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1 ÉTICA E DIREITOS HUMANOS Acadêmicos: Elenaide Santos de Jesus Luciana Bispo da Silva Rosana Silva Oliveira Costa Rosane Nunes de Miranda Pereira Professora Tutora: Sabrine Conceição Carvalho de Araújo Teixeira Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Seminário Interdisciplinar V (SES484) – Prática do Módulo RESUMO: O presente artigo ressalta a relação entre a ética e os direitos humanos. Sobretudo na existência de um compromisso ético presente na luta em prol da efetivação dos direitos humanos. Pontuamos acerca do exemplo brasileiro no qual os direitos humanos estão presentes no ordenamento jurídico, no entanto sua eficácia é prejudicada pela falta do referido compromisso. Revisaremos os períodos formadores de cada geração de direitos, além de aspectos relacionados aos conceitos de cidadania e justiça social. Ressaltamos que não é objetivo deste texto esgotar a análise sobre a temática, mas iniciarmos uma discussão e pontuarmos acerca de pontos cruciais para o estudo do mesmo. Palavras Chave: Ética. Direitos Humanos. Cidadania. Justiça Social 1. INTRODUÇÃO O presente texto tem a intenção de abordar a relação entre a Ética e os direitos fundamentais do indivíduo, particularmente nomeados de Direitos Humanos. Na qual estes constituem-se um desdobramento daquela. Ressaltamos que nesta visão os Direitos Humanos não restingue-se aos 2 âmbitos: social, político ou jurídico, nos quais teríamos, nos aspectos sociais e políticos, representados pela escolha das melhores agendas de políticas públicas com vistas a garantia do acesso dos cidadãos a seus direitos. Ou mesmo no campo jurídico, representados pelo controle exercido pelo judiciário com a finalidade de fazer-se cumprir à Lei e sua respectiva garantia de direitos. E sim, ressaltamos a existência de um compromisso Ético relacionado aos direitos humanos, no qual a luta pela concretização dos mesmos representa uma poderosa ferramenta de transformação societária. Para tanto começaremos com algumas reflexões acerca da Ética. Passando a uma análise da evolução histórica dos direitos humanos, entendidos no conceito geral. Na sequência apresentaremos alguns aspectos relacionados aos conceitos de cidadania e justiça social. Por fim, apontaremos aspectos relacionados aos direitos humanos no Brasil, seus avanços e retrocessos. 1. CONCEITO DE ÉTICA E A SUA APLICAÇÃO PROFISSIONAL O conceito de “ética” remonta aos gregos; provém de êthos. Em seu primeiro significado, êthos designa a residência, morada, lugar onde se habita. Em sua segunda acepção êthos designa o conjunto de costumes normativos da vida de um grupo social, o modo de ser, o caráter. Como filosofia moral, a ética é o estudo da moral, do comportamento moral dos seres humanos, do que é considerado bom ou mau, certo ou errado, enquanto que a moral seria o conjunto de valores pertencentes a um determinado grupo ou indivíduo, em outras palavras, a moral seria a maneira como os indivíduos se comportam, por isso, Assmann (2009, p. 87) afirma que a moral “tem a ver com todo comportamento humano – e só com este comportamento – no qual estão envolvidos bem ou mal, o que nos leva a perceber que nem tudo o que fazemos tem a ver com moral”. É neste mesmo sentido que Bunge (2002, p. 130) conceitua a ética, como o estudo da moral: a ética seria o “ramo da filosofia que analisa conceitos morais (tais como os da bondade e da verdade moral) e preceitos morais (tais como os da reciprocidade)”. 3 1.1.A Ética para os dias de hoje Falar em ética significa falar de liberdade, pois não há sentido falar de norma ou de responsabilidade se não partimos da suposição de que o ser humano é realmente livre para agir, ou pode sê-lo. A norma nos diz como devemos agir. E, se devemos agir de tal modo, é porque também podemos não agir deste modo. Isto é, se devemos obedecer, é porque podemos desobedecer ou somos capazes de desobedecer à norma. 1.2. Código de Ética O tema da ética possui uma vasta área, onde também pode ser pensada na área profissional, como atualmente conhecemos os diferentes códigos de ética profissional e também na área empresarial. Um Código de Ética apresenta pelo menos três dimensões distintas e interdependentes: uma dimensão teórica, outra prática e, por fim, uma normativa. Na atualidade a ética abrange uma vasta área, podendo estar relacionada com temas ligados ao ambiente familiar, escolar, profissional, econômico, social e político. No campo Social, em relação à formação profissional dada pelas primeiras escolas de Serviço Social, sempre enfatizavam a necessidade do estudo da filosofia e da ética como principais fornecedores da base moral do comportamento profissional. Sendo a aplicação da ética atualmente dada através de princípios regidos pelo “Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais” datado do ano de 1993, ao qual impõe aos profissionais desta área certos princípios visando o seu posicionamento a favor da igualdade e equidade social, permeando um processo de construção de uma nova ordem societária, sem exploração e dominação de classes, etnia e gênero, visando sempre o bem comum. 2. