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A filosofia social de Smith 1. Tanto as teorias econômicas de Smith, quanto dos Fisiocratas, estão ligadas ao direito natural 2. Para eles: o progresso ou a regressão econômica dependem do cumprimento ou da violação dos imperativos do direito natural. 3. As diferenças entre Smith e os Fisiocratas abrangia o contexto em que esses pensadores viviam: a França absolutista do século XVIII passava por graves problemas sistêmicos; a Inglaterra encontrava-se numa condição diferente: as precondições básicas para o desenvolvimento do capitalismo já estavam presentes. 4. Smith diz que o progresso é contínuo mesmo quando legislação é má: as forças econômicas se mostram mais fortes do que os obstáculos legais e políticos. 5. Para Smith, a vida econômica é uma combinação de forças econômicas cuja natureza não se altera e de condições históricas cuja natureza é alterada. Ou seja, o papel do economista é estudar as forças econômicas, que são por natureza, imutáveis. 6. O que é estas forças econômicas? Os “esforços naturais” de cada indivíduo são um estímulo ao progresso econômico. 7. Para Quesnay, a condição necessária do progresso econômico era a implementação de um sistema imutável de direito natural. Para Smith, tal condição é a atividade da natureza imutável do “homem econômico”. O indivíduo só demonstra esses esforços em condições de plena liberdade. Condições sociais desfavoráveis, como as legislações e o intervencionismo estatal, retardam a atividade dessas forças. 8. Essa natureza humana ela se manifesta de modo mais presente em sociedades baseadas na propriedade privada e na concorrência irrestrita: essas são apenas condições adicionais para a exteriorização das forças individuais localizadas no interior da natureza permanente do homem. 9. Como as instituições sociais da ordem elas refletem essas características para a manifestação da natureza imutável do homem, elas assumem o caráter de formas eternas, “naturais” da economia. 10. No que diz respeito a seus contatos econômicos, cada indivíduo se relaciona com outros apenas na medida que é isso ditado pelos seus próprios interesses. A forma desse intercurso é a troca. “A propensão a negociar, permutar e trocar uma coisa por outra”. (sociedade de troca). 11. Esse é o método racionalista e individualista de Smith 12. Logo, as instituições socioeconômicas básicas são: a divisão do trabalho e a troca. 13. O aparecimento do dinheiro (outra instituição ec.) surge devido a inconveniência da troca in natura: desde a divisão do trabalho, eles buscam outras mercadorias além dos produtos produzidos por sua própria indústria. 14. A proposição básica do sistema teórico de Smith afirma que os fenômenos econômicos possuem uma regularidade inerente, “natural” e determinada por leis, que existe independentemente da vontade do Estado e é baseada nas inclinações “naturais” imutáveis do indivíduo. A proposição básica da política econômica de Smith afirma que apenas quando os fenômenos econômicos se dão “naturalmente”, sem constrangimento do Estado, eles trazem o máximo de benefício tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo. 15. O principal preceito da política econômica é a liberdade de atividade econômica individual e a eliminação da interferência estatal. Os interesses do indivíduo e os da sociedade estão em completa harmonia. Disto, surge as principais instituições econômicas: a divisão do trabalho, a troca, dinheiro, a acumulação de capitais e sua distribuição adequada entre os diferentes ramos da produção. 16. Ele acreditava que apenas com a completa liberdade de o concorrência e com um poderoso desenvolvimento da economia capitalista seria possível esperar obter qualquer melhoria na posição das classes inferiores. 17. Falar que algo é “natural” significa que os fenômenos econômicos possuem uma regularidade natural, determinada por leis e independente de qualquer interferência estatal. 18. Quando Smith diz que o “preço natural” (o valor) de uma mercadoria substitui seus custos de produção e obtém um lucro médio, ele quer dizer que onde houver livre concorrência e nenhuma intervenção do Estado os preços das mercadorias seguirão uma tendência a se manter ao nível indicado. 19. Por isso, o conceito “natural” abarca duas características: 1) espontaneidade e 2) regularidade determinada por leis. 20. Mas nem todo preço é identificado como natural, mas apenas “o preço central em torno do qual os preços de todas as mercadorias gravitam continuamente”. Ou seja, aquele nível de preços que tem que ser estabelecido sob condições de equilíbrio de mercado (oferta x demanda); assim, Smith diferencia preço natural de preço de mercado. A divisão do trabalho 21. Para os mercantilistas o aumento da riqueza vinha do comércio estrangeiro. 