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1 Liderança Educacional para as Organizações de Aprendizagem do Século XXI Suzane Maranduba* RESUMO: O artigo apresenta uma pesquisa em fase de conclusão que examina criticamente a necessidade de formação de uma liderança educacional para atuação em organizações de vários níveis, que propõem desenvolver o seu profissional. Tomando como base os quatro pilares da UNESCO- Aprender a Ser, Aprender a Fazer, Aprender a Conhecer, Aprender a Conviver – propõe-se a elaboração de uma estratégia metodológica respaldada no Processo Pedagógico Profissional, onde o destaque recai sobre pontos sinalizadores indispensáveis para o alcance desse profissional. Nos tempos atuais, tornou-se quase um “clichê”, a palavra liderança, usada por todos, para tudo, com tudo e concebida ingenuamente por uma grande maioria da população, como a solução para problemas de ordem organizacional, pessoal, profissional, social, financeiro, educacional, e outros tantos mais. Essa consciência ingênua, leva a uma concepção pejorativa do que realmente significa a ação liderança conseqüenciando com isso, um entendimento “senso comum”, do ponto de vista simplista do que é ser um líder. Destaque para a definição de liderança, tomando por base Menezes (1970): Líder é todo o indivíduo que, graças à sua personalidade, dirige um grupo social, com a participação espontânea dos seus membros” ; “ o líder é o homem da situação”; “ a liderança é para nós uma capacidade estável de sobrevivência dentro do social. Não precisamos especificar o conceito de líder, ao nível de histórico, de uma influência marcante, no sentido político- carismático. Do ponto de vista psicosocial, o líder é a personalidade; o ser que evoluiu nas oportunidades de sua experiência social, dela extraindo informações, habilitações, valores, com os quais se estruturou harmoniosamente. (MENEZES, 1970:205) ___ Dentro de uma macro visão, um líder tem como função primeira a de ser um comunicador social, além disso, seja em qualquer organização, este líder, deverá ter como metas: _________ * Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Administração de Recursos Humanos, Psicopedagogia do Desenvolvimento de Pessoas e mestranda em Pedagogia Profissional, pelo Instituto Superior Pedagógico para la Educación Tecnica y Profesional - ISPETP – Cuba. Doutoranda em Ciências da Educação, pela Universidad Autônoma de Asunción – UAA – Paraguay. É professora universitária e coordena o curso de Pedagogia Social da Faculdade Vasco da Gama – FVG – Salvador, Bahia.2009 2 Criar estratégias e diretrizes para processo de educação e aprendizagem, levando as pessoas a se motivarem e se interessarem pelo seu próprio desenvolvimento Incentivar a manutenção de um ambiente de aprendizagem, que permita o aprender a aprender, ou seja, permitir que as pessoas aprendam com seus próprios erros e o sucesso dos colegas de Criar um sistema de comunicação que forneça informações disponíveis a todos. Sistema este que deve ser considerado a sua subjetividade, ou seja, aspectos sociofilopsicológicos, tanto quanto a sua objetividade: os fatos e dados Definir e promover uma divulgação constante da missão e da visão da organização, seus princípios, valores e seus objetivos estratégicos. “ o líder do amanhã pode gerenciar os resultados de curto prazo, planejar o futuro e atender às expectativas do mercado” (REZENDE, 1998: 02) Criar e implantar estratégias para a formação de lideranças, constituindo-se assim, este líder, um líder de líderes. De um modo geral, estes aspectos citados à cima, fazem parte de um elenco de habilidades para a formação básica de uma liderança transformadora, que tenha como princípio primeiro o desenvolvimento de pessoas, trabalhando transversalmente o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a conhecer, o aprender a conviver e conseqüentemente o aprender a aprender. Para atuar nessas redes de organizações sistêmicas que surgem no início do século XXI, vislumbra-se esse líder de líderes, cuja natureza é atemporal e cosmopolita, visionário e mobilizador de novos paradigmas. 