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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 1/10 CAPÍTULO 08 - ESPECIFICAÇÃO DO GÁS NATURAL 1. PRINCÍPIO LEGAL A especificação (que trata dos requisitos mínimos de qualidade final do produto) do Gás Natural processado é de competência da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O Artigo 8° da Lei do Petróleo versa sobre tal competência e o Artigo 8° da Lei do Gás mostra essa prerrogativa e frisa pela importância e aplicação da mesma. “Art. 8° A ANP terá como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, cabendo-lhe: (Redação dada pela Lei nº 11.097, de 2005) I - implementar, em sua esfera de atribuições, a política nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis, contida na política energética nacional, nos termos do Capítulo I desta Lei, com ênfase na garantia do suprimento de derivados de petróleo, gás natural e seus derivados, e de biocombustíveis, em todo o território nacional, e na proteção dos interesses dos consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos; (Redação dada pela Lei nº 11.097, de 2005).” 2. A ESPECIFICAÇÃO DO GÁS NATURAL O objetivo da regulação do mercado de gás natural é a definição de regras básicas, dentro de mecanismos legais, que garantam a estabilidade do relacionamento entre os atores integrantes da cadeia do gás natural no Brasil. A regulamentação do mercado visa fomentar o mercado e orientar os negócios em torno do gás natural, através da definição de regras consistentes e coerentes, da garantia de direitos formalizados em contratos padrões de compra, venda, transporte, produção e industrialização do gás natural.. Neste contexto, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), autarquia da Administração Pública Federal Indireta vinculada ao MME, tem buscado regular este setor, através de Resoluções que definem exatamente o papel de cada ator que participa da cadeia produtiva deste setor cada vez mais crescente na matriz energética brasileira. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 2/10 No caso do Gás Natural, a Resolução que versa da especificação do mesmo é a Resolução ANP n° 16 de 17 de junho de 2008. São pontos importantes desta Resolução, além da tabela de especificação: Estabelecer a especificação do gás natural, nacional ou importado, a ser comercializado em todo o território nacional. Empresas ou consórcios de empresas que exerçam as atividades de comercialização e transporte de gás natural no País, isto é, carregadores e transportadores bem como as empresas distribuidoras devem atender à especificação. A Resolução aplica-se ao gás natural a ser utilizado como combustível para fins industriais, residenciais, comerciais, automotivos e de geração de energia. Para utilização como matéria-prima em processos químicos, a qualidade deverá ser objeto de acordo entre as partes. O gás natural deverá ser odorado na distribuição, atendendo às exigências específicas de cada agência reguladora estadual. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 3/10 2.1. TABELA DE ESPECIFICAÇÃO E OS CRITÉRIOS DE QUALIDADE A tabela abaixo se encontra no Regulamento Técnico ANP N° 02/2008, parte integrante da Resolução ANP n° 16 de 17 de junho de 2008. Quadro I: Tabela de especificação do Gás Natural (1) Observações: (1) O gás natural não deve conter traços visíveis de partículas sólidas ou líquidas. (2) Os limites especificados são valores referidos a 293,15K (20ºC) e 101,325kPa (1atm) em base seca, exceto os pontos de orvalho de hidrocarbonetos e de água. (3) A aplicação veicular do gás natural de Urucu se destina exclusivamente a veículos dotados de motores ou sistemas de conversão de gás natural veicular que atendam à legislação ambiental específica. O revendedor deverá afixar em local visível de seu estabelecimento comercial o seguinte aviso: "GÁS NATURAL VEICULAR DE URUCU - EXCLUSIVO PARA