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APLICABILIDADE DOS PRINCIPIOS DO DIREITO PENAL. Favor rei ou “In dubio pro reo” Consiste em sempre que haver dúvida quanto da lei penal, interpretar a lei em favor do acusado. Podemos entender que quando haver dúvidas quanto a autoria de um delito não existir provas o suficiente para determinar certeza da conduta do agente ligado ao fato lhe imputado como crime. É perceptível a aplicação desse princípio no Código de Processo penal em seu artigo 386, inc VI: Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (...) VII – não existir prova suficiente para a condenação. Nas palavras doutrinarias de Nucci: “ são princípios consequenciais da presunção de inocência: prevalência do interesse do réu (in dubio pro reo, favor rei, favor inocentiae, favor libertatis) e imunidade à autoacusação: o primeiro significa que, em caso de conflito entre a inocência do réu – e sua liberdade – e o poder-dever do Estado de punir, havendo dúvida razoável, deve o juiz decidir em favor do acusado.” (Nucci, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal: Guilherme de Souza Nucci. – 15 ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2018). Ou seja, se o Estado não conseguir provas materiais o suficiente para confirmar a autoria do crime, então o juiz deverá absolve-lo, abaixo estão dois julgados que utilizaram deste princípio: PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO. RECEPTAÇÃO. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE. IN DUBIO PRO REU. 1. Não havendo nos autos prova robusta de que o acusado, efetivamente, tinha ciência da origem ilícita do telefone celular adquirido, a absolvição é medida que se impõe, em homenagem ao brocado in dubio pro reo. 2. Recurso conhecido e provido. (TJ-DF 20160111175058 DF 0033784-37.2016.8.07.0001, Relator: CRUZ MACEDO, Data de Julgamento: 13/12/2018, 1ª TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 21/01/2019 . Pág.: 156/171) PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 33 DA LEI Nº 11.343/2006. DESCLASSIFICAÇÃO PARA POSSE PARA USO PRÓPRIO. ART. 28 DA LEI Nº 11.343/2006. POSSIBILIDADE. TRÁFICO NÃO COMPROVADO. IN DUBIO PRO REU. RECURSO PROVIDO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 1. A quantidade e o tipo de droga, por si sós, não são suficientes para comprovar ou afastar uma acusação por tráfico de drogas, é necessário sopesar, no contexto, o comportamento do acusado. No caso, nem a quantidade e o tipo de droga, nem o comportamento do réu, avaliado no contexto da ocorrência, são capazes de comprovar indubitavelmente a prática do tráfico de drogas; 2. O recorrente deve ser responsabilizado pela droga que trazia consigo para consumo próprio, mas não por tráfico de drogas. In dubio pro réu; 3. Recurso provido; 4. Extinção da punibilidade. (TJ-PE - APL: 4532745 PE, Relator: Democrito Ramos Reinaldo Filho, Data de Julgamento: 25/10/2018, 1ª Câmara Regional de Caruaru - 2ª Turma, Data de Publicação: 05/11/2018) Como podemos ver, os dois trata-se de apelação que foi provida ao princípio in dubio pro reo, ou seja, foram afastadas a ilicitude do fato constituído crime ao agente por não haver provas o suficiente que lhe ligasse ao objeto criminal, ocorrendo portanto no primeiro acordão a absolvição do réu e no segundo acordão a extinção da punibilidade. Direito ao Silencio. Para que não faça provas contra si mesmo, o acusado tem o direito de permanecer calado. É garantido constitucionalmente em seu art. 5º, Inc LXIII: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;” Conforme conceitua Nucci “Há, ainda, a imunidade à autoacusação, sob o princípio de que ninguém está obrigado a produzir prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere): trata-se de decorrência natural da conjugação dos princípios constitucionais da presunção de inocência (art. 5.º, LVII) e ampla defesa (art. 5.º, LV) com o direito humano fundamental que permite ao réu manter-se calado (art. 5.º, LXIII). Se o indivíduo é inocente, até que seja provada sua culpa, possuindo o direito de produzir amplamente prova em seu favor, bem como se pode permanecer em silêncio sem qualquer tipo de prejuízo à sua situação processual, é mais do que óbvio não estar obrigado, em hipótese alguma, a produzir prova contra si mesmo.” (Nucci, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal: Guilherme de Souza Nucci. – 15 ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2018). O Estado aqui é o elemento mais forte dessa persecução penal, pois ele que demanda todo tipo de artimanha para conseguir a confissão do acusado diante do crime, portanto cabe ao acusado permanecer em silencio tanto quanto perante a autoridade policial ou em juízo para que seja assegurado o art. 186 do Código de Processo Penal: Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa. Assim então vejamos dois julgados que utilizara desse princípio: Reclamação. 2. Alegação de violação ao entendimento firmado nas Arguições de Descumprimento de Preceitos Fundamentais 395 e 444. Cabimento. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal deu sinais de grande evolução no que se refere à utilização do instituto da reclamação em sede de controle concentrado de normas. No julgamento da questão de ordem em agravo regimental na Rcl 1.880, em 23 de maio de 2002, o Tribunal assentou o cabimento da reclamação para todos aqueles que comprovarem prejuízos resultantes de decisões contrárias às teses do STF, em reconhecimento à eficácia vinculante erga omnes das decisões de mérito proferidas em sede de controle concentrado 3. Reclamante submetido a entrevista durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão. Direito ao silêncio e à não autoincriminação. Há a violação do direito ao silêncio e à não autoincriminação, estabelecidos nas decisões proferidas nas ADPFs 395 e 444, com a realização de interrogatório forçado, travestido de entrevista, formalmente documentado durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão, no qual não se oportunizou ao sujeito da diligência o direito à prévia consulta a seu advogado e nem se certificou, no referido auto, o direito ao silêncio e a não produzir provas contra si mesmo, nos termos da legislação e dos precedentes transcritos 4. A realização de interrogatório em ambiente intimidatório representa uma diminuição da garantia contra a autoincriminação. O fato de o interrogado responder a determinadas perguntas não significa que ele abriu mão do seu direito. As provas obtidas através de busca e apreensão realizada com violação à Constituição não devem ser admitidas. Precedentes dos casos Miranda v. Arizona e Mapp v. Ohio, julgados pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Necessidade de consolidação de uma jurisprudência brasileira em favor das pessoas investigadas. 5. Reclamação julgada procedente para declarar a nulidade da entrevista realizada e das provas derivadas, nos termos do art. 5º, LVI, da CF/88 e do art. 157, § 1º, do CPP, determinando ao juízo de origem que proceda ao desentranhamento das peças.(Rcl 33711, Relator (a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 11/06/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 22-08-2019 PUBLIC 23-08-2019) (STF - Rcl: 33711 SP - SÃO PAULO 0019106-92.2019.1.00.0000, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 11/06/2019, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-184 23-08- 2019) HABEAS CORPUS. DEPOIMENTO EM COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. DIREITO AO SILÊNCIO E DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO CONSTITUCIONALMENTE GARANTIDO. ORDEM CONCEDIDA. LIMINAR CONFIRMADA. 1. Hipótese em que o paciente, OMAR ANTÔNIO DE BRITTO, ex-presidente da Empresa Baiana de Alimentos - EBAL -, convidado a comparecer na condição de testemunha perante a Comissão Parlamentar de Inquérito instalada pela Assembléia Legislativa do Estado da Bahia que investiga os motivos da crise financeira que acomete a referida empresa, requer a concessão da ordem para comparecer à CPI a fim de prestar os esclarecimentos necessários sem que tenha de assumir o compromisso de dizer somente a verdade e ficando, ainda, resguardado o seu direito de silenciar-se diante de questionamentos que possam levá-lo a produzir prova contra si próprio. 2. Conforme reiteradamente decidido pela Corte Suprema, "o privilégio contra a auto-incriminação que é plenamente invocável perante as Comissões Parlamentares de Inquérito traduz direito público subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condição de testemunha, de indiciado ou de réu, deva prestar depoimento perante órgãos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder Judiciário" (HC 79.812/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 16.2.2001 - grifou-se). 3. É possível, outrossim, a mitigação da Súmula 691/STF "Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de 'habeas corpus' impetrado contra decisão do relator que, em 'habeas corpus' requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar." , na medida em que a decisão atacada pela via do presente habeas corpus, que indeferiu o pedido de liminar formulado nos autos do HC 18.764-7/2007, impetrado no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, é contrária à própria ordem constitucional, bem como à orientação da Corte Suprema. 4. Ordem concedida para garantir ao paciente o direito de não assumir o compromisso da verdade, se assim não desejar, e de permanecer calado em seu depoimento perante a CPI para a qual foi convidado a depor, sem que, por esse motivo específico, seja preso ou ameaçado de prisão, ressalvando-se, porém, a obrigação de o depoente prestar as informações solicitadas, com relação a fatos que não impliquem auto-incriminação. (STJ - HC: 82009 BA 2007/0095521-6, Relator: Ministra DENISE ARRUDA, Data de Julgamento: 05/06/2007, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 29/06/2007 p. 488) Dessa forma, podemos ver que na primeira jurisprudência deriva uma Reclamação julgada pelo STF que julgou procedente e determinou o estranhamento de uma “entrevista” dos autos realizada com o acusado por entender que violava o direito ao silencio. No segundo julgado do STJ sobre a matéria de produção de provas contra a si mesmo, provido a liminar confirmada entendendo-se a pode o acusado permanecer em silencio no depoimento sem que este seja preso ou ameaçado de prisão.
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