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Direito Processual Penal I - Aula 11 - Professor Samuel

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Rio de Janeiro, 13 de maio de 2019. 
 
Direito Processual Penal I 
 
Professor Samuel Nery 
 
E-mail - samuel.neri.pc@gmail.com 
 
Instagram – profsamuelneri 
 
 
Aula 11 
 
# Jurisdição 
 
Conceito - é a função do estado-juiz de dizer o direito no 
caso concreto com a finalidade de solucionar o conflito. 
 
• Pressuposto da Jurisdição – Soberania 
 
- Princípio da territorialidade (lei penal no espaço); 
 
- Princípio da extraterritorialidade (caso de guerra, espaço 
cósmico, carta rogatória); 
 
- Princípio da intraterritorialidade (consulado e 
embaixada) 
 
# Princípios da Jurisdição 
 
• Princípio da Investidura 
 
A jurisdição só pode ser exercida por quem tenha sido 
regularmente investido no cargo de juiz e esteja no 
exercício de suas funções. Caso o juiz não esteja investido 
no cargo, o ato praticado é inexistente, por faltar um 
pressuposto processual essencial. 
 
- Concurso - prova + provas e títulos 
- Nomeado - 1/5 (TJ, TRF, TRE) 
- Jurados 
 
• Princípio do Juiz Natural 
 
Como já estudado anteriormente, o princípio do juiz 
natural consiste no direito do cidadão de saber qual o juiz 
ou tribunal pode processá-lo caso pratique a conduta 
tipificada como crime. De acordo com Lopes Jr. (2016, p. 
260) “o nascimento do juiz natural dá-se no momento da 
prática do delito e não no início do processo” 
 
• Princípio da Indeclinabilidade ou Inafastabilidade 
 
Nenhum juiz pode subtrair-se do exercício da função 
jurisdicional, pois de acordo com o art. 5º, XXXV, CRFB, "a 
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito", ou seja, o magistrado não pode se eximir 
da função de julgar. 
 
• Princípio da Indelegabilidade 
 
Nenhum juiz pode delegar sua jurisdição a outro órgão, 
pois estaria, por via indireta, violando a garantia do juiz 
natural. De acordo com Távora e Alencar (2013, p. 240) “a 
regra é que a função jurisdicional não pode ser delegada a 
um outro órgão, mesmo que jurisdicional”. Os autores 
citam como exceções as precatórias e cartas de ordem, 
“onde há a prática de atos processuais por um outro 
magistrado, que não o originariamente competente”. 
 
- Carta Precatória 
- Carta de Ordem 
- Carta Rogatória (exceção) 
 
• Princípio da Improrrogabilidade 
 
Um juiz não pode invadir a competência de outro, mesmo 
que haja concordância das partes. 
 
• Princípio da Unidade 
 
É una e indivisível, porquanto manifestação de uma 
soberania estatal que não pode ser repartida. 
 
• Princípio do "nulla poena sine juditio" (não há 
pena sem jurisdição) 
 
É necessário um processo perante juiz com jurisdição 
para a aplicação da lei penal; assim, se não há crime e nem 
pena sem lei prévia, também não se pode impor pena sem 
processo, nem se admitir que haja processo sem justiça. 
 
# Características da Jurisdição 
 
• Substitutividade 
 
- O órgão jurisdicional declara o direito ao caso concreto, 
substituindo a vontade das partes, restabelecendo a paz 
social violada pelo delito praticado. 
 
• Inércia 
 
- Em regra, para que a jurisdição seja exercida é preciso 
que haja a provocação (ne procedat judex ex officio), ainda 
no sistema acusatório que, como você já viu, o juiz não é 
parte. No entanto, há uma mitigação em relação a esta 
caraterística, já que em favor da liberdade o juiz pode 
conceder de ofício a ordem de “habeas corpus”. 
 