3 A idéia de uma organização que aprende, resultante da atuação desse líder, tem ganhado crescente destaque ao longo dos últimos anos, como um novo tipo de organização, para “novas” pessoas. Vale ressaltar que o novo aqui não se refere à cronologia, e sim à transmutação, à dialética, à mente meditativa; estamos aqui transpondo a barreira do Homo- sápiens, para o Homo-primus (homem primeiro , antropsicofilopedagogicamente inteiro). Esta organização será capaz de lidar com problemas e as oportunidades do momento, e investir na sua capacidade para abraçar o amanhã, porquê seus membros estão focalizando continuamente o reforço e a expansão de sua própria percepção e capacidade coletivas. Percebe-se que muitas organizações educacionais almejam o desenvolvimento de uma “organização que aprende”, porém estão perdidas e desastradas como “hipopótamos em lojas de louças”, num emaranhado de teorias e práticas dissociativas, muitas ainda não estão certas quanto ao modo de pôr em prática os conceitos e se atropelam com questionamentos como: Que medidas tomar para instigar um senso de percepção sistêmica numa equipe de docentes? Como integrar novos tipos de habilidades e práticas com outros esforços de melhoria organizacional, com qualidade integral (qualidade das pessoas e dos serviços) ou equipes autogerenciáveis? Como desenvolver um currículo baseado em competências, que favoreça o Processo Pedagógico Profissional? Como dar a partida? Estas respostas estão emergindo da experiência coletiva de educadores, licenciados ou não, que entendem que não têm mais tempo a perder, que não se conformam em ser mais um na desgovernada engrenagem da massificação; são justamente essas pessoas “ malucos belezas” os pioneiros de paradigmas, os CRIADORES de conflitos (os conflitos geram uma crise e a crise é uma ótima oportunidade de crescimento pessoal) que estão trabalhando para aumentar o aprendizado numa grande variedade de cenários. E o estágio mais perigoso é o respeito... 4 Quando tentamos realizar mudanças em nossas sociedades, somos tratados primeiramente com indiferença, depois com ridículo, depois com abuso e depois com opressão. E, finalmente, o maior desafio nos é lançado: somos tratados com respeito. É esse o estágio mais perigoso. (ARIYARATNE, 1996,04) Milhares de profissionais estão evoluindo juntos, com um potencial sumamente poderoso. Alguns exploram a borda da fronteira da organização que aprende, enquanto outros colonizam o território, testando novos conceitos de prática organizacional, talvez construindo, nesse processo, um novo tipo de civilização. Esses cosmopolitas sabem que o mundo não mudou, apenas, o mundo se reinventou. Que o digam Freud, Marx, Einstein, Kant, Chardin, Hegel, Planc, Boff, Freinet... Partindo-se desses pressupostos, evidencia-se a necessidade extrema da formação contínua e permanente de uma liderança educacional que atue interativamente em todos os níveis de organização. Do ponto de vista de uma tal visão... (...) e, já que a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais. Em primeiro lugar, porém, é preciso que a educação dê carne e espírito ao modelo de ser humano virtuoso que, então, instaurará uma sociedade justa e bela. Nada poderá ser feito antes que uma geração inteira de gente boa e justa assuma a tarefa de criar a sociedade ideal. (FREIRE, 1999:28) Segundo Freire (1999), a transformaçãosocial era anteriormente entendida de uma forma simplista, primeiramente como a mudança das consciências, como se fosse a consciência, de fato a transformadora do real, porém agora esta transformação é percebida como um processo histórico, em que subjetividade e objetividade se interligam dialeticamente. Neste contexto, mais do que nunca, estão interrelacionados a educação e o trabalho, a escola e a cadeia produtiva, confirmando-se assim a interdependência entre um e outro. Essa afirmação evidencia o papel social da organização formativa: a escola e mais ainda a responsabilidade das universidades no que diz respeito a sua tríade: ensino, pesquisa e extensão. É neste cenário que o líder educacional é formado. E essa liderança, na organização educacional, ultrapassa a direção escolar e ganha os rumos dos espaços de aprendizagem, e seus atores, os educadores, cujo objetivo é a formação de outros líderes: os aprendentes. 5 Sendo assim, uma liderança educacional é conseguida, através de estratégias de educação continuada, que favorecem o desenvolvimento dos seguintes aspectos: 1. Maestria Pessoal – aprender a expandir a capacidade pessoal para criar resultados almejados, como também criar um ambiente organizacional que estimule todos os seus membros a se desenvolverem na direção das metas e fins escolhidos. 