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História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade História da Educação Unidade Nº4 - Do governo militar à contemporaneidade História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Eliane de Siqueira Introdução Depois de conhecermos um pouco da trajetória da educação até o período da República, chegou a hora de falarmos um pouco sobre um dos períodos de maior imposição de ideias e mais restritivo com relação às condutas das pessoas. Pensar, se fosse para manifestar algo diferente daquilo que os militares queriam, era motivo para perseguições, prisões e punições diversas. Nesse cenário, a educação tentou resistir e ampliar suas discussões com legislações e outras regulamentações que objetivavam contextualizar os processos e fazer sentido para as pessoas. Grandes educadores ganharam força na expressão das suas ideias e avançam pela contemporaneidade com propostas para revolucionar a educação e tirá-la da marginalidade em que tinha sido colocada. Vamos então conhecer um pouco mais dessa história? 1. A educação brasileira e os governos militares (1964-1985) O período correspondente ao governo militar foi marcado por um forte autoritarismo e anseio pelo poder. Muitas punições aconteceram como forma de silenciar as pessoas e aquela educação com vistas à democracia foi deixada bem de lado. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade O foco da educação ficou voltado para o ensino profissionalizante, visto como um passaporte para o ensino superior. Mesmo assim, eram espaços que deveriam replicar as ideias militares e toda ação contrária era fortemente reprimida. Nesse cenário, em 1967 cria-se o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização). Seu objetivo era acabar com o analfabetismo no Brasil e isso deveria acontecer no prazo de 10 anos. O atendimento inicial era apenas para adultos, mas a proposta expandiu-se ainda mais até que, em 1970, o atendimento também passou a ser ofertado para os estudantes das quatro primeiras séries do ensino fundamental. Saiba mais: O Mobral foi um forte movimento pela alfabetização criado para conter a taxa de analfabetismo que já estava com índices altíssimos entre os adultos no Brasil. O programa funcionava a noite nos prédios das escolas já existentes e outros espaços. Além dos adultos o programa foi sendo progressivamente ofertado também para os jovens com idade entre 9 e 14 anos. De acordo com Santos (2013, p.50): “Foram 40 milhões de brasileiros que passaram por esse movimento e apenas 15 milhões se diplomaram. Diante desse resultado, em 25 de novembro de 1985, o presidente José Sarney, extinguiu o movimento” (Santos 2013, p.50). Ainda segundo a mesma autora, o Mobral organizava-se em sete programas para qualificação da mão de obra que visava o desenvolvimento econômico mesmo diante de um método autoritário. Os programas eram: - Programa de alfabetização funcional; História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade - Programa de educação integrada; - Programa Mobral Cultural; - Programa profissionalização; - Programa de educação comunitária para saúde; - Programa diversificado de ação comunitária; - Programa de autodidatismo. 1.1. Contexto Político e Econômico O pensamento que dominava esse período era extremamente conservador. Politicamente, a participação da população era pequena e todos os movimentos adeptos ao socialismo e comunismo era perseguidos, pessoas eram presas e líderes torturados. Essas ideologias eram consideradas ameaças à ordem pública e à segurança nacional. Economicamente, esse foi um período marcado pela alta taxa de inflação e poucos investimentos foram feitos no Brasil nessa época. Em um determinado momento falava-se em “Milagre econômico”, mas esse momento foi seguido pelo aumento dos preços dos produtos. Como os salários não acompanhavam esse aumentos, as dívidas acumuladas tornaram-se cada vez maiores. Segundo reportagem publicada na Revista Carta Capital, com o regime militar o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) desenvolveu programas que objetivavam garantir a estabilização econômica. Esse processo, desenvolvido em conjunto, com transformações institucionais, principalmente no mercado financeiro, criou, por exemplo, a correção monetária e prepara a economia para o milagre econômico. Além disso, aprofunda as características de um modelo