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1 Apostila Teórica – Administração Pública – Professor Ygor Loureiro SUMÁRIO A Evolução da Administração Pública e a Reforma do Estado................................... 2 Estrutura organizacional do Estado: Três Poderes.................................................... 6 As três formas de Administração Pública.......................................................... ........ 7 O Paradigma pós-burocrático....................................................................................10 Governança e Governabilidade..................................................................................11 Excelência nos Serviços Públicos.............................................................................12 Excelência na Gestão dos Serviços Públicos............................................................15 Gestão de resultados na prestação do serviço público............................................. 27 Convergências e Diferenças entre a Gestão Pública e a Gestão Privada................. 35 Empreendedorismo governamental e novas lideranças no setor público.................. 36 O Paradigma do cliente na gestão pública............................................................... 40 Qualidade................................................................................................................ 41 Reengenharia ........................................................................................... ...............55 Impactos sobre a configuração das organizações públicas e processos de gestão....57 Decreto 5.378/2005................................................................................................. 60 Decreto 9.094/2017.................................................................................................. 64 2 A Evolução da Administração Pública e a Reforma do Estado • Tendo em vista as práticas patrimonialistas (rent-seeking ou privatização do Estado – usar a máquina administrativa com fins privados) correntes em nossa cultura, Vargas optou pela adoção de um modelo que pautasse pelo controle minucioso das atividades-meio, ou seja, acreditou que a burocracia (modelo idealizado por Weber), dado seu caráter rígido e hierarquizado, poderia ordenar a máquina administrativa em nosso País. Criava-se o primeiro modelo estruturado de administração do Brasil. • Para facilitar sua implementação, contou com o apoio do DASP (Departamento Administrativo do Setor Público). Nessa época, em virtude da desconfiança total que havia no servidor público, o modelo burocrático revelava-se o mais adaptado. Com isso, Vargas almejava basicamente três coisas: criar uma estrutura administrativa organizada (uniforme), estabelecer uma política de pessoal com base no mérito e acabar com o nepotismo e corrupção existentes. • Com o passar do tempo, percebeu-se que a burocracia revelou ser um modelo pouco flexível, inadequado em cenários dinâmicos. • A partir daí, é possível identificar diversas tentativas de desburocratizar a máquina: a criação do COSB (Comitê de Simplificação da Burocracia), da SEMOR (Secretaria de Modernização da Reforma Administrativa), o Decreto-Lei 200/67, o PND (Programa Nacional de Desburocratização), dentre outros. • Em 1995, com a edição do plano diretor, começa a implantação, no Brasil, do chamado modelo gerencial. O modelo implica administrar a res publica de forma semelhante ao setor privado, de forma eficiente, com a utilização de ferramentas que consigam maximizar a riqueza do acionista, ou a satisfação do usuário (considerando-se a realidade do serviço público). Busca-se a adoção de uma postura mais empresarial, empreendedora, aberta a novas ideias e voltada para o incremento na geração de receitas e no maior controle dos gastos públicos. • Começa a ser difundida a ideia de devolução ao setor privado daqueles serviços que o Poder Público não tem condições de prestar com eficiência (privatizações), devendo o Estado devolver aquilo que cabe intrinsecamente a ele fazer (Diplomacia, Segurança, Fiscalização, etc.). • O que propôs, na verdade, foi a quebra de um paradigma, a redefinição do que caberia efetivamente ao Estado fazer e o que deveria ser delegado ao setor privado. De acordo com Osborne & Gaebler, em “Reinventando o Governo”, são destacados princípios a serem observados na construção deste modelo: 1. Formação de parcerias. 2. Foco em resultados. 3. Visão estratégica. 4. Estado catalisador, em vez de remador. 5. Visão compartilhada e busca da excelência. 3 • Assim, o modelo gerencial (puro, inicial), buscou responder com maior agilidade e eficiência aos anseios da sociedade, insatisfeita com serviços recebidos do setor público. Tal modelo contudo, representou o início do Managerialism (Gerencialismo), que, atualmente, congrega ainda, duas correntes: o Consumerism (Consumismo) e o Public Service Orientation (Orientação do Serviço Público - PSO). • A preocupação inicial do modelo gerencial foi o incremento da eficiência, tendo em vista as disfunções do modelo burocrático. Nessa fase, o usuário do serviço público é visto tão somente como o financiador do sistema. • No Consumerism, há o incremento na busca pela qualidade, decorrente da mudança do modo de ver o usuário do serviço, de mero contribuinte para cliente consumidor de serviços públicos. Nesse momento, há uma alteração no foco da organização: a burocracia, que normalmente é voltada para si mesma, passa a observar com maior cuidado a razão de sua existência: a satisfação de seu consumidor. • Com isso, buscar-se-á proporcionar um atendimento diferenciado com vistas ao atendimento de necessidades individualizadas. • Na fase mais recente, o entendimento de que o usuário do serviço deve ser visto como cliente-consumidor perdeu força, pois a ideia de consumidor poderia levar a um entendimento melhor para alguns e pior para outros, num universo em que todos têm os mesmos direitos. • É possível perceber isso quando levamos em consideração que clientes mais bem organizados e estruturados teriam mais poder para pleitear mais ou melhores serviços, culminando em prejuízo para os menos estruturados. Por isso, nesta abordagem é preferível o uso do conceito de cidadão, que, em vez de buscar a sua satisfação, estaria voltado para a consecução do bem-comum. O que se busca é a equidade, ou seja, o tratamento igual a todos os que se encontram em situações equivalentes. • Os cidadãos teriam, além de direitos, obrigações perante à sociedade, tais como a fiscalização da res publica, vindo a cobrar, inclusive, que os maus gestores sejam responsabilizados (accountability) por atos praticados com inobservância da Legislação ou do interesse público. • A fim de aprimorar seu aprendizado, a partir de agora, estaremos reproduzindo extratos do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. • Estado e sociedade formam, numa democracia, um todo indivisível: o Estado, cuja competência e limites de atuação estão definidos precipuamente na Constituição. • Deriva de seu poder de legislar e de tributar a população, da legitimidade que lhe outorga a cidadania, via processo eleitoral. • A sociedade, por seu turno, manifesta seus anseios e demandas por canais formais ou informais de contato com as autoridades constituídas. 4 • É pelo diálogo democrático entre o Estado e a sociedade que se definem as prioridades a que o Governo deve ater-se para a construção de um país mais próspero e justo. • Nos últimos anos, assistimos em todo o mundo a um debate acalorado – aindalonge de concluído – sobre o papel que o Estado deve desempenhar na vida contemporânea e o grau de intervenção que deve ter na economia. No Brasil, o tema adquire relevância particular, tendo em vista que o Estado, em razão do modelo de desenvolvimento adotado, desviou-se de suas funções precípuas para atuar com grande ênfase na esfera produtiva. • Nos últimos anos, assistimos em todo o mundo a um debate acalorado – ainda longe de concluído – sobre o papel que o Estado deve desempenhar na vida contemporânea e o grau de intervenção que deve ter na economia. No Brasil, o tema adquire relevância particular, tendo em vista que o Estado, em razão do modelo de desenvolvimento adotado, desviou-se de suas funções precípuas para atuar com grande ênfase na esfera produtiva. Essa maciça interferência do Estado no mercado acarretou distorções crescentes neste último, que passou a conviver com artificialismos que se tornaram insustentáveis na década de 1990. • Sem dúvida, num sistema capitalista, Estado e mercado, direta ou indiretamente, são as duas instituições centrais que operam na coordenação dos sistemas econômicos. Se uma delas apresenta funcionamento irregular, é inevitável que nos deparemos com uma crise. Foi assim nos anos 1920 e 1930, em que foi o mau funcionamento do mercado que trouxe em seu bojo uma crise econômica de grandes proporções. Já nos anos 1980, é a crise do Estado que põe em cheque o modelo econômico em vigência. • É importante ressaltar que a redefinição do papel do Estado é um tema de alcance universal nos anos 1990. No Brasil, esta questão adquiriu importância decisiva, tendo em vista o peso da presença do Estado na economia nacional. • Tornou-se, consequentemente, inadiável equacionar a questão da reforma ou da reconstrução do Estado, que já não consegue atender com eficiência à sobrecarga de demandas a ele dirigidas, sobretudo na área social. A reforma do Estado não é, assim, um tema abstrato: ao contrário, é algo cobrado pela cidadania, que vê frustrada suas demandas e expectativas. • A crise do Estado teve início nos anos 1970, mas só nos anos 1980 se tornou evidente. Paralelo ao descontrole fiscal, diversos países passaram a apresentar redução nas taxas de crescimento econômico, aumento do desemprego e elevados índices de inflação. A causa da desaceleração econômica nos países desenvolvidos e dos graves desequilíbrios na América Latina e no Leste Europeu era a crise do Estado, que não soubera processar de maneira adequada a sobrecarga de demandas a ele dirigidas. 