vivo como sujeito de direitos e titular de dignidade, mas, sobretudo, para que se comece a construir uma nova relação entre a humanidade e os demais seres vivos (fauna e flora).
Natureza pode se tornar sujeito com direitos?
Conceder à natureza o status de sujeito de direito pode resignificar o conceito de “desenvolvimento” e fortalecer um paradigma anticapitalista no que tange o futuro do planeta, avaliam procurador, economista e cientista social.
Os Direitos da Natureza, compreendidos como o equilíbrio do que é bom para os seres humanos com o que é bom para as outras espécies do planeta, são um conceito que, juridicamente, pode ainda não ter penetrado a jurisprudência das cortes brasileiras, mas já foi aplicado em processo do Ministério Publico Federal (MPF) e tem uma sólida definição na Constituição equatoriana. 
Na Constituição do Equador de 2008, os Direitos da Natureza têm quatro artigos – do 71 ao 74 – que os definem e garantem. ... Já o artigo 74 afirma que “as pessoas, comunidades, povos e nações terão o direito a beneficiar-se do ambiente e das riquezas naturais que lhes permitam o bem viver”
A Constituição da República do Equador, assim dispõe:
Art. 72. A natureza ou Pachamama onde se reproduz e se realiza a vida, tem direito a que se respeite integralmente sua existência e a manutenção e regeneração de seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos.
Toda pessoa, comunidade, povoado, ou nacionalidade poderá exigir da autoridade pública o cumprimento dos direitos da natureza. Para aplicar e interpretar estes direitos se observarão os princípios estabelecidos na Constituição no que for pertinente.
O Estado incentivará as pessoas naturais e jurídicas e os entes coletivos para que protejam a natureza e promovam o respeito a todos os elementos que formam um ecosistema.
E se reconhecesse universalmente que, assim como o ser humano, a natureza tem direitos? 
Se reconhecer universalmente que a natureza, em todas as suas formas de vida, tem o direito de existir, persistir, manter e regenerar seus ciclos biológicos?
Se à natureza não fosse conferida a condição de objeto, mas o status de sujeito de direitos? 
Se reconhecer que, ao final das contas, a natureza não é simplesmente um item possível, explorável, descartável e manipulável – ou simplesmente uma “propriedade” – perante a lei?
O dispositivo constitucional equatoriano, de forma pioneira no mundo, eleva a natureza a sujeito de direitos. Não é pouca coisa, por certo. Significa, em poucas palavras, que a natureza pode reivindicar perante as autoridades públicas a defesa de seus direitos. E entre elas encontram-se as do Poder Judiciário.
Fácil é ver que aí se fez uma opção ecocêntrica. Saibamos ou não, temos todos, dentro de nossa mente, uma posição antropocêntrica ou ecocêntrica.
 Achamos que a natureza está a serviço do homem, que foi feito à imagem e semelhança de Deus ou cremos que somos apenas parte de algo maior e que compreende tudo o que nos rodeia. Não raro adotamos um antropocentrismo moderado, ou seja, os recursos naturais devem ser protegidos, porém em benefício do homem.
As decisões judiciais no Brasil, ainda que adotem uma ou outra posição, não costumam dizê-lo expressamente. Ao que se saiba, apenas um acórdão foi explícito ao adotar a posição antropocêntrica para absolver acusados de furto de areia de uma praia, no estado do Rio de Janeiro. Explicitamente, registrou a ementa que: “Com arrimo no art. 24 do CP, e por entender que o meio ambiente existe e há de ser preservado em razão e ordem do respeito de bem maior, que é o da humanidade, da sua dignidade de ser humano, daquele que busca subsistência digna e limpa, não há dúvida que as areias do mar serão sacrificadas e se for necessário que se sacrifique o meio ambiente em bem do homem, porque a terra e o mundo foram feitos para o homem, e não o homem para o mundo. (TRF 2ª Região, 1ª Turma, relatora Julieta Lunz, 27 de junho de 1997)
Em sentido contrário, ainda que não tão explicitamente, decidiu-se que um boto que se achava em um aquário de um shopping de São Paulo deveria ser devolvido ao seu habitat natural, no rio Formoso, Amazônia (TRF 3ª Região, ACP 3005.93.90, relatora Lúcia Figueiredo, 3 de fevereiro de1992). Recentemente, impetrou-se no STJ um Hábeas Corpus na defesa de um chipanzé. Um pedido de vista suspendeu o julgamento
Lição de ecocentrismo se encontra na carta escrita em 1854, pelo cacique de Seattle, em resposta ao presidente dos Estados Unidos da América que pretendia comprar suas terras: “Nós somos uma parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. As rochas escarpadas, o aroma das pradarias, o ímpeto dos nossos cavalos e o homem — todos são da mesma família. Assim, o grande chefe de Washington, mandando dizer que quer comprar nossa terra, está pedindo demais a nós índios.”
