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Teorias da Comunicação
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. João Elias Nery
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha
A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
• Introdução;
• Estudos Culturais: Trabalho, Culturas Tradicionais e Cultura da Mídia;
• Estudos Culturais e Política;
• Feminismo, Gênero, Raça: Abordagens Transdisciplinares;
• Estudos Culturais e Construção de Identidades.
 · Conhecer os principais conceitos das teorias da comunicação e sua 
aplicabilidade na produção cultural contemporânea;
 · Desenvolver argumentação relacionando conceitos e produção cultural;
 · Participar criticamente da análise da cultura contemporânea.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
A Cultura e a Comunicação
para Além da Mídia
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
Introdução
Os estudos teóricos acerca da comunicação ganharam força nas primeiras décadas 
do século 20, à medida que os Meios de Comunicação de Massa expandiram sua 
presença nas sociedades e no cotidiano de cidadãos, que passaram a ter na mídia 
importante espaço de obtenção de informações e construção da opinião individual e 
coletiva. É possível identificar três teorias que se colocam no campo dos estudos da 
comunicação como “fundadoras” desse campo e que poderíamos classificar como 
“tradicionais”: Escola de Frankfurt, Estrutural Funcionalismo e Estudos Culturais. 
Tais teorias tiveram grande relevância para a compreensão do papel da mídia na 
sociedade e influenciaram novas abordagens que as sucederam.
O Estrutural Funcionalismo, corrente teórica dominante nos EUA na primeira 
metade do século 20, apresentou à sociedade importantes contribuições acerca 
das relações de comunicação que se estabelecem a partir das mídias de massa. Seu 
principal objeto de estudos é a mídia de massa e seu papel ou funções nas socie-
dades urbanas, de massa e democráticas, como os EUA do século 20. Partindo de 
conceitos da sociologia estrutural funcionalista, estabelece metodologias quantitati-
vas para a análise da mídia.
Na Europa, em período semelhante ao do Estrutural Funcionalismo, duas 
correntes teóricas se desenvolveram. Na Alemanha, a Escola de Frankfurt, ou 
teoria crítica, apresentou à sociedade ocidental interpretação fundamentada em 
um marxismo heterodoxo, voltado à compreensão da superestrutura cultural nas 
sociedades capitalistas e à crítica ao uso da razão como instrumento de dominação. 
O conceito Indústria Cultural é o que melhor expressa a visão frankfurtiana acerca 
da comunicação e da cultura. O foco para os estudos realizados sob a chancela da 
Escola de Frankfurt era vincular culturas tradicionais, indústria cultural e o contexto 
das sociedades ocidentais, demonstrando o uso dos meios de comunicação de 
massa para a construção da alienação.
O grupo de pesquisadores com formação intelectual de esquerda e vínculos 
com as classes médias e alta, que se reuniu no que ficou conhecido como Escola 
de Frankfurt, estabeleceu discurso crítico e antagônico em relação ao Estrutural 
Funcionalismo, hegemônico nos EUA, e às teorias administrativas, combatidas in-
telectualmente em um projeto realizado por jovens que viveram experiências de 
vida fundamentais na Europa de duas guerras mundiais.
Na Inglaterra, outras perspectivas teóricas surgiram no campo da cultura e da 
comunicação. Os Estudos Culturais fazem parte desse novo campo de pesquisa, 
reuniram pesquisadores e iniciaram metodologias que inovaram na interpretação 
da cultura, estabelecendo um campo de estudos hoje consolidado como tradição e 
que contribui para o desenvolvimento de novas metodologias e abordagens.
Os Estudos Culturais formam uma corrente de pensamento que surge nos anos 
1950 na Inglaterra, no “Centro de Estudos Culturais Contemporâneos” da Uni-
versidade de Birmingham. Os três autores considerados “fundadores” são Richard 
8
9
Hoggart, Raymond Williams e E. P. Thompson. Eles têm em comum a origem 
proletária ou o trabalho com educação popular. Inauguraram metodologias qualita-
tivas que contribuíram para a compreensão da cultura como categoria chave para 
a compreensão da sociedade e a cultura popular como importante forma de mani-
festação ideológica das classes populares ou subalternas, expressões utilizadas para 
definir, na luta de classes, o grupo dos que não são donos dos meios de produção.