5 • A desordem econômica expressava agora a dificuldade do Estado em continuar a administrar as crescentes expectativas em relação à política de bem-estar aplicada com relativo sucesso no pós-guerra. • A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão foram o marco da crise do mercado e do Estado liberal. Surge em seu lugar um novo formato de Estado, que assume um papel decisivo na promoção do desenvolvimento econômico e social. O Estado passa a desempenhar um papel estratégico na coordenação da economia capitalista, promovendo poupança forçada alavancando o desenvolvimento econômico, corrigindo as distorções do mercado e garantindo uma distribuição de renda mais igualitária. • Não obstante, nos últimos 20 anos esse modelo mostrou-se superado, vítima de distorções decorrentes da tendência observada em grupos de empresários e de funcionários, que buscam utilizar o Estado em seu próprio benefício, e da aceleração do desenvolvimento tecnológico e da globalização da economia mundial, que tornaram a competição entre as nações muito mais aguda. • A crise do Estado define-se: 1. Como uma crise fiscal, caracterizada pela crescente perda do crédito por parte do Estado e pela poupança pública que se torna negativa, 2. Como o esgotamento da estratégia estatizante de intervenção do Estado, a qual se reveste de várias formas: o Estado do bem-estar social nos países desenvolvidos, a estratégia de substituição de importações no terceiro mundo e o estatismo nos países comunistas. 3. Como a superação da forma de administrar o Estado, isto é, a superação da administração pública burocrática. • No Brasil, embora esteja presente desde os anos 1970, a crise do Estado somente se tornará clara a partir da segunda metade dos anos 1980. Suas manifestações mais evidentes são a própria crise fiscal e o esgotamento da estratégia de substituição de importações, que se insere num contexto mais amplo de superação das formas de intervenção econômica e social do Estado. • Adicionalmente, o aparelho do Estado concentra e centraliza funções, e se caracteriza pela rigidez dos procedimentos e excesso de normas e regulamentos. • A reação imediata à crise – ainda nos anos 1980, logo após a transição democrática – foi ignorá-la. Uma segunda resposta igualmente inadequada foi a neoliberal, caracterizada pela ideologia do Estado mínimo. Ambas revelaram -se irrealistas: a primeira, porque subestimou tal desequilíbrio; a segunda, porque utópica. Só em meados dos anos 1990 surge uma resposta consistente com o desafio de superação da crise: a ideia da reforma ou reconstrução do Estado, de forma a resgatar sua autonomia financeira e sua capacidade de implementar políticas públicas. 6 • Neste sentido, são inadiáveis: o ajustamento fiscal duradouro, as reformas econômicas orientadas para o mercado, que, acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, garantam a concorrência interna e criem as condições para o enfrentamento da competição internacional. A reforma da previdência social. A inovação dos instrumentos de política social, proporcionando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os serviços sociais. A reforma do aparelho do estado, com vistas a aumentar sua “governança”, ou seja, sua capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas. • Cabe aos ministérios da área econômica, particularmente aos da Fazenda e do Planejamento, proporem alternativas com vistas à solução da crise fiscal. Aos ministérios setoriais, compete rever as políticas públicas, em consonância com os novos princípios do desenvolvimento econômico e social. A atribuição do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado é estabelecer as condições para que o governo possa aumentar sua governança. Para isso, sua missão específica é a de orientar e instrumentalizar a reforma do aparelho do Estado, nos termos definidos pela Presidência através deste Plano Diretor. Estrutura organizacional do Estado: Três Poderes • Entende-se por aparelho do Estado a administração pública em sentido amplo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em seus três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e três níveis (União, estados-membros e municípios). • O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela cúpula dirigente dos três Poderes, por um corpo de funcionários e pela força militar. O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o aparelho, porque compreende adic ionalmente o sistema constitucional-legal, que regula a população nos limites de um território. • O Estado é a organização burocrática que tem o monopólio da violência legal, é o aparelho que tem o poder de legislar e tributar a população de um determinado território. É importante frisar que a reforma do Estado é um projeto amplo que diz respeito às várias áreas do governo e, ainda, ao conjunto da sociedade brasileira, enquanto que a reforma do aparelho do Estado tem um escopo mais restrito: está orientada para tornar a administração pública mais eficiente e voltada para a cidadania. • A reforma do Estado deve ser entendida dentro do contextoda redefinição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento. • No plano econômico, o Estado é essencialmente um instrumento de transferências de renda, que se torna necessário dada a existência de bens públicos e de economias externas, que limitam a capacidade de alocação de recursos do mercado. Para realizar essa função redistribuidora ou realocadora, o Estado coleta 7 impostos e os destina aos objetivos clássicos de garantia de ordem interna e da segurança externa, aos objetivos sociais de maior justiça ou igualdade e aos objetivos econômicos de estabilização e desenvolvimento. Para realizar esses dois últimos objetivos, que se tornaram centrais neste século, o Estado tendeu a assumir funções diretas de execução. • As distorções e ineficiências que daí resultam deixaram claro, entretanto, que reformar o Estado significa transferir para o setor privado as atividades que podem ser controladas pelo mercado. Daí a generalização dos processos de privatização das empresas estatais. • Neste plano, entretanto, salientaremos um outro processo tão importante quanto, e que, no entanto não está tão claro: a descentralização para o setor público não- estatal da execução de serviços que não envolvem o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado, como é o caso dos serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica. Chamaremos a esse processo de “publicização”. As três formas de Administração Pública • A reforma do aparelho do Estado tornou-se imperativa nos anos 1990 por uma segunda razão. Não apenas ela se constituiu em uma resposta à crise generalizada do Estado, mas também está sendo caracterizada como uma forma de defender o Estado enquanto res publica, enquanto coisa pública, enquanto patrimônio que, sendo público, é de todos e para todos. • A defesa da coisa pública vem sendo realizada nas democracias modernas em dois níveis distintos: o nível político e o administrativo. • No nível político, temos as instituições fundamentais da democracia, através das quais se defendem não apenas os direitos individuais e sociais dos cidadãos, mas também os “direitos públicos” à participação igualitária na coisa pública. As eleições livres e a liberdade de pensamento e de imprensa são formas de defender o cidadão e a coisa pública. A explicitação dos direitos públicos ao patrimônio que é de todos é um passo que está hoje sendo dado em todo o mundo. • A denúncia da “privatização” do Estado pela esquerda corresponde à denúncia da direita de que o Estado e a sociedade estão sendo vítimas da prática generalizada do rent seeking, da busca de rendas ou vantagens extramercados para grupos determinados através do controle do Estado. Ainda no plano democrático, a prática cada vez mais frequente da participação e controle direto da administração pública pelos cidadãos, principalmente no nível local, é uma nova forma de defender a coisa pública. • No plano administrativo, a administração pública burocrática surgiu no século passado conjuntamente com o Estado liberal, exatamente como uma forma de defender a coisa pública contra o patrimonialismo. Na medida, porém, em que o 8 Estado assumia a responsabilidade pela defesa dos direitos sociais e crescia em dimensão, foi-se percebendo que os