VEÍCULOS ADAPTADOS AO SEU USO (4) O poder calorífico de referência de substância pura empregado neste Regulamento Técnico encontra-se sob condições de temperatura e pressão equivalentes a 293,15K, 101,325 kPa, respectivamente em base seca. (5) O índice de Wobbe é calculado empregando o poder calorífico superior em base seca. Quando o método ASTM D 3588 for aplicado para a obtenção do poder calorífico superior, o índice de Wobbe deverá ser determinado de acordo com a seguinte fórmula: onde: IW – índice de Wobbe PCS – poder calorífico superior d – densidade relativa (6) O número de metano deverá ser calculado de acordo com a última versão da norma ISSO 15403-1. Na versão ISO 15403-1:2006 (E), considera-se o método GRI do Anexo D. Calcula-se inicialmente o Número de Octano Motor – MON a partir da equação linear empírica, função da composição dos componentes discriminados. Em seguida com o valor determinado para o MON calcula-se o número de metano ou NM a partir da correlação linear entre NM e MON. Tais equações vêm descritas abaixo: UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 4/10 onde x é a fração molar dos componentes metano, etano, propano, butano, CO2 e N2. NM = 1,445 x (MON) – 103,42 (7) Caso seja usado o método da norma ISO 6974, parte 5, o resultado da característica teor de oxigênio deverá ser preenchido com um traço (-). (8) É o somatório dos compostos de enxofre presentes no gás natural. Admite-se o limite máximo de 150 mg/m³ para o gás a ser introduzido no início da operação de redes novas ou então a trechos que em razão de manutenção venham a apresentar rápido decaimento no teor de odorante no início da retomada da operação. (9) Caso a determinação seja em teor de água, a mesma deve ser convertida para (ºC) conforme correlação da ISO 18453. Quando os pontos de recepção e de entrega estiverem em regiões distintas, observar o valor mais crítico dessa característica na especificação. (10) Pode-se dispensar a determinação do ponto de orvalho de hidrocarbonetos – POH quando os teores de propano e de butanos e mais pesados forem ambos inferiores a 3 e 1,5 por cento molares respectivamente de acordo com o método NBR 14903 ou equivalente. Anotar nesse caso 'passa' no referido campo. Se um dos limites for superado, analisar o gás natural por cromatografia estendida para calcular o ponto de temperatura cricondentherm – PTC (definida como a máxima temperatura do envelope de fases) por meio de equações de estado conforme o método ISO 23874. Caso o PTC seja inferior ao POH especificado em mais que 5ºC, reportar o POH como sendo esse valor. Quando o PTC não atender a esse requisito, determinar o POH pelo método ISO 6570. O POH corresponde à acumulação de condensado de 10 miligramas por metro cúbico de gás admitido ao ensaio. Quando os pontos de recepção e entrega estiverem em regiões distintas, observar o valor mais crítico dessa característica na especificação. (11) Aplicável ao gás natural importado exceto o gás natural liquefeito, determinado semestralmente. O carregador deverá disponibilizar o resultado para o distribuidor sempre que solicitado. As características previstas nesta especificação definem o que se chama “requisitos mínimos de desempenho” e estão associadasa propriedades físico-químicas que garantem condições ao produto de se manter em um padrão de qualidade nas diversas etapas da cadeia sem afetar, principalmente, o consumidor final. Aspectos de segurança no armazenamento, manuseio e transporte também são considerados, além de redução de custos ao evitar problemas de bloqueios de linhas por entupimento, corrosão acentuada de linhas e equipamentos, entre outros. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 5/10 Melhor visualização da tabela de especificação, retirando os Métodos: CARACTERÍSTICA UNIDADE LIMITE Norte Nordeste Centro-Oeste, Sudeste e Sul Poder calorífico superior kWh/m³ 34.000 a 38.400 35.000 a 43.000 kWh/m³ 9,47 a 10,67 9,72 a 11,94 Índice de Wobbe kJ/m³ 40.500 a 45.000 46.500 a 53.500 Número de metano, mín. anotar 65 Metano, min. % mol. 68,0 85,0 Etano, máx. % mol. 12,0 12,0 Propano, máx. % mol. 3,0 6,0 Butanos e mais pesados, máx. % mol. 1,5 3,0 Oxigênio, máx. (7) % mol. 0,8 0,5 Inertes (N2+CO2), máx. % mol. 18,0 8,0 6,0 CO2, máx. % mol. 3,0 Enxofre Total, máx. (8) mg/m3 70 Gás Sulfídrico (H2S), máx. mg/m3 10 13 10 Ponto de orvalho de água a 1atm, máx. ºC -39 39 45 Ponto de orvalho de hidrocarbonetos a 4,5 MPa, máx. ºC 15 15 0 Mercúrio, máx. µg/m³ anotar UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 6/10 Dentre os principais requisitos de desempenho que afetam a qualidade do gás natural, podemos citar: 2.1.1. PODER CALORÍFICO A principal característica do gás natural é o seu poder calorífico que, normalmente, varia de 8500 a 12500 cal/ m 3 (poder calorífico superior). A composição química do gás tem grande influência sobre esta característica. 2.1.2. FORMAÇÃO DE HIDRATOS E CONDENSADOS Como o gás natural é transferido através de gasodutos, a pressões bastante elevadas, é importante não conter água nem tampouco dióxido de carbono, para evitar a formação de hidratos ou gelo nos dutos. • Hidratos: São compostos sólidos formados pela combinação física entre moléculas de água e certas moléculas do gás, na presença de água livre. Estes compostos, de estrutura cristalina, crescem bloqueando linhas, válvulas e equipamentos parcial ou totalmente. A composição do gás tem efeito fundamental na formação de hidratos. Metano, etano e gás sulfídrico são, por excelência, os componentes formadores de hidratos. Propano e butano formam hidratos instáveis e moléculas maiores, ao contrário, tendem a inibir sua formação. Além disso, hidrocarbonetos condensados ajudam a evitar acúmulo de hidratos pelo efeito de lavagem. Por essa razão, gasodutos bifásicos estão menos propensos à formação de hidratos do que gasodutos monofásicos. Assim, pode-se dizer que gases de alta densidade, isto é, contendo muitos hidrocarbonetos pesados tem menor tendência a formar hidratos enquanto gases contendo altos teores de H2S e CO2 apresentam maior tendência pois, estes contaminantes, são mais solúveis em água que a maioria dos hidrocarbonetos. A temperatura de formação de hidrato a uma certa pressão é função da composição do gás e existem métodos relativamente precisos de determinação desta temperatura. MAIOR A DENSIDADE DO GÁS NATURAL RESIDUAL MAIOR A PRESENÇA DE ETANO MAIOR NECESSIDADE DE AR PARA SE TER COMBUSTÃO COMPLETA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 7/10 Injeção de inibidores A forma mais segura de se evitar a formação de hidratos é processar apenas gás seco, com seu ponto de orvalho especificado para as condições operacionais do sistema (ponto de orvalho abaixo da menor temperatura que o gás será submetido na unidade). Porém ocorrem muitas vezes desequilíbrios momentâneos na unidade que levam ao aumento do teor de água do gás e consequentemente, a possibilidade de formação de hidratos. Neste instante, a injeção de inibidores de forma preventiva pode evitar perdas de produção por paradas operacionais. O inibidor de hidratos tem a finalidade de se combinar com a água livre, diminuindo a temperatura em que o hidrato se forma. Deve ser injetado na corrente gasosa, antes que seja atingida a temperatura de formação de hidrato. O ponto de injeção deve ser tal que permita a maior dispersão possível no gás, com a utilização de bicos nebulizadores. A eficiência do inibidor está relacionada a uma boa nebulização do líquido na massa gasosa, provocando uma maior homogeneização da mistura álcool-gás. Os bicos nebulizadores pulverizam o álcool, formando névoas, dispersando-se na massa gasosa e aumentando consequentemente o contato com a mesma. 