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Disciplina Biossegurança e Biotecnologia aplicada à Saúde
Módulo I
Caro aluno nessa disciplina é fundamental que você acesse os textos dos links e leia-os. Abaixo a sugestão do documento oficial de Seminário realizado pelo Ministério da Saúde sobre as Prioridades e Estratégias de Ação em Biossegurança Aplicada à Saúde. Assista também aos vídeos eles vão ajuda-lo em avaliações futuras. Bons estudos!
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/biosseguranca_saude_prioridades_estrategicas_acao_p1.pdf 
A importância da abordagem contextual no ensino de biossegurança
The importance of the contextual approach in the teaching of biosafety
 
 
Maria Eveline de Castro PereiraI; Pedro César Teixeira SilvaII; Marco Antonio Ferreira da CostaIII; Claudia JurbergIV; Cintia de Moraes BorbaV
IComissão Interna de Biossegurança, Instituto Oswaldo Cruz. Av. Brasil 4365 Pavilhão Gomes de Farias Sala 210, Manguinhos. 21045-900 Rio de Janeiro RJ.
IIEscola Nacional de Saúde Pública Sério Arouca, Fundação Oswaldo Cruz 
IIIEscola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz 
IVNúcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro 
VLaboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos, Instituto Oswaldo Cruz
RESUMO
A biossegurança é um campo do conhecimento que insere questões voltadas para organismos geneticamente modificados e relacionadas à proteção social e ocupacional do trabalhador. O seu processo educativo visa à formação de um agente participativo-transformador e, portanto, deve ultrapassar a simples ideia da normalização. Dessa forma, é importante contextualizar a biossegurança dentro de uma estratégia de ensino construtivista com a identificação dos seus conceitos estruturantes - risco, perigo e acidente - que permitam ao indivíduo compreender como o risco é percebido na sociedade e enfocado na academia para, em seguida, agregar múltiplas competências e enfrentá-lo. Conhecer como as relações de trabalho-saúde, suas implicações e impactos vem sendo construídas ao longo do tempo, pode formar um cidadão mais crítico e preparado para participar das decisões de ordem político-social que podem influenciar o seu futuro.
Palavras-chave: ensino de biossegurança, contexto histórico, conceitos estruturantes
ABSTRACT
Biosafety is a field of knowledge that raises questions geared to genetically modified organisms that are linked to social and job-related employee protection. The educational process involves seeking to create a participative and transforming agent and must therefore transcend the simple concept of teaching. Thus, it is important to contextualize biosafety within a constructive teaching strategy by identification of its core concepts - risk, hazard and accident - which allows each individual to understand how risk is perceived within society and dealt with in academia in order to add multiple skills to tackle the situation. Understanding how the relationship between work and health and its consequences and effects are constructed over the course of time, makes it possible to train more critical and well prepared citizens to participate in decisions of a political and social nature that can influence their future.
Keywords: teaching biosafety, historical context, structural concepts
 