custos dessa defesa podiam ser mais altos que os benefícios do controle. Por isso, neste século as práticas burocráticas vêm sendo substituídas por um novo tipo de administração: a administração gerencial. • A reforma do aparelho do Estado não pode ser concebida fora da perspectiva de redefinição do papel do Estado e, portanto, pressupõe o reconhecimento prévio das modificações observadas em suas atribuições ao longo do tempo. • Desta forma, partindo-se de uma perspectiva histórica, verificamos que a administração pública – cujos princípios e características não devem ser confundidos com os da administração das empresas privadas – evoluiu através de três modelos básicos: a administração pública patrimonialista, a burocrática e a gerencial. • Essas três formas se sucedem no tempo, sem que, no entanto, qualquer uma delas seja inteiramente abandonada. Administração pública patrimonialista • No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. • Os cargos são considerados prebendas. A res publica não é diferenciada das res principis. Em consequência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. • No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo momento histórico, a administração patrimonialista torna-se uma excrescência inaceitável. Administração pública burocrática • Surge na segunda metade do século XIX, na época do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. • Constituem princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal. • Os controles administrativos visando a evitar a corrupção e o nepotismo são sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores públicos e nos cidadãos que a eles dirigem demandas. Por isso, são sempre necessários controles rígidos dos processos, como por exemplo na admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a demandas. • Por outro lado, o controle – a garantia do poder do Estado – transforma-se na própria razão de ser do funcionário. Em consequência, o Estado volta-se para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir à sociedade. A 9 qualidade fundamental da administração pública burocrática é a efetividade no controle dos abusos. • Seu defeito, a ineficiência, a auto-referência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos cidadãos vistos como clientes. Esse defeito, entretanto, não se revelou determinante na época do surgimento da administração pública burocrática porque os serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a propriedade. Administração pública gerencial • Emerge na segunda metade do século XX, como resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do modelo anterior. • A eficiência da administração pública – a necessidade de reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário – torna-se essencial. A reforma do aparelho do Estado passa a ser orientada pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços e desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações. • A administração pública gerencial constitui um avanço e, até um certo ponto, um rompimento com a administração pública burocrática, mas está apoiada na anterior, da qual conversa, embora flexibilizando, alguns dos seus princípios fundamentais, como a admissão segundo rígidos critérios de mérito, a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de desempenho, o treinamento sistemático. • A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa de basear-se nos processospara concentrar-se nos resultados, e não na rigorosa profissionalização da administração pública, que continua um princípio fundamental. • Na administração pública gerencial, a estratégia volta-se: 1. Para a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade. 2. Para a garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição para que possa atingir os objetivos contratados. 3. Para o controle ou cobrança a posteriori dos resultados. • Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer concorrência entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. 10 • A administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos para os resultados. • A administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, todavia a administração de empresas está voltada para o lucro privado, interesses dos acionistas, esperando-se que, através do mercado, o interesse coletivo seja atendido. A administração pública gerencial está diretamente voltada para o interesse público. • Na burocracia pública clássica existe uma noção muito clara e forte do interesse público. A diferença porém está no entendimento do significado do interesse público, que não pode ser confundido com o interesse do próprio Estado. • Para a administração pública burocrática, o interesse público é frequentemente identificado com a afirmação do poder do Estado. Os administradores públicos terminam por direcionar uma parte substancial das atividades e dos recursos do Estado para o atendimento das necessidades da própria burocracia, identificada com o poder do Estado. O conteúdo das políticas públicas é segundo plano. A administração pública gerencial nega essa visão do interesse público, relacionando-o com o interesse da coletividade • A administração pública gerencial vê o cidadão como contribuinte de impostos e como cliente dos seus serviços. Os resultados da ação do Estado são considerados bons não porque os processos administrativos estão sob controle e são seguros, como quer a administração pública burocrática, mas porque as necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas. O Paradigma pós-burocrático • O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige formas f lexíveis de gestão, horizontalização de estruturas, descentralização de funções, incentivos à criatividade. • Contrapõe-se à ideologia do formalismo e do rigor técnico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática, à recompensa pelo desempenho e à capacitação permanente, que já eram características da boa administração burocrática, acrescentam-se os princípios da orientação para o cidadão-cliente, do controle por resultados, e da competição administrada. • No presente momento, uma visão realista, da reconstrução do aparelho do Estado em bases gerenciais deve levar em conta a necessidade de equacionar as assimetrias de correntes da persistência de aspectos patrimonialistas na administração contemporânea, bem como dos excessos formais e anacronismos do modelo burocrático tradicional. 11 • Para isso, é fundamental ter clara a dinâmica da administração racional -legal ou burocrática. Não se trata simplesmente de descartá-la, mas sim de considerar os aspectos em que está superada e as características que ainda se mantêm válidas como formas de garantir efetividade à administração pública. • O modelo gerencial tornou-se realidade no mundo desenvolvido quando, através da definição clara de objetivos para cada unidade da administração, da descentralização, da mudança de estruturas organizacionais e da adoção de valores e de comportamentos modernos no interior do Estado, se revelou mais capaz de promover o aumento da qualidade e da eficiência dos serviços sociais oferecidos pelo setor público. Governança e Governabilidade • A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste fiscal devolve ao Estado a capacidade de definir e implementar políticas públicas. • Através da liberalização comercial, o Estado abandona a estratégia protecionista da substituição de importações. O programa de privatizações reflete a conscientização da gravidade da crise fiscal e da correlata limitação da capacidade do Estado de promover poupança forçada por meio das empresas estatais. • Através desse programa, transfere-se para o setor privado a tarefa da produção que, em princípio, este realiza de forma mais eficiente. Finalmente, através de um programa de publicização, transfere-se para o setor público não-estatal a produção dos serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecendo-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento e controle. • Desse modo, o Estado reduz seu papel de executor ou prestador direto de serviços, mantendo-se, entretanto, no papel de regulador e provedor ou promotor destes, principalmente dos serviços sociais, como educação e saúde, que são essenciais, para o desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano: para a democracia, na medida em que promovem cidadãos; e para uma distribuição de renda mais justa, na medida que o mercado é incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à demanda de mão-de-obra não-especializada. • Como promotor desses serviços, o Estado continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a participação da sociedade. • Nesta nova perspectiva, busca-se o fortalecimento das funções de regulação e de coordenação do Estado, particularmente no nível federal, e a progressiva descentralização vertical, para os níveis estadual e municipal, das funções executivas no campo da prestação de serviços sociais e de infra-estrutura. • Considerando esta tendência, pretende-se reforçar a governança – a capacidade de governo do Estado – através da transição programada de um tipo de administração pública burocrática, rígida e ineficiente, voltada