Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESUMO - DIREITO DAS SUCESSÕES- INTRODUÇÃO ● Noções conceituais Sucessão é o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens, direitos e obrigações. ● Objeto do Direito das Sucessões O Direito das Sucessões se ocupa da transmissão mortis causa. No entanto, nem tudo é transmitido, com a morte. As relações personalíssimas se extinguem no ato da morte da pessoa, transmitindo-se, apenas, as relações jurídicas patrimoniais. Nesse passo, o conjunto de relações jurídicas transmitidas recebe o nome de herança. ● Terminologias fundamentais para o Direito das Sucessões Ab Intestato: Alguém falece sem deixar testamento. Adjudicação: Ato pelo qual os herdeiros (ou legatários) incorporam ao seu patrimônio os bens que representam seu quinhão na herança. Decorre da partilha e se dá quando há mais de um herdeiro; havendo herdeiro único, basta o auto de adjudicação. Alvará: Autorização para se fazer ou praticar algum ato. Em inventário, pode-se requerer alvará nos próprios autos, em apenso, ou em procedimento autônomo. Aquestos: Bens adquiridos na constância do casamento, podendo ou não comunicar-se ao cônjuge, conforme o regime patrimonial adotado e a natureza dos bens. Arrolamento Sumário: É a forma simplificada de bens inventários, abreviada de inventário-partilha, nos casos de concordância de todos os herdeiros, desde que maiores e capazes, não importando o valor dos bens. Independe do consenso entre os herdeiros. Arrolamento: É a forma simplificada de inventário de bens de pequeno valor, ou seja, até o limite de 1000 salários-mínimos, art. 1.036 CC. Ascendente: Pessoa de quem outra procede, em linha reta; os ancestrais: pais, avós, bisavós; são chamados à sucessão na falta de descendentes do autor da herança. Autor da herança: É o falecido. De quem a sucessão se trata. Colação: Ato de restituir à massa da herança os bens recebidos pelos herdeiros com antecipação em vida do de cujus, para que se obtenha igualdade nas partilhas. Comoriência: É o caso de mortes simultâneas, em que não se pode verificar a ordem cronológica dos falecimentos a comoriência representa o falecimento de duas ou mais pessoas herdeiras entre si, ao mesmo tempo, sem se poder identificar quem morreu primeiro. Direito de Saisine ou Princípio de Saisine: A existência da pessoa natural extingue-se com a morte, dando-se a sucessão hereditária com o falecimento do titular dos homens. Abertura A sucessão, transmitem-se, desde logo, a herança aos herdeiros legítimos e testamentários, nos termos do artigo 1.784 do CC/02. De cujus:Aquele de cuja sucessão (ou herança) se trata. Disponível: Porção livre do patrimônio de uma pessoa, que pode ser objeto de testamento. Espólio: É a representação patrimonial da herança, representado pelo inventariante ou administrador provisório; patrimônio deixado por uma pessoa falecida, acervo hereditário, massa de bens por inventariar. Herança: É o patrimônio do defunto; conjunto patrimonial transmitido causa mortis; herança é sempre individual; é “a viga mestra do direito das sucessões.” Equivale a bem imóvel (art. 80, II); conjunto de direitos e obrigações que se transmitem ao herdeiro; ou monte; traduz a universalidade de coisas até que a sua individualização pela partilha determine os quinhões ou pagamentos dos herdeiros. Herança Jacente: Ocorre quando não há herdeiro certo e determinado, ou não se sabe da existência dele, ou quando a herança é repudiada. É um estado provisório do patrimônio inventariado, quando ignorado herdeiro que a reclame, no qual se promove a preservação dos bens acompanhada da investigação sobre a existência de outros sucessores para, na falta destes, promover-se a destinação do acervo patrimonial ao Poder Público. Herança Vacante: É aquela que não foi disputada, com êxito, por qualquer herdeiro e que, juridicamente, foi proclamada de ninguém.” O pronunciamento judicial da vacância é uma sentença que encerra a herança jacente e transfere a titularidade