Introdução
No Brasil, a biossegurança deve ser entendida como um campo do conhecimento que se modela dia-a-dia e transita por dois caminhos distintos que se entremeiam: o primeiro se insere nas questões voltadas aos organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados; e o segundo nos ambientes onde não estão presentes as atividades inerentes à biotecnologia1, mas sim, relacionadas à proteção social e ocupacional dos trabalhadores2, podendo, desta forma, ser entendida como biossegurança legal e biossegurança praticada, respectivamente3.
O caráter multidisciplinar da biossegurança, com limites amplos e em constante construção4, deve ser entendido, segundo Carvalho1, como um campo de estudos que vai além do ambiente de trabalho, interagindo de forma dinâmica com as Ciências da Natureza, na qual se encontra fortemente inserida. O autor acredita que a sua inserção no ensino permitiria relacionar temáticas oriundas do ambiente escolar a outros assuntos que os estudantes vivenciam fora da escola.
Entretanto, é necessário contextualizar a biossegurança, dentro de uma estratégia de ensino construtivista com a identificação de seus conceitos estruturantes, pois segundo Garcia Cruz5 esses "é que vão transformar o sistema cognitivo dos alunos, de tal maneira, que permitem, de forma coerente, adquirir novos conhecimentos, por construção de novos significados, ou modificar os anteriores, por reconstrução de significados antigos".
Neste ensaio, entendemos contextualização como uma estratégia de ensino que incorpora os principais conceitos do campo de estudo, no caso a biossegurança, as práticas cotidianas. Pois, como aponta Pereira, apud Lopes6, "educar para a vida requer a incorporação do apreendido em nossas vivências".
Portanto, temos como objetivo discutir a contextualização como estratégia para o ensino da biossegurança.
Ensino de Ciências
A história, a sociologia e a filosofia da ciência potencializam a humanização das ciências, aproximando-as dos interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da comunidade7. Desta forma, as aulas de ciências tornar-se-iam mais desafiadoras e reflexivas, permitindo o desenvolvimento do pensamento crítico, dando "sentido" ao conteúdo abordado. O objetivo seria fornecer aos estudantes instrumentos que lhes permitam compreender como o conhecimento é construído, suas possibilidades e limitações, suas relações com questões colocadas em domínios relacionados da atividade humana, como a produção e o uso da tecnologia8.
A aprendizagem então deveria ser sobre a natureza da ciência7. Não existe uma definição precisa, nem consensual de natureza da ciência9, mas não há como negar que é multifacetada, complexa e dinâmica8, uma vez que envolve os resultados de pesquisas de diversas áreas, como a história, a filosofia e a sociologia, além das ciências cognitivas, como a psicologia9.
Martins10 ressalta o caráter prático e aplicado da história e da filosofia da ciência, que pode ser desenvolvido, de forma integrada, com duas abordagens: a primeira como estratégia didática facilitadora na compreensão de conceitos, modelos e teorias; a segunda como conteúdo (em si) das disciplinas científicas. Isso tem sido enfatizado inclusive nas recomendações curriculares de vários países, como por exemplo, na Inglaterra e, mais recentemente, no Brasil, na edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais11.
Entretanto, El-Hani12 afirma que não há tempo para tudo que é importante. Então, quais seriam os conceitos estruturantes a serem ensinados? Para Gagliardi13, são aqueles cuja construção transforma o sistema cognitivo, permitindo adquirir novos conhecimentos, organizar os dados de outra maneira, transformar inclusive conhecimentos anteriores. O autor esclarece ainda que os conceitos estruturantes não são "novos temas" de um programa, mas os objetivos gerais que permitem construir novos conhecimentos.
Miller apud Matthews7 acredita que a história e a filosofia da ciência contribuem para a compreensão da ciência. Não é possível compreender ciência sem ter conhecimento da sua dimensão cultural e histórica. Pensar apropriadamente sobre o conhecimento de um determinado conteúdo requer que se vá além do conhecimento de fatos ou conceitos da área. Ou seja, ao ser capaz de definir aquilo que é aceito como verdade, o indivíduo possa também explicar porque uma dada proposição é considerada definitiva e como esta se relaciona com outras proposições7.
Abordagem contextual da biossegurança
Em função dos referenciais descritos anteriormente, levantamos o debate sobre os conceitos estruturantes em biossegurança14 compreendida em seu strictu sensu, segundo Marein apud Zarate et al.15 como um conjunto de normas (entendidas comouma doutrina de comportamento que visa atingir atitudes e condutas que diminuam o risco) definidas para a proteção do homem, da comunidade e do ambiente, do contato acidental com agentes potencialmente perigosos.
Nesse contexto, o aluno ou o trabalhador não pode ser um mero reprodutor, mas sim um agente participativo-transformador no seu ambiente ocupacional, conjugando o saber fazer-ser-aprender16. O processo educativo envolve uma ação de reflexão, e segundo Pereira et al.14, deve ultrapassar a ideia da simples normatização e abranger, inclusive, aspectos relativos à ética, já que esta está implícita em praticamente todas as ações da biossegurança.
Pereira et al.14 apontam como estruturante o conceito de risco, ou seja, aquele que é capaz de facilitar o processo de ensino-aprendizagem de biossegurança, mudando o sistema de significação do aluno, permitindo incorporar "coisas" que antes não eram relevantes ou lhes dava significado13. Ao conceito estruturante de risco, Costa e Costa17 acrescentam dois outros: perigo (causa) e acidente (concretização do risco). Para avaliar riscos, segundo eles, é necessário antes identificar os perigos que são fontes desses riscos, para que a biossegurança possa ser aplicada de forma a minimizar as consequências de um possível acidente.
Assim, é fundamental conhecer como o risco é percebido na sociedade e enfocado na academia18 para, em seguida, agregar múltiplas competências e enfrentá-lo, pois a pessoa ao deparar-se com um determinado perigo, principalmente advindo do processo de trabalho, tende a responder de acordo com suas crenças, experiências, imagens e informações construídas ao longo de sua trajetória de vida19.
Beck e Giddens apud Guivant20 consideram os riscos, em especial os ambientais e tecnológicos, como chave para entender as características, os limites e as transformações do projeto histórico da modernidade. Essa abordagem permite refletir questões como conflitos sociais, relações entre leigos e peritos, o papel da ciência e formas de fazer e definir política20. Oliveira21, ao debater sobre a estrutura normativa de segurança e saúde do trabalhador, ressalta que é surpreendente constatar que o Direito do Trabalho, a sua marcha evolutiva empenhou-se mais em regulamentar a monetização do risco do que o ambiente de trabalho saudável, assim a proteção à vida e à saúde do trabalhador ficaram em posição secundária.
O trabalho pioneiro de Bernadino Ramazzini, De morbis artificum diatriba, apesar dos formatos classificatórios rudimentares em virtude da época em que foram escrito, influenciou as relações sociais de produção, ou seja, a identificação de riscos e carga à saúde no contexto do trabalho22. Ramazzini observa o modo de adoecimento das pessoas em mais de 60 ofícios diferentes, relacionando o exercício das atividades e as doenças correlacionadas, indicando ainda o tratamento recomendável e as medidas preventivas21.
Mas foi principalmente, segundo Costa2, a partir da Revolução Industrial - quando eram inadequadas as condições ambientais agravadas pela falta de higiene nos processos de trabalho, propiciando doenças infecto-contagiosas, ao mesmo tempo em que a periculosidade das máquinas era responsável por mutilações e mortes23 - que estudos mais sistematizados foram realizados.
A criação do primeiro "serviço de medicina do trabalho" ocorreu quando uma fábrica têxtil contratou, em 1830, o médico londrino Robert Becker para atuar na prevenção dos danos à saúde resultantes desses riscos23. Minayo-Gomez e Thedim-Costa24 destacam que a presença de um médico no interior das unidades fabris representava, ao mesmo tempo, um esforço em detectar os processos danosos à saúde e uma espécie de braço do empresário para recuperação do trabalhador e o retorno imediato às suas atividades.
A visão bacteriológica firmou-se como paradigma explicativo da relação saúde-doença25. A medicina do trabalho, centrada na figura do médico, orientava-se pela teoria da unicausalidade - para cada doença um agente etiológico - refletindo na propensão a isolar riscos específicos, atuando sobre suas consequências, medicando em função de sintomas23. Barata26 lembra que os agentes etiológicos, apesar de serem causas necessárias, não são suficientes no sentido de que dependem de outros fatores para produzirem alterações morfológicas funcionais e doença. O autor esclarece que no modelo multicasual, a realidade é fragmentada em um conjunto de fatores; o biológico é apenas um dos "fatores de risco".
As mudanças nos processos produtivos decorrentes das duas grandes guerras mundiais e os esforços de reconstrução pós-guerra deram forma a novos problemas e necessidades de saúde relacionadas ao trabalho, corroborando para que outros profissionais se juntassem à equipe médica, enfocando aspectos de higiene, ergonomia e segurança do trabalho, conformando a prática da saúde ocupacional27. A racionalidade "científica" da atuação multiprofissional e a estratégia de intervir nos locais de trabalho, com a finalidade de controlar riscos ambientais, refletem a influência das escolas de saúde pública americanas24.
A epidemiologia social vem substituir o conceito de causalidade pelo conceito de determinação social, buscando compreender a relação dialética entre determinantes que atuam no plano geral da constituição da sociedade. A produção social da saúde e doença supera a concepção biologicista linear de simples causa-efeito, e está vinculada à compreensão dos "modos e estilos de vida"28, que pode ser definido como um conjunto relativamente integrado de práticas individuais voltadas para necessidades utilitárias e que representam vestígios da identidade de cada ser, pois, além do "como agir", refere-se a "quem ser". Somando à personalidade individual os valores sociais, bem como as características econômicas e institucionais próprias às ditas democracias ocidentais no que se refere à relação com emprego, o lazer e a vida familiar29.
Assim, o trabalho, entendido como uma atividade humana, tem implicação direta sobre o processo saúde-trabalho30. Marx apud Lima e Samohyl31 salienta que o trabalhador passa a maior parte de sua vida no processo de produção. Então, essas condições do processo de produção são, em grande parte, o processo ativo de sua própria vida. Caso as consequências do trabalho sejam nefastas à saúde do trabalhador, dir-se-á que é patogênico32. Dessa forma, o debate em torno dos riscos é um importante instrumento de democratização nos locais do trabalho e da própria sociedade, pois coloca em discussão quem, como e com que critérios são definidos riscos para a vida do trabalhador, das pessoas em geral e do ambiente33.
Ensino de biossegurança contextualizado
O cidadão tem direito de aprender muito mais do que conceitos estanques. O contexto histórico deve ser analisado e considerado como uma realidade cultural que contribui de forma decisiva para mudanças sociais34. Encarar a ciência como um produto acabado, confere ao conhecimento científico uma falsa simplicidade, além de contribuir para a formação de atitude ingênua frente à ciência35. Esta não assume um caráter linear, evolutivo ou cumulativo, mas apresenta múltiplas ramificações, debates, confluências e simultaneidade de argumentos20, não sendo, portanto, decorrente de um somatório de experiências positivas ou fruto do trabalho de um único indivíduo36.
A ausência do contexto histórico mais amplo transmite a ideia de que a ciência é hermética, que os cientistas não sofriam influências dos aspectos socioculturais em que trabalhavam ou mesmo dos conceitos vigentes à época em outros campos do conhecimento ou, ainda, das implicações políticas das opiniões que estavam sendo geradas pela ciência37.
A formalização de um saber é um processo histórico e sociopolítico de "depuração" de um discurso com pretensões de verdade, no sentido do estabelecimento e da legitimação de pressupostos e procedimentos conceituais38. Dessa forma, é importante que, o ensino da biossegurança aborde todas as possíveis conexões dos seus conteúdos, isto é, passepelas imbricações históricas, humanas, sociais, éticas, econômicas, políticas, ambientais e técnicas, tendo como pano de fundo, exatamente suas ideias centrais, ou seja, seus conceitos estruturantes14.
 
Considerações Finais
O ensino contextualizado da biossegurança, relacionado aos saberes prévios dos alunos e aos cotidianos, pode ser uma estratégia eficaz para o desenvolvimento de competências nesse campo, que é cada vez mais exigido no mundo globalizado atual, principalmente, nas relações trabalho-saúde. E através do ensino de biossegurança contextualizado, pode ser possível conhecer as etapas evolutivas dessas relações e as medidas preventivas elaboradas ao longo do tempo.
O cidadão crítico poderá debater a partir dos pressupostos teóricos que fundamentam essas construções - suas implicações e consequências - e participar das decisões de ordem política-social que podem influenciar seu futuro.
 
Colaboradores
MEC Pereira, PCT Silva, MAF Costa, C Jurberg e CM Borba participaram igualmente de todas as etapas de elaboração do artigo.
 