para si própria e para 12 o controle interno, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento do cidadão. • O governo brasileiro não carece de “governabilidade”, ou seja, de poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio com que conta na sociedade civil. Enfrenta, entretanto, um problema de governança, na medida em que sua capacidade de implementar as políticas é limitada pela rigidez e ineficiência da máquina administrativa. Excelência nos Serviços Públicos • Quando falamos de excelência nos serviços públicos, estamos nos referindo a um serviço público de qualidade à sociedade. • Segundo o Gespública, “Excelência em gestão pública pressupõe atenção prioritária ao cidadão e à sociedade na condição de usuários de serviços públicos e destinatários da ação decorrente do poder de Estado exercido pelas organizações públicas. As organizações públicas, mesmo as que prestam serviços exclusivos de Estado, devem submeter-se à avaliação de seus usuários, obter o conhecimento necessário para gerar produtos e serviços de valor para esses cidadãos e, com isso, proporcionar-lhes maior satisfação. Esse fundamento envolve não apenas o cidadão individualmente, mas também todas as formas pelas quais se faça representar: empresas, associações, organizações e representaçõescomunitárias.” • É importante saber quais são as necessidades dos cidadãos e buscar atendê-los da melhor forma possível. • A partir da década de 1990, diversos programas buscavam a evolução da qualidade na administração pública. • No governo Collor, foi criado o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – PBQP. Seu objetivo era aumentar a competitividade das empresas brasileiras dentro de um cenário de abertura comercial, pois havia a preocupação de que o setor privado não estivesse em condições de igualdade com os concorrentes estrangeiros. O setor público foi inserido como subprograma - Programa da Qualidade no Setor Público – PQSP (posteriormente, sendo transformado em um programa separado). O foco era na melhoria dos processos. • No governo FHC, o PQSP transformou-se no Programa da Qualidade e Participação da Administração Pública (QPAP), com foco nas ferramentas da gestão da qualidade e com o objetivo de modernização do aparelho estatal. Além disso, ocorreu um grande esforço para introduzir a administração gerencial. • No caderno MARE n°4, que analisa o programa de qualidade (em 1997), fica evidenciada a preocupação do governo com a mudança de paradigma: “O Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública é o principal instrumento de aplicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho Estado, propondo-se a introduzir no Setor Público as mudanças de valores e 13 comportamentos preconizados pela Administração Pública Gerencial, e, ainda, viabilizar a revisão dos processos internos da Administração Pública com vistas à sua maior eficiência e eficácia.“ • De acordo ainda com a publicação, “ainda que considerada a debilidade do desempenho no setor público frente aos resultados da iniciativa privada, o saldo alcançado pelos esforços de sensibilizar as organizações públicas foi positivo. A posição, hoje, não é mais de marco zero, registrando-se inúmeras instituições públicas federais, estaduais e municipais que já aderiram à prática de implantar programas de Qualidade, recebendo, por isso, manifestação positiva da sociedade.” • O setor público não tinha acompanhado o dinamismo do setor privado. Entretanto, entendia-se que existiam progressos a serem comemorados. • Em 2000, foi criado o Programa da Qualidade no Serviço Público – PQSP, inserindo o foco na satisfação dos cidadãos (usuários dos serviços públicos). • Em 2005, foi instituído o atual GESPÚBLICA, Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização, unificando o programa de qualidade com o de desburocratização. Objetivos do GESPÚBLICA Art. 2° O GESPÚBLICA deverá contemplar a formulação e implementação de medidas integradas em agenda de transformações da gestão, necessárias à promoção dos resultados preconizados no plano plurianual, à consolidação da administração pública profissional voltada ao interesse do cidadão e à aplicação de instrumentos e abordagens gerenciais, que objetivem: I - eliminar o déficit institucional, visando ao integral atendimento das competências constitucionais do Poder Executivo Federal; II - promover a governança, aumentando a capacidade de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas; III - promover a eficiência, por meio de melhor aproveitamento dos recursos, relativamente aos resultados da ação pública; IV - assegurar a eficácia e efetividade da ação governamental, promovendo a adequação entre meios, ações, impactos e resultados; V - promover a gestão democrática, participativa, transparente e ética. • Na busca destes objetivos, o GESPÚBLICA elaborou o Modelo de Excelência em Gestão Pública – MEGP, que tem como base os princípios constitucionais da administração pública e, como pilares, os fundamentos da excelência gerencial. 14 Princípios da Administração Pública • Legalidade • Impessoalidade • Moralidade • Publicidade • Eficiência Fundamentos da excelência gerencial • Pensamento Sistêmico: entendimento das relações de interdependência entre os diversos componentes de uma organização, bem como entre a organização e o ambiente externo, com foco na sociedade. • Aprendizado organizacional: busca contínua e alcance de novos patamares de conhecimento, individuais e coletivos, por meio da percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de informações e experiências. • Cultura da inovação: promoção de um ambiente favorável à criatividade, experimentação e implementação de novas ideias que possam gerar um diferencial para a atuação da organização. • Liderança e constância de propósitos: a liderança é o elemento promotor da gestão, responsável pela orientação, estímulo e comprometimento para o alcance e melhoria dos resultados organizacionais e deve atuar de forma aberta, democrática, inspiradora e motivadora das pessoas, visando ao desenvolvimento da cultura da excelência, à promoção de relações de qualidade e à proteção do interesse público. É exercida pela alta administração, entendida como o mais alto nível gerencial e assessoria da organização. • Orientação por processos e informações: compreensão e segmentação do conjunto das atividades e processos da organização que agreguem valor às partes interessadas, sendo que a tomada de decisões e a execução de ações devem ter como base a medição e análise do desempenho, levando-se em consideração as informações disponíveis. • Visão de futuro: indica o rumo de uma organização e a constância de propósitos que a mantém nessa direção. Está diretamente relacionada à capacidade de estabelecer um estado futuro desejado que dê coerência ao processo decisório e que permita à organização antecipar-se às necessidades e expectativas dos 15 cidadãos e da sociedade. Inclui, também, a compreensão dos fatores externos que afetam a organização com o objetivo de gerenciar seu impacto na sociedade. • Geração de valor: alcance de resultados consistentes, assegurando o aumento de valor tangível e intangível de forma sustentada para todas as partes interessadas. • Comprometimento com as pessoas: melhoria da qualidade nas relações de trabalho, para que as pessoas se realizem tanto profissionalmente quanto na vida pessoal, maximizando seu desempenho por meio de oportunidades para o desenvolvimento de suas competências e de práticas do incentivo ao reconhecimento. • Foco no cidadão e na sociedade: direcionamento das ações públicas para atender e regular continuamente as necessidades dos cidadãos e da sociedade, na condição de sujeitos de direitos e como beneficiários dos serviços públicos e destinatários da ação decorrente do poder de Estado exercido pelas organizações públicas. • Desenvolvimento de parcerias: desenvolvimento de atividades conjuntamente com outras organizações com objetivos específicos comuns, buscando o pleno uso das suas competências complementares para o desenvolvimento de sinergias, expressas em trabalhos de cooperação e coesão. • Responsabilidade social: atuação voltada para assegurar às pessoas a condição de cidadania com garantia de acesso aos bens e serviços essenciais, e, ao mesmo tempo, tendo também como um dos princípios gerenciais a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, potencializando a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades. • Controle social: atuação que se define pela participação das partes interessadas no planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades da Administração Pública e na execução das políticas e programas públicos. • Gestão participativa: estilo de gestão que determina uma atitude gerencial da alta administração que busque omáximo de cooperação das pessoas, reconhecendo a capacidade e o potencial diferenciado de cada um e harmonizando os interesses individuais e coletivos, a fim de conseguir a sinergia das equipes de trabalho. Excelência na Gestão dos Serviços Públicos • Fortalecer os sistemas de gestão da Administração Pública implica adotar práticas e tecnologias gerenciais que contribuam para a ampliação