• Definitividade ou Imutabilidade 
 
- Ao se encerrar o processo, com o trânsito em julgado 
da sentença proferida, a manifestação do juiz torna-se 
imutável. No processo penal, tratando-se de sentença 
condenatória, a mesma poderá ser modificada em sede de 
Revisão Criminal. Porém, tratando-se de sentença 
absolutória, nada poderá modificá-la, pois ocorre a 
chamada “coisa soberanamente julgada” 
 
# Competência (Art. 69 do CPP) 
 
Delimita o exercício da jurisdição, e não, divisibilidade da 
jurisdição, pois essa é una. 
 
De acordo com o art. 69, CPP a competência pode ser 
determinada em razão da matéria, do lugar ou da pessoa. 
 
Natureza Jurídica - conferir validade ao processo. 
 
• Competência Absoluta (não preclui) 
 
- Fixada em razão da matéria e da pessoa 
- Presunção do prejuízo 
- Pode ser alegada a qualquer momento 
 
• Competência Relativa (preclui) 
 
- Cabe à parte comprovar o prejuízo, devendo ser alegada 
na primeira oportunidade sob pena de preclusão. 
 
Fixação da Competência (Art. 69 do CPP) 
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: 
I - o lugar da infração: 
II - o domicílio ou residência do réu; 
III - a natureza da infração; 
IV - a distribuição; 
V - a conexão ou continência; 
VI - a prevenção; 
VII - a prerrogativa de função. 
• Primário 
• Secundário 
 
# Em Razão da Matéria (ratione materiae) 
 
Busca inicialmente identificar se a competência é da 
Justiça especializada (Militar ou Eleitoral) ou da Justiça 
Comum (Federal ou Estadual). 
 
• Especial 
 
- Militar (Art. 124 da CF e Art. 9º do CPM) 
 
Obs.: (crimes dolosos contra a vida - Tribunal do Júri) 
 
A Justiça Militar Federal tem competência para julgar 
os militares integrantes da Forças Armadas: Exército, 
Marinha e Aeronáutica, além de civis pela prática de 
crimes considerados militares. O art. 124 da CF 
estabelece que a competência da Justiça Militar é para 
o processo e julgamento dos crimes militares 
definidos em lei. O Código Penal Militar, em seu art. 9º 
e incisos, define o que se considera crime militar. 
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os 
crimes militares definidos em lei. 
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o 
funcionamento e a competência da Justiça Militar 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
 I - os crimes de que trata este Código, quando definidos 
de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, 
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; 
 II – os crimes previstos neste Código e os previstos na 
legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela 
Lei nº 13.491, de 2017) 
 a) por militar em situação de atividade ou 
assemelhado, contra militar na mesma situação ou 
assemelhado; 
 b) por militar em situação de atividade ou 
assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, 
contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, 
ou civil; 
 c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, 
em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda 
que fora do lugar sujeito à administração militar contra 
militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada 
pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) 
 d) por militar durante o período de manobras ou 
exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou 
assemelhado, ou civil; 
 e) por militar em situação de atividade, ou 
assemelhado, contra o patrimônio sob a administração 
militar, ou a ordem administrativa militar; 
 f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 
8.8.1996) 
 III - os crimes praticados por militar da reserva, ou 
reformado, ou por civil, contra as instituições militares, 
considerando-se como tais não só os compreendidos no 
inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: 
 a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou 
contra a ordem administrativa militar; 
 b) em lugar sujeito à administração militar contra 
militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra 
funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no 
exercício de função inerente ao seu cargo; 
 c) contra militar em formatura, ou durante o período 
de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, 
acampamento, acantonamento ou manobras; 
 d) ainda que fora do lugarsujeito à administração 
militar, contra militar em função de natureza militar, ou no 
desempenho de serviço de vigilância, garantia e 
preservação da ordem pública, administrativa ou 
judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, 
ou em obediência a determinação legal superior. 
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos 
contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão 
da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada pela 
Lei nº 13.491, de 2017) 
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos 
contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas 
contra civil, serão da competência da Justiça Militar da 
União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 
13.491, de 2017) 
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem 
estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo 
Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 
13.491, de 2017) 
II – de ação que envolva a segurança de instituição 
militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; 
ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) 
III – de atividade de natureza militar, de operação de 
paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição 
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no 
art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes 
diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) 
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código 
Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, 
de 2017) 
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 
1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) 
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - 
Código de Processo Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 
13.491, de 2017) 
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código 
Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017). 
- Eleitoral (Art. 121 da CF) 
 