Referências
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Módulo II
Caro aluno nesse móduloselecionamos o artigo abaixo por se tratar de 6(seis) pesquisadores e professores de Universidades de Medicina e Enfermagem, essa produção aproxima a nossa vida da realidade vivida dentro dos laboratórios, ambulatórios e consultórios, e deixa claro a importância de políticas de biossegurança na área da saúde humana. Bons estudos!
Aspectos de biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais de saúde: uma revisão da literatura
Biosecurity aspects related to the use of laboratory coats by health professionals: a literature review
 Aspectos de bioseguridad relacionados al uso del jaleco por profesionales de salud: una revisión bibliográfica
 
Carmem Milena Rodrigues Siqueira CarvalhoI; Maria Zélia de Araújo MadeiraII; Fabrício Ibiapina TapetyIII; Eucário Leite Monteiro AlvesIV; Maria do Carmo de Carvalho MartinsV; José Nazareno Pearce de Oliveira BritoVI
IDoutora em Dentística e Endodontia. Professora da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI) e Universidade Federal do Piauí (UFPI). Piauí, Brasil
IIMestre em Educação. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UFPI. Piauí, Brasil.
IIIDoutor em Odontologia. Professor da Faculdade NOVAFAPI. Piauí, Brasil.
IVMédico. Professor do curso de Medicina da Faculdade NOVAFAPI. Piauí, Brasil.
VDoutora em Ciências Biológicas. Docente do Departamento de Biofísica e Fisiologia da Faculdade NOVAFAPI e da UFPI. Piauí, Brasil.
 VIDoutor em Ciências Médicas. Docente do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade NOVAFAPI e da UFPI. Piauí, Brasil. 
RESUMO
O estudo objetivou analisar a literatura publicada a respeito dos aspectos da biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais da saúde. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura publicada no período de 1991 a 2008. Utilizou-se as bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO, sendo selecionados 22 artigos que foram agrupados para análise considerando os enfoques priorizados em: infecções cruzadas causadas por jalecos; jalecos contaminados; flora bacteriana em jalecos dos profissionais de saúde. O jaleco foi abordado como fonte de contaminação e como equipamento de proteção individual na prevenção das infecções. Portanto, são necessárias campanhas educativas no sentido de orientar os profissionais de saúde sobre o uso de jaleco.
Descritores: Infecção. Biossegurança. Prevenção.
ABSTRACT
This study aimed to analyze the literature published in regards to biosecurity aspects of the use of laboratory coats by health professionals. This is a narrative review of the literature published from 1991 to 2008. MEDLINE, LILACS, and SciELO were the databases used. Twenty-two articles were selected and were grouped for analysis with emphasis given to: cross infections caused by lab coats; contaminated lab coats; bacterial flora on health professionals' lab coats. The lab coat was found to be a source of contamination and to be equipment for individual protection in infectious disease. Therefore educational campaigns are necessary in order to orientate health professionals about the use of lab coats. 
Descriptors:   Infection. Biosecurity. Prevention.
RESUMEN
El objetivo del estudio fue analizar la literatura publicada sobre los aspectos de bioseguridad relacionados al uso del jaleco por profesionales del área de la salud. Se trata de una revisión narrativa de la literatura publicada en el período de 1991 a 2008. Se utilizaron las bases de datos MEDLINE, LILACS y SciELO, siendo seleccionados 22 artículos que fueron agrupados para su análisis considerando los enfoques cuyo énfasis es dado en: infecciones cruzadas causadas por los jalecos; jalecos contaminados; flora bacteriana presente en los uniformes de los profesionales de salud. El jaleco fue considerado como fuente de contaminación y como equipo de protección individual en la prevención de las infecciones. Por lo tanto, son necesarias campañas educativas en el sentido de orientar los profesionales de salud sobre el uso del jaleco.
Descriptores: Infección. Bioseguridad. Prevención.
 
INTRODUÇÃO
Na prevenção da contaminação por agentes infecciosos, recomenda-se que os profissionais de saúde adotem medidas de Biossegurança, especificamente àqueles que trabalham em áreas insalubres, com risco variável.
Esses riscos dependem da hierarquização e complexidade dos hospitais ou posto de saúde, do tipo de atendimento realizado (hospital de doenças infecto-contagiosas) e do ambiente de trabalho do profissional (endoscopia, unidade de terapia intensiva, lavanderia, laboratório etc), uma vez que estão mais suscetíveis a contrair doenças advindas de acidentes de trabalho, por meio de procedimentos que apresentam riscos.
Biossegurança é definida como o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos.1-2
Em relação à Biossegurança, é importante relacionar à sua legalização no Brasil, que atualmente está veiculada à Lei Nº 11.105 de 25 de março de 2005 que dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança. A Lei Nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995 foi revogada, criou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, uma dimensão ampla que extrapola a área da saúde e do trabalho, sendo empregada quando há referência ao meio ambiente e à biotecnologia.1
Nesse sentido, a saúde dos trabalhadores abrange um campo específico da área da saúde pública no Brasil, que procura atuar através de procedimentos próprios, com a finalidade de promover e proteger a saúde das pessoas envolvidas no exercício do trabalho. Assim, voltada para a saúde do trabalhador, tem-se a Portaria Nº 37 de 06/12/2002, que instituiu a Norma Regulamentadora (NR) 32, que trata especificamente da Segurança e Saúde do Trabalho nos Estabelecimentos de Assistência a Saúde.3
Considerando esses aspectos, no ambiente hospitalar, o risco é uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar danos.3 De acordo com a NR-9 do Ministério do Trabalho e Emprego, os riscos de acidentes podem ser classificados em: físicos (calor, iluminação e artigos cortantes); químicos (soluções químicas e aerossóis); biológicos (fluidos corporais - vírus, bactérias e fungos); ergonômico-mecânicos (desconforto); e psicossociais (estresse e fadiga).4
Dentre estes, o risco biológico como um dos principais entre os profissionais de saúde, aumentou, principalmente após o aparecimento da Aids e do crescimento do número de pessoas infectadas pelos vírus da hepatite B e C.3
Com o advento da aids e a divulgação por parte dos meios de comunicação dos riscos a que estão submetidos durante, por exemplo, tratamentos odontológicos, a população passou a exigir mais e, principalmente, a valorizar aqueles profissionais que investem em biossegurança.5
É importante salientar que nos serviços de saúde, especialmente de urgência e emergência, grande parte dos acidentes que envolvem profissionais da área da saúde se deve à falta de observância e adoção das normas de biossegurança.4
Contudo, o emprego de práticas seguras, como o uso do jaleco, reduz significativamente o risco de acidente ocupacional, sendo importante também a conscientização dos profissionais para utilização de técnicas assépticas e o estabelecimento de normas, conduta e procedimentos que garantam ao profissional e ao paciente um tratamento sem risco de contaminação.
Nos serviços de saúde as infecções são consideradas problemas de saúde pública, devido à sua importante incidência e influência nas taxas de letalidade, especialmente nos hospitais. Apesar de tantos exemplos, como as infecções pós-cirúrgicas, transmissão da hepatite B, do herpes simples, entre tantas outras, os profissionais da área de saúde responsáveis pela prevenção e controle nem sempre estiveram conscientes disso e nem propensos a seguir de forma correta os passos necessáriospara eliminar e diminuir os riscos para seus pacientes e para si próprios e sua equipe.
Nas infecções cruzadas, os microrganismos têm um papel passivo, cabendo ao homem o papel ativo; logo, será sobre suas ações o maior enfoque do controle dessas infecções. Atualmente, as normas consoantes à biossegurança são motivos de preocupação, tanto por parte das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar quanto pelos Serviços de Medicina Ocupacional. A utilização de precauções básicas auxilia os profissionais nas condutas técnicas adequadas à prestação dos serviços, através do uso correto de Equipamento de Proteção Individual (EPI), de acordo com a NR-6 da portaria Nº 3.214, de 08.06.78. Essas medidas devem gerar melhorias na qualidade da assistência e diminuição de custos e infecções cruzadas advindas da prática hospitalar e ambulatorial, tanto para os profissionais como para os pacientes e seus familiares.6-7
Dentre as medidas destacam-se os EPIs, que se destinam a proteger os profissionais nas operações de riscos de exposição ou quando houver manipulação de produtos químicos e biológicos, bem como riscos de contaminação com materiais perfurocortantes. Os EPIs podem ainda ser considerados um dispositivo de uso individual destinado a proteger a integridade física e a saúde do trabalhador.7-8
A contaminação da pele e vestimentas (roupas) por respingos e por toque é praticamente inevitável em hospitais e ambulatórios, assim como em consultórios odontológicos.8 Estudo demonstrou que as roupas são uma importante via de transmissão de infecção no ambiente hospitalar.9 Desta forma, os jalecos dos profissionais da área de saúde, passam a ser o primeiro sítio de contato em termos de indumentária com a pele, líquidos e secreções dos pacientes, tornando-se com isto um verdadeiro fômite.
Bactérias multirresistentes, que podem provocar doenças como faringites, otites, pneumonia, tuberculose e até mesmo a morte, são carregadas para lugares públicos e retornam das ruas para consultórios médicos, odontológicos, enfermarias e salas de cirurgia nos jalecos dos mais diversos profissionais de saúde. Freqüentemente, a seriedade da questão é negligenciada por arrogância ou desconhecimento de alguns conceitos básicos de microbiologia.10
Em restaurantes e lanchonetes da região hospitalar de muitas cidades, observam-se, diariamente, médicos, enfermeiros, odontólogos e outros profissionais de saúde paramentados com seus aventais de mangas compridas, gravatas, estetoscópios no pescoço e até mesmo vestimentas específicas para áreas cirúrgicas. Essa cena se repete em outros locais da cidade onde funcionam hospitais, consultórios, laboratórios de análises, clínicas médicas e veterinárias. Além de constituir grave ameaça à saúde pública, esses profissionais (e os estabelecimentos onde trabalham) são passíveis de representações nos órgãos de defesa do consumidor e podem ser punidos com pesadas multas. Na Inglaterra, a Associação Médica Britânica estabeleceu diretrizes rigorosas para o problema. A entidade condena o uso de gravatas, relógios de pulso, adornos e, sobretudo, o hábito de circular com aventais e jalecos em ambientes não hospitalares, já que vários germes capazes de provocar doenças foram isolados, principalmente nas mangas e nos bolsos dessas indumentárias.10
Muitos profissionais da saúde alegam não haver estudos científicos conclusivos que avaliem o impacto dos jalecos nas taxas de infecção hospitalar e por isso passam a freqüentar os mais diversos ambientes usando seus uniformes.
Diante dessas considerações, o estudo teve como objetivo fazer uma análise da literatura publicada a respeito dos aspectos da biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais da saúde.
 