Na perspectiva dos Estudos Culturais, um quarto autor, Stuart Hall, jamaicano 
radicado na Inglaterra, ganhou relevância por incentivar a inclusão de temas 
marginais como objetos de estudos, dando relevância à pesquisa relativa às práticas 
de resistência de grupos marginalizados, de segmentos culturais não dominantes 
e da relação destes com meios massivos, buscando estruturar a construção da 
identidade do sujeito nas relações sociais capitalistas.
De acordo com Kellner (2001, p. 12-13),
O estudo da cultura popular e de massa recebeu o rótulo genérico de 
“estudos culturais” [...]. Um estudo cultural crítico conceitua a sociedade 
como um terreno de dominação e resistência, fazendo uma crítica da 
dominação e dos modos como a cultura veiculada pela mídia se empenha 
em reiterar as relações de dominação e opressão. Está preocupado com os 
progressos do projeto democrático, examinando o modo como a cultura 
da mídia pode constituir um terrível empecilho para a democratização da 
sociedade, mas pode também ser uma aliada, propiciando o avanço da 
causa da liberdade e da democracia.
A descrição de Kellner vai ao encontro de uma característica fundamental dos 
Estudos Culturais: a análise dos processos sociais e culturais não é determinista, 
pois, pelo contrário, busca entender estes processos como parte das dinâmicas 
sociais, políticas e culturais, inserindo-as em um movimento amplo no qual cultura 
e comunicação são contextualizados e compreendidos como parte das relações 
que se estabelecem em uma sociedade caracterizada pela mobilidade social e pelas 
mudanças nos processos de produção industrial.Como indicamos anteriormente, os três autores que estão na base da criação 
dos Estudos Culturais são de famílias de trabalhadores, o que incide profundamente 
em suas concepções e processos para formulação teórica. A origem nas classes 
populares influencia os modelos desenvolvidos em suas análises, que partem 
das experiências dos trabalhadores no consumo da mídia e como isto interfere 
nos processos culturais. Esta posição pode ser considerada “relativista”, se a 
compararmos com as duas outras teorias da comunicação tradicionais – Estrutural 
Funcionalismo e Escola de Frankfurt -, pois, como observa Kellner, a abordagem 
dos Estudos Culturais aproxima-se da Escola de Frankfurt por sua análise marxista 
e crítica ao sistema capitalista, porém dela se afasta no sentido de entender 
as relações culturais como parte de um processo de construção social no qual 
há ambiguidade. Nesse sentido, valorizam a capacidade do sujeito, no caso o 
trabalhador que participa dos processos culturais, em estabelecer uma relação não 
submissa com a mídia, revelando procedimentos de recusa a conteúdos e opiniões, 
9
UNIDADE A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
bem como a possibilidade de reinterpretação das mensagens da mídia, que seriam 
acolhidas, repensadas e colocadas no contexto de vida deste sujeito, expressão 
utilizada para se referir ao “receptor”.
A recusa ao determinismo também afasta os Estudos Culturais da pesquisa 
realizada como parte do Estrutural Funcionalismo, uma vez que este valoriza 
demasiadamente os aspectos positivos da mídia, relegando a segundo plano os 
riscos oferecidos pela onipresença dos Meios de Comunicação de Massa em 
sociedades contemporâneas. Nas palavras de Kellner (2001, p. 13):
A cultura da mídia pode constituir um entrave para a democracia quando 
reproduz discursos reacionários, promovendo o racismo, o preconceito 
de sexo, idade, classes e outros, mas também pode propiciar o avanço 
dos interesses de grupos oprimidos quando ataca coisas como formas de 
segregação racial ou sexual ou quando, pelo menos, as enfraquece com 
representações mais positivas de raça e sexo.
Este autor identifica certa ambiguidade na realidade construída pela mídia, se-
guindo a tradição dos Estudos Culturais, que, em suas pesquisas iniciais, realizadas 
principalmente a partir da participação dos trabalhadores nas relações culturais, 
apresentam uma interpretação dialética da realidade que se constrói e, mesmo 
valorizando a capacidade do sujeito em recusar e reinterpretar, entende que o po-
der da mídia na construção de representações da realidade deve ser considerado e 
observado nas práticas sociais e culturais da sociedade.
Estudos Culturais: Trabalho, Culturas 
Tradicionais e Cultura da Mídia
Importante!