2.1.3. PONTO DE ORVALHO – DEW POINT A presença de hidrocarbonetos mais pesados do que o etano, definida pelo ponto de orvalho do hidrocarboneto, também deve ser evitado para não permitir a condensação de líquido que poderá bloquear os gasodutos. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 8/10 • Ponto de Orvalho (Dew Point): temperatura a determinada pressão onde ocorre a formação de fase líquida no gás. Acerto do Ponto de Orvalho: O controle ou acerto de Dew point não tem por objetivo a recuperação das frações pesadas do gás, mas procura somente evitar a condensação destas frações pesadas nos dutos de transporte. O processo mais utilizado para este fim é a refrigeração, porém a absorção com ou sem refrigeração também pode ser usada. O processo por refrigeração consiste simplesmente no resfriamento do gás até uma temperatura T com consequente formação de condensado que sofre então uma estabilização, conforme descrito na seção anterior. O gás resultante é ainda suficientemente rico para ser processado em uma UPGN. A temperatura T deverá ser tal que a curva de pontos de orvalho do gás resultante não atinja, em toda a faixa de pressões de escoamento, a menor temperatura a que o gás será submetido a resfriamento em uma dada pressão. 2.1.4. CORROSIVIDADE O gás natural, bem como seus produtos de combustão, não deverá ser corrosivo para os materiais com que ele tem contato. Deverá ser verificados o teor de sulfeto de hidrogênio e o enxofre total. O Gás Natural tal como é produzido pode conter contaminantes classificados segundo dois tipos básicos: inertes e gases ácidos. Os inertes, sempre presentes no gás, são o nitrogênio e o vapor d’água. Os gases ácidos, assim chamados por formarem uma solução de características ácidas quando na presença de água livre, englobam o gás carbônico (CO2) e os compostos de enxofre, a saber: gás sulfídrico (H2S), mercaptans , sulfeto de carbonila (COS) e dissulfeto de carbono (CS2). O tratamento do gás, ou condicionamento, visando apenas à remoção de compostos de enxofre denomina-se dessulfurização; quando se visa a remoção de gases ácidos usa-se o nome genérico de adoçamento. COMPOSTOS SULFURADOS NO GNR POLUIÇÃO E CORROSIVIDADE ANTES (H2S) E APÓS QUEIMA (S02, SO3) UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 9/10 2.1.5. ÍNDICE DE WOBBE O Índice de Wobbe é obtido através de relações entre o poder calorífico superior e a raiz quadrada da densidade do gás com a densidade doar pela seguinte fórmula: D PCS W O índice de Wobbe mede a quantidade de energia disponibilizada em um sistema de combustão através de um orifício injetor. Dois gases que apresentem composições distintas, mas com o mesmo índice de Wobbe disponibilizarão à mesma quantidade de energia através de um orifício injetor à mesma pressão. Obs.: Em um venturi, onde a relação ar / combustível é mantida constante, a vazão da energia é proporcional ao Índice Wobbe. Desse modo o IW permite prever o desempenho de um gás em um dado motor. Índice de Wobbe de combustíveis gasosos, em kcal/m 3 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ENGENHARIA DE PETRÓLEO ENGENHARIA DE GÁS NATURAL – PROF. JOHNY CORRÊA 10/10 2.1.6. RIQUEZA DO GÁS NATURAL Um conceito muito utilizado no processamento de gás é o índice de riqueza do gás (IRG) definido como sendo a quantidade de líquido, previamente estabelecida como C3 + (propano e mais pesados), que pode ser obtida através do processamento. É comum também expressar a riqueza do gás unicamente em termos de porcentagem molar e nesse caso ela consiste da soma das porcentagens de todos os componentes a partir do propano inclusive. De acordo com este critério, de mais fácil utilização que o anterior, um gás é considerado rico se apresenta riqueza superior a 7%. Bibliografia 1. Vaz, Célio Eduardo Martins; Ponce, Maia João Luiz; Santos, Walmir Gomes dos. Tecnologia da Indústria do Gás Natural, Editora Blucher. 2. Sítio da ANP. http://www.anp.gov.br
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