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Doenças virais EAD 3ºdoc

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3ª prova de Doenças virais (17/06)
1. Complexo respiratório viral felino
2. Hepatite infecciosa canina
3. Influenza equina
4. Raiva
5. Pseudoraiva
6. Cinomose
7. Varíola bovina
8. Encefalites virais equinas
9. Herpesvírus equino
10. Herpesvírus bovino
COMPLEXO RESPIRATÓRIO INFECCIOSO FELINO
80% dos casos ocorrem com vírus associados.
Susceptibilidade: felinos jovens, imunossuprimidos (como os animais FIV e FeLV) e ambientes de aglomeração.
FHV-I : Herpesvírus felino
É um vírus contagioso;
Sobrevive no ambiente por 18 horas;
Susceptíveis aos desinfetantes comuns;
Conscientizar os tutores sobre a limpeza do ambiente, principalmente em casos de tutores com muitos gatos.
Transmissão: mucosa oral, nasal e conjuntival. Tem tropismo maior por mucosa nasal.
Causam alterações em TRS principalmente, como secreção nasal e espirros. Além disso, provocam sinais oculares (conjuntivite leve a grave, hiperemia, quemose, secreção serosa ocular, ceratite herpética: ulceração primária pelo FHV-1, úlcera dendrítica que é patognomônica do herpesvírus); é um vírus que causa morte celular ao se replicar na célula.
Sinais clínicos menos comuns: dermatite herpética (diagnósticos diferenciais: CCE; esporotricose, criptococose). Alterações de comportamento (meningoencefalite herpética). 
Diagnóstico diferencial: toxoplasmose, coronavirose, FIV e FELV.
Reaparecimento de sinais clínicos
Um animal que teve herpesvírus pode ter nova manifestação de sinais clínicos em situações esporádicas.
1)Reativação viral
Momentos de estresse podem favorecer o novo aparecimento de herpes.
2)Lesão do epitélio das conchas nasais
Mucosa lesionada → diminuição de IgA > rinossinusites crônicas.
Deixa o animal suscetível a outras infecções.
Um momento estressante pode reativar a doença e pode ter resolução espontânea em duas semanas. 
FCV: Calicivírus felino
É um vírus muito contagioso, pois não é envelopado. Sobrevive por dias a semanas em temperatura ambiente e mais ainda no frio. Susceptíveis ao hipoclorito de sódio (concentração 1:30 → 1 litro de água sanitária para 30 de água). 
TRANSMISSÃO
-Mucosa oral, nasal e conjuntival → tropismo por oral.
SINAIS CLÍNICOS
Sinais respiratórios - secreção nasal serosa e espirros
Úlceras orais → principalmente em língua
Ptialismo
Gengivoestomatite crônica → está presente, mas acredita-se que o calicivírus está associado a outros agentes.
CHLAMYDIA FELIS
Secreção mucopurulenta.
Quemose → edema de conjuntiva.
BORDETELLA BRONCHISEPTICA
ITRSF = CRF → Etiologia múltipla
Complexo respiratório viral felino → Etiologias virais somente
Rinotraqueíte viral felina → herpesvírus (FHV-1)
DIAGNÓSTICO
-Histórico
Filhote, vive em comunidade, abrigos…
PCRS para cada agente
Antivirais usados em complexo respiratório felino, na dose de 90 mg/Kg, que é uma dose aparentemente alta, mas não é tóxica, gera secreção lacrimal e pode ser usada.
O ATB de escolha é a doxiciclina, pois pega Bordetella, Clamídia, Micoplasma, que são as 3 bactérias mais envolvidas. De segunda opção amoxicilina.
Após adm comprimido, devemos dar água, para evitar esofagite e estenose.
Se a nebulização causar estresse, retiramos do manejo.
VACINAÇÃO
V3 engloba todas as essenciais.
Mesmo animais vacinados contra herpesvírus e calicivírus podem manifestar sinais clínicos e disseminar os vírus.
Vacinamos os gatos pois os vacinados tem sinais brandos e disseminação viral menos intensa.
Comentários profa:
-O herpesvírus fica em latência no gânglio trigêmeo, podendo dar origem às suas alterações neurológicas. Isso é um tema pouco estudado ainda, mas que vem ganhando foco nos últimos tempos.
-Desinfetantes → questão que devemos tomar muito cuidado, pois os herbalvets são cheirosos, mas para o gato tem um cheiro muito forte. A água sanitária precisa estar diluída para ter ação adequada contra certos agentes. 
-Úlcera dendrítica é patognomônica, não usar colírios se ele estiver tomando medicamento sistêmico, visto que já tem ação, e o colírio pode irritar o animal. 
-Doença em que tem medicamentos antivirais legalizados que podem ser usados no tratamento, o que não vimos nos tratamentos de outras doenças. A PIF tem aquele tratamento ainda pouco legalizado.
-A vacina para herpesvírus e calicivírus promove imunidade celular, e por isso que não podemos usar testes de anticorpos. 
Hepatite Infecciosa Canina
Definição
Enfermidade infectocontagiosa superaguda ou aguda, de etiologia viral, que acomete predominantemente cães jovens (mas os adultos podem ter também, embora ocorra mais em jovens).
Ocasiona comprometimento grave de fígado e outros órgãos, com elevada letalidade.
-Veterinários tem a crença de que ela não existe, mas EXISTE SIM.
-É uma vacina essencial.
Etiologia
Família: Adenoviridae
Gênero: Mastadenovirus
Espécie: Canine adenovirus 1 (CAV-1)
Canine adenovirus 2 (CAV-2): doença respiratória em cães (tranqueobronquite infecciosa), que é genética e antigenicamente relacionado com CAV-1 (causador da hepatite infecciosa canina). Antigamente as vacinas protegiam contra o tipo 1, mas hoje é contra o tipo 2, pois o adenovírus tipo 1 causa o olho azul (hepatite infecciosa canina causa a doença do olho azul), sendo que o adenovírus tipo 2 não tem essa capacidade. Se você proteger contra o tipo 2 terá proteção cruzada contra o tipo 1 também. 
-Vírus DNA
-Não envelopado: maior resistência ambiental
Resistência ambiental
Resiste:
4°C: 9 meses
37°C: até 30 dias
50-60°C: 5 min
Ampla faixa de pH 3-9
Resistente ao: Éter, clorofórmio, formalina e ácidos
Estável em certas radiações UV
Sensível:
hipoclorito de sódio 5%, hidróxido de sódio, fenóis e iodóforos (agentes cáusticos)
Epidemiologia
Susceptíveis:
Família Canidae e Família Ursidae (ursos negros e polares)
Superfamília Mustelidae
Animais selvagens seriam mantenedouros do vírus?!
Letalidade: 80% dos doentes → alta letalidade
Fontes de infecção: animais doentes
Vias de eliminação: pp// fezes e urina, mas está presente em todas as secreções corpóreas
Porta de entrada: VO (pp//) ou via oronasal
Transmissão: direta e indireta (fômites)
Pode haver a participação de ectoparasitas
Animais que sobrevivem à infecção: fontes de infecção por 6-12 meses via urina (infecção
renal, apesar do clearance de outros órgãos) => vírus não envelopado
Vírus já é encontrado na urina por volta de 10-14d pós-infecção
Patogenia
O cão entra em contato com o vírus, que ingressa via oral ou nasal, chega às tonsilas onde se replica e produz tonsilite (vista na necropsia) e 4-8 dias pós infecção tem viremia. O aumento de tonsilas está relacionado com as manifestações clínicas de laringite e faringite.
Uma vez que dissemina no organismo, alguns locais são muito importantes: fígado (células de kupffer são as primeiras a serem infectadas, seguido dos hepatócitos, causando hepatite aguda que pode levar ao óbito), afeta células tubulares renais (tem afinidade por elas, leva à nefrite, dissemina na urina por 6 a 12 meses), células endoteliais vasculares (provoca vasculites com hemorragias, que desencadeiam processo de coagulação levando à CIVD que intensifica a hemorragia). Alterações mais graves nos glomérulos renais, córneas e fígado, mas podem ocorrer em qualquer tecido onde o vírus está presente.
Tem produção de anticorpos 7 dias após a infecção, formando complexos ag-ac que circulam e são deletérios ao organismo, visto que levam à formação de edema e opacidade de córnea, com uveíte anterior e a doença do olho azul. A deposição de complexos leva à glomerulonefrite em 1-2 semanas após infecção, que provoca uma importante lesão renal.
Alterações da HIC que podem levar à morte
Estabelecimento de insuficiência hepática e encefalopatia hepática=> coma ou semicoma
=> morte
Mortes súbitas: relacionadas à lesões em SNC, pulmões, CID
Sinais Clínicos
-Cães 1 mês a 2 anos (principalmente até 1 ano): manifestações clínicas + evidentes
-Animais não vacinados ou vacinados inadequadamente
-Forma grave/hiperaguda: morrem em questão de horas após o início dos sinais clínicospode ser confundida com envenenamento
-Forma aguda:PI 2-5 dias
SINAIS
-Duração: 2-7 dias
-Hipertermia (até 41°C)
-FC e FR aumentadas
-Faringite e laringite
-Sinais inespecíficos: Inapetência, letargia, fraqueza, vômitos (às x com sg), diarreia líquida (mtas vezes com sg)
-Desidratação
-Tosse e sons respiratórios ásperos mais baixos (pneumonia)
-Linfadenomegalia cervical com edema subcutâneo da cabeça, do pescoço e de partes
pendentes do tronco e membros
-Petéquias disseminadas e equimoses, epistaxe e sangramento em locais de punção venosa
-Sensibilidade abdominal (devido hepatomegalia) e hepatomegalia (fase aguda)
Cães podem sobreviver à fase aguda e morrer devido a fase aguda de cirrose.
-Distensão abdominal por acúmulo de líquido serossanguinolento ou hemorragia.
Sinais SNC: depressão, desorientação, ataxia, andar em círculos, nistagmo, head pressing,
convulsões ou coma.
Os sinais neurológicos são raros em cães, mas podem ocorrer devido à encefalopatia hepática ou replicação viral em SNC.
A raposa às vezes só tem sinais neurológicos, sem outras alterações, relacionados com a replicação viral em SNC.
Sinais clínicos oculares
-20% dos cães infectados
-rara em cães vacinados
-1% dos vacinados
-replicação viral cls endoteliais corneanas e também por deposição de complexos imunes.
-Embaçamento da córnea em geral começa no limbo e se dissemina em direção central
-Lesões oculares começam 7 dias PI
-Casos subclínicos ocorre só ceratite, com aparecimento súbito da córnea azulada
-Edema de córnea e uveíte anterior ocorrem quando a recuperação começa
-Podem ser os únicos sinais observados em animais com infecção inaparente
-Geralmente autolimitantes, recupera em 3 sem
-Edema de córnea: blefaroespasmo,fotofobia e secreção ocular serosa → pode evoluir ao glaucoma. A drenagem do líquido fica prejudicada devido ao edema. 