do patrimônio do falecido ao Poder Público. Herdeiro legítimo: Contemplado na ordem de vocação hereditária. Podem ser necessários ou facultativos. Herdeiro testamentário: Contemplado em testamento. Inventário: Processo judicial tendente a promover a divisão do patrimônio dividido entre os sucessores. Pode ser substituído por arrolamento. Legado: Bem, ou conjunto de bens individuados que integram a herança, e que o testador deixa em benefício de alguém; uma pessoa pode instituir em testamento herdeiros (deixando coisa indeterminada, ex.: 1/3 do patrimônio disponível) ou legatários (deixando coisa determinada; ex.: carro marca tal, placa tal etc.). Legatário: Aquele em cujo favor o testador dispõe de valores ou de objetos determinados, ou de certa parte deles; quem recebe, por força do testamento, valores ou objetos determinados, ou certa parte deles; aquele a quem o testador deixa uma coisa ou quantia, certa, determinada, individuada, a título de legado. Legítima: Parte do patrimônio de uma pessoa reservada para os descendentes, cônjuge e ascendentes, ou seja, metade que cabe aos herdeiros necessários. Meação: Propriedade do cônjuge, do patrimônio da sociedade conjugal (sempre condomínio); Monte Partível ou Partilhável: É o monte-mor menos a meação do cônjuge sobrevivente e as dívidas e passivos deixados pelo de cujus, ou seja, é o líquido partilhável. Ordem de Vocação Hereditária: É a seqüência de pessoas ligadas ao falecido, por laços de parentesco ou familiar que, uns na falta dos outros, com exclusividade ou em conjunto quando da mesma classe, são indicados como herdeiros – art. 1.829 do CC. Pacto Sucessório = Pacta Corvina: Contrato que tem por objeto a herança de pessoa viva; expressamente vedado pelo CC - art. 1.089 do CC. Partilha: Complementação do inventário, quando os bens são distribuídos entre os sucessores do falecido, adjudicando-se a cada um sua cota na herança. Petição de Herança: É o requerimento judicial formulado pelo interessado objetivando o reconhecimento de sua qualidade de herdeiro e a defesa dos seus direitos sucessórios. Premoriência: Ocorre quando há precedência da morte. Quinhão hereditário ou quota-parte: É a parcela destinada a cada um dos sucessores legítimos ou testamentários. Renúncia Abdicativa: Trata-se a renúncia abdicativa do efetivo abandono de um direito em favor do monte ou dos demais herdeiros, feita de forma unilateral, o que vem a caracterizar a renúncia propriamente disposta no Código Civil. Momento da transmissão: A morte, então, é pressuposto para a transmissão da herança. A lei, por ficção jurídica, torna-as coincidentes em termos cronológicos, presumindo que o próprio falecido investiu seus herdeiros no domínio e na posse indireta de seu patrimônio. A quem transmitir ? O herdeiro que sobrevive ao de cujus, mesmo que por um instante, herda os bens deixados e os transmite aos seus sucessores, se falecer em seguida. a) Herdeiro legítimo – É o herdeiro indicado pela lei em ordem preferencial (art. 1829, CC): descendente, ascendente, cônjuge, companheiro e parentes colaterais até o 4º grau. b) Herdeiro Testamentário(ou instituído) – É o beneficiado pelo testador em ato de última vontade, com uma parte ideal do acervo hereditário, sem individuação de bens. c) Herdeiro Necessário (legitimário ou reservatário) – é o descendente ou ascendente sucessível (são os parentes em linha reta não excluídos da sucessão) e o cônjuge (art. 1.845, CC). d) Herdeiro Universal – Herdeiro único. Recebe a totalidade de herança. Recebe os bens mediante auto de adjudicação lavrado no Inventário. e) Legatário – Sucessor contemplado em ato de última vontade do de cujus (por meio de testamento ou codicilo) com bem certo e determinado. Recebe a título singular. CAPACIDADE SUCESSÓRIA - arts. 1.787 e 1.798, CC ● Capacidade: Aptidão da pessoa em adquirir direitos e contrair obrigações. ● Capacidade ou Legitimação Sucessória: Aptidão específica para receber os bens deixados pelo de