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HISTÓRICO DA PSICOTERAPIA INFANTIL PROF. MS. MARÍLIA BARREIRA A PARTIR DE QUAL CONTEXTO HISTÓRICO SE POSSIBILITA O CUIDADO PSICOTERAPÊUTICO COM CRIANÇAS? Noção de Infância • Família medieval era constituída por grande número de pessoas dentre familiares, agregados e funcionários. •Função da família: transmissão de da vida, dos bens e dos nomes. Não havia exaltação dos sentimentos familiares e o cuidado e a educação daquela criança se dava na interação daquelas pessoas. •Crianças eram inseridas nas atividades de adultos a partir de seus primeiros passos. Noção de Infância • “ Não se opunha à intimidade da vida privada, era um prolongamento dessa vida privada, do cenário familiar do trabalho e das relações sociais”. (Ariès, 1981; p.198) •Transformações políticas e econômicas. •Famílias Nucleares, que são destituídas de algumas funções. •Família passa a ser unidade de consumo e reprodução. Noção de Infância • A criança adquire nova representação social, valor e importância: o trabalhador do futuro. • Assim, se nasce a necessidade de maior cuidado e investimento nessa criança. • Início da escolarização. Separação da criança com o mundo adulto. • “Sentimento de Infância” (Ariès, 1981) • Família como base afetiva e constitutiva. Noção de Infância • Nascimento da Pediatria e da Pedagogia enquanto ciência e profissão, atribuindo características do desenvolvimento infantil e descrevendo formas de cuidá-la e educá-la. • Surge também a Psicologia, ainda muito focada em experiências de laboratório que estudem o “funcionamento” humano: prever, selecionar, orientar, adaptar e racionalizar. Finalidades práticas. Noção de Infância • A criança torna-se assim objeto de estudo e fonte de informação sobre o desenvolvimento humano. • Esses estudos são um terreno fértil para a elaboração da teoria da sexualidade infantil freudiana, e dos estudos das neuroses e do desenvolvimento da personalidade do ser humano. Origens e Desenvolvimento da Psicoterapia Infantil • Início Trabalho Psicoterapêutico com Crianças à partir da Psicanálise. ( fim da década de 20 e início da década de 30) • Abordagem Centrada na Pessoa traz importantes considerações entre a década de 70 e a segunda metade da década de 80. • A partir de meados de meados da década de 80, a Gestalt Terapia começa a produzir também, mas suas obras tomam folêgo à partir dos anos 2000. Contribuições da Psicanálise • Origem da Psicoterapia Infantil: final do século XIX, a partir da nova visão de infância. • Intuito principal do Freud era estudar a vida pregressa de seus pacientes para tentar perceber que situações patológicas na repressão da sexualidade e como estes manifestavam-se como sintomas. • Sua conclusão é a de que a infância pode deixar marcas que podem fundamentam um distúrbio neurótico futuro. Contribuições da Psicanálise • Estudar a vida pregressa de seus pacientes para tentar analisar as situações patológicas na repressão da sexualidade e como estes manifestavam-se como sintomas. • “Quem é esse homem?”; “Como ele funciona?”; O que acontece com ele que adoece e se torna improdutivo?” • “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905). • Caso Hans (Freud, 1980): a fixação pelo “pipi”. • Em 1920, em “Além do Princípio do Prazer”, Freud narra uma brincadeira chamada de “fort-da”. “A ideia de que as crianças poderiam ser afetadas por aquilo que os adultos faziam ou falavam era extremamente nova ; as crianças eram vistas como aquelas “que não entendem” ou “que não estão prestando atenção”, legitimando toda a sorte de comportamento e forma de tratá-las sem que houvesse algum tipo de preocupação com a influência que poderia advir daí. Descobrir que elas eram afetadas por aquilos que os adultos falavam ou faziam não fez com que esses mesmos indivíduos mudassem totalmente com relação à criança, porém, legitimou a possibilidade de um determinado adulto, o psicoterapeuta, agir e falar de uma forma específica com a criança de forma que isso pudesse trazer algum benefício terapêutico. “ (Aguiar, 2005; p.29) Contribuições da Psicanálise • Anna Freud (1971) publica sobre as fases do desenvolvimento psicossexual de Freud, a utilização de defesas do ego e a função da resistência do tratamento. • Defensora do uso do brincar na vinculação positiva entre psicoterapeuta e