-Dor ocular: ocorre nos estágios iniciais da infecção e cessa qdo a córnea fica completamente embaçada
-Úlcera de córnea e glaucoma podem estar presentes e tb causam dor
-Afghan hound são bastante susceptíveis às lesões oculares como complicação da HIC
Diagnóstico
Anamnese → vacinado adequadamente? contato com animal doente?
Sinais clínicos
Hematologia:
anemia discreta
leucopenia grave (<1.000cls/uL)
linfopenia e neutropenia
trombocitopenia (CID)
testes de coagulação alterados
Bioquímica:
↑ ALT, AST e FA: refletem necrose dos hepatócitos e são variáveis de acordo com a fase da infecção
Hiperproteinemia
Hiperbilirrubinemia: incomum
O curso da doença é rápido e não vemos nada disso, e nem icterícia.
Urinálise:
Bilirrubinúria moderada a acentuada (frequente)
Hematúria
Proteinúria, albuminúria (lesão renal pelo CAV)
Cilindros granulares e hialinos
Diagnóstico diferencial
Cinomose (co-infecção frequente)
Parvovirose
Herpesvírus canino
Síndrome do definhamento do neonato
Leptospirose
Má nutrição
Outras causas de encefalopatia
Outras causas de hipoglicemia
Toxinas que podem causar necrose hepática e/ou coagulopatias
Tratamento
-Específico: não há
-Suporte: para permitir o reparo das cls hepáticas
-Fluidoterapia: repor perdas por vômitos e diarreia
-Transfusão de plasma fresco ou sg total: reposição de fatores de coagulação
-Tto anticoagulantes
-Reposição de glicose (bolus e infusão contínua) => casos de hipoglicemia
-Antieméticos → maropitant é preferível do que a metoclopramida aumenta a motilidade intestinal
-Enema acidificante: ttar a estase intestinal e retardar a absorção da amônia
-Potássio (parenteral ou oral): auxilia a (1) reduzir a reabsorção oral da amônia e (2) corrigir
a acidose metabólica
-Acidificação urinária: ácido ascórbico (Vit C) pode reduzir a reabsorção da amônia pelos rins
e auxilia na recuperação tecidual
Tratamento
Antibióticos de amplo espectro: se houver infec. bact. secundária:
ceftiofur → primeira escolha
ampicilina → segunda escolha
Suporte hepático:
S-adenosilmetionina (SAMe),
silimarina,
vitamina E, e/ou
Ursodiol
Diagnóstico etiológico
Isolamento viral: produz efeito citopático
Pulmão, fígado, fezes
PCR:
Sangue; swab retal, conjuntival ou nasal; urina; tecidos coletados em necropsia
Prevenção
Vacina essencial
Teste rápido para avaliar resposta humoral
Assíncrono 13/05/2021
Influenza equina 
INTRODUÇÃO
A influenza equina (EI - equine influenza), conhecida como gripe equina, causa destruição epitelial do trato respiratório superior de equídeos, resultando em febre, tosse, secreção nasal e, por vezes, levando à pneumonia devido à lesão viral e infecções bacterianas secundárias (WRIGHT; NEUMANN; KAWAOKA, 2013).
Os vírus da influenza equina (EIV - do inglês equine influenza virus) têm o genoma composto por oito segmentos de RNA de cadeia simples, segmentados que agem de forma independente durante a replicação viral (CHEN et al., 2001). codificando 15 proteínas. A classificação dos vírus influenza A é baseada na composição dos dois maiores antígenos de superfície, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA) (WRIGHT; NEUMANN; KAWAOKA, 2013). Pequenas mutações da cadeia de aminoácidos nessas duas proteínas podem levar a diferenças de antigenicidade e consequentemente ao escape imune (PARK et al., 2009). Inicialmente, os EIVs (subtipo H3N8) foram definidos em um único grupo filogenético (KAWAOKA; BEAN; WEBSTER, 1989) que depois evoluiu em duas linhagens, Americana e Eurásica, de acordo com a região geográfica (DALY et al., 1996). A linhagem Americana divergiu nas sub-linhagens América do Sul, Kentucky e Flórida (LAI et al., 2001). As estirpes do grupo Flórida tiveram mutações na subunidade 1 da hemaglutinina (HA01), A78V e S159N, havendo uma nova divisão em Flórida 1 e Flórida 2 (LAI et al., 2001; BRYANT et al., 2009), representados por A/equine/South Africa/4/03 and A/equine/Newmarket/5/03, respectivamente (OIE, 2016). As sublinhagens Flórida 1 e Flórida 2 foram identificadas em surtos que ocorreram mundialmente e continuam sendo os EIVs predominantes (BRYANT et al., 2011; VIRMANI et al., 2011; BERA et al., 2013; GILDEA; FITZPATRICK; CULLINANE, 2013; VILLALOBOS et al., 2013; YONDON et al., 2013; KARAMENDIN et al., 2014; WOODWARD et al., 2014; LEGRAND et al., 2015; BEUTTEMMÜLLER et al., 2016).
O Brasil experienciou surtos de EIV do subtipo H3N8 em 1963 (ANDREWS; PEREIRA; WILDY, 1978), 1969 (CUNHA, 1970; PEREIRA et al., 1972), 1985 (CUNHA et al., 1986), 1988 (MANCINI et al., 1988), 2001 (LOUREIRO, 2004) e 2012 (VILLALOBOS et al., 2013; BEUTTEMMÜLLER et al., 2016) e surtos do subtipo H7N7 em 1976 (PIEGAS et al., 1976; CUNHA; PASSOS; VALLE, 1978). De acordo com a OIE, surtos brasileiros também ocorreram nos anos de 2008 (OIE, 2009) e 2010 (OIE, 2011). Os EIVs foram isolados porém a linhagem ao qual pretenciam não foi divulgado.
Em 2012, importantes surtos ocorreram nos Estados Unidos, Argentina, Brasil, Uruguai e Dubai. Os vírus tiveram grande similaridade e pertenciam ao grupo Flórida 1 (VILLALOBOS et al., 2013; WOODWARD et al., 2014; BEUTTEMMÜLLER et al., 2016; PERGLIONE et al., 2016). Acredita-se que o surto iniciou-se na América do Sul e depois nos EUA e Dubai (PERGLIONE et al., 2016). O Brasil reportou no mesmo ano 129 surtos confirmados de EIV em cavalos com 1382 casos, incluindo 2 mortes, enquanto em 2011 foram reportados 24 surtos com 62 casos [World Animal Health Information Database (WAHID) Interface - http://www.oie.int/wahis_2/public/wahid.php/Countryinformation/Reporting]. Assim, o presente trabalho teve como objetivos a obtenção de isolados de EIV brasileiros recentes, promover o sequenciamento e análises filogenéticas e evolutivas dessas amostras virais.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A influenza equina é uma enfermidade do trato respiratório superior dos equinos com características bastante semelhantes aos outros vírus do tipo influenza A. A seguir são descritos a taxonomia, estrutura, organização e epidemiologia dos vírus influenza A e influenza equina.
2.1 TAXONOMIA DOS VÍRUS INFLUENZA A
Os vírus influenza A pertencem à família Orthomyxoviridae, gênero Influenzavirus A, espécie vírus Influenza A. A família abrange outros 4 gêneros: InfluenzavirusB (espécie vírus Influenza B), Influenzavirus C (espécie vírus Influenza C), Isavirus (espécie vírus da Anemia Infecciosa do Salmão), Thogotovirus (espécies vírus Dhori e vírus Thogoto). Um quinto gênero está sendo analisado para integrar a mesma família: Quaranfilvirus (espécies vírus Quaranfil, vírus Johnston Atoll e vírus Lake Chad) (ICTV, 2017). Um novo gênero foi proposto em 2014, devido à descoberta do vírus influenza D (HAUSE et al., 2014), descrito em suínos (HAUSE et al., 2014; CHIAPPONI et al., 2016) e em bovinos (HAUSE et al., 2014; DUCATEZ; PELLETIER; MEYER, 2015; FERGUSON et al., 2015; CHIAPPONI et al., 2016; MURAKAMI et al., 2016) que até o momento da escrita deste trabalho ainda não
estavam descritos no ICTV.
2.2 NOMENCLATURA DOS VÍRUS INFLUENZA A
Os vírus influenza são nomeados da seguinte maneira: tipo antigênico (A, B ou C)/animal que o vírus foi isolado (no caso de humanos, essa informação é omitida)/região geográfica que foi isolado/identificação laboratorial do isolado/ano do isolamento viral e em seguida, em parênteses, o subtipo de HA e NA (SUAREZ, 2008). Por exemplo, o vírus isolado de equinos na África do Sul em 2003 é escrito: A/equine/South Africa/4/2003 (H3N8).
2.3 GENOMA E ESTRUTURA DOS VÍRUS INFLUENZA A
Os vírus influenza A têm o genoma RNA com 8 segmentos de polaridade negativa. Dentre os oito segmentos, cinco (NS, M, PA, PB1 e PB2) são policistrônicos, contêm mais de uma ORF (open reading frame). Os oito segmentos codificam 15 proteínas: duas glicoproteínas de superfície - hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA), duas proteínas estruturais - matriz (M1) e canal iônico (M2), oito proteínas não estruturais - NS1 (WRIGHT; NEUMANN; KAWAOKA, 2013), PB1-F2 (CHEN et al., 2001), PB1-N40 (WISE 2009) PA-X (JAGGER et al., 2012), PA-N155, PA-N182 (MURAMOTO et al., 2013), a proteína de exportação nuclear (NEP, antigo NS2), a nucleoproteína (NP) e três proteínas que formam o complexo da polimerase viral (vPC - viral polymerase complex) (WRIGHT; NEUMANN; KAWAOKA, 2013).
Cada vírion é composto por um envelope lipídico de origem celular, são pleomórficos com aproximadamente 100nm de diâmetro (FUJIYOSHI et al., 1994). A camada lipídica do envelope contém as proteínas virais transmembrana HA, NA e M2 e sob essa camada há a matriz (M1) que sustenta as vRNPs que têm a forma helicoidal (SCHEIFFELE et al., 1999; ZHANG; PEKOSZ; LAMB, 2000) (Figura 1).
O genoma viral combinado com a NP é chamada ribonucleoproteína (vRNP) (ELTON et al., 2005) e está associada ao vPC durante a formação da partícula viral (WEBSTER; BEAN, 1978). O vRNP é o complexo fundamental para a replicação e transcrição viral. Sítios de ligação na NP para a formação desse complexo são necessárias para a forma e função da vRNP (WANG et al., 2011): interação NP-NP, RNA, PB2 e PA (ELTON et al., 1999; MARKLUND et al., 2012).
