Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO TEXTO 2: História da História da Educação Bortoloti, Karen Fernanda História da educação / Karen Fernanda Bortoloti. Rio de Janeiro: SESES, 2021. A origem da escola: sociedades tribais, antiguidade oriental e ocidental A comunidade primitiva Durante milhares de anos homens e mulheres viveram em comunidades nas quais não havia desigualdade entre as pessoas e não existia propriedade privada, ou seja, as terras e as riquezas pertenciam a todos, não havia nenhum tipo de privilégio. A propriedade era coletiva, tudo era dividido igualmente entre os membros da comunidade, não existia nem “o meu” nem “o seu”, mas sim “o nosso”. O termo “comunidade” lembra que havia uma cooperação muito grande entre todos os indivíduos. A palavra “primitiva”, ao contrário do que muitos imaginam, não quer dizer “atrasada”, mas apenas que eram sociedades mais simples, organizadas pelos primeiros seres humanos, representando outra maneira de viver (PONCE, 1986). O que é importante ressaltar a respeito das comunidades primitivas é que nem todas se transformaram da mesma maneira e nem todas se dissolveram, ou, como preferem alguns, alcançaram a “civilização”. A história humana apresenta múltiplas possibilidades, pois não há caminho único na História. Alguns historiadores, por exemplo, qualificam as comunidades indígenas do Brasil como comunidades primitivas, todavia, não podemos esquecer que cada comunidade indígena tinha suas próprias características culturais. A educação antes da escola Você já parou para pensar que mesmo antes da organização do sistema escolar e do prédio da escola havia uma forma de educação. Nas sociedades menos complexas, ou melhor, nas sociedades que denominamos primitivas, apesar da ausência de métodos educacionais ocorria uma forma “primitiva” de educação que tinha como principal objetivo ajustar a criança ao ambiente físico e social. Nessas sociedades as crianças adquiriam conhecimento através da imitação, participavam ativamente das atividades dos adultos, aprendendo, pouco a pouco, as diversas ocupações da tribo. A formação através da imitação era integral, abrangendo todo o saber da tribo, e universal, a medida em que todos poderiam ter acesso ao saber a ao fazer apropriado por sua comunidade. A educação das crianças e dos jovens tornou-se instrumento central para a sobrevivência dessas primeiras comunidades humanas, pois era responsável pela transmissão dos conhecimentos até então acumulados pelo grupo e para o desenvolvimento cultural. Na realidade, essa educação era profundamente marcada pelo jogo- imitação, onde os pequenos aprendiam o uso das armas, a caça, a colheita, o uso da linguagem, o culto aos mortos, as técnicas de transformação, domínio do meio ambiente, etc. Uma das formas pelas quais as crianças adquiriram os conhecimentos necessários entre os povos primitivos era a imitação. Primeiros anos de vida a imitação era inconsciente, pois as crianças brincavam com pequenas reproduções dos instrumentos utilizados pelos adultos. Posteriormente, por exemplo, através da imitação aprenderiam a manejar uma canoa ou a preparar a comida. “Coletividade pequena, assentada sobre a propriedade comum da terra e unida por laços de sangue, os seus membros eram indivíduos livres, com direitos iguais, que ajustaram suas vidas às resoluções de um conselho formado democraticamente por todos os adultos, homens e mulheres da tribo” PONCE, 1986, p. 17 Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias e nos rituais. Tanto nas tribos nômades como naquelas que já se sedentarizaram, para se ocupar com a caça, a pesca, o pastoreio ou a agricultura, as crianças aprendem “para a vida e por meio da vida”, sem que ninguém esteja especialmente destinado para a tarefa de ensinar. (ARANHA, 2006, p. 35) Numa segunda etapa, a imitação torna-se consciente, crianças participam das atividades dos adultos e aprendem por imitação. Comumente essa segunda etapa se Inicia quando se começa a exigir trabalho da criança, ela vai aprendendo pouco a pouco, as diversas ocupações da sua tribo ou comunidade como a construção de utensílios, a caça, a pesca, os trabalhos agrícolas e outras atividades realizadas. Notamos, porém, a ausência de uma figura significativa ao processo educativo: o professor. O professor, como conhecemos, não existia, pois essa personagem era assumida pelos pais, pelos mais velhos, pelos mais sábios da tribo e pelos que exerciam a função de sacerdotes, de guia religioso da comunidade. Apesar de todos os homens participarem das cerimônias de iniciação, havia as pessoas destinadas para essa atividade e que, dependendo da cultura, eram chamados de feiticeiros, curandeiros, xamãs ou homens que consultavam os antepassados. Esses homens foram, portanto, os professores mais primitivos (MONROE, 1983). O caráter ritualístico de muitas comunidades primitivas estava diretamente expresso na figura dos feiticeiros, xamãs ou homens que consultavam os espíritos, que, durante as cerimônias de iniciação dos mais jovens, transmitiam algumas explicações do universo, sendo assim, considerados mestres, os professores mais primitivos. O rito ou cerimônia de iniciação e o sacerdócio podem ser compreendidos, nesse contexto, como uma forma de ensino. Ritos de iniciação Cidades indígenas marcam a passagem de jovem para a vida adulta, onde vai gozar da plenitude dos seus direitos, com certos ritos, chamados de iniciação, os quais constituem também, ritos de passagem. Entre os índios Apinayé, a transformação dos meninos em guerreiros se dá em duas etapas, cobrem o espaço de um ano. E cada uma destas etapas constitui ritos de passagem. A primeira etapa é como que uma preparação para segunda, a qual constitui realmente a passagem para a classe dos guerreiros. Vamos escrever aqui esses escritos em seus detalhes por serem demasiado complexos. De qualquer modo, vamos fazer notar aqui que as duas fitas e tapas constituem ritos de passagem, porque podem ser divididos nas três fases que caracterizam esses ritos: a) separação; b) transição; e c) incorporação. Na primeira etapa os meninos que tem por volta de 15 anos de idade são separados dos demais por uma cerimônia que pode ser considerada um rito de separação. Daí por diante, durante alguns meses, embora durmam em suas casas maternas, os jovens iniciação passam praticamente os dias separados da aldeia: têm um acampamento próprio, local de banho só para eles, um pátio deles a leste da aldeia, caminho circular em torno da aldeia pelo qual vem buscar alimento em suas casas maternas. Recebe instrução todos os dias de dois índios maduros. Levam uma vida a parte da dos demais moradores, voltando para a aldeia quase que somente para dançar a noite dormir. Tal fase é marcada pelos ritos de transição. Durante esse período que os jovens têm suas orelhas e seu lábio inferior perfurados para uso de batoques. Finalmente, depois de algum tempo são de novo trazidos à vida da aldeia por uma cerimônia é constituída de ritos de incorporação. A segunda etapa começa também por um rio de separação. Jovens a partir de então são chamados de pemb, isto é, guerreiros. Nessa segunda etapa, os jovens ficam numa reclusão religiosa, sendo feito para cada um deles um pequeno quarto totalmente fechado dentro de uma casa materna. Os jovens não devem ser vistos: ou estão em seus quartos ou então longe da aldeia. Nesta fase, seus instrutores dão conselho sobre como escolher e como tratar a esposa, como tratar os seus colegas, como confeccionar seus enfeites, exortam-nos a obedecer a seus chefes. Nesta fase os rituais de transição. Finalmente eles voltam outra vez a vida da aldeia através dos ritos de