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Rio de Janeiro, 13 de maio de 2019. Direito Processual Penal I Professor Samuel Nery E-mail - samuel.neri.pc@gmail.com Instagram – profsamuelneri Aula 11 # Jurisdição Conceito - é a função do estado-juiz de dizer o direito no caso concreto com a finalidade de solucionar o conflito. • Pressuposto da Jurisdição – Soberania - Princípio da territorialidade (lei penal no espaço); - Princípio da extraterritorialidade (caso de guerra, espaço cósmico, carta rogatória); - Princípio da intraterritorialidade (consulado e embaixada) # Princípios da Jurisdição • Princípio da Investidura A jurisdição só pode ser exercida por quem tenha sido regularmente investido no cargo de juiz e esteja no exercício de suas funções. Caso o juiz não esteja investido no cargo, o ato praticado é inexistente, por faltar um pressuposto processual essencial. - Concurso - prova + provas e títulos - Nomeado - 1/5 (TJ, TRF, TRE) - Jurados • Princípio do Juiz Natural Como já estudado anteriormente, o princípio do juiz natural consiste no direito do cidadão de saber qual o juiz ou tribunal pode processá-lo caso pratique a conduta tipificada como crime. De acordo com Lopes Jr. (2016, p. 260) “o nascimento do juiz natural dá-se no momento da prática do delito e não no início do processo” • Princípio da Indeclinabilidade ou Inafastabilidade Nenhum juiz pode subtrair-se do exercício da função jurisdicional, pois de acordo com o art. 5º, XXXV, CRFB, "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito", ou seja, o magistrado não pode se eximir da função de julgar. • Princípio da Indelegabilidade Nenhum juiz pode delegar sua jurisdição a outro órgão, pois estaria, por via indireta, violando a garantia do juiz natural. De acordo com Távora e Alencar (2013, p. 240) “a regra é que a função jurisdicional não pode ser delegada a um outro órgão, mesmo que jurisdicional”. Os autores citam como exceções as precatórias e cartas de ordem, “onde há a prática de atos processuais por um outro magistrado, que não o originariamente competente”. - Carta Precatória - Carta de Ordem - Carta Rogatória (exceção) • Princípio da Improrrogabilidade Um juiz não pode invadir a competência de outro, mesmo que haja concordância das partes. • Princípio da Unidade É una e indivisível, porquanto manifestação de uma soberania estatal que não pode ser repartida. • Princípio do "nulla poena sine juditio" (não há pena sem jurisdição) É necessário um processo perante juiz com jurisdição para a aplicação da lei penal; assim, se não há crime e nem pena sem lei prévia, também não se pode impor pena sem processo, nem se admitir que haja processo sem justiça. # Características da Jurisdição • Substitutividade - O órgão jurisdicional declara o direito ao caso concreto, substituindo a vontade das partes, restabelecendo a paz social violada pelo delito praticado. • Inércia - Em regra, para que a jurisdição seja exercida é preciso que haja a provocação (ne procedat judex ex officio), ainda no sistema acusatório que, como você já viu, o juiz não é parte. No entanto, há uma mitigação em relação a esta caraterística, já que em favor da liberdade o juiz pode conceder de ofício a ordem de “habeas corpus”. • Definitividade ou Imutabilidade - Ao se encerrar o processo, com o trânsito em julgado da sentença proferida, a manifestação do juiz torna-se imutável. No processo penal, tratando-se de sentença condenatória, a mesma poderá ser modificada em sede de Revisão Criminal. Porém, tratando-se de sentença absolutória, nada poderá modificá-la, pois ocorre a chamada “coisa soberanamente julgada” # Competência (Art. 69 do CPP) Delimita o exercício da jurisdição, e não, divisibilidade da jurisdição, pois essa é una. De acordo com o art. 69, CPP a competência pode ser determinada em razão da matéria, do lugar ou da pessoa. Natureza Jurídica - conferir validade ao processo. • Competência Absoluta (não preclui) - Fixada em razão da matéria e da pessoa - Presunção do prejuízo - Pode ser alegada a qualquer momento • Competência Relativa (preclui) - Cabe à parte comprovar o prejuízo, devendo ser alegada na primeira oportunidade sob pena de preclusão. Fixação da Competência (Art. 69 do CPP) Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I - o lugar da infração: II - o domicílio ou residência do réu; III - a natureza da