econômico dependente e associado ao capital estrangeiro mantendo a matriz industrial História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade implementada com o Plano de Metas. https://www.cartacapital.com.br/economia/a- economia-na-ditadura/ 1.2. A Reforma Universitária A Reforma Universitária que ocorreu durante o Regime Militar tinha como objetivo principal disciplinar a escolha dos dirigentes dessas instituições e regulamentar procedimentos internos. Essa reforma foi instituída pela Lei nº 5540 de 28 de novembro de 1968. Você quer ler? Para conhecer a legislação que institui a Reforma Universitária original acesse aqui. De acordo com Veiga (2007, p. 309), ao mesmo tempo que as reformas representavam anseios de mudanças educacionais em setores representativos da sociedade, como era o caso do ensino superior, ao menos em termos de reestruturação do ensino as mudanças foram instituídas em um contexto de autoritarismo, portanto de cerceamento de liberdade. Segundo Veiga (2007, p.310): “Nas décadas de 40 e 50, proliferaram órgãos de pesquisas e planejamento, por vezes em cooperação com universidade, além da criação de órgãos de fomento à pesquisa. Do ponto de vista do ensino superior, o ITA inovou quanto à organização do corpo docente, não adotando a sistema de cátedras” (Veiga 2007, p.310). História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Saiba mais: O sistema de cátedras refere-se a disciplinas ensinadas por professores que, com conhecimento suficiente, tinham alcançado o posto mais alto na sua carreira docente. Ainda de acordo com Veiga (2007), a reforma dizia respeito também ao desenvolvimento das atividades acadêmicas e científicas. Suas diretrizes referiam-se a: - Regime jurídico e administrativo: autonomia universitária; - Estrutura: unidade de patrimônio e administração, organização de departamentos e racionalização no uso de equipamentos; - Corpo docente: extinção da cátedra; - Corpo discente: representação estudantil, criação das monitorias; - Outros: unificação do vestibular, habilitações de curta duração. Muitas reformas aconteceram após 1968 e tinham como proposta, aproximar a universidade do contexto social e econômico e ampliar cada vez mais a autonomia das instituições. 2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação- 5692/1971 O período militar colecionou inúmeras reformas e movimentos educacionais, os quais emergiram como tentativa de tirar a educação das mazelas em que se encontrava. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Para Arruda (1989), essas reformas estavam norteadas pelos eixos relacionados à educação e desenvolvimento; educação e segurança e educação e comunicação. Nesses eixos, segundo a autora, objetivava-se a formação de profissionais para atender as necessidade do mercado produtivo e a formação do cidadão, o que incluíaa inserção de disciplinas como educação moral e cívica e a relação entre escola e comunidade, com a criação de conselhos de empresários e professores. Com a implantação da Lei nº 5692/71 não tivemos o soterramento da anterior, Lei nº 4024/61, mas sim a ampliação de alguns princípios e a inclusão de outros elementos de regulação da educação que estavam relacionados ao contexto da época. Entre as grandes modificações podemos citar a união do primário e do ginásio em ensino do 1º grau. A preocupação com o ensino técnico e profissionalizante tornaram-se mais evidentes. O ensino de 1º grau, obrigatório, deveria ter carga horária mínima de 720 horas e esses nível era considerado como formação básica do indivíduo. Vejamos então outras características dessa LDB. No artigo 1 temos o objetivo geral que contemplava o ensino de 1º grau e 2º grau. A Lei afirmava que: Art. 1º O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania (BRASIL, 1971). Os diferentes estabelecimentos para atender essa demanda deveriam ser criados, reorganizados bem como ter regimento próprio para sua funcionalidade administrativa e didática. Com relação ao currículo, o artigo 4º afirma que: História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Art. 4º Os currículos do ensino de 1º e 2º graus terão um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos (BRASIL, 1971). Essa parte comum seria fixada pelo Conselho Federal de Educação e traria uma relação a partir da qual os Sistemas de Ensino definiriam a parte diversificada. O ensino de 2º grau era visto com