Nesse item abordamos como o trabalho é entendido nos processos de pesquisas reali-
zados pelos pesquisadores ligados aos Estudos Culturais. Para melhor compreender este 
vínculo, é fundamental compreender os conceitos de Sociedade de Classes e de alien-
ação, desenvolvidos por Karl Marx.
Importante!
A questão do trabalho e do lugar do trabalhador no processo produtivo, nas 
relações sociais e políticas e na cultura é de extrema relevância para os Estudos 
Culturais. A emergência da classe trabalhadora possibilitou novas relações no 
ambiente da sociedade de classes, em uma interpretação marxista, que leva os 
pesquisadores a compreender a sociedade como complexa unidade, na qual forças 
econômicas, políticas e culturais competem e estão em conflito, o que leva a cultura 
a uma “autonomia relativa” e o trabalhador a ocupar o espaço público como sujeito 
nos processos que ocorrem nesta sociedade.
10
11
Ao eleger o trabalho, o trabalhador e a identidade de classe como parâmetro central 
nas relações do sujeito nos processos culturais, os pesquisadores identificados com 
os Estudos Culturais apresentaram uma nova perspectiva da análise, deslocando a 
pesquisa da mídia para o sujeito, para a tentativa de compreensão das interações 
entre este e a mídia. Mais que ter a mídia como objeto de estudo, esta é colocada 
como parte do processo de construção e disputa pelas representações da realidade.
A mídia não é o objeto de estudo, mas parte de processos culturais amplos, nos 
quais diferentes atores sociais e políticos disputam espaço, levando à “autonomia 
relativa” do campo cultural, que, em conflito com outras forças em luta, busca 
interferir na formação da opinião individual e coletiva e nas diversas expressões 
acerca da realidade social, cultural, econômica e política.
No processo de constituição do sujeito, a cultura popular é espaço de manifestação 
do modo de ser e de pensar dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, elemento 
central para a compreensão de como o trabalhador cria suas interações no mundo 
simbólico. A cultura popular, em oposição à cultura da mídia,
Trabalho e culturas, estes os temas centrais para as pesquisas e pesquisadores 
ligados aos Estudos Culturais em seu processo de definição de temas e abordagens, 
como área transdisciplinar de estudos da comunicação e da cultura, sendo esta 
última compreendida em sua complexidade, buscando superar a oposição binária 
entre cultura erudita e cultura popular e as consequentes avaliações relativas a 
forma e conteúdo e à valorização e desvalorização de uma em função de seus 
atributos e participantes.
A cultura de mídia é analisada como novo espaço para manifestações de re-
presentações do cotidiano – relação das culturas populares com a cultura da mídia 
fundada na reinterpretação e em releituras da realidade cultural. De acordo com 
Kellner (2001, p. 15),
[...] o público pode resistir aos significados e mensagens dominantes, 
criar sua própria leitura e seu próprio modo de apropriar-se da cultura de 
massa, usando a sua cultura como recurso para fortalecer-se e inventar 
significados, identidade e forma de vida próprios. Além disso, a própria 
mídia dá recursos que os indivíduos podem acatar ou rejeitar na formação 
de sua identidade em oposição aos modelos dominantes. Assim, a cultura 
veiculada pela mídia induz os indivíduos a conformar-se à organização 
vigente, da sociedade, mas também lhes oferece recursos que podem 
fortalecê-los na oposição a essa mesma sociedade.
A relação dialética entre o sujeito e a mídia ganha destaque nessa interpretação. 
Caso desenvolvesse um processo da comunicação, como o fazem teorias como o 
Estrutural Funcionalismo, os pesquisadores dos Estudos Culturais estabeleceriam 
uma relação menos assimétrica, ou seja, não definiriam a mídia como onipresente 
e poderosa e o receptor como frágil e incapaz. Pelo contrário, afirmariam, como 
demonstra Kellner, a capacidade de reinterpretar as mensagens da mídia de acordo 
com valores e experiências grupais, produzidas por culturas tradicionais, agora em 
relação com as mídias.
11
UNIDADE A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
Acesse o documentário Gêneros, mentiras e videotape, disponível em: https://youtu.be/iPwSxNOkpco. 
A partir do documentário, é possível compreender alguns conceitos desenvolvidos no texto, principal-
mente as relações de gênero.