O Equador, certamente sob o manto da cultura indígena, que exerce grande poder de influência, legitimou a “Pachamama” como sujeito de direitos. Isto significa, sem maior aprofundamento, que recursos naturais podem ser partes na relação jurídica processual. Podem ser autores ou réus em uma ação civil. Assim, por exemplo, é possível que se autue, em nome de recursos naturais (árvores, rios, exemplares da fauna, etc.), uma ação inibitória da instalação de uma mineradora. Em um vôo de imaginação, vislumbre-se um processo com os dizeres: “Pescados del rio Blanco x Minería Oro de los Andes.”
Constituição Federal de 1988
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;   (Regulamento)     (Regulamento)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;  (Regulamento)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento)
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.(Regulamento)
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
....
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Aproveitamento dos Recursos em terras indígenas
CF/88, Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
No Brasil, seria difícil a implementação de tão radical mudança. Aqui a tradição é antropocêntrica, a Constituição é clara a respeito (artigo 225: todos têm direito a um meio ambiente sadio) e o todos aí são os seres humanos. Por outro lado, a doutrina não deixa margem a discussões. 
Como afirmam Rosa e Nelson Nery Jr. “Somente é parte legítima aquele que é autorizado pela ordem jurídica a postular em juízo. A norma trata tanto da legitimatio ad processum quanto da legitimatio ad causam ou material” (CPC Comentado, RT, 9ª. ed., p. 143). E legitimados são as pessoas, físicas ou jurídicas.
Mas, será isto absolutamente impossível? Talvez não. Afinal, se os problemas ambientais se agravarem a proteção legal tenderá a ser muito mais rígida. Mas, se a iniciativa viesse a ser implementada deste lado da América do Sul, quem representaria judicialmente a natureza? Se fosse dada legitimidade a qualquer do povo, como no Equador, não haveria um risco de aventuras jurídicas? E o meio ambiente cultural, poderia ser parte em uma ação contra o Estado (p. ex., centro histórico x município de São Luis do Paraitinga?). Podendo um animal ser autor, poderia também ser réu?
As indagações são muitas e a possibilidade do Brasil adotar tal prática são pequenas. Mas, não se olvide, não há muito tempo os escravos não eram considerados pessoas, não eram sujeitos de direitos. Em tempos de mudanças radicais, como o que vivemos, só se pode ter certeza de que de nada se pode ter certeza.
DIRETOS REPRODUTIVOS
O QUE SÃO DIREITOS REPRODUTIVOS?
Os Direitos Reprodutivos são constituídos por princípios e normas de direitos humanos que garantem o exercício individual, livre e responsável, da sexualidade e reprodução humana.
É, portanto, o direito subjetivo de toda pessoa decidir sobre o número de filhos e os intervalos entre seus nascimentos, e ter acesso aos meios necessários para o exercício livre de sua autonomia reprodutiva, sem sofrer discriminação, coerção, violência ou restrição de qualquer natureza.
A natureza dos Direitos Reprodutivos envolve direitos relativos:
a vida e à sobrevivência.
a saúde sexual e reprodutiva, inclusive, aos benefícios ao progresso científico.
a liberdade e à segurança.
a não-discriminação e o respeito às escolhas.
a informação e à educação para tomada de decisão.
a autodeterminação e livre escolha da maternidade e paternidade.
ao casamento, à filiação, à constituição de uma família.
a proteção social à maternidade, paternidade e à família, inclusive no trabalho.