22. Para Smith e os Fisiocratas: a fonte da riqueza é o trabalho; o trabalho inteiro de uma nação distribuído por diferentes ramos da produção e dividido entre os membros individuais da sociedade. O “trabalho” entendido como o trabalho total de uma nação da forma de uma divisão social do trabalho, e “riqueza” como a totalidade de produtos materiais ou artigos de consumo. 23. Dessa forma, existem duas formas de aumentar a riqueza: a) aumento na produtividade do trabalho individual, ou b) um aumento no número de trabalhadores produtivos em relação a todos os outros. O aumento na produtividade é resultado da divisão social do trabalho e o aumento no número de trabalhadores produtivos demanda aumento do capital. 24. Portanto, a sociedade de mercadorias se baseia no trabalho e na troca entre unidades econômicas individuais (uma “sociedade comercial”). 25. Na divisão do trabalho, os processo é fragmentado em atividades simples, cada operação é atribuída a um indivíduo, assim, a produtividade é amplificada. 26. As três razões do porque a divisão aumenta a produtividade do trabalho: 1) cada trabalhador adquire uma maior destreza ao repetir constantemente as mesmas operações; 2) não há perda de tempo com a troca de uma operação a outra; 3) fragmentar o trabalho em operações básicas facilita a invenção de ferramentas que poupem trabalho (inovação). 27. Smith ressalta que essa divisão do trabalho não está somente no interior de uma empresa, mas também, entre empresas de diferentes ramos de produção: “o número de trabalhadores empregados para produzir uma simples vestimenta é tão grande que não pode ser computado.” 28. Primeiro traço da Escola Clássica: vantagens materiais e técnicas do aumento da produtividade. 29. Para Smith, a totalidade da sociedade aparece como uma gigantesca manufatura onde o trabalho é dividido entre milhares de empresas separadas, porém, mutuamente complementares. Todas as pessoas embora cada uma delas seja animada simplesmente pela busca do ganho pessoal, trabalham, na verdade, umas para as outras: “as índoles mais distantes são úteis umas àsoutras”; uma completa harmonia de interesses existe entre os membros individuais da sociedade. 30. Para a Escola Clássica, era inconcebível que o processo de produção pudesse ter uma forma social diferente da forma capitalista, que, a seus olhos, era a forma racional e natural das economia. É por essa razão que os econômicas clássicos confundem constantemente os pontos de vista material-técnico e social. 31. Mesmo com os equívocos, Smith chegou à ideia importante da sociedade como uma sociedade de pessoas que trabalham e que trocam simultaneamente. 32. Concepção de Smith para a sociedade de trabalho: 1) o que aparece como uma troca de mercadorias por dinheiro é, na realidade, a troca de produtos do trabalho de diferentes pessoas que executam a totalidade do trabalho social; 2) a troca dos produtos do trabalho das diferentes pessoas se reduz à troca mútua do trabalho próprio dos produtores. Com a primeira proposição, Smith se distancia dos mercantilistas; com a segunda , ele se diferencia dos Fisiocratas. 33. Logo, o dinheiro não constitui a riqueza da sociedade. “A renda da sociedade consiste exclusivamente naqueles bens, e não na roda que os faz circular”. O dinheiro é necessário apenas como um auxiliar que facilita a circulação dos produtos. 34. O ponto de vista do qual Smith parte é o de que trabalho cria riqueza. Ele vê a troca dos produtos do trabalho como uma troca das atividade laborativas dos membros individuais da sociedade. A teoria do valor 35. Há uma dualidade metodológica na análise smithiana do valor: ele tenta encontrar um padrão preciso, invariável, que possa, então, ser usado para medir o valor de uma mercadoria. Ele tenta encontrar uma medida invariável do valor, mas também, explicitar as fontes de mudanças de valor. 36. William Petty (1687) e Richard Cantillon (1734), ambos da Escola Fisiocrata, haviam buscado uma medida de valor na “equação entre trabalho e terra”. 37. A divisão do trabalho, que está fundada na troca, torna possível a cada indivíduo obter os artigos de que ele necessita por meio da troca de seu próprio produto. Aqui, divisão do trabalho, entendida como divisão social do trabalho. 38. Qual é a medida do valor de um produto? Para Smith, é impossível medir o valor de uma mercadoria pela quantidade de dinheiro ou mercadoria que é trocado por ela, uma vez que o ouro e outras mercadorias também sofrem alterações em seu valor. 