A HA é a glicoproteína de envelope que está em maior abundância (~80%), contém sítios receptores de ácido siálico e epítopos que são alvo de anticorpos neutralizantes (SKEHEL; WILEY, 2000; NAYAK et al., 2009). A HA está em forma de trímeros e a quebra da HA0 em HA1 e HA2, por meio de triptases que estão presentes no epitélio bronquiolar (KIDO et al., 1999), expõe sítios de ligação que contêm o peptídeo de fusão, fundamentais para a infectividade viral (HUANG et al., 2003; NAYAK et al., 2009). A ligação da HA com o SA promove a fusão do envelope viral à célula que entra na célula por endocitose (SKEHEL; WILEY, 2000). A M2 está disposta em tetrâmeros que formam os canais iônicos (PINTO; HOLSINGER; LAMBT, 1992), presentes no envelope viral (ZEBEDEE; LAMB, 1988). Estão presentes em cada partícula viral aproximadamente 16-20 moléculas (LEAR, 2003). A proteína M2 é também relacionada à formação do vírion através de interações com a proteína M1, controlando a morfologia viral (HUGHEY et al., 1995). Dentro do endossomo, em pH ácido, ocorre a alteração conformacional HA2 e ocorre a fusão das membranas virais e endossomais (COLMAN; LAWRENCE, 2003). Os canais iônicos (M2) se abrem com o pH ácido e acidifica o interior da partícula viral, provocando a dissociação das vRNPs da matriz (M1) (TAKEDA et al., 2002; EISFELD; NEUMANN; KAWAOKA, 2014), expondo o NLS (sinalizador de transporte nuclear) e liberando o conteúdo para o citoplasma
celular. Os NLS presentes na NP dos vRNPs são reconhecidos pela célula e permitem o transporte das vRNPs para o núcleo, onde ocorrerá a produção do mRNA e cRNA, dando início à transcrição (síntese de mRNA) e replicação (CROS; PALESE, 2003; LI et al., 2015).
Durante a fase de replicação viral que a proteína NS1 tem papel de regular os mecanismos da célula infectada. Um desses papéis é o de interferir na máquina celular de forma que haja a facilitação da transcrição do RNA viral (ARAGÓN et al., 2000; GEISS et al., 2002; SOLÓRZANO et al., 2005; HALE et al., 2008).
A progênie viral é produzida a partir do cRNA. Os segmentos virais são exportados para o citoplasma onde são organizados perto da membrana celular e então liberados para o espaço extracelular (SMITH; HAY, 1977; RESA- INFANTE et al., 2011). Há duas teorias sobre a forma em que ocorre o empacotamento viral: aleatória e específica. A primeira seria regida pela competição de partículas semelhantes que há na estrutura das vRNPs (ENAMI et al., 1991; BANCROFT; PARSLOW, 2002) e a segunda assume a seleção específica dos segmentos, permitindo selecionar quais partículas serão incorporadas (SMITH; HAY, 1982). A presença de sequências sinalizadoras nas regiões de 3' e 5'UTR específicas para cada segmento (FUJII et al., 2003, 2005; WATANABE et al., 2003; LIANG; HONG; PARSLOW, 2005; MURAMOTO et al., 2006) suporta a teoria do empacotamento específico.
A NA é a segunda mais abundante proteína do envelope viral (~17%) e está disposta em tetrâmeros. Sua reação enzimática promove a quebra dos SA da superfície celular, promovendo a liberação das novas partículas virais e, assim, tendo importante participação da disseminação e transmissão viral (NAYAK et al., 2009).
Os vírus influenza A são classificados de acordo com a composição das duas mais importantes proteínas de envelope, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA) (SHAW; PALESE, 2013). Foram descritas 18 tipos de HA e 11 de NA. Todos os HA16 e NA9 são encontrados em aves e os recentes subtipos H17N10 e H18N11 foram encontrados em morcegos (TONG et al., 2012, 2013).
A HA do H17N10 tem semelhanças com as outras 16 HAs conhecidas dos vírus influenza A. Porém, a estrutura no N10 (LI et al., 2012; ZHU et al., 2012) descoberto em morcegos tem grandes diferenças no sítio ativo em relação às neuraminidases com características conhecidas (N1-9). Essa diferença previne a atividade de sialidase, não desempenhando a atividade que é característica da NA (GARCIA-SASTRE, 2012). Em 2013, Tong e colaboradores demonstraram que as novas HAs (H17 e H18) e NAs (N10 e N11) não utilizam o ácido siálico para fusão celular e soltura dos vírions das células, sugerindo que um novo mecanismo de ligação e entrada na célula possa existir.
Por classificação filogenética, os subtipos de HA e NA são agrupados em dois grupos cada um, incluindo os recém descobertos H17/18 e N10/11 (GAMBLIN; SKEHEL, 2010; WU et al., 2014) (Figura 2). Os subtipos H17 e H18 pertencem ao grupo 1. A árvore das neuraminidases mostra a formação de dois grupos porém N10 e N11 formam um terceiro grupo, distinto dos demais (WU et al., 2014).
2.4 A INFLUENZA A
O vírus da influenza foi descrito em 1931 quando ocorreu a primeira associação do vírus à enfermidade respiratória em suínos, que era similar ao que ocorria em humanos (SHOPE, 1931). Em 1933 o isolamento do vírus de humanos com sintomatologia semelhante ao dos suínos foi descrito (SMITH; ANDREWES; LAIDLAW, 1933) e o vírus isolado foi nomeado Influenza A (WRIGHT; NEUMANN; KAWAOKA, 2013). Nos anos seguintes, em 1940 e 1947, outros dois tipos de vírus influenza foram isolados de humanos: o vírus influenza B (B/Lee/40) e o vírus influenza C (WRIGHT; NEUMANN; KAWAOKA, 2013). Ambos acometem somente humanos,raramente afetando animais (PALESE; SHAW, 2007).
O vírus influenza A causa destruição do epitélio do trato respiratório superior, podendo atingir o trato inferior. A ligação a esses tecidos se deve à presença de receptores de ácidos siálicos (SA) na parte globular da hemaglutinina (HIGA; ROGERS; PAULSON, 1985; SUZUKI et al., 2000) e a ligação de anticorpos a esses receptores promove a inibição e inativação da
partícula viral (BOUVIER; PALESE, 2008). Os ácidos siálicos (SA) são uma família de glicoproteínas presentes na parte terminal de açúcares ancorados na membrana celular que podem ser feitos de diferentes tipos de ácidos neuramínicos. As duas ligações mais comuns são do tipo α2,6 e α2,3 (ITO; KAWAOKA, 2000; SUZUKI, 2005). São classificados de acordo com a ligação ao açúcar pelo carbono α-2. Dois SA são de especial importância na patogenia dos vírus influenza A, o ácido N-acetilneuramínico (Neu5Ac) e o ácido N-gliconeuramínico (Neu5Gc) devido à ligação que a HA pode fazer a eles (SUZUKI et al., 2000; SUZUKI, 2005).
Os vírus influenza A têm diferentes afinidades aos SA considerando-se a espécie animal como por exemplo, o vírus influenza avirário (SAα2,3Gal), influenza humano (Neu5Acα2,6Gal) (ROGERS; PAULSON, 1983; ROGERS; SOUZA, 1989; CONNOR et al., 1994), influenza canino (Neu5Gcα2,3Gal e Neu5Acα2,3Gal) e influenza equino (Neu5Gcα2,3Gal) (SUZUKI et al., 2000; YAMANAKA et al., 2010; PECORARO et al., 2013). A predominância dos SA tipo α2,3 nas aves ocorre no trato intestinal, enquanto no equino ocorre no epitélio da traquéia (SUZUKI et al., 2000).
A maneira como as doenças estão dispersas em uma população é classificada pelo CDC como surto, endemia, epidemia, pandemia (REZENDE, 1998) Quando a doença está relacionada aos animais utiliza-se o sufixo zootia (enzootia, epizootia e panzootia) (SLEIGH, 2011). As aves são reservatórios dos vírus influenza A e há a possibilidade de ocorrerem mutações, principalmente em aves migratórias (LU; LYCETT; BROWN, 2014) e dispersão do vírus para outros hospedeiros (KAWAOKA; KRAUSS; WEBSTER, 1989; WEBSTER et al., 1992; ZHOU et al., 1999) (Figura 3). Assim como as aves, os suínos têm importância na cadeia epidemiológica visto que por possuírem receptores (SA α2,3 e SA α2,6) nas células que permitem a coinfecção por diferentes vírus Influenza A, com afinidades a diferentes receptores, existe a possibilidade de ocorrerem reassortments e posteriormente a disseminação de norvas formas virais (ITO et al., 1998; SUZUKI et al., 2000; TREBBIEN; LARSEN; VIUFF, 2011).
As mutações que ocorrem nos vírus influenza A podem ser do tipo drift antigênico, quando há acumulação de mutações pontuais, ou shift antigênico, quando há mudanças abruptas em HA e/ou NA (DOWDLE; SCHILD, 1976). A capacidade de mutar-se com facilidade e de promover o embaralhamento (reassortment) dos segmentos do genoma são características importantes para a evolução dos vírus influenza (MANRUBIA et al., 2005; MURCIA et al., 2010, 2013; DOMINGO; SHELDON; PERALES, 2012; HUGHES et al., 2012; LU; LYCETT; BROWN, 2014). A coinfecção de estirpes diferentes em um mesmo hospedeiro pode levar à formação de um novo vírus, contendo partes de cada um desses vírus (OZAWA; KAWAOKA, 2013), como pode também haver apenas uma seleção natural do vírus que está predominante no hospedeiro. Essas habilidades adaptativas permitem a formação de quasispecies e variantes que eventualmente levam ao escape imune (PARK et al., 2009; DOMINGO; SHELDON; PERALES, 2012) ou surgirem novas formas virais capazes de cruzarem barreiras entre espécies (KIRKLAND et al., 2010; PECORARO et al., 2013).
Os influenza A têm grandes diferenças nas sequências de aminoácidos das glicoproteínas de superfície (HA e NA) (NOBUSAWA et al., 1991). Essas alterações podem resultar em diferença de antigenicidade, assim que os anticorpos específicos para um subtipo de HA neutralize apenas aquele mesmo subtipo. A diferente antigenicidade dos subtipos de HA implica na escolha das estirpes virais durante a produção de vacinas (LEE; SUAREZ, 2005).