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS Inicialmente precisamos ressaltar que falar em direitos humanos significa fazer um estudo integrado dos direitos: individuais, sociais, econômicos e 4 políticos fundamentais, nesse contexto os direitos humanos são vistos como sinônimo de direitos fundamentais. Os quais são classificados em gerações, ou períodos distintos, conforme a demandas de cada época. Com caráter acumulativo quanto ao reconhecimento e a proteção destes direitos, ao longo da história. Com isso, ressaltamos que a cada nova geração que se segue, surgem novos direitos, ou mesmo novas perspectivas acerca dos mesmos, com vistas a aumentar a proteção da pessoa humana referente aos direitos já constituídos, bem como a garantia do reconhecimento de novos direitos reconhecidos com o decorrer da evolução histórica. Existem teóricos que preferem a denominação “dimensão” dos direitos, pelo entendimento de que não ocorreu uma extinção dos direitos da fase anterior e sim uma coexistência. Sendo que a primeira geração ou dimensão de direitos humanos se desenvolveu e consolidou-se em um contexto de defesa dos indivíduos, diante do poder arbitrário dos governantes absolutistas, sobretudo no que diz respeito à preservação da vida, da liberdade de locomoção, do exercício profissional e da propriedade privada. A partir das revoluções: Inglesa, Americana e Francesa, os princípios liberais – político e econômico – foram consagrados. Neste períodos segundo Novelino (2009) “são os ligados ao valor liberdade, são os direitos civis e políticos. São direitos individuais com caráter negativo, por exigirem diretamente uma abstenção do Estado que é o seu principal destinatário”. A segunda geração tem como protagonista a classe operária, em suas lutas sociais, consequentes ao períodos de industrialização europeu, para que o Estado passe a garantir também “os direitos sociais, econômicos e culturais. São direitos de titularidade coletiva e com caráter positivo, pois exigem atuação do Estado”. (ib, idem) Por sua vez os direitos de terceira geração ou dimensão, emergiram dos anseios de uma sociedade massificada, visando a preservação dos interesses coletivos ou difusos, em um contexto de expansão dos mercados e das transnacionais, no sistema capitalista de produção, entre outros aspectos. “[...] ligados ao valor fraternidade ou solidariedade, sãoos relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e ao direito de comunicação. São direitos transindividuais, em rol exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano”. (ib, idem) 5 Por fim constituíram os direitos de quarta geração, introduzidos no âmbito jurídico a partir do advento da globalização, “compreendem os direitos à democracia, a informação e ao pluralismo”. (ib, idem) No entanto faz-se necessário pontuar que embora os direitos humanos são diversas garantias históricas, que mudam ao longo do tempo, com o intuito de adaptarem-se as necessidades de cada período. O resumo do que conhecemos na atualidade, foram materializados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, em âmbito internacional para unir diversos direitos básicos presente no ordenamento jurídico de inúmeras nações. Ela é assinada, por cerca de 190 países, entre os quais está o Brasil, serve como base para Constituições e tratados internacionais. 3.CIDADANIA E JUSTIÇA SOCIAL Acerca das definições de cidadania, escolhemos a que a define enquanto [...] um conjunto dos direitos políticos de que goza um indivíduo, e que lhes permitem intervir na direção dos negócios públicos do estado, participando de modo direto e indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo público (indireto). (GODOY, 2014). Nota-se que o conceito de cidadania vem sofrendo inúmeras transformações, algumas conquistas de direitos civis, sociais e políticos, expressos na atual Constituição Federal. No entanto um dos maiores problemas encontrado em nosso país é a distância entre justiça social e a cidadania, sobretudo quando assistimos diariamente ações do próprio Estado, através de seus agentes e de seus servidores públicos, violando os direitos dos cidadãos ao invés de assegura-lo no exercício de sua função pública. Se compreendemos segundo Miranda [s.t.] que [...] a cidadania é o exercício dos direitos civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição, logo vemos que a justiça justa é aquela que respeita e cumpre o que determina a lei, enquanto que uma boa cidadania implica que os direitos e deveres estão interligados, e o cumprimento e respeito às leis confirma a de fato. Os direitos expressos no Artigo 6º da Constituição Federal, garantem 6 melhores qualidade de vida com a finalidade de diminuir as desigualdades sociais, nas áreas: trabalho, educação, lazer, segurança, saúde, previdência social, proteção a maternidade e a infância, moradia e assistência aos desamparados. Esses são direitos coletivos e estão difundidos por toda a constituição, mas ainda assim, por vezes são negados pelo Estado, justamente a instituição que deveria zelar pelas condições sociais, econômicas, políticas e jurídica compatível com a proteção de direitos. Nesse contexto reforçamos a necessidade