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, que apresenta uma temática mais aberta, não exigindo um protocolo rígido para sua confecção, a busca das fontes não é pré-determinada e específica, sendo frequentemente menos abrangente. A seleção dos artigos é arbitrária, provendo o autor de informações sujeitas a viés de seleção, com grande interferência da percepção subjetiva.11
A forma de busca do material foi nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO, utilizando como limitação temporal o período de 1991 a 2008. Foram utilizadas as palavras chaves: infecção, biossegurança, prevenção e controle, conforme apresentação do vocabulário contido nos Descritores em Ciências da Saúde, criados pela Bireme. Com esses termos, selecionou-se, de forma arbitrária, um total de 22 artigos pertinentes ao tema abordado onde os critérios de inclusão foram a presença das palavras-chave selecionadas e a limitação temporal do período.
Os textos foram agrupados para análise considerando os enfoques priorizados em: infecções cruzadas causadas por jalecos, jalecos contaminados, flora bacteriana em jalecos, padrões e normas para descontaminação de jalecos dos profissionais de saúde. Considerou-se também no estudo os artigos descritos na literatura que utilizavam como sinônimo de jaleco o avental, o casaco e a bata.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O jaleco como fonte de contaminação
Estudo realizado demonstrou que uniformes e jalecos brancos tornaram-se progressivamente contaminados durante atendimentos clínicos e que a contaminação alcança um nível de saturação até se estabilizar em um platô. O tempo que é gasto para se atingir este nível de saturação não está claro e é provável que dependa da quantidade de colonização microbiana do paciente, freqüência e tipo de atividade clínica e outros fatores, tais como: o nível de contaminação microbiana ambiental e a extensão e o uso efetivo de roupa protetora. Assim, os autores concluíram que os uniformes tornavam-se contaminados durante atendimentos, sugerindo a hipótese que aqueles uniformes são um veículo potencial para transmissão de microrganismos, o que pode vir a causar infecções associadas a cuidados de saúde.12
Existe uma significante preocupação do público, na Inglaterra, a respeito dos profissionais que usam uniformes em locais públicos e estes, se contaminados, podem contribuir para a disseminação de infecções associadas aos cuidados de saúde. Evidências de uma conexão entre uniformes contaminados e que infecções podem contribuir para a disseminação de patógenos em ambientes não foi medido sistematicamente. Estudos em pequena escala, mostram que uniformes e jalecos brancos tornam-se, progressivamente, contaminados durante os atendimentos clínicos, e a maioria da contaminação microbiana se origina do usuário para o uniforme.12
Nesta perspectiva, o uso diário do jaleco pelo profissional de saúde no contato com pacientes faz com que os jalecos se tornem colonizados com bactérias patogênicas? Esta hipótese foi confirmada em pesquisa na qual foi demonstrado que os jalecos brancos de estudantes de medicina são mais susceptíveis de estarem bacteriologicamente contaminados em pontos de contato freqüente, como mangas e bolsos. Os principais microrganismos identificados foram comensais de pele incluindo o Staphylococcus aureus. Para os autores, a limpeza dos jalecos realizada pelos estudantes, foi correlacionada com a contaminação bacteriológica, e apesar disso, uma proporção significativa dos estudantes lavava os seus jalecos somente ocasionalmente. Estudantes de medicina em treinamento hospitalar deveriam considerar a hipótese de assumirem o compromisso de terem seus jalecos sempre lavados recentemente. Este estudo apóia a opinião de que os jalecos brancos dos estudantes constituem uma fonte potencial de infecção cruzada em enfermarias e que seu modelo deveria ser modificado, de modo a facilitar a lavagem das mãos.13
O papel dos trabalhadores da saúde na prevenção da transmissão de infecção nosocomial e a importância da lavagem das mãos, uma das práticas mais importantes para os profissionais da área de saúde, pois é uma conduta simples, de baixo custo e muito importante na prevenção da infecção.14 Há pouca evidência de outros métodos melhores que a lavagem das mãos na prevenção de infecção hospitalar,independente do tipo de jaleco que os profissionais estejam usando.15
Também em relação à contaminação microbiológica, alguns estudos concluíram que os Staphylococcus aureusresistentes à Meticilina (MRSA) prevaleciam em duas alas em suas escolas médicas de um hospital universitário, durante o período de julho a setembro de 1997.16-17 Para determinar se estes Staphylococcus aureus isolados foram associados a fatores ambientais, realizaram-se dois inquéritos seqüenciais MRSA com o pessoal hospitalar e arredores, em enfermarias com surtos (alas 1 e 2) e em uma enfermaria sem um foco (enfermaria 3), em abril de 1998 (enfermaria apenas 1) e em março de 1999 (enfermarias 1, 2, e 3). Nos dois inquéritos seqüenciais, cepas MRSA foram detectadas principalmente a partir de casacos brancos.
Pesquisadores relataram que os uniformes dos profissionais de saúde, incluindo os jalecos, quando em uso, tornam-se progressivamente contaminados com bactérias de baixa patogenicidade provenientes do usuário e de patogenicidade mista provenientes do ambiente clínico e de pacientes.17 A hipótese que os uniformes ou as roupas poderiam ser um veículo para transmissão de infecção não são suportadas por evidências. Todos os componentes do processo de lavagem contribuem para remover ou matar os microrganismos. Não existem trabalhos científicos que estabeleçam se há diferenças na eficácia da descontaminação de uniformes entre as lavanderias industriais e as domésticas ou que a lavagem doméstica promova uma inadequada descontaminação.
O jaleco como equipamento de proteção individual na prevenção de infecção
Segundo pesquisadores, ainda não se apresentou o isolamento de bactérias patogênicas, uma vez que muitos destes microrganismos precisam de um ambiente úmido e seco para sua sobrevivência, o que não está presente em jalecos brancos.18
Por outro lado, alguns acessórios que ficam em contato direto com os jalecos dos profissionais de saúde como crachás de identificação, colares e brincos usados por muitos profissionais, podem estar contaminados com bactérias patogênicas às quais poderiam ser transmitidas a pacientes. Desta forma no estudo, são sugeridas intervenções de controle de infecções apropriadas. Crachás de identificação, mesmo não parecendo ser a principal fonte de microrganismos patogênicos, podem abrigar organismos de doença e deveriam ser limpos regularmente, o que pode ser aplicado a jalecos.19
Desse modo, a prevenção se faz através da utilização das precauções padrão, medidas de proteção que devem ser tomadas por todos os profissionais de saúde, quando prestam cuidados aos pacientes ou manuseiam artigos contaminados, independentes da presença de doença transmissível comprovada, como por exemplo, o uso de EPIs (luvas, máscaras, gorros, óculos de proteção, aventais e botas), lavagem das mãos, descarte adequado de roupas e resíduos, material perfurocortante adequadamente acondicionado e todos os profissionais vacinados contra a Hepatite B.18
Em relação ao papel dos jalecos médicos na transmissão e prevenção de infecções nosocomiais,20 outro estudo concluiu que uma maior atenção deveria ser feita em relação à vestimenta de jalecos da equipe de saúde, sendo que muitas vezes seu papel protetor é superestimado.
O avental e as luvas são importantes para a terapia em um paciente, quando houver possibilidade de contato com fluidos corpóreos e devem ser removidos após o uso, pois podem facilmente veicular microrganismo.14Investigação realizada aponta o fato de os alunos utilizarem transporte coletivo vestidos com jalecos, além de freqüentarem cantinas e restaurantes sem a mínima preocupação em estar portando uma roupa com grande chance de estar contaminada. 21
As luvas, por apresentarem menos porosidades e reentrâncias que a pele, possibilitam uma melhor desinfecção, além de conferir natural proteção à contaminação. Luvas devem cobrir os punhos do avental, que deve ter mangas compridas e ser mantido fechado; a máscara deve apresentar paredes duplas ou triplas e se ajustar confortavelmente aos óculos de proteção; os propés devem ser utilizados ou reserva-se um par de sapatos para uso exclusivo no consultório.22
A atenção às estratégias preventivas simples podem reduzir significativamente as taxas de infecções cruzadas.23 Dentre elas, a lavagem freqüente das mãos continua sendo a mais importante medida no controle das infecções. No entanto, identificar mecanismos para garantir o cumprimento pelos profissionais de saúde continua a ser um problema de alta complexidade.
Em um estudo prospectivo observacional foi analisada a obediência ao uso rotineiro de capotes por trabalhadores de saúde e visitantes não trabalhadores de saúde, quando entravam em quartos de pacientes sob precauções de contato. Concluí-se que havia uma melhoria na transmissão de patógenos e que a obediência do uso do capote requer esforços educacionais mais intensos.24
As luvas, batas e máscaras têm um papel a desempenhar na prevenção das infecções, mas muitas vezes são usados inadequadamente, aumentando os custos de serviços desnecessariamente. Enquanto microrganismos virulentos podem ser cultivados a partir de estetoscópios e casacos brancos, seus papéis na transmissão de doenças permanecem indefinidos. Tal como o estetoscópio, o casaco branco foi durante muito tempo um símbolo do profissional de saúde, assim, muitas instituições insistem para que médicos, em especial, o vistam como parte de um código obrigatório. Cerca de metade dos pacientes continua a preferir o seu médico de jaleco branco.23
No entanto, os pacientes podem ficar menos entusiasmados, se compreenderem que casacos brancos constituem fontes potenciais de agentes patogênicos e é fonte de infecção cruzada, particularmente em áreas cirúrgicas.25
A recomendação é que os jalecos devem ser removidos em sacos plásticos e em uma freqüência superior a uma semana. Devem ser seguidas regras simples de biossegurança para assegurar a saúde dos profissionais e dos pacientes no controle de doenças.26
 
CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo apontam no sentido de que os jalecos, bem como outros acessórios usados pelos profissionais da área de saúde, são um veículo potencial para transmissão de microrganismos podendo vir a servir como fonte de infecções associadas aos cuidadores de saúde.
O uso de jalecos se tornou uma prática obrigatória, com a finalidade de proteção dos profissionais durante a realização de procedimentos a pacientes, que envolvam material biológico, no entanto sua utilização indevida (como uso fora do ambiente de trabalho) pode causar sérias conseqüências para a saúde pública.
Pode-se dizer que há poucos estudos em relação à contaminação de uniformes utilizados por profissionais da área de saúde. É necessário que se realizem mais pesquisas para verificar a observância da existência de infecção cruzada por vestimentas utilizadas pelas equipes médicas multidisciplinares.
Sugere-se a realização de campanhas educativas no sentido de orientar os profissionais de saúde sobre o uso de jaleco e a adoção de protocolos rígidos no uso e descontaminação de jalecos por parte das instituições de saúde.
 
REFERÊNCIAS
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Módulo III
Inicie acessando - Revista de Saúde Pública, texto sobre a Biotecnologia na interfase com a Saúde Humana. Ministério da Saúde.
Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v40n5/28.pdf
Em seguida está sugerido um artigo que trata da temática da biotecnologia na perspectiva do desenvolvimento do próprio Brasil.
Biotecnologia em saúde humana no Brasil: produção científica e pesquisa e desenvolvimento
Carlos Torres-FreireI; Denise GolgherII; Victor CallilIII
IPesquisador do Cebrap e doutorando pela USP 
IIDoutora pela Johns Hopkins University (EUA) com pós-doutorado na University of Oxford (Inglaterra), atua como consultora em biotecnologia e saúde humana desde 2003 
IIIPesquisador do Cebrap e mestrando pela USP
 
 RESUMO
O artigo apresenta um panorama do setor de biotecnologia em saúde humana no Brasil mostrando sua concentração espacial e setorial em termos de produção científica, a dependência do setor privado em relação aos investimentos públicos para P&D, a baixa capacidade de inovação na cadeia de novas drogas e uma desconexão entre os avanços em ciência e tecnologia e a inovação no setor privado de biotecnologia em saúde humana. Ao jogar luz sobre três dimensões da CT&I para a biotecnologia em saúde humana no Brasil - distribuição no território, produção científica e P&D em empresas -, sugere que, apesar dos avanços realizados em C&T, ainda é necessário superar muitas fraquezas para se alcançar um crescimento econômico baseado em conhecimento e inovação.
Palavras-chave: Biotecnologia; Inovação; Pesquisa e desenvolvimento; Crescimento econômico.
ABSTRACT
The article offers the outlines of the Brazilian biotechnology in human health sector, in terms of scientific output, dependence of the private sector on public funding for R&D, the low capacity for innovation in the development of new pharmaceuticals and the uncoupling between progresses in science and technology and innovation in the private sector of biotechnology in human health, showing its spatial and sectoral concentration. Looking at three relevant aspects - territorial distribution, scientific output and R&D in private corporations -, it indicates that, despite the progresses in the sector, there are still weaknesses to overcome in order to promote economic growth based on knowledge and innovation.
Keywords: Biotechnology; Innovation; Research and development; Economic growth.
 