Ex
pl
or
Estudos Culturais e Política
Seguindo os passos da Escola de Frankfurt, ou teoria crítica, os Estudos 
Culturais apresentaram-se à sociedade como abordagem teórica com fortes 
vínculos ideológicos. A trajetória político-teórica dos Estudos Culturais indica, de 
um lado, vínculos políticos com a “Nova Esquerda” e movimentos sociais ingleses; 
de outro, uma perspectiva teórica inter/transdisciplinar, configurando uma área 
na qual diferentes disciplinas interagem visando o estudo de aspectos culturais da 
sociedade. A agenda política da esquerda é objeto de estudo de diversas pesquisas 
realizadas a partir das metodologias dessa corrente teórica, e a participação de 
pesquisadores ligados aos Estudos Culturais em movimentossociais e na política 
institucional marcam tais vínculos.
A derrocada do projeto de sociedade socialista tendo a URSS como principal 
articulador político levou a releituras da obra de Marx e de estratégias para o campo 
socialista. A “Nova Esquerda” faz parte desse contexto e buscou articular suas teses 
a práticas sociais e culturais que têm proximidade com o projeto de sociedade 
dos Estudos Culturais, que estabelece a luta de classes e a identidade de classe 
dos trabalhadores como viés fundamental para a constituição das relações com 
a mídia. Nessa perspectiva, a cultura operária é valorizada e vista como capaz de 
criar as condições para a conscientização dos trabalhadores diante do processo de 
alienação produzido pela burguesia.
Em sua análise da cultura da mídia, Kellner (2001, p. 17) afirma que:
A cultura da mídia também fornece o material com que muitas pessoas 
constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de nacionalidade, de 
sexualidade, de “nós” e “eles”. Ajuda a modelar a visão prevalecente de 
mundo e os valores mais profundos: define o que é considerado bom ou 
mau, positivo ou negativo, moral ou imoral. As narrativas e as imagens 
veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, mitos e os recursos que 
ajudam a constituir uma cultura comum para a maioria dos indivíduos e 
em muitas regiões do mundo de hoje.
O reconhecimento da centralidade da mídia nos processos de constituição 
da consciência, inclusive de classe, foi fundamental para as concepções dos 
Estudos Culturais acerca das culturas e da política, interpretando a mídia como 
responsável pela mediação e pela apresentação de representações da realidade 
que atuam como elementos da formação da opinião individual e coletiva, em 
um processo dialético no qual a disputa principal é a consciência dos trabalha-
12
13
dores, que, em sua relação com a mídia, buscam afirmar-se como sujeitos, en-
quanto esta busca produzir uma interpretação da realidade alienada, atendendo 
aos interesses das classes dominantes.
Feminismo, Gênero, Raça: Abordagens 
Transdisciplinares
Ao analisar a trajetória dos Estudos Culturais, ESCOSTEGUY (2001, p. 151-
170) reconhece que os Estudos Culturais abrangem áreas transdisciplinares que vão 
muito além da comunicação, porém não se restringe à apresentação de conexões 
com os meios de comunicação de massa. Para ela, seria um equívoco reduzir o 
projeto dos Estudos Culturais a um modelo de comunicação, uma vez que estes 
analisam “as relações entre a cultura contemporânea e a sociedade, isto é, suas 
formas culturais, instituições e práticas culturais, assim como suas relações com a 
sociedade e as mudanças sociais.”
A autora enfatiza que há em comum, na trajetória teórica dos Estudos Culturais, 
“uma perspectiva que enfatiza a ‘atividade humana’, a produção ativa da cultura, 
ao invés de seu consumo passivo”. Nessa abordagem, a criação cultural se situa 
no espaço social e econômico, dentro do qual a atividade criativa é condicionada.
É preciso, também, compreender que, com o conceito expandido de cultura, 
que inclui “as formas nas quais os rituais da vida cotidiana, instituições e práticas, 
ao lado das artes, são constitutivos de uma formação cultural”, rompe-se com 
um passado em que se identificava cultura apenas com artefatos. Cultura, artes 
e escolarização são conceitos distintos, apesar de constitutivos de uma mesma 
realidade e interdependentes na constituição do sujeito na modernidade.
Inicialmente um campo de estudos que se estabeleceu e possibilitou a análise 
das relações culturais na Inglaterra, os Estudos Culturais incorporaram novas 
abordagens e expandiram sua influência para diversos países da Europa e da 
América. Como demonstra ESCOSTEGUY (2001, p. 151-170), a partir dos 
anos 1970 o enfoque inclui as subculturas e resistência às estruturas domi-
nantes de poder, buscando compreender os sistemas de valores e universo de 
sentido, limites para a autonomia e a constituição de uma identidade coletiva 
relacionada a dimensões de resistência e subordinação.