Em um mesmo subtipo de HA também são observadas diferenças de antigenicidade devido aos drift antigênicos. É devido a essas diferenças em antigenicidade que a vigilância sobre as estirpes circulantes seja importante para determinar quais estirpes vacinais serão utilizadas (DALY et al., 1996; SMITH, 2003; STRENGELL et al., 2011). As regiões antigênicas da HA estão localizadas na parte globular da glicoproteína. A ligação de anticorpos a essas regiões pode neutralizar o vírus através do bloqueio ao sítio receptor da HA, prevenindo a ligação da partícula viral e consequentemente a infecção da célula. Mutações nas regiôes antigênicas podem ocorrer sem causar alterações na antigenicidade ou podem levar à diminuição ou até à perda de reconhecimento do anticorpo e levar ao escape imune (WEBSTER; LAVER, 1980).
2.5 A INFLUENZA EQUINA
Em 1956 o vírus da influenza equina (H7N7) foi descrito, e o subtipo H3N8, decorrente do maior shift antigênico ocorrido pelo EIV, foi descrito em 1963. O subtipo emergido a partir do shift antigênico foi chamado de H3N8 (A/equi/Miami/1/63) (WADDEL; TEIGLAND; SIGEL, 1963). O H7N7 é considerado extinto desde 1980 e o H3N8 permanece até os dias atuais causando surtos mundialmente (WEBSTER, 1993). Acredita-se que os dois
subtipos de EIV tenham originados de um vírus influenza aviário (CHAMBERS, 2014).
A rápida dispersão da doença entre os animais, com alta morbidade e baixa mortalidade era relatada desde os tempos pré-virológicos, quando não se sabia o que estava causando a afecção nos animais (FLEMING, 1871; MORENS; TAUBENBERGER, 2010). Muitas dessas epizootias ocorreram em paralelo à doença respiratória sugestiva de influenza em humanos na Europa (FLEMING, 1871; CLEMOW, 1889; MORENS; TAUBENBERGER, 2010). A possibilidade de infecção humana pelo EIV foi pesquisada em 1969 com a inoculação do vírus equino H3N8 A/equine/Miami/1963 em homens, resultando em sintomatologia (KASEL; COUCH, 1969). Relatos da infecção pelo EIV em diferentes espécies foram feitos em 1969, 2002, 2004, 2005, 2007 e 2014 (KASEL; COUCH, 1969; CRAWFORD et al., 2005; DALY et al., 2008; KIRKLAND et al., 2010; CRISPE et al., 2011; SU et al., 2014).
A maior panzootia equina foi registrada em 1872, iniciando em Toronto e disseminando pela América do Norte e América Central com fatalidade entre 20 e 50% (MORENS; TAUBENBERGER, 2010). A panzootia causou grandes prejuízos nos Estados Unidos devido ao transporte na época ser realizado com animais. A falta de transporte afetou inclusive policiais, médicos e bombeiros, levando ao difícil controle de um grande incêndio que ocorreu em Boston (SAMMARCO, 1997). Diversas epidemias e surtos ocorreram nos 30 anos seguintes (MORENS; TAUBENBERGER, 2010). O Reino Unido sofreu um grande surto de influenza equina em 1979 e desde então a vacinação é obrigatória para equinos de competição. A maioria dos equinos no Reino Unido continua sem vacinação e casos esporádicos vem ocorrendo (ELTON; BRYANT, 2011). Em 2003 um surto de EI afetou cavalos, em sua maioria com esquema de vacinação atualizado, em no mínimo 12 locais e 21 centros de treinamento equestres (NEWTON et al., 2006). Mesmo com as vacinações, surtos grandes de EIV ocorreram na África do Sul em 2003 (GUTHRIE, 2006), no Japão em 2007 (YAMANAKA et al., 2008) e na Austrália em 2007 (WATSON et al., 2011a, 2011b). O rápido diagnóstico da EI no surto australiano de 2007 foi fundamental para o controle da disseminação do vírus pelo país. Ações de restrição de movimentação dos animais foram tomadas de imediato. Em seguida, um plano nacional de restrição de movimentação de equinos foi estabelecida, medidas de biossegurança rígidos e de longo termo, controle das zonas de focos de EIV, vacinação estratégica para criar uma zona de buffer e posteriormente para acelerar a proteção de populações equina e a disponibilidade de testes diagnósticos rápidos utilizados em paralelo (ELISA associado ao qRT-PCR) permitiram a erradiação do EIV na Austrália em menos de seis meses (KIRKLANDet al., 2011; READ et al., 2011). São livres de EIV a Austrália, Hong Kong, Nova Zelândia, Japão e África do Sul. Esses países têm protocolos rígidos de importação de cavalos, incluindo testes para EIV baseados em PCR. Países em que o EIV é enzoótico, observa-se que têm vigilância menos intensiva e a vacinação e políticas de importação são menos rigorosas em relação à influenza equina (CHAMBERS, 2014). Os custos causados por surtos de EI são resultantes do banimento da movimentação animal, cancelamento de eventos de corrida e exposições, custos com médico veterinário, por vezes hospitalização, custos laboratoriais e custos para promover a vigilância e contenção do surto (PERGLIONE et al., 2016).
2.5.1 Epidemiologia da influenza equina
O EIV acomete equídeos de todas as idades, sendo mais incidentes em adultos (NYAGA; WIGGINS; PRIESTER, 1980; PEEK et al., 2004; HAPPOLD; RUBIRA, 2011; PUSTERLA et al., 2015). Os animais apresentam tosse, secreção nasal, letargia, inapetência e febre com pico 48h após a infecção, podendo ocorrer um segundo pico de febre no sétimo dia após a infecção. Em casos não complicados a recuperação dos animais ocorre entre 7 a 14 dias (MORLEY et al., 2000; LANDOLT; TOWNSEND; LUNN, 2007). A replicação do vírus ocorre em células ciliadas do epitélio respiratório (traquéia e brônquios). Devido à atividade viral, ocorre a destruição do epitélio ciliar (LIN et al., 2002) e consequentemente estase do muco (WILLOUGHBY et al., 1992) que pode levar a uma broncopneumonia secundária (PEEK et al., 2004). Há raros casos relatados de encefalite relacionados à ocorrência de EIV (DALY et al., 2006).
A infecção dos animais ocorre pela via respiratória e a transmissão do EIV é por meio de contato direto dos animais, aerossóis, fômites e condições de aglomeração como exposições, vendas, shows e competições (LANDOLT; TOWNSEND; LUNN, 2007; CHAMBERS, 2014). Dependendo das condições de umidade, temperatura e exposição ao sol, o vírus pode se manter infeccioso por dias (BOONE; GERBA, 2005). A dispersão em animais confinados é rápida e em dois a três dias todos os animais sucetíveis podem ser infectados (LANDOLT; TOWNSEND; LUNN, 2007). Após a infecção, a eliminação viral tem duração de aproximanamente sete dias (MORLEY et al., 2000; LANDOLT; TOWNSEND; LUNN, 2007).
2.5.2 Diagnóstico da influenza equina
O diagnóstico presuntivo da influenza equina é baseado nos sinais clínicos: febre (39-41°C), tosse seca frequente e rápida disseminação entre os animais. A transmissão rápida da EI nos equídeos é característica da EI e auxilia na diferenciação do EIV e outras doenças infecciosas do trato respiratório de cavalos como, por exemplo, herpes, arterite e adenite equina (CHAMBERS; REEDY, 2014). Outros sinais clínicos característicos são a secreção nasal serosa a mucopurulenta, anorexia e letargia (LANDOLT; TOWNSEND; LUNN, 2007).
O diagnóstico definitivo é realizado por meio do diagnóstico direto, quando há a detecção do agente, a partir de swabs nasais/nasofaringeais ou de lavados traqueais, ou pelo diagnóstico indireto através de amostras de soro, em que pesquisa-se o resultado da atividade do agente no organismo.
A identificação do agente é feito pelo isolamento viral em ovos embrionados de galinha ou em células MDCK (Madin-Darby Canine Kidney) (WHO, 2011; OIE, 2016). O agente também pode ser identificado por meio da detecção do ácido nucléico viral, através da RT-PCR (Reverse Transcription e Polymerase Chain Reaction), qRT-PCR (Real-Time Quantitative Reverse Transcription PCR) (OIE, 2016), ensaio da neuraminidase e teste inibição da neuraminidase, realizado com antisoros específicos para sorotipificação da NA (WHO, 2011; OIE, 2016), imunofluorescência direta (WHO, 2011) ou por meio da detecção da nucleoproteína viral pelo ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) (WHO, 2011; OIE, 2016). O teste da hemaglutinação viral (HA), seguido do teste da inibição da hemaglutinação (HI) é realizado para sorotipificar a proteína HA do vírus isolado, utilizando um painel de soros específicos contra os subtipos de hemaglutininas (H1-H16) (WHO, 2011; OIE, 2016). O diagnóstico indireto promove a detecção de anticorpos contra influenza no soro dos equídeos. O principal teste indireto é inibição da hemaglutinação (HI), em que observa-se a soroconversão (aumento mínimo de quatro vezes o título de anticorpos) em soros pareados coletados no dia da detecção dos sintomas e 15 dias após (WHO, 2011; OIE, 2016). Outros dois testes são utilizados para o diagnóstico indireto: a hemólise simples radial (SRH - Single Radial Haemolysis) (OIE, 2016) e o ensaio de microneutralização viral (WHO, 2011).
2.5.3 Controle e profilaxia da influenza equina
Em 2001, uma instrução de serviço (DDA n°17, 16 de novembro de 2001) estabeleceu que seja feita a apresentação do certificado de vacinação contra a influenza equina ou certificação sanitária para a emissão de documentação de trânsito de equídeos no país. Foi instituído no Brasil no ano de 2008 o Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE) (IN n°17, 8 de maio de 2008) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no intuito de promover ações de vigilância e defesa sanitária de equídeos para a prevenção, vigilância, controle e erradicação de doenças infecciosas de equídeos que possam afetar o complexo agropecuário. Entre as ações do PNSE, constam "I - educação sanitária; II - estudos epidemiológicos; III - controle do trânsito; IV - cadastramento, fiscalização e certificação sanitária; e V - intervenção imediata quando da suspeita ou ocorrência de doença de notificação obrigatória" (MAPA, 2017). A utilização de vacinas que contenham estirpes epidemiologicamente relevantes deve ser considerada na atualização das vacinas contra EI para que tenha boa reação cruzada com os EIVs circulantes na região/país (OIE, 2009, 2011, 2017). A OIE faz a recomendação da utilização do vírus A/equi/South Africa/4/2003 como representante da sublinhagem Florida 1 (OIE, 2017), porém ainda encontra-se vacinas desatualizadas no Brasil (Tabela 1).