da capacidade de 16 governança e governabilidade das suas estruturas executivas e que promovam o aprofundamento dos princípios definidos na Constituição Federal. • O modelo de gestão pública capaz de atender a esses desafios precisa ser desenvolvido a partir da experiência, do conhecimento e do referencial cultural brasileiro, reconhecendo contribuições de paradigmas internacionais de inovação na gestão pública. É fundamental respeitar o processo de aprendizagem e maturidade dos agentes públicos e da própria sociedade brasileira e buscar soluções que possam, de fato, responder aos problemas internos. • Na implementação desse modelo, alguns desafios se apresentam, tais como reorientar as estruturas executivas do Estado para a atuação voltada para resultados e promover a inclusão social e participação dos cidadãos na vida pública e, especialmente, nos processos decisórios do governo, notadamente no planejamento, avaliação e controle das políticas públicas. • Para contribuir com a evolução do modelo de gestão pública em direção à superação desses desafios, a Secretaria de Gestão Pública – SEGEP do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG, em articulação com as Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação – SLTI, Secretaria de Orçamento Federal – SOF, Secretaria do Patrimônio da União – SPU e Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos – SPI, publica o Modelo de Excelência em Gestão Pública, referenciado nos valores e fundamentos consignados, especialmente, nas disposições da Constituição Federal Brasileira e no ordenamento legal, que orientam e delimitam as formas de funcionamento e organização da Administração Pública. O Modelo de Excelência em Gestão Pública • O ponto de partida da construção do Modelo de Excelência em Gestão Pública repousa sobre a premissa de que a administração pública tem que ser excelente, conciliando esse imperativo com os princípios que deve obedecer, os conceitos e a linguagem que caracterizam a natureza pública das organizações e que impactam na sua gestão. • Os órgãos ou entidades públicos são regidos pela supremacia do interesse público e pela obrigação da continuidade da prestação do serviço público, tratando a todos igualmente e com qualidade. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos previstos em lei. 17 • A administração pública busca gerar valor para a sociedade e formas de garantir o desenvolvimento sustentável, sem perder de vista a obrigação de utilizar os recursos de forma eficiente. • A atividade pública é financiada com recursos públicos, oriundos de contribuições compulsórias de cidadãos e empresas, os quais devem ser direcionados para a prestação de serviços públicos e a produção do bem comum. • A administração pública tem como destinatários de suas ações cidadãos, sociedade e partes interessadas, demandantes da produção do bem comum e do desenvolvimento sustentável. • O conceito de partes interessadas no âmbito da administração pública é ampliado em relação ao utilizado pela iniciativa privada, pois as decisões públicas devem considerar não apenas os interesses dos grupos mais diretamente afetados, mas, também, o valor final agregado para a sociedade. • A administração pública tem o poder de regular e gerar obrigações e deveres para a sociedade, assim, as suas decisões e ações normalmente geram efeitos em larga escala para a sociedade e em áreas sensíveis. O Estado é a única organização que, de forma legítima, pode definir unilateralmente obrigações em relação a terceiros. Fundamentos Constitucionais 1. Legalidade • O princípio da legalidade representa a supremacia da dimensão política (legislativa) sobre a dimensão técnica (executiva e judicante). • Em decorrência do princípio da legalidade, somente a lei pode delegar competências e poderes à Administração Pública e aos seus agentes públicos; criar ou extinguir competências estatais; ministério ou órgão da Presidência da República diretamente subordinado ao Chefe do Poder Executivo; cargos ou funções públicas (CF, art. 48). • A Administração Publica não tem liberdade nem vontade que não as concedidas e determinadas pela Constituição e pela lei e, nesse caso, são matérias de sua discrição apenas as estratégias, mecanismos e instrumentos a serem adotados na aplicação da lei, no objetivo de conseguir os seus plenos efeitos, na forma mais eficiente possível. 18 2. Princípio da Separação entre os Poderes • O Estado Brasileiro é dotado de poder uno e soberano, atribuído ao povo e em seu nome exercido (CF, art. 1º). No entanto, para garantir a Ordem Democrática, a Constituição prevê a sua tripartição, a fim de que as funções políticas, judicantes e executivas sejam exercidas por instâncias e agentes diversos, de forma independente, ainda que harmônica. (CF, art. 2º). • Essa segregação de poderes deve ser observada no processo do arranjo institucional das estruturas do aparelho do Estado, em todos os níveis organizacionais, de forma que a mesma instituição ou o mesmo agente público não acumule competências ou poderes de formulação, de julgamento e de execução, em sua área de atuação. 3. Orientação fundamental à consecução dos objetivos da República Federativa do Brasil • A principal finalidade da Administração Pública é alcançar os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil - de construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; de reduzir as desigualdades e de promover o bem de todos, sem preconceitos (CF, art. 3º). Esses objetivos devem orientar toda a sua atuação. 4. Princípio da centralidade dos direitos individuais e sociais • As atividades estatais na área de provimento dos direitos sociais exigem estruturas e processos ágeis e flexíveis; permeáveis a mecanismos de gestão de resultados e controle social; e abertos a mecanismos de articulação e colaboração com a sociedade civil sem fins lucrativos. 5. Princípio da descentralização federativa • A descentralização federativa implica compartilhamento de responsabilidades entre as três esferas de governo na execução das políticas públicas. • No arranjo institucional das estruturas do Poder Executivo e na prospecção de seus processos finalísticos e de apoio, a orientação constitucional à descentralização federativa implica buscar a revisão das competências e das estruturas organizacionais dos órgãos e entidades da administração direta e indireta com o 19 objetivo de verificar se não existem competências que estejam sendo desempenhadas pela esfera federal que não deveriam ser transferidas para as esferas estaduais e municipais. 6. Princípio da participação social na governança das instituições • A Constituição Federal prevê o hibridismo de práticas representativas e participativas, quando essa dispõe que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes (democracia representativa) ou diretamente (por meio de uma democracia participativa). • É necessário o fortalecimento da participação social nos processos de formulação, acompanhamento, avaliação e controle de políticas públicas,especialmente, nas áreas de prestação de serviços sociais diretos à população. 7. Funcionamento em rede. Parceria com a sociedade civil • Constitui clara orientação constitucional, especialmente no Título VIII, que trata da Ordem Social, o estabelecimento de parcerias entre o Estado e a Sociedade Civil, por meio da ação articulada, complementar ou concorrente, no provimento de serviços de interesse social. • É importante fortalecer as relações de cooperação, dentro de um espírito de confiança mútua entre os agentes estatais e privados. 8. Os princípios da administração pública brasileira • Em se tratando de gestão do Estado, é essencial acrescentar, ainda, os princípios constitucionais específicos para a administração estabelecidos no artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil: “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. 20 Visão sistêmica do Modelo de Excelência em Gestão Pública • A excelência da gestão pública implica a adoção de métodos e instrumentos de gestão adequados, eficazes e eficientes, que favoreçam o alcance de padrões elevados de desempenho e qualidade em cada uma dessas dimensões. • O investimento permanente e contínuo em práticas de excelência em todas as dimensões do sistema, abaixo representado, conduz a uma gestão pública de excelência e reproduz, dentro do órgão/entidade público, o Ciclo PDCA. Este ciclo está representado pelos quatro blocos que contém juntos, as oito dimensões do Modelo. • No modelo, os fundamentos da excelência estão representados em aspectos de gestão tangíveis e mensuráveis quantitativa ou qualitativamente, relativos às dimensões de 1 a 7, dispostos em assertivas. Na dimensão 8, o modelo orienta para a apresentação de resultados da ação institucional nas sete outras dimensões. • O primeiro é o bloco do Planejamento, constituído pelas quatro primeiras dimensões do Modelo: Governança, Estratégia e planos, Sociedade e Interesse público e Cidadania. Essas partes movem a organização e lhe dão d irecionalidade. • O segundo bloco é o da Execução e se constitui pelas dimensões Pessoas e Processos. • Esses dois elementos representam o centro prático da ação organizacional e transformam finalidade e objetivos em resultados. • O terceiro bloco, de Resultados, representa o controle, pois apenas pelos resultados produzidos pela organização é possível analisar a qualidade do sistema de gestão e o nível de desempenho institucional. • O quarto bloco, de Informação e conhecimento, representa a inteligência da organização. Este bloco dá ao órgão/entidade capacidade de corrigir, melhorar ou inovar suas práticas de gestão e, consequentemente, seu desempenho. 