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-----------------------Raiva----------------------- Adrielly Alves Araújo É uma doença infectocontagiosa viral de CARÁTER ZOONÓTICO. Também chamada de HIDROFOBIA ou DOENÇA DO CACHORRO LOUCO a raiva provoca quadros de ENCEFALOMIELITE AGUDA FATAL em mamíferos e pode transmitida por morcegos (hematófagos, insetívoros ou frutíferos) mamíferos domésticos e silvestres. Agosto, mês do cachorro louco? A raiva não é sazonal, então porque agosto? Nesse período há maior contato dos animais que ocorre nos meses anteriores, maio, junho e julho, devido ao período de cio e inverno o que leva a maior transmissão e aparecimento dos sinais nos meados de agosto. É uma doença que se considera altamente letal considerada com 100% de letalidade, embora no mundo tenha havido casos de cura clínica, não se compara ao número de pessoas que já morreram da doença. Mesmo com a alta letalidade ela apresenta uma baixa morbidade e mortalidade, ou seja poucos são os infectados com a doença (morbidade) e considerando-se o histórico poucas pessoas morrem com essa doença (mortalidade), mas quando ela ocorre tem prognóstico ruim, pra não dizer péssimo (letalidade). Também possui grande importância econômica, tanto pelos gastos direta ou indiretamente com saúde humana e animal, mas também com as perdas na produção quando os rebanhos são infectados. --------Etiologia -------- É um RNA vírus de fita simples envelopado do gênero Lyssavirus. Seu envelope possui espículas glicoproteicas responsáveis pela sua NEUROPATOGENICIDADE. Seu envelope o confere baixa resistência ambiental = TRANSMISSÃO DIRETA é a mais importante nesse caso, principalmente por mordidas, arranhaduras e lambeduras. O vírus é sensível a vários desinfetantes como éter, formol, creolina, fenol, clorofórmio, detergentes, sabões, ácidos, bases, etc. Os vírus podem ser classificados como VÍRUS DE RUA, que são aqueles isolados na natureza, e os VÍRUS FIXOS, que são os de laboratório utilizados para confecção de vacinas. Existem três variantes conhecidas do vírus rábico, o AgV-1, AgV-2 e o AgV-3, dos quais os 1 e 2 diminuíram sua incidência devido a vacinação de cães e gatos. O vírus da raiva é NEUROTRÓPICO, ou seja, tem tropismo/é atraído pelas células nervosas, principalmente neurônios, que quando infectados pelo vírus induzem a apoptose de células T que tentam atacá-los = evasão do sistema imune. -----Epidemiologia ----- A raiva possui 4 ciclos de transmissão, o ciclo URBANO, o AÉREO, o SILVESTRE e o RURAL. Os animais silvestres são considerados RESERVATÓRIOS para os cães e gatos, e secundariamente, para os humanos. Sua TRANSMISSÃO se dá por MORDEDURAS, AEROSSÓIS, ARRANHADURAS, LAMBEDURAS, ALIMENTAÇÃO, COM SALIVA CONTAMINADA COM O VÍRUS RÁBICO, além disso há relatos de transplantes de córnea e outros órgãos humanos infectados como forma de transmissão. Suas fontes de infecção são quaisquer mamíferos infectados com o vírus, cães, gatos, raposas, coiotes, gambás, morcegos, etc. Os morcegos são os principais transmissores devido ao seu grande período de incubação do vírus, período esse que mesmo sem adoecer o vírus é excretado. Além disso não apenas os hematófagos que podem transmitir, como já dito antes, os frutíferos e insetívoros também, uma vez que suas colônias são mistas e esses podem se infectar ao se limparem ou limparem seus companheiros hematófagos. Roedores e herbívoros também podem excretar o vírus, porém são pouco importantes para a transmissão da doença. Os herbívoros são considerados elos finais na cadeia, que se infectam e não passam para frente por não possuírem o hábito de morder, por exemplo, mas há sim riscos quando se manipula a boca desses animais entrando em contato com sua saliva. PERÍODO DE TRANSMISSÃO do vírus por cães e gatos é 2-7 dias após o início dos sinais clínicos que demoram até 15 dias para aparecerem. Sua EXCREÇÃO INTERMITENTE e os animais morrem de 5-7 dias após os sinais, impreterivelmente, até no máximo 10 dias. Bovinos e equinos podem morrer após 14 dias ou mais. Com os silvestres varia de espécie para espécie, enquanto que os morcegos, segundo relatos, podem excretar por até 202 dias sem demonstrar nenhum sinal clínico. O sucesso da infecção e sua velocidade estão relacionados ao número de receptores de acetilcolina nos músculos do mamífero e sua atividade, por isso répteis, aves e mamíferos primitivos (ornitorrinco) são menos suscetíveis, e também é o motivo de se induzir coma nos pacientes humanos infectados na tentativa de tratamento = diminuir a atividade dos receptores. -------Patogenia------- Após a entrada do vírus no organismo ele se dissemina no músculo afetado pela mordedura/arranhadura e começa a se replicar em baixar taxas. O vírus fica incubado