o caráter profissionalizante e poderia ser desenvolvido com parcerias em empresas e entidades públicas ou privadas. Outra questão que torna-se obrigatória é a inclusão da disciplina de Educação Moral e Cívica, Educação Física e Educação Artística, além de programas de saúde. Os currículos seriam organizados em série anuais conforme previsto no artigo 8º. Art. 8º A ordenação do currículo será feita por séries anuais de disciplinas ou áreas de estudo organizadas de forma a permitir, conforme o plano e as possibilidades do estabelecimento, a inclusão de opções que atendam às diferenças individuais dos alunos e, no ensino de 2º grau, ensejem variedade de habilitações (BRASIL, 1971). Um ano letivo corresponderia a 180 dias de trabalho escolar sendo que cada semestre deveria ter igualmente 90 dias. A partir do capítulo II, a Lei traz as orientações sobre os níveis de ensino. Para facilitar a compreensão, as informações estão organizadas na tabela 01. Nível Características Ensino de 1º grau - formação da criança e pré adolescente; História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade - duração de 8 anos; - 720 horas de atividades; - idade mínima para ingresso 7 anos; - obrigatório dos 7 aos 14 anos. Ensino de 2º grau - formação integral do adolescente; - necessária a conclusão do 1º grau para ingressar no 2º grau; - de 2200 a 2900 horas de trabalho escolar; - 3 ou 4 séries anuais. Ensino supletivo - finalidade de suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não o concluíram na idade própria; - estrutura, duração e regime que se ajustem às finalidades e permitam a maior captação de alunos. Tabela 01- Características de cada nível em que a educação era organizada. Fonte: Elaborada pela autora com base na LDB 5692/1971 Para a formação de professores temos: Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do magistério: a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau; b) no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica de grau superior, ao nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura plena (BRASIL, 1971). O artigo 41º fala sobre a quem compete a responsabilidade da educação: História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Art. 41. A educação constitui dever da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, das empresas, da família e da comunidade em geral, que entrosarão recursos e esforços para promovê-la e incentivá-la. Parágrafo único. Respondem, na forma da lei, solidariamente com o Poder Público, pelo cumprimento do preceito constitucional da obrigatoriedade escolar, os pais ou responsáveis e os empregadores de tôda natureza de que os mesmos sejam dependentes (BRASIL, 1971). Saiba mais: A LDB 5692/1971 foi aprovada durante o governo de Emilio Médice, momento em que se vivia o chamado “Milagre Econômico”. Nessa fase o crescimento industrial aumentava de forma acelerada e a necessidade de mão de obra acompanhava esse crescimento. O grande destaque, apontado por vários autores, é que a LDB de 71 deveria regulamentar a ação da escola para que ofertasse uma cultura geral básica e a educação para o trabalho. Isso demandaria a ampliação da obrigatoriedade de frequência à escola que estaria organizada em 1º e 2º grau sendo que no 2º grau dar- se-ia em nível profissionalizante. 3. Educação popular e contestação a partir dos movimentos sociais- Parte I A educação popular tem início na década de 1960, a partir dos dados alarmantes sobre o analfabetismo, principalmente entre os adultos. Um dos grandes educadores envolvidos com esse movimento foi Paulo Freire. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade A práxis social está associada diretamente com a educação popular, tendo em vista ser uma ação que não ocorre dentro de um espaço formal de educação. Ela desenvolve-se no dia a dia, quando temos os grupos populares reunidos. No entanto, antes desses movimentos ganharem força e se espalharem pelo Brasil, algumas questões que envolvem novas tendências pedagógicas começam a fazer parte do cenário educacional. Vejamos então quais eram as principais tendências desse período. 