criança. Os moldes da sessão aconteciam nos moldes do adulto. • Trabalha apenas com o período de latência (6-10 anos). Contribuições da Psicanálise • A capacidade de transferência não é espontânea na criança. • Criança evidencia reações transferenciais positivas e negativas , mas não faz neurose de transferência. • Terapeuta como educador. • Superego da criança depende dos objetos exteriores que o originaram e ainda não está maduro. Contribuições da Psicanálise • A transferência negativa não deve ser interpretada, mas dissolvida por meios não analíticos. • Somente com transferência positiva pode ser realizado um trabalho analítico com crianças. Bases da Psicanálise para a Psicoterapia Infantil Contribuições da Psicanálise • Primeira proposta de sistematização do trabalho clínico com crianças. • Propõe usar o brincar como substitutivo da verbalização, já que as crianças poderiam se beneficiar da interpretação, mas, mas não tinham condições de associar livremente. • A partir do “fort-da”, ela conclui que a linguagem da criança era o brinquedo. Contribuições da Psicanálise • Melanie Klein traz um olhar mais atento para o primeiro ano de vida e suas relações iniciais. Assim, como, a integração das polaridades “amor” e “ódio” para o equilíbrio psíquico. • Por outro lado, Anna Freud, trabalha apenas com o período de latência (6-10 anos). • Klein inaugura a linguagem lúdica. Para a psicoterapia, isso significa entender a verbalização como parte do processo infantil, mas não como o todo. Contribuições da Psicanálise • Ansiedade revive-se na análise, seja ela boa ou má. • Ansiedade é expressa no jogo e reduzida pela interpretação. • Em análise, o ódio é mitigado pelo amor, estabelecendo objetos bons no mundo interno e melhorando as relações com o mundo exterior. Esse progresso conduz a cura. Contribuições da Psicanálise • Análise da simbolização no jogo é a análise da formação do superego. • Fantasia transferencial. • Repetição das situações primárias na transferência. • Relação com o analista = reviver primeiras relações. Bases da Psicanálise para a Psicoterapia Infantil Contribuições da Psicanálise • Herdeiro notável da Psicanálise Kleiniana: o pediatra Donald Winnicott (crianças e psicóticos). • Um olhar mais cuidadoso e interessado para os pais e suas influências na análise da criança. (Winnicott) • Klein por outro lado reduz a participação dos pais, pois os vê como empecilho. Encontra com eles apenas para a obtenção de dados a respeito da criança. Contribuições da Psicanálise • Importância da maternidade: relação de cuidado e acolhimento com o bebê . “Sem a maternagem, um bebê não existiria” (Winnicott, 1968) • Desenvolve a teoria do brincar. Amplia a noção da função do brinquedo para o desenvolvimento infantil. • Psicoterapeuta não apenas observa e analisa o brincar; ele encontra a criança durante o ato de brincar. Contribuições da Psicanálise • Winnicott esenvolve a teoria do brincar. Amplia a noção do brinquedo para o desenvolvimento infantil. Introduz a noção de espaço transicional. • O brincar seria a evolução natural do uso que os bebês fazem dos objetos e fenômenos transicionais. Nas brincadeiras, as crianças investem conteúdos de seu mundo interno em objetosexternos, fazendo, de um simples pedaço de madeira um guerreiro valente. Já não existem o pedaço de madeira na realidade externa e nem a fantasia de guerreiro no mundo interno da criança. Ambos estão amarrados em um objeto único ao mesmo tempo interno e externo, um objeto transicional. Contribuições da Psicanálise • Psicoterapeuta não apenas observa e analisa o brincar; ele encontra a criança durante o ato de brincar. • Participação mais ativa do psicoterapeuta e uma mudança na relação entre criança e profissional. • Surgimento da Escola Francesa de Psicanálise: a criança não é doente, sinaliza a doença de seus pais e sua família (Manononi, 1983) • Psicoterapia para os pais ou para as crianças? Contribuições da Psicanálise • Maternidade e Paternidade como funções. • Mãe Suficientemente Boa • Não importa quem faz, mas como faz e o que faz! Bases da ACP para a Psicoterapia Infantil Surgimento de uma perspectiva existencial para a Psicoterapia Infantil • Pós-Guerra: emergência e desenvolvimento de novas possibilidades de perceber o humano. • Ludoterapia (Play Therapy): Virginia Axline; Dibs: Virginia Axline. • Estas