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CAPACIDADE DE CARGA Introdução A capacidade de carga, contra a ruptura de um elemento de fundação é aquela que aplicada ao mesmo provoca o colapso ou o escoamento do solo que lhe dá suporte ou do próprio elemento. Assim, essa capacidade de carga é obtida pelo menor dos dois valores: • Resistência estrutural do material que compõem o elemento da fundação • Resistência do solo que dá suporte ao elemento Como geralmente o solo é o elemento mais fraco deste binômio, pode-se entender por que um mesmo elemento estrutural de fundação, instalado em diferentes profundidades de um mesmo solo, apresentará diferentes capacidades de carga e, consequentemente, diferentes cargas admissíveis. O problema da determinação da capacidade de carga dos solos é dos mais importantes para o engenheiro, que atua na área de construção civil, particularmente para o desenvolvimento de projeto de fundações. Ressalta-se que na determinação da capacidade de carga devem-se considerar duas condições fundamentais de comportamento (ou restrições): ruptura e deformação. Definições mais especificas sobre “capacidade de carga” aplicáveis tanto às fundações superficiais quanto às profundas são ilustradas na figura 1. Para este estudo são previamente definidos dois critérios de ruptura: ruptura “generalizada” – frágil (curva C1) e ruptura “localizada” – plástica (curva C2), ilustrado na figura 1. Capacidade de carga de ruptura (ou limite) – Qr: é a carga limite (ou máxima) a partir da qual a fundação provoca a ruptura do terreno e se desloca sensivelmente (ruptura frágil ou “generalizada”), ou se desloca excessivamente (ruptura plástica ou “localizada”), o que pode provocar a ruína da superestrutura. Capacidade de carga de segurança à ruptura – Qseg: é a maior carga (transmitida pela fundação) a que o terreno resiste, com segurança, à ruptura, independentemente das deformações que possam ocorrer. 𝑄𝑆𝐸𝐺 = 𝑄𝑅 𝐹𝑆 , onde FS é o fator de segurança à ruptura Capacidade de carga admissível – Qadm: é a maior carga transmitida pela fundação que o terreno admite, em qualquer caso, com adequada segurança à ruptura e sofrendo deformações compatíveis com a sensibilidade da estrutura aos deslocamentos da fundação.: Deve-se ter, portanto: Deve-se ter, portanto: Qadm ≤ Qseg Figura 1 - Curva carga-recalque de uma fundação em um dado terreno (solo com ruptura do tipo frágil – valor máximo bem pronunciado). No caso de fundações diretas tanto se pode trabalhar com carga Q como pressões médias p, sendo a pressão média em função da área da base (B.L): 𝑝 = 𝑄 (𝐵. 𝐿) • Pressão admissível x Pressão de ruptura A pressão de ruptura ou capacidade de carga de um solo é, assim, a pressão pr, que aplicada ao solo causa a sua ruptura. Adotando um adequado coeficiente de segurança, da ordem de 2 a 3, obtém-se a pressão admissível, a qual deverá ser “admissível” não só à ruptura com também às deformações excessivas do solo. O cálculo da capacidade de carga do solo pode ser feito por diferentes métodos e processos, embora nenhum deles seja matematicamente exato. Coeficiente de segurança Como citado, normalmente faz-se o uso de coeficiente de segurança. A primeira preocupação é garantir contra riscos de ruptura e, portanto, escolher coeficientes de segurança adequados. Geralmente adotam-se valores variáveis entre 2 e 3. 𝑃(1) = 𝑃𝑅 𝐶.𝑆. Em que P(1) é o limite superior da carga a aplicar ao elemento estrutural da fundação. Essa carga fornece adequado coeficiente de segurança à ruptura, mas não necessariamente ao recalque. PR é a capacidade de carga e C.S. é o coeficiente de segurança, fixado pela norma NBR 6122 para cada tipo de fundação em função do método usado para se estimar a carga de ruptura PR. Para a estimativa da carga PR, usam-se informações geotécnicas, geralmente fornecidos pelas sondagens a percussão. Em geral, não é simples a escolha do adequado coeficiente de segurança nos cálculos de Mecânica dos Solos. Na literatura técnica encontramos numerosas regras particulares à natureza de cada obra. Um estudo abrangente do assunto é apresentado pelo Prof. A. J. da Costa Nunes em Acidente de Fundações e Obras de Terra. Tendo em vista que os dados básicos necessários para o projeto e execução de uma fundação provêm de fontes mais diversas, a escolha do coeficiente de segurança é de grande responsabilidade. A Tabela 1 resume os principais fatores a considerar, e a Tabela 2 apresenta valores sugeridos de fatores de segurança a considerar. Tabela 1 – Fatores que influenciam na escolha dos fatores de segurança. Tabela 2 – Valores de fatores de segurança a considerar. Determinação da capacidade de carga A determinação da capacidade de carga pode ser feita tanto teoricamente, empregando fórmulas teóricas ou semi-empíricas existentes ou experimentalmente, através da execução de provas-de-carga. 