A competência da Justiça Eleitoral está prevista 
no art. 121 da Constituição. Como o dispositivo 
constitucional não especifica a competência, deve-se 
utilizar o Código Eleitoral, que além de tratar da 
competência, define quais são os crimes eleitorais. 
Para a fixação da competência, você deve ter em mente 
que toda vez que houver a prática de um crime 
eleitoral e um crime comum, previsto no CP, haverá 
uma reunião de processos e ambos os crimes serão 
julgados pela Justiça Eleitoral, por força da conexão – 
art. 78, IV, CPP. 
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e 
competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas 
eleitorais. 
§ 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os 
integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas 
funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas 
garantias e serão inamovíveis. 
§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo 
justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por 
mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos 
escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em 
número igual para cada categoria. 
§ 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior 
Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as 
denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança. 
§ 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais 
somente caberá recurso quando: 
I - forem proferidas contra disposição expressa desta 
Constituição ou de lei; 
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois 
ou mais tribunais eleitorais; 
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de 
diplomas nas eleições federais ou estaduais; 
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de 
mandatos eletivos federais ou estaduais; 
V - denegarem habeas corpus, mandado de 
segurança, habeas data ou mandado de injunção. 
• Comum 
 
- Federal (Art. 108 e 109 da CF) 
 
A Justiça Federal tem competência residual em 
reação às Justiças especiais. Assim, passa-se a análise 
de sua competência se o crime não for da competência 
das Justiças Militar ou Eleitoral. A competência da 
Justiça Federal vem delimitada nos Arts. 108 e 109 da 
Constituição. Por ora, faremos uma análise do art. 
109, que trata da competência da Justiça Federal no 1º 
grau de jurisdição. O art. 108 será analisado quando 
você estiver estudando a competência em razão das 
pessoas. 
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 
I - processar e julgar, originariamente: 
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os 
da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes 
comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério 
Público da União, ressalvada a competência da Justiça 
Eleitoral; 
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados 
seus ou dos juízes federais da região; 
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato 
do próprio Tribunal ou de juiz federal; 
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz 
federal; 
e) os conflitos de competência entre juízes federais 
vinculados ao Tribunal; 
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos 
juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da 
competência federal da área de sua jurisdição. 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou 
empresa pública federal forem interessadas na condição de 
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, 
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e 
à Justiça do Trabalho; 
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo 
internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente 
no País; 
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União 
com Estado estrangeiro ou organismo internacional; 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em 
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas 
entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar 
e da Justiça Eleitoral; 
V - os crimes previstos em tratado ou convenção 
internacional, quando, iniciada a execução no País, o 
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou 
reciprocamente; 
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere 
o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 
45, de 2004) 
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos 
casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a 
ordem econômico-financeira; 
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua 
competência ou quando o constrangimento provier de 
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a 
outra jurisdição; 
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra 
ato de autoridade federal, excetuados os casos de 
competência dos tribunais federais; 
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, 
ressalvada a competência da Justiça Militar; 
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de 
estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o 
"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, 
as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva 
opção, e à naturalização; 
XI - a disputa sobre direitos indígenas. 
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas 
na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. 
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser 
aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, 
naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem 
à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no 
Distrito Federal. 
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no 
foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas 
em que forem parte instituição de previdência social e 
segurado, sempre quea comarca não seja sede de vara do 
juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá 
permitir que outras causas sejam também processadas e 
julgadas pela justiça estadual. 
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível 
será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de 
jurisdição do juiz de primeiro grau. 
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, 
o Procurador-Geral da República, com a finalidade de 
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de 
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o 
Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior 
Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou 
processo, incidente de deslocamento de competência para a 
Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, 
de 2004) 
- Estadual (Residual) 
 