2. Visão Compartilhada – construir um senso de compromisso em grupo, desenvolvendo metas e estratégias para o alcance dos objetivos propostos. Aborda-se aqui a SINERGIA, que é a força motriz de um grupo, cujos componentes almejam um mesmo fim. Os gansos dão bons exemplos: eles viajam numa sincronicidade surpreendente, quando o da frente se cansa (eles viajem em V), automaticamente, o de trás assume a liderança do vôo. 3. Aprendizado em Equipe – transformar as habilidades conversacionais e coletivas de raciocínio, de modo que grupos de pessoas possam, confiavelmente, desenvolver inteligência e capacidades maiores do que a soma dos talentos individuais. Um líder educacional sabe a diferença entre competição e competitividade: a competição é a forma menos saudável de “entrar no jogo”, já que leva a fins individuais e perde-se de vista os objetivos comuns; a competitividade leva a um crescimento contínuo pessoal, através do coletivo, ou seja, para um indivíduo crescer, é necessário que o grupo cresça. 4. Pensamento Sistêmico – entender como mudar sistemas de modo mais eficaz e agir em melhor sintonia. Há que se dilatar a consciência, transformar a visão “lunética” pela “cosmo visão”, redescobrir o sentimento quântico, a unicidade; pensar globalmente e agir localmente, segundo Weil (1999). 5. Visão interdisciplinar – resultado do aspecto anterior. Acaba-se aqui as especializações. Fuller (2000) destaca que a especialização gerou sentimentos de isolamento, de futilidade e de confusão entre as pessoas. Ela também fez com que os indivíduos transferissem para outros a responsabilidade pelo pensamento e pela ação social. A 6 especialização gera preconceitos que acabam se agregando na forma de conflitos internacionais e ideológicos, que, por sua vez, tem como resultado a guerra. 6. Educação Ambiental – o meio ambiente aqui é entendido como tudo o que diz respeito ao ser humano e ao seu entorno: o ambiente natural e o ambiente social, cuja concentração é de suma importância para uma prática cidadão, pois diz respeito às questões sociais, como: desemprego, fome, miséria, discriminação, racismo etc. A liderança educacional, constitui-se hoje, uma via de combate à “cegueira social”, conseqüência de uma paralisia sensorial gerada pelo vírus da onipotência, da prepotência e da auto-suficiência, cujos efeitos colaterais são : “não vejo”, “não ouço”, “não falo”, “não sinto”, “não toco”... 7. Capacidade Mneomônica – enxergar os vários pontos de vista de um único aspecto. Numa organização que aprende, não existe uma única verdade, mas sim opiniões variadas que confrontadas entre si resultam numa evolução dialética, segundo Hegel, sem deixar de acrescentar Kant quando fala sobre suas “verdades” que não ficarão como pedras irremovíveis à margem do rio e que a razão é progressiva, `medida que se acrescenta algo de novo ao que existia. 8. Criatividade – capacidade de resolver problemas da melhor forma possível, otimizando recursos com o objetivo de alcançar uma maior qualidade e produtividade do produto. É uma falta de bom senso falar de qualidade, sem se referir a quantidade, visto que uma não se separa da outra, a tentativa de separação gera uma desarticulação contextual. Durante os próximos trinta anos, mudanças tecnológicas incisivas desdobrar-se-ão no dia-a- dia da vida , constituindo-se para uns oportunidade de crescimento, e para muitos, uma ameaça crítica, colocando em jogo a sobrevivência profissional daquele que não acompanhar a “onda da mudança”, Toffler (1970). Novos tipos de energia e redes de comunicações contribuirão para remoldar a estrutura política das comunidades locais. 