infração; IV - a distribuição; V - a conexão ou continência; VI - a prevenção; VII - a prerrogativa de função. • Primário • Secundário # Em Razão da Matéria (ratione materiae) Busca inicialmente identificar se a competência é da Justiça especializada (Militar ou Eleitoral) ou da Justiça Comum (Federal ou Estadual). • Especial - Militar (Art. 124 da CF e Art. 9º do CPM) Obs.: (crimes dolosos contra a vida - Tribunal do Júri) A Justiça Militar Federal tem competência para julgar os militares integrantes da Forças Armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica, além de civis pela prática de crimes considerados militares. O art. 124 da CF estabelece que a competência da Justiça Militar é para o processo e julgamento dos crimes militares definidos em lei. O Código Penal Militar, em seu art. 9º e incisos, define o que se considera crime militar. Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugarsujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. § 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) § 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017). - Eleitoral (Art. 121 da CF) A competência da Justiça Eleitoral está prevista no art. 121 da Constituição. Como o dispositivo constitucional não especifica a competência, deve-se utilizar o Código Eleitoral, que além de tratar da competência, define quais são os crimes eleitorais. Para a fixação da competência, você deve ter em mente que toda vez que houver a prática de um crime eleitoral e um crime comum, previsto no CP, haverá uma reunião de processos e ambos os crimes serão julgados pela Justiça Eleitoral, por força da conexão – art. 78, IV, CPP. Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. § 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis. § 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria. § 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança. § 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando: I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei; II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção. • Comum - Federal (Art. 108 e 109 da CF) A Justiça Federal tem competência residual em reação às Justiças especiais. Assim, passa-se a análise de sua competência se o crime não for da competência das Justiças Militar ou Eleitoral. A competência da Justiça Federal vem delimitada nos Arts. 108 e 109 da Constituição. Por ora, faremos uma análise do art. 109, que trata da competência da Justiça Federal no 1º grau de jurisdição. O art. 108 será analisado quando você estiver estudando a competência em razão das pessoas. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas. § 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. § 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. § 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre quea comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual. § 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau. § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) - Estadual (Residual) A Justiça Comum Estadual é considerada a mais residual de todas. Mas o que isso significa? Significa que, por exclusão, a Justiça Comum Estadual é a competente para julgar todas as causas que não forem da Competência das Justiças Especializadas, nem da Justiça Comum Federal. Havendo conflito entre Justiça Federal e Justiça Estadual, prevalece a daquela – art. 78, III, CPP e Súmula 122, STJ. # Em Razão da Pessoa/Função (ratione personae) Trata-se da competência em razão da função pública desempenhada por certas pessoas – a chamada prerrogativa de função. Trata-se, como a competência material, de competência absoluta, não podendo ser prorrogada. A competência em razão da pessoa é determina pela Constituição que estabelece qual o órgão tem competência originária para julgamento dos acusados que possuem a prerrogativa de função. - Durante o exercício do cargo; - Em razão do cargo; - Depois da intimação para apresentação de alegações finais não se altera mais a competência. Foro por prerrogativa de função - Informativo 900 do STF Informativo STF Brasília, 30 de abril a 4 de maio 2018 - Nº 900. Este Informativo, elaborado com base em notas tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos de decisões proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a sua publicação no Diário da Justiça. SUMÁRIO Plenário