Ainda que haja vacinação intensiva em algumas populações de equídeos, surtos de EIV continuam a ocorrer, e o transporte global de equinos é um dos fatores responsáveis devido à introdução do EIV em populações isentas daquela estirpe em questão (YAMANAKA et al., 2008; WATSON et al., 2011a).
PESQUISAS
As doenças de notificação obrigatória que podem acometer os suínos, conforme a IN 50/2013, são:
Lista 1: Doenças erradicadas ou nunca registradas no País, que requerem notificação imediata de caso suspeito ou diagnóstico laboratorial:
-Encefalomielite por vírus Nipah
-Doença vesicular suína
-Gastroenterite transmissível
-Peste suína africana
-Síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRS)
-Triquinelose
 
Lista 2: Doenças que requerem notificação imediata de qualquer caso suspeito:
-Peste suína clássica
-Antraz (carbúnculo hemático)
-Doença de Aujeszky
-Estomatite vesicular
-Febre aftosa
-Raiva
 
Lista 3: Doenças que requerem notificação imediata de qualquer caso confirmado:
-Brucelose (Brucella suis)
-Paratuberculose
20/05/2021 Assíncrona
Varíola Bovina
Site: Sinopse
O vírus da varíola bovina tem um amplo espectro de hospedeiros, incluindo o homem (zoonose!). E ocorre predominantemente em pequenos roedores. Gatos com contato com roedores correm o risco de serem infectados.
As lesões cutâneas são encontradas predominantemente na cabeça e nas patas. Eles geralmente curam espontaneamente, em casos graves, seguem-se ulcerações proliferativas progressivas.
Em gatinhos e gatos imunossuprimidos, as infecções generalizadas de varíola bovina têm um curso fatal. Os corticosteróides facilitam a generalização do vírus e são contra-indicados.
Material de biópsia e / ou crosta é adequado para o diagnóstico. Os proprietários de gatos afetados (bem como de ratos de estimação afetados) devem ser informados sobre o risco zoonótico.
Vírus
O vírus ”Cowpox“ é um membro da família Poxviridae, subfamília Chordopoxvirinae, gênero Orthopoxvirus; os poxvírus estão entre os maioresvírus animais. Eles são os únicos vírus de DNA animal que induzem zonas de “viroplasma” no citoplasma das células infectadas, que aparecem como corpos de inclusão à microscopia de luz. O gênero Orthopoxvirus compreende a espécie varíola (varíola) vírus, sendo o homem o único hospedeiro suscetível. Os vírus monkeypox, cowpox, vaccinia e camelpox, entre outros, são outros membros do gênero e mostram ampla relação antigênica. O risco zoonótico é considerável.
Epidemiologia
Os poxvírus são onipresentes entre os mamíferos; “Cowpox” é um nome impróprio, o vírus ocorre como uma infecção inaparente predominantemente em pequenos roedores, que são considerados o reservatório natural.
O espectro do host é amplo. Além de bovinos, infecções foram observadas em felinos exóticos (após terem sido alimentados com ratos de laboratório), tamanduás, elefantes, rinocerontes e ocapis em zoológicos da Europa.
Em gatos domésticos, a infecção ocorre esporadicamente, mas a transmissão entre eles foi relatada.
Casos humanos causados ​​por vírus transmitidos de gatos (fatais em indivíduos imunossuprimidos; Czerny et al., 1991) e de ratos de estimação (por exemplo, na França e na Alemanha; Ninove et al., 2009; Vogel et al., 2012) foram relatado. Essas fontes de infecção pelo vírus da varíola bovina para humanos devem ser mantidas em mente, especialmente porque a vacinação contra a varíola foi descontinuada e as populações agora estão vulneráveis ​​(Willemse e Egberink, 1985).
Patogênese
 
A infecção geralmente começa com lesões na cabeça infligidas pelo roedor em luta e depois se espalha para outras partes do corpo, principalmente patas e orelhas (Fig. 1) durante a escovação. Após a replicação local, o vírus causa uma infecção generalizada com disseminação virêmica e múltiplas lesões cutâneas. O vírus foi isolado das cavidades torácica e peritoneal. Os anticorpos neutralizantes e inibidores da hemaglutinação aparecem cerca de duas semanas após a infecção.
Sinais clínicos
Na maioria dos casos, os contatos com roedores selvagens (ratos) ou caça são relatados anamnésticamente. Os gatos apresentam lesões cutâneas, seguidas de inflamação, com subsequente formação de crostas nas lesões (Fig. 2). Freqüentemente, úlceras com coceira e de difícil resolução (diâmetro de 3 a 15 mm) com margens duras são observadas (Gaskell et al., 1987). As lesões são encontradas predominantemente na face e patas; em casos graves, seguem-se ulcerações proliferativas progressivas. Os animais parecem saudáveis ​​se as lesões não forem super infectadas por bactérias. Às vezes, as mucosas da faringe e esôfago são afetadas. Pneumonia, às vezes com pleurite exsudativa e atelectasia, foi descrita (Schöniger et al., 2007; Schulze et al., 2007; Herder et al., 2011). McInerney et al. (2015) relataram cinco casos de pneumonia, dos quais três tiveram derrame pleural e dois tiveram infecções mistas (herpesvírus felino, Bordetella bronchiseptica e Mycoplasma spp). Quatro gatos também apresentaram lesões cutâneas.
Smith e Sloan (2017) descreveram uma broncopneumonia necrosante fatal em um gato de 2,5 anos, que apresentava febre, dispneia e taquipnoe, mas não apresentava lesões cutâneas. Este caso mostra a importância de se considerar a infecção pelo vírus da varíola bovina em gatos com broncopneumonia, principalmente se for observada a consolidação do lobo pulmonar, mesmo na ausência de lesões cutâneas.
Breheny et al. (2017) relataram dois casos incomuns de infecção pelo vírus da varíola bovina. O primeiro apresentou dispneia inspiratória e estridor; foram identificados edema laríngeo e massa paralaríngea de 1 cm (sem outras anormalidades). O segundo caso apresentou sinais clínicos inespecíficos, múltiplas lesões nodulares e ulcerações e sinais neurológicos centrais na fase terminal.
Lesões superficiais solitárias geralmente curam espontaneamente em 4 a 5 semanas em animais bem alimentados (Gaskell et al., 1987). As infecções generalizadas de varíola bovina são fatais em gatinhos e gatos em tratamento com corticosteróides.
Texto 1: Infecções humanas causadas por poxvirus relacionados ao vírus vaccinia no Brasil
RESUMO
A partir de 1999, infecções humanas por Orthopoxvirus vem sendo observadas em pelo menos oito estados no país, com a formação de vesículas as quais evoluem para pústulas e crostas, principalmente nos membros superiores e face, após contacto com bovinos apresentando lesões semelhantes no úbere. Além das lesões na pele, foram descritas nos pacientes reações ganglionares axilares por vezes dolorosas, febre, cefaléia, fadiga, desidratação, anorexia, sudorese, artralgia e mialgia, evoluindo o quadro por três a quatro semanas. Lesão vulvar bem como transmissão intrafamiliar foram igualmente descritas. Estudos moleculares demonstraram que os poxvirus identificados estão geneticamente relacionados a amostras do vírus vaccinia utilizadas no passado, nas campanhas de vacinação. Espécimes clínicos de 80 infecções humanas foram estudados no laboratório e a infecção por orthopoxvirus foi confirmada em 68 casos. São apresentadas lesões observadas em pacientes bem como discutidas as implicações desta zoonose no Brasil.
A família Poxviridae infecta tanto vertebrados como invertebrados sendo o gênero Orthopoxvirus o mais importante do ponto de vista da infecção em humanos. Este gênero inclui o vírus da varíola, erradicado desde 1977, o vírus vaccinia, usado na produção de vacinas, o monkeypox, vírus de origem africana e que foi introduzido nos Estados Unidos pela importação de animais de estimação e o cowpox, vírus que circula em roedores na Europa e Oriente Médio, vindo a infectar felinos e, eventualmente, o homem. O gênero causa doença vesicular aguda, com diferentes graus de gravidade para o hospedeiro.
No Brasil, as campanhas de vacinação foram realizadas nas zonas rurais por equipes que se deslocavam de uma propriedade à outra, manipulando os frascos contendo a vacina viva com o vírus vaccinia em altos títulos, sendo comum a não eliminação adequada dos materiais residuais, contendo restos do imunizante. Admite-se que estes procedimentos permitiram a implantação de amostras do vírus vaccinia em ciclos naturais, pela infecção de animais reservatórios, como roedores silvestres, vindo a atingir posteriormente bovinos e pessoas que manejam estes animais. Um laboratório para o estudo destas infecções foi montado no Instituto Oswaldo Cruz, descrevendo-se neste artigo a experiência obtida no estudo de casos humanos ao longo dos últimos 10 anos.
MATERIAL E MÉTODOS
Pacientes estudados. Espécimes clínicos, compreendendo líquidos de vesículas/pústulas, crostas e amostras de soro, foram recebidos de 80 pacientes, originários dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Schatzmayr HG cols Mato Grosso do Sul. Os materiais foram encaminhados através de autoridades de saúde municipais ou estaduais ou diretamente dos médicos assistentes. Uma descrição clínica, embora por vezes bastante sumária, foi recebida da maioria dos pacientes, tendo sido fotografadas as lesões de alguns casos que formalmente consentiram no procedimento. A Comissão de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Fundação Oswaldo Cruz aprovou o manejo dos espécimes destes casos no Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral do Instituto Oswaldo Cruz. Microscopia eletrônica. Suspensões dos fluidos vesiculares, pustulares e de macerados de crostas foram contrastadas com ácido fosfotúngstico a 1% em água destilada e observadas em microscópio eletrônico Zeiss modelo EM-900, para a visualização de partículas de poxvirus. Reação em cadeia da polimerase. Utilizou-se o par de
primers HAOUTR e HAOUTF4, amplificando-se um fragmento com cerca de 1.171 pares de base do gene da hemaglutinina. Aplicou-se o kit comercial de Reação em cadeia da polimerase master MIX (Promega Corporation), com 25 pmol de cada primer, 5μl da amostra e volume final de 100μl. O material foi amplificado em termo-ciclador (PTC 100 programable Thermal Controler-MJR Research) utilizando-se a seguinte ciclagem:um ciclo prévio de
95oC - 3 min, 4oC - 10 min, 35 ciclos de 94oC - 1 min. 50oC - 1 min, 72oC - 1 min e 30 segundos, seguidos de uma extensão de 72oC por 7 minutos. Como controle negativo, incluiu-se água mQ e como controle positivo foi utilizado uma amostra do vírus vacinal amostra Wyeth. O material amplificado foi submetido a gel de eletroforese em agarose a 1,5%, corado com brometo de etídio e visualizado em transiluminador, através da incidência de luz ultravioleta (Figura 1).