39. Nesse caso, de que modo eu poderia medir o valor de meu produto? Uma sociedade baseada na divisão do trabalho é uma sociedade de pessoas que trabalham e que, por meio da troca dos produtos de seu trabalho, trocam indiretamente seu trabalho. Para Smith, a troca se baseia na aquisição do trabalho de outras pessoas em troca de seu próprio produto. 40. Para Smith, a quantidade de trabalho que pode ser adquirida e comprada em troca de uma mercadoria é a medida do valor dessa mercadoria. Os equívocos de Smith: quando dizemos que os produtores trocam produtos de seu trabalho, e que, por conseguinte, também troca o seu próprio trabalho, usamos o termo “troca” em dois sentidos diferentes. Os produtos do trabalho não são realmente trocados e colocados em pé de igualdade uns com os outros no mercado; aqui, temos troca no sentido literal. Não há nenhuma troca de trabalho, uma vez que não é o trabalho efetivo que é comprado e vendido no mercado, mas apenas os produtos do trabalho . Desse modo, quando dizemos que numa sociedade de troca eu uso meu tecido para comprar o trabalho de outrem, isso quer dizer apenas que, ao adquirir o que ele fabricou, eu exerço uma influência indireta sobre o trabalho de um outro produtos de mercadorias. Eu troco o meu produto diretamente por um produto do meu trabalho, e não pelo trabalho de outrem. O erro de Smith estava em confundir a “troca” social do trabalho, que ocorre em toda economia de mercadorias, com a “troca”, no mercado, do trabalho como um objeto de compra e venda, o que ocorre apenas na economia capitalista. A concepção smithiana do trabalho que é adquirido em troca de uma dada mercadoria, e que serve como uma medida de valor dessa mercadoria, converte-se, na realidade, em dois processos: às vezes, ela aparece como “trabalho materializado comprado”, às vezes, como “trabalho vivo comprado”. 41. Para Smith, iguais quantidades de trabalho, em qualquer tempo ou lugar, podem ser ditas de igual valor para o trabalhador. Dois dias de trabalho, em qualquer época, representa o dobro de esforço e tensão subjetivos comparados com o trabalho de um único dia, mesmo que esses dois dias de trabalho não obtenham mais mercadorias (ou salários) do que um dias de trabalho podia obter anteriormente. Há uma via, mais valiosa e teoricamente fértil, que se dirige à análise das causas das mudanças quantitativas no valor das mercadorias: 42. As mudanças feitas na capacidade produtiva tornaria as mercadorias gradualmente mais baratas, pois, elas seriam produzidas por uma quantidade menor de trabalho. Uma mudança na quantidade de “trabalho expendido” é, consequentemente, uma causa das mudanças na quantidade de “trabalho comprável” e, assim, também das mudanças do valor, do qual esta última age como uma medida o índice. 43. Assim, Smith determina o valor da mercadoria de duas formas: 1) pela quantidade de trabalho expendido, e 2) pela quantidade de trabalho que uma dada mercadoria pode comprar por meio da troca. 44. Numa simples economia de mercadorias o trabalho desempenha uma função dupla: o “trabalho comprado” serve como um medida do valor dos produtos, ao passo que o “trabalho expendido” regula as proporções em que as mercadorias são trocadas. Na sociedade “primitiva” que significa essencialmente a economia simples de mercadorias, a troca de produtos está sujeita à lei do valor-trabalho. Se a mercadoria é um meio pelo qual o artesão pode adquirir o produto (ou trabalho materializado de outra pessoa, para o capitalista ele é um meio de adquirir o trabalho vivo de outrem. Smith lembra que, sob o capitalismo, o trabalhador assalariado recebe apenas uma parte do produto de seu trabalho, e que por conseguinte, uma quantidade menor de trabalho materializado (a mercadoria) é trocada por uma quantidade maior de trabalho vivo (força de trabalho). Pelo produto de dez horas de trabalho o capitalista pode receber doze horas de trabalho vivo dos trabalhadores. Segue-se daí (numa sociedade capitalista) que a quantidade de trabalho gasta na produção de uma mercadoria não é igual à quantidade de trabalho vivo que essa mercadoria pode adquirir em troca. Os equívocos de Smith - ele tem duas escolhas: o valor de uma mercadoria tem que ser determinado ou pelo trabalho expendido em sua produção , ou pelo trabalho (vivo) que ela pode comprar em sua troca. Em vez de que adotar o primeiro ponto de vista,que é o correto, ela chega exatamente a segunda conclusão. Uma vez que essa quantidade de trabalho excede a quantidade de trabalho gasta num dado produto, o “trabalho expendido” não pode mais atuar como um regulador do valor de produtos, como ele o fazia numa economia simples de mercadorias. A lei do valor-trabalho deixa e operar na sociedade capitalista. 