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A Historiografia Pós-Moderna

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Aula 8 – A Historiografia Pós-Moderna em Perspectiva
O que propomos nesta aula é:
Em primeiro plano, o exame do atual estágio do campo disciplinar da História, marcado, por sua vez, pela grande quantidade de informações e pelo apelo midiático que vem se tornando cada vez mais capaz de influenciar a prática profissional dos historiadores;
Em segundo plano, a discussão sobre a importância da leitura da bibliografia secundária para toda e qualquer pesquisa e a forma como esse tipo de material precisa ser mobilizado em um projeto de pesquisa histórica.
A Discussão Narrativista e o Primado da Interpretação sobre a Realidade
O pós-modernismo é um daqueles conceitos que padecem de um mal-estar (Essa situação de mal-estar conceitual fica clara na própria terminologia; o “pós-modernismo”, ou a “pós-modernidade”, toma como referência outra experiência cultural, que lhe é anterior, que no caso seria a “modernidade”.) quase ontológico, o que torna a sua definição uma tarefa árdua que alguns afirmam ser impossível. Definir o pós-modernismo não é o interesse dessa aula; desejamos tão somente explorar algumas características dessa situação cultural e apontar os seus impactos no campo disciplinar da História, visando mostrar como a consciência histórica está em constante diálogo com o seu tempo. Para isso, utilizamos os estudos de alguns autores que já se aventuraram por esse debate, como, por exemplo, François Lyotard, Durval Muniz, Franklin Rudolf Ankersmit e Keith Jenkins.
O fio condutor da reflexão está no questionamento da capacidade do conhecimento histórico em representar as realidades passadas. Diante disso, o passado, pensado aqui como experiência concreta, parece perder espaço, o que possibilitou o fortalecimento da dimensão interpretativa da representação historiográfica. Em outras palavras, já não estamos mais tão seguros a respeito da nossa capacidade em representar as experiências pretéritas.
Também não acreditamos na existência de uma realidade objetiva apta a se colocar como uma espécie de árbitro capaz de definir qual intepretação é mais correta. Assim, a historiografia especializada se tornou uma grande arena de conflitos entre intepretações diferentes e por vezes rivais, como veremos a seguir.
Produção Historiográfica na Pós-Modernidade
Vejamos a visão de alguns autores sobre a produção historiográfica na pós-modernidade.
François Lyotard
Mesmo sem se aventurar a desenvolver uma definição mais precisa, o que, repetimos, talvez seja impossível, o filósofo francês François Lyotard apontou aquela que nos parece ser a principal característica da pós-modernidade e da historiografia pós-moderna. O aspecto mais fundamental da condição pós-moderna é a morte dos centros, o colapso das propostas racionalistas que se ancoravam no princípio de que de fato era possível conhecer a realidade e que a realidade era um dado objetivo, com existência própria e independente da cognição humano, sendo, por isso, passível de ser conhecida.
A condição pós-moderna se fundamenta na incredulidade diante das metanarrativas modernas (Lyotard, 1979, p. 94). É claro que essa “morte dos centros” da qual nos fala Lyotard precisa ser pensada como o desdobramento de uma experiência cultural muito maior; é justamente essa experiência que estamos aqui chamando “pós-modernidade”.
Keith Jenkins
Para Keith Jenkins, historiador britânico, a definição do “pós-modernismo” é particularmente difícil devido a um dos princípios fundamentais que caracterizam essa experiência cultural: a definição da experiência como algo líquido, incerto e, no limite, impossível de ser objetivada. Preocupado em entender os desdobramentos da pós-modernidade na historiografia, escreveu um livro fundamental para esse debate; trata-se da obra A História repensada.
O autor defende nesse trabalho a necessidade do exercício de repensamento da historiografia na pós-modernidade. Para ele, a historiografia, entendida aqui como um discurso de representação do passado, esteve sempre, desde a sua fundação, com Heródoto, relacionada ao racionalismo e fundada no primado da verdade.
Porém, a condição pós-moderna demanda, segundo o autor, o esforço de refletir sobre esse vínculo entre a historiografia e o binômio razão/verdade. A nossa atual condição cultural nos impele a considerar a História não no seu aspecto tradicional de disciplina à procura de um conhecimento real, mas sim no que ela é: uma prática discursiva que possibilita a mentalidades do presente irem ao passado para sondá-lo e reorganizá-lo de maneira adequada às suas necessidades (Jenkins, 2004, p. 104).
Durval Muniz 
O diagnóstico do historiador brasileiro Durval Muniz é parecido com o apresentado por Jenkins. No livro História: a arte de inventar o passado, Durval Muniz também relaciona a incredulidade pós-moderna com as experiências das guerras mundiais do século XX, quando a racionalidade científica foi apropriada em função da destruição e não do progresso, como projetavam os sistemas filosóficos modernos.