Isolamento de vírus. Os espécimes de líquidos vesiculares/ pústulares e macerados de crostas foram tratados com antibióticos e inoculados em uma linhagem de células Vero. Os casos apresentando efeito sobre as células foram confirmados por microscopia eletrônica e reação molecular (PCR). 
Determinação de anticorpos. Utilizou-se uma reação de redução de 50% de placas, sendo 100μl dos soros diluídos de 1/10 a 1/1.280, misturados com 100μl de uma suspensão de vírus
da amostra Cantagalo/IOC, isolado de um caso clínico naquele município do Estado do Rio de Janeiro em 1999. Após incubação por uma hora a 37oC, a mistura soro-vírus foi distribuída em microplacas de fundo chato, adicionando-se uma suspensão de células Vero e incubando-se por 48 horas a 37oC. As placas foram coradas com cristal violeta e formol e foi realizada a contagem das placas formadas, registrando-se como o título dos anticorpos a menor diluição de soro capaz de reduzir 50% do número de placas do controle de vírus, incluído no teste.
RESULTADOS
Dos 80 pacientes estudados, foram recebidas 19 amostras de líquido vesicular/pustular, 13 crostas e 77 amostras de soro, sendo 10 delas pareadas, incluindo uma amostra da fase aguda
e outra da fase convalescente.
Figura 1
Reação de PCR: 1. Marcador de peso molecular. 2. Crosta macerada. 3. Líquido vesicular. 4. Crosta macerada negativa. 5. Vírus vaccinia amostra Wyeth. 6. H2 O.
Um total de 68 (85%) casos foi confirmado como uma infecção por orthopoxvirus através das técnicas laboratoriais acima descritas, tendo sido isoladas 21 amostras de vírus. Nos espécimes obtidos de lesões de pele, a reação de PCR e o isolamento viral apresentaram sensibilidades comparáveis. Em relação às amostras de soro, foi possível determinar anticorpos para orthopoxvirus em 49 delas, com títulos iguais ou superiores a 1/20. Não se pode eliminar a possibilidade de que alguns destes casos possuíam anticorpos residuais das campanhas de vacinação, realizadas na década de 1960. Embora o dado sobre a idade dos pacientes não seja disponível para a quase totalidade dos casos, pela experiência obtida no campo na investigação de casos no estado do Rio de Janeiro, tratava-se de populações jovens, com idade inferior a 40 anos, na grande maioria dos casos. A microscopia eletrônica apresentou a mais baixa sensibilidade, confirmando a literatura disponível, uma vez que a prova exige, no mínimo, a presença de cerca de 100.000 partículas de vírus no espécime para que as mesmas sejam visualizadas.
O quadro clínico dos pacientes, quando relatado, indicava a presença de lesões dolorosas que surgiam nos membros superiores, em especial nas mãos. Iniciando-se como máculas e pápulas, as lesões evoluem para vesículas, pústulas e crostas, as quais com frequência apresentavam infecções secundárias.
Lesões faciais foram igualmente observadas, sendo descrito um caso de lesão vulvar (Figura 2).
Figura 2
Lesões de casos confirmados de infecções por poxvirus relacionados ao vírus vaccinia. A-G: lesões nas mãos em diferentes estágios de evolução. H. lesão vulvar (reprodução autorizada de Virus Reviews & Research). 
I. lesões na face. A maioria dos pacientes apresentou quadro febril, com reação ganglionar axilar por vezes dolorosa, cefaléia, prostração, desidratação, anorexia, sudorese, artralgia, mialgia e as lesões de face eram acompanhadas por vezes, de reação ganglionar cervical anterior. O quadro clínico é autolimitado, sendo necessário apenas tratamento sintomático e controle de infecções secundárias. Entretanto, a internação de pacientes mais graves ocorreu em alguns casos, devido ao estado geral comprometido. Em todos os pacientes se relatava o contato com bovinos produtores de leite, os quais apresentavam vesículas, pústulas ou crostas no úbere. Ordenhadores constituíram a grande maioria dos casos, sendo que a transmissão sempre ocorreu de animal para o homem, exceto um caso no qual uma infecção intrafamiliar foi relatada.
Dentro do conceito de que as amostras do vírus vaccinia estão circulando na natureza, torna-se importante comprovar quais seriam os reservatórios destes vírus. Neste sentido, um programa de coleta de roedores silvestres para pesquisa de vírus e anticorpos para poxvirus
no Estado do Rio de Janeiro está sendo desenvolvido.
DISCUSSÃO
A transmissão do vírus vaccinia a partir de vacinados foi observada com relativa frequência, quando ainda se imunizava populações contra a varíola. Um caso foi descrito, recentemente, envolvendo um militar americano. Infecções de bovinos a partir de vacinados foram igualmente assinaladas, confirmando-se a capacidade do vírus vaccinia de atingir diferentes espécies na natureza. Com a suspensão das vacinações no Brasil, na década de 1970, era esperado o desaparecimento total de casos humanos de infecções por vaccinia, o que não ocorreu. A partir do final do século passado, começaram a ser observados casos humanos, após contato com bovinos produtores de leite, especialmente no sudeste do país. Estas infecções, embora não sejam de notificação compulsória, considerando os dados disponíveis, devem atingir na atualidade pelo menos oito estados, apresentando nos pacientes sintomas clínicos e quadros epidemiológicos semelhantes. No Estado do Rio de Janeiro, às infecções humanas e/ou de animais foram confirmadas clínica e laboratorialmente em 12 municípios. Uma avaliação da literatura mostra que, em 1963, uma amostra de poxvirus semelhante ao vírus vaccinia foi isolada do sangue de um roedor silvestre do gênero Oryzomys sp no Estado
do Pará. Posteriormente, outra amostra semelhante ao vírus vaccinia, denominada Cotia, foi obtida de um roedor sentinela pelo Instituto Adolpho Lutz, em área de preservação ambiental
no Estado de São Paulo. Estes dados sugerem que roedores silvestres e artrópodos podem estar infectados com poxvirus semelhantes ou derivados do vírus vaccinia, há várias décadas.
Por outro lado, confirmando a capacidade dos poxvirus de se adaptarem a roedores, sabe-se que o vírus cowpox, não existente nas Américas, circula na natureza em roedores silvestres europeus como Microtus agrestis e em Rattus norvergicus, tendo sido descritos casos humanos a partir de contacto com estas espécies ou com felinos igualmente infectados, após contacto com roedores. Recentes revisões enfatizam a capacidade dos poxvirus de se adaptarem a roedores e reconhecem a existência em nosso país de casos humanos causados por vírus relacionados ao vírus vaccinia. No subcontinente indiano, tem sido observada igualmente, com crescente intensidade, a presença de uma infecção por poxvirus transmitida ao homem através do contacto com búfalos (Bubalus bubalis), em distintas regiões daquele país. O orthopoxvirus responsável pelo quadro, denominado buffalopox, apresenta características filogenéticas muito próximas ao vírus vaccinia, admitindo-se como muito provável ser uma variante do mesmo. Estes vírus teriam se adaptado ao búfalo e/ou outro animal reservatório após as grandes campanhas de vacinação contra a varíola, realizadas naquele país, um evento aparentemente muito semelhante ao que está ocorrendo no Brasil.
Por outro lado, sabe-se que quatro laboratórios produziram no Brasil vacina antivaríolica, durante a campanha de erradicação da doença. Com isto, diferentes amostras do vírus vaccinia foram usadas nesta produção. Em um dos Laboratórios (Instituto Oswaldo Cruz) foram produzidos dois tipos de vacina, em vitelos e em ovos embrionados. Estudos moleculares confirmaram que vírus isolados de bovinos e humanos na última década, todos relacionadosmolecularmente ao vírus vaccinia, realmente apresentam diferenças genéticas entre si.
No entanto, estas diferenças não têm aparentemente influenciado a apresentação dos quadros clínicos que vem sendo relatados em humanos e em animais, à medida que se observa uma expansão da zoonose no país. A infecção da vulva por amostras vacinais foi descrita em diversas oportunidades ao longo das campanhas de vacinação. Um caso publicado recentemente no Brasil relata infecção vulvar através de contágio intrafamiliar, a partir do marido apresentando lesões nas mãos, após contato com animais, sendo a primeira descrição no país deste quadro clínico relacionado a esta zoonose. Como diagnóstico diferencial da infecção por orthopoxvirus podemos citar parapoxvirus, herpes simplex, esporotricose, eventualmente antrax e abcessos por estafilococos. Aspecto a se considerar é a importância da imunidade celular para o controle das infecções por poxvirus. O uso de corticóides sistêmicos, bem como a presença de dermatite atópica no paciente, constituem fatores de risco para o agravamento da infecção, da mesma forma que síndromes de imunodeficiência natural ou adquirida, como as infecções pelo vírus HIV.
Considerando que as perdas econômicas causadas pela infecção de bovinos são por vezes importantes e os bovinos constituem a fonte primária da infecção humana, deve ser considerada a possibilidade de vacinação destes animais, nas regiões mais atingidas.
Em conclusão, considera-se que maior atenção deve ser dada aos casos desta zoonose, a qual se apresenta como uma doença vesicular/pustular aguda, no sentido de seu correto diagnóstico
e adequada terapia de suporte, orientando-se os pacientes no sentido de evitar a transmissão intrafamiliar, bem como para animais com os quais venham a ter contato, considerando que a quase a totalidade dos casos ocorre em áreas rurais. Ressalte-se a importância dos profissionais que atendem os animais, como os médicos-veterinários, na orientação aos ordenhadores sobre o manejo de infecções por poxvirus.
Texto 2:
Infecção em humanos por varíola bovina na microrregião de Itajubá, Estado de Minas Gerais: relato de caso
RESUMO
Os autores relatam três casos de varíola bovina em humanos, ordenhadores manuais em vacas infectadas, na microrregião de Itajubá, MG. As técnicas diagnósticas foram: isolamento de amostra semelhante ao vírus vaccinia de secreções das lesões cutâneas, reação em cadeia de polimerase, microscopia eletrônica e anticorpos para Orthopoxvirus no sangue dos pacientes.
A varíola bovina é uma zoonose causada pela proliferação de vírus do gênero Orthopoxvirus. Caracteriza-se por lesões papulares que evoluem para vesículas, pústulas e crostas. Dentro do gênero Orthopoxvirus conhece-se os vírus cowpox e vaccínia. O vírus cowpox circula na Europa e Oriente Médio sendo responsável por infecções em roedores, animais domésticos como o gato e em bovinos, nos quais causam a redução da produção de leite. O vírus vaccínia foi utilizado no passado para o preparo da vacina contra a varíola humana, doença grave erradicada na década de 70. Este último é o responsável pelos recentes surtos ocorridos no Brasil.