45. Mas o que determina o valor de um produto numa economia capitalista? Smith vai dizer que numa economia capitalista o valor da mercadoria é definido como a soma dos salários mais o lucro (e, em certas circunstâncias, mais a renda), isto é, como a soma de seus “custos de produção” tomados no sentido amplo do termo. Smith abandona, aqui, o terreno do valor-trabalho, substituindo pela teoria dos custos de produção. Antes, Smith afirmou que o valor de uma mercadoria se dilui no rendimento (salários, lucro e renda); agora ele diz que o valor é composto de rendimentos, que, portanto, funcionam agora como as “fontes” do valor de troca de uma mercadoria. 46. Os rendimentos são aquilo que é primário e dado, ao passo que o valor da mercadoria é visto, como secundário e derivado, formado pela adição de rendimentos separados. A magnitude do valor de uma mercadoria depende das “taxas naturais” de salários, lucros e renda. A teoria da distribuição 47. Smith descreveu corretamente a divisão de classes e as formas de rendimento características da economia capitalistas. Ele sustenta que a sociedade contemporânea é divida em três classes básicas: capitalistas empreendedores, trabalhadores assalariados e proprietários fundiários, uma divisão que é aceita até hoje. As formas básicas de rendimento ele divide em lucro, salário e renda fundiária. 48. Quesnay dividira a sociedade em três classes: proprietários de terra, agricultores (a classe produtiva) e mercadores e industriais (a classe estéril). Os Fisiocratas conheciam apenas dois tipos de rendimento: renda da terra (rendimento líquido) e salários. Eles ignoram o lucro, como reflexo do estado atrasado do desenvolvimento capitalista na França do século XVIII, em relação a Inglaterra. 49. Para Smith, o lucro industrial aparece como a forma básica do rendimento. A outra forma de rendimento ocupara o pensamento mercantilista, o juro sobre empréstimos, é secundário para Smith: o juro é apenas aquela parte do lucro que o industrial paga ao credor pelo uso capital deste último. 50. Smith distingue o lucro dos salários: o volume dos lucros depende do tamanho do capital investido num negócio e não do trabalho que o capitalista expendeu na supervisão, “os lucros são totalmente diferentes e são regulados por princípios muito diferentes daqueles que regulam os salários. 51. Smith também distingue os salários dos trabalhadores do rendimento do artesão. Os salários do trabalho são, em toda parte, entendidos como aquilo que eles normalmente são quando o trabalhador é uma pessoa e o proprietário do dinheiro que o emprega é outra. Os salários têm que ser entendidos como o rendimento do trabalhador que foi privado dos meios de produção. Ao isolar o lucro como forma de especial de rendimento, Smith deu um grande passo em direção à formulação do problema da mais-valia. 52. O conceito de valor-trabalho se afirma com toda a força na teoria do lucro de Smith. Não é apenas da agricultura que o lucro cresce, mas também na indústria, onde, na visão de Smith, “ a natureza não faz nada e o homem faz tudo”. É óbvio que a fonte do lucro tem de ser buscada no trabalho humano. 53. Smith estava convicto de que o lucro é aquela porção do valor do produto que o capitalista apropria para si mesmo. Assim que a terra é apropriada como propriedade privada e há uma “acumulação de capital”, uma parte do produto do trabalho do trabalhador vai como renda para o proprietário fundiário, enquanto outra parte vai para o capitalista como lucro. 54. De onde vem esta “acumulação de capitais”? as pessoas mais industriosas e prudentes, em vez de gastar o produto inteiro de seu trabalho, “economizam” uma parte dele e acumulam gradualmente capital. “Os capitais aumentam por meio da parcimônia, e diminuem mediante a prodigalidade e a má conduta”. 55. Para Smith, “a maior parte dos trabalhadores necessita de um senhor que lhes forneça os materiais de seu trabalho, assim como seus salários e sua manutenção até que o trabalho esteja concluído. O senhor toma parte no produto de seu trabalho, ou no valor que o trabalho acrescenta aos materiais sobre os quais ele é realizado. 56. Assim, Smith reconhece o trabalho como a fonte do valor do produto inteiro, incluindo aquela porção de valor que é acrescida ao capitalista como lucro. Vimos que, na visão de Smith, o trabalho expendido na produção de um produto não é mais, na sociedade capitalista, o regulador do valor desse produto: seu valor, ou “preço natural”, é definido como a soma do salário natural, do lucro natural e da renda natural. Assim, a teoria dos custos de produção é posta no lugar da teoria do valor-trabalho.