DIREITOS REPRODUTIVOS E AS LEIS NACIONAIS
Os direitos humanos, em geral, são incorporados nas leis constitucionais como direitos fundamentais, e contam com proteções e garantias específicas e prioritárias para sua efetivação, como, por exemplo, a impossibilidade de ser suprimido por lei comum ou emenda, as conhecidas cláusulas pétreas. Nesse sentido, é importante a definição dos Direitos Reprodutivos como direitos humanos.
Um primeiro passo é identificar no ordenamento jurídico nacional instituições, instrumentos e mecanismos que permitam esta tradução e efetivação dos Direitos Reprodutivos. Esta ampla identificação deve destacar dispositivos legais e aspectos existentes nas leis constitucional, civil, penal, trabalhista, sanitária, e também nas políticas públicas, ou seja, deve buscar todas as fontes jurídicas que sirvam à operacionalização desses direitos, aplicando-as na perspectiva dos direitos humanos. Este é o principal esforço deste trabalho.
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988: 
OS AVANÇOS DO MARCO CONSTITUCIONAL
A Constituição Federal brasileira de 1988 é o principal marco institucional político e jurídico que reordenou todo o sistema brasileiro e impôs a adequação de todas as normas legais internas aos parâmetros dos direitos humanos. As premissas básicas que vêm permitindo avanços no campo dos Direitos Reprodutivos estão expressas na lei constitucional, que por sua posição hierárquica no sistema legal, devem prevalecer sobre as demais leis nacionais (infraconstitucionais). Nesse sentido, é um dos instrumentos legais mais importantes nosso sistema legal, e, em especial, na garantia e promoção dos Direitos Humanos e, consequentemente, dos Direitos Reprodutivos.
A lei constitucional reconhece expressamente o direito à vida, não apenas no seu sentido biológico, mas reconhece proteção à integridade física e moral, o respeito à intimidade, à vida privada, à honra e imagem da pessoa (art. 5.º inc. X), prevendo inclusive sanção penal e civil em face dos violadores.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
O direito à igualdade é afirmado, inicialmente, na expressão todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza (igualdade formal), e no decorrer dos próprios incisos do art. 5º , a Constituição Federal prevê regras de igualdade material, exigindo que o Estado estabeleça ações afirmativas que possibilitem a igualdade, de fato e de direito, por exemplo: entre homens e mulheres (5.º inc. I); o direito da presidiária de permanecer com seus filhos durante o período de amamentação (art. 5.º inc. L) e de toda população carcerária ter a integridade física e moral respeitada (art. 5.º inc. XLIX),considerando a vulnerabilidade destes segmentos às violações de direitos fundamentais, e as desigualdade de fato existentes para o exercício dos mesmos.
A igualdade entre homens e mulheres é garantida como direitos dos/as trabalhadores/as urbanos e rurais – vedando, por exemplo a proibição de diferenças de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor, estado civil ou deficiência; proteção do mercado de trabalho da mulher.
Em relação ao direito à liberdade, a Constituição Federal Brasileira adotou o princípio da liberdade de ação em geral, salvo em virtude de lei - “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5.º, inc. II). Contudo, ressalva a não restrição da liberdade nas hipóteses de manifestação do pensamento (5.º inc. IV), de consciência e de crença (5.º inc. VIII), no exercício do trabalho (5.º inc. XIII), de locomoção, exceto em casos de guerra (5.º inc. XV), de inviolabilidade da casa (5.º inc. XI), limitando dessa forma o próprio legislador.
Por fim, a lei constitucional só admite a restrição à liberdade após o devido processo legal, assegurando o contraditório, a ampla defesa e os mecanismos processuais para o exercício desses direitos (5.º inc. LXVIII a LXXIII), prevendo punição a qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (art. 5.º, inc. XLI).
