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Ética nos Negócios W B A 0 5 0 4 _ V 1. 0 2/226 Ética nos Negócios Autoria: Felipe Athayde Lins de Melo Como citar este documento: MELO, Felipe Athayde Lins de. Ética nos Negócios. Valinhos, 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral 07 Assista a suas aulas 26 Unidade 2: Ética nas Relações de Trabalho 34 Assista a suas aulas 53 Unidade 3: Ética Empresarial. Da Teoria à Prática 61 Assista a suas aulas 80 Unidade 4: Responsabilidade Social das Empresas 88 Assista a suas aulas 109 2/226 3/2263 Unidade 5: Ética nos Negócios Como Vantagem Competitiva 117 Assista a suas aulas 136 Unidade 6: Códigos de Ética 144 Assista a suas aulas 165 Unidade 7: Racionalizações Para o Comportamento Não Ético 173 Assista a suas aulas 192 Unidade 8: Ética Empresarial: Casos de Aplicação 199 Assista a suas aulas 218 Sumário Ética nos Negócios Autoria: Felipe Athayde Lins de Melo Como citar este documento: MELO, Felipe Athayde Lins de. Ética nos Negócios. Valinhos, 2017. 4/226 Apresentação da Disciplina Desde os primeiros registros da literatura ocidental, as preocupações com os princí- pios e as normas de relacionamento huma- no aparecem como elementos primordiais para o entendimento das formas como se organizaram as civilizações e suas dimen- sões epistemológicas, políticas, sociais e culturais. Questões acerca do Bem, da Jus- tiça, da Felicidade, da Honra, da Virtude, dentre outras, foram e continuam sendo componentes centrais para a reflexão e a proposição acerca dos arranjos societários e das maneiras por meio das quais indivídu- os e sociedades se concretizam na História. Em outras palavras, a reflexão sobre a Moral e as moralidades encontra-se entrelaçada à própria história do conhecimento. Nesse sentido, a história da filosofia mo- ral é, por extensão, uma história da huma- nidade. E compreender as transformações históricas e filosóficas no campo da Ética e da Filosofia Moral são modos de compreen- der as transformações do próprio sentido de humano e das formações sociais, pelas quais perpassam as questões que marcam diversos outros campos de reflexão. Por outro lado, se as reflexões típicas dos campos da Ética e da Filosofia Moral, cuja tradição histórica e filosófica remontam à Antiguidade, já se faziam fundamentais para superação da visão mítica do mundo que marca aquela Antiguidade, sua impor- tância se faz ainda mais presente quan- do consideramos as complexidades de um mundo que é, ao mesmo tempo, diminuto e 5/226 gigantesco: gigantesco em suas geografias física e digital; diminuto pela instantanei- dade e acessibilidade trazidas pelas tecno- logias dos tempos atuais. Não sem razão, a complexificação do mun- do globalizado trouxe consigo uma nova centralidade para as reflexões éticas: para além de se consagrar “às formas diversas do bem e do mal, do sentido da vida hu- mana, da dificuldade das escolhas, da ne- cessidade de justificar as decisões e da as- piração em definir princípios universais e imparciais” (CANTO-SPERBER, 2003, p. 8) num plano exclusiva ou prioritariamen- te abstrato, as discussões dos campos da Ética e da Filosofia Moral atravessam as mais diversas atividades humanas, tendo inaugurado várias áreas de investigação e intervenção, no que se convencionou cha- mar de “ética aplicada”. Não por acaso, as reflexões acerca da vida e da das interações entre a humanidade e o mundo que a cerca conduziram os estudos em ética e filosofia da moral para as polí- ticas públicas, para a questão ambiental, para a economia política, para as ciências aplicadas e também para as práticas e re- lações centrais das sociedades capitalistas, em especial as relações de negócios e suas organizações-síntese, as empresas. Esta disciplina consiste, portanto, numa discussão crítica acerca dos conceitos, das transformações históricas e das relações entre ética, moral, o mundo do trabalho e as relações do capital, refletindo sobre a im- plicação da ética nas competências profis- 6/226 sionais e nos comportamentos exigidos no mercado globalizado do século XXI. Nela, são abordados aspectos conceitu- ais e filosóficos que envolvem a temática, buscando articulá-los com dinâmicas car- acterísticas do cotidiano de negócios, das relações de trabalho, das práticas empre- sariais, do exercício das profissões e das in- terfaces entre fundamentos do capitalismo e novas formas de atuação do capital na sociedade globalizada, o que insere outro tema bastante em voga, a Responsabilidade Social Empresarial. 7/226 Unidade 1 Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral Objetivos 1. Compreender e diferenciar os sentidos de ética e de moral, bem como as espé- cies de fenômenos que lhes dizem res- peito. 2. Reconhecer os processos históricos, so- ciais e filosóficos de composição da éti- ca como domínio do conhecimento. 3. Identificar a interinfluência entre fenô- menos éticos, morais, políticos e sociais. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral8/226 Introdução O que é ser Bom? Qual o sentido da Virtude? Que relações existem entre o Bem e a Justiça? As Leis, o Conhecimento e a Política se relacionam com a Virtude? Qual a importância dessas refle- xões para a configuração do mundo social? Questões como essas são objeto de reflexão desde as mais antigas civilizações: É feio às naus voltarmos; Primeiro, amigos, nos engula a terra: Antes morrer que dar a glória aos Teucros”. Os versos acima, extraídos do Livro XVII da Ilíada, de Homero (século VIII a.C., aproximadamen- te), representam o sentido da Virtude (areté) para os povos fundadores da literatura ocidental: a Virtude como ato de nobreza, como a excelência que promove o reconhecimento de seus pares. Não por acaso, a mitologia grega é carregada de confrontos entre deuses, heróis, ninfas, titãs e homens: viver virtualmente é combater entre nobres, é tornar-se magnânimo, invejável; é alcan- çar a Glória. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral9/226 Já no período clássico da antiga civilização grega (por volta dos séculos V e IV a.C.), a vida e a morte de Sócrates (470 a.C. a 399 a.C.), conhecido e controvertido cidadão da polis ateniense, notório por seus feitos de guerra e polêmico por seus ensinamentos, provocaria, sobretudo junto a seu princi- pal discípulo, Platão, profundas reflexões a respeito das relações entre a Consciência, a Moral, o Bem e a Virtude, a Política e a ci- dade. Desde então, os domínios dos com- portamentos, dos costumes e da ação dos indivíduos na sociedade são constitutivos do próprio sentido do que nos faz “huma- nos”, merecendo ampla atenção de diferen- tes áreas do conhecimento, seja a Filosofia, que o inaugura como área de preocupação, seja a Medicina, a Psicologia, a Sociologia, o Direito, e, mais recentemente, a Adminis- tração, as Finanças, dentre outras. Para compreender como a ética e a moral se articulam com as esferas da vida social e como o entendimento sobre elas muda ao longo do tempo e das civilizações, vamos considerar os diálogos de Platão como pon- to de partida para nossas reflexões. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral10/226 Para saber mais “Composto por 323 artigos, cada um com uma média de seis páginas, sendo 112 artigos sobre temas, noções e conceitos; 73 sobre novas ques- tões da ética; 85 sobre filósofos e 53 sobre his- tória da filosofia moral”, conforme descrito em sua sinopse, disponível em <https://www.mar- tinsfontespaulista.com.br/dicionario-de-e- tica-e-filosofia-moral-2-vols-169147.aspx/p>, o dicionário de Ética e Filosofia Moral aborda temas como “amor, vontade, clone, comunidade, solidariedade, empresa, epistemologia, natureza, política, hedonismo, qualidade de vida, racismo, prostituição, bem e mal, niilismo, droga, ética pe- nal, não violência”, tratando-os segundo diferen- tes autores, desde os clássicos da Antiguidade até autores contemporâneos. 1. Críton – ou do Dever. Conhe- cimento como Ética, Justiça e Política na obra de Platão Platão, que viveu em Atenas entre 428 a.C. e 347 a.C., foi o mais destacado discípulo de Sócrates e responsável por registrar, na for- Link Uma descrição detalhada desse dicionário, que consiste no mais completo dicionário de ter- mos e assuntos sobre ética e moral publicado no Brasil, pode ser encontrada em: <http://no- ticias.universia.com.br/tempo-livre/noti- cia/2003/10/06/546973/editora-unisinos- -lana-dicionario-etica-e-filosofia-moral. html#>. Acesso em: 18 set. 2017. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral11/226 ma de diálogos, aquilo que aprendera com seu mestre, pois Sócrates, que desconfiava da escrita, jamais deixou qualquer texto pu- blicado. Em seus diálogos, são recorrentes as refle- xões acerca da Justiça, do Bem, do Belo, da Política e das Leis. Entretanto, toda a refle- xão platônica principia no questionamento sobre o que é o conhecimento e como este deve ser utilizado para a organização da po- lis. Num de seus mais famosos escritos, o livro A república, Platão descreve uma ale- goria sobre um grupo de pessoas que, vi- vendo numa caverna e de costas para sua entrada, conhece o mundo apenas a partir das sombras de objetos que são refletidos nas paredes. Ao libertar-se das correntes que a prende, umas dessas pessoas deixa a caverna e, pouco a pouco, vivendo receios e inseguranças, vai se deparando com a reali- dade dos objetos dos quais sempre conhe- cera apenas as sombras, desvelando ainda a luz que projetava as imagens no fundo da caverna. Essa pessoa, na alegoria platônica, é o filó- sofo: aquele que conhece, pelo exercício da Razão, a Luz do Conhecimento. Mas o co- nhecimento traz consigo responsabilidades e o filósofo deve retornar à caverna para li- vrar das correntes as demais pessoas que ali viviam. Inicia-se, então, uma série de ques- tionamentos e tensões, que representam os desafios de administrar a polis: o que fazer com aqueles que se recusam a deixar a ca- verna? Como conduzir as pessoas que tam- bém querem se libertar? Estão todas elas Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral12/226 aptas a conhecer a luz? Essas preocupações, que se repetirão em diversas obras do filó- sofo, já haviam sido adiantadas no diálogo Críton, ou do Dever, que é anterior à escrita d’ A república. A narrativa escrita em Críton é a condena- ção de Sócrates. Acusado de desrespeitar os deuses e de corromper a juventude atenien- se, Sócrates é condenado à morte por cicu- ta, um veneno mortal que era aplicado nas sentenças com esse tipo de condenação. Visitando-o enquanto na prisão, enquanto Sócrates aguarda o cumprimento da sen- tença, Críton sugere-lhe fugir de Atenas, dispondo-se a corromper os guardas da ci- Para saber mais Há uma extensa bibliografia acerca da vida e obra de Sócrates e de Platão e algumas obras estão indicadas nas referências desta disciplina. Para quem não possui familiaridade com os estudos em filosofia, uma boa alternativa de introdução são os vídeos produzidos pela Discovery Networks sobre diversos filósofos, nos quais as obras desses pensadores são discutidas à luz de problemas e fatos contemporâneos. Link O documentário produzido pela Discovery Ne- tworks, sobre o livro A república, de Platão, pode ser acessado em: <http://www.eniopadilha. com.br/documentos/Platao_A_Republica. pdf>. Acesso em: 9 dez. 2017. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral13/226 dade e, assim, salvar-lhe a vida. Sócrates responde ao amigo propondo-lhe uma reflexão acerca daquela proposta e de suas consequências: seria justo pagar o mal – uma condenação conside- rada por Críton como injusta – com outro mal – a fuga da cidade, violando as leis? A violação das leis não seria, isso sim, uma afronta aos deuses, uma vez que os atenienses consideram as leis como representação dos acordos que os homens firmam a partir de desígnio dos deuses? Além disso, fugir não seria afrontar a própria polis, e dessa forma botar por terra todo o modo de orga- nização política da cidade? Fugir da prisão, cujas portas o dinheiro dos seus amigos saberia franquear [...] não era ideia que pudesse tentar Sócrates. No instante em que esta ten- tação acena ao seu espírito, vê ele as Leis de sua pátria, imprudentemen- te aplicadas pelos seus juízes, erguerem-se diante dele e recordarem-lhe tudo o que desde criança lhes devia. (JAERGER, 1989, p. 399) Nessa reflexão, Platão, por intermédio da história de Sócrates, concebe a polis como um modelo de cidade que deve garantir a harmonia entre os cidadãos, baseada na justiça, no bem e na feli- cidade. A virtude da cidade é, nessa perspectiva, reflexo da virtude dos cidadãos: se Sócrates se mostra um cidadão sem virtudes, ele não é merecedor da polis. Portanto, todo cidadão deve, para Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral14/226 assegurar a virtude da polis, agir de forma virtuosa. Conhecer as leis, praticar a justiça e promo- ver a harmonia da polis são expressões do homem dotado de razão, portanto, de conhecimento. Dessa forma, a polis se assenta num contrato social entre seus cidadãos, o qual possui um cará- ter Ético – da relação virtuosa entre os indivíduos; Justo – da igualdade política entre os cidadãos; e Político – a obediência às leis e o bem-estar da cidade. Pela boca das Leis, que Sócrates imagina personificadas, será dada a res- posta de que a fuga da prisão seria injusta porque a recusa ao cumprimen- to da lei, expressa numa sentença de um tribunal, poria em causa o próprio fundamento da sociedade [...] concebida como um contrato entre o Estado e o indivíduo, [e que] seria destruída se estivesse à mercê do arbítrio de uma das partes. (LOPES, 2008, p. 32) Críton revela, então, alguns elementos da filosofia platônica, quais sejam: a Justiça é fazer cum- prir aquilo que os cidadãos, na Ágora e na Assembleia, pactuam; para formular as Leis de modo justo, os homens devem conhecer a polis e seus cidadãos; o comportamento ético é aquele que obedece às leis não apenas por dever ou medo de punição, mas porque é o comportamento que garante a harmonia, a felicidade, o Bem da cidade e de seus indivíduos. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral15/226 Por fim, assim como o conhecimento se ele- va pelo uso da Razão, a alma dos indivíduos se dirige ao Bem à medida que os homens agem virtuosamente. 2. A modernidade e a crítica ao idealismo/racionalismo: uma Genealogia da Moral Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão que viveu entre 1844 e 1900 e que, den- tre outros temas fundamentais da filosofia, dedicou-se a martelar1 os princípios da fi- losofia ocidental, dentre eles as teorias éti- cas e morais de Sócrates e Platão. Filósofo da moral por excelência, Nietzsche identi- fica em Sócrates o começo da reversão do 1 Trata-se de uma imagem linguística bastante comum no au- tor. ato de filosofar, visto pelo pensador alemão não como a racionalização do ato criativo do pensamento, mas como o ato próprio de criar o pensamento. Segundo Nietzsche, ao estabelecer uma di- visão entre aparência e essência (a sombra e o objeto do mito da caverna), entre co- nhecimentoe opinião (o filósofo conhece, as pessoas, em geral, opinam), Sócrates – e Platão – teriam impedido o desenvolvimen- to da própria experiência – mística – que envolve a existência humana. Aqui, expe- riência mística não diz respeito a coisas ou seres sobrenaturais: trata-se, de outro modo, de compreender que aquilo que nos vem à consciência enquanto ato de pensar é uma parcela muito reduzida do que, de fato, pensamos, uma vez que o pensamento Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral16/226 e as relações humanas com o mundo envolvem muitas outras experiências para além daquilo que temos consciência. Assim, se a consciência era, segundo os gregos antigos, a manifestação da Virtude, todas as potencialidades e os demais atos humanos eram reduzidos ao poder dessa consciência; o homem tornara-se, portanto, escravo daquilo que, para Nietzsche, lhe era menor: a própria consciência. Enquanto em todos os homens produtivos o instinto é uma força afirma- tiva e criadora, e a consciência uma força crítica e negativa, em Sócra- tes o instinto torna-se crítico e a consciência criadora – é uma verdadeira monstruosidade [...] pensemos nas consequências das máximas socráti- cas: a virtude é um saber; só pecamos por ignorância; o homem virtuoso é feliz. Estas três formas essenciais do otimismo são a morte da tragédia. (NIETZSCHE, 2005, p. 13) Retornando à filosofia pré-socrática, Nietzsche argumenta que o homem somente tornara-se humano em razão de sua potência e de seus atos, ao passo que a consciência é apenas uma das formas de interpretar a experiência humana no mundo. Ou ainda, um ato de nomear essas expe- riências. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral17/226 Se é em Sócrates/Platão que Nietzsche localiza esse momento fundador da morte do homem, será com o Cristianismo que a alienação do homem pelo próprio homem irá se consolidar: Segundo Nietzsche, o cristianismo concebe o mundo terrestre como um vale de lágrimas, em oposição ao mundo da felicidade eterna do além. [...] O cristianismo, continua Nietzsche, é a forma acabada da perversão dos instintos que caracteriza o platonismo, repousando em dogmas e crenças que permitem à consciência fraca e escrava escapar à vida, à dor e à luta, e impondo a resignação e a renúncia como virtudes. (LEBRUN, 1996, p. 10) Para denunciar e combater essa moral da resignação, Nietzsche elabora uma Genealogia da Moral, a qual deve, sobretudo, livrar o homem da razão platônica, cristã e moderna, bem como emancipá-lo da renúncia à vida que essa razão promove. Nessa Genealogia, o autor afirma, primeiramente, que ao contrário do que resulta das raciona- lidades socrática ou cristã, o juízo “bom” não provém do efeito gerado para aqueles a quem se fez o “bem”: longe de ser um juízo de utilidade, “bom” e “ruim” são formas de nomear as ações realizadas; o “bom” era aquilo que o nobre realizava, tal como afirmavam os poemas homéricos. O “ruim” era identificado com o simples, o não elevado. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral18/226 Ainda para o filósofo alemão, “bom” e “ruim” não possuem nem origem, nem distinção ou valor moral, uma vez que o ato de nomear é tão somente um ato de identificar o feito ao seu autor. Sendo assim, o bom é aquilo que é nobre porque o nobre assim o nomeou, por- que o nobre quer ser admirado e, para tanto, ele põe em ação toda a sua potencialidade. Com a racionalidade socrática, primeira- mente, seguida da moralidade cristã, “bom” ganha o sentido de “puro”, “superior”, criando uma antítese de valores, racionali- zando e interiorizando a ideia de que “bom” e “mau”, e não mais “ruim”, são essencial- mente opostos. “Apenas então a alma hu- mana ganhou profundidade num sentido superior, e tornou-se má” (LEBRUN, 1996, p. 25). Nessa dualidade, é preciso antes marcar o “mau”, para, em oposição, criar o “bom”. E por negação, o nobre torna-se “mau”, o homem potente e de ação nobre é marcado como impuro, a razão e a consciência ani- quilam sua ação: é preciso então, iluminar o homem bom, o adestrado, aquele que mor- re pela polis ou dá a face a um novo tapa. Da ilusão da linguagem que nomeia e que subverte, que transforma “bom” X “ruim”, nobre e simples, em “bom” X “mau”, puro e impuro, decorre também a ilusão do “su- jeito”; incapaz de compreender e aceitar a ficção da linguagem, bem como restrito à valorização da consciência, o homem mo- derno busca afirmar identidades inexisten- tes, e concebe-se o domínio da Moral como o domínio de regulação das relações entre os homens. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral19/226 3. Mas afinal, o que é Ética e o que é Moral? Moral e Ética “se referem, de uma maneira ou de outra, ao domínio comum dos cos- tumes” (CANTO-SPERBER, 2003, p. 591). No entanto, se a Moral expressa “uma for- ma específica de comportamento humano, cujos agentes são os indivíduos concretos [...] que só agem moralmente quando em sociedade” (VAZQUÉZ, 2007, p. 9), a Éti- ca configura um conjunto de princípios e valores metamorais, que orientam a cons- trução das normas e as tornam compreen- síveis para os indivíduos. Assim, se a Ética pode ser compreendida como uma “teoria da moral”, esta envolve o conjunto de códi- gos que designa o permitido e o proibido, o aceito e o recusado, bem como a obrigação individual de aderir a ela. Tomemos um exemplo: a escravidão. Du- rante quase quatro séculos a escravidão foi moralmente aceita como integrante do modo de produção colonial, sem que hou- vesse questionamentos acerca do primór- dio da liberdade como atributo próprio do significado de “humano”. Não havia, por- tanto, questionamento ético que colocasse em cheque a prática e a moralidade da es- cravidão. A abolição – jurídica e formal – do regime escravista, por sua vez, foi antecedi- da de duas ordens de debates: um econô- mico, outro ético. Se aquele questionava o caráter obstaculizante da escravidão para o desenvolvimento do regime capitalista – que exigia a produção e o consumo em es- Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral20/226 cala como estratégias de acumulação de capital –, o debate ético questionava a violabilidade do princípio da dignidade da vida que marcava o regime escravista. Já no contexto da economia atual, a prática – ainda existente – de escravidão é condenada ju- ridicamente – é um crime; moralmente – é socialmente reprovada no contexto brasileiro; e eti- camente – é universalmente reprovada por violar entendimentos e tratados internacionais de Direitos Humanos, por exemplo. Desse modo, o problema do que fazer em cada situação concreta é um problema práti- co-moral e não teórico-ético. Ao contrário, definir o que é bom ou não é um problema moral cuja solução caiba ao indivíduo em cada caso particu- lar, mas um problema geral de caráter teórico. (SANCHÉZ, 2007, p. 18) Portanto, numa situação de escolha entre o “pode” ou “não pode” fazer, é o limite ético que de- termina a resposta moral de cada indivíduo. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral21/226 Para saber mais A animação Peck Pocketed, dos Estúdios Disney, lançada em 2013, é um retrato do processo de de- cisão ética. Moralmente repudiado, o furto se apresenta como possibilidade para Peck, o pássaro da animação, que tem de escolher entre seus desejos individuais ou os valores que regulam a proprieda- de e o furto. Link Uma descontraída explicação do tema “Ética e Moral” é dada pelo professor Mário Sérgio Cortella em en- trevista ao apresentador Jô Soares, disponível em: <https://pt.linkedin.com/pulse/o-que-%C3%A- 9-%C3%A9tica-e-moral-profissional-francisco-jos%C3%A9-oliveira>.Acesso em: 9 dez. 2017. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral22/226 Glossário Idealismo: o idealismo, em filosofia, corresponde a uma corrente de interpretação da verdade – e, portanto, das relações entre o homem e o mundo – que compreende que para além da aparên- cia das coisas existe uma ideia – ou força, ou espírito, ou vontade universal – “que existe objetiva e eternamente, antes e independente da natureza ou dos homens” (BAZARIAN, [s.d.], p. 57). Polis: corresponde ao nome dado às cidades-Estado da Grécia Antiga e que foram constituídas entre o fim do Período Homérico (aproximadamente no final do século VIII a.C.) e ao longo do Período Arcaico (até o século VI a.C.). As cidades-Estado encontram seu apogeu no Período Clás- sico (séculos V e IV a.C.) e, dentre elas, Atenas e Esparta se destacam como as principais. A polis caracterizava-se como uma cidade autônoma, com governo próprio, classes sociais estabeleci- das e independência administrativa, sendo governada pela classe dos Eupátridas, que significa “os bem-nascidos”. Racionalismo: “doutrina que afirma que a razão humana, o pensamento abstrato, é a única fon- te do conhecimento da verdade” (BAZARIAN, [s.d.], p. 108). Questão reflexão ? para 23/226 Decisão, julgamento e reponsabilidade são características in- trínsecas aos comportamentos morais, cujos parâmetros são da- dos por princípios éticos. Considerando que os princípios éticos e as práticas morais se transformam ao longo da história, reflita e elabore uma lista com até cinco comportamentos cotidianos que exigem decisões de cunho ético, seja nas relações familiares, nas relações profissionais ou de amizade. Procure refletir se esses comportamentos passaram por mudanças significativas num pe- ríodo de até três gerações da sua família e busque compreender que fatores produziram essas mudanças. 24/226 Considerações Finais • Do grego ethos, a Ética pode ser compreendida como a teoria da Moral. A Moral, que advém do latim moralis, é o campo da ação do homem em socie- dade. • Ética e Moral se transformam ao longo da história, em razão das transfor- mações nos modos como a humanidade compreende e age no mundo, mui- to embora a Ética esteja sempre em busca de princípios universais, ao passo que a Moral busque normatizar as práticas do cotidiano. • Quando aplicada a contextos específicos, a Ética ganha função de regula- ção do comportamento moral, como nos casos das éticas profissionais. Unidade 1 • Desmitificação da Ética. Conceito e Diferença Entre Ética e Moral25/226 Referências BAZARIAN, Jacob. O problema da verdade. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. CANTO-SPERBER, Monique. Dicionário de ética e filosofia moral. São Leopoldo, RS: Editora UNI- SINOS, 2003. GOLDSCHIMIDT, Victor. A religião de Platão. Porto Alegre: Difusão Européia do Livro, 1970. JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1989. LEBRUN, Gerard. Nietzsche: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Coleção Os Pensadores. LOPES, Ricardo Leon. Pólis: reflexo das almas humanas. Contrato social, ética e cidadania no di- álogo Críton de Platão. Tese (Doutorado em Letras Clássicas)- Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Pau- lo. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2008. NIETZSCHE, Frierich. O nascimento da tragédia no espírito da música. São Paulo: Jorge Zahar Editores, 2005. ______. Genealogia da moral. Uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. PLATÃO. Críton, ou do Dever. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Coleção Os Pensadores. VAZQUEZ, Adolfo Sanchéz. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. 26/226 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Desmitificação da Ética. Concei- to e Diferença entre Ética e Moral. Bloco I Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ b14ddd9635d1fc20d9ade70922059dd1>. Aula 1 - Tema: Desmitificação da Ética. Concei- to e Diferença entre Ética e Moral. Bloco II Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 2cd6c670a70ac739f5373e5bff448d10>. 27/226 1. Afirmar que “os domínios dos comportamentos, dos costumes e da ação dos indivíduos na sociedade, são constitutivos do próprio sentido do que nos faz “humanos” é uma preocupação: a) Exclusiva da Filosofia e de pensadores pouco preocupados com o dia a dia da vida prática. b) Típica da Psicologia, pois envolve questionamentos sobre como se deve agir diante das ou- tras pessoas. c) De diferentes áreas do conhecimento, pois envolve não apenas uma dimensão comporta- mental, mas os princípios das relações humanas. d) Que atrapalha a área da administração de empresas, pois exige que toda categoria profis- sional siga um código de ética específico. e) Que não afeta setores como controladoria e finanças, pois são áreas exclusivamente técni- cas e isentas de preocupações éticas. Questão 1 28/226 2. Em sua alegoria da caverna, Platão busca demonstrar: a) Que o filósofo, por conhecer a ideia que antecede os fenômenos do mundo sensível, possui um compromisso ético de educar e guiar os concidadãos. b) Que o conhecimento da razão do mundo é impossível e que, inevitavelmente, vivemos ape- nas em um mundo de sombras e ilusões. c) Que a política é sempre um jogo de erros, dominada por pessoas que iludem os demais cida- dãos, como representado pelas sombras da caverna. d) Que apenas recorrendo às técnicas psicológicas o filósofo que saiu da caverna conseguirá levar consigo os demais moradores. e) Que a ética é o exercício de ver a luz, mas mostrá-la aos demais moradores da caverna é uma imposição moral. Questão 2 29/226 3. Segundo Platão, o conhecimento deve permitir: a) Tirar vantagem sobre aqueles menos escolarizados. b) Ganhar a confiança da população e eleger-se para a administração da polis. c) O enriquecimento e a transmissão de heranças. d) A promoção da harmonia política e social. e) A satisfação de interesses pessoais e familiares. Questão 3 30/226 4. Para Nietzsche, diferentemente de Sócrates e Platão, os conceitos éti- cos e morais não resultam do conhecimento, mas do processo de no- meação de valores e comportamentos. Nesse sentido, entende o filósofo alemão que: a) A razão, como consciência, é um fator de inibição da potência humana. b) Os valores “bom” e “mau” são preexistentes à nomeação que é dada aos comportamentos. c) “Bom” e “ruim” são expressões de forças da natureza. d) A razão é o conhecimento da essência das coisas. e) A aparência expressa nos comportamentos é sempre má e contrária à bondade da essência. Questão 4 31/226 5. A respeito das relações entre ética e moral, pode-se afirmar que: a) Ética refere-se ao comportamento dos homens em sociedade, Moral aos princípios que re- gem tal comportamento. b) A Moral diz respeito ao modo de agir dos indivíduos e Ética àquilo que orienta a construção das regras entre o aceito e o reprovável. c) Ética é uma obrigação individual. d) Moral é um conjunto de normas universais. e) Ética e Moral são valores imutáveis. Questão 5 32/226 Gabarito 1. Resposta: C. As questões éticas e morais dizem respeito às práticas humanas como um todo, sejam suas relações privadas, sejam profissionais, seja o cuidado consigo e com as outras pes- soas. São, portanto, questões que afetam todas as áreas do conhecimento. 