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RESUMO 10-11

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Estresse e ansiedade
Estresse e ansiedade são reações adaptativas, responsáveis por lidar com situações danosas e ameaçadoras à integridade física e mental. Estão ligadas à manutenção da vida e perpetuação da espécie. Porem quando estão fora de um contexto adequado podem se tornar exageradas e disfuncionais, levando à desadaptação e sofrimento. 
O estresse se mostra presente em situações que exija que o organismo se adapte, é entendido como uma reação psicofisiológica complexa, desencadeada automaticamente no organismo, para que este possa reestabelecer sua homeostase interna, sempre que ela seja abalada por algum elemento estressor. 
Não é a presença do estímulo estressor que determina a reação do estresse, mas a necessidade do organismo de se adaptar a este, pois sempre que nos deparamos com uma situação para qual ainda não temos recursos, nosso sistema precisará recorrer à reação de estresse para potencializar nossa adaptação.
Outra fonte de estresse são situações mal definida, incertas ou ambíguas. Isso ocorre porque, se não temos como saber que problema precisa ser resolvido, não temos como determinar que recursos devessem ser implementados nem como avaliar se temos ou não o repertório comportamental necessário para fazer frente à situação.
O modelo de estresse proposto por Selye considera que o organismo tenta sempre se adaptar ao evento estressor, utilizando grandes quantidades de energia adaptativa, em um processo que envolve três fases: alerta, resistência e exaustão. Alguns fatores geradores de estresse ocorrem de forma prolongada, se a reação de estresse continua presente por tempo indeterminado, começa a fase de resistência, quando o organismo tentará encontrar uma maneira de reestabelecer a homeostase ainda na presença do evento estressor. 
A consequência negativa desse processo natural é que se, por um lado, ficamos mais seguros quando nos antecipamos, esse sistema de ativação do medo e estresse é constantemente ligado, mesmo em resposta a qualquer situação minimamente suspeita. Por isso, facilmente temos reações exageradas de ansiedade, medo e estresse que acabam sendo posteriormente corrigidas e moduladas pelo próprio cérebro.
Modelo cognitivo do estresse e da ansiedade
O modelo cognitivo tem como base as nossas emoções, comportamentos e as consequentes alterações fisiológicas que experimentamos, e essas são coerentes com as interpretações que fazemos dos acontecimentos. Cada indivíduo desenvolve esquemas cognitivos, estruturas mentais que regulam o processamento das informações e demais funções, como percepção, imaginação, memória, atenção, significados.
Portanto as cognições estão fortemente relacionadas ao nosso nível de estresse, uma vez que, para cada situação, fazemos uma avaliação do grau de desafio e ameaça e da probabilidade de ocorrência, bem como das nossas possibilidades de enfrentamento. As crenças que temos sobre o nossos recursos para sobreviver e nos adaptar a uma situação, bem como os esquemas relacionados aos outros e ao mundo vão ter grande influencia sobre o desencadeamento ou não da reação de estresse.
A reação do estresse também está relacionada às distorções cognitivas do indivíduo. Neste ponto, o conceito de estresse se encontra com o modelo cognitivo da ansiedade, que considera que o nível de ansiedade experimentada por um indivíduo decorre da diferença entre a ameaça percebida no ambiente e a capacidade de enfrentamento que o indivíduo considera possuir, ou seja, seu senso de autoeficácia.
A avaliação feita pelo indivíduo faz da situação estressora determina a escolha de estratégias de coping, que tenham como alvo a situação em si ou a emoção negativa associada a esta. Quando o indivíduo se percebe diante de uma situação para a qual tem os recursos de enfrentamento necessários, é provável que os coloque em prática, resolvendo adequadamente o problema, fazendo cessar a reação de estresse e retornando à homeostase.
Na prática da TCC, é frequente o paciente ir ao consultório esperando encontrar métodos de manejo rápidos das emoções negativas, mas é importante que o terapeuta, baseado na conceituação do caso, aconselhe o paciente a perceber quando devem ser complementadas estratégias clínicas centradas apenas na regulação da emoção e quando existem problemas objetivos, que exigem o desenvolvimento de habilidades específicas para sua solução.
Estratégias clínicas de modulação do estresse e da ansiedade
Para a correta utilização de qualquer técnica, é necessária uma completa conceituação cognitiva do caso do paciente, incluindo uma análise funcional de cada um dos elementos importantes que desencadeiam e mantém a ansiedade.