21 As dimensões do MEGP 1. Governança • Pode ser entendida como o exercício de autoridade, controle, gerenciamento e poder de governo. É a maneira pela qual o poder é exercício no gerenciamento dos recursos econômicos, políticos e sociais para o desenvolvimento do país. • Está relacionada à capacidade de implementação das políticas públicas, em seus aspectos políticos, técnicos, financeiros e gerenciais. Esta dimensão implica a capacidade institucional de orientar-se em direção ao cumprimento de sua finalidade e competências institucionais, de forma a gerar valor para a sociedade e atuar em conformidade com os parâmetros constitucionais e legais impostos à Administração Pública. • A formulação e a implementação de políticas públicas, em qualquer esfera de governo, requer o entendimento da realidade, a identificação das causas críticas e as formulações sobre produtos e resultados que permitam a otimização do uso dos recursos públicos escassos disponíveis. 22 • A Governança está relacionada com a capacidade e as condições internas ao governo, para exercício de suas competências e alcance de seus objetivos. Diz respeito aos recursos técnicos, tecnológicos, de infraestrutura, de pessoal, entre outros de que dispõem as estruturas governamentais para formular, planejar e implantar as políticas públicas, assim como acompanhar, avaliar e fiscalizar a sua execução e resultados obtidos. • Sendo assim, é mais do que uma forma eficaz e eficiente de executar o ‘negócio governo’. Está relacionada à legalidade e legitimidade, sendo mais do que valores estritamente empresariais. Governança pública é uma atividade complexa que envolve o ‘governo’ de complexas redes sociais nos setores políticos. • A qualidade da governança está relacionada, também, à capacidade do sistema de liderança do órgão ou entidade em atuar de forma coesa e orientada para o alcance dos objetivos institucionais, assim como de envolver e motivar todos os servidores ou empregados do quadro de pessoal. • Os líderes, na gestão pública de excelência, devem orientar o órgão ou entidade pública ao cumprimento de suas finalidades legais – é deles o papel de promover a compreensão interna e externa sobre o papel institucional e garantir o seu desempenho, observadas as orientações gerais e prioridades de governo. • Para tanto, é fundamental que a alta direção disponha e utilize métodos de coordenação, articulação e supervisão para promover a internalização de valores e princípios da administração pública; a unidade de objetivos e a ação integrada; a gestão dos principais riscos presentes na área de atuação do órgão ou entidade; a transparência; a participação e o controle social e, especialmente, a eficiência administrativa. • São aspectos de excelência institucional, característicos da dimensão de governança: a formação e a gestão de líderes, a estruturação do processo decisório, a prática institucional de monitoramento e avaliação sistemáticos de seu desempenho, com base em indicadores, com vistas ao contínuo reposicionamento do órgão ou entidade e atualização da estratégia, a fim de melhor atender às demandas e aos desafios internos e externos. • A dimensão governança amplia o conceito de liderança, adotado nas versões anteriores do MEGP - amplia as dimensões e amplitudes do papel do órgão público e da sua capacidade de exercer a governança pública no setor em que atua. 23 2. Dimensão Estratégia e Planos • Uma gestão pública de excelência deve contemplar processos formais de formulação e implementação da estratégia, fundamentados no exercício de pensar o futuro e integrados ao processo decisório. A estratégia deve atender aos objetivos e dispor de metas e planos articulados, para as unidades internas. • Deve ser formulada a partir da prospecção dos resultados institucionais que se espera alcançar, considerados os recursos internos e externos; assim como os fatores intervenientes, especialmente aqueles que possam representar riscos ou oportunidades ao desempenho organizacional. • São requisitos de relevância para a excelência do processo de definição e implementação da estratégia: a. Identificação de possíveis parcerias com agentes públicos e privados e potenciais conflitos de atuação; b. O conhecimento dos pontos fortes e das oportunidades de melhoria do próprio desempenho institucional; c. As necessidades de investimento e inovação de forma a atender requisitos específicos do setor em que atua; d. O alinhamento ao Plano Plurianual; e. O desdobramento da estratégia em planos específicos que atendam às outras dimensões do sistema de gestão públicas; tais como plano de tecnologia; capacitação; melhoria e inovaçãoda capacidade de gestão; gestão patrimonial; gestão do conhecimento; gestão da comunicação; f. A vinculação da programação orçamentária à estratégia. 3. Dimensão Público Alvo • Esta dimensão refere-se às práticas gerenciais direcionadas ao relacionamento do órgão/entidade com a sociedade e abrange a imagem institucional, o conhecimento que a sociedade tem do órgão ou entidade e a maneira como se relaciona com a sociedade e induz sua participação. • O MEGP contempla, em sua Dimensão Público Alvo, práticas direcionadas, entre outras: 24 a. À identificação e classificação dos públicos alvos e de suas necessidades e expectativas; b. Ao tratamento dessas necessidades e expectativas, inclusive no redesenho dos processos institucionais, para a geração de resultados mais efetivos; c. ao atendimento à Lei de Acesso à Informação; d. à comunicação ao cidadão sobre os seus serviços e padrões de atendimento (Carta ao Cidadão); e. À manutenção de canais de comunicação acessíveis e adequados aos perfis de seus públicos alvos; f. Ao gerenciamento da qualidade do atendimento ao público; g. Ao tratamento das solicitações, reclamações e sugestões; h. Ao fortalecimento das relações com a sociedade, inclusive por meio de instrumentos de pesquisa, ausculta e concertação. • O critério também analisa a imagem e o conhecimento mútuo existente entre o órgão/entidade e o público. O processo é uma proposta para democratizar a administração pública, valorando a legitimidade, a participação da sociedade e as consultas aos usuários cidadãos. 4. Dimensão Interesse Público e Cidadania • A Dimensão Interesse Público e Cidadania diz respeito à observância do interesse público e ao regime administrativo e a participação e o controle social. Um sistema de gestão pública de excelência contempla, nesta Dimensão, práticas direcionadas, entre outras: a. À identificação e avaliação dos principais aspectos sociais, econômicos e ambientais relacionados à atuação do órgão ou entidade; b. À capacidade de prevenir ou mitigar impactos adversos na sociedade ou no ambiente, decorrentes de sua atuação; c. À identificação da necessidade de atualização ou adequação da ordem constitucional/legal; d. À conscientização das partes interessadas quanto à responsabilidade social e ambiental e à sustentabilidade econômica; 25 e. À observância dos direitos alcançados por públicos específicos; f. À análise dos resultados de auditorias internas e externas, para a identificação de riscos institucionais; g. À observância interna do regime administrativo imposto à atuação institucional; h. À manutenção de mecanismos efetivos para a atuação pautada pela ética pública; i. Ao estímulo à sociedade à participação e ao controle social. 5. Dimensão Informação e Conhecimento • A Dimensão representa a capacidade de gestão das informações e do conhecimento, especialmente a implementação de processos gerenciais que contribuam diretamente para a seleção, coleta, armazenamento, utilização, atualização e disponibilização sistemática de informações atualizadas, precisas e seguras aos usuários internos e externos, com o apoio da tecnologia da informação. • As informações podem ser relativas ao desempenho global institucional, aos seus processos internos, especialmente aos finalísticos; aos públicos alvos; aos servidores e ao ambiente externo, especialmente aos referenciais comparativos. O importante é que as informações estejam relacionadas a todas as partes interessadas no desempenho institucional, bem como abordem os aspectos relevantes da área de atuação do órgão/entidade, intrínsecos ou relativos à estratégia. Além disso, a gestão pública de excelência deve contemplar a implementação de processos gerenciais que objetivem a identificação, o desenvolvimento, a geração, a proteção e o compartilhamento do conhecimento. 6. Dimensão Pessoas • A excelência da gestão pública pressupõe sistemas de trabalho estruturados, que considerem as competências, os requisitos técnicos, tecnológicos e logísticos necessários para a execução dos processos institucionais, de forma a cumprir as finalidades do órgão ou entidade. Inclui as adequadas estruturação e alocação de cargos efetivos, funções e cargos em comissão; os padrões remuneratórios e a alocação interna. 