de garantir os direitos sociais, tal como expostos na Constituição, não há como diminuir los ou relativizar o cumprimento destes. Como bem ressaltou Miranda [s.t.] os mesmos têm [...] o propósito de nivelar as desigualdades existentes em nossa nação, logo, são os que mais se aproximam do princípio da dignidade da pessoa humana e da cidadania, pois visam reduzir as desigualdades entre as pessoas ajustando os indivíduos as mais dignas e satisfatórias condições de vida. 4.DIREITOS HUMANOS NO BRASIL (AVANÇOS E RETROCESSOS) No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal de 1988 e pelos diversos tratados internacionais dos quais o país é signatário, o que pode ser considerado um grande avanço jurídico, já que o país conta com uma história marcada por episódios de graves desrespeitos a esses direitos, sobretudo no período do Regime Militar, em vigor no período anterior à promulgação da atual Carta Magna. Sob o ponto de vista social, faz-se necessário ressaltar que a mais recente Constituição garante os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais dos nossos cidadãos. E que essas garantias aparecem, por exemplo, logo no primeiro artigo, onde é estabelecido o princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Por sua vez, no artigo 5º é estabelecido o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade e outros importantes direitos fundamentais, sejam eles individuais ou coletivos. No entanto o referido país embora tenha em seu ordenamento jurídico, os mencionados direitos, não apresenta um compromisso, ético e jurídico, com 7 os mesmos, na medida em que o compromisso em dar efetividade aos dispositivos legais é meramente retórico. Tem-se uma constituição referenciada e louvada, em congressos jurídicos internacionais, como uma das mais democráticas do mundo, pela participação popular no momento de sua elaboração; Além das inovações em seu conteúdo. Porém, aponta-se como sinais do retrocesso a contradição existente entre o texto do preâmbulo Carta Magna e algumas propostas de emenda constitucional, como a que reduziu consideravelmente a aplicação de recursos destinados à efetivação de direitos sociais – como a saúde e a educação, entre outros, o que segundo Dallari (2016) Alega-se que isso é necessário para reequilibrar a economia do País, entretanto, como já foi ressaltado por vários analistas autorizados, não há qualquer proposta visando retirar ou restringir as desonerações, os favores fiscais ou de outra espécie, que favorecem setores mais ricos da população. O mesmo autor conclui que “é profundamente lamentável, do ponto de vista dos Direitos Humanos, [...] o menosprezo inconstitucional dos direitos sociais em prejuízo de toda a cidadania para a obtenção de melhores resultados em termos econômicos”. (ib idem) 5. CONCLUSÃO Considerando o objetivo deste texto procurou-se apresentar as diversas partes que constituem a análise da temática. Concluímos que embora os direitos humanos sejam reconhecidos, por lei e por instrumentos de política pública. Na prática, a sua efetividade não é garantida, por vezes por falta de vontade política, por parte dos governantes. Que é por vezes disfarçada em inviabilidade econômica. Tal falta demonstra a inexistência de um compromisso com a ética, no que diz respeito ao cumprimento da lei, não meramente na forma desta, e sim com a efetividade das mesmas, nas diversas áreas de sua aplicação. Com isso ressaltamos que o desafio na atualidade é o reconhecimento, por parte dos cidadãos possuidores dos direitos, de sua parte na concretude dos direitos já reconhecidos e na propositura de novos direitos. Através inclusive de sua cidadania ativa, não somente participando com um voto consciente mas também atuando nos espaços constituídos para a democracia participativa. Cumprindo com isso, os seus direitos de cidadania. 8 REFERÊNCIAS ASSMANN, Selvino J. Filosofia e Ética. Florianópolis, Brasília: UFSC, CAPES, UAB, 2009. BUNGE, Mario. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Perspectiva, 2002. DALLARI, Dalmo de A. Direitos sociais: desmoralizante retrocesso brasileiro. 2016. Disponível em: https://www.geledes.org.br/direitos-sociais- desmoralizante-retrocesso-brasileiro. Acesso em:05 jun. 2019. https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/etica-e-politica. Acesso em: 03 jun. 2019. https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/lei-da-ficha-limpa. Acesso em: 03 jun. 2019. https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/o-que-e-etica-resenha.Acessoem: 03 jun. 2019. GODOY, Rogério. Cidadania. 2014. Disponível em: rgrdireito.blogspot.com. Acesso em:12 jun. 2019. MIRANDA, Fátima. Justiça Social & Cidadania. [s.t.] Disponível em: <https://amitafamitaf.jusbrasil.com.br/artigos/225688005/justica-social- cidadania/amp>. Acesso em: 12 jun. 2019. NASSIF, Luis. Os avanços e os retrocessos nos direitos humanos no Brasil. Disponívelem:https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/os-avancos-e-os- retrocessos-nos-direitos-humanos-no-brasil/. Acesso em 10 jun 2019. NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, 2009.
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