Prevê, ainda, como direitos sociais, o acesso universal e gratuito à saúde e assistência social, e à educação baseada em princípios democráticos e de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
De forma específica, a Constituição Federal estabelece direitos e garantias relativos ao exercício dos Direitos Reprodutivos, que deverão ser contemplados nos vários campos do direito - civil, penal, trabalhista e saúde - formando um sistema especial de proteção e garantia.
Destacam-se os seguintes aspectos que serão aprofundados ao longo do trabalho:
a. Reconhece como direito social a proteção à maternidade (art. 6.º, caput), estabelecendo direitos no âmbito do trabalho - salário-família (art. 7.º, inc. XII), licença à gestante (art. 7.º, inc. XVIII), assistência gratuita à criança até seis anos de idade em creches e pré-escolas (art. 7.º, inc. XXV). 
b. No âmbito da seguridade social, garante a proteção à maternidade como um direito previdenciário e de assistência social (art. 201, inc. III e 203, I), e o acesso universal igualitário às ações e serviços de saúde (art. 196), especialmente o acesso à informação e aos meios para decidir e gozar do mais elevado padrão de saúde sexual e reprodutiva, livre de discriminações, coerções ou violências
(art. 226 § 7º).
c. Garante o direito de todos de constituírem livremente sua família e a igualdade entre os seus membros, e nesse sentido, reconhece a livre união de homem e mulher como entidade familiar (art. 226, §3.º); a família monoparental (art. 226, § 4.º), formada por qualquer dos ascendentes e seus descendentes; a igualdade de direitos e deveres na sociedade conjugal (art. 226 § 5.º), a igualdade de direitos dos filhos havidos ou não da relação do casamento ou por adoção (art. 227 § 6.º) e o direito de decidir livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a oportunidade de ter filhos (art. 226 § 7.º).
d. Garante expressamente o direito ao planejamento familiar atribuindo deveres ao Estado relacionado ao livre exercício deste direito. O parágrafo 7.º do art. 226 expressamente afirma princípios e direitos centrais para a operacionalidade do conceito de Direitos Reprodutivos:
“§ 7.º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.”
Todos esses direitos e garantias fundamentais têm sido utilizados nas argumentações jurídicas para a defesa de determinados Direitos Reprodutivos, como, por exemplo, o direito da 60 Capítulo 3 - A Lei Constitucional e os Direitos reprodutivos mulher ao aborto no caso de gravidez de feto com anencefalia, à contracepção de emergência, à não discriminação por orientação sexual dos candidatos à adoção de crianças etc.
Direitos da Pessoa com deficiência
Pessoas com deficiência são, antes de mais nada, PESSOAS. Pessoas como quaisquer outras, com protagonismos, peculiaridades, contradições e singularidades. Pessoas que lutam por seus direitos, que valorizam o respeito pela dignidade, pela autonomia individual, pela plena e efetiva participação e inclusão na sociedade e pela igualdade de oportunidades, evidenciando, portanto, que a deficiência é apenas mais uma característica da condição humana.
Em 2008, o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela ONU, bem como seu Protocolo Facultativo. O documento obteve, assim, equivalência de emenda constitucional, valorizando a atuação conjunta entre sociedade civil e governo, em um esforço democrático e possível.
Direitos da Pessoa com deficiência
Direito das Pessoas com Deficiência
a) Noções internacionais e constitucionais;
b) Estatuto da pessoa com deficiência, instituído pela Lei 13.146/2015;
c) Acessibilidade, com base na Lei 10.098/2000 e no Decreto 5.296/2004;
d) Prioridade de atendimento, a partir da Lei 10.048/2000 e  Decreto 5.296/2004;
e) Transporte coletivo da pessoa com deficiência, segundo a Lei 8.899/1994 e Decreto 3.691/2000.
f) Símbolo de identificação da pessoa com deficiência auditiva, segundo a Lei 8.160/1991.
g) Integração social da pessoa com deficiência, com base na Lei 7.853/1989 e Decreto 3.298/1999.
É muita coisa! Evidentemente, alguns editais variam conteúdos dentro dessa temática, outros, contudo, exploram todos esses conteúdos.