incorporação. Ao serem novamente incorporados à vida aldeia, os jovens já não sãomais os mesmos. Já não são considerados meninos, O ritual de iniciação é uma pedagogia que vai do grupo ao indivíduo, da tribo aos jovens. Pedagogia de afirmação, e não diálogo (...). Quem cala consente. Em que consentem os jovens? Consentem em aceitar- se o papel que passaram a ter: o de membros integrais da comunidade. (...) Os primeiros cronistas diziam, no século XVI, que os índios brasileiros eram pessoas sem fé, sem rei, sem lei. É certo que essas tribos ignoravam a dura lei separada, aquela que, numa sociedade dividida, impõe o poder de alguns sobre todos os demais. Tal lei, lei de rei, lei de Estado, os mandan, os guaiaquis e os abipones a ignoravam. A lei que eles aprenderam a conhecer na dor é a lei da sociedade primitiva, que diz a cada um: Tu não és menos importante nem mais importante do que ninguém. A lei, inscrita sobre os corpos, afirma a recusa da sociedade primitiva em correr o risco da divisão, o risco de um poder separado dela mesma, de um poder que lhe escaparia. A lei primitiva, cruelmente ensinada, é uma proibição à desigualdade de que todos lembrarão. Substância inerente ao grupo, a lei primitiva faz-se substância do indivíduo, vontade pessoal de cumprir a lei (CLASTRES, 1978, p. 135). são tratados como adultos e podem casar-se. As mulheres não passam por esses ritos, a não ser algumas, por privilégio especial. (MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. 3.ed. São Paulo: Hucitec,1980. pp. 123-124). A Organização do estado Com o crescimento populacional dentro das comunidades denominadas primitivas, as necessidades, assim como o que fazer com o excedente de produção, foram aumentando e exigindo adaptação por parte dos habitantes dessas comunidades. Para solucionar o “problema” dos produtos excedentes e complementar o que não era produzido por razões climáticas ou por desconhecimento de técnicas, as comunidades começaram a permutar o que tinham de bom e em excesso, dando origem ao que hoje denominamos comércio. Para a maioria das comunidades antigas, metais preciosos raros e bonitos, como ouro, prata e até o cobre, eram muito valiosos. Então, os comerciantes passaram a querer receber e pagar com pedaços de metais preciosos. Esses pedaços valiosos que todos aceitavam era o dinheiro. O dinheiro foi inventado exatamente para facilitar o comércio. Com ele, era possível comprar qualquer mercadoria. Buscando atender as necessidades surgidas com o crescimento populacional, tais como a construção de templos religiosos, abertura de estradas, escavação de canais de irrigação e construção de muros para defesa territorial, as comunidades, antes governadas por homens ligados pelos laços de parentesco, precisavam de líderes para comandar e organizar o trabalho de centenas e até milhares de pessoas. Como planejar tudo, como controlar as pessoas que administravam as obras, como arrumar braços para fazê-las? Como conseguir comida para esses trabalhadores? Gradativamente, em muitas sociedades, foi surgindo um tipo de instituição que cumpria todas essas tarefas de administração das obras públicas e, também, de controle da população, surgia o Estado. O Estado passa, então, a ser formado por grupos de pessoas que tinham, ao longo do tempo, se especializado em tarefas muito importantes, como, por exemplo, a organização e administração de obras públicas. Além dessa administração, essa nova instituição tinha como incumbência cobrar impostos, para financiar todas as suas atividades e controlar um exército que tinha a dupla função de defender o território e conter a população. Com a organização do Estado verificamos também o isolamento das famílias, pois a comunidade não era mais chefiada por um líder familiar. Aos poucos, as famílias que prosperavam não desejavam mais partilhar suas riquezas com as outras famílias, nascia, assim, a propriedade privada. As terras, as casas e os rebanhos passaram a pertencer a uma única família, separando ainda mais as pessoas umas das outras. A consequência mais nítida da propriedade privada foi a surgimento das diferenças sociais, pois como a propriedade privada era hereditária, os pais passaram suas riquezas para seus filhos e os filhos dos pobres herdavam o trabalho duro, a fome e o cansaço. A descoberta da agricultura, a estruturação do comércio e a organização do Estado, causaram grande transformação na sociedade humana, que até então sobrevivia da caça e da coleta. O trabalho foi responsável por uma vida mais estável, com maior segurança, sem tantas mudanças como no nomadismo. O início da agricultura e da criação de animais proporcionou condições para que as sociedades, como já destacamos, se tornassem mais complexas, organizadas e criativas. As primeiras civilizações com Estado organizado tiveram origem no Oriente Próximo, há mais de cinco mil anos. Alguns povos desenvolveram a escrita, criaram cidades, formas mais complexas de exploração econômica, de trabalho e de organização social, governos com instituições bem determinadas e organizadas, leis que disciplinavam as relações sociais e os interesses, bem como produziram importantes obras artísticas. Apesar de alguns estudos históricos enfatizarem uma abordagem Ocidental da História, e, consequentemente, da história da educação, partindo sempre do estudo da grandiosa civilização grega. Acreditamos que essa abordagem mascara as contribuições do que denominamos civilizações orientais. A cultura construída por essas civilizações (Egito, Mesopotâmia, Índia, China e o povo Hebreu), em muitos aspectos, foi incorporada pela cultura transmitida pelos gregos e romanos ao mundo ocidental. Como surgiram as diferenças sociais: a) Divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho manual. Umas poucas famílias começaram a dar ordens para o restante da comunidade; b) Crescimento da população e o isolamento das famílias enriqueceram algumas e empobreceram outras; c) Formação do Estado para fazer obras públicas e organizar o exército; d) Guerra para tomar a riqueza de outros povos e escravizar os inimigos. Os generais ficavam com os melhores bens e escravos. Os povos que viveram no Norte da África e na Ásia (Oriente Próximo, Oriente Médio e Extremo Oriente), constituíram sociedades mais complexas e deram mais atenção à formação de seus homens. Apesar, como veremos, da forte influência da religião, tiveram uma preocupação com a formação de algumas camadas da sociedade. Essas civilizações apresentaram alguns pontos em comum que merecem destaque por atingirem o campo educacional. Todas essas sociedades apresentavam uma nítida distinção das camadas sociais, um Estado teocrático e centralizador, o que conduziu, no campo da educação, a uma educação que denominamos tradicionalista; tradicionalista no sentido de não viabilizar grandes mudanças, de permanecer estática por um longo período. Quando as sociedades tornaram-se mais complexas, as mudanças exigiram uma revolução na educação, que deixou de ser igualitária, como nas antigas tribos. Teve início, então, o dualismo escolar que destinava um tipo de educação para o povo e outro para os filhos dos nobres e dos altos funcionários; uns eram destinados ao ensino do sagrado, tendo em vistas que essas sociedades eram teocráticas, e da administração, e outros ao “adestramento” para o exercício dos mais variados ofícios manuais. Apesar da preocupação com a formação dos homens, o que nos leva a considerar essas como sendo as primeiras tentativas de organização do ensino, não havia propriamente uma reflexão pedagógica e nem uma institucionalização do ensino, as orientações sobre como educar eram retiradas dos livros sagrados de