10 método: realização de prova de carga sobre placa Este ensaio preconizado pela NBR 6489 procura reproduzir em campo, o comportamento da fundação sob a ação das cargas que lhe serão impostas pela estrutura. O ensaio costuma ser feito empregando-se uma placa rígida com área não inferior a 0,5 m2 que é carregada por meio de um macaco hidráulico reagindo contra uma carga por exemplo. Com base neste ensaio, é possível correlacionar a pressão aplicada em estágios (lida no manômetro acoplado ao macaco hidráulico) e o recalque medido nos reflectômetros, sendo, portanto, possível traçar a curva pressãoxrecalque. As figuras 2 e 3 mostram diferentes esquemas utilizados para a realização de prova de carga em placa enquanto que a figura 4 mostra um resultado típico deste ensaio. Figura 2 – Esquema de montagem de uma prova de carga em placa (reação com cargueira). Figura 3 – Esquema de montagem de uma prova de carga em placa (reação com tirantes). Figura 4 – Exemplo de resultado proveniente de ensaio de carga em placa. 20 método: fórmulas teóricas Existem várias fórmulas teóricas para se estimar a pressão de ruptura de uma fundação rasa em função das características da resistência ao cisalhamento do solo. Entretanto, por sua simplicidade, e extrema divulgação, apresenta-se a fórmula proposta por Terzaghi (1943). A teoria de Terzaghi (1943), desenvolvida baseada nos estudos de Prandtl (1920) é a mais difundida para o caso de fundações diretas ou rasas. Terzaghi estudou a capacidade de carga de ruptura para este tipo de fundações em solos de diversas categorias, ou seja, solos com atrito e coesão (c, ϕ), solos não-coesivos ou granulares (c = 0) e solos puramente coesivos (ϕ= 0). Para seu estudo foram definidos dois critérios de ruptura: ruptura “generalizada” – frágil (curva C1) e ruptura “localizada” – plástica (curva C2), definidos na figura 5. Nos solos de ruptura tipo C1, à medida que a carga (ou pressão) aumenta, o material resiste, deformando-se relativamente pouco, vindo a ruptura acontecer quase que bruscamente. É como se toda a massa rompesse a um só tempo, generalizadamente. A pressão de ruptura é, nesse caso, bem definida, dado pelo valor pr do gráfico. Quando atingida, os recalques tornam- se incessantes e é denominada por ruptura generalizada, sendo típica de solos pouco compressíveis (compactos ou rijos). Nos solos de ruptura tipo C2, as deformações são sempre grandes e aceleradamente crescentes. Não há uma ruptura definida. É como se o processo de ruptura fosse dado paulatina e constantemente, desde o início do carregamento, em regiões localizadas e dispersas na massa do solo. A pressão de ruptura para este caso é dada por p’r que, segundo Terzaghi, corresponde ao ponto “a”, em que há uma mudança no gráfico, com passagemda curva inicial para um trecho aproximadamente retilíneo final. Este tipo de ruptura é denominado por ruptura localizada, sendo típica de solos muito compressíveis (fofos ou moles). Figura 5 – Critério de ruptura segundo Terzaghi. Quando a ruptura é atingida, o terreno desloca-se, arrastando consigo a fundação, como mostrado na figura 5. O solo passa, então, do estado “elástico” ao estado “plástico”. O deslizamento ao longo da superfície ABC é devido à ocorrência de tensões de cisalhamento (τα) maiores que a resistência ao cisalhamento do solo (τr ). Figura 5 – Solo arrastando a fundação. Terzaghi aplicou-os ao cálculo da capacidade de carga de um solo homogêneo que suporta uma fundação corrida e superficial. Segundo esta teoria, o solo imediatamente abaixo da fundação forma uma “cunha”, que em decorrência do atrito com a base da fundação se desloca verticalmente, em conjunto com a fundação. O movimento desta “cunha” força o solo adjacente e produz então duas zonas de cisalhamento, cada uma delas constituída por duas partes: uma de cisalhamento radial e outra de cisalhamento linear (figura 6). Figura 6 - Zonas de cisalhamento radial e linear Assim, após a ruptura, desenvolvem-se no terreno de fundação três zonas: I, II e III, sendo que a zona II admite-se ser limitada inferiormente por um arco de espiral logarítmica, como mostra a figura 7. Figura 7 - Zonas de ruptura segundo teoria de Terzaghi. A capacidade de suporte da fundação, ou seja, a capacidade de carga é igual à resistência oferecida ao deslocamento pelas zonas de cisalhamento radial e linear. Em geral, a formulação de Terzaghi é dada pela seguinte fórmula: 𝑝𝑟 = 𝑆𝐶 . 