cujus. LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER - art. 1798 e 1799 CC ● Pessoas nascidas; ● Pessoas já concebidas – nascituro (observar: natimorto e neomorto - testamento) ● Prole eventual ● Pessoas jurídicas (testamento); ● Pessoas de direito público e privado; ● Fundação (testamento) PROLE EVENTUAL - art. 1.799, I, CC ● Futuros filhos de pessoas indicadas pelo testador. ○ Nomeação de curador: art. 1.800, CC ○ concepção natural; inseminação artificial; Adoção ○ Prazo: até 2 anos após abertura da sucessão (art. 1.800, § 4º, CC) ○ Defere-se frutos e rendimentos a partir da morte Há direito sucessório de pessoa concebida por inseminação artificial post mortem? ● Sim, se houver consentimento do pai ou da mãe ● ou se a prole nascer em até 02 anos da abertura da sucessão. Art. 6 – Espécies de Morte: ● Morte Real: é aquela em que há um corpo, cujas funções vitais cessaram. Existe prova da materialidade. Para fins de doação de órgãos, basta que se cesse uma função vital: cerebral. Lei 9434/97. ● Morte civil ou fictícia: significa tratar uma pessoa que está viva como se ela estivesse morta. Atualmente, no nosso ordenamento, não existe a morte civil ou fictícia, pois ela afronta a dignidade da pessoa humana. Porém, existem resquícios da morte civil no nosso ordenamento: direitos sucessórios: exclusão do herdeiro por indignidade e na deserdação. ● Morte presumida: ocorre quando não há um corpo. Não há prova da materialidade do fato. Decorre de uma declaração judicial Art. 7, CC/02 e ausência - Pode ser declarada a morte presumida com ou sem decretação de ausência. Morte presumida não é sinônimo de ausência. Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. REQUISITO OBRIGATÓRIO IMPORTANTE: Casos que importam em justo motivo para declarar morte presumida: a) A lei presume a morte de quem estava ausente, após a declaração da sucessão definitiva; b) Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; Calamidade pública ou catástrofe. c) Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. No caso de morte presumida é feito o inventário e a partilha definitiva. Caso o indivíduo retorne receberá os bens no estado em que se encontrem. COMORIÊNCIA É a simultaneidade de óbitos, ou seja, ocorre o falecimento de duas ou mais pessoas herdeiras entre si ao mesmo tempo. É a morte simultânea de pessoas reciprocamente herdeiras e não se sabe quem faleceu primeiro. Ex: Parentes mortos em acidente de avião, a morte em acidente de automóvel. MORTE PRESUMIDA COM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA AUSENTE – É aquele que desapareceu sem justo motivo aparente. Não se pode concluir pela probabilidade da morte. Deve-se aguardar um tempo para que a pessoa apareça. A ausência ocorre quando alguém desaparece, sendo que, ninguém sabe se ela está viva ou morta. ● Informa-se ao juiz que aquele indivíduo está desaparecido. Daí, o juiz nomeia um Curador para cuidar dos bens do ausente. ● Haverá publicação de seis editais, com interstício de dois em dois meses, convocando o ausente a aparecer e tomar conta dos seus bens. ● Após um ano, caso o ausente não apareça, inicia-se a sucessão provisória. Nos primeiros dez anos os herdeiros ficam com os bens em condição provisória. Se o ausente aparecer, os herdeiros devem devolver os bens conforme receberam, inclusive com os frutos. ● Após 10 anos pode ser declarada a morte presumida. ● Se a pessoa aparecer até 10 anos poderá receber os bens no estado em que se encontrem. O que se transmite a partir da morte de alguém? Transmitem-se os bens e as dívidas do falecido. O que não se transmite? Não se transmitem na sucessão: a) os direitos personalíssimos como a tutela e os direitos políticos; b) os direitos de família puros ou sem cunho patrimonial (o poder familiar, o direito de reconhecer filho etc.; c) algumas relações jurídicas patrimoniais ligadas à pessoa, tais como: o usufruto (art. 1.410, I); o uso (arts. 1.412 e 1.413); a habitação (arts. 1.414 a 1.416); o mandato (art. 682, n. II) INCAPACIDADE