Para o autor: No simbolismo do século XX se condensa todo o fracasso da modernidade, a falência do humanismo e o fim do sonho iluminista. Todas as promessas da filosofia da História do século XIX, de uma História teleológica, atravessada pela razão, em direção à civilização, ao progresso, à liberdade, à igualdade e à fraternidade são calcinadas junto com milhares de japoneses. A validade destas metanarrativas que tentaram unificar a totalidade da experiência histórica da modernidade, dentro de um projeto de emancipação humana global, é contestada violentamente (Muniz, 2007, p. 56).
Diante desse cenário, o conhecimento histórico se viu diante de uma série de interrogações que questionaram a sua real capacidade de conhecer a realidade passada. Essas interrogações provocaram todo um movimento de reavaliação da história, dos seus procedimentos e dos seus objetivos.
Estamos aqui muito distantes dos discursos cientificistas do século XIX e muito próximos dos debates do giro linguístico, que já estudamos na aula 4. O importante é entendermos que, nesse ambiente intelectual marcado pelas incertezas, a realidade histórica perde a soberania e destaca-se a dimensão bibliográfica do conhecimento histórico.
O conhecimento histórico torna-se, assim, a invenção de uma cultura particular, num determinado momento, que, embora se mantenha colado aos monumentos deixados pelo passado, à sua textualidade e à sua visibilidade, tem que lançar mão da imaginação para imprimir um novo significado a estes fragmentos. A interpretação em História é a imaginação de uma intriga, de um enredo para os fragmentos de passado que se têm na mão. [...] A pós-modernidade, ao romper com o cientificismo e o racionalismo moderno, instaura um paradigma ético-estético na pós-modernidade, o conhecimento histórico, a escrita da História mudam de estatuto.
Podemos, enfim, livrar-nos da exigência da cientificidade entendida como produção de um conhecimento capaz de apreender a verdade única do passado, das leis eternas e imutáveis, das organizações estruturais, sistêmicas, o que já foi feito inclusive pelas chamadas ciências da natureza (Muniz, 2007, p. 65).
Franklin Rudolf Ankersmit
Franklin Rudolf Ankersmit diagnosticou com precisão a hipertrofia da produção historiográfica na pós-modernidade e a consequente dimensão bibliográfica que passa a caracterizar o conhecimento histórico. Tomando como exemplos os estudos a respeito da filosofia de Thomas Hobbes, o autor afirma que: Existem dois aspectos desta superprodução não intencional. Em primeiro lugar, a discussão sobre a obra de Hobbes torna-se uma discussão sobre a interpretação da obra de Hobbes, em vez de ser uma discussão sobre a obra em si.
O texto original às vezes parece ser pouco mais do que a quase esquecida razão da guerra de interpretações de hoje em dia. Em segundo lugar, por evidentemente prestar-se a múltiplas interpretações, o texto original de Hobbes perdeu sua capacidade de funcionar como árbitro no debate dentroda História. Devido a tantas interpretações, o texto em si tornou-se vago, uma aquarela na qual as linhas se fundem. Isso significa que a ingênua crença de que o texto poderia oferecer uma solução para nossos problemas de interpretação tornou-se tão absurda quanto crer em sinalização de rosa-dos-ventos. O resultado paradoxal desta situação é que o texto em si não tem mais autoridade em uma interpretação e que nos sentimos até compelidos a recomendar que nossos alunos não leiam Leviathan independentemente; é mais fácil antes tentar encontrar um caminho através da selva das interpretações. Resumindo — não temos mais textos, nem mais passado, apenas interpretações destes (Ankersmit, 2011, p. 113-114).
Sem entrar no mérito das críticas desenvolvidas por Ankersmit à historiografia contemporânea, pós-moderna, nas palavras do próprio autor, desejamos chamar a sua atenção para a importância do levantamento bibliográfico como um dos primeiros passos de qualquer pesquisa. Uma vez definidos o tema e o objeto da pesquisa – e estudaremos melhor esse exercício nas duas últimas aulas dessa disciplina–, é fundamental que o pesquisador busque referências bibliográficas sobre o assunto. Isso pode ser feito com a ajuda de um professor orientador e com pesquisas no banco de teses da CAPES ou no portal de periódicos científicos como, por exemplo, o Scielo.
A Identidade Epistemológica da História nos Tempos da Produção Hipertrofiada
O arrancar do que ainda sobrou do vivido no calor da tradição, no mutismo do costume, na repetição do ancestral, sob o impulso de um sentimento histórico profundo. A ascensão à consciência de si mesmo sob o signo do terminado, o fim de alguma coisa desde sempre começada. Fala-se tanto de memória porque ela não existe mais (Nora, 1993, p. 07).
O historiador francês Pierre Nora é uma das principais referências para a discussão não apenas da historiografia pós-moderna, mas também, e fundamentalmente, das atuais políticas públicas de preservação da memória. Para o autor, nunca antes na História os homens demonstraram tanto interesse pelo passado, o que traduz a combinação da curiosidade com o medo da perda.