𝑐. 𝑁𝐶 + 1 2 . 𝛾. 𝑆𝛾. 𝐵. 𝑁𝛾 + 𝑆𝑞 . 𝛾. 𝐻. 𝑁𝑞 Em que: C = coesão do solo; H= profundidade; ᵞ = peso específico do solo onde se apoia a fundação; B = menor largura da sapata; q = pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação (γ.H) coesão atrito sobrecarga Nc, Nγ, Nq = fatores de carga em função do ângulo de atrito interno. Sc, Sγ e Sq = fatores de forma. A expressão de cálculo da capacidade de carga do solo como a soma de três parcelas, sendo elas referentes à contribuição da coesão do solo de contato da fundação, atrito do solo de contato da fundação e sobrecarga do solo acima da cota de assentamento da fundação. Em função dos diferentes casos envolvendo a geometria das sapatas, diferentes fórmulas foram desenvolvidas a partir da equação de Terzaghi para diferentes tipos de sapatas. A determinação da capacidade de carga do solo poderá ser realizada através das seguintes expressões: • Sapata retangular 𝑟 𝑎=𝐶.𝑁𝐶.(1+0,3 𝐵 𝐿)+𝛾. 𝐵 2.𝑁𝛾.(1−0,3. 𝐵 𝐿)+𝛾.𝐻.𝑁𝑞.(1+0,2. 𝐵 𝐿) • Sapata quadrada 𝑟𝑎=1,3 𝐶.𝑁𝐶+0,35.𝛾𝐵.𝑁𝛾.+1,2𝛾.𝐻.𝑁𝑞 • Sapata circular 𝑟𝑎=1,3 𝐶.𝑁𝐶+0,3.𝛾.𝐷.𝑁𝛾.+𝛾.𝐻.𝑁𝑞 Onde: B,L e D – dimensões da sapata H – profundidade da face inferior da sapata C – coesão do solo γ – massa específica aparente do solo Os valores de Nc, Nγ, Nq são obtidos por meio do Ábaco I. Porém para solos compressíveis, e necessário adotar os coeficiente apropriados N´c, N´γ, N´q do Ábaco I. Em geral, análise refere- se ao caso de “ruptura generalizada”. Em se tratando de ruptura localizada, os fatores a serem utilizados serão os fatores N´c, N´γ, N´q, adotando-se um Φ´ dado por tg (Φ´)= (2/3).tg (Φ) e um c´= (2/3) C, onde Φ é o ângulo de atrito e C, a coesão. De forma geral, os solos são compostos por vários tamanhos de grãos e, portanto, vão apresentar tanto coesão como ângulo de atrito. Em laboratório, coesão e ângulo de atrito podem ser obtidos através de ensaios de cisalhamento direto ou de compressão triaxial. A coesão é um indicativo de resistência. É a resistência do solo quando não há nenhuma pressão externa sobre ele devido a algum cimento natural, efeito da pressão capilar etc. A coesão é a principal parcela da resistência ao cisalhamento dos solos finos e coesivos (ex: argilas). Já para os solos granulares ou não coesivos, como as areias, a maior parcela é devido ao ângulo de atrito (quanto maior ângulo, mais compacto). Ábaco para utilização segundo a formulação de Terzaghi (Figura 8): Figura 9 – Valores dos fatores de capacidade de carga Nc, Nq e Nγ. A tabela 3 mostra os valores das variáveis relacionados aos fatores de carga em função dos ângulos de atrito. Tabela 3 – Valores dos fatores de carga em função do ângulo de atrito. Ainda, a formulação original considera sapatas corridas em solos de ruptura geral. Dessa forma, deve-se adaptar o trabalho original à realidade ao considerar sapatas circulares, retangulares e quadradas. A tabela 4 indica os valores a serem utilizados nos diferentes tipos de sapatas. Tabela 4 – Valores de fatores de forma para os diferentes tipos de fundação. Alguns autores citam valores de Sc, Sγ e Sq para o tipo de fundação retangular como sendo: 𝑆𝑞 = 𝑆𝐶 = 1 + (0,3. 𝑏 𝑎 ) 𝑆𝛾 = 1 − (0,4. 𝑏 𝑎 ) Onde a e b são as dimensões da sapata retangular (b < a). Outra forma de se obter a tensão admissível é baseada no valor médio do SPT (na profundidade de ordem de grandeza igual a duas vezes a largura estimada para a fundação contando a partir da cota de apoio). Dessa forma, pode-se obter a tensão admissível por: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑆𝑃𝑇𝑚é𝑑𝑖𝑜 50 (𝑀𝑃𝑎) Observação: esta relação somente é válida para valores de SPT ≤ 20. Referências Bibliográficas Filho, E.P. (2018) Provas de cargas estáticas, AP&L Geotecnia e fundações.