O TCS é um pacote de procedimentos com foco no controle do estresse, de duração breve (15 sessões) que consiste em uma análise funcional dos estressores e da atuação objetiva e direta na modificação dos quatro pilares do controle do estresse: relaxamento, alimentação, exercício físico e padrões cognitivo-comportamental. O TCS visa exercitar habilidades de manejo do estresse e modificações de hábitos pouco saudáveis.
Relaxamento Muscular Progressivo (RMP) é uma técnica específica que visa induzir relaxamento corporal e psíquico, envolve a contração de um grupo muscular por alguns segundo, seguida de seu relaxamento, progredindo de um conjunto de músculos para outro, até relaxar o corpo todo. A RMP possui duas fases: contração e relaxamento. A fase de contração ensina o indivíduo a reconhecer o enrijecimento muscular e a fase de relaxamento, a reconhecer e distensionar os músculos sempre que for necessário.
Para executar o RMP, o paciente pode optar pela posição em que se sentir mais confortável. Em primeiro lugar, o paciente é instruído a identificar as áreas que apresentam contração muscular, ou seja, áreas com maior número de pontos de tensão distribuídos pelo corpo, tais como dores nos ombros, nas costas, pescoço ou na cabeça. Deve durar em média 20 minutos, sendo que, para cada feixe do grupo muscular exercitado, sugere-se manter a contração muscular durante 5 segundos e, em seguida, relaxar tais músculos por aproximadamente 15 segundos.
A respiração e seus mecanismos de controle exercem papel fundamental no desenvolvimento de transtornos de ansiedade, particularmente o transtorno de pânico. Momentos de ansiedade e estresse, acompanhados por alterações na frequência respiratória, podem iniciar uma espiral de ansiedade. Por isso a conscientização dos pacientes acerca do papel da respiração no desencadeamento e na manutenção dos estados de ansiedade é elemento fundamental do tratamento cognitivo comportamental tanto nos transtornos de ansiedade como de estresse.
Para exemplificar de maneira eficaz a importância da respiração é pedir que os pacientes hiperventilem durante alguns segundos, observem as alterações fisiológicas e, em seguida, pedir que façam a respiração diafragmática durante um minuto.
Dessensibilização sistemática é uma técnica de tratamento da ansiedade patológica, com base nos princípios comportamentais da aprendizagem. Uma emoção não pode ocorrer na presença de outra ativação emocional oposta à primeira, já que uma reação se sobreporia à outra. A resposta emocional de medo seria inibida na presença de outra resposta emocional incompatível. 
Nesse método o paciente é exposto gradualmente ao estímulo temido, ao mesmo tempo em que é apresentado um estímulo inibidor da ansiedade, como o RMP ou exercícios de respiração controlada. A dessensibilização sistemática é base para a principal contribuição behaviorista para o tratamento da ansiedade: a exposição.
O termo exposição se refere ao enfrentamento repetido e sistemático das situações e objetos que desencadeiam ansiedade. Essa técnica constitui hoje o principal elemento comportamental no tratamento da ansiedade e estão embasadas no princípio da habituação.
Apesar de provocar intensa ansiedade no paciente, a técnica de exposição dever ser introduzida no tratamento assim que o paciente for capaz de reestruturar minimamente os pensamentos automáticos distorcidosrelacionados à ansiedade e que já tenha praticado algumas das estratégias de modulação da emoção. É importante planejar esta intervenção de modo a promover um enfrentamento gradual dos estímulos ansiogênicos.
Para uma exposição eficaz, é necessário que seu planejamento seja realizado de forma colaborativa. O procedimento básico inclui listar as situações e estímulos temidos, hierarquizando-os em graus de dificuldades, iniciando os enfrentamentos pelas situações menos temidas e passando às mais ansiogênicas, à medida que a ansiedade nas etapas anteriores for diminuindo.
A exposição imaginária ou utilizando recursos de realidade virtual é semelhante à exposição ao vivo, com a diferença de que o estímulo não está presente de fato, mas é evocado mentalmente pelo paciente ou apresentado por algum meio eletrônico. É inicialmente realizada com o paciente como uma hierarquia de situações a serem enfrentadas imaginariamente, no consultório. Quanto mais concentrado e imerso estiver, maior será a similaridade com a situação geral e mais ansiedade o paciente experimentará.
REFERÊNCIAS
MELO, Wilson V. Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014.

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