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UNIVERSIDADE PAULISTA DIREITOS REAIS Usucapião Urbana Coletiva IZADORA FRANCIELLE MARTINS PROF. ADRIANO PARRA SÃO PAULO 2019 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO: Usucapião Urbana Coletiva ................................................... 03 1.1 Fundamento Jurídico ......................................................................................... 03 1.2 Requisitos .......................................................................................................... 04 2. JURISPRUDÊNCIA: Tribunal de Justiça de São Paulo ................................... 05 2.1 Breve comentário sobre a decisão ..................................................................... 05 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 06 ANEXO I ................................................................................................................ 07 3 1. INTRODUÇÃO: Usucapião Urbana Coletiva A Usucapião Urbana Coletiva surge para tratar e regulamentar as áreas de ocupações irregulares, cuja origem, normalmente, está consubstanciada em invasões ou assentamentos ilegais, destino aos indivíduos e famílias economicamente desfavorecidos. O crescimento urbano ligado a desigualdade social, contribui para o avanço irregular dos espaços urbanos de caráter habitacional, do qual desenvolveu uma atenção perante os entes públicos, em razão da ausência de regulamentação formal e concreta. Tal situação causou relevante discussão àqueles defensores da propriedade urbana, pois, apesar do direito real constituído, o interesse social no aspecto lógico contextual, se faz consideravelmente superior ao bem jurídico privado. A quantidade de núcleos residenciais e a consolidação geográfica dos conjuntos habitacionais, com a sua localização definida e identificação no mapa da cidade, torna enraizadas e irremovíveis as vilas e aglomeramentos, passando a integrar a zona urbana. Com a legalização de tais áreas populacionais, passa o Poder Público a gerir e administrar as inúmeras necessidades de infraestrutura, suprindo as carências mais urgentes e implantando um mínimo de equipamentos urbanos comuns a toda cidade. 1.1 Fundamento Jurídico Com o advento da Lei nº. 10.257/01, a Usucapião Urbana Coletiva logrou destaque, face a sua normatização expressa, incluindo a implementação de regras, requisitos e maneiras necessárias à obtenção plena da propriedade lícita. O art. 10 do Estatuto da Cidade, da qual redação foi acrescida pela lei nº. 13.465/17, discorre que: “Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.” 4 A referida regulamentação se utiliza como parâmetro o art. 183 da Constituição Federal, adaptando tão somente, ao modo de aquisição da propriedade relacionado a pessoas, cujo vínculo de proximidade social e econômico é característica evidente com o nexo causal do ingresso clandestino em espaços urbanos alheios. A Medida Provisória nº. 2.220/01 institui, em seu art. 1º, § 2º, que o direito relativo a concessão da usucapião, somente poderá ser reconhecido ao concessionário uma única vez, em razão de sua própria característica. 