3.1. O surgimento das tendências pedagógicas As tendências pedagógicas surgem como tentativa de mais uma vez, alinhar a educação com os contextos sociais de demais movimentos que aconteciam pelo país. A escolha de uma tendência pedagógica reflete uma concepção de educação e consequentemente resulta em práticas escolares. Elas estão relacionadas, não apenas à forma pela qual os conteúdos são ensinados, como também influenciam a escolha de materiais, organização de espaços e demais variáveis presentes nos espaços escolares. Na pedagogia, as tendências pedagógicas são divididas em pedagogia liberal e pedagogia progressista. Cada uma possui algumas subdivisões que apresentaremos a seguir. a) Pedagogia Liberal O foco das ações presentes nesta tendência pedagógica é a formação de indivíduos que fossem capazes de desenvolver seu papel na sociedade capitalista em que estavam inseridos. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Em suas subdivisões temos:- Tendência Tradicional Nessa prática ocorre a transmissão linear do conhecimento a partir da figura do professor (Figura 1). A transmissão é passiva e o depósito constante das informações deve ser decorado pelos estudantes. Figura 1- Proposta de organização para tendência tradicional Fonte: Public Domain Pictures.net, 2019 - Renovada progressista A grande mudança está na participação do aluno ao longo do processo de ensino aprendizagem. A prática investigativa faz parte do processo. - Renovada não diretiva História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Seu foco é a formação de atitudes. Essa tendência é encontrada também com o nome de Escola Nova, conforme proposta que descrevemos na unidade anterior. De acordo com Gadotti (2010 p.142): “A Escola Nova representa o mais vigoroso movimento de renovação da educação depois da criação da escola pública burguesa. A ideia de fundamentar o ato pedagógico na ação, na atividade da criança já vinha se formando desde a “Escola Alegre” de Vitorino de Feltre (1378-1446), seguindo pela pedagogia romântica e naturalista de Rousseau. Mas foi só no início do século XX que tomou forma concreta e teve consequências importantes sobre os sistemas educacionais e a mentalidade dos professores” (GADOTTI, 2010, p. 145). - Tecnicista Trata-se do desenvolvimento técnico das informações, organizadas por especialistas, tendo como objetivo o desenvolvimento de habilidade para que se integrem à sociedade e garantam o funcionamento da máquina produtiva. b) Pedagogia Progressista Nessa tendência pedagógica o contexto social é essencial para o desenvolvimento das aprendizagens. Trata-se de um movimento que amplia muito a participação do aluno. É subdividida em: - Libertadora Aquela que liberta para a vida. O foco é no diálogo e na capacidade reflexiva do aluno para que as propostas de ensino e aprendizagem sejam desenvolvidas de forma significativa. Os temas geradores são usados como ponto de partida a partir dos quais a problematização é desenvolvida. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade - Libertária A escolha dos conteúdos é feita a partir dos estudantes. A gestão das informações é feita coletivamente. Um dos grandes nomes associados a essa tendência é Freinet que descreve seus princípios baseados na organização, cooperação, tratamento experimental e expressão livre. - Crítico social dos conteúdos Os conteúdos são associados à realidade social e devem permitir que os estudantes compreendam a realidade onde estão inseridos. 3.2. Pensadores da educação: anísio Teixeira e Paulo Freire Anísio Teixeira A grande defesa do baiano Anísio Teixeira (Figura 2) foi a educação gratuita para todos. Foi um dos grandes nomes envolvidos na redação do Manifesto dos Pioneiros que apresentamos na unidade anterior. A escola como ferramenta para exercício da cidadania deveria ser integral e propor o desenvolvimento para além dos conteúdos curriculares. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Figura 2- Anísio Teixeira Fonte: commons.wikimedia.org, 2019 Foi secretário da educação em 1950 e fundou a Escola Parque na Bahia. Imagine essas discussões durante o período da ditadura militar! Anísio Teixeira foi perseguido por propor a democratização do ensino, numa postura totalmente contrária às discussões da época. A experiência do aluno deveria ser considerada e a responsabilidade da escola deveria estar além de informar e transmitir conhecimentos curriculares. Paulo Freire É considerado o educador mais importante da educação brasileira. Defendia a educação popular e era contra a educação bancária, pois acreditava que o depósito de conteúdos para que os alunos decorassem não permitia aprendizagens. Era contrário ao