A partir do final da década de 90, propriedades rurais de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, foram atingidas por surtos epizoóticos de varíola bovina, causadas pelo vírus vaccínia, acometendo animais e humanos. Esses surtos acarretaram grandes prejuízos principalmente pela diminuição na produção de leite por mastite e contaminações bacterianas secundárias nos úberes das vacas e pelos quadros clínicos em ordenhadores.
RESUMO
Os autores relatam três casos de varíola bovina em humanos, ordenhadores manuais em vacas infectadas, na microrregião de Itajubá, MG. As técnicas diagnósticas foram: isolamento de amostra semelhante ao vírus vaccinia de secreções das lesões cutâneas, reação em cadeia de polimerase, microscopia eletrônica e anticorpos para Orthopoxvirus no sangue dos pacientes.
Em pesquisas envolvendo estes surtos descobriu-se que a transmissão entre os animais ocorria principalmente através das mãos dos ordenhadores ou equipamentos de ordenha mecânica e a penetração dos vírus ocorria por soluções de continuidade presentes nas tetas das vacas. A contaminação humana pela doença ocorre pelo contato com as lesões presentes nos animais sendo, portanto, mais comum em trabalhadores rurais, especificamente ordenhadores que não utilizam proteção individual e adquirem os vírus por meio de lesões e microabrasões na pele.
O objetivo deste estudo é descrever três casos de infecção em humanos por varíola bovina, visto que, esta patologia está se disseminando em nosso meio e, desta forma, aumentando sua
incidência. Procuramos então contribuir para seu conhecimento e esclarecimento a fim de que médicos e profissionais de saúde estejam cientes e aptos a abordarem a moléstia, contribuindo
para seu controle, principalmente em nossa região. Descrição dos casos estudados. São descritos três casos de contaminação pela varíola bovina em humanos, provenientes de áreas rurais diferentes pertencentes à microrregião da Cidade de Itajubá, Minas Gerais, sendo dois casos da mesma família, brancos, do sexo masculino, ordenhadores, com idade compreendida
entre 28 e 50 anos, que procuraram, espontaneamente, o serviço de urgência do Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Itajubá, Minas Gerais (HE-FMIt/MG) no período de outubro a novembro de 2007. Todos apresentavam lesões vesico-bolhosas que evoluíram para crostas com infecção secundária, inicialmente nas mãos e antebraços (Figura 1). Dois deles apresentavam também lesões em regiões periorbitária e vestíbulo nasal (Figura 2). Relatavam em comum fazerem ordenha manual,não usarem medidas de proteção e de terem contato direto com as tetas e úberes de vacas que apresentavam lesões ulceradas (Figura 3). O quadro clínico dos pacientes era de toxemia com queda no estado geral, sinais de desidratação, anorexia, febre alta, mialgia e artralgia. Os que apresentaram lesão facial possuíam adenomegalia cervical anterior, com gânglios dolorosos à palpação sugestivos de adenomegalia reacional. 
Dois pacientes, devido ao maior grau de comprometimento do estado geral, pela toxemia e desidratação, foram internados na enfermaria de Clínica Médica do mesmo hospital e submetidos ao tratamento das lesões cutâneas com medidas locais, antibioticoterapia sistêmica devido à contaminação bacteriana nas lesões, e hidratação venosa. Foram submetidos ainda a exames laboratoriais como hemograma, bioquímica básica, com bacterioscopia, cultura e antibiograma da secreção das vesículas, sendo isolado o Staphylococcus aureus como agente bacteriano contaminante secundário das lesões cutâneas. Amostras por coleta de secreção das vesículas, fragmentos das crostas e soro dos pacientes foram enviados para o Departamento de Virologia da Fundação Ezequiel Dias (FUNED) em Belo Horizonte, MG, e depois para a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) no Rio de Janeiro, RJ.
Todos os pacientes apresentaram resolução completa do quadro clínico após um mês do início dos sintomas. Fizeram controle no ambulatório de Clinica Médica do HE-FMIt até o resultado dos exames enviados para estudo nas Fundações acima citadas e depois liberados.
Diagnóstico laboratorial. A etiologia dos casos acima descritos, foi confirmada pela FIOCRUZ, por microscopia eletrônica de macerados dos espécimes clínicos enviados para estudo, sendo feita uma contrastação negativa com ácido fosfotúngstico a 2% para visualizar as estruturas características dos Orthopoxvirus (Figura 4).
Figura 4 - Foto do Vaccinia vírus obtida por Microscopia Eletrônica (ME) de material coletado do macerado das lesões (FIOCRUZ).
Os macerados foram ainda inoculados em uma linhagem de células Vero para isolamento viral e para prova molecular de PCR, com primers específicos para o vaccinia virus, a qual demonstrou a presença de acido nucléico viral do vírus vaccínia. Para determinação de anticorpos os soros dos pacientes foram diluídos a partir de 1/10 e incubadoscom uma suspensão de vírus da amostra Cantagalo de Orthopoxvirus. Após uma hora a 37°C as misturas soro e vírus foram distribuídas em microplacas de fundo chato e a suspensão de células adicionada a cada cavidade da placa. A leitura foi feita com 48 horas por método de redução de 50% do número de placas formadas em presença das diluições de soro e nos controles virais, após coloração com cristal violeta.
DISCUSSÃO
No homem, as lesões por Orthopoxvirus surgem de cinco a sete dias após o contato, localizando-se nos membros superiores, principalmente nas mãos. Caracterizam-se, inicialmente por máculas pruriginosas que evoluem para pápulas e pústulas, muito dolorosas, até a formação de crostas. Pode haver a disseminação do vírus para a mucosa ocular através do contato direto, sob o risco de desenvolvimento de cegueira. Frente a este quadro outras hipóteses devem ser consideradas, ou seja, faz-se diagnóstico diferencial com impetigo bolhoso, erisipela, doença da arranhadura do gato e antrax. A doença é geralmente benigna, de curso autolimitado, resolvendo-se em até quatro semanas.
As lesões de tetas e úberes dos bovinos são geralmente vesiculares, provocadas por diversos vírus, sendo mais frequentes por vírus cowpox, vaccinia, herpes e a papilomatose.
O último caso de varíola humana ocorreu na Somália, em 1977, e a doença foi considerada erradicada pela OMS em 1980. Como resultado, a imunização em massa com o Vaccinia virus foi descontinuada, permitindo um declínio da imunidade ao gênero Orthopoxvirus e resultando em um aumento de infecções por Orthopoxvirus em humanos.
Os primeiros relatos na literatura abordando surtos de varíola bovina no Brasil são datados das décadas de 50 a 70, envolvendo estados da região sudeste. Até meados dos anos 80 os casos ocorriam mais esporadicamente, com intervalos de até 10 anos entre os surtos. Este cenário mudou nos anos subseqüentes, em vista da ocorrência mais freqüente de varíola bovina, abrangendo os Estados de Goiás e Mato Grosso, além de municípios do Vale do Paraíba (SP), Zona da Mata (MG) e na região do noroeste (RJ)8 9 15. Nas regiões da Europa em que circula o vírus cowpox, na maior parte dos casos relatados em humanos, o contato com gatos é a principal fonte de infecção. Acredita-se que os reservatórios naturais destes vírus sejam roedores que os transmitem para vacas, gatos, animais de zoológicos e circos. Em raros relatos, o vírus foi contraído diretamente de ratos. No Brasil, os trabalhos elucidam o contato com lesões em tetas e úberes de vacas como sendo o sítio de contaminação mais frequente e, com raras exceções, os trabalhadores rurais contaminados negam tal contato. Através de técnicas de isolamento viral, pode-se comprovar que os surtos no Brasil são devidos ao vírus vaccínia, originário muito provavelmente de amostras do mesmo vírus que foram utilizadas para o preparo de vacinas, diferentemente do que ocorre na Europa, com relatos de varíola bovina por cowpox. Esta hipótese foi sustentada pela análise molecular dos vírus isolados nos municípios de Araçatuba (SP) e Cantagalo (RJ), observando-se semelhanças com o vírus vaccinia de origem animal. A partir de então, foi aventado a hipótese de que a amostra vacinal teria sido mantida na natureza, estabelecendo ciclos de transmissão em algum animal silvestre ainda indeterminado, que poderia estar transmitindo o vírus para as vacas e essas para os ordenhadores.
Dentre as várias espécies virais, as lesões causadas pelos vírus vaccinia e cowpox são bastante semelhantes entre si e difíceis de se diferenciar clinicamente.
As lesões típicas pela infecção do vírus do gênero Orthopoxvírus são caracterizadas por pápulas que evoluem para vesículas, podendo as mesmas formar conteúdo hemorrágico antes de ulcerarem, esta última mais tipicamente relacionada à espécie cowpox. Em poucos dias, tornam-se crostas e cicatrizam por completo após algumas semanas. A área adjacente das lesões é rica em sinais flogísticos e em sintomas constitucionais como febre, mal-estar, artralgia, mialgia, além de linfoadenopatia.
Os pacientes deste relato de caso referiam todos os sinais e sintomas acima e queixavam-se, principalmente, de dor nas lesões cutâneas. Não é necessário um tratamento específico da varíola bovina em humanos, pois se trata de uma doença autolimitada na maioria dos casos, devendo-se realizar medidas de limpeza e higiene local. Tratamento sintomático e antibioticoterapia nos casos de infecção bacteriana secundária são indicados, quando presentes. Corticosteróides são contra-indicados por agravarem as lesões. Nos pacientes que desenvolvem a forma disseminada e mais grave da doença, normalmente indivíduos atópicos ou imunossuprimidos, a vaccinia imunoglobulina pode ser administrada. O uso do antiviral cidofovir vem sendo utilizado com sucesso em modelos animais infectados com o vírus cowpox, mas ainda não é indicado em humanos devido ao seu alto potencial tóxico, em especial no sistema urinário.
Concluindo, o número de casos de varíola bovina em seres humanos vem aumentando a cada ano. Contudo, apenas uma fração vem sendo demonstrada nos trabalhos publicados sobre este tema no Brasil. A maior parte dos pacientes infectados são trabalhadores rurais que normalmente não procuram serviço médico por tratar-se de uma doença autolimitada, ou quando o fazem, são na sua grande maioria subdiagnosticados sendo os casos suspeitos não investigados e muito menos notificados.