cada uma dessas civilizações e o ensino acontecia, na maior parte das vezes, no templo religioso. A invenção da escrita, creditada aos povos da Mesopotâmia, é o ponto de partida para a compreensão das civilizações, tanto orientais como ocidentais. O uso da escrita provocoua organização de um processo educativo um pouco mais formalizado, entregue a uma classe de especialistas, com o objetivo primeiro de conservar o passado coletivo e o poder de poucas pessoas. Assim, com essas civilizações, surge a educação formal, apesar do forte teor religioso e do caráter tradicionalista, as preocupações com a educação, mesmo retiradas dos livros sagrados, foram incorporadas a essas sociedades. Em suma, podemos dizer que as civilizações orientais passaram pelas seguintes transformações, que possibilitaram a estruturação cultural e, consequentemente, educacional: ➢ Formação de uma linguagem escrita; ➢ Substituição da organização genética da sociedade por uma organização política; ➢ Especialização do trabalho; ➢ Com a escrita as sociedades passam a ter consciência do seu passado, buscando meio para conservá-lo. A Antiguidade Oriental Da mesma maneira como a religião, a filosofia e a arte, a educação é um instrumento na busca do homem pela compreensão e transformação de sua existência no mundo. Que a história da educação e de seus sujeitos é interessante até podemos supor, que não é um simples acumular de fatos também, mas onde exatamente toda essa história começou? A educação começou, como vimos, antes mesmo de os homens desenvolverem a escola e as atividades que hoje conhecemos por ciência, começou quando os homens familiarizaram-se com fenômenos naturais como o vento, as chuvas e o calor, passando a utilizar ossos e pedras como instrumentos para facilitar as atividades cotidianas e, gradativamente, fabricaram esses instrumentos, transformaram a natureza que os cercava, indagaram essa natureza e a si mesmos, nesse momento o domínio do fogo talvez tenha sido o maior avanço técnico. Para além da vida nas comunidades tribais, o Estado aparece para atender as necessidades das atividades cada vez mais complexas, acarretando a desarticulação da organização social homogênea, indivisa. Gradativamente foram criadas hierarquias devido a privilégios de classes, no trabalho surgem formas de escravismo e a propriedade torna-se privada. A educação das crianças e dos jovens, antes aberta a todos os membros da comunidade foi institucionalizada na escola e tornou-se patrimônio e privilégio da camada dominante que elitizou o saber e excluiu a maioria. Nas sociedades ágrafas, as crianças acompanhavam os mais velhos nas mais diferentes atividades, na caça, na coleta, no cuidado com as plantas cultivadas, na pesca. Imitavam os adultos e, assim, estão imitando os ancestrais, pois foram eles que elaboraram todas as formas de fazer as coisas no interior daquela cultura. Deste modo, um homem pescava porque assim faziam seus antepassados míticos que lhes transmitiram estes conhecimentos, e que seguem transmitindo-os sempre que necessário de diferentes formas. O domínio do fogo permitiu ao homem cozinhar alguns alimentos e contribuiu para alterar a dentição e a musculatura facial, modificando o formato do rosto. O fogo fez com que os homens se reunissem em grupos a sua volta, tornando esses indivíduos conscientes de sua comunidade o que, provavelmente, acelerou o processo de desenvolvimento da linguagem e da definição de papéis dentro dos grupos sociais, da mesma forma como o domínio da agricultura facilitou a sedentarização1, a fixação do homem em determinado espaço. Saber usar o fogo também nos ajuda a explicar a ligação do homem com o místico, pois como não sabia explicar a procedência associou a uma origem divina, basta lembrarmos do mito de Prometeu. Assim, antes de falarmos do berço da civilização ocidental, vamos falar da educação das crianças daqueles que foram os responsáveis pela estruturação das primeiras sociedades hierárquicas de que temos conhecimento. Vamos analisar as civilizações egípcia, mesopotâmica, hebraica, indiana e chinesa. Egito O afamado Egito deixou para os historiadores algumas informações relevantes para a compreensão de sua educação. Nessa civilização, os conhecimentos eram transmitidos sem que questionamentos fossem levantados e não havia uma preocupação com questões teóricas de demonstração nem de princípios ou leis científicas. Em virtude do controle de um Estado centralizador e teocrático, a transmissão do saber era restrita a poucos, os sacerdotes. Esses sacerdotes representavam o grupo intelectual de uma sociedade hierárquica. As escolas eram frequentadas por pouco mais de vinte alunos cada uma. Apesar de percebermos aqui a institucionalização do ensino, as escolas não funcionavam em prédios específicos, mas em templos e em algumas casas. Os mestres sentavam-se em uma esteira e os alunos ao redor dele e os textos eram aprendidos mediante a repetição e ao castigo. A atenção dos educadores também se voltava para os exercícios físicos, destinados aos nobres e aos guerreiros. Essa forma de ensino pode parecer, ao primeiro olhar, descontraída, mas era autoritária e visava apenas à obediência do aluno. Deste modo, podemos perceber que a educação egípcia esteve articulada segundo modelos de classe e especializada para aceder à profissão intelectual sacerdotal. As crianças no Egito Antigo acompanhavam os pais nas mais diversas atividades, os filhos dos pastores acompanhavam seus pais ao campo, os filhos dos artesãos circulavam pelas oficinas tentando ajudar em alguma coisa, até mesmo os soberanos viviam rodeados pelos filhos. Mesopotâmia A Mesopotâmia2 é uma região de planícies no Oriente Médio (atual Iraque), entre os rios Tigre e Eufrates. A cheia que fertilizava as terras das proximidades desses rios facilitou a ocupação dessa localidade. Para que a permanência fosse mais cômoda os povos que se fixaram nessa região realizaram inúmeras obras hidráulicas, como diques e canais de irrigação. 1 Sedentarização: fixação do homem, estabelecer moradia fixa. 2 MESOPOTÂMIA: palavra de origem grega que significa “terra entre rios”, referência aos rios Tigre e Eufrates, que facilitaram o florescimento desses povos. Ao lado da educação escolar, havia a familiar (atribuída primeiro à mãe, depois ao pai) e a dos “ofícios”, que se fazia nas oficinas artesanais e que atingia a maior parte da população. Este aprendizado não tinha necessidade de nenhum “processo institucionalizado de instrução” e “são os pais ou os parentes artesãos que ensinam a arte aos filhos”, através do “observar para depois reproduzir o processo observado”, como nos lembra Manacorda. Os grupos populares são também excluídos da ginástica e da música, reservadas apenas à casa guerreira e colocadas como adestramento para a guerra. Tanto na Mesopotâmia como no Egito, a educação aparece nitidamente articulada segundo modelos de classe (grupos dominantes e povo), já escandida entre família e escola, especializada para aceder à profissão intelectual e desenvolvida em torno da aprendizagem escrita: serão estes os caracteres estruturais de quase toda a tradição antiga, também grega, helenística e romana. (CAMBI, 1999, pp.67-68) Na Mesopotâmia a religião era politeísta e caminhava lado a lado com a política, favorecendo, como no Egito, o fortalecimento do Estado Teocrático. Os sacerdotes eram funcionários do Estado, os templos religiosos tinham terras e cobravam impostos das famílias que trabalhavam nelas. A região não foi constituída por um só povo, mas por sucessivos povos que se revezaram no comando, como os sumérios, os semitas, os assírios e os babilônios. Temos poucas informações sobre os métodos