2. Resposta: A. Segundo o filósofo ateniense, o conheci- mento é fonte de responsabilidade e a Ra- zão é que deve guiar as dimensões éticas e políticas da vida social. 3. Resposta: D. Segundo a doutrina platônica, conhecer as Leis, praticara Justiça e promover a harmo- nia da polis são expressões do homem do- tado de razão, portanto, de conhecimento. 4. Resposta: A. Segundo o filósofo alemão, o processo de racionalização da experiência humana com o mundo anula outras formas vivenciar es- sas experiências, reprimindo a potência da ação humana. 5. Resposta: B. A Ética pode ser compreendida como uma “teoria da moral”, esta envolve o conjun- 33/226 Gabarito to de códigos que designa o permitido e o proibido, o aceito e o recusado, bem como a obrigação individual de aderir a ela. 34/226 Unidade 2 Ética nas Relações de Trabalho Objetivos 1. Reconhecer os processos históricos e sociais de emergência da Ética Apli- cada. 2. Compreender e diferenciar os sen- tidos de ética profissional e de ética nos negócios. 3. Distinguir e compreender duas con- cepções de ética nos negócios. Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho35/226 Introdução O século XX já foi definido como aquele que trouxe as maiores conquistas para a huma- nidade, acompanhadas de suas maiores tragédias. Foi o século de grandes desco- bertas e inovações tecnológicas, que per- mitiu os chamados “processos da globa- lização” (SANTOS, 2002), mundializando deslocamentos de pessoas, mercadorias, recursos, finanças, ideias, informações, há- bitos e costumes. Foi também o século de duas grandes Guerras Mundiais, seguidas de centenas de outros conflitos étnicos, ter- ritoriais, geopolíticos e ideológicos. Assim, se a doutrina da “guerra preventiva” marca o início do século XXI (HUNTINGTON, 1993), assentada sobre uma concepção que pro- põe o “choque de civilizações” como para- digma de produção de inimigos, a quem se atribui um caráter de desumanização, por outro lado, diversos debates fundados na Ética e na construção de parâmetros mo- rais também se disseminam em nível mun- dial, diversificando os campos de disputas e a inserção desses debates nas mais diversas áreas de conhecimento e de interações so- ciais, dentre elas, o mundo do trabalho. Para saber mais Escrito pelo pensador português Boaventura de Souza Santos, o livro A globalização e as ciências sociais traz, em seu Capítulo 1, uma acessível análise sobre os diversos fenômenos de ordem política, econômica, social, cultural, jurídica, que são reunidos sob o conceito de “globalização”, o qual se tornou fundamental para compreender os processos de mundialização de fluxos e desloca- mentos que caracterizam o fim do século XX. Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho36/226 Reunidos sob a categoria “ética aplicada”, o debate acerca das diversas éticas e de seus códigos morais ultrapassa os limites do aca- demicismo especializado e faz-se presente em corporações empresariais, relações co- merciais e profissionais, direitos coletivos e difusos, relações de trabalho e de convívio familiar, sociabilidades em geral (CANTO- -SPERBER, 2003). Neste material, iremos tratar das relações entre a Ética, a Moral e seus diversos usos em variadas áreas das relações humanas e sociais, entendendo a contemporaneidade das discussões acerca da aplicação da ética em diferentes campos, dentre eles, o setor de negócios. 1. Ética aplicada: contexto de emergência e campos de inser- ção O termo “ética aplicada” originou-se nos EUA, nos anos 1960, para se referir à: Link “A globalização e as ciências sociais” está dis- ponível para download em: <http://www. do.ufgd.edu.br/mariojunior/arquivos/boa- ventura/globalizacaoeciencias.pdf>. Acesso em: 19 set. 2017. Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho37/226 Explosão de novos campos de interrogação ética no seio da sociedade. Durante os anos 1970, alguns desses campos se estabilizaram e se polari- zaram, como “bioética”, “ética ambiental” e “ética dos negócios”. Estes seto- res [...] são agora ensinados e praticados nas universidades, nas empresas, nos hospitais, em instituições governamentais e internacionais. (CANTO- -SPERBER, 2003, p. 595) Compreender o contexto de surgimento do termo e de consolidação de suas áreas de aplicação permite formular algumas orientações acerca da importância da ética para as relações de trocas privadas que caracterizam a sociedade capitalista globalizada do século XXI. Primeiramente, tomemos a expressão do historiador britânico Eric Hobsbawm (1917–2012), que definiu os anos 1950 e 1960 como a “Era de ouro do capitalismo”, tendo em vista o significativo avanço dos países centrais de economia de mercado, liderados pela hegemonia industrial, finan- ceira e comercial conquistada pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial: Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho38/226 [nos] anos 50, sobretudo nos países desenvolvidos cada vez mais prósperos, mui- ta gente sabia que os tempos tinham de fato melhorado, especialmente se suas lembranças alcançavam os anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. (HOBS- BAWM, 2009, p. 253) Essa percepção coletiva de que a vida melhorava era acompanhada de diversos fenômenos eco- nômicos e sociais. Assim, se o crescimento da economia de mercado representava o aumento da circulação internacional de dinheiro e a expansão da sociedade urbana e industrial, no dia a dia as famílias sentiam-no por meio da melhoria de sua qualidade de vida, representada na acumu- lação de bens duráveis e na aquisição de novas tecnologias, especialmente os eletrodomésticos e automóveis, o que era proporcionado pela sensação de pleno emprego advinda de um conjun- to de medidas adotadas para a reconstrução dos países atingidos pela Guerra, impulsionando o aumento nos índices de produção e de consumo mundial: Nasce uma nova sociedade, na qual o crescimento, a melhoria das condições de vida, os objetos-guias do consumo se tornam critério por excelência do progres- so [...]: toda uma sociedade se mobiliza em torno do projeto de arranjar um coti- diano confortável e fácil, sinônimo de felicidade. (LIPOVETSKY, 2007, p. 35) Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho39/226 Em paralelo, disseminam-se dezenas de movimentos que irão caracterizar uma explosão de mo- dos e costumes. Nesse sentido, se o movimento beatnik dos anos 1950 colocou em questão tanto o materialismo que caracterizava “a felicidade”, como a família que caracterizava o fundamento dessa sociedade materialista, na década seguinte o movimento hippie, o movimento feminista, o movimento negro, o movimento ambientalista, dentre outros, vão colocar em xeque diversos mecanismos por meios dos quais esta sociedade capitalista se fazia pungente, fosse a destrui- ção dos recursos naturais, fosse a dominação branca e masculina, trazendo à cena pública su- jeitos coletivos antes invisibilizados ou subjugados pelas formas tradicionais de estruturação da sociedade capitalista: De fato, a década de 60 surpreendeu, mobilizando pessoas e imaginações no mun- do inteiro. [...] a partir dela, fizeram-se ouvir finalmente as vozes de grupos sociais antes marginalizados ou invisibilizados [...], sugeriram-se novas formas de organi- zar a vida cotidiana e a sociabilidade, surgiram novos conceitos do político que resgatam a criatividade e a imaginação. Não obstante as ambivalências de décadas posteriores, o que aconteceu nos anos 60 abalou a legitimidade de certas formas de poder e autoridade ou, pelo menos, criou movimentos que iniciaram essa tarefa, de maneira que pudemos ter acesso a uma nova linguagem para refletir sobre o mundo e, provavelmente, também para agir nele. (ADELMAN, 2009, p. 27) Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho40/226 No campo da ética e da filosofia moral, os embates emergentes das tensões entre dois sistemas sociais antagônicos – o capitalismo liderado pelos EUA e o socialismo encabeçado pela URSS – promoviam novos debates acerca do sentido da ação morale dos processos de decisão racional frente a um mundo em expansão; ao mesmo tempo, a liberação sexual, a contestação das for- mas de autoridade, a luta pelos direitos individuais e coletivos, tornavam fundamentais as re- flexões acerca dos interesses que regem as práticas cotidianas. Por outro lado, o interesse pelas reflexões éticas e morais Visa particularmente ao desenvolvimento das técnicas e das ciências, que apre- senta uma dupla face, uma associada ao progresso (melhoramento das condi- ções de vida: saúde, habitat, etc.), a outra apresentando perigos (degradação do meio ambiente, manipulação técnica do ser humano, etc.). Assim, os debates em filosofia da moral voltam-se progressivamente para as questões de justiça (equidade, formas de Estado) e para a vida boa (os conteúdos da vida moral in- dividual). Uma parte dessas discussões diz respeito a situações precisas da vida cotidiana e consiste em análises de casos práticos tais como se apresentam nos hospitais, nas empresas, nos governos. (CANTO-SPERBER, 2003, p. 596) Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho41/226 Dessa forma, a preocupação com os prin- cípios, normas, costumes, transformações sociais e morais insere o debate ético e da filosofia moral no cotidiano dos povos e das organizações, configurando o que se tornou conhecido como a “ética aplicada”. 