No contexto político dos anos 1970, ainda marcado pela Guerra Fria e pela 
emergência de ditaduras no Cone Sul do Continente Americano, os meios de 
comunicação de massa são analisados como forma de entretenimento e como 
aparelhos ideológicos do Estado, conceito desenvolvido pelo filósofo francês L. 
Althusser e que seria incorporado às teses culturalistas, compreendendo a mídia 
como espaço de construção da ideologia dominante, de convencimento e formação 
da opinião individual e coletiva, evitando o uso dos aparelhos repressivos.
13
UNIDADE A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
Abordagem relevante, porém distante do modelo dominante nos Estudos Cul-
turais, a temática da recepção e a densidade dos consumos de mídia teve desen-
volvimento significativo, inclusive no Brasil, onde programas de pós-graduação e 
pesquisadores constituíram grupos que passaram a utilizar a recepção como prin-
cipal elemento do relacionamento sujeito/mídia. Exemplo de estudo nessa linha é 
o trabalho realizado por Carlos Eduardo Lins da Silva com a recepção de trabalha-
dores ao telejornal da Rede Globo de Televisão, Jornal Nacional. Utilizando a me-
todologia da pesquisa participante e das teorias da recepção, busca aprofundar o 
conhecimento acerca da inserção de um produto da cultura midiático no cotidiano 
de trabalhadores brasileiros.
O estudo citado é exemplo da conexão dos Estudos Culturais, que abrem espaço 
para leituras ideológicas realizadas pelos pesquisadores e posições assumidas pelo 
receptor. Relevante, também, é que a pesquisa transdisciplinar se desloca da análise 
de mídia para análise da audiência, para o relacionamento do sujeito com a mídia.
A emergência de novos contextos no ambiente político social dos anos 1970 
possibilitou a inserção de diversas temáticas como preocupação para os Estudos 
Culturais. Em sociedades nas quais a mídia cada vez mais ocupava o cotidiano dos 
cidadãos e interferiam nos processos sociais, a mídia passa a ser espaço de disputa 
na construção de representações da realidade.
Movimentos sociais colocaram na pauta da sociedade questões como diferenças de 
gênero, raça e etnia, que passaram a fazer parte das pesquisas realizadas pelos Estudos 
Culturais nos anos 1970, como objetos de estudos a serem examinados a partir das 
metodologias desenvolvidas anteriormente. Primeiramente examinaram-se as imagens 
das mulheres nos meios massivos; depois o trabalho doméstico passou a ser tematizado.
O Feminismo, que desde os anos 1960 se consolidava como área de pesquisa 
e militância política, passa a integrar os Estudos Culturais em atividades vinculadas 
a diferentes grupos, sejam acadêmicos, sejam políticos, ampliando a influência 
e aproximando academia e sociedade. As questões étnicas e raciais trilharam o 
mesmo caminho, e diversos movimentos sociais e grupos de pesquisa desenvolveram 
trabalhos conjuntos buscando compreender teoricamente as questões que se 
apresentavam e orientar as práticas políticas relativas e estes.
Estudos Culturais e 
Construção de Identidades
É possível observar que a partir dos anos 1980 há expansão do projeto dos 
Estudos Culturais para além da Grã-Bretanha. O foco central dos estudos passa a 
ser a reflexão sobre as novas condições de constituição das identidades sociais e 
sua recomposição numa época em que as solidariedades tradicionais estão debi-
litadas. A identidade, antes fixa, agora acompanha a mobilidade social oferecida 
14
15
pela sociedade industrial, urbana e de massas e, nesse ambiente, cada sujeito 
social deve construir sua identidade, que, mesmo estando vinculada a instituições 
tradicionais, como família, escola e igreja, não tem padrões fixos e exige escolhas 
e atividades para afirmar-se. Questões de gênero, raça, etnia, entre outras, pas-
sam a compor a agenda pública.
Em novasmodalidades de análise dos meios de comunicação que combinam 
análise de texto com pesquisa de audiência, são implementados estudos de 
recepção dos meios – programas televisivos, literatura popular, filmes de grande 
bilheteria -, relacionando tais produtos com questões de identidade cultural e social. 