educativos da civilização mesopotâmica, o que podemos afirmar com certo grau de certeza é que como no Egito, dada à função da religião, centralíssima era a função social dos sacerdotes e também de sua formação escolar. De início predominava a educação doméstica, posteriormente, foram criadas escolas públicas com a intenção de impor os valores aos povos conquistados. Essa escola pública, com o tempo deuorigem ao primeiro ensino superior de que se tem notícia na história, que fora denominado Universidade Palatina da Babilônia. Índia Na Índia floresceu uma civilização, por volta de 2000 a.C., às margens dos rios Indo e Ganges com imponentes cidades, que superavam a Babilônia em desenvolvimento urbano e higiene pública. Se nas civilizações que vimos até aqui as divisões de classe foram marcantes, na Índia essa separação foi ainda mais forte, pois a sociedade indiana sempre esteve dividida em castas fechadas com mínimas probabilidades de mobilidade. Assim, como não poderia deixar de ser, a educação também era discriminadora e destinada apenas aos brâmanes, sacerdotes do bramanismo3. O ensino ocorria através do aprendizado mnemônico dos textos sagrados com aulas ao ar livre. O mestre, que não abusava dos castigos físicos, era venerado e respeitado, estabelecendo uma relação afetiva com o discípulo, ou seja, em relação aos demais povos da Antiguidade Oriental, foi na Índia que as crianças receberam melhor tratamento. Livres dos castigos físicos, recebiam atenção e afeto de familiares e mestres, que viam a importância dessas atitudes para o desenvolvimento saudável das futuras gerações. China No vale do rio Hoangô, ou Rio Amarelo, desde o terceiro milênio a.C., em função das características geográficas desenvolveu-se uma civilização agrícola neolítica. Essa civilização estruturou uma das mais tradicionais culturas da história, a cultura chinesa, que mantém alguns aspectos sem grandes mudanças até os dias de hoje. A religião, como nas demais civilizações orientais no período, favoreceu a separação entre a população e os governados e a educação, inevitavelmente, reproduzia esse caráter dualista e conservador, voltado para a transmissão da sabedoria contida nos livros clássicos e opondo cultura e trabalho. Ao contrário das civilizações antigas, cujo saber pertencia à classe sacerdotal, na China eram os mandarins, altos funcionários do Estado, que tinham acesso as escolas especializadas, enquanto as oficinas eram reservadas para artesãos e camponeses. O método utilizado para educar na China antiga era o da imitação. Inicialmente o aluno deveria decorar os conteúdos que eram transmitidos por meio da repetição em voz alta até a completa fixação em sua memória. Após memorizar o aluno deveria repetir para o mestre, na mesma ordem apresentada no livro ou lição, mesmo que não soubesse o significado do que repetia. 3 Bramanismo: organização religiosa, política e social dos brâmanes, voltada à utilização litúrgica dos Veda. A Escrita cuneiforme Na Mesopotâmia surgiu o sistema de escrita que é, provavelmente, o mais antigo da humanidade. Segundo os historiadores, a escrita foi inventada na cidade mesopotâmica de Ur, por volta de 3500 a.C., sendo adotada pelos povos da região. Esse tipo de escrita era cuneiforme, ou seja, em forma de cunha com um palitinho, a pessoa cunhava os símbolos na argila macia. Atualmente existem cerca de 25 mil fragmentos escritos dessa forma conservados. Os cientistas já decifraram a maior parte dos sinais cuneiformes, porém muitas placas ainda não foram lidas. Nas escolas, os futuros mandarins, recebiam um ensino dogmático e memorizado, através de leituras e escritas. Para o ingresso no ensino superior, cujo objetivo era a formação dos funcionários e mandatários do governo, havia uma severa seleção, tudo era feito de maneira rigorosa e dogmática, com ênfase, como já destacamos, nas técnicas de memorização. Como a família, sob a chefia austera do pai, tinha grande valor na organização social, as crianças eram ensinadas para corresponder ao amor paterno e eram duramente castigadas pelos mandarins caso desrespeitassem os pais. A educação elementar, em suma, visava ao ensino do cálculo e à alfabetização, era muito difícil e demorada devido ao caráter complexo da escrita chinesa e a formação moral baseava-se na transmissão dos valores dos ancestrais (ARANHA, 2006, p. 49). Hebreus Os hebreus, também conhecidos como judeus ou israelitas, descendiam de um antigo povo semita4 que habitava a Arábia. Estavam sempre se deslocando em busca de lugar para viver. Por volta de 1800 a.C. saíram da Mesopotâmia para a região da Palestina (onde hoje está o estado de Israel) e, por guerra, tomaram as terras dos povos que viviam por lá. A característica mais marcante da civilização hebraica foi sempre a religião. Para começar, eram monoteístas, ou seja, acreditavam em um único Deus que tinha criado o mundo e todas as coisas. Na Bíblia estão os principais mandamentos da religião judaica e a história do povo hebreu. Para a educação das crianças os hebreus valorizavam significativamente o papel da família e da escola. Na família o pai educava com severidade os filhos, na escola recebiam uma instrução religiosa, voltada tanto para a palavra quanto para os costumes. A escola dos hebreus organizava-se em torno da interpretação da lei dentro da sinagoga, que era também local de instrução religiosa e moral. Somente no século I da era cristã é que os judeus se interessaram pela escrita e pela aritmética. O que significativamente diferencia os hebreus das demais civilizações desse período no campo educacional é o fato desse povo ter dado importância à educação para o trabalho. A prática de jogos, mesmo os lúdicos, e esportes era considerada um ato vulgar ou irreligioso entre os hebreus. Todavia, engana-se quem pensa que as crianças eram proibidas de brincar e desenvolver seus jogos particulares, deveriam apenas tomar cuidado para que as brincadeiras não fossem irreverentes, sacrílegas, ou que ofendessem a moral ou a santidade divina, a rua era o espaço para a brincadeira. O que vale ressaltar é que as antigas civilizações orientais foram responsáveis por: ➢ Formalização do processo de ensino e aprendizagem; ➢ Incorporação do método mnemônico ao processo de ensino e aprendizagem; ➢ Educador como único detentor do saber a ser transmitido; ➢ Invenção da escrita; ➢ Criação do Ensino Superior; ➢ Formação centrada no ritual; ➢ Aluno passivo e sempre receptivo; ➢ Castigos físicos como parte integrante do processo educacional; ➢ Educação dedicada à conservação e continuidade do sistema sócio-político e dos valores vigentes. 