SUCESSÓRIA ILEGITIMIDADE PARA SUCEDER ● Não podem ser nomeadas herdeiras ou legatárias, na sucessão testamentária - art. 1801 CC ● Pessoas que escreveu o testamento, seu cônjuge, ascendentes e descendente ● As testemunhas do testamento; ● O concubino do testador; ● O tabelião e o escrivão; ● os animais ● As coisas; ● A Pessoa jurídica de Direito Público Externo (em face da proteção da soberania nacional). A incapacidade sucessória obsta o direito à herança. NÃO LEGITIMADOS A SUCEDER: ● Herdeiro indigno ou deserdado ● Art. 1.801: pessoas excluídas da sucessão testamentária, por serem consideradas suspeitas. Poderiam abusar da confiança do testador e alterar sua vontade para obter algum benefício para si ou para seus parentes, cônjuge ou companheiro. Poderiam até interferir na liberdade do testador. ● Art. 1.802, CC: nulas as disposições em favor de pessoas não legitimadas a suceder ● Presume-se a interposição de pessoas quando são beneficiados os previstos no parágrafo único do art. 1.802, CC. ● Art. 1.803, CC: inconstitucional, em face da aplicação do princípio da igualdade constitucional entre todos os filhos. “É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador”. EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO ● INDIGNIDADE: arts. 1.814/1.818, CC A indignidade é uma sanção civil dirigida a qualquer herdeiro ou legatário, aplicável somente após a abertura da sucessão do titular da herança. A efetividade do instituto pressupõe a propositura de ação de indignidade, pela qual será excluído da sucessão, por meio de sentença, o herdeiro e legatário, que se envolver em situações taxativamente descritas no art. 1814 do CC/02, in verbis: Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra apessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade (BRASIL, 2002). ○ Art. 1.814, CC: são excluídos da sucessão Rol taxativo: I) Atos contra a vida: ● Prática ou tentativa de homicídio doloso contra o autor da herança ou seu núcleo familiar. Por se tratar de uma sanção, não se pode fazer interpretação extensiva para incluir a possibilidade de instigação ou auxílio ao suicídio ou homicídio culposo. ● É necessária a condenação criminal para ser declarada a Indignidade? Não há necessidade de sentença condenatória transitada em julgado, bastando a prova do homicídio no juízo cível. Entretanto, se o acusado for absolvido na esfera criminal, por inexistência do fato ilícito ou de sua autoria, a sentença faz coisa julgada em relação à esfera cível e, nesse caso, fica afastada a indignidade. Em caso de decisões contraditórias no cível e no criminal, pode haver modificação, se ainda estiver no prazo da rescisória. II) Atos contra a honra; ● Calúnia: somente reconhecida em juízo. Fora dele, qualquer crime contra a honra pode ensejar a indignidade. Punem-se duas modalidades de conduta: quando o sucessor for condenado por prática de crimes contra a honra do autor da herança, seu cônjuge ou companheiro; ou quando ficar evidenciado o crime de calúnia em juízo contra o autor da herança. Na primeira conduta, é necessária a sentença condenatória do sucessor pela prática de Calúnia, Injúria ou Difamação. Outrossim, referindo-se à prática de calúnia em juízo, exige a lei civil que a imputação do crime tenha sido proferida em juízo, e esta, por si só, gera a exclusão da herança, não havendo necessidade de ação condenatória. III) Atos contra a liberdade de testar; ● Violência ou fraude utilizada para inibir ou obstar a livre disposição dos bens, pelo autor da herança. ● Por fim, a lei traz as hipóteses de atos contra a liberdade de testar, que podem dar ensejo à exclusão da sucessão, ou seja, quando o sucessor inibir ou obstar, por violência ou fraude, que o autor da herança decida livremente como irá dispor de seus bens, como ato de última vontade. ○ A exclusão por indignidade é pessoal. E o descendente do indigno? Nos casos de indignidade e deserdação, o sucessor, embora possua esta qualidade, será privado do efetivo