Aspectos Constitucionais
Dentro do estudo dos aspectos constitucionais, lembre-se que a CF fala, incorretamente, em “pessoa portadora de deficiência”, terminologia inadequada diante do “modelo social”, que surgiu em substituição ao modelo médico até então adotado.
De todo modo, `são os seguintes dispositivos constitucionais:
Art. 7º, XXXI – proibição de discriminação em relação a salário e critérios de admissão.
Art. 23, II – competência comum (U, E, DF e M) cuidar da saúde e assistência pública.
Art. 24, XIV – competência legislativa concorrente (U, E e DF) legislar sobre proteção e integração social das pessoas com deficiência.
Art. 37, VIII – reserva de cargos para pessoas com deficiência
Art. 40, §4º, I c/c art. 201, §1º – permissão para criação de requisitos e critérios diferenciados de aposentadoria para pessoa com deficiência.
Art. 100, §2º, da CF – preferência para recebimento de créditos (3 X RPV)
Art. 203, IV, da CF – objetivo da assistência social: a) habilitação e reabilitação da pessoa com deficiência; b) 1 SM ao deficiência hipossuficiente.
Art. 208, III, da CF – atendimento educacional especializado (preferencialmente na rede regular de ensino).
Art. 227, II  – programas de prevenção e atendimento especializado, promoção da integração social.
Art. 227, §2º c/c art. 244- normas de acessibilidade
Relações Étnicos Raciais
Educação, relações étnico-raciais e a Lei 10.639/03
A Lei 10.639/03 que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio; o Parecer do CNE/CP 03/2004 que aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas; e a Resolução CNE/CP 01/2004, que detalha os direitos e as obrigações dos entes federados ante a implementação da lei compõem um conjunto de dispositivos legais considerados como indutores de uma política educacional voltada para a afirmação da diversidade cultural e da concretização de uma educação das relações étnico-raciais nas escolas, desencadeadaa partir dos anos 2000. É nesse mesmo contexto que foi aprovado, em 2009, o Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2009).
O percurso de normatização decorrente da aprovação da Lei nº 10.639/03 deveria ser mais conhecido pelos educadores e educadoras das escolas públicas e privadas do país. Ele se insere em um processo de luta pela superação do racismo na sociedade brasileira e tem como protagonistas o Movimento Negro e os demais grupos e organizações partícipes da luta antirracista. Revela também uma inflexão na postura do Estado, ao pôr em prática iniciativas e práticas de ações afirmativas na educação básica brasileira, entendidas como uma forma de correção de desigualdades históricas que incidem sobre a população negra em nosso país.
É importante desmistificar a ideia de que tais políticas só podem ser implementadas por meio da política de cotas e que, na educação, somente o ensino superior é passível de ações afirmativas. Tais políticas possuem caráter mais amplo, denso e profundo. Ao considerar essa dimensão, a Lei nº 10.639/03 pode ser interpretada como uma medida de ação afirmativa, uma vez que tem como objetivo afirmar o direito à diversidade étnico-racial na educação escolar, romper com o silenciamento sobre a realidade africana e afro-brasileira nos currículos e práticas escolares e afirmar a história, a memória e a identidade de crianças, adolescentes, jovens e adultos negros na educação básica e de seus familiares.
Conquanto um preceito de caráter nacional, a Lei nº 10.639/03 se volta para a correção de uma desigualdade histórica que recai sobre um segmento populacional e étnico-racial específico, ou seja, os negros brasileiros. Ao fazer tal movimento, o Estado brasileiro, por meio de uma ação educacional, sai do lugar da neutralidade estatal diante dos efeitos nefastos do racismo na educação escolar e na produção do conhecimento e se coloca no lugar de um Estado democrático, que reconhece e respeita as diferenças étnico-raciais e sabe da importância da sua intervenção na mudança positiva dessa situação.
Mas, afinal, o que queremos dizer com o termo “relações étnico-raciais” ao pensarmos em projetos, políticas e práticas voltadas para a implementação da Lei nº 10.639/03 enquanto uma alteração da Lei nº 9394/96 – LDB? São relações imersas na alteridade e construídas historicamente nos contextos de poder e das hierarquias raciais brasileiras, nos quais a raça opera como forma de classificação social, demarcação de diferenças e interpretação política e identitária. Trata-se, portanto, de relações construídas no processo histórico, social, político, econômico e cultural.