4 Semita: indivíduo dos semitas, família etnográfica que abrange hebreus, assírios, arameus e árabes. “Tens filhos? Educa-os bem, e acostuma-os à sujeição, desde a infância”. Eclesiastes “Quem não procura que seu filho aprenda um oficio, está preparando-o para que seja ladrão”; A mesma obrigação tens de ensinar a teu filho um oficio como a de instruí-lo na Lei”; Grande é a dignidade do trabalho; muito honra o homem”. (Talmude) A educação na Antiguidade Ocidental Grécia Períodos da História Grega Podemos esquematizar os períodos da história grega da seguinte maneira: PERÍODO PRÉ-HOMÉRICOO Invasões de aqueus, jônios, eólios e dórios Séculos XX a XII a.C PERÍODO HOMÉRICO Fundação de cidades-Estado (Pólis) Séculos XII a VIII a.C. PERÍODO ARCAICO Hegemonia de Atenas e Esparta Séculos VII a VI a.C. PERÍODO CLÁSSICO Hegemonia ateniense, guerras greco-pérsicas, guerra do Peloponeso. Séculos V a IV a.C. PERÍODO HELENÍSTICO Domínio macedônico Séculos III a II a.C Nós, brasileiros, fazemos parte de uma sociedade construída nos moldes ocidentais, ou melhor, sob a herança direta das civilizações grega e romana. Não podemos negar que somos continuadores das realizações desses povos da Antiguidade. O mundo greco-romano criou as concepções de pensamento que, gradativamente, se espalharam para todo o mundo, tornando-se, dessa forma, uma cultura que incorporou elementos dos povos orientais e, amparada em Estados organizados, foi imposta a muitos outros povos dominados pelos gregos e romanos. Para compreendermos de forma clara o pensamentogrego a respeito da educação, é necessário sabermos o rumo que essa formação deveria tomar. Para os gregos o fim último da educação deveria ser a PAIDÉIA. A Paidéia seria a formação integral do homem, integral porque buscava a formação do homem em todas as suas esferas, estabelecendo um equilíbrio entre corpo e espírito. Esse ideal foi tão relevante, especialmente em Atenas, que atualmente, por vivermos em busca de novos paradigmas, ressurge o ideal de superar a visão pragmática e utilitária da educação, voltada para a estrita especialização, na busca de uma formação mais abrangente e globalizante. A Grécia não constituiu como as civilizações orientais um país unificado, não existia uma unidade política com uma capital e um governante com poder sobre toda ela. A base da sociedade grega eram as cidades-Estados. Essas cidades, também chamada de pólis, eram formadas por uma cidade cercada de terras com campos cultivados e pastos, uma espécie de mini país com suas leis e governos. Portanto, cada cidade-estado tinha grande autonomia em relação às demais. Os únicos fatores que uniam os povos dessa região era a religião e o idioma, os gregos, ao contrário do que muitos acreditam tinham consciência de que pertenciam a uma cultura comum, mas as cidades- estados raramente se uniam. A originalidade da civilização grega, centrada especialmente na laicização, na racionalidade e na universalidade fez com que a Grécia assumisse uma posição privilegiada na direção da humanidade ocidental. A sociedade grega estruturou-se de maneira singular em relação às civilizações orientais, suas cidades possuíam autonomia política e territorial, o que permitiu a organização de diferentes sociedades e, consequentemente, de diferenças na organização educacional. As duas principais cidades-estado gregas foram Atenas e Esparta. Assim, nos atentaremos à educação estruturada nessas cidades e quais as contribuições deixadas, e que perduram até hoje. A laicização marcou o afastamento da religião do sistema educacional, a educação não seria mais uma consequência da religião, a razão permitiu o desenvolvimento da lógica de pensamento, da crítica e, especialmente, da filosofia. A universalidade fez com que a cultura construída nas cidades-estado gregas expandisse sua força e originalidade, mesmo após a desarticulação dessa civilização. Apesar das cidades-estado organizarem a educação de uma forma diferente, em alguns aspectos a formação do homem tinha pontos em comum. Apenas os membros da aristocracia tinham direito à educação, esses jovens, eram primeiramente confiados a preceptores e posteriormente enviados à escola, que não era o único local em que ocorria o processo de ensino/aprendizagem, as atividades coletivas como o teatro, os jogos olímpicos, banquetes e reuniões na ágora eram vistas como momentos de aprendizagem. As cidades surgem com a evolução da linguagem dos clãs, que assumem uma outra estrutura política, com unidades maiores – as Cidades-Estado. Essas cidades se desenvolveram, passando por diversas formas de governo, desde o sistema monárquico à ditadura ou tirania, terminando com a democracia republicana. Em relação à educação de que necessitava o homem grego, é importante destacar que Esparta e Atenas apresentavam aspectos diferentes. Embora em ambas as cidades houvesse a divisão social em classes, com guerreiros e proprietários de terras e de escravos, porque, como já mencionado, a guerra era vista como um modo de adquirir riquezas, a primeira priorizou as virtudes guerreiras e a outra, o desenvolvimento do intelecto. (MELLO, Lucrécia Stringhetta. Educação na Antiguidade. In: SOUZA, Neusa Maria Marques (org.) História da educação. São Paulo: Avercamp, 2006) Foi na Grécia, ou a partir dela, cuja cultura serviu de base para a estruturação do que denominamos ciência moderna, que encontramos as primeiras tentativas de racionalização do universo, pois a cultura grega mostrou- se suficientemente livre para integrar a realidade. Diante disso, podemos destacar quatro fatores que favoreceram o desenvolvimento da cultura e da ciência gregas: ➢ Curiosidade intelectual, o que facilitou a incorporação de conhecimentos e técnicas de outras culturas; ➢ Ausência de uma religião dogmática e impositiva; ➢ A organização política em cidades-estado e não em um grande império, permitindo o contato entre os indivíduos, mesmo com todas as diferenças sociais, e a proximidade com as técnicas de produção. ➢ Tendência à reflexão e ao desenvolvimento da argumentação e da dialética, que os impelia a contrastar as ideias de cada indivíduo com as ideias dos demais. Os primeiros pensadores gregos, os chamados pré-socráticos, tinham como objetivo a construção de uma cosmologia5 que substituísse a antiga cosmologia, baseada nos mitos. Assim, tentaram descobrir, com base na razão e não na mitologia, a substância primordial existente em todos os seres. Pretendiam, na verdade, encontrar a “matéria – prima” de que seriam feitas todas as coisas, inclusive o homem. os pré-socráticos ao observarem a realidade e questionarem acerca da matéria, concluíram que o universo era constituído por uma substância básica, ou substância fundamental. Contudo, cada um desses pensadores escolheu uma substância como fundamental: água, fogo e ar tiveram um grande número de defensores. A cidade de Mileto, capital da Jônia, na costa da Ásia Menor, foi, provavelmente, no século VI a.C., o berço da ciência grega, bem como de suas primeiras escolas de arquitetura e literatura. Tales de Mileto (623-546 a.C aproximadamente) Tudo é água Tales (623-546 a.C aproximadamente), natural da cidade grega de Mileto, pode ser considerado o “pai da filosofia”, pois foi o primeiro pensador a questionar qual seria o princípio de tudo; qual a substância primordial, que expressou através da questão: “Qual é a causa última, o princípio supremo de todas as coisas?” Buscando afastar-se das antigas explicações mitológicas acerca da criação do mundo e do homem, Tales desejava descobrir um elemento que fosse constante em todas as coisas e seres, algo que fosse o unificador de tudo. Provavelmente apoiado em concepções egípcias, somadas às suas próprias observações da natureza, Tales concluiu que a água seria o elemento primordial, aquela substância que daria origem a tudo. Para Tales de Mileto, a água era o único elemento que permanecia a mesma em todas as transformações, apesar de assumir diferentes estados físicos. Da água, e unicamente dela, derivaria, por condensação, a terra, e por rarefação, o ar e o fogo. Tales foi, segundo Aristóteles, quem primeiro rompeu com o mito como forma de conhecimento humano, introduzindo a filosofia da natureza (COTRIM, 2006). Anaximandro (610-547 a.C) Nem água nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente, ilimitada, e que dela nascem os céus e os mundos neles contido O conterrâneo de Tales, Anaximandro (610-547 a.C), procurou aprofundar as concepções de seu predecessor acerca da origem de todas as coisas. Anaximandro acreditava que seria complicado eleger uma única substância como o princípio de tudo. Segundo esse filósofo grego a substância primordial seria o Apeíron – termo grego que significa “o indeterminado”. Segundo