26 • São particularmente relevantes os investimentos em adequado dimensionamento da força de trabalho; em gestão de competências institucionais e profissionais; e na estruturação de sistemas de remuneração e de gestão do desempenho sintonizados com os paradigmas do gerenciamento por resultados. • Além disso, implica a existência de processos de capacitação e desenvolvimento dos servidores e da garantia de um ambiente de trabalho humanizado, seguro, saudável e promotor do bem-estar, da satisfação e da motivação dos agentes públicos. 7. Dimensão Processos • A Gestão pública de excelência exige processos finalísticos e de apoio adequadamente estruturados, a partir da estratégia institucional, com base nos recursos disponíveis, nos requisitos dos públicos alvos e nas possibilidades e limitações jurídico-legais. • O monitoramento e o controle dos processos devem induzir mecanismos de tratamento de não conformidades e implantação de ações corretivas, melhoria dos processos e incorporação de inovações, de forma a assegurar o permanente alto desempenho institucional. • Entre os processos finalísticos e de apoio, dos órgãos e entidades públicos, destacam-se, pela relevância do investimento e aperfeiçoamento, os seguintes: a. O atendimento ao público; b. A gestão de parcerias com entidades civis; c. A gestão financeira; d. A gestão de suprimentos; e. A gestão do patrimônio público. 8. Dimensão Resultados • De nada adianta o investimento nas sete primeiras dimensões se esse investimento não gerar os resultados esperados para a sociedade, o mercado e o próprio setor público. A Gestão orientada para Resultados é considerada uma poderosa ferramenta metodológica de monitoramento e avaliação das ações dos governos em sistemas políticos democráticos. 27 • Avaliar os resultados obtidos nas ações de governo, respeitando as dimensões de eficiência, eficácia e efetividade, permite aos agentes políticos estabelecer correções nos rumos dos seus processos de trabalho, como também propicia oportunidades de desenvolver estratégias de acompanhamento aos cidadãos. Gestão de resultados na prestação do serviço público • A reforma administrativa impôs aos gestores públicos a necessidade de avaliação do seu desempenho. Isso se deu por meio da EC 19/1988, a qual dispôs sobre princípios e normas de gestão pública e exigiu o controle das finanças a fim de direcionar os gestores públicos para a busca da eficiência e eficácia gerencial. Tal forma foi respaldada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei complementar 101/2000 – LRF), que buscou estabelecer parâmetros para uma gestão pública responsável. • Esse novo modelo de gestão pressupõe a ação planejada e transparente, mediante o cumprimento de metas que deverão ser constantemente mensuradas, o que somente será possível por meio de uma contabilidade gerencial alimentada por padrões que devem ser estabelecidos no planejamento. Com esta base, a mensuração dos resultados do desempenho dos gestores e da entidade governamental tornou-se mais factível e produtiva, sendo possível demonstrar sua eficiência econômica, por meio do seu resultado e o cumprimento da LRF. • Treasury (1994) e Mellick (1993) apontam para a informaçãode custos como fator crítico para o sucesso do planejamento, orçamento, controle operacional e a tomada de decisões estratégicas. Beckett (2002) enfatiza que essa informação é a base principal para a gestão pública. • Um sistema de custos deve disponibilizar informações que subsidiam a elaboração do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA). O monitoramento de custos incorridos quando da execução do planejamento fornece informações que podem servir de comparação com as metas fixadas no plano, o que propicia a avaliação e o devido controle. • Também é possível realizar auditorias de gestão, visando medir a eficiência gerencial, visto que os padrões de desempenho estão disponibilizados no planejamento. • Se a entidade pública contar com um resultado econômico fixado como objetivo em um planejamento, o seu valor será a base para se acompanhar a execução das ações organizacionais e o desempenho de cada uma das divisões. Assim, será possível medir a performance da gestão pública em nível individual e global. 28 • É preciso reformular as demonstrações de execução orçamentária para incluir, juntamente com os valores monetários, os parâmetros físicos previstos a fim de se possibilitar a comparação com os resultados alcançados. • O orçamento público não pode basear-se somente nos recursos que coloca à disposição, mas sim, nos resultados a atingir. É mais cômodo aos gestores somente prestarem contas dos valores do que sobre a qualidade e o resultado econômico dos serviços prestados. • Com a implantação de um sistema gerencial de custos no setor público é possível criar indicadores para se avaliar o desempenho dos gestores departamentais. Metas de resultado fixadas no planejamento devem ser alcançadas pelo gestor público e representam o critério básico para a avaliação do desempenho de todas as áreas de responsabilidade da entidade. Assim, é possível avaliar os resultados dos serviços, e atividades de cada uma das unidades, da entidade como um todo e também dos respectivos responsáveis pela gestão. • Esse sistema de avaliação é importante na gestão econômica, e está amparado no sistema de contabilidade divisional ou contabilidade por área de responsabilidade, onde cada área possui receitas e despesas planejadas e executadas como se fosse uma entidade independente. Tem como premissa exigir e vincular o resultado das diversas partes que compõem a organização, suas atividades, divisões, departamentos, os responsáveis por elas, traduzindo-se num instrumental tanto de avaliação de resultados como de avaliação de desempenho dos gestores. Avaliar um desempenho também é considerado um meio para se fundamentar a tomada de decisões. • Dessa forma, os gestores são avaliados pelo seu desempenho com base nas receitas, custos e resultados vinculados a seus departamentos, e somente estes, sem a transferência de valores de outras áreas que não estão sob a sua responsabilidade, que não são por eles controláveis e não tiveram a sua participação quando do planejamento. • Trazendo esse conceito de divisionalização para o serviço público municipal, pode- se dizer que todas as Secretarias Municipais devem ser consideradas divisões municipais, visto que seus secretários são considerados seus gestores e responsáveis por seus resultados, devendo assim ter seu desempenho mensurado. • Há duas formas possíveis de avaliar o desempenho: a. Desempenho divisional ou das áreas da organização: refere-se à geração de resultados por atividades desenvolvidas pelas áreas de responsabilidade de seus respectivos gestores (podem corresponder a divisões ou departamentos inteiros). 29 b. Desempenho individual ou funcional: refere-se às atividades próprias dos cargos ou funções ocupados pelos gestores que devem ser avaliados. Baseia-se em aspectos quantitativos e qualitativos, incluem aspectos comportamentais e visam atestar que os objetivos do avaliado foram alcançados. • Para tomar suas decisões diárias, deve o gestor verificar qual o resultado econômico gerado pelos serviços. Saber qual a diferença entre a receita de oportunidade econômica e a soma dos custos diretos e indiretos identificáveis a cada serviço. • O conceito de receita econômica de uma entidade pública é definido como sendo a multiplicação do custo de oportunidade, que o cidadão desprezou ao utilizar o serviço público, pelo número de serviços que a entidade tenha efetivamente executado. Já o custo de oportunidade significa o menor preço de mercado à vista desprezado para aquele serviço prestado ao cidadão com similar qualidade, oportunidade e tempestividade. Receita econômica é o valor não pago pelo cidadão no mercado, por preferir utilizar o serviço público ao invés do particular, ou o serviço não comprado no mercado (terceirizado) pelo poder público. Eficiência, eficácia, efetividade e economicidade • Eficiência: diz respeito à capacidade de uma organização em obter o máximo de produto a partir de um dado conjunto de insumos. A eficiência mede a habilidade de se produzir tantos produtos quanto permitem os insumos utilizados, ou usar o mínimo necessário de insumos para produzir uma quantidade de produto. • Eficácia: é a obtenção de resultado dentro dos objetivos propostos. • Economicidade: pressupõe a obtenção e a utilização exata de recursos nas quantidades necessárias e suficientes e no momento adequado, sem desperdícios e observados as alternativas mais econômicas do mercado. • Pode-se afirmar que o sistema público de informação contábil atual é ineficaz para atestar a eficiência, a eficácia e a economicidade da aplicação dos recursos. Ela apresenta como resultados, termos como economia orçamentária, sobras e superávit financeiro, que só poderiam assumir conotação de algo positivo depois de atestado o cumprimento das metas planejadas. • A avaliação do desempenho do Governo está baseada na mensuração dos resultados obtidos na execução das políticas públicas formuladas. Nesse contexto, o uso de indicadores de desempenho previamente estabelecidos é fundamental. 