Mas o que queremos dizer com os conceitos raça e etnia quando os introduzimos na reflexão sobre as relações étnico-raciais? Nos limites deste artigo, destacaremos alguns aspectos considerados principais. O primeiro deles se refere à concepção de raça presente nesta reflexão.
Sociólogos, antropólogos, psicólogos sociais e educadores, bem como o Movimento Negro, quando usam o conceito de raça, não o fazem alicerçados na ideia de raças superiores e inferiores como originalmente foi usado pela ciência no século XIX. Pelo contrário, usam-no com uma nova interpretação que se baseia na dimensão social e política dele. E ainda o empregam porque a discriminação racial e o racismo existentes na sociedade brasileira se dão não apenas em razão dos aspectos culturais presentes na história e na vida dos descendentes de africanos, no Brasil e na diáspora, mas também graças à relação que se faz entre esses e os aspectos físicos observáveis na estética corporal desses sujeitos.
Por tudo isso é que dizemos que as diferenças, mais do que dados da natureza, são construções sociais, culturais, políticas e identitárias. Aprendemos, desde criança, a olhar, identificar e reconhecer a diversidade cultural e humana. Contudo, como estamos imersos em relações de poder e de dominação política e cultural, nem sempre percebemos que aprendemos a classificar não somente como uma forma de organizar a vida social, mas também como uma maneira de ver as diferenças e as semelhanças de forma hierarquizada e dicotômica: perfeições e imperfeições, beleza e feiúra, inferiores e superiores. Esse olhar e essa forma de racionalidade precisam ser superados.
A escola tem papel importante a cumprir nesse debate. E é nesse contexto que se insere a alteração da LDB, ou seja, a Lei nº 10.639/03. Uma das formas de interferir pedagogicamente na construção de uma pedagogia da diversidade e garantir o direito à educação é saber mais sobre a história e a cultura africanas e afro-brasileiras. Esse entendimento poderá nos ajudar a superar opiniões preconceituosas sobre os negros, a África, a diáspora; a denunciar o racismo e a discriminação racial e a implementar ações afirmativas, rompendo com o mito da democracia racial.
Referências
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CUNHA FILHO, Francisco Humberto. Os direitos culturais como direitos fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 34.
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[3] FACHIN, Luiz Edson. Questões do Direito Civil brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro:  Renovar, 2008.a. p. 7-8.
Esse processo de constitucionalização do sistema normativo, amparado, em particular, nos direitos humanos fundamentais, é o que a doutrina chama de filtragem constitucional. Nesse sentido, ver BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Saraiva, 2003, p. 340. Das lições do referido autor, contempla-se a concepção de que filtragem constitucional “consiste em que toda a ordem jurídica deve ser lida e apreendida sob a lente da Constituição, de modo a realizar os valores nelaconsagrados. A constitucionalização do direito infraconstitucional não identifica apenas a inclusão na Lei Maior de normas próprias de outros domínios, mas, sobretudo, a reinterpretação de seus institutos sob uma ótica constitucional”. Ver, ainda, FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil à Luz do Novo Código Civil Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar. 2003; TEPEDINO, Gustavo. “Crise de Fontes Normativas e Técnica Legislativa na Parte Geral do Código Civil de 2002”.  In: TEPEDINO, Gustavo( coordenador ). A Parte Geral do Novo Código Civil: Estudos na Perspectiva Civil- Constitucional. Rio de Janeiro: Editora Renovar. 2. ed. 2003. p.XV; e BARROSO, Luis Roberto. “Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito ( O Triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil )”. In: DE SOUZA NETO, Cláudio Pereira e Daniel Sarmento ( coordenadores ) A Constitucionalização do Direito: Fundamentos Teóricos e Aplicações Específicas. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007.
SARMENTO, Daniel.  Direitos Fundamentais e Relações Privadas. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.  p. 124-125.
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