A Justiça Comum Estadual é considerada a mais 
residual de todas. Mas o que isso significa? Significa que, 
por exclusão, a Justiça Comum Estadual é a competente 
para julgar todas as causas que não forem da Competência 
das Justiças Especializadas, nem da Justiça Comum Federal. 
Havendo conflito entre Justiça Federal e Justiça Estadual, 
prevalece a daquela – art. 78, III, CPP e Súmula 122, STJ. 
 
# Em Razão da Pessoa/Função (ratione personae) 
 
Trata-se da competência em razão da função pública 
desempenhada por certas pessoas – a chamada 
prerrogativa de função. Trata-se, como a competência 
material, de competência absoluta, não podendo ser 
prorrogada. A competência em razão da pessoa é 
determina pela Constituição que estabelece qual o órgão 
tem competência originária para julgamento dos acusados 
que possuem a prerrogativa de função. 
 
- Durante o exercício do cargo; 
 
- Em razão do cargo; 
 
- Depois da intimação para apresentação de alegações 
finais não se altera mais a competência. 
 
Foro por prerrogativa de função - Informativo 900 do STF 
 
Informativo STF 
 
Brasília, 30 de abril a 4 de maio 2018 - Nº 900. 
 
Este Informativo, elaborado com base em notas 
tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e 
do Plenário, contém resumos de decisões 
proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais 
resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora 
seja uma das metas perseguidas neste trabalho, 
somente poderá ser aferida após a sua publicação 
no Diário da Justiça. 
 
SUMÁRIO 
 
Plenário 
Prerrogativa de foro e interpretação restritiva - 3 
Propaganda eleitoral e telemarketing - 2 
Inovações Legislativas 
 
PLENÁRIO 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL – PRERROGATIVA DE 
FORO 
Prerrogativa de foro e interpretação restritiva - 3 
 
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos 
crimes cometidos durante o exercício do cargo e 
relacionados às funções desempenhadas. 
 
Após o final da instrução processual, com a publicação 
do despacho de intimação para apresentação de 
alegações finais, a competência para processar e julgar 
ações penais não será mais afetada em razão de o 
agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o 
cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. 
 
Esse é o entendimento do Plenário, ao resolver 
questão de ordem para determinar a baixa de ação 
penal ao juízo da zona eleitoral para posterior 
julgamento, tendo em vista que: a) os crimes 
imputados ao réu não foram cometidos no cargo de 
deputado federal ou em razão dele; b) o réu renunciou 
ao cargo para assumir a função de prefeito; e c) a 
instrução processual se encerrou perante a 1ª 
instância, antes do deslocamento de competência para 
o Supremo Tribunal Federal (STF) 
(Informativos 867 e 885). 
 
Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso 
(relator), o qual registrou que a quantidade de pessoas 
beneficiadas pelo foro e a extensão que se tem dado a 
ele, a abarcar fatos ocorridos antes de o indivíduo ser 
investido no cargo beneficiado pelo foro por 
prerrogativa de função ou atos praticados sem 
qualquer conexão com o exercício do mandato que se 
deseja proteger, têm resultado em múltiplas 
disfuncionalidades. 
 
A primeira delas é atribuir ao STF uma competência 
para a qual ele não é vocacionado. Nenhuma corte 
constitucional no mundo tem a quantidade de 
processos de competência originária, em matéria 
penal, como tem a do Brasil. E, evidentemente, na 
medida em que desempenha esse papel de jurisdição 
penal de primeiro grau, o STF se afasta da sua missão 
primordial de guardião da Constituição e de 
equacionamento das grandes questões nacionais. 
 