Nos anos 1990 mantém-se a linha de investigação de audiências, acentuando-se 
estudos etnográficos e raciais, com metodologias centradas na etnografia e na 
observação participante, tendo como principal questão dos Estudos Culturais o 
papel dos meios de comunicação na constituição de identidades. Esse processo foi 
abordado por Kellner, para quem:
Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos 
ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, 
modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o 
material com que as pessoas forjam sua identidade. O rádio, a televisão, 
o cinema e os outros produtos da indústria cultural fornecem os modelos 
daquilo que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido ou fracassado, 
poderoso ou impotente. [...] A cultura veiculada pela mídia fornece o 
material que cria as identidades pelas quais os indivíduos se inserem nas 
sociedades tecnocapitalistas contemporâneas, produzindo uma nova for-
ma de cultura global.
O deslocamento de parte do papel de construção da identidade social das 
instituições tradicionais para a mídia apresenta grande desafio aos teóricos dos 
Estudos Culturais e de outros campos de pesquisa, que procuram compreender 
como, nas sociedades urbanas, de massa, industriais, as identidades e a constituição 
do sujeito têm novos processos e passam por crises e rupturas em relação aos 
valores tradicionais, com consequentes conflitos entre gerações.
As sociedades tradicionais, patriarcais, patrimonialistas, centrada em valo-
res católicos, havia sedimentado valores que orientaram a sociedade ocidental 
por longo período de tempo. O que se observa a partir do século 20 é o declí-
nio desses valores tradicionais, que não se mantêm como verdades absolutas 
e passam a ser questionados em diversos âmbitos da vida social e são objeto 
de estudo para as ciências.
O descentramento do sujeito na modernidade é tema de estudos em diversas 
ciências, principalmente as do campo social. Nestes estudos, questionam-se os 
padrões fixos de identidade e apresentam-se novas configurações para estes. 
A mídia tem relevante contribuição nesse processo e, por isso, é muitas vezes 
criticada pelos segmentos da sociedade que defendem valores tradicionais. Para 
eles, a mídia seria a responsável pela desagregação social e pelo que julgam ser um 
processo de crise e desequilíbrio em um modelo antes estável e homogêneo, que 
15
UNIDADE A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
permitira o desenvolvimento de sociedades pautadas em valores que definiram a 
identidade de cada integrante da sociedade, estabelecendo critérios para o certo e 
o errado, o aceitável e o inaceitável.
Stuart Hall, representante da segunda geração dos pesquisadores dos Estudos 
Culturais, além de contribuir especificamente para a aproximação dessa corrente 
teórica a temas contemporâneos, desenvolveu conceitos fundamentais para a 
compreensão da cultura do século 20.
No livro Identidade cultural na pós-modernidade, Hall analisa a constituição do 
sujeito na pós-modernidade. Para ele, a modernidade criou as condições para o 
descentramento do sujeito, que participaria de uma crise na qual os valores modernos 
não mais teriam condições de orientar as práticas sociais desse sujeito em crise.
A crise é provocada pela nova realidade social e cultural, na qual as identida-
des fixas foram abandonadas e o sujeito precisa construir sua própria identidade 
e reconhecer que ao longo da vida pode ter alterada sua identidade, antes inal-
terável. Na modernidade tardia, como o autor se refere ao seu tempo, há um 
hibridismo, situação na qual buscamos nos adaptar aos valores em construção, 
a partir dos valores tradicionais nos quais fomos educados e vivemos nossas 
principais experiências.
Dialogando com diferentes concepções de sociedade – de Saussure a Foucault –, 
Hall busca apresentar a modernidade tardia como espaço de construção de identidades 
em ambientes menos fixos, nos quais nacionalidade, gênero, etnia, entre outros, não 
são suficientes para estabelecer a identidade do sujeito.
Para além da obra de Hall e dos demais autores identificados com as me-
todologias dos Estudos Culturais, no século 21 esta corrente de pensamento, 
inicialmente inglesa, expandiu sua área de atuação e influência. De acordo com 
ESCOSTEGUY (2001, p. 168),
[...] se originalmente os Estudos Culturais podem ser considerados uma 
invenção britânica, hoje, na sua forma contemporânea, tornaram-se uma 
problemática teórica de repercussão internacional. Não se confinam mais 
à Inglaterra e Europa nem aos Estados Unidos, tendo se alastrado para a 
Austrália, Canadá, Nova Zelândia, América Latina e também para a Ásia 
e África. E é especialmente significativo afirmar que o eixo anglo-saxão já 
não exerce mais uma incontestável liderança desta perspectiva.