2. Ética e relações de trabalho Conforme dito anteriormente, quando apli- cada aos diversos setores e práticas sociais e profissionais, a ética assume um caráter mais descritivo do que reflexivo. Assim, Para saber mais A preocupação com as aproximações entre a filo- sofia e as questões do cotidiano, bem como a con- textualização das questões éticas que emergem na sociedade de consumo fundada no século XX, são temas recorrentes na obra do filósofo francês Gilles Lipovetsky, um dos mais destacados nomes da contemporaneidade no que diz respeito à re- flexão acerca desses temas. Link O filósofo Gilles Lipovetsky concedeu uma en- trevista ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, no ano de 2004. A entrevista está disponível em: <http://www.rodaviva.fapesp.br/ma- teria_busca/567/lipovetsky/entrevistados/ gilles_lipovetsky_2004.htm>. Acesso em: 23 set. 2017. Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho42/226 campos de interesses particulares aos poucos se distinguiram: “bioética”, “ética profissional” (incluindo a ética dos negócios), “ética do meio ambien- te”. Cada campo delimitou seu objeto de investigação ética e tentou defi- nir métodos de análises próprios. Esses três setores correspondem a três preocupações maiores de nossas sociedades industrializadas: os avanços da medicina, as relações socioeconômicas em nossos Estados de direito, e o futuro do equilíbrio natural do planeta. (CANTO-SPERBER, 2003, p. 596) Nessa perspectiva, a ética profissional possui um caráter genérico, que diz respeito aos princípios do exercício e à própria constituição das diferentes profissões, incluindo aspectos relativos: a) à sua racionalização – a organização e a divisão do trabalho, as boas práticas; b) aos valores por elas produzidos, tais como a honestidade profissional, o compromisso com os públicos afetados pelo exercício da profissão; a responsabilidade quanto às gerações futuras; c) a suas normas e interdições – a periculosidade técnica, o delito profissional, a falsa propaganda. Por seu turno, a “ética nos negócios” debruçar-se-á sobre princípios e práticas que devem con- duzir as relações de troca – simbólicas, materiais, financeiras – típicas das sociedades de merca- do. Em seu escopo, portanto, se inserem questões acerca da propriedade intelectual, da justiça Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho43/226 e da segurança do trabalho, da legitimidade e da responsabilidade pelo desenvolvimen- to técnico-científico, do valor econômico do trabalho e das mercadorias, da realização subjetiva e da satisfação objetiva do traba- lhador, das formas de exploração da natu- reza, dentre outras. Entretanto, seja no que tange às formu- lações das regras de convívio e às exigên- cias dos cargos e carreiras, seja, também, no tocante às publicações – revistas, livros, manuais etc. – de incentivo ao desenvolvi- mento profissional, o ambiente corporativo é majoritariamente marcado por discursos que compreendem a ética no trabalho a par- tir de um jogo entre “vantagens e desvan- tagens do comportamento ético”. Valores como “humildade”, “tolerância”, “respeito à hierarquia”, “flexibilidade”, dentre outros, ocupam espaço em boa parte dos manuais e cartilhas do tipo “10 ensinamentos”, “12 mandamentos”, “lições” da ética no traba- lho. As questões que emergem desse jogo entre “vantagens e desvantagens” são: a quem interessa equiparar a reflexão ética ao discurso sobre a moralidade do traba- lho? Quanto se instrumentaliza a ética en- quanto ganhos pessoais – vantagens – em oposição ao bem coletivo – desvantagens – que sujeitos das relações de negócios saem prejudicados? Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho44/226 Tomemos um exemplo: Pedro, funcionário há 12 anos de uma em- presa multinacional, ocupa uma superin- tendência de desenvolvimento de novos negócios, na área de exploração e desenvol- vimento energético. Recentemente, Pedro entrou em conflito com a diretoria da em- presa. Embora a empresa seja reconhecida por investir em seus colaboradores e incen- tivar o desenvolvimento de melhorias nas relações de trabalho a partir da participa- ção de todos em instâncias variadas de de- cisões, incluindo câmaras de aprimoramen- to dos processos, comissões intersetoriais etc., Pedro vem há tempos resistindo a um novo projeto da Companhia, por considerar que seu desenvolvimento coloca em risco as comunidades do entorno. A empresa já de- senvolveu diversos testes ambientais e ela- borou planos de compensação e de prote- ção para aquelas comunidades. No entanto, Pedro alega que a instalação da planta in- dustrial no local escolhido afetará os tra- ços tradicionais da localidade, relacionados com a cultura quilombola dos habitantes que a ocupam desde o século XIX. Queren- do apontar projetos alternativos àquele es- colhido pela diretoria da empresa, Pedro li- derou uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores de diferentes áreas, eco- nomistas, engenheiros, sociólogos, físicos e administradores. Contrariada com essa ini- ciativa, a empresa demitiu Pedro alegando insubordinação às decisões estratégicas da diretoria, muito embora, ressalte-se, Pedro fosse responsável por uma equipe de de- Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho45/226 senvolvimento de novos negócios. No site da empresa, é possível encontrar, dentre os valores defendidos no seu código de ética, a seguinte descrição: “Em ações e discus- sões internas, assuma sempre seus valores e princípios e as consequências dos atos a que eles conduzirem, mesmo que isso sig- nifique ficar contra a maioria – mas jamais procure obstruir o direito de expressão e voto no posicionamento alheio”1. O que o exemplo revela é que, quando com- preendida em termos de “vantagens e des- vantagens” do comportamento ético, a ética aplicada aos negócios torna-se um subter- 1 Embora baseado num caso real, o exemplo é meramente ilustrativo. A descrição deste “mandamento”, por seu turno, foi extraída de: <https://efetividade.net/2012/04/o-que- e-etica-no-trabalho-guia-rapido-com-10-mandamen- tos-essenciais.html>. Acesso em: 18 set. 2017. fúgio para maximizar o exercício do controle da empresa sobre seus trabalhadores, inde- pendentemente do nível hierárquico em que estejam. Por esse motivo, é preciso pensar a ética aplicada às relações de trabalho numa perspectiva que não a compreenda como um embate entre interesses opostos. Unidade 2• Ética nas Relações de Trabalho46/226 A partir do estudo realizado por Arruda e Navran (2000, p. 22-31), os autores apresentam os seguintes indicadores: • Sistemas formais: “a empresa que almeje ser ética deve divulgar declarações precisas de- finindo as regras e deve criar procedimentos de verificação para assegurar que todos na organização as estão cumprindo”. Para saber mais Essa preocupação esteve presente em um trabalho desenvolvido pelo Centro de Estudos de Ética nas Organizações (CENE), da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com o Ethics Resource Center, em Wa- shington, DC. Buscando conhecer o grau de eticidade de uma empresa, a partir de seu clima ético”, o trabalho buscou “estimular os executivos a se preocuparem com a quali- dade ética de sua organização, informando-lhes e colocando à sua dispo- sição os indicadores [de eticidade] aplicados ao setor industrial. (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 26) Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho47/226 • Mensuração: as regras instituídas de- vem ser passíveis de mensuração. “As medidas são os meios mais críticos que a organização possui para comu- nicar às pessoas o que realmente é importante”. • Liderança: compreendida como um exercício de empoderamento e solida- riedade, que “pode ser definida como a contribuição ao bem comum nas in- dependências sociais”. • Negociação: indicador que traduz o senso de união no local de trabalho. • Expectativas: trata-se das exigên- cias formais e informais para alcançar o sucesso. Quanto mais explícitas e congruentes elas forem, maior a efi- ciência obtida na motivação dos fun- cionários. • Consistência: significa o comporta- mento profissional que se dá em cor- respondência com os valores da em- presa. “Ocorre quando todas as pala- vras e ações da organização levam as pessoas a concluir que o mesmo con- junto de valores éticos é válido a qual- quer momento”. • Chaves para o sucesso: incluem o trabalho intenso, a automotivação e os resultados excelentes, a inovação e a recompensa. • Serviço ao cliente: a satisfação dos clientes é resultado da satisfação dos funcionários. Portanto, manter um Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho48/226 bom clima organizacional é funda- mental para gerar efeitos externos positivos. • Comunicação: consiste em comuni- car as expectativas e exigências em relação a seus funcionários. Além dis- so, “os funcionários devem saber a quem se dirigir para obter respostas às suas preocupações éticas quando se defrontam com uma situação nova ou diferente”. • Influência dos pares: trata-se de in- centivar sistemas de ajuda mútua entre funcionários, desde que estes estejam relacionados aos valores da empresa e não sejam utilizados para encobrir, incentivar ou ocultar atos de privilégios ou ganhos ilegais. • Consciência ética: trata-se do equi- líbrio entre hierarquias e autoridade, competências técnicas e decisões po- líticas. Link No artigo de Lumara Diniz, Ética nas relações de trabalho, é discutido um histórico da ética e sua relação com a filosofia, trazendo reflexões e repercussões dessa temática no cotidiano de uma empresa. Disponível em: <http://www. administradores.com.br/artigos/carreira/ etica-nas-relacoes-no-trabalho/73845/>. Acesso em: 20 out. 2017. Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho49/226 Glossário Ética aplicada: é a aplicação de princípios éticos em campos específicos da atividade humana. Ética no trabalho: é aplicação de princípios e fundamentos éticos nas relações estabelecidas nos ambientes de trabalho e nos relacionamentos entre corporações e demais públicos interes- sados. Ética profissional: é a aplicação de princípios éticos para os fundamentos e para o exercício das profissões. Questão reflexão ? para 50/226 Considerando os apontamentos feitos nesta unidade, reflita sobre os fatores de emergência das éticas apli- cadas e suas consequências para o cenário das relações de trabalho no Brasil atual, levando em conta, ainda, os indicadores de eticidade e sua aplicabilidade para o am- biente de negócios em que você está ou pretende se in- serir. 51/226 Considerações Finais • A ética aplicada é uma preocupação típica da sociedade contemporânea e está relacionada com as transformações ocorridas com o desenvolvimento urbano e industrial em nível mundial. • O respeito à vida, ao meio ambiente e às relações humanas são fundamen- tos das preocupações éticas aplicadas às relações de trabalho. • A ética no trabalho não deve ser pensada em termos de vantagens ou des- vantagens pessoais ou empresariais, mas sim como um compromisso de solidariedade com a realização pessoal e os benefícios da sociedade. Unidade 2 • Ética nas Relações de Trabalho52/226 Referências ADELMAN, Miriam. A voz e a escuta. Encontros e desencontros entre a teoria feminista e a so- ciologia contemporânea. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2009. ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de; NAVRAN, Frank. Indicadores de clima ético nas empresas. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 40. n. 3. jul./set. 2000. p. 26-35. CANTO-SPERBER, Monique. Dicionário de ética e filosofia moral. São Leopoldo, RS: Editora UNI- SINOS, 2003. HOBSBAWM, Eric. A Era dos extremos. O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. HUNTINGTON, Samuel P. The clash of civilizations?. Foreing Afairs, 1993. Disponível em: <https:// www.foreignaffairs.com/articles/united-states/1993-06-01/clash-civilizations>. Acesso em: 30 nov. 2017. LIPOVESTKY, Gilles. A felicidade paradoxal. Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Pau- lo: Companhia da Letras, 2007. SANTOS, Boaventura de Souza. A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002. 53/226 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: Ética nas Relações de Trabalho. Bloco I Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 7d9f6e0504367fae3d1cd3c78cfa1624>. Aula 2 - Tema: Ética nas Relações de Trabalho. Bloco II Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/6a273846be665dc11b5b7289491c77bc>. 54/226 1. A respeito do surgimento da ética aplicada, é correto afirmar que: a) Decorre de um choque de civilizações, segundo o qual os terroristas internacionais são uma ameaça do Mal. b) São resultados dos antagonismos que caracterizam os processos da globalização. c) São consequência dos entraves promovidos pelos debates ambientalistas. d) São reflexões oriundas de movimentos que inibem o desenvolvimento econômico dos paí- ses. e) São discussões propostas pelos defensores dos direitos humanos. Questão 1 55/226 2. A emergência de novos sujeitos coletivos na cena pública dos anos 1960, como os movimentos negro, feminista, ambientalista etc., são fatores fun- dantes da ética aplicada, uma vez que: Questão 2 a) Esses movimentos passam a questionar os padrões de sociabilidade dominantes, incluindo as noções de certo e errado. b) As empresas veem neles uma ameaça aos consumidores, e passam a fazer propagandas pela preservação dos bons costumes. c) Os movimentos obrigam a Organização das Nações Unidas a redigir um código de ética uni- versal. d) Os filósofos que discutiam ética são substituídos por lideranças desses movimentos. e) As civilizações de capitalismo avançado propõem a aceitação das pessoas GLS (gays, lésbi- cas e simpatizantes). 56/226 3. Dentre as diversas “éticas aplicadas”, a ética profissional é aquela que: Questão 3 a) Restringe a aplicação ética ao modo de funcionamento das empresas. b) Tem como objetivo permitir o ingresso da mulher no mercado de trabalho. c) Dirige-se às discussões mais genéricas acercado trabalho e das profissões. d) Impede o avanço econômico, pois rivaliza com a ética ambiental. e) Possui menos força regulatória, pois fica submetida à bioética. 57/226 4. A ética nos negócios tem como objeto: Questão 4 a) A racionalização das profissões. b) O desenvolvimento sustentável. c) As relações de troca. d) A regulação dos preços. e) A desregulamentação da propriedade. 58/226 5. Compreender a ética nos negócios enquanto um equilíbrio entre vanta- gens e desvantagens do comportamento ético corresponde a: Questão 5 a) Ocultar mecanismos sutis de dominação dos trabalhadores. b) Defender o trabalhador contra o lucro desmedido. c) Defender a empresa contra abusos dos trabalhadores. d) Defender a sociedade contra a luta de classes. e) Defender os governos contra a queda de arrecadação. 59/226 Gabarito 1. Resposta: B. A ética aplicada emerge a partir de discus- sões práticas que têm como objetos diver- sos fenômenos decorrentes dos antagonis- mos entre o desenvolvimento econômico e tecnológico em nível mundial, acompanha- do de fenômenos que colocam em xeque a própria noção de progresso que permeia aquele desenvolvimento, tais como os de- sastres ambientais e sociais, os limites da ciência frente à manipulação da vida, den- tre outros. 2. Resposta: A. A emergência de diversos movimentos so- ciais na luta pela igualdade de direitos e pela preservação ambiental colocam em xeque os padrões de desenvolvimento e as formas hegemônicas de sociabilidade, baseadas em parâmetros de normalização heteros- sexual, na dominação branca e masculina e na centralidade da família nuclear, fazendo necessária a reflexão sobre novos princípios de relações éticas e morais. 3. Resposta: C. A ética profissional diz respeito aos prin- cípios de constituição das profissões, seu exercício e os valores nelas envolvidos. 4. Resposta: C. A ética nos negócios diz respeito às relações de troca simbólica – hierarquias funcionais, 60/226 Gabarito por exemplo; materiais – valor do trabalho; e financeiras – ganhos, remunerações etc. 5. Resposta: A. Se compreendida em termos de vantagens e desvantagens, a ética nos negócios deixa de considerar as relações de interdependência e dominação típicas da produção capitalis- ta, e torna-se um mecanismo velado para controle dos trabalhadores. 61/226 Unidade 3 Ética Empresarial. Da Teoria à Prática Objetivos 1. Compreender as relações entre ética nos negócios e expansão das econo- mias capitalistas bem como adminis- tração empresarial. 2. Identificar o papel da ética empresa- rial na gestão dos negócios. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática62/226 Introdução O termo “ética aplicada” originou-se nos EUA, nos anos 1960, para se referir à preocupação de diferentes setores da sociedade com as questões fundamentais de um mundo em profunda transformação, dentre elas as questões ligadas à vida, especialmente em razão do avanço téc- nico-científico e de suas interações com as descobertas da biologia e da genética, originando a bioética; questões relacionadas à preservação ambiental, numa sociedade em que a industriali- zação avançada gerara a destruição maciça dos recursos naturais, fazendo emergir a ética am- biental; questões ligadas ao mundo do trabalho, considerando a industrialização, a urbanização, a diversificação das profissões e o fortalecimento das demandas e das organizações de trabalha- dores, gerando a ética profissional. A ética profissional se funda em três aspectos gerais, quais sejam, o respeito, a previsibilidade e a responsabilidade, que podem ser descritos como: 1) Respeito profissional. Respeito da autonomia das pessoas. Respeitar a autonomia é respeitar a capacidade da pessoa de escolher e decidir. Uma pessoa tem valor, não preço: ninguém pode ser manipulado ao bel-prazer dos outros. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática63/226 2) Previsibilidade profissional. Significa que devemos ser previsíveis com nossas ações, prevendo os possíveis danos causados por nossos atos. 3) Responsabilidade profissional. Devemos considerar e assumir sempre as consequências futuras das nossas ações. (SERRANO, apud LIMA JUNIOR, 2008, p. 105) A partir desses três pilares, pode-se pensar em enfoques ainda mais específicos para as reflexões éticas, seja a ética nas relações de trabalho, seja a ética nos negócios, seja, ainda, a ética no setor empresarial. Assim, se a ética profissional possui um caráter genérico, que diz respeito aos princípios do exer- cício e à própria constituição das diferentes profissões, e a ética nas relações de trabalho preo- cupa-se com a aplicação de princípios e fundamentos éticos nas relações estabelecidas nos am- bientes de trabalho e nos relacionamentos entre corporações e demais públicos interessados, a ética nos negócios debruçar-se-á sobre princípios e práticas que devem conduzir as relações de troca – simbólicas, materiais, financeiras – típicas das sociedades de mercado. É em seu bojo, portanto, que se insere a ética empresarial, uma vez que são as empresas as instituições típicas da sociedade de mercado. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática64/226 1. Falando sobre empresas Uma ética econômica especificamente burguesa se havia edificado. Com a consciência de permanecer na plenitude da graça de Deus e sendo visivel- mente abençoado por Ele, o homem de negócio burguês, permanecendo dentro dos limites da retidão formal, sua conduta moral sendo impecável e o uso que fizesse de suas riquezas não sendo objetável, poderia seguir seus interesses de lucro, conforme sentisse estar cumprindo um dever ao fazê-lo. O poder do ascetismo religioso o provia, adicionalmente, com tra- balhadores sóbrios, conscientes e industriosos de forma incomum, que se agarram ao seu trabalho enquanto um propósito de vida desejado por Deus. (WEBER, 2013, p. 255) Na epígrafe acima, extraída do livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, do alemão Max Weber (1864–1920), o autor, considerado um dos fundadores da sociologia, analisa os preceitos éticos que estão na origem e no desenvolvimento da sociedade capitalista ao longo dos séculos XVI e XVII, os quais se entrelaçam como uma série de processos de racionalização do homem no Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática65/226 mundo que encontram, na ética protestante, um caminho para eliminação da mágica enquanto meio de salvação: Para o católico, a absolvição de sua Igreja era uma compensação por sua própria imperfeição. O padre era um mágico que operava o milagre da transubstanciação e era quem detinha a chave da vida eterna na sua mão. [Para o calvinista] tais confortos humanos e amigáveis não existiam [...] o Deus do calvinismo demandou de seus crédulos não bons atos singula- res, mas uma vida de obras combinada em um sistema unificado. (WEBER, 2013, p. 145) Esses processos de racionalização, assentados numa dimensão religiosa e de pertencimento do homem no mundo, colocaram a virtude no centro de todas as relações humanas. O agir virtuoso, segundo a ética protestante, possui uma função utilitária, ou seja, é dever de toda pessoa que crê agir conforme a virtude e esse ethos atravessa todas as relações humanas: “a honestidade é útil por assegurar o crédito; assim como são a pontualidade, a industrialidade, a frugalidade” (WEBER, 2013, p. 56). Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática66/226 Nessa perspectiva, o ganho material, o ganho financeiro, também assume caráter de virtude: o ganho não é visto como um meio de se desfrutar a vida, mas como o resultado da realização de uma vocação: O ganho do dinheiro no interior da moderna ordem econômica é, sendo obtido legalmente, o resultadoe a expressão da virtude [...] E, em verdade, essa ideia peculiar, que hoje nos é tão familiar, mas na realidade pouco ób- via, da carreira como um dever, é o que há de mais característico na ética social da cultura capitalista. (WEBER, 2013, p. 57) Se o espírito do capitalismo é fomentado por uma ética do dever e da realização, do ganho como vocação, viver o capitalismo não será apenas dedicar-se ao ganho, mas fazer do ganho um signo de honestidade e prudência. A virtude assume, portanto, um aspecto de mundaneidade: no lugar da Graça, da transcendência, uma vida proba e autoconfiante. O protestantismo e o conceito de vocação profissional que o acompanha se tornam, portanto, “a base motivacional do moderno sistema econômico capitalista” (BATISTA, 2013, p. 8), sistema este que, impulsionado pelos prin- cípios do liberalismo do século XVII – a livre iniciativa, a livre organização, a propriedade privada, dentre outros – tornar-se-á o modelo socioeconômico predominante. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática67/226 E no seio desse modelo, a racionalização das relações humanas irá produzir outro efeito: a bu- rocratização das formas de organização. Novamente, será Max Weber o pensador a desvendar esses processos de burocratização. Assim, embora identifique os primeiros traços de formação das estruturas burocráticas em civilizações da Antiguidade – na China e no Egito, por exemplo – Weber afirma: O pré-requisito normal para a existência estável e continuada, e inclusive para a instauração de administrações burocráticas puras, é um certo grau de desenvolvimento de uma economia monetária. (WEBER, [s.d.], p. 22) Conquanto seja comumente atribuído aos órgãos estatais o caráter de “burocrático”, é o desen- volvimento da economia e a necessidade de sua administração que vai propiciar o surgimento da especialização de tarefas enquanto procedimento racionalizado. Segundo Weber, a burocracia é a forma mais eficiente de uma organização, pois torna a administração mais eficiente e eficaz e isso garante rapidez e racionalidade ao trabalho, além de diminuir os problemas internos. Contudo, ele ressalta que nenhu- ma burocracia funcionará sem gestores profissionais. (MELLO, [s.d.], p. 6) Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática68/226 Nesse sentido, enquanto instituição modelar das sociedades de capital, as empresas, organiza- ções fundamentalmente concebidas como produtoras das relações de troca material e finan- ceira, com objetivo de lucro, são também organizações que produzem e disseminam saberes e conhecimentos nas demais esferas sociais, motivo pelo qual a ética empresarial ganha, no final do século XX, relevância central nos debates sobre o futuro da economia e das sociedades capi- talistas num mundo globalizado. Para saber mais Os estudos sobre burocracia no Brasil estão pautados pela análise da burocracia estatal, na qual pre- valecem duas teses opostas, quais sejam: uma que compreende a burocracia como estrutura executora das decisões tomadas no âmbito político, outra que reivindica autonomia da classe burocrática como contraponto à transitoriedade que marca as decisões governamentais. Não obstante o número reduzido de estudos sobre a burocracia enquanto racionalização da atividade privada, nestes prevalece a interpre- tação de cunho weberiano, dada a relevância desse autor não apenas para a compreensão dos processos de surgimento privado da burocracia, mas também suas análises acerca dos tipos de liderança que são encontrados nos âmbitos familiar, privado e público. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática69/226 2. A ética empresarial O mundo globalizado potencializou, em âm- bito mundial, as grandes contradições que marcam o capitalismo. Se as informações, pessoas, produtos e riquezas circulam por todo o planeta, também o fazem a violência, as mercadorias ilícitas, os recursos advin- dos de ilegalidades e crimes. Nesse cenário, em que as economias de mercados se fa- zem hegemônicas sobre outros modelos de organização político-econômica, restritos a formações sociais bastante específicas e ainda remanescentes do período de Guerra Fria, “a empresa tende a se afirmar não mais apenas como um lugar que se presta, como todos os domínios da existência, a compor- tamentos éticos, mas como uma instância de criação de referências éticas” (CANTO- -SPERBER, 2003, p. 521). Ademais, ao me- nos dois outros componentes oriundos dos processos de globalização passam a impac- Link No vídeo Café Filosófico – a Sociologia de Weber, Gabriel Cohn, sociólogo e professor titular da Fa- culdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, trata do pensamento de Max Weber a res- peito das linhas de força, ações e agentes dessas ações dentro da teia de relações que é a socieda- de. Disponível em: <http://achistorico.blogs- pot.com.br/search?q=weber>. Acesso em: 20 set. 2017. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática70/226 tar as empresas: o primeiro diz respeito à necessidade de adaptação e harmonização entre valo- res universais e códigos morais distintos e localizados. Confrontado com a diversidade das culturas, dos costumes, das concep- ções do bem, a empresa não pode se abster de sérios processos de acul- turação. Mesmo em domínios como o da recusa da corrupção, em que parece possível definir comportamentos éticos independentes do contex- to cultural, os meios a empregar para obtê-los podem ser muito variáveis conforme os lugares – sem falar daqueles em que o respeito dos mesmos valores, tais como a dignidade das pessoas, pode implicar maneiras de agir muito diversas. (CANTO-SPERBER, 2003, p. 521) O segundo aspecto diz respeito à prevenção aos escândalos corporativos e denúncias de dife- rentes ordens, os quais também ocorrem em nível global. Por exemplo, a Alstom, empresa fran- cesa acusada de corrupção nas obras do metrô de São Paulo, em 2015, passou a ser investigada em outros 11 países, sendo condenada a ressarcir os cofres públicos no Brasil, na Suíça, na Itália, no México e na Zâmbia. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática71/226 Emerge, então, a necessidade de equilíbrio entre as ações estratégicas de financeirização e lucro empresarial, o controle ético de suas decisões e operações e um conjunto mais amplo de suas funções sociais. A função social da empresa está intrinsecamente conectada aos princípios morais que devem sustentar o bom uso da propriedade e dos meios de produção. Emprestar uma função social à empresa é avalizar a atividade empresarial como uma das formas de uso benéfico da propriedade. A uti- lização da propriedade como meio de produção é fundamento conhecido do capitalismo (seja em suas vertentes mais antigas seja nas mais moder- nas), o que coloca a empresa em posição de supremacia nos sistemas eco- nômicos neoliberais modernos. (LIMA JUNIOR, 2008, p. 75) Link A repercussão do caso Alstom foi imensa nas redes sociais e nos principais canais de comunicação. Indi- camos a leitura do artigo de Mario Cesar Carvalo, Alstom vai pagar R$ 60 mi para se livrar de processo sobre propina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1721914-alstom-vai-pa- gar-r-60-mi-para-se-livrar-de-processo-sobre-propina.shtml>. Acesso em: 19 set. 2017. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática72/226 Com o objetivo de contribuir para que as empresas estabeleçam posicionamentos éticos e evitem a ocorrência de fraudes, multas ou escândalos, Nash (1993) buscou, por meio da concepção de ética convencio- nada, combinar a finalidade lucrativa das empresas com valores de confiança, coope- ração e vínculos de relacionamentos: Para saber mais Baseado em fatos reais, o filme A grande apos- ta, de Adam McKay, lançado noBrasil em 2016, toma como roteiro a crise do capital desencadea- da a partir da bolha imobiliária norte-americana, em 2008. O filme descreve o comportamento de diferentes investidores, especialmente o perso- nagem de Christian Bale (Michael Burry), que an- tevê o colapso dos créditos imobiliários e passa a apostar contra as tendências das bolsas, fazendo do colapso econômico mundial uma oportunida- de de multiplicar sua fortuna. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática73/226 A autora reforça a noção de que é possível para um administrador levar suas preocupações morais para além do campo das boas intenções, até uma aplicação real na busca do sucesso econômico. Ter responsabilida- de ética nos negócios supõe, muitas vezes: confiar no instinto, definir os “nãos” (não ter conflito de interesses, não mentir, não envenenar o cliente, não poluir o meio ambiente, etc.): articular explicitamente uma filosofia de negócios, estabelecendo um conjunto de padrões éticos, e não só proibi- ções, relacionados com o objetivo da empresa, a serem seguidos por todos os funcionários. (ARRUDA, 1993, p. 129) Nessa perspectiva, as funções de administração e gestão empresarial assumem papel prepon- derante na condução ética dos negócios de uma empresa, sendo estes o reflexo dos hábitos e das escolhas que “os administradores fazem no que diz respeito às suas próprias atividades e às do restante da organização” (NASH, 1993, p. 7). Para a autora, portanto, três são as áreas básicas sobre as quais incidem a tomada de decisões gerenciais de cunho ético: Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática74/226 • Escolhas quanto à lei: como a empresa se posiciona frente às diversas legisla- ções que normatizam seus negócios. • Escolhas sobre assuntos econômicos e sociais: diz respeito a como a em- presa se posiciona frente aos “outros”, sejam seus concorrentes, sejam tra- balhadores, fornecedores e sociedade em geral, incluindo não só “as noções morais de honestidade, palavra e jus- tiça, mas também a de evitar danos e a da reparação voluntária dos prejuí- zos causados” (NASH, 1993, p. 7). • Escolhas sobre a preeminência do interesse próprio: incluem decisões acerca dos interesses próprios e os interesses da empresa e dos demais públicos internos (acionistas, colabo- radores, funcionários) e externos (for- necedores, clientes), dizendo respeito “aos direitos de propriedade e quanto dinheiro deve ser retido ou distribuí- do” (NASH, 1993, p. 7). As três áreas apontadas pela autora evi- denciam que a gestão empresarial exige a tomada de decisões que não são meramen- te técnicas ou administrativas: elas envol- vem componentes morais que podem im- pactar diretamente o desempenho e a sus- tentabilidade da empresa, sobretudo se os interesses pessoais dos administradores, ou mesmo os interesses financeiros da em- presa, estiverem desconectados de um en- tendimento mais amplo acerca das exigên- cias éticas e morais da sociedade. Por isso Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática75/226 a importância de aliar a busca do lucro e do sucesso empresarial com os valores morais que impulsionam os relacionamentos das pessoas – internas e externas à empresa – aos seus negócios e produtos. Portanto, a ética convencionada é aque- la que permite integrar as normas éticas à busca do sucesso empresarial, tendo uma atitude organizacional dirigida ao outro, ou seja, a todos os públicos que se beneficiam da empresa, seja através de seus serviços, no caso de trabalhadores, fornecedores etc.; seja através de seus produtos, no caso de clientes e consumidores; seja através de seus negócios, no caso de governos e da so- ciedade que se beneficiam dos valores ge- rados pela empresa. A estas duas condições da ética convencionada junta-se, ainda, um princípio de relacionamento, qual seja, uma ética de negócios deve ser capaz de motivar o comportamento pragmático e competiti- vo, sem, no entanto, deixar de alimentar o respeito e o interesse social quanto aos ne- gócios realizados. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática76/226 Para saber mais Se a ética convencionada é concebida como uma aplicação ética capaz de congregar distin- tos e contrários interesses, promovendo a efe- tiva participação dos diferentes stakeholders na governança empresarial, a efetivação dessa par- ticipação é ainda um grande desafio, o que ex- ige o aprimoramento de instrumentos técnicos adequados ao seu fomento e viabilização. Nesse sentido, pesquisas para o desenvolvimento das doutrinas e práticas de gestão participativa no meio empresarial têm crescido em importância, o que pode ser percebido em consultas a plata- formas de revistas e periódicos científicos, como o scielo.br. Procurando por marcadores do tipo “ética empresarial”, pode-se encontrar diversas referências a esta temática. Link Uma resenha do livro Ética nas empresas: boas in- tenções à parte (São Paulo: Makron Books, 1993), de Laura Nash, foi escrita pela Profª Drª Maria Cecilia Coutinho de Arruda, do Departamento de Merca- dologia da Fundação Getúlio Vargas, apontando a importância e os principais temas abordados no livro. A referida resenha foi publicada como artigo científico e encontra-se disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art- text&pid=S0034-75901993000500011>. Acesso em: 19 set. 2017. Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática77/226 Glossário Burocracia: forma de administração baseada na divisão de tarefas, na especialização de fun- ções, na separação entre particular, público e privado, na racionalidade e na ação direcionada para a obtenção de fins previamente estabelecidos. Ética convencionada: compreendida como um estado de espírito voltado para as pessoas e para os relacionamentos, sem esquecer os produtos ou os controles próprios do negócio realizado pela empresa. Guerra fria: compreende o período de clivagens geopolíticas entre o bloco de países capitalistas – liderados pelos EUA – e o de países socialistas – liderados pela URSS – no período entre o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e a dissolução da União Soviética (1991). Questão reflexão ? para 78/226 Tendo em vista os desafios para conciliação, convergência ou assimilação e diferentes interesses num propósito ético comum, faça a seguinte reflexão: como, no seu dia a dia, você lida com a necessidade de conciliar seus interesses com interesses diver- gentes do seu, sem fazer disso uma razão de conflito? Procure realizar essa reflexão no tocante às suas interações familiares, profissionais, nas redes sociais. Por fim, reflita a respeito da ques- tão: é possível buscar convergências éticas entre posicionamen- tos políticos e profissionais divergentes? Que princípios devem conduzir essas convergências? Qual o seu papel individual fren- te aos processos coletivos de conciliação ou de conflitos éticos? Unidade 3 • Ética Empresarial. Da Teoria à Prática79/226 Referências ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de. Ética nas empresas: boas intenções à parte. Resenha. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 33, n. 5, set-out 1993. p. 128-129. BATISTA, Ronaldo de Oliveira. Prefácio à A Ética protestante e o espírito do capitalismo. In: WE- BER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2013. CANTO-SPERBER, Monique. Dicionário de ética e filosofia moral. São Leopoldo, RS: Editora UNI- SINOS, 2003. LIMA JUNIOR, Osvaldo Pereira. Ética empresarial e neoliberalismo: paradigmas para a constru- ção de uma nova cidadania. Dissertação (Mestrado em Direito)- Centro Universitário Salesiano. Lorena, São Paulo, 2008. MELLO, Sebastião Luis. Apresentação da obra “O que é a burocracia?”.
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