Abbagnano o apeíron é: O infinito ou o indeterminado: segundo Anaximandro de Mileto, o princípio e o elemento primordial das coisas. Não é uma mistura dos vários elementos corpóreos, em que estes estejam compreendidos cada um com as suas qualidades determinadas, mas é matéria em que os elementos ainda não estão distintos e que, por isso, além, de infinita, é também indefinida e indeterminada. Essa determinação dupla de infinitude no sentido de inexauribilidade e de indeterminação permaneceu por muito tempo ligada ao conceito de infinito. (2003. p.71) Anaxímenes (588 – 524 a.C.) E assim como a nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o ventoenvolve todo o mundo Também nascido em Mileto e discípulo de Anaximandro, Anaxímenes afirmava que o princípio primordial de todas as coisas era o ar (pneuma). Para ele o ar representava a própria vida. O ar diferencia-se nas várias substâncias segundo o grau de rarefação e condensação, dilatando se, dá origem ao vento e depois às nuvens; em grau maior de densidade, forma a água e, depois, a terra e as pedras; as outras coisas procedem destas. Anaxímenes admitia também a eternidade do movimento por obra do qual se dá a transformação (MONDIN, 1985, p.20). Segundo Mondin (1985), três razões justificam a escolha do ar por Anaxímenes: 1. Pela verificação de que o ar é essencial para o homem e para os outros seres vivos. 2. Pela observação de que “do céu (isto é, do ar) caem a chuva (água) e os raios (fogo) e de que para o céu sobem os vapores e as exalações”. 3. Pela consideração de que o ar se presta, melhor do que qualquer outra coisa, às variações e, por isso, também a ser pensado como princípio capaz de gerar tudo. Após analisarmos as contribuições dos primeiros filósofos gregos é necessário notar que as concepções mitológicas ainda eram marcantes. Por trás do pensamento de Tales pode-se perceber a concepção mítica que apreendia os mares, os rios, enfim, todas as águas, como povoadas por divindades. Anaxímenes, ao afirmar que o ar dá origem a tudo se aproxima de seus antepassados, que acreditavam que o espírito e a alma eram como “ar quente”. Daí a palavra grega pneuma, que significa espírito. Não obstante este quadro referencial do mito, que pode ter influenciado os primeiros pensadores, fica claro que a questão por eles levantada e a busca pelos mesmos empreendida foi no sentido de encontrar uma resposta racional, a partir da própria realidade natural, para a questão por eles proposta. Dos filósofos pré- socráticos devemos destacar ainda Heráclito, Parmênides, Pitágoras, Zenão de Eléia, Empédocles e o atomista Demócrito. Heráclito (aproximadamente 500 a.C) Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir – a – ser Nascido na cidade de Éfeso, Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético, pois concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em movimento, em permanente transformação. Segundo ele, tudo está em constante mudança. Assim afirma: "Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio", uma vez que nem o rio nem quem nele se banha são os mesmos em dois momentos diferentes da existência. Para Heráclito, a lei que regula os movimentos e que causa a ordem e a harmonia das coisas é a razão universal, o logos. Segundo ele, o logos não é uma realidade transcendente nem uma inteligência ordenadora existente fora do mundo, mas algo de imanente, uma lei intrínseca, existente nas coisas. Esta lei imanente nas coisas é, para Heráclito, o Deus único. (MONDIN, 1986, p.26). Parmênides (510-470 a.C) O ente é; pois é ser e nada não é Nasceu em Eléia, daí o nome da escola por ele fundada (eleática). Viveu na primeira metade do século V a.C.. Parmênides (510-470 a.C) tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito defendendo a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro seria o da filosofia, da razão e o segundo seria o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que o filósofo considerava a “via de Heráclito”. Heráclito, para Parmênides, teria percorrido o caminho das aparências ilusórias. Para Parmênides a única realidade existente é o ser. Segundo ele o vir-a-ser não é possível. Ou uma coisa é ou não é. “Se é, não pode vir-a-ser, porque já é. Se não é, não pode vir-a-ser, porque do nada não se tira nada”. Parmênides desenvolve o que é chamado na lógica de princípio da identidade, que nas suas palavras é assim formulado: “o ser é, o não-ser não é”. Afirma ainda que é o mesmo o ser e o pensar, ou seja, que a racionalidade do real e a razão humana são da mesma natureza, o que permite o homem pensar o ser. Para se chegar ao ser o homem deverá se afastar do caminho da opinião, o que se dá pela razão, na busca da verdade. Estas questões serão aprofundadas por Platão. Pitágoras (570 – 490 a.C.) Todas as coisas são números Pitágoras (570 – 490 a.C.) nasceu na ilha de Samos, na costa jônica, não muito distante da cidade de Mileto. Para além de matemático, como é mais comumente conhecido, Pitágoras foi um filósofo, o primeiro também a utilizar o termo filosofia. Para Pitágoras a essência de tudo, de todas as coisas seriam os números, pois somente eles representavam a ordem e a harmonia. O filósofo e matemático afirmava que a diferença entre os seres consiste em uma questão numérica. Na cidade de Crotona foi responsável pela fundação de uma sociedade de caráter filosófico e religioso e de acentuada ligação com as questões políticas. As contribuições da chamada escola pitagórica podem ser encontradas na matemática, na filosofia, na música e na astronomia. Após exercer considerável influência política a “sociedade pitagórica” foi dispersa por opositores, sendo o próprio Pitágoras expulso de Crotona. Zenão de Eléia (488 – 430 a.C.) O que se move sempre está no mesmo agora Discípulo de Parmênides, Zenão fez de tudo para defender a doutrina de seu mestre demonstrando que a própria noção de movimento era inviável e até mesmo, contraditória. Zenão nega a pluralidade e, portanto, vem a negar o movimento. Na realidade o movimento supõe o tempo e o espaço, que são contínuos; por isso não são compostos, consequentemente, não são múltiplos; nesse caso, o movimento, para ele é impossível. Essa afirmação de Zenão com relação ao movimento é significativa para compreendermos as dificuldades pelas quais passou o pensamento racional para compreender conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito. Empédocles (490 – 430 a.C.) Pois destes (os elementos) todos se constituíram harmonizados, e por estes é que pensam, sentem prazer e dor Natural de Agrigento, sul da Sicília, tentou conciliar as concepções de Parmênides e Heráclito. Aceitava a racionalidade de Parmênides, ao afirmar a existência e permanência do ser, mas procurava encontrar uma maneira de tornar racional os dados captados pelos sentidos. Além disso, defendia a existência de quatro elementos, que seriam as raízes de todas as coisas percebidas pelos sentidos: o fogo, a terra, a água e o ar. Os quatro elementos, segundo ele, seriam movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos: o amor (philia, em grego) e o ódio (neikos, em grego). O pensamento desse filósofo, de certo modo, é uma espécie de síntese das ideias dos que o precederam. Por isso, em lugar de um ser único, aceita os quatro elementos fundamentais. O filósofo em questão foi pioneiro ao reconhecer a existência do ar atmosférico como substância separada, conforme demonstra por meio de uma clepsidra mergulhada na água, com o orifício tapado com o dedo. É que a mudança vem da combinação e dissociação dos elementos, potências ativas unidas ou separadas pelo amor ou pelo ódio. Demócrito (490 – 430 a. C.) O homem, um