De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, o complexo do setor de biotecnologia em saúde humana no Brasil - conjunto de atividades científicas e produtivas que figura no debate público como parte do chamado "complexo econômico industrial da saúde"1, por um lado, e do setor de biotecnologia, por outro - é um mercado de aproximadamente R$ 160 bilhões por ano, que emprega cerca de vinte milhões de trabalhadores diretos e indiretos2. A conexão entre saúde (de forma geral) e a inovação em saúde humana e biotecnologia (foco deste artigo) aparece nas palavras de Gadelha, que oferece uma "abordagem sistêmica" de análise:
a saúde atua como consumidora e demandante de equipamentos médico-hospitalares, produtos farmacêuticos, imunoderivados, soros e demais insumos relacionados à prestação desses serviços e acabam por dinamizar uma relação com subsistemas industriais de base química e biotecnológica, além daqueles de base mecânica, eletrônica e de materiais3.
O presente artigo dialoga com a literatura sobre "complexo econômico industrial da saúde", "sistema de inovação do setor de saúde" e "biotecnologia para saúde". Ao apresentar novas análises sobre a produção científica e a P&D voltada à biotecnologia em saúde humana no Brasil4, busca contribuir com tal debate e propõe que é preciso olhar para a biotecnologia como um setor da economia que pode ser entendido como um conjunto de empresas atuantes no Brasil e que desenvolvem, de fato, alguma atividade biotecnológica. A Fundação Biominas foi pioneira em realizar estudos para compor panoramas do setor ao longo dos anos 20005. Segundo o estudo Brazil biotech map,o setor é formado por empresas jovens e pequenas, cerca de metade delas atuando em saúde humana6.
Além do complexo da saúde e do setor de biotecnologia, o sistema de ciência e tecnologia constitui outro tópico necessário para estruturar a análise do objeto deste artigo. Nos últimos vinte anos o Brasil avançou em termos de C&T. A formação de pesquisadores titulados aumentou dez vezes de 1993 a 2011, atingindo aproximadamente 43 mil mestres e 12 mil doutores7. De 1996 a 2009, o Brasil triplicou a sua participação na produção mundial de artigos indexados, de 0,9% para 2,7%. Em áreas como biologia, o Brasil só fica atrás de Estados Unidos e China, em termos absolutos; e, em medicina clínica, atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Japão e China8. Ademais, o aumento no financiamento para CT&I (principalmente com a criação dos fundos setoriais a partir de 1999) e as mudanças regulatórias (como a Lei do Bem e a Lei de Inovação) ampliaram as possibilidades de um processo de desenvolvimento baseado em conhecimento e inovação.
No entanto, apesar dos avanços realizados em C&T - pilar de todo o setor de biotecnologia -, ainda é necessário superar muitas fraquezas para se alcançar um crescimento econômico baseado em conhecimento e inovação. O dispêndio em P&D, por exemplo, ainda é baixo em termos relativos - 1,1% do PIB, quando a média da OCDE é de 2,9% e da UE é de 1,8% -, muito embora esteja aumentando em termos absolutos - o Brasil investe cerca de US$ 23 bilhões, comparável a Espanha e Itália9. A minoritária participação do setor empresarial nesse tipo de investimento tem consequências, como o persistente baixo número de patentes - em maioria de instituições públicas. E, a despeito do maior número de mestres e doutores, 68% dos pesquisadores ainda trabalham na academia10.
Segundo Gadelha11, a carência de atividades mais intensivas em tecnologia na área de saúde está relacionada à crescente demanda por produtos e serviços importados. O déficit na balança comercial do "complexo econômico industrial da saúde" subiu de US$ 3 bilhões, em 2003, para US$ 10 bilhões, em 2011, sendo metade em medicamentos e insumos farmoquímicos, 23% em equipamentos, 17% em hemoderivados e 10% em reagentes, vacinas e soros12.
Qual seria, então, a situação do Brasil em termos de CT&I para a biotecnologia em saúde humana? No contexto de um amplo complexo da saúde, que requer biotecnologia para inovar e tornar-se mais competitivo e avanços em C&T, quais seriam os prós e os contras do país nessa área? A fim de cercar tais questões, este artigo joga luz sobre três dimensões da CT&I para a biotecnologia em saúde humana no Brasil: distribuição no território, produção científica e P&D em empresas.
A estrutura produtiva e a infraestrutura de CT&I da biotecnologia em saúde humana no Brasil são fortes e vêm crescendo, todavia, são também concentradas e muito dependentes do Estado. Espacialmente, encontram-se aglomeradas na região Sudeste do Brasil, em especial, em poucas cidades do estado de São Paulo. São setorialmente concentradas, com produção científica de fronteira e inovação em poucas áreas de conhecimento, como cardiologia, câncer e doenças infecciosas. Por fim, quase a totalidade das empresas, a maioria, micro e pequenas, depende de financiamento público para P&D.
Contando com esta introdução, o artigo está estruturado em quatro seções ao todo. A segunda trata da capacidade de produção científica relacionada à biotecnologia em saúde humana, em que são utilizadas informações sobre recursos humanos (mestres, doutores e docentes a partir do banco de dados de programas de pós-graduação da Capes) e artigos publicados (Scopus e Thomson/ISI). Na terceira seção, o foco são as empresas e o financiamento em P&D, a partir de dados dos programas Subvenção econômica da Finep (federal) e Pesquisa inovativa em pequenas empresas da Fapesp (estadual), além de um levantamento sobre realização de ensaios clínicos (na plataforma "clinicaltrials.gov"). Finalmente, a quarta seção aponta desafios para a biotecnologia em saúde humana no Brasil e levanta questões para discussão.
 
PRODUÇÃO CIENTÍFICA E BIOTECNOLOGIA EM SAÚDE HUMANA NO BRASIL
A produção científica em universidades, centros de pesquisa e instituições de ciência e tecnologia é um dos pilares da biotecnologia em qualquer parte do mundo. O Brasil tem um sistema de pós-graduação bem estruturado, que proporciona condições para que a formação de recursos humanos no campo da ciência seja avançada em algumas áreas, embora bastante desigual em termos setoriais e de distribuição no território.
Nos últimos vinte anos, as instituições do sistema de C&T13 brasileiro aperfeiçoaram sua atuação, houve crescimento nos dispêndios em P&D no país e o sistema de ensino superior e pesquisa tem apresentado resultados positivos em termos de recursos humanos (formação de pesquisadores) e produção científica (artigos publicados). No entanto, o impacto dessas publicações e a produção tecnológica (medida por patentes) não avançaram14. A análise a seguir foca os recursos humanos em pesquisa como proxy do potencial de produção científica, passando, brevemente, pela evolução da publicação de artigos.
Recursos humanos para pesquisa
No que se refere à formação de recursos humanos em nível de pós-graduação, o crescimento no Brasil, nas duas últimas décadas, foi expressivo. Em 1987, o país formou 3.865 mestres e 1.005 doutores. Em 2011, foram titulados cerca de onze vezes mais mestres (42.830) e doze vezes mais doutores (12.217) do que há 24 anos (Gráfico 1).
 
 
Três pontos merecem destaque em relação a essa tendência de crescimento. O primeiro é que há forte concentração no Estado de São Paulo: um quarto dos mestres e 40% dos doutores se titularam por instituições paulistas. O segundo é que, apesar de a proporção de pesquisadores no total da população estar melhorando no Brasil, ela ainda é baixa (660/milhão) quando comparada às dos países desenvolvidos - 4.500/ milhão nos Estados Unidos e na Coreia do Sul e 5.500/milhão no Japão15. Desse modo, o Brasil contribui com apenas 1,7% dos pesquisadores do mundo, muito menos que todos os países desenvolvidos, mais China, Índia e Rússia. O terceiro é o fato de os pesquisadores encontrarem poucas oportunidades no mercado de trabalho brasileiro, sendo majoritariamente empregados em universidades e institutos de pesquisa (68%), e não no setor privado (com apenas 26,5%), como ocorre nos países desenvolvidos16. O baixo percentual de pesquisadores no setor privado pode estar relacionado às baixas taxas de inovação e de tecnologia proprietária das empresas (como veremos mais à frente).
A despeito dessas dificuldades, o incremento na formação de recursos humanos no Brasil foi significativo nas grandes áreas de conhecimento relacionadas a saúde humana e biotecnologia. Se tomarmos como ponto de partida o ano 2000, o número de mestres e doutores tem crescido, e em 2011 era praticamente o dobro nas áreas de ciências biológicas e da saúde. Em relação ao total, em 2011, 22% dos 42.830 novos mestres no Brasil eram das áreas de ciências biológicas e da saúde, assim como 30% dos 12.217 doutores titulados no mesmo ano (Gráfico 2).
 