movimento transmissão-recepção de informações (Figura 3). História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Figura 3- Paulo Freire Fonte: Flickr, 2019 Para Freire (2011, p.12): “O que me interessa agora, repito, é alinhar e discutir alguns saberes fundamentais à prática educativo-crítica ou progressista e que, por isso mesmo, devem ser conteúdos obrigatórios à organização programática da formação docente. Conteúdos cuja compreensão, tão clara e tão lúcida quanto possível, deve ser elaborada na prática formadora. É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção” (Freire 2011, p.12). História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade A educação deveria ser libertadora, emancipatória e permitir a tomada de decisões e a leitura de mundo. Essa possibilidade de compreender direitos e deveres dependia, entre outras coisas, do aprender para a vida, e isso antecede o ensinar. Para Paulo Freire, era necessário conhecer e compreender a cultura do educando, pois esta deveria ser a base para o desenvolvimento das ações nas escolas. O foco é no processo e não no conteúdo. Entre suas publicações temos como destaque: Pedagogia do oprimido, Pedagogia da autonomia e Educação como prática da liberdade. 4. Educação popular e contestação a partir dos movimentos sociais- Parte II A educação popular foi um grande marco na história da educação, a partir do momento em que possibilitou a formação, não apenas social, como também política dos indivíduos. Essa proposta é encarada por muitos como um movimento de resistência pelo cenário encontrado no país na época em que foi desenvolvida. Basta pensar, por exemplo, que Paulo Freire defendia o diálogo em um período histórico em que a imposição das ideias por meio da força é que predominava. A partir do século XX, as sociedades contemporâneas passaram por intensas modificações. A maioria das mudanças tinham relação direta com as revoluções ocorridas anteriormente e que resultaram no processo de globalização que teve início na década de 1990. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade 4.1. Educação brasileira na contemporaneidade Se começarmos essa análise pensando no processo de globalização, vamos perceber que muita coisa mudou e quem a educação não conseguiu acompanhar de perto todas as transformações. Basta verificar todo o avanço tecnológico que, em muitos casos, ainda está bem longe dos espaços formais de educação. Desta forma, a contemporaneidade coloca a educação como responsável por realizar a mediação social e integrar os indivíduos a estes novo modelos, seja do ponto de vista social cultural, tecnológico etc. De acordo com Cambi (1999, p. 381): “A educação/pedagogia — como bem viu Luhmann — veio ocupar um papel cada vez mais específico (de mediação e de reequilíbrio) no sistema social, articulando- se num subsistema igualmente plural e orgânico, disseminado no social, mas coordenado por uma reflexividade (por processos teóricos de interpretação e projeção) que garante sua funcionalidade, agindo segundo modelos adequados à sua fase histórica de desenvolvimento” (Cambi 1999, p. 381). Mais uma vez a escola busca desenvolver habilidades para que o indivíduo seja capaz de intervir na vida em sociedade. A grande questãoé que a sociedade mudou e as propostas desenvolvidas nas escolas continuam reproduzindo modelos arcaicos. A escola nova ganha força e novas práticas precisam ser pensadas para que as informações e formações façam sentido na vida das pessoas e atinjam os objetivos que a sociedade almeja. Pensar que tudo está ao alcance de um simples “clique” faz com que o aprender fazer esteja ainda mais vivo nas propostas pedagógicas. Em 1996, a LDB vigente determina em seu artigo 1º: História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Art. 1º . A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996). O fato de incluir movimentos sociais dá abertura para diferentes manifestações que deixam a escola com as portas cada vez mais abertas para a comunidade. Discutir cidadania, pensar na inclusão, buscar a qualidade do ensino, assim como dialogar com a sociedade são temas cada vez mais presentes e que precisam ainda incluir as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) para aproximar-se dessa geração cada vez mais tecnológica e sedenta por novidades. Tudo isso deve ser feito alinhado com propostas educacionais transformadoras. Isso não