Nos últimos anos, tem-se observado aumento significativo de surtos de varíola bovina em diferentes estados brasileiros. Em particular, devemos nos preocupar com o crescente número de casos no Estado de Minas Gerais pelo seu forte potencial leiteiro. Informações com aspectos epidemiológicos da doença devem ser relatados para sua rápida detecção e identificação viral com o intuito de evitar a sua disseminação. Será importante determinar que animais mantêm o vírus na natureza, pois bovinos e humanos devem ser hospedeiros acidentais. Campanhas de esclarecimento sobre a varíola bovina nas áreas rurais, principalmente para os ordenhadores, focando os meios de contaminação da doença, medidas de prevenção e cuidados com os animais doentes devem ser incentivadas. Os profissionais de saúde, em especial os médicos, devem ser orientados sobre a doença e estar atentos para o diagnóstico desta infecção, evitando assim sub-diagnósticos e tratamentos desnecessários.
Todos os casos suspeitos deveriam ser notificados compulsoriamente nas regiões onde, sabidamente, já existem focos da doença. As secretarias de saúde nestas cidades seriam então orientadas para que mandassem o material de casos suspeitos para laboratórios de referência no próprio estado com a finalidade de agilizar o diagnóstico e rapidamente conseguir traçar um mapa da doença na região visando o seu controle.
RAIVA
Histórico
• Louis Pasteur (1881-1885): infecção natural e experimental em coelhos e cães. 
• Louis Pasteur: 1ª imunização 1885
• Joseph Meister: menino de 9 anos, mordidas múltiplas e profundas por cão raivoso. O cientista decidiu fazer a vacinação no menino que é usada em cães. Recebeu doses de vacina e sobreviveu à agressão do cão. Logo depois viveu muito tempo trabalhando junto ao cientista. 
Definição
• Encefalomielite infecciosa aguda, de caráter progressivo rápido, de natureza zoonótica (antropozoonose, doença de animais que passa ao homem), que acomete todos os mamíferos (incluindo humanos).
-Notificação imediata de caso suspeito. Normativa 50 de 2013 na lista 2. Visa a declaração de animais atacados por morcegos, quantos foram. Animais com sinais e sem sinais. Visa a pesquisa de abrigos de morcegos também (cavernas, fendas de rochas, galpões abandonados). 
Etiologia
• Ordem: Mononegavirales 
Fita simples, RNA negativo.
• Família: Rhabdoviridae 
• Gênero: Lyssavirus
Lissa vem do grego demência e loucura. 
• Espécie: Rabies virus (RABV)
• Envelopado, genoma linear não segmentado
Envelope, capsídeo, proteína viral. 
A morfologia do vírus da raiva é semelhante a uma bala de revólver. 
• 12KbBaixa resistência ao ambiente
• Altas temperaturas
• UV
• Dessecação
Sensível à 
• Solventes lipídicos, pois tem gordura no envelope viral.
• Álcool 45-70%
• Agentes químicos
Declarações comuns: 
Doença rara, restrita a regiões e não pode ser erradicada. → afirmações falsas.
Epidemiologia Raiva Humana – Brasil 
Uma doença que ainda ocorre. 
O gato também tem importância na participação.
2010 a 2017: 25 casos de raiva humana
2014, não houveram casos humanos
• 9 => cão como animal agressor, 
• 8 => morcegos
• 4 => primatas não humanos
• 3 => gatos
• 1 => não foi possível identificar o animal agressor.
A identificação é feita pelo relato da pessoa que foi agredida, e também quanto à variante viral. 
Em 2015 teve um caso humano em Corumbá pela epizootia canina de raiva. Pois fica perto da Bolívia, um local endêmico para a doença. 
2017: 6 casos de raiva humana => variante 3 de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus)
o 5 agressões diretas por morcegos
▪ 3 em adolescentes de uma mesma família (reserva extrativista no município de Barcelos – AM)
▪ 2 ocorreram na Bahia e Tocantins
o 1 por agressão de gato de rua infectado com a variante 3 
Por que ocorrem em regiões ataques por morcegos: 
Alterações no meio ambiente: muitos morcegos sem moradia e redução da sua alimentação. Eles se deslocam e vão para perto dos humanos, para morar e também conseguir alimento.
Em alguns casos tem mordidas em diversas áreas do corpo. As mordidas de morcegos são caracterizadas por sangue vivo, devido a presença de anticoagulante na sua saliva. Quando vemos isso em animais, acende um grande alerta. 
A forma como as pessoas moram: tem abertura ou o pessoal estende redes e dormem ao ar livre, facilitando a entrada de morcegos hematófagos.
2018: 11 surtos de raiva no Brasil.
10: surto no Pará.
9 eram menores de 18 anos.
Sem realização de profilaxia anti rábica após exposição.
Relato de que mais de 500 pessoas foram mordidas. 
11° caso foi de um morcego em Ubatuba, o paciente recebeu profilaxia por 12 dias após exposição. 
Mesmo com a profilaxia, dependendo da região que ele mordeu, conseguimos reverter. Depende se a região atingida está perto do SNC. 
2019: 1 caso de raiva humana em SC, transmitido por um felino infectado por variante 3 (morcego).
Algumas pessoas não aderem às campanhas de vacinação em gatos pois elas não conseguem seguir as regras Catfriendly, os animais podem escapar na rua. Além disso, algumas pessoas tem muitos gatos e não conseguem levar todos para serem vacinados. Isso gera baixa cobertura vacinal e favorecimento da cadeia epidemiológica. 
2020: 2 casos, um em Angra dos Reis por variante 3 do morcego hematófago. Ela foi ao postinho, usou profilaxia, mas ele não fez certo (só tomou uma dose). O paciente acabou morrendo pois não aderiu ao tratamento pós exposição.
1 caso na Paraíba, por uma agressão por raposa (não identificaram direito o canídeo silvestre). No nordeste é comum por canídeos silvestres como saguis, pois eles o mantém como pets. A moça não se tratou pós exposição, e veio a apresentar sinais clínicos de raiva e morreu (foi agredida em abril e morreu em julho). 
-Os gatos são ótimos caçadores, podem caçar os morcegos. Se ele portar o morcego da raiva e os gatos não forem vacinados, se infectam com o vírus. Não é só o gato que passeia na rua que pode se contaminar. 
Spillover: o vírus transpõe a barreira interespecies e consegue infectar outros animais. A variante do morcego passa ao gato, e esse morde o homem que se infecta.
Não existe variante do gato, quando ele infecta o homem ainda é uma variante do morcego.
Existem diversas variantes de animais, e não tem uma de humanos. 
Desde 2016 os casos de raiva em cães e gatos tem sido identificados como variante 3 de morcegos hematófagos e da variante compatível com canídeos selvagens. 
Em maio de 2021 um cão de um ano de idade teve sinais de raiva, foi eutanasiado, fez exames e tinha raiva mesmo. Quando o cão se infecta com a variante do morcego, ao cheirar ele e ele o morder. 
Alguns países tem uma maior ocorrência do vírus do que outros.
A raiva não está restrita a poucas regiões, sendo que países da América latina podem ter alta incidência e participação ativa de casos humanos de raiva. 
Conforme aumenta o número de animais vacinados, tem redução na quantidade de humanos e cães infectados. Dados da cidade do México. 
Aliança de frentes da saúde, como IOE, FAO, OMS que tem uma aliança com meta de 0 casos de raiva humana em 2030. 
Iscas alimentares com vacinas orais contra raiva para animais selvagens. Não é uma vacinação uniforme, pode ser que animais em áreas mais remotas não se vacinem. Pode ser erradicada se tiver uso intensivo de vacinação dos animais.
Ciclo epidemiológico
O morcego pode passar o vírus aos pets ou aos animais de produção.
O ciclo silvestre é muito importante na região nordeste e norte, onde as pessoas tem maior aproximação de primatas não humanos. Tem circulação do vírus entre canídeos silvestres e primatas não humanos. O vírus pode ser passado ao homem ou aos pets.
Ciclo urbano: participação de cão e gato, podendo ter transmissão via morcegos ou animais silvestres, pets. Pode ser transmitido ao homem, animais domésticos. Nesse ciclo o principal reservatório é o cão. 
O reservatório do ciclo rural é o Desmodus rotundus. A transmissão ao homem está relacionada ao manejo dos animais. Um funcionário de campo maneja uma vaca sem luva e com ferimento, na boca da vaca por exemplo, pensando que ela está salivando por engasgamento. No ciclo rural ocorre transmissão por manejo do animal. Os animais de produção tem a infecção principalmente via morcego, mas pode ter participação dos pets que atacam o animal e estão infectados e com manifestação furiosa. 
Dados da OMS: 99% dos casos são por mordidas de cães. Mas pelos dados que a profa. Mostrou que tem outros animais participando também.
Transmitido principalmente pela mordedura, podendo também lambedura. No caso do herbívoro infectado por pele lesionada. 
Os gatos ficam se lambendo e assim transmitem o vírus para as suas patas e podem transmitir partículas viáveis.
Feridas com solução de continuidade, ou mucosas em contato com vírus.
Forma não comum: aerossóis, quando as pessoas entram em cavernas altamente habitadas por morcegos, que eliminam o vírus na urina, fezes. 
As pessoas podem ter formas neurológicas. Um caso de uma pessoa que tinha raiva, morreu dirigindo, e as pessoas que receberam os órgãos transplantados tiveram sinais de raiva. 
Reservatórios no Brasil: cão, sagui, canídeos silvestres, Desmodus rotundus, morcegos insetívoros. 
Epidemiologia - Reservatórios
• Ordem Chiroptera
• Mundo: + 1.200 espécies
• Brasil: 178 espécies
É comum que o morcego volte ao mesmo animal e se alimente da mesma ferida, que ficou sangrando devido aos anticoagulantes da sua ferida. 
Nos países sem raiva canina e sem morcego hematofago, tem casos por morcegos insetivoros, guaxinins que são reservatórios importantes de raiva nos EUA. 
Galpões abandonados podem atuar como abrigos dos morcegos. 
• Fatores que favorecem a manutenção do vírus
o Elevada densidade populacional
o Interações sociais intensas
o Alta capacidade de deslocamento
▪ Voo verdadeiro
▪ D. rotundus: 5 a 8 km 
o Prolongado período de incubação: mesmo sem sinais clínicos transmitem o vírus. O animal pode transmitir o vírus por um ano sem sinais nenhum, podendo transmitir para a sua colônia.
Patogenia
Uma vez que o vírus é inoculado por uma mordida, ocorre uma replicação na musculatura, até conseguir concentração ideal para alcançar terminações nervosas. Por isso tem tempo de incubação longo, e demora para chegar ao SNC. As agressões perto do SNC são piores, pois o caminho do vírus é muito mais rápido até o SNC.
Uma vez que ele atinge a musculatura esquelética e está em quantidade para chegar na terminava nervosa, se liga aos receptores nicotínicos de ACH na junção neuromuscular. 
O vírus viaja dentro dos axônios nos nervos periféricos por via retrógrada em transporte axonal rápido. Após viajar, se replica em neurônios

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