microcosmo Nascido em Abdera, cidade situado no litoral entre a Macedônia e a Trácia tenha nascido e morrido depois de Sócrates, esse último filósofo da natureza, pelo foco de seu pensamento, é tradicionalmente colocado entre os pré-socráticos. O filósofo foi responsável pelo desenvolvimento do atomismo, atomística, teoria que afirmava serem as coisas todas constituídas por uma infinidade de partículas invisíveis, cada uma delas eterna e imutável. Essas pequenas partículas receberam o nome de átomo, palavra cujo significado é indivisível. Para ele, o átomo seria o equivalente ao “conceito de ser” em Parmênides. Existiriam na natureza, segundo ele, uma grande variedade de tipos de átomos e, dependendo da sua qualidade e da forma como se agrupavam, resultavam os diferenteselementos. As transformações seriam resultadas de mudanças na forma de agrupamento dessas partículas. O movimento dos átomos permitiria, então, uma infinidade de composições. O movimento, a forma geométrica, a ordem e a posição dos átomos em cada elemento determinariam as diferenças e as transformações a que estavam sujeitos os elementos da natureza. Podemos afirmar que a principal contribuição trazida pelo atomismo de Demócrito à história do pensamento é a concepção mecanicista, segundo a qual tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade, isto é, nada nasce do nada, tudo tem uma causa e os átomos são a causa última do mundo. Dois modelos de educação As crianças gregas, de uma forma geral, viviam a primeira infância sob os cuidados das mulheres que poderiam ser a própria mãe ou uma escrava, além de serem totalmente submetidas à autoridade do pai, que determinava seu futuro papel social. Portanto, até os sete anos as crianças gregas vivam com suas mães e cuidadoras, posteriormente, eram entregues aos cuidados dos professores, da escola ou do Estado, como ocorria em Esparta. Devemos atentar para o fato de que a infância, com algumas variações, não era valorizada na cultura antiga da forma como conhecemos hoje, era tida mais como uma idade de passagem, sempre ameaçada por doenças, não merecendo muito investimento afetivo e cuidados (ARIÈS, 1981). Em suma, as crianças gregas cresciam em casa, sob os cuidados severos dos pais, atemorizados por figuras míticas, gratificados com alguns brinquedos e jogos, mas sempre colocadas a margem da vida social (CAMBI, 1999, p. 82). Como destacamos, as cidades-Estado gregas eram autônomas e tinham em comum apenas o idioma e a religião politeísta e, portanto, a forma de educar também variou entre elas. Todavia, dois modelos, elaborados pelas mais influentes cidades helênicas7 ganharam maior destaque ao longo da história, especialmente por serem radicalmente diferentes. Atenas e Esparta organizaram modelos educativos que tinham objetivos e atores diversos. Até seus ideais e modelos educativos se caracterizavam de maneira oposta pela perspectiva militar de formação de cidadãos –guerreiros, homogêneos à ideologia de uma sociedade fechada e compacta, ou por um tipo de formação cultural e aberta, que valorizava o indivíduo e suas capacidades de construção do próprio mundo interior social. OS ESTUDANTES NA ESCOLA Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um baseado no conformismo e no estatismo, outro na concepção de Paidéia, de formação humana livre e nutri da de experiências diversas, sociais mas também culturais e antropologias. (CAMBI, 1999,p.82) Na escola, os meninos estudavam sentados em tambores e mantinham sobre os joelhos uma tábua recoberta de cera onde faziam suas anotações. Para isso, dispunham de um estilete de metal ou de marfim, que tinham uma ponta afiada para escrever e outra recurva para apagar o que fosse preciso. Para escrever no papiro, importado do Egito, ou no pergaminho, material de escrita feito de pele de carneiro ou ovelha, usavam uma espécie de caneta de madeira, apontada, que molhavam em uma tinta feita com um corante preto. O ensino voltava-se mais para a leitura das obras de Homero, de Hesíodo e de Sólon, além das narrativas heroicas. Aritmética, poesia e ginástica faziam parte também do currículo das escolas atenienses. A música, considerada complemento indispensável à educação, completava o quadro de disciplinas. A geometria e o desenho somente foram incorporados ao sistema educacional ateniense a partir do século IV a.C.. Em Esparta, as crianças aprendiam só o que era considerado indispensável para a preparação de bons soldados. Procurava-se formar “uma cidade inteira de heróis”, tornando as crianças obedientes e disciplinadas. Elas estudavam os poemas de Homero e os cantos guerreiros compostos por Tirteu, poeta do século VII a. C., além de música e dança. A preparação física ocupava o primeiro lugar na formação da juventude, as meninas recebiam apenas educação voltada para o atletismo bem como para o desempenho das atividades domésticas. Os sistemas de ensino de Esparta, de Atenas e das demais cidades-estado gregas apresentavam deficiências muito grandes. Mesmo assim representaram um grande progresso com relação à formação do homem e permitiram que, pelo menos entre os cidadãos e pessoas livres, existissem analfabetos. FERREIRA, Olavo Leonel. Visita à Grécia Antiga. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2003. Esparta O povo Dório conquistou a região do Peloponeso, dominando os Aqueus que ali viviam e nela fundaram a cidade-Estado de Esparta. Em Esparta toda a terra pertencia ao Estado que distribuía lotes aos cidadãos. Como a presença de escravos ameaçava o domínio político, os espartanos tiveram que se preparar militarmente para submetê-los e não perder o poder. A sociedade espartana, ao contrário da ateniense, não estimulava a discussão e o debate, pois a preparação física para as guerras estava em primeiro lugar. Existiam em Esparta três categorias sociais: os Esparcíatas ou espartanos, que detinham o poder dedicando-se as atividades militares e aos negócios públicos; os Periecos (homens livres), que cultivavam as terras e dedicavam-se ao comércio, mas não possuíam direitos políticos; os Hilotas (os escravos) pertenciam ao Estado e trabalhavam nas terras públicas e nos lotes dos esparcíatas. O sistema político de Esparta caracterizou-se pela gerontocracia, ou poder controlado pelos mais idosos. Havia uma diarquia, ou seja, o governo de dois reis, que cuidavam dos negócios internos e externos; a assembleia dos cidadãos (Apela), que aprovava ou não as leis elaboradas pelo Conselho de Anciões (Gerúsia) e o Eforo, composto por cinco magistrados, os éforos, que fiscalizavam e exerciam o poder, mas submetidos aos gerontes. Esparta é bastante conhecida pela força militar apresentada desde o início da organização da cidade-estado. Essa preocupação militar refletiu diretamente na organização de sua educação das crianças e jovens. A educação espartana tinha como principal ideal pedagógico formar cidadãos temerosos aos deuses, patriotas, bravos e fortes, assegurando a superioridade militar. Valorizavam muito as atividades guerreiras e a prática de exercícios físicos, com o objetivo de preparar o corpo para as mais variadas situações de guerra. A educação em Esparta era pública e obrigatória, o que a tornou menos dualista, como veremos, que a educação praticada em Atenas. Os espartanos desenvolviam o rigor físico e as habilidades guerreiras por meio da ginástica, prática na qual eram rigorosamente disciplinados e controlados pelos éforos, os cinco magistrados que exerciam um poder absoluto para tal prática. Desde os sete anos, o Estado tomava a criança, incluindo as meninas, para si e a criava em uma espécie de caserna pública, onde estudava de maneira lúdica até o doze, quanto