Diversos fatores contribuem para que os Estudos Culturais estejam presentes em 
países com culturas e sistemas de comunicação tão diversos. Pode-se, no entanto, 
afirmar que a principal característica que possibilita a inserção das metodologias 
em realidades diversas é a concepção das culturas tradicionais como principal 
referência para os estudos e do receptor como sujeito no processo de comunicação, 
abrindo perspectivas para a compreensão das relações culturais e comunicacionais 
no mundo contemporâneo, extrapolando, inclusive, a visão unicamente ocidental 
da realidade, ao estabelecer o diálogo com sistemas de países da África e da Ásia.
16
17
Outro fator relevante é o trabalho transdisciplinar desenvolvido nas pesquisas. As 
diversas teorias têm espaço para a construção das metodologias, o que possibilita a 
associação dos Estudos Culturais em áreas do conhecimento que buscam explicar 
as relações sociais na contemporaneidade. Desta forma, história, ciência política, 
sociologia, psicologia, entre outras, têm os Estudos Culturais em seus programas 
de ensino, contribuindo para maior interação de conceitos e metodologias.
No Brasil, a presença dos Estudos Culturais segue a tendência mundial, inse-
rindo principalmente o viés transdisciplinar em pesquisas que têm como objeto os 
complexos sistemas de comunicação e de cultura de nosso país. O ambiente multi-
cultural brasileiro e sua conexão com os complexos e sofisticados sistemas de mídia 
oferecem objetos de estudos para os quais as metodologias dos Estudos Culturais 
oferecem muitas possibilidades de abordagens, desenvolvidas em disciplinas do 
ensino de graduação em cursos das áreas de história e ciências sociais e em linhas 
de pesquisa em pós-graduação nestas mesmas áreas.
Na América Latina, os Estudos Culturais têm significativa presença, em função 
de fatores próximos aos do Brasil e à recusa por parte dos pesquisadores em 
aplicar as teorias vinculadas aos EUA – como o Funcionalismo ou as teorias da 
modernização, que não apresentam a possibilidade de estudar a diversidade cultural, 
social e econômica dos países que compõem a América Latina.
O conceito de hibridismo e de mediação estão presentes em diversos estudos 
realizados e fazem parte do processo de adaptação das teorias iniciais aos contextos 
dos países latino-americanos. Desenvolvidos a partir dos conceitos desenvolvidos 
pelos teóricos ingleses, os Estudos Culturais latino-americanos apresentam 
particularidades, mantendo-se no campo de estudos e a eles acrescentando análises 
transdisciplinares que contribuem para a compreensão da realidade multicultural e 
midiática que é resultado da história destes países a partir da colonização.
17UNIDADE A Cultura e a Comunicação para Além da Mídia
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Como calar o ódio - os desafios e propostas para enfrentar a intolerância em um Brasil dividido
TERRA, Adriana. Como calar o ódio - os desafios e propostas para enfrentar a into-
lerância em um Brasil dividido.
https://goo.gl/KBUHsH
 Livros
A cultura da mídia - estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno
KELLNER, D. A cultura da mídia - estudos culturais: identidade e política entre o mo-
derno e o pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
 Vídeos
Gênero, mentiras e videotape
Instituto Cajamar; Sempre Viva Organização Feminista; Tv dos Trabalhadores.
https://youtu.be/iPwSxNOkpco
 Leitura
Os conceitos de cultura e comunicação em Raymond Williams
CUNHA, R. C. V da. Os conceitos de cultura e comunicação em Raymond Williams. 
Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília. Faculdade de Comunicação. 
Programa de pós-graduação em Comunicação. Brasília, 2010.
https://goo.gl/2ma1A5
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Referências
ESCOSTEGUY, A. C. Os Estudos Culturais. IN: HOHLFESDT, A.; MARTINO, L. C.; 
FRANÇA, V. V. Teorias da comunicação. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 151-170.
HALL. S. Identidade cultural na pós-modernidade.
KELLNER, D. A cultura da mídia - estudos culturais: identidade e política entre 
o moderno e o pós-moderno. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. Bauru, SP: 
EDUSC, 2001.
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Outros materiais