obras revolucionam a forma de se trabalhar psicoterapeuticamente com crianças, pois sua visão de homem difere da Psicanálise. Surgimento de uma perspectiva existencial para a Psicoterapia Infantil • Brincar como recurso mediador . • A partir da visão fenomenológica e existencial, se pensa em um processo centrado na criança com o mínimo de intervenção do terapeuta, que realiza intervenções descritivas. • “O comportamento da criança não é mais analisado, mas significado a partir de reflexão se sentimentos”. (Axline, 1984) “A aceitação da criança exatamente como ela é, o respeito pelo seu tempo e pela sua capacidade em resolver os próprios problemas, a não-diretividade das suas ações ou conversas, o estabelecimento de um sentimento de permissividade e o desenvolvimento de uma sólida relação de confiança entre criança e psicoterapeuta são os princípios básicos dessa nova forma de compreender e trabalhar psicoterapeuticamente com a criança”. (Aguiar, 2005; p. 35) Ludoterapia • A maioria das psicoterapias infantis recorre ao lúdico como recurso facilitador da expressão da criança no espaço terapêutico. Essa não é característica apenas das psicoterapias, pois, a maioria do trabalho com crianças se baseia nos recursos lúdicos. • Nesse sentido, alguns autores criticam o termo ludoterapia. Enquanto isso, outros o defendem, pois acreditam que é uma forma de diferenciar a psicoterapia de crianças da psicoterapia de adultos. Bases da Gestalt para a Psicoterapia Infantil Surgimento de uma perspectiva existencial para a Psicoterapia Infantil • Já na Gestalt-Terapia, com as contribuições de Oaklander (1980) a visão de homem se mantém, mas a metodologia de trabalho se difere. Há maior participação e atividade do psicoterapeuta, que através de suas técnicas objetiva ampliar a consciência da criança a respeito de seus padrões e possibilidades de interação com o mundo. Bases da Gestalt para a Psicoterapia Infantil Psicoterapia Infantil Comportamental • Modificação do Comportamento: os problemas das crianças restringiam-se às preocupações dos pais. • O trabalho de intervenção no decorrer do processo psicoterápico se dava exclusivamente com os pais, sendo de forma indireta a participação da criança no processo. Psicoterapia Infantil Comportamental • O adulto era responsável pela definição e delimitação do comportamento-queixa a ser trabalhado. • Visando ao levantamento de dados precisos quanto às queixas apresentadas pelos pais, utilizavam-se check-lists e inventários que abarcavam uma multiplicidade de comportamentos-problema observáveis nos quadros de depressão, agressividade, ansiedade e timidez Psicoterapia Infantil Comportamental • Em 1960, a terapia comportamental infantil firmou-se como modelo psicoterápico, passando a analisar de forma funcional o comportamento da criança em relação ao ambiente no qual ela está inserida. Neste momento, a criança passa a participar do processo psicoterápico de forma ativa. • Na Psicoterapia Comportamental Infantil, as crianças - enquanto agente ativo no processo psicoterápico - participam de todo o processo, desde o levantamento da queixa até os momentos da intervenção propriamente ditos. Psicoterapia Infantil Comportamental • As crianças passam a ser informantes de seus próprios comportamentos, sentimentos e relacionamento social, não dependendo mais exclusivamente dos relatos dos pais para a obtenção de dados quanto as suas vivências individuais. • A participação da criança enquanto agente do processo psicoterápico exigiu dos terapeutas uma atuação embasada nas particularidades infantis (desenvolvimento motor; comportamental; sensorial e emocional), na qual as estratégias lúdicas passam a ser uma importante forma de atuação. Psicoterapia Infantil Hoje... • Características típicas da psicoterapia infantil: lúdico, a importância do brincar, ação criativa no meio, possibilidade de trabalho com crianças de todas as idades, compreensão do contexto familiar como parte integrante da demanda, a consideração de contextos mais amplos, possibilidade de trabalho com diferentes configurações familiares REFÊRENCIAS ABERASTURY, A. Psicanálise da Criança: teoria e técnica. 8 ed., Porto Alegre: Artmed, 2008. AGUIAR, L. Gestalt-Terapia com Crianças: teoria e prática. Campinas: Livro Pleno, 2005.
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