Nora afirma que essa preocupação preservacionista se materializa, por vezes, em espaços destinados à lembrança, aquilo que ele mesmo chama de “lugares de memória” (Momento de articulação onde a consciência de ruptura com o passado se confunde com o sentimento de uma memória esfacelada, mas onde o esfacelamento desperta ainda memória suficiente para que se possa colocar o problema de sua encarnação (Nora, 1993, p. 07).).
Sem querer entrar no mérito distinção que o autor propõe entre a memória e a História, afirmando que a primeira seria afetiva e a segunda racional, o que nos parece ser bastante problemático, é importante destacar a precisão com que Nora aponta o enorme interesse pelo passado que caracteriza os nossos tempos.
Desafios para os Historiadores Profissionais
Diante do grande interesse pelo passado, surgem alguns desafios para os historiadores profissionais: Como manter a identidade epistemológica da história quando existe uma multiplicidade de vozes interessadas em falar algo sobre o passado? Quais recursos precisam ser mobilizados pelos historiadores profissionais visando qualificar o resultado do seu trabalho como o produto de uma ação especializada? Para refletir sobre essas questões, dialogamos com autores que já se debruçaram sobre essas inquietações, como, por exemplo, o já citado Durval Muniz e o historiador alemão Jorn Rusen.
Durval Muniz
Mesmo com a sua reflexão a respeito da literariedade característica da historiografia pós-moderna, Durval Muniz insiste em afirmar a diferença entre a História e a Literatura. Ele o faz, é claro, de maneira pouco ortodoxa, e não colocando no suposto compromisso com a verdade o fundamento da distinção* entre esses dois tipos de linguagens. O que distinguiria, então, a prosa historiográfica da prosa literária seria, na concepção do autor, o controle da imaginação.
Por mais que o historiador também utilize da imaginação no trato com a documentação e com a bibliografia secundária, ele jamais pode ter a mesma liberdade de especulação que o literato. A distinção proposta por Durval Muniz não é exatamente uma novidade, já estando presente no repertório ocidental desde Aristóteles, para quem a História fala do particular e a poesia – literatura – do universal.
Jorn Rusen
Jorn Rusen analisou os elementos que precisam ser mobilizados para que a prosa historiográfica seja capaz de se afirmar como um discurso especializado nos tempos da massificação do interesse pelo passado. É exatamente esse o objetivo do autor no livro “Reconstrução do Passado”. Para ele, por mais que existam hoje diferentes formas de tratar o passado e que essa multiplicidade seja legitima, é importante que a comunidade profissional dos historiadores continue tentando apresentar ao público uma apropriação técnica e especializada das experiências pretéritas. Essa afirmação precisa, ainda segundo o autor, acontecer nos espaços acadêmico e editorial, o que traduz a preocupação com que os estudos desenvolvidos pelos historiadores profissionais possam chegar ao grande público.
A Operacionalização Prática do Item “Discussão Bibliográfica”
A historiografia profissional deve ser baseada em um cuidadoso procedimento de investigação e na articulação de uma abordagem metodológica adequada à natureza da proposta da pesquisa. Um historiador profissional precisa planejar a sua pesquisa e, para isso, é fundamental a redação de um projeto.
Vamos nos debruçar sobre o projeto de pesquisa na última aula desta disciplina, quando analisaremos todos os itens que compõem esse tipo de texto. Por ora, e seguindo a proposta desta aula, apontamos para a importância da discussão bibliográfica. Quando o historiador apresenta seu trabalho, ele se coloca em diálogo com uma comunidade científica. Por isso, é necessário o intenso exercício de leitura da produção bibliográfica, que se torna cada vez mais extensa em todos os ramos da pesquisa histórica.
Em primeiro lugar, é importante saber que: a discussão bibliográfica não consiste apenas no exercício de listar autores e livros que já trataram do assunto que pretendemos estudar. Vejamos, então, um exemplo prático a partir de uma pesquisa hipotética a respeito da Guerra do Paraguai (1864-1870); qualquer pesquisador que se interesse por esse tema precisa conhecer a produção bibliográfica disponível sobre o assunto.
Conclusão
Como podemos perceber, há no exemplo apresentado anteriormente o esforço do nosso pesquisador hipotético em dialogar com as diversas correntes interpretativas já desenvolvidas a respeito do tema analisado. Os historiadores profissionais costumam fazer isso porque sabem que o seu trabalho é regulado por uma comunidade científica, e o processo de produção do conhecimento precisa ser marcado pelo diálogo com essa comunidade.
Não existe um “ponto zero” do conhecimento; no limite, todo trabalho historiográfico é coletivo em alguma medida, já que o tempo todo precisamos nos remeter a outros trabalhos, sempre tendo o esforço de conversar com eles. Isso não significa, obviamente, que não podemos criticá-los e propor outra forma de pensar o evento em questão. Por isso, é fundamental ler com cuidado o exemplo oferecido e o tome com inspiração para a sua discussão bibliográfica.
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