 
Visto o aumento expressivo, de modo geral, na formação de recursos humanos, uma opção para a análise do potencial de produção científica voltada à biotecnologia em saúde humana no país é a utilização das informações da Capes sobre a pós-graduação, tanto pública como privada, conforme apresentado a seguir.
Potencial de pesquisa em saúde humana e biotecnologia
A fim de apresentar um panorama mais específico da capacidade de produção científica em biotecnologia em saúde humana no Brasil, selecionamos algumas subáreas de conhecimento das ciências biológicas e da saúde cujos cursos de pós-graduação podem ter projetos em biotecnologia em saúde humana. Antes de realizar os cruzamentos dos dados, foi preciso um trabalho de filtragem das áreas17 que seriam de interesse pelo fato de estarem relacionadas ou servirem de base para atividadesbiotecnológicas.
A unidade do banco de dados da Capes é o programa de pós-graduação, e aqui utilizamos o número de matriculados (mestrandos e doutorandos) e de docentes em cada um dos programas18 em 2011. Assumimos que tal informação possa ser tomada como proxy da capacidade de recursos humanos para a produção de C&T no país, uma vez que se trata daqueles que estão fazendo pesquisa atualmente e formalmente em programas de pós-graduação19.
Na impossibilidade de detalhar precisamente e desagregar por áreas de conhecimento tanto esse conjunto de doutores como aqueles pesquisadores em empresas ou em laboratórios de pesquisa público e privados (sem vínculo com pós-graduação), utilizamos aqui a informação disponível da Capes, que permite uma organização em áreas relacionadas à biotecnologia em saúde humana.
A análise com base em docentes e pesquisadores em mestrado e doutorado como proxy de produção científica na academia mostra que há um potencial para a criação de conhecimento nas áreas relacionadas à biotecnologia em saúde humana, mas que ela está bastante concentrada em algumas cidades e com pesquisa avançada em poucas áreas de conhecimento. Há no Brasil 11.813 docentes e 29.115 pesquisadores matriculados em programas de pós-graduação de mestrado e doutorado nas áreas aqui selecionadas20. Isso representa 18% do total de docentes do Brasil e 17% dos mestrandos e doutorandos matriculados em programas de pós-graduação no país.
O estado de São Paulo concentra 37,5% desses 40.928 pesquisadores (matriculados em mestrado e doutorado e docentes), bem acima de outros estados, como Rio de Janeiro (12,5%), Minas Gerais (8,6%) e Rio Grande do Sul (8,2%). Além do eixo Sudeste/Sul, todos os estados da região Nordeste somam 15% dos pesquisadores em áreas relacionadas à biotecnologia em saúde humana (Pernambuco, 4,2%; Ceará, 3,4%; e Bahia, 2,9%).
Isso se reflete em uma análise espacial mais desagregada, uma vez que apenas 79 municípios (do total de 5.565) concentram todos os 40.928 pesquisadores. Entre as cinco cidades com mais pesquisadores, três são do estado de São Paulo: a capital (19%), Campinas (5,6%) e Ribeirão Preto (5,3%). As outras duas são as capitais dos estados do Rio de Janeiro (10,8%) e do Rio Grande do Sul (5,6%). Belo Horizonte (4,9%) aparece em sexto, pouco acima de Recife (4,1%) (Mapa 1).
 
 
A produção científica concentrada é positiva por um lado, ao permitir a troca de conhecimento e o fortalecimento de centros de referência em pesquisas de fronteira. Por outro lado, diminui as possibilidades de formação de pesquisadores e de florescimento de novos centros, o que, por sua vez, diminui a diversidade, as oportunidades de aproveitamento do conhecimento de cada região (como a biodiversidade brasileira para pesquisa no caso da Amazônia) e do próprio desenvolvimento local e de longo prazo, características mais suscetíveis de experiências de crescimento baseadas em conhecimento e inovação.
No que se refere às áreas de conhecimento, o maior destaque em quantidade de pesquisadores do conjunto de áreas aqui selecionado é a medicina. A soma de especialidades da medicina representa 6% do total de pesquisadores do Brasil, boa parte em cirurgia, patologia, cancerologia e cardiologia. Outro grupo com significativo número de mestrandos, doutorandos e docentes é o das áreas relacionadas à química voltada para saúde humana: bioquímica, farmácia, farmacologia e engenharia química somam 9.123 pesquisadores, ou seja, 4% do total no Brasil. Pesquisadores em microbiologia, imunologia, doenças infecciosas e parasitologia somam 4.393 - 2% do total do Brasil. Uma área que cresceu bastante nos últimos anos no país foi a genética, cuja participação no total do país é de 1% (2.166 pesquisadores).
A biotecnologia como área de conhecimento específica na pós-graduação brasileira é recente. Dado seu caráter interdisciplinar, muito da pesquisa biotecnológica está em outras áreas. Mesmo assim, vale lembrar que o número de pesquisadores em biotecnologia e engenharia biomédica somavam 3.281 (1,5% do total do Brasil).
Produção científica: mais publicações em áreas relacionadas à biotecnologia
De acordo com o último SIR World Report, que ranqueou 3.290 instituições de pesquisa de 106 países, o Brasil ocupa a 10-a posição em performance científica21. Isso se deve em parte ao crescimento, nos últimos anos, no número de publicações brasileiras de forma geral e na participação relativa do país no total produzido no mundo. Segundo a base Scopus, em 2011, o Brasil publicou 46.933 artigos, 2,3% dos 2.062.532 no mundo (mais da metade da América Latina, 54,1%)22.
Em relação às informações sobre número de artigos publicados em periódicos científicos indexados de outra fonte, a Thomson/ISI, o Brasil produzia seis mil em 1996 e 32 mil em 2009. Isso significa um salto na participação nas publicações no mundo, passando de 0,9% do total mundial em 1996 para 2,7% em 200923. Junto com China, Coreia do Sul, Turquia e Taiwan, o Brasil ficou entre os cinco países com maior crescimento percentual na publicação de artigos entre 1981 e 2009. Em termos absolutos, entre 2001 e 2009, apenas China, Estados Unidos, Coreia do Sul, Índia e Canadá tiveram variação maior que a brasileira24. O Brasil ocupa agora a 13-a posição no ranking mundial, mas ainda permanece atrás de países de menor economia e população, como França (65 mil), Canadá (55 mil), Itália (51 mil), Espanha (44 mil), Coreia do Sul (39 mil) e Austrália (38 mil), fora Estados Unidos, China, Reino Unido, Alemanha e Japão25.
 
 
O número de artigos publicados é outro indicador que explicita a concentração regional da ciência no Brasil: apenas sete universidades (todas públicas) respondem por 60% desses artigos em periódicos internacionais, sendo que a USP é responsável por cerca de um quarto do total26.
Nas grandes áreas de conhecimento há uma participação expressiva do Brasil em áreas relacionadas à saúde humana e biotecnologia. Das onze áreas em que o país tem maior participação em artigos publicados indexados no total mundial, sete delas estão relacionadas à saúde humana e/ou à biotecnologia e aumentaram sua participação na produção mundial entre 2004 e 200927 (Tabela 1). Além disso, farmacologia e toxicologia, microbiologia, biologia e bioquímica, e neurociências e ciências comportamentais são conjuntos em que o Brasil tem maior peso relativo, já que aparecem com participação acima da média geral brasileira no mundo (2,7%)28.
 
 
Em relação ao impacto das publicações brasileiras, apesar de ainda ser baixo, é interessante notar que aumentou, passando de 1,45 citações por artigo, dois anos após a publicação, em 2000, para 2,05 citações, em 200729. E as áreas que mais se destacam são justamente aquelas relacionadas à saúde, e com origem, principalmente, no estado de São Paulo30.
Por fim, vale mencionar a evolução do Brasil nas duas últimas décadas em termos de registros de patentes. Houve um aumento no número de patentes depositadas no escritório dos Estados Unidos (USPTO) entre 1988 e 2011. Considerando os depósitos com primeiro autor residente no Brasil, foram 71 pedidos, em 1988, e 586, em 2011 - 725% de aumento. E as concessões subiram de 29, em 1988, para 254, em 2011 (775%).
No entanto, esse crescimento em valores absolutos não foi expressivo em termos relativos, pois muitos outros países também aumentaram o seu número de patentes, sendo que alguns, como Coreia do Sul, China, Índia, tiveram desempenho muito acima do Brasil. Por tal motivo, o país, que ocupava a 30-a posição no ranking de patentes concedidas em 1988, passou apenas para a 29-a em 2011. Ou seja, o Brasil continua ocupando uma posição de pouco destaque no ranking de países em termos de registro internacional de propriedade intelectual. Além disso, vale ressaltar: a maioria das patentes é gerada nas universidades e institutos de pesquisa públicos, e não no setor privado, diferentemente dos demais países como os Estados Unidos; e metade delas tem origem no estado de São Paulo31.
Embora tenha aumentadoa publicação de artigos científicos, falta ao Brasil ampliar o impacto dessa produção científica no debate internacional. Universidades, como a USP, e agências de fomento, como a Fapesp, têm explicitado e apoiado cada vez mais a necessidade de os pesquisadores buscarem a internacionalização de seus projetos, mediante parcerias com pesquisadores do exterior e publicação nos principais periódicos do mundo.
 
