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Objetivação e Ancoragem Teoria das representações sociais Elementos formadores das RS Dois processos: objetivação e ancoragem Processos ligados e modelados pelos fatores sociais. A objetivação diz respeito à forma como se organizam os elementos constituintes da representação e ao percurso através do qual tais elementos adquirem materialidade, isto é, se tornam expressões de uma realidade vista como natural. O processo de objetivação envolve três etapas. 1ª etapa: as informações e as crenças acerca do objeto da representação sofrem um processo de seleção e descontextualização, permitindo a formação de um todo relativamente coerente, em que apenas uma parte da informação disponível é retida. Este processo de seleção e reorganização dos elementos da representação não é neutro ou aleatório, dependendo das normas e dos valores grupais. 2ª etapa: corresponde à organização dos elementos. Moscovici recorre aos conceitos de esquema e nó figurativo para evocar o fato dos elementos da representação estabelecerem entre si um padrão de relações estruturadas. 3ª etapa: É a naturalização. Os conceitos retidos no nó figurativo e as respectivas relações constituem-se como categorias naturais, adquirindo materialidade. Isto é, os conceitos tornam-se equivalentes à realidade e o abstrato torna-se concreto através da sua expressão em imagens e metáforas. Exemplo: Ao entrar no vagão do metrô com sua mãe, um menino, que se sentou em um dos assentos preferenciais, notou os pictogramas representando as pessoas que tinham prioridade para sentar-se ali. Como ainda não sabia ler, o menino interpretou as figuras em voz alta com base no que lhe era familiar (processo de ancoragem). Para o menino, o pictograma da grávida representava uma pessoa gorda e o pictograma do idoso uma pessoa com dor nas costas — pois, para ele, uma barriga grande numa mulher não tinha relação com gravidez, e apoiar-se numa bengala com a mão nas costas não tinha relação com uma pessoa idosa. Depois de feita a assimilação de algo novo por meio do processo de ancoragem — ou seja, a interpretação de pictogramas desconhecidos baseada em formas já conhecidas —, sua mãe o “corrigiu” e ensinou-lhe o que aqueles símbolos representavam. Assim, a mulher gorda passou a representar uma mulher grávida e o homem com dor nas costas passou a representar um idoso. O menino passou, então, pelo processo de objetivação, dando um novo significado para aqueles pictogramas até então estranhos a ele. Desta forma, ainda muito jovem, ele aprendeu a enxergar o idoso tal como é O processo de ancoragem, por um lado, precede a objetivação e, por outro, situa-se na sua sequência. Enquanto processo que precede a objetivação, a ancoragem refere-se ao fato de qualquer tratamento da informação exigir pontos de referência: é a partir das experiências e dos esquemas já estabelecidos que o objeto da representação é pensado. Enquanto processo que segue a objetivação, a ancoragem refere-se à função social das representações, nomeadamente permite compreender a forma como os elementos representados contribuem para exprimir e constituir as relações sociais (Moscovici, 1961). A ancoragem serve à instrumentalização do saber conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente (Jodelet, 1989).Jorge Vala refere que o conceito de ancoragem tem algumas afinidades com o conceito de categorização: ambos funcionam como estabilizadores do meio e como redutores de novas aprendizagens. No entanto, na opinião do autor, o processo de ancoragem é mais complexo visto que a ancoragem leva à produção de transformações nas representações já constituídas, isto é, “o processo de ancoragem é, a um tempo, um processo de redução do novo ao velho e reelaboração do velho tornando-o novo” (1993, p.363). Ancoragem A ancoragem ocorre quando uma pessoa assimila um novo objeto, e estabelece uma relação entre esse objeto e algo já conhecido (buscando uma relação entre ambos na memória, em algo já conhecido, ou vivido). Ancorar significa classificar, denominar aquilo que é estranho, buscando no conhecimento já adquirido uma forma ou um nome similar ao novo objeto. Assimilação e acomodação - Piaget É inegável a inspiração piagetiana pelos conceitos de assimilação e acomodação. Os processos de objetivação e ancoragem servem para nos familiarizar com o ‘novo’, primeiro colocando-o no nosso quadro de referência, onde pode ser comparado e interpretado, e depois reproduzindo- o e colocando-o sob controle. Tipos de representações sociais Hegemônicas: compartilhadas por todos os membros de um grupo altamente estruturado (um partido, uma nação, etc.) sem terem sido produzidas pelo grupo. Ex.: RS do indivíduo como uma entidade autônoma e livre. Emancipadas: são compartilhadas por membros de diferentes grupos que estão em contato.Ex.: RS sobre a loucura compartilhadas por diferentes profissionais. Controversas: são geradas a partir do conflito entre os grupos.Ex.: RS sobre as cotas