recebimento pessoal da herança. Contudo, alguém pode fazê-lo em seu lugar, é o chamado direito de representação. Segundo o art. 1816 do CC, os descendentes do excluído (deserdado ou indigno) são chamados a suceder, como se este morto fosse, à época da abertura da sucessão (BRASIL, 2002). Os efeitos da indignidade retroagem à data da propositura da ação - ex tunc, ou seja, o excluído da sucessão deverá restituir os frutos percebidos no momento em que estava na posse dos bens do acervo hereditário.Com efeito, equipara-se o Indigno ao possuidor de má-fé e, como consequência, o excluído é obrigado a restituir os frutos e rendimentos obtidos com a posse que não que lhe é indevida. No entanto, tem direito a receber indenização das benfeitorias feitas para assegurar a conservação do bem. ○ Legitimação para requerer a indignidade: Atualmente, depois do advento da Lei 13.582/2017, que alterou o art. 1814, § 2º, do CC/02, além dos interessados na sucessão, o Ministério Público também está legitimado a propor a ação de indignidade, contudo, apenas no caso em que o herdeiro ou legatário tenha sido autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso (consumado ou tentado) praticado contra o autor da herança, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. ○ Prazo para requerer a indignidade: O prazo prescricional é de 4 anos, a partir da abertura da sucessão. É vedado o reconhecimento incidental de indignidade no inventário. ○ Reabilitação do Indigno: Nos termos do art. 1.818 do CC/02: Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico. Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária (BRASIL, 2002). O perdão é ato solene, sendo válido se for feito por meio de testamento ou ato autêntico, ou seja, qualquer declaração, por instrumento particular ou público, não havendo a necessidade de o ato ser lavrado somente para a reabilitação, podendo ser feita em ata de casamento, por exemplo, ou mesmo sendo o ato autêntico com objetivos diversos, como doação e pacto antenupcial, podendo o autor da herança inserir ali o seu perdão, sendo este um ato personalíssimo do autor da herança. DESERDAÇÃO - ART. 1.814 CC/02 Deserdação é o ato pelo qual o testador da herança exclui da sucessão ascendentes ou descendentes, que praticaram atos expressamente previstos no Código Civil Brasileiro. As causas são as mesmas da indignidade (art. 1814), acrescidas dos arts. 1962 e 1963 do CC/02, in verbis: Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes : I - ofensa física; II - injúria grave; III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes: I - ofensa física; II - injúria grave; III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta; IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade Há de se observar que o Código Civil apenas se refere às causas de deserdação entre ascendentes e descendentes, não menciona as causas de deserdação do cônjuge ou companheiro e, por se tratar de sanção, exige interpretação restritiva. Portanto, o cônjuge ou o companheiro não pode ser deserdado. Embora tenham o condão de produzir efeitos de excluir a pessoa da ordem de vocação hereditária, a deserdação e a indignidade são institutos distintos. Ambas são sanções civis impostas ao sucessor que se comportou de forma repugnante em relação ao autor da herança, possuindo, portanto, finalidade punitiva. ○ Efeitos da deserdação: Priva-se o herdeiro de receber a herança, todavia, seus descendentes herdam como se o deserdado fosse morto, por meio do direito de representação. A causa da deserdação deve ser confirmada em juízo, no inventário, pelos demais interessados. ○ Perdão: A deserdação é irretratável. Há, contudo, hipóteses de perdão, denominadas de reabilitação (art. 1818), também aplicáveis à indignidade. ACEITAÇÃO DA HERANÇA Seguindo essa linha, a aceitaçãoapresenta natureza jurídica confirmatória, trata-se da confirmação da aquisição ocorrida a partir da transmissão automática, produzindo, portanto, efeitos retroativos. Ninguém é obrigado