significa dizer que apenas tendências libertadoras fazem parte das concepções educacionais na contemporaneidade, mas sim que, mesmo que ainda tenhamos locais com práticas tradicionais, o estudante e suas famílias têm o direito de escolher o que desejam para a formação. A LDB, Lei nº 9394/96 afirma também que: Art. 2º . A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Pensar no princípio da liberdade é uma das questões que mais caracteriza a educação atual e permite que alunos e professores tenham voz e vez, participando ativamente nas discussões que promovem a construção coletiva dos conhecimentos. Pensamos em aprendizagens e não apenas no que ensinar, como durante muito tempo foram desenvolvidas as propostas educacionais do Brasil. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Síntese A educação mais uma vez apresentou marcos históricos e não assumiu nesse contexto histórico a posição de destaque desejada por muitos. Durante todo o período militar, suas ações ficaram restritas à reprodução da ideologia dominante e quem ia contra essas ideias acabava sendo perseguido, torturado e, de forma direta ou indireta, silenciado. Alguns nomes surgem e se fortalecem com propostas ao longo do tempo, como é o caso de Anísio Teixeira e Paulo Freire, que lideraram movimentos em prol de uma educação transformadora e reflexiva, baseada no diálogo que só muitos e muitos anos mais tarde passa a fazer parte do cenário educacional de fato. Um grande marco nessas mudanças foi a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1971, Lei nº 5692. A unificação do ensino em 1º e 2º grau, dando ênfase ao ensino profissionalizante no 2º graus, visava atender às necessidades do mercado em ascensão. Chegamos à contemporaneidade com muitas lacunas a serem preenchidas e uma tentativa de acompanhar a globalização e outras questões presentes na sociedade mais uma vez se torna um desafio para a educação. Pensar em propostas significativas e que estejam alinhadas ao contexto atual é o discurso presente na contemporaneidade assim como a busca por unir as tecnologias como ferramentas dos aprender fazer nas escolas. Sendo assim, nesta unidade vimos que: - A ditadura militar foi um período muito tenso, no qual houve perseguições e o direito de muitos foi cassado; - Entre os movimentos de reformas educacionais, tivemos a reforma universitária para organização dos procedimentos de ingresso, tendo em História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade vista que muitos estudantes eram aprovados mas não havia vagas disponíveis nas instituições existentes; - Surgem as tendências pedagógicas e com elas nova concepções de educação e práticas pedagógicas passam a compor o cenários educacional; - A nova LDB 5692/71 tem como grande alteração a junção do ensino em 1º e 2º grau, sendo que o ensino profissionalizante deveria ser contemplado assim como a disciplina de Educação Moral e Cívica para a formação cidadã; - Alguns educadores em destaque foram apresentados. Anísio Teixeira defendia a escola pública e foi um dos educadores que participou da redação dos manifestos dos pioneiros. Paulo Freire, envolvido com o movimento de alfabetização dos adultos, também defendia a escola pública e a autonomia dos estudantes para a construção de aprendizagens; - Chegamos na contemporaneidade ainda com a bagagem cheia de desafios, mas com o princípio da liberdade sendo colocado como foco da atualidade. História da Educação - Unidade 4 - Do governo militar à contemporaneidade Bibliografia ARANHA, M.L.A. História da Educação. São Paulo: Moderna.1989. BRASIL, 1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5692. Disponível em https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971- 357752-publicacaooriginal-1-pl.html Data de acesso 13 de julho de 2019. BRASIL, 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf Data de acesso 14 de julho de 2019. Carta Capital. Economia na Ditadura militar. Disponível em https://www.cartacapital.com.br/economia/a-economia-na-ditadura/ Data de acesso 12 de julho de 2019. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GADOTTI, M. História das ideias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2010. SANTOS, S. HIstória da educação. 1ª ed. São Paulo: Pearson Editora do Brasil, 2013. VEIGA, C.G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007.
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