30 • Essa avaliação é essencial para corrigir rumos, para aperfeiçoar a atuação governamental e para melhorar o processo de tomada de decisão, ou seja, a ideia é melhorar a gestão no setor público. • A avaliação se insere no contexto da necessidade de conferir transparências às ações governamentais, aumentando o controle social sobre o setor público. Vamos conhecer alguns conceitos: 1. Produtividade: conceito bastante semelhante ao da eficiência. Enquanto a produtividade lida com produzir mais e melhor com os mesmos recursos, a eficiência relaciona-se com a comparação da produção conseguida na prática relacionada à produção teórica imaginada, ou seja, a comparação com o ideal. • 2. Competitividade: significa estar apto a competir no mercado com os produtos fabricados. A competitividade lida com a qualidade do produto, a sua aceitação no mercado e o enfrentamento da concorrência. Formas de avaliação • Avaliação de eficiência: avaliar o uso dos recursos da melhor maneira possível, comparando produtos com insumos, verificando desperdícios. É a essência da avaliação do desempenho. • Avaliação de eficácia: avaliar o alcance dos objetivos. • Avaliação de efetividade: avaliar o impacto, os resultados, os benefícios à sociedade. A avaliação governamental pode ocorrer em três momentos diferentes (antes da própria execução, concomitantemente ou após a execução). • Seja qual for o momento, é preciso entender que a avaliação deve ser encarada com um aprendizado constante acerca da realidadede implementação das políticas públicas. É uma produção de informações que subsidia a tomada de decisão. Gestão de Desempenho • A gestão de desempenho é uma ferramenta utilizada para poder avaliar os funcionários e a organização como um todo. • O seu grande objetivo é integrar os desempenhos individuais e por equipe sempre mirando o alcance dos objetivos organizacionais. Pode ser vista sob duas óticas: desempenho e resultado. 31 • Em um século em que as pessoas são o diferencial das empresas para o alcance de vantagem competitiva no mercado, as abordagens de gestão de desempenho devem visar a obtenção de resultados. • Para se avaliar o desempenho de um órgão, alguns critérios devem ser observados sendo adotados como parâmetro. 1. Eficiência no uso dos recursos. 2. Satisfação dos funcionários. 3. Qualidade dos produtos e serviços. 4. Satisfação do cidadão. 5. Benefícios à sociedade. 6. Desempenho eficaz como negócio do órgão. • Esse desempenho é resultante não apenas das competências individuais, m as também das relações interpessoais, do ambiente de trabalho e das características da organização. • A partir da gestão de desempenho, é possível rever estratégias, objetivos, processos de trabalho e políticas de recursos humanos. O intuito é corrigir “desvios de rota” e dar sentido de continuidade e sustentabilidade à entidade. Níveis de gestão de desempenho 1. Nível Corporativo: refere-se à missão, à visão e aos objetivos macro; sustentabilidade da organização é o resultado esperado. 2. Nível Divisional ou Funcional: diz respeito aos objetivos e metas de cada departamento; objetiva a eficácia organizacional. 3. Nível Grupal: relaciona-se aos projetos e processos de trabalho, sobre as equipes; foca na qualidade dos produtos e serviços. 4. Nível Individual: refere-se ao resultado do trabalho do indivíduo; analisa o comportamento no ambiente de trabalho; foca na qualidade dos produtos e serviços. 32 Objetivo da gestão por resultados • O grande objetivo da gestão por resultados, também conhecida como gestão por metas, é mudar o foco de atenção, que antes era nos gastos orçamentários. O objetivo agora é gerir resultados, sempre se relacionando a metas previstas anteriormente. • É uma mudança de paradigma. O Estado que até então estava auto-referenciado (voltado para si, para os seus gastos), reencontra o seu foco principal: o cidadão. Assim, fundamental no papel do Estado é o resultado que é gerado para o cidadão na prestação dos serviços públicos. • A gestão por resultados representa a introdução do conceito de controle por resultados. A administração pública, além de efetuar os seus controles formais, passa a controlar/avaliar os resultados. Nesse sentido, para atingir os resultados pretendidos nas metas, é necessário traçar padrões para que o desempenho da entidade seja suficiente. • Assim, a fixação de padrões de desempenho é fundamental para garantir o cumprimento das metas, já que uma vez determinados os parâmetros, é possível acompanhar a execução e efetuar os ajustes necessários. • As metas/resultados pretendidos devem ser palpáveis/tangíveis, ou seja, de nada adianta um órgão traçar excelentes metas se não as pode cumprir. • Na lógica da gestão por resultados, os administradores públicos devem, inclusive, prestar contas dos recursos arrecadados aos contribuintes, que são os maiores interessados. A transparência na gestão pública é fundamental. • A gestão por resultados possui orientação no alcance de objetivos, sempre focando nas ações. Essas ações devem estar alinhadas com os objetivos estratégicos da organização ou com o alcance de objetivos específicos. • A gestão por resultados depende do planejamento estratégico. Ela passa pela estruturação dos processos do ciclo de gestão das políticas públicas (que compreende a formulação, a implementação e a avaliação), com foco no alcance dos resultados. • Nesse alcance, não podemos esquecer a visão e estruturação integrada do planejamento governamental, orçamento, administração financeira e contábil, organização administrativa e normas de operação e funcionamento para todos os órgãos integrantes. Ou seja, tudo deve estar integrado, a gestão por resultados não é algo feito isoladamente. 33 • No princípio, é realizado o programa de governo, com as diretrizes políticas. São definidas as políticas relacionadas a saúde, educação, cultura, etc. A partir daí, são definidos os objetivos estratégicos de governo e setoriais. • Posteriormente, o orçamento é elaborado e a estrutura organizacional e os recursos humanos são adaptados para a consecução dos objetivos. Para aproveitar os recursos humanos, são concedidas autonomias gerenciais, descentralização de atos administrativos, como a execução orçamentária, a administração de pessoal, as compras e contratações, os serviços de apoio, etc. • No momento da execução, para o seu acompanhamento efetivo, deve-se monitorar o seu desempenho. Por fim, são avaliados os resultados alcançados, a partir de tudo que foi traçado. • No tocante ao serviço público, além da otimização clara que a gestão por resultados se propõe, temos como pilar a transparência, que já falamos, e o aspecto equitativo, ou seja, garantir a isonomia no recebimento dos serviços públicos, atendendo os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual. • Podemos falar que a gestão por resultados origina-se dos conceitos de administração por objetivos, conceito introduzido por Peter Drucker. Essa teoria representa uma importante mudança no foco empresarial. • Ao invés de se preocuparem com as atividades-meio (contas a pagar, contabilidade, recursos humanos, etc.), os empresários passam a se preocupar com as atividades-fim (produção, vendas, prestação dos serviços). • De acordo com Emery, a gestão por resultados acarreta três tipos de considerações ao setor público: 1. Constitucionais: a maioria das constituições regula o uso dos recursos púb licos por parte das autoridades; 2. Políticas: as autoridades devem responder pelos seus atos e pelo conteúdo dos seus programas eleitorais; 3. Cidadãos: os cidadãos confiam nas autoridades eleitas, delegando-lhes a gestão dos fundos públicos. Indicadores • São ferramentas utilizadas para a medição de resultados. Em outras palavras, são medidas de comparação utilizadas para verificar se o trabalho está sendo bem 34 executado. Eles são fundamentais em uma gestão que se prioriza resultados, pois auxiliam a cumprir aquilo que foi traçado. • Os indicadores podem abranger os seguintes aspectos: 1. Financeiros – servem, por exemplo, para avaliar a empresa, podendo ser dividido em alguns grupos, como: estrutura de capital; a relação capital próprio (patrimônio líquido) e de terceiros (passivo) colocados na empresa; indicadores de liquidez (capacidade de pagamento); indicadores de rentabilidade (mede o retorno alcançado); 2. Operacionais – relação entre a quantidade de trabalho a ser realizada em relação ao tempo; 3. Custos – mensuração dos gastos na execução da atividade produtiva; Um dos principais indicadores utilizados é o Balanced Scorecard. O BSC inicialmente era utilizado como um modelo de avaliação e performance empresarial, evoluindo-se, posteriormente, para uma metodologia de gestão estratégica. Papéis dos indicadores • Transmitir as necessidades e expectativas dos clientes; • Viabilizar o desdobramento das metas do negócio; • Dar suporte à analise crítica dos resultados do negócio, às tomadas de decisão e ao novo processo;
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