raciais na universidades públicas. Na opinião de Moscovici há três formas pelas quais uma representação pode tornar-se social.As representações podem ser partilhadas por todos os membros de um grupo altamente estruturado (um partido, uma nação, etc.) sem terem sido produzidas pelo grupo. Estas representações hegemónicas prevalecem implicitamente em todas as práticas simbólicas e parecem ser uniformes e coercivas. Outras representações são o produto da circulação de conhecimento e de ideias de grupos que estão em contacto mais ou menos próximo. Cada grupo cria as suas próprias versões e partilha-as com os outros. Estas são representações emancipadas, com certo grau de autonomia, tendo uma função complementar uma vez que resultam da partilha de um conjunto de interpretações e de símbolos. Por último, existem as representações que são geradas no decurso de um conflito ou controvérsia social e que não são partilhadas pela sociedade no conjunto. Estas representações controversas devem ser consideradas no contexto de uma oposição ou luta entre grupos Na acepção de Doise, as representações assumem um lugar central nas relações intergrupais, desempenhando três tipos de funções: seleção, justificação e antecipação. Seletiva: traduz-se na seleção dos conteúdos que são centrais para o encontro entre grupos e indivíduos. A função seletiva traduz-se numa centralidade dos conteúdos relevantes para as relações intergrupais, relativamente aos conteúdos irrelevantes . Justificadora: serve para justificar o tipo de relação que será desenvolvida. A função justificativa revela-se nos conteúdos das representações que veiculam uma imagem do outro grupo que justifica um comportamento hostil em relação a ele e/ou a sua posição desfavorável no contexto da interação. Por último, a função antecipatória manifesta-se na influência que as representações exercem no próprio desenvolvimento da relação entre os grupos: as representações não se limitam a seguir o desenvolvimento das relações intergrupais, adaptando-se a ele, mas também intervêm na determinação deste desenvolvimento, antecipando-o ativamente Assim, por um lado, as representações estruturam- se de acordo com as estratégias grupais e, por outro, as representações servem e justificam os comportamentos grupais, isto é, as representações sociais têm uma função de justificação antecipada e/ou retrospectiva das interações sociais Toda representação social é dividida em dois sistemas: o central e o periférico. O sistema central — chamado de núcleo central — é o elemento mais estável da representação e não muda, mesmo que a informaçãorecebida o contradiga. Núcleo central Ele estrutura como uma dada situação é representada e determina o comportamento dos sujeitos. O núcleo central é único para cada representação; o que significa dizer que não existem duas representações distintas com o mesmo núcleo central e qualquer modificação nele feita resulta na transformação completa da representação Sistema periférico Já o sistema periférico atualiza e contextualiza as determinações normativas do núcleo central, resultando em flexibilidade e em expressão individualizada, pontos que caracterizam as representações sociais. Em outras palavras, o núcleo central é o elemento de uma representação que não pode mudar — pois, se ele mudar, a representação muda —, e o sistema periférico atua como um sistema de “defesa” desse núcleo, adaptando-se e modificando-se para que ele permaneça íntegro. Núcleo central e sistema periférico Essa relação central x periférica dos elementos de uma representação mostram que alguns são mais decisivos do que outros no reconhecimento e na identificação do objeto. Exemplo: Ao realizar uma pesquisa de imagens na Internet por “produtos para idosos”, foi possível notar que a maioria dos resultados apresentou objetos vinculados a limitações físicas e problemas de saúde — tais como bengalas, apoios necessários para realizar necessidades no banheiro com mais segurança, porta-remédios, fraldas geriátricas, cadeira de rodas e andadores, dentre outros. Uma hipótese para justificar essa tendência é a de que esses objetos fazem parte do sistema periférico da representação social da velhice, cujo núcleo central é a doença o segundo grupo de exemplos — o das coisas do novo velho — é composto de objetos, serviços e ações com foco na qualidade de vida do idoso. É importante ressaltar que projetar com foco na qualidade de vida no lugar da doença, não significa ignorar as limitações físicas e mentais resultantes da idade avançada, significa apenas não tratá-las como ponto central da representação da velhice. As coisas do novo velho, portanto, foram projetadas com vistas para a representação social da velhice em que a doença deixa de fazer parte do núcleo central e passa a transitar no sistema periférico, uma vez que faz parte da vida da pessoa idosa, assim como outras questões. Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27
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