1.2 Requisitos A usucapião urbana coletiva deve ser promovida por uma coletividade de indivíduos, desde que presente um elo de proximidade social e econômica, ocupando, há mais de cinco anos ininterruptos, uma área inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor, enfatizado por uma condição de baixa renda e, sendo difícil ou impossível identificar as porções ocupadas individualmente. Além disso, necessário se faz comprovar a ininterrupção da posse, a falta de oposição de qualquer hipotético proprietário do imóvel ocupado, bem como, a não existência de outra propriedade imóvel. Não obstante, fundamental esclarecer que o pedido da usucapião será realizado conjuntamente pelos possuidores da área total, todavia, o juiz, no momento em que proferir a sentença que reconhecerá o domínio para fins de registro imobiliário, atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão ou conjunto familiar, exceto se houver sido estabelecido em acordo. Ademais, cabe ressaltar que a cessão da posse é permitida para os casos de usucapião coletiva, isto é, a posse poderá ser transferida sem qualquer consequência para fins de aquisição da propriedade em moldes posteriores. Além disso, levando em consideração o próprio caráter do bem, as coisas de domínio público não são passíveis de usucapião. 5 2. JURISPRUDÊNCIA: Tribunal de Justiça de São Paulo Conforme Acórdão inserido no Anexo I, os apelantes recorreram da sentença de improcedência na concessão da usucapião, alegando que há mais de trinta anos sua família ocupa a terra, com aproximadamente 104.000,00 m², cultivando plantações e criações de animais. Ocorre que, no decorrer desse tempo, outras famílias foram ocupando esse imóvel com o mesmo intuito. O município, por sua vez, ingressou com ação civil pública, a fim que os possuidores demolissem as áreas construídas, sob alegação de crime ambiental e construção irregular, medida pela qual foi concedida pelo Poder Judiciário. Os apelantes afirmam que a posse é pacífica, mansa, contínua e ininterrupta, sem oposição e revestida de animus domini, bem com, reiteram o prolongamento da posse. O recurso foi negado, pois o relator entende que a espécie de usucapião requerida na inicial não condizes com a primazia da realidade, amoldando-se, na verdade, na usucapião coletiva – Lei nº. 10.257/01. Todavia, os requisitos para a concessão da referida usucapião, não foram respeitados, ocasião em que se fundamenta o não provimento. 2.1 Breve comentário sobre a decisão À vista disso, em análise aos fatos narrados, bem como, levando em consideração o disposto em lei, a disposição do núcleo urbano informal, não estava presente no caso, tampouco, a posse mansa e pacífica, visto que a oposição foi manifestada pela municipalidade. Além do mais, nota-se claramente que a área invadida é relevantemente superior ao estabelecido, razão pela qual o Acórdão se faz pertinente. Processo: 1001435-41.2017.8.26.0278 Classe/Assunto: Apelação Cível / Usucapião Ordinária Relator(a): Luis Mario Galbetti Comarca: Itaquaquecetuba Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Privado Data do julgamento: 24/03/2014 Data de publicação: 28/04/2019 Ementa: Usucapião – Indeferimento da inicial – Pedido de usucapião coletiva – Área superior a 250m² por possuidor – Inadequação – Lei 10.257/2001 – Inteligência – Elementos que indicam serem os autores possuidores de áreas determinadas. Recurso não provido. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PLANALTO. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br> Acesso em: 27.set.2019. PLANALTO. Lei nº. 10.257/2001. Disponível em: <www.planalto.gov.br> Acesso em: 27.set.2019. PLANALTO. Medida Provisória nº. 2.220/2001. Disponível em: <www.planalto.gov.br> Acesso em: 27.set.2019. RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Coisas. Rio de Janeiro. Editora Forense, 6ª edição,2013. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Consulta de Jurisprudência. Disponível em: <www.esaj.tjsp.jus.br> Acesso em: 27.set.2019. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. Editora Atlas, 17ª edição, vol. 4, 2017. 7 ANEXO I PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2019.0000320112 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1001435-41.2017.8.26.0278, da Comarca de Itaquaquecetuba, em que são apelantes ROBERTO THEODORO DE LUCENA, ANDRÉIA QUEIROZ BARBOSA DE LUCENA, ANDREA DAS NEVES SILVA FERREIRA, ALESSANDRO SILVESTRE CAVALCANTE DE ARAÚJO,, ANA LUCIA FERNANDES FONTES, -ANDERSON CRUZ DOS SANTOS, MARIA DE FÁTIMA PINA DOS SANTOS, ANGELICA REGINA DE SOUZA TEIXEIRA, ANGELITA RIBEIRO DA SILVA, ANTÔNIO FRANCISCO DE ARAÚJO, ANTÔNIO JANUÁRIO DA SILVA NETO, VIVIANE PEREIRA MARIANO SILVA JANUÁRIO, ANTÔNIO JOSÉ DOS SANTOS,, ANTÔNIO JOSÉ TEIXEIRA, ARACI SANTOS DE JESUS, EVERALDO MENDES DE JESUS, BENICIO PEREIRA DA SILVA, BRÁULIO PAUCARA LOZA, JOELMA SOUSA SILVA SANTOS, BRUNO MARCOS DE SOUZA, BRUNO SANTOS DA SILVA,, SANDRA MOREIRA DA SILVA,, CÉLIA CRISTINA DA CONCEIÇÃO, CÍCERO MIGUEL DA SILVA, IVANEIDE RAMOS DA SILVA, CÍCERO OLIVEIRA DE SOUZA, CLAITON FLORÊNCIO VIEIRA, PÂMELA JESUS SILVA, DANIEL CONCEIÇÃO DOS SANTOS, DANIEL PERIN DIAS, CARLA DA SILVA RODRIGUES, ORLANDO SANTANA DE JESUS, DANILO SANTOS CARVALHO, DEUZENI PEREIRA DO NASCIMENTO, DJALMA ANDRADE DA SILVA, MARIA ALDENISE DA SILVA, EDNALDO CARLOS SILVA DE JESUS, IVANÉLIA SILVA LOPES, EDVALDO LAURENTINO DA SILVA, ELENICE NEVES SOUZA SANSEVERO, ELIAS MARTINS DOS SANTOS,, MARIA LUCIA BEZERRA, -ERASMO SILVA DE SOUZA,, ÉRICA PATRÍCIA LINS, ESMERALDO OLIVEIRA DE SOUZA, JOSÉ TEÓFELO DA SILVA, FABIANA PEREIRA, DIELIO RODRIGO PEREIRA DOS SANTOS, FELIPE SOUZA ALMEIDA DA SILVA, FERNANDA SANTOS NUNES, FLAVIANO CORREIA DE SOUZA,, FRANCISCA IZABEL PONCIANO,, VAGNER ALVES SANTOS KOSANA, FRANCISCO DE ASSIS DA CONCEIÇÃO NASCMENTO, DEUSIMAR ALVES DA SILVA,, FRANCISCO PAULINO MOURÃO DOS SANTOS, FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO,, ANDRESSA ALVES DOS SANTOS,, GEANE LIMA DOS SANTOS, GILDENOR COUTO FERREIRA, GILSON FERREIRA DA MOTA, GILVANDO TEODORO SANTIAGO, GIVANILDO DA SILVA SANTOS, VANESSA CARVALHO LIMA SANTOS, HAGAPITO DA SILVA, IDALINA APARECIDA DE SOUSA, YASMIN APARECIDA DE SOUSA COSTA (REPRESENTANDO MENOR(ES)), IONE CARVALHO SOARES, IRENEIDE DIAS SILVA DE SOUSA, IRENILZA DIAS DA SILVA DE SOUSA OLIVEIRA, ITAMAR RODRIGUES DA SILVA, SANDRA FERREIRA CARVALHO, IVANILDA DOS SANTOS, JACIARA DO CARMO DE LIMA SANTOS, JAIME LOPES DA MOTA, 8 ROZILDA VIANA DE SALES, JANIZETE MARIA RIBEIRO AZEVEDO, JAQUELINE CRISTINA TEIXEIRA DE SOUZA, JEANE NUNES DE SOUZA, JOÃO EDVAN ROCHA COSTA, JOSEFA ANDRÉIA DOS SANTOS, JOÃO LINO DOS SANTOS JUNIOR, JOELMA FERREIRA CARVALHO SANTOS, JOÃO MACIEL DE FREITAS, JOÃO PEDRO PEREIRA DE BRITO, JOAQUIM TAVARES DE SOUSA,, TATIANA BATISTA ALVES, JOEL PERIN DIAS, ALINE B. MARCELINO, JORGE DONIZETTI BISSO, JOSÉ ANTÔNIO BARBOSA, JOSE AUGUSTO DOS SANTOS, CECILIA DE LIMA NUNES, CECILIA DE LIMA NUNES, JOSÉ CARLOS DOMINGOS, JENIFFER DOS SANTOS CONDE DOMINGOS, JOSE CLEITON FREIRE SILVA, MARIA GELTRINA ALVES, JOSÉ FLÁVIO BATISTA, JOSÉ JESUS DOS SANTOS, MARILENE DA SILVA, JOSE RODRIGO DE FARIAS, JOSE ROSIMAR DA SILVA, JOSE TIAGO NOGUEIRA LIMA, ANA MARIA XAVIER DE OLIVEIRA, MARIA SILVESTRE CAVALCANTE DE ARAÚJO, JOSEFA RODRIGUES DA SILVA, JOSÉ ANTÔNIO DA SILVA, JOSENEIDE RAMOS FERREIRA, JURANDY JOSÉ DE SOUZA, JUSSARA SANTOS SILVA, KATIA JESUS DOS SANTOS, KELY MARIA DA CONCEIÇÃO BARROSO, -LEONEL FIDELIS DE ARAÚJO, LOURISVALDO JOSE DE SOUZA, LOURIVAL ALVES BRASILEIRO, SELMA REGINA BORGESJ BRASILEIRO, LOVEGILDO BATISTA DE JESUS e LUCIANO DA SILVA, é apelado O JUIZO. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARY GRÜN (Presidente) e RÔMOLO RUSSO. São Paulo, 28 de abril de 2019. Luis Mario Galbetti Relator Assinatura Eletrônica 9 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Voto nº 24046 Apelação nº 1001435-41.2017.8.26.0278 Apelantes: Roberto Theodoro de Lucena e outros Apelado: O Juízo Origem: 1ª Vara Cível da comarca de Itaquaquecetuba Juiz: Sérgio Ludovico Martins Usucapião indeferimento da inicial Pedido de usucapião coletiva Área superior a 250m² por possuidor Inadequação Lei 10.257/2001 Inteligência Elementos que indicam serem os autores possuidores de áreas determinadas. Recurso não provido. 1. Trata-se de apelação interposta contra sentença que indeferiu a inicial de ação de usucapião. Alegam os apelantes: a) há mais de trinta e cinco anos, o primeiro apelante, juntamente com sua família, pai, mãe e irmãos, passaram a ocupar a área de aproximadamente 104.000,00m²; b) no decorrer destes trinta e cinco anos, a terra que era utilizada para plantio de hortaliças e criação de pequenos animais, passou, aos poucos, a ser ocupada por famílias que não possuíam opção de moradia; c) depois de muitos anos, a Municipalidade ajuizou ação civil pública com o objetivo de obrigar todas as famílias possuidoras e moradores da área a destruir suas moradias, sob a alegação de construção irregular e crime ambiental; d) foi concedida antecipação de tutela e grande parte das casas foi demolida; e) a posse é mansa, pacífica, contínua e ininterrupta, sem oposição e revestida de animus domini; f) o artigo 1.238 do Código Civil não limita a quantidade de pessoas que devam figurar no polo ativo ou passivo, bem como, não define o 10 tamanho mínimo ou máximo da área a ser usucapida; g) Roberto Theodoro de Lucena e sua família permanecem morando na área e a maioria dos apelantes reveza-se na limpeza e cuidados, para garantir a proteção da posse; h) não é hipótese de utilização da área para moradia, porque, se assim fosse, teriam sido distribuídas ações individuais. O Procurador de Justiça manifestou-se pelo não provimento do recurso. É o relatório. 2. Conforme se depreende das alegações, dos poucos documentos juntados, e das fotos constantes dos autos, os autores, mais de uma centena deles, não possuem a área de mais de 100.000,00m² em sua integralidade, mas, eventualmente, partes dessa área ocupadas, em princípio, por famílias. De tal modo, não poderiam requerer a declaração de usucapião da área total. Por sua vez, a usucapião coletiva, prevista no Estatuto da Cidade, é admissível quando a área for inferior a 250m² por possuidor, o que não ocorre na espécie. Nesse sentido, a bem proferida sentença: “A espécie de usucapião pretendida na exordial não se adequa à aquisição desejada, amoldando-se, em realidade, à usucapião coletiva disposta no Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001). Todavia, para o tipo adequado, não se verificam os requisitos necessários dispostos em lei. Instada a se manifestar, a parte requerente persistiu na ocorrência da Usucapião Extraordinária.” (sic) 3. Ante o exposto e tudo mais que dos autos consta, NEGO PROVIMENTO ao recurso. LUÍS MÁRIO GALBETTI RELATOR
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