Prerrogativa de foro e interpretação restritiva - 3 Propaganda eleitoral e telemarketing - 2 Inovações Legislativas PLENÁRIO DIREITO CONSTITUCIONAL – PRERROGATIVA DE FORO Prerrogativa de foro e interpretação restritiva - 3 O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. Esse é o entendimento do Plenário, ao resolver questão de ordem para determinar a baixa de ação penal ao juízo da zona eleitoral para posterior julgamento, tendo em vista que: a) os crimes imputados ao réu não foram cometidos no cargo de deputado federal ou em razão dele; b) o réu renunciou ao cargo para assumir a função de prefeito; e c) a instrução processual se encerrou perante a 1ª instância, antes do deslocamento de competência para o Supremo Tribunal Federal (STF) (Informativos 867 e 885). Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso (relator), o qual registrou que a quantidade de pessoas beneficiadas pelo foro e a extensão que se tem dado a ele, a abarcar fatos ocorridos antes de o indivíduo ser investido no cargo beneficiado pelo foro por prerrogativa de função ou atos praticados sem qualquer conexão com o exercício do mandato que se deseja proteger, têm resultado em múltiplas disfuncionalidades. A primeira delas é atribuir ao STF uma competência para a qual ele não é vocacionado. Nenhuma corte constitucional no mundo tem a quantidade de processos de competência originária, em matéria penal, como tem a do Brasil. E, evidentemente, na medida em que desempenha esse papel de jurisdição penal de primeiro grau, o STF se afasta da sua missão primordial de guardião da Constituição e de equacionamento das grandes questões nacionais. O procedimento no Supremo é muito mais complexo do que no juízo de primeiro grau, por essa razão leva- se muito mais tempo para apreciar a denúncia, processar e julgar a ação penal. Consequentemente, é comum a ocorrência de prescrição, o que nem sempre acontece por responsabilidade do Tribunal, mas por conta do próprio sistema. Portanto, o mau funcionamento do sistema traz, além de impunidade, desprestígio para o STF. Como consequência, perde o Direito Penal o seu principal papel, qual seja, o de atuar como prevenção geral. O relator frisou que a situação atual revela a necessidade de mutação constitucional. Isso ocorre quando a corte constitucional muda um entendimento consolidado, não porque o anterior fosse propriamente errado, mas porque: a) a realidade fática mudou; b) a percepção social do Direito mudou; ou c) as consequências práticas de uma orientação jurisprudencial se revelaram negativas. As três hipóteses que justificam a alteração de uma linha de interpretação constitucional estão presentes na hipótese dos autos. A nova interpretação prestigia os princípios da igualdade e republicano, além de assegurar às pessoas o desempenho de mandato livre de interferências, que é o fim pretendido pela norma constitucional. Ademais, viola o princípio da igualdade proteger, com foro de prerrogativa, o agente público por atos praticados sem relação com a função para a qual se quer resguardar sua independência, o que constitui a atribuição de um privilégio. Além disso, o princípio republicano tem como uma das suas dimensões mais importantes a possibilidade de responsabilização dos agentes públicos. A prescrição, o excessivo retardamento e a impunidade, que resultam do modelo de foro por prerrogativa de função, não se amoldam ao referido princípio. A Corte registrou que essa nova linha interpretativa deve ser aplicada imediatamente aos processos em curso, com a ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e pelos demais juízos com base na jurisprudência anterior, conforme precedente firmado no Inq 687 QO/SP (DJU de 25.8.1999). Vencidos, em parte, os ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, apenas quanto à restrição do foro aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. Ambos consideraram que a expressão “nas infrações penais comuns”, prevista no art. 102, I, “b”, da Constituição Federal, alcança todos os tipos de infrações penais, ligadas ou não ao exercício do mandato. Vencido, em parte, o ministro Marco Aurélio, tão somente quanto à prorrogação da competência para processar e julgar ações penais após a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais. Vencido, em parte, o ministro Dias Toffoli, que, em voto reajustado, resolveu a