O procedimento no Supremo é muito mais complexo 
do que no juízo de primeiro grau, por essa razão leva-
se muito mais tempo para apreciar a denúncia, 
processar e julgar a ação penal. Consequentemente, é 
comum a ocorrência de prescrição, o que nem sempre 
acontece por responsabilidade do Tribunal, mas por 
conta do próprio sistema. 
 
Portanto, o mau funcionamento do sistema traz, além 
de impunidade, desprestígio para o STF. Como 
consequência, perde o Direito Penal o seu principal 
papel, qual seja, o de atuar como prevenção geral. 
 
O relator frisou que a situação atual revela a 
necessidade de mutação constitucional. Isso ocorre 
quando a corte constitucional muda um entendimento 
consolidado, não porque o anterior fosse 
propriamente errado, mas porque: a) a realidade 
fática mudou; b) a percepção social do Direito mudou; 
ou c) as consequências práticas de uma orientação 
jurisprudencial se revelaram negativas. As três 
hipóteses que justificam a alteração de uma linha de 
interpretação constitucional estão presentes na 
hipótese dos autos. 
 
A nova interpretação prestigia os princípios da 
igualdade e republicano, além de assegurar às pessoas 
o desempenho de mandato livre de interferências, que 
é o fim pretendido pela norma constitucional. 
Ademais, viola o princípio da igualdade proteger, com 
foro de prerrogativa, o agente público por atos 
praticados sem relação com a função para a qual se 
quer resguardar sua independência, o que constitui a 
atribuição de um privilégio. 
 
Além disso, o princípio republicano tem como uma das 
suas dimensões mais importantes a possibilidade de 
responsabilização dos agentes públicos. A prescrição, 
o excessivo retardamento e a impunidade, que 
resultam do modelo de foro por prerrogativa de 
função, não se amoldam ao referido princípio. 
 
A Corte registrou que essa nova linha interpretativa 
deve ser aplicada imediatamente aos processos em 
curso, com a ressalva de todos os atos praticados e 
decisões proferidas pelo STF e pelos demais juízos 
com base na jurisprudência anterior, conforme 
precedente firmado no Inq 687 QO/SP (DJU de 
25.8.1999). 
 
Vencidos, em parte, os ministros Alexandre de Moraes 
e Ricardo Lewandowski, apenas quanto à restrição do 
foro aos crimes cometidos durante o exercício do 
cargo e relacionados às funções desempenhadas. 
Ambos consideraram que a expressão “nas infrações 
penais comuns”, prevista no art. 102, I, “b”, da 
Constituição Federal, alcança todos os tipos de 
infrações penais, ligadas ou não ao exercício do 
mandato. 
 
Vencido, em parte, o ministro Marco Aurélio, tão 
somente quanto à prorrogação da competência para 
processar e julgar ações penais após a publicação do 
despacho de intimação para apresentação de 
alegações finais. 
 
Vencido, em parte, o ministro Dias Toffoli, que, em 
voto reajustado, resolveu a questão de ordem no 
sentido de: a) fixar a competência do STF para 
processar e julgar os membros do Congresso Nacional 
exclusivamente quanto aos crimes praticados após a 
diplomação, independentemente de sua relação ou 
não com a função pública em questão; b) fixar a 
competência por prerrogativa de foro, prevista na 
Constituição Federal, quanto aos demais cargos, 
exclusivamente quanto aos crimes praticados após a 
diplomação ou a nomeação (conforme o caso), 
independentemente de sua relaçãoou não com a 
função pública em questão; c) serem inaplicáveis as 
regras constitucionais de prerrogativa de foro quanto 
aos crimes praticados anteriormente à diplomação ou 
à nomeação (conforme o caso), hipótese em que os 
processos deverão ser remetidos ao juízo de primeira 
instância competente, independentemente da fase em 
que se encontrem; d) reconhecer a 
inconstitucionalidade das normas previstas nas 
Constituições estaduais e na Lei Orgânica do Distrito 
Federal que contemplem hipóteses de prerrogativa de 
foro não previstas expressamente na Constituição 
Federal, vedada a invocação de simetria; e) 
estabelecer, quando aplicável a competência por 
prerrogativa de foro, que a renúncia ou a cessação, por 
qualquer outro motivo, da função pública que atraia a 
causa penal ao foro especial, após o encerramento da 
fase do art. 10 da Lei 8.038/1990, com a determinação 
de abertura de vista às partes para alegações finais, 
não altera a competência para o julgamento da ação 
penal. 
 