a aceitar a herança, sendo possível renunciá-la. A aceitação deve ser integral, não podendo se submeter a termo ou condição. O Direito Civil brasileiro, em regra, não admite a aceitação parcial. Contudo, se o herdeiro for, a um só tempo, necessário e legatário, pode escolher o título pelo qual sucederá. ○ Características da aceitação: ● Ato jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com uma única manifestação de vontade; ● Natureza não receptícia: não depende de ser comunicado a outrem para que produza efeitos; ● Indivisível e incondicional – não se pode aceitar a herança em parte, sob condição ou a termo (art. 1.808, CC). ● Irretratabilidade da aceitação (art. 1812 CC/02) A herança deve ser aceita sempre na sua totalidade. O herdeiro não pode aceitar apenas uma parte ou fração do quinhão que lhe cabe na herança, nem pode aceitar determinados bens e outros não, ou ainda, desde certo tempo ou até certo tempo. ○ O ato de aceitação pode ser praticado: ● Pelo próprio herdeiro ou legatário; ● Por representante ou assistente do herdeiro; ● Pelo cônjuge ou companheiro do herdeiro; ● Pelos herdeiros do herdeiro; ● Pelo credor do herdeiro, caso em que se limita ao valor do crédito. O remanescente retorna à massa hereditária. Formas de aceitação: ● Expressa: É a mais incomum. Dá-se, por meio de manifestação de vontade, escrito público ou particular. A teor do art. 1.805 (1ª parte), do CC/2002, a declaração meramente verbal não terá eficácia jurídica. ● Tácita: Atos positivos ou negativos que indicam que o herdeiro está aceitando, comporta-se, nesse sentido, (art. 1.805, 2ª parte), habilitando-se, por exemplo, no procedimento de inventário ou de arrolamento. Ressalva-se a prática de atos meramente oficiosos, que não induzem à aceitação da herança, como funeral, atos de conservação dos bens etc. ● Presumida: é aquela que resulta de uma situação fática de omissão. Após 20 dias da abertura da sucessão, sem que o herdeiro tenha manifestado sua aceitação, o interessado pleiteia ao juiz que assinale um prazo de 30 dias para que o herdeiro afirme se aceita ou não. Se o herdeiro quedar-se inerte, trata-se de aceitação presumida. RENÚNCIA DA HERANÇA Renúncia da herança é o ato jurídico de repúdio ao patrimônio hereditário, que exclui o sujeito da cadeia sucessória como se herdeiro nunca houvesse sido. Abdica-se do direito hereditário, com efeitos retroativos, ou seja, ao renunciar a uma herança, o sucessor é banido do panorama sucessório, por manifestação da sua própria vontade, fazendo com que o bem ou quinhão a si transferido retorne ao monte-mor (partilhável). Características da renúncia: ● Negócio jurídico unilateral formal, solene, escrito; ● Escritura pública ou termo judicial lavrado nos próprios autos do inventário ● Capacidade geral e negocial do renunciante; ● Incapaz só pode renunciar por meio de seu representante, com autorização judicial; ● Efeito ex tunc, retroage à data da abertura da sucessão; ● NÃO pode ser feita antes da abertura da sucessão - inválido pacto sucessório; ● Inadmissível a renúncia do herdeiro acompanhada de condições ou encargo; ● É necessária a outorga conjugal; se o renunciante for casado, exceto no regime de separação absoluta (art. 1.647, I, CC/02). ● A renúncia é irretratável, irrevogável e definitiva. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS O herdeiro, então, pode vender seu direito hereditário sobre uma coisa indivisível. Ex: 3 herdeiros, cada um tem 1/3 da herança - o herdeiro poderá vender seu quinhão. Nos termos do Art. 1.793, § 1º, do CC, o herdeiro não poderá individualizar os direitos hereditários que cede, a herança deve ser considerada singularmente, sendo ineficaz essa disposição sem prévia autorização do juiz do inventário - art 1.793, § 3º, do CC. Desse modo, se o de cujus tiver deixado três casas iguais para cada um dos três filhos, de modo que cada filho receba uma casa, ainda assim, o herdeiro não pode especificar que vende a casa, pois seu direito não