7 Toffler (1970), denomina esse fenômeno mundial como a “terceira onda”: a INFORMAÇÃO. É importante é a aquisição de conhecimentos, mas, mais importante ainda é saber como usa-lo. As pessoas que entendem esse conhecimento desempenham um papel fundamental numa Organização, pois sabem que “aprendendo a aprender”, serão capazes de almejar a criação, ao invés de simplesmente reagirem ao novo mundo emergente Se existe uma coisa que uma Organização que aprende faz bem, é ajudar as pessoas a abraçarem as mudanças. Em Organizações que aprendem, as pessoas reagem com mais rapidez quando seu ambiente muda, pois elas abem como antecipar as mudanças que vão ocorrer (o que é diferente de tentar predizer o futuro), e como criar os tipos de mudanças que eles querem. Mudança e aprendizado podem não ser exatamente sinônimos, mas estão intimamente ligados. Não é a mudança pela mudança, há que acontecer a “Metanóia” a mudança de mentalidade das pessoas. Segundo Lynch (1989) e Kordis (1989), esse novo tipo de mentalidade, foi batizada com o nome do mais antigo símbolo da inteligência do mundo – delphinus delphis – golfinho. Inspiração essa, devido mais a sua tenacidade, encanto, intuição e pela sua inteligência, do que pelo seu comportamento real como a espécie dotada do maior cérebro do oceano. Os “líderes golfinhos” compreendem que o princípio organizador mais importante do final do séc. XX e início do séc. XXI á a “onda”. A onda de mudança. E os administradores e líderes que não aprenderem a “surfar na onda” e não gostarem de aprender a fazê-lo, arriscam-se a ficar literalmente “a ver navios” ou afogados na praia. E assim surge uma sub-espécie (mutante) dotada de uma nova forma de pensamento, o Homo Sapiens Delphinus, ou seja, o Líder Educacional. Esse é o desafio por que passam os Líderes Educacionais inseridos numa Organização que aprende: a capacidade de propiciar uma descontaminação gradativa dessa paralisia paradigmática que “engessam” e inflexibilizam ações e transformações organizacionais, pois, segundo Carmona (2001), “(... ) el líder educacional es eminentemente un tranformador de las personas y de las cosas.” (CARMONA, 1999,81 ) 8 Em última análise, a razão mais forte para se intensificar a formação de um líder organizacional, para por sua vez transformar as organizações em organizações que aprendem, é o fato de se querer trabalhar uma ética ecológica com os que estão, e deixar para os que virão um mundo onde prevaleça a consciência de uma ecologia humana e uma ecologia social. Considerações finais: A questão chave é: A formação de umlíder educador capaz de construir e reconstruir, num processo de ação e reflexão, o conhecimento sobre a realidade, de modo dialógico, com sujeitos envolvidos no processo educativo, superando assim, a visão fragmentada sobre a mesma. É mister que este líder educador esteja capacitado para atuar como catalisador e mobilizador de processos educativos, que respeite a pluralidade e diversidade cultural, que fortaleça a ação coletiva, e que principalmente seja um articulador de aportes de diferentes saberes e fazeres, e que mais do que tudo, seja um “Líder de Líderes” Para isso é condição sine qua non atentar para a necessidade de estabelecer as regularidades que regem o Processo Profissional e seus elementos constituintes, como: a demanda social, no que diz às aspirações sociais; problema profissional, aqui entendido como o “ conjunto de relações objetivas que en um momento dado presentam una incongruencia para la satisfacción de interesses de hombres vinculados profesionalmente a un determinado proceso”.(RODRÍGUEZ et al, 1988, 03); objetivo, que é a busca do sujeito em transformar o objeto para resolução do problema; objeto da profissão, que é a ação do profissional no desenvolvimento do processo. Além de outros componentes de igual importância, como; os métodos, ou seja os modos de atuação desse profissional; o conteúdo: conhecimentos da cultura e da profissão, além dos meios, formas organizativas do trabalho e o controle etc., além dos princípios. Concluindo, percebe-se a importância das leis e princípios para o Processo Pedagógico Profissional, destacando-se aqui a “ La escuela en la vida” – relação: problema – objeto – 9 objetivo, e “ La educación a través de la instrucción” – relação: objetivo – conteúdo – método. Diante do exposto, estabelece-se claramente, os nexos para uma prática educativa de liderança, consciente e transformadora, a partir da ação do Aprender a Ser, Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a Conviver, culminando assim no Aprender a Aprender. REFERÊNCIAS CARMONA, P. R. S. La Excelencia en la dirección educacional. ISPETP: 1988 CIRIANO, Ida Maria Hernandéz. Problemas fundamentales de la pedagogia: reflexiones para uma practica critica. 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