Por fim, vencido, também parcialmente, o ministro 
Gilmar Mendes, que assentou que a prerrogativa de 
foro alcança todos os delitos imputados ao 
destinatário da prerrogativa, desde que durante a 
investidura, sendo desnecessária a ligação com o 
ofício. Ao final, propôs o início de procedimento para 
a adoção de Enunciado da Súmula Vinculante em que 
restasse assentada a inconstitucionalidade de normas 
de Constituições Estaduais que disponham sobre a 
competência do Tribunal de Justiça para julgar 
autoridades sem cargo similar contemplado pela 
Constituição Federal e a declaração incidental de 
inconstitucionalidade dos incisos II e VII do art. 22 da 
Lei 13.502/2017; dos incisos II e III e parágrafo único 
do art. 33 da Lei Complementar 35/1979; dos artigos 
40, III, V, e 41, II, parágrafo único, da Lei 8.625/1993; 
e do art. 18, II, “d”, “e”, “f”, parágrafo único, da Lei 
Complementar 75/1993. 
 
AP 937 QO/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, 
julgamento em 2 e 3.5.2018. (AP-937) 
 
Compete ao STF julgar e processar - Art. 102, I, b, c da 
CF 
A Constituição em seu art. 102, I, “b” e “c” estabelece 
que a Corte é competente para julgar nas infrações penais 
comuns o Presidente da República, o Vice-presidente da 
República, os membros do Congresso Nacional, seus 
próprios Ministros e o Procurador Geral da República e por 
infrações penais comuns e por crimes de responsabilidade 
os Ministros de Estado e os Comandantes das Forças 
Armadas. A competência do STF prevalece sobre qualquer 
outra. 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, 
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, 
o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus 
próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de 
responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes 
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o 
disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, 
os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão 
diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela 
Emenda Constitucional nº 23, de 1999) 
 
Competência do STJ - Art. 105, I, a da CF 
 
Em seu art. 105, I, “a”, a Carta Magna estabelece a 
competência do STJ para julgamento por crimes comuns 
dos Governadores dos Estados e do Distrito Federal e por 
crimes comuns e de responsabilidade os desembargadores 
dos Tribunais de Justiça dos Estados, os membros dos 
Tribunais de Conta, dos Tribunais Regionais Federais, 
Eleitorais e do Trabalho, além de outras pessoas. A 
competência do STJ prevalece sobre qualquer outra, salvo, 
é claro, a do STF. 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do 
Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os 
desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados 
e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de 
Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos 
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais 
Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou 
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério 
Público da União que oficiem perante tribunais; 
Competência dos Tribunais de Justiça 
Serão julgados pelos Tribunais de Justiça ao qual estão 
vinculados, por crimes comuns, os Juízes de Direito e os 
membros do Ministério Público. Entretanto, tratando-se de 
crime eleitoral, a competência será do TRE, de acordo com 
art. 96, III, CF. 
Art. 96. Compete privativamente: 
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do 
Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do 
Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, 
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. 
 
Competência dos Tribunais Regionais Federais 
Este Tribunal é competente, na dicção do art. 108, I, “a”, CF 
para o julgamento por crimes comuns, 
os juízes federais, militares e do trabalho, bem como os 
membros do Ministério 
Público da União. A ressalva é a mesma dos TJs, se for crime 
eleitoral, competência do TRE. 
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 
I - processar e julgar, originariamente: 
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os 
da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes 
comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério 
Público da União, ressalvada a competência da Justiça 
Eleitoral;

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