é sobre a casa, ainda é sobre 1/3 da herança. O herdeiro é o cedente e quem compra é o cessionário. São características da cessão de direitos hereditários: ● Capacidade civil e específica; ● Sucessão aberta; ● Anterior ao trânsito em julgado da sentença de partilha; ● Tem por objeto uma universalidade de bens. Não pode ser um bem específico, salvo se houver expressa anuência de todos os herdeiros. Se um deles for incapaz, deve haver autorização judicial, ouvido o Ministério Público; ● Respeito ao direito de preferência (art. 1794). ● Escritura pública; ● Outorga uxória; ● Gratuita – doação ● Onerosa – compra e venda ● Necessária autorização do juiz ● Cessionário assume os riscos (evicção) (Art. 1793, CC) Lugar que se abre a sucessão: ● último domicílio do falecido (art. 1785 CC) ● Foro competente para abertura do Inventário: Foro do domicílio do autor da herança (art. 48 CPC) Foro da situação do imóvel, se inexistir domicílio certo (art. 49, parágrafo único, I, CPC) Rol das pessoas nascidas legitimadas a suceder, segundo a ordem da vocação hereditária (art. 1.798 c/c art. 1.829, CC). É um rol taxativo e preferencial. Os primeiros afastam os demais. I – Descendentes; II – Ascendentes; III – Cônjuge sobrevivente ou companheiro IV – Colaterais até o quarto grau. ● Sucessão do descendente Aberta a sucessão, a classe dos descendentes é a primeira a ser chamada à sucessão. O fundamento é a continuidade da vida humana e a vontade presumida do autor da herança. Em geral, contemplam-se todos os descendentes (filhos, netos, bisnetos), porém, os de grau mais próximo excluem os mais remotos, salvo os chamados a suceder por direito de representação (art. 1.833, CC). Por exemplo, com o falecimento do pai, os filhos são seus herdeiros (herdam por cabeça). Mas, se houver um filho pré-morto ao pai falecido, os filhos dele (netos) herdarão por representação (por estirpe). Os descendentes podem suceder: ● Por cabeça: Por direito próprio. ● Por estirpe: Por representação, nos casos de indignidade, deserdação ou pré-morte. ○ Descendentes do falecido pré-mortos: os filhos do pré-morto (netos) recebem por representação (art. 1.835 e 1.832, CC) Aqui depende do regime de bens para haver concorrência entre os descendentes e o cônjuge. ● Sucessão do ascendente Na ausência de descendente de qualquer grau, são os ascendentes chamados a suceder. Dos avós em diante, são separados por linhas de ascendência. ○ Concorrência do cônjuge com os ascendentes (art. 1.929, II, CC) a) Não havendo descendentes, herdam os ascendentes, em concorrência com o cônjuge. ATENÇÃO: Para esta hipótese, independentemente do regime de bens, sempre haverá concorrência do cônjuge com os herdeiros. Ver os seguintes artigos: art. 1.837, CC; art. 1.836, § 1º, CC. ● Sucessão do cônjuge sobrevivente O cônjuge sobrevivente herda, independentemente da existência de ascendentes e descendentes. É herdeiro necessário e permanente, desde que não esteja separado judicialmente, ou de fato, há mais de dois anos.Pode concorrer com os ascendentes ou com os descendentes. ○ Cônjuge como único sucessor (art. 1.829, III, c/c art. 1.838, CC) Inexistindo herdeiros descendentes e ascendentes, “será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente” (art. 1.838, CC). ● Sucessão dos colaterais (art. 1.839 a 1.843, CC) A sucessão dos colaterais vai até o quarto grau. O colateral mais próximo afasta o mais remoto. Essa regra não conflita com o direito de representação. Concorrendo irmãos bilaterais e unilaterais, aqueles herdam o dobro destes. 2º grau = irmãos; 3º grau = sobrinhos e tios; 4º grau = sobrinhos-netos, tios-avós, e primos. Regras para sucessão de colaterais: 1ª) A condição para que colateral seja herdeiro é a inexistência de descendentes, ascendentes e cônjuge do falecido. 2ª) Entre os colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo direito de representação concedido exclusivamente aos filhos de irmãos (sobrinhos), já falecidos (pré-morto) (art. 1.840, CC).
Compartilhar