por longos períodos, de 30-60 dias em humanos e em cães com uma média de seis meses, mas esse tempo pode variar dependendo do local da mordida, carga viral, atividade muscular, etc. Após a incubação o vírus se dissemina de forma CENTRÍPETA indo em direção ao sistema nervoso central seguindo pelos neurônios de forma RETRÓGRADA (começa nos dendritos e vai voltando até o centro nuclear e assim por diante). Se ligando aos receptores de adesão neuromuscular (são receptores de acetilcolina) se disseminado pelos nervos e gânglios onde continua se replicando. Atinge a medula espinhal e chegando ao sistema nervoso central e logo chega ao cérebro, se multiplicando de forma maciça. Após isso se dá início sua disseminação CENTRÍFUGA, sai do SNC para o periférico indo aos órgãos como GLÂNDULAS SALIVARES, pulmão, fígado, pele, etc. Na pele o vírus está presente nos nervos sensoriais da nuca e focinho, principalmente. -----Sinais clínicos ----- Passam pelas fases PRODRÔMICA, DE EXCITAÇÃO e AGUDA, nas quais a fase de excitação pode ser predominante = FURIOSA, ou pode ser rápida ou inexistente evoluindo rapidamente para paralisia e morte = MANSA/MUDA. Cães: Sua fase prodrômica dura 2-3 dias com súbita alteração comportamental, elevação sutil de temperatura e reflexo corneal lento. Na fase excitatória furiosa, 3-7 dias, apresentam agressividade,fotofobia, hidrofobia, latido bitonal, dificuldade de deglutição, sialorreia, convulsões, incoordenação, paralisia, coma, morte com 10 dias. A fase excitatória muda pode perdurar de 7-10 dias, com paralisia dos músculos da mastigação e deglutição, com paralisia progressiva e morte de 2-4 dias. Morcegos: Apresentam atividade diurna, hipersensibilidade, agressividade, incoordenação, tremores, paralisia e morte. Humanos: Fase prodrômica com alteração comportamental e formigamento no local da inoculação viral. Período neurológico agudo com sialorreia, hidrofobia, hiperexcitabilidade, fotofobia, aerofobia. Depois ocorre uma piora dos sinais da fase anterior com convulsões, alucinações, gritos, coma e morte. ------Diagnóstico------ O diagnóstico clínico é de suspeita, sinais neurológicos devem sempre levar a suspeita de raiva até que se prove o contrário, evitando exposição ao vírus. O hemograma não apresenta alterações, porém no líquor há aumento de proteínas = mais células de defesa e produtos da replicação viral. No anatomopatológico não se tem alterações significativas, mas pode ocorrer congestão cerebral que não é indicativa. No histopatológico se tem infiltrações linfocitárias, gliose (aumento de astrócitos em áreas danificadas do SNC) e neurodegeneração, além dos CORPÚSCULOS DE NEGRI que são patognomônicos para raiva. Também podem ser feitos testes como a imunofluorescência direta e indireta, inoculação em camundongos, cultivo celular, imunohistoquímica, ELISA, PCR, soroneutralização, etc. O diagnóstico diferencial se dá por exclusão de cinomose e intoxicações através do isolamento deixando água e comida à vontade e observando esse animal por, no mínimo 10 dias, na raiva um cão morre em até 10-12 dias no máximo, enquanto que na cinomose, fase aguda, leva no mínimo 15, e nas intoxicações o quadro pode ser ainda mais agudo que a raiva. Para que seja feito o diagnóstico devem ser mandadas amostras para laboratórios especializados da cabeça, pode ser inteira, dependendo do porte do animal até o corpo todo (como morcegos), hipocampo, cerebelo, tronco cerebral. Essas amostras devem ser resfriadas ou congeladas, fixadas com glicerina ou com formol (mas o formol apenas para o histopatológico uma vez que ele inativa os vírus para testes como imunohistoquímica). --- --- Tratamento------ Não é feito em animais devido o risco de transmissão para humanos. Em humanos o tratamento mais conhecido é o Protocolo de Milwaukee, porém o número de curados mundialmente até hoje não passa de 10 pessoas. Imunoprofilaxia pré e pós exposição são as melhores e mais garantidas formas de controle e tratamento. -Profilaxia e controle - Vacinação de cães e gatos, além de animais silvestres nas proximidades. Controle da população de morcegos com uso de pastas venenosas, educação em saúde. No caso de agressões por animais sem histórico vacinal, o agressor fica em isolamento por no mínimo 10 dias e o agredido é vacinado independentemente de seu histórico vacinal. Mas ele foi mordido e vão dar a vacina, isso não aumenta a carga viral e acelera a infecção? No caso da vacina antirrábica não, porque é uma vacina de vírus inativado, ou seja, não tem capacidade de infectar, porém tem capacidade imunológica o que vai gerar uma resposta ainda maior do sistema imune no combate aos vírus ativados que foram inoculados com a mordida.
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