NOVOS PROJETOS EM SAÚDE HUMANA: A CONEXÃO ENTRE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
O setor privado brasileiro investe pouco em P&D: 0,5% do PIB, sendo cerca de um terço desse investimento proveniente de renúncia fiscal via leis de incentivo. A título de comparação, a média da UE é 1,15% e a da OCDE 1,58% do PIB. O país cujo setor privado mais investe são os Estados Unidos, com 2% do PIB. Disparidade que, no entanto, não é tão grande no que se refere ao investimento público em P&D: 0,59% do PIB no Brasil, contra 0,62% do PIB na UE e 0,69% na média da OCDE, tampouco muito longe dos países com maior gasto público em P&D, a saber Austrália e Canadá, na casa de 0,85% do PIB32.
Tais informações ganham ainda maior sentido quando observamos as fontes de financiamento para P&D das empresas de biotecnologia em saúde humana. Duas instituições federais têm papel mais importante na distribuição de fundos não reembolsáveis para projetos inovadores em biotecnologia em saúde humana: a Finep, agora Agência Brasileira de Inovação, que publica chamadas específicas de editais de subvenção para empresas (cuja análise será feita a seguir), e o BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que possui diferentes programas de incentivos à inovação - o Funtec é o seu fundo não reembolsável33. No que se refere à esfera estadual, há significativo investimento das agências de fomento, principalmente da Fapesp.
Para fins de contextualização, entre 237 empresas de biotecnologia no Brasil identificadas no Brazil biotech map 2011, 53% (125 empresas) têm saúde humana e insumos (a maioria de reagentes) como principal área de atuação34. Desse conjunto de empresas de biotecnologia em saúde humana, 79% utilizam recursos públicos para P&D, sendo que 61% utilizam Finep, 40%, programas do CNPq, e 44% recorrem a fundações estaduais de amparo à pesquisa (Fapesp e Fapemig, por exemplo). Vale lembrar que são empresas jovens (67% criadas após 2000) e pequenas (70% têm faturamento até R$ 2,4 milhões e 83% têm até 50 empregados). Esses dados sugerem, pois, a dependência das empresas com atividades biotecnológicas na área de saúde humana em relação às agências públicas de fomento à inovação. Espaço que, em outros países, é ocupado, pelo menos em parte, pelo capital de risco privado.
A seguir apresentamos informações de duas importantes fontes de financiamento para as empresas que atuam na área de biotecnologia/saúde humana no Brasil, a Subvenção econômica, da Finep, e o programa Pesquisa inovativa em pequenas empresas (PIPE), da Fapesp, e avaliamos a experiência da inovação a partir de uma breve análise de ensaios clínicos no Brasil.
Investimento federal EM P&D: o caso da Subvenção econômica da Finep
Com o objetivo de compreender melhor a natureza e a localização geográfica dos projetos inovadores em saúde humana desenvolvidos no país, analisamos os projetos aprovados pela Finep no âmbito da subvenção econômica, que é o instrumento para concessão de recurso não reembolsável da instituição35. O primeiro achado é que a metade de todos os projetos foi de empresas do estado de São Paulo. Rio Grande do Sul aparece em segundo lugar, com 10% das concessões, e em terceiro, Minas Gerais e Paraná, ambos com 9%. Rio de Janeiro tem 7%, e Goiás, Santa Catarina, Ceará, Brasília, Amazonas, Paraíba, Pernambuco e Piauí juntos somam 15%36.
É importante ressaltar que a Finep, assim como outras instituições de fomento federais, possui uma política para favorecer o desenvolvimento das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, estabelecendo que 30% dos recursos de uma chamada sejam designados prioritariamente a essas regiões. O levantamento mostra que as três regiões contribuíram somente com 14% de todos os projetos aprovados, indício de que não houve projetos suficientes enviados por seus respectivos estados ou que os projetos enviados não preencheram os requisitos para aprovação.
Como saúde humana compreende áreas bastante diversas, categorizamos os projetos por área terapêutica37. Foi possível, então, agrupá-los em 13 categorias: câncer, saúde dentária, doenças cardiovasculares, dermatologia, doenças infecciosas, doenças negligenciadas, ortopedia, genética, medicina regenerativa, inflamação, endocrinologia, dores crônicas e doenças respiratórias. Câncer é a categoria com maior número de projetos, 20% do total, seguida de saúde dentária (14%), doenças cardiovasculares (13%), dermatologia (13%) e doenças infecciosas (10%) (Gráfico 4).
Ao avaliarmos a distribuição geográfica das cinco categorias predominantes, apesar da concentração dos projetos aprovados no Estado de São Paulo, especialmente em câncer, doenças cardiovasculares e doenças negligenciadas, a região Sul (Paraná, com dez casos, e Santa Catarina, com cinco) se destaca em projetos inovadores em ortodontia38.
Por fim, é importante ressaltar que, quando a Finep lança um edital do programa Subvenção, geralmente já estão definidos previamente áreas e temas. Por exemplo, áreas prioritárias em uma chamada podem ser biotecnologia, saúde e energia. Dentro de cada área são definidos temas para submissão de projetos. As áreas e respectivos temas podem variar a cada ano e são decisões que envolvem o MCTI, não só a Finep. Em 2008, por exemplo, o edital Subvenção estabeleceu que um dos temas para submissão de projetos na área de saúde era "Desenvolvimento de dispositivos diagnósticos, prognósticos e ferramentas terapêuticas para doenças negligenciadas e câncer". Assim, os seis projetos em câncer aprovados no estado de Minas Gerais não foram de empresas dedicadas à pesquisa em câncer, mas de empresas de diagnóstico molecular que submeteram projetos envolvendo diagnóstico de câncer.
Uma breve análise complementar ao instrumento da Subvenção que vale ser feita neste artigo é sobre o programa Inovar fundos39, voltado ao desenvolvimento da indústria de venture capital no Brasil, em que a Finep realiza chamadas públicas de propostas de capitalização para apoiar gestores de fundos. Ao analisarmos o documento com resultados do programa até 2012, notamos que: (i) somente 25% vão para seed capital, aquilo que empresas iniciantes precisam; (ii) considerando os fundos de seed e venture capital com participação da Finep, poucos têm como foco a biotecnologia, e, quando têm, saúde humana não é área prioritária. Do total de cem empresas, identificamos cinco em saúde humana. Dentre elas, três são dedicadas a serviços (clínica oncológica, CRO e fertilização in vitro) e somente duas na área de biotecnologia em saúde humana40; uma em ortodontia e outra dedicada à descoberta de novas drogas para saúde humana41.
O capital de risco no Brasil não está investindo em empresas voltadas para biotecnologia em saúde humana, como ocorreu com o fundo de seed money do BNDES, Criatec I, já encerrado. O portfólio de empresas de biotecnologia que receberam investimento abrangia agronegócio e saúde humana, mas, neste caso, empresas de equipamentos e de tecnologia da informação em saúde e serviços. O investimento "de risco" tem mostrado mais interesse em aplicações diretas na área da saúde, como hospitais, empresas de diagnóstico, equipamentos, tecnologia da informação aplicada à saúde, do que em projetos em biotecnologia, que são densos em tecnologia e de alto custo e risco. Com exceção do exemplo já antigo da Biobrás, a biotecnologia nacional carece de casos de sucesso em saúde humana.
Investimento estadual em P&D: o programa pesquisa inovativa em pequenas empresas (PIPE)
O estado de São Paulo é o que mais investe em P&D no Brasil. Cerca de um terço do gasto público em P&D no país (ou 0,2% do PIB) vem de fundos estaduais.

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