questão de ordem no sentido de: a) fixar a competência do STF para processar e julgar os membros do Congresso Nacional exclusivamente quanto aos crimes praticados após a diplomação, independentemente de sua relação ou não com a função pública em questão; b) fixar a competência por prerrogativa de foro, prevista na Constituição Federal, quanto aos demais cargos, exclusivamente quanto aos crimes praticados após a diplomação ou a nomeação (conforme o caso), independentemente de sua relaçãoou não com a função pública em questão; c) serem inaplicáveis as regras constitucionais de prerrogativa de foro quanto aos crimes praticados anteriormente à diplomação ou à nomeação (conforme o caso), hipótese em que os processos deverão ser remetidos ao juízo de primeira instância competente, independentemente da fase em que se encontrem; d) reconhecer a inconstitucionalidade das normas previstas nas Constituições estaduais e na Lei Orgânica do Distrito Federal que contemplem hipóteses de prerrogativa de foro não previstas expressamente na Constituição Federal, vedada a invocação de simetria; e) estabelecer, quando aplicável a competência por prerrogativa de foro, que a renúncia ou a cessação, por qualquer outro motivo, da função pública que atraia a causa penal ao foro especial, após o encerramento da fase do art. 10 da Lei 8.038/1990, com a determinação de abertura de vista às partes para alegações finais, não altera a competência para o julgamento da ação penal. Por fim, vencido, também parcialmente, o ministro Gilmar Mendes, que assentou que a prerrogativa de foro alcança todos os delitos imputados ao destinatário da prerrogativa, desde que durante a investidura, sendo desnecessária a ligação com o ofício. Ao final, propôs o início de procedimento para a adoção de Enunciado da Súmula Vinculante em que restasse assentada a inconstitucionalidade de normas de Constituições Estaduais que disponham sobre a competência do Tribunal de Justiça para julgar autoridades sem cargo similar contemplado pela Constituição Federal e a declaração incidental de inconstitucionalidade dos incisos II e VII do art. 22 da Lei 13.502/2017; dos incisos II e III e parágrafo único do art. 33 da Lei Complementar 35/1979; dos artigos 40, III, V, e 41, II, parágrafo único, da Lei 8.625/1993; e do art. 18, II, “d”, “e”, “f”, parágrafo único, da Lei Complementar 75/1993. AP 937 QO/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 2 e 3.5.2018. (AP-937) Compete ao STF julgar e processar - Art. 102, I, b, c da CF A Constituição em seu art. 102, I, “b” e “c” estabelece que a Corte é competente para julgar nas infrações penais comuns o Presidente da República, o Vice-presidente da República, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador Geral da República e por infrações penais comuns e por crimes de responsabilidade os Ministros de Estado e os Comandantes das Forças Armadas. A competência do STF prevalece sobre qualquer outra. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) Competência do STJ - Art. 105, I, a da CF Em seu art. 105, I, “a”, a Carta Magna estabelece a competência do STJ para julgamento por crimes comuns dos Governadores dos Estados e do Distrito Federal e por crimes comuns e de responsabilidade os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados, os membros dos Tribunais de Conta, dos Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e do Trabalho, além de outras pessoas. A competência do STJ prevalece sobre qualquer outra, salvo, é claro, a do STF. Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; Competência dos Tribunais de Justiça Serão julgados pelos Tribunais de Justiça ao qual estão vinculados, por crimes comuns, os Juízes de Direito e os membros do Ministério Público. Entretanto, tratando-se de crime eleitoral, a competência será do TRE, de acordo com art. 96, III, CF. Art. 96. Compete privativamente: III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Competência dos Tribunais Regionais Federais Este Tribunal é competente, na dicção do art. 108, I, “a”, CF para o julgamento por crimes comuns, os juízes federais, militares e do trabalho, bem como os membros do Ministério Público da União. A ressalva é a mesma dos TJs, se for crime eleitoral, competência do TRE. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
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