começaria a receber o treino militar. Para transformar moços e moças em vigorosos soldados, impunham a eles uma disciplina severa e muita ginástica. Era muito comum as práticas de amor homossexual para estreitar os laços de companheirismo. Como todos os gregos estudavam música, canto e dança coletiva, mas não se interessavam muito pelo estudo da filosofia, pouco espaço era dado a ela na formação do espartano, que visava mais a formação prática. Poucos sabiam ler e contar, tal era o desprezo que votavam à instrução no sentido moderno do termo. Portanto, não encontramos em Esparta os chamados teóricos da educação. O que devemos, ainda, ressaltar na educação prática na cidade de Esparta é o fato de que promovia, mesmo com toda a rigidez militar, a vida coletiva, os vínculos de amizade e a obediência e a valorização da mulher. Em Esparta, as mulheres participavam, desde pequenas, dos exercícios de salto, o lançamento de disco, a corrida e a dança. “Por ocasião das festividades,exibiam nos jogos públicos toda a força, a beleza e o vigor dos corpos bem treinados” (ARANHA, 2006, p.64). Atenas Atenas foi fundada pelo povo jônio que habitava a região da Ática, península banhada pelo Mar Egeu onde ficava o porto do Pirineu, que servia à cidade-Estado. No século VI a.C., Atenas passou por transformações, as antigas estruturas políticas já não se adequavam ao progresso econômico, provocando agitações sociais e políticas. Em 509 a.C. foram adotadas as reformas idealizadas por Clístenes, que acabaram com os privilégios políticos da aristocracia. Com essas reformas todos os cidadãos atenienses podiam participar das decisões, qualquer cidadão poderia votar e ver sua proposta ser votada nas assembleias. Esse regime político de Atenas era denominado democracia, todavia a democracia praticada em Atenas era para poucos. Para começar, os escravos não tinham direito a voto. As mulheres, os metecos, que eram os “estrangeiros”, homens livres que não eram nascidos em Atenas também não participavam das assembleias e votações. A democracia ateniense era direta e não representativa como ocorre atualmente, os cidadãos compareciam as assembleias e votavam pessoalmente as questões ali discutidas. Ao contrário do que ocorria em Esparta, na cidade grega de Atenas, ao lado da educação física a educação intelectual assumia grande importância. Desde o século VI a.C, os sábios (sophos) discutiam a filosofia e a ciência, transformando Atenas em um centro irradiador de cultura. Foi em Atenas que a educação grega ganhou as formas que foram transmitidas à civilização ocidental. Em Atenas surgiram às primeiras preocupações com a formação intelectual do homem, com a Paidéia propriamente dita. Apesar da importância atribuída à educação, essa não era nem obrigatória nem gratuita, fazendo com que apenas uns poucos conseguissem a ela ascender. Somente os que poderiam se dedicar ao “ócio criativo” poderiam receber essa educação integral, aos demais restava apenas à prática manual, tão desprezada pelos pensadores gregos. A educação da criança durante os primeiros sete anos ficava nas mãos da família, que as entregavam aos cuidados de amas e escravos, o oposto do que faziam as mães espartanas que se encarregavam de educar seus filhos nessa fase. Após os sete anos as meninas continuavam sob os “cuidados” maternos dedicando-se aos afazeres domésticos, pois as mulheres eram pouco valorizadas em relação aos homens. Quanto aos meninos desligavam-se da autoridade materna e iniciavam a educação física, a musical e a alfabetização. Em Atenas os meninos eram iniciados ao universo educacional sempre acompanhadas de um escravo, o pedagogo, que o Os cuidados com o corpo começavam com uma política de eugenia – prática de melhoramento da espécie – que recomendava fortalecer mulheres para gerarem filhos robustos e sadios, bem como abandonar as crianças deficientes ou frágeis demais (ARANHA, 2006, p. 64) orientaria em suas primeiras atividades intelectuais. A partir dos 13 anos eram encaminhados aos ginásios onde recebiam uma cultura física, musical e literária. Dos 16 aos 18 anos a educação do jovem tomava uma dimensão cívica de preparação militar. A educação superior apareceu posteriormente, com os sofistas e os filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Vemos nascer em Atenas a pedagogia como saber autônomo, o pensamento da educação e todos os seus questionamentos, assistimos aí ao surgimento da preocupação com o aprimoramento dos métodos educacionais, a estruturação da Paidéia. A partir desse interesse pelo processo educativo, dentro de Atenas surgem formas diferentes de compreender a educação. Os principais pensadores desse processo são também os nomes mais conhecidos dentro de outras áreas de conhecimento: Sócrates, Platão e Aristóteles. RESUMINDO... EDUCAÇÃO ATENIENSE: o principal objetivo da educação em Atenas era preparar integralmente o cidadão. Na pólis ateniense, a Ágora era o principal lugar de manifestação da opinião pública, adequado à cidadania cotidiana, onde o povo se reunia em assembleia para debater e deliberar sobre as questões de interesse da comunidade. A Educação de Atenas tinha como finalidade preparar os futuros cidadãos para a política, ou seja, para a retórica5, de modo que fossem capazes de se expressar oralmente, prontos para o diálogo e o convencimento. 5 Retórica: A arte da eloquência, a arte de bem argumentar; arte da palavra. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa Se a noção de Paidéia deve ser procurada já nas fases mais remotas da cultura grega, atingindo a cultura dos médicos, depois a dos trágicos e por fim a dos filósofos, é todavia na época dos sofistas e de Sócrates que ela se afirma de modo orgânico e independente e assinala a passagem – explicita – da educação para a pedagogia, de uma dimensão pragmática da educação para uma dimensão teórica, que se delineia segundo as características universais e necessárias da filosofia. Nasce a pedagogia como saber autônomo, sistemático, rigoroso; nasce o pensamento da educação como episteme, e não mais como éthos e como práxis apenas a guinada será determinante para a cultura ocidental, já que reelabora num nível mais alto e complexo os problemas da educação e os enfrenta fora de qualquer localismo e determinismo cultural e ambiental, num processo de universalidade racional; e porá em circulação aquela noção de Paidéia que sustentou por milênios a reflexão educativa, reelaborando-se como Paidéia cristã, como Paidéia humanística e depois como bildung. (CAMBI, 1999, p.87) Pintura da Escola de Atenas feita por Raffaello Sanzio (ou apenas Rafael) em um conjunto de cômodos pintados pelo artista (Os Quartos de Rafael). Essa obra sintetiza os maiores pensadores gregos. Os cômodos, hoje, fazem parte do museu do Vaticano. EDUCAÇÃO ELEMENTAR EM ATENAS: até os sete anos de idade, a educação era responsabilidade das famílias e ocorria no espaço doméstico. As crianças atenienses eram preparadas para o debate e a deliberação. Tinham um dia de estudos e de instrução para a cidadania. Elas iam à palestra – local onde estudavam – duas vezes ao dia: de manhã, quando aprendiam música e ginástica, e à tarde, após o almoço em casa, para o ensino da leitura e da escrita, que era acompanhado por um escravo, chamado de pedagogo6. EDUCAÇÃO POR GÊNERO EM ATENAS: As meninas continuavam a ser educadas no ambiente familiar, especificamente no gineceu7. A educação masculina organizava-se em três níveis: Elementar (até os 13 anos); Secundário; Superior. A partir da Educação Elementar, as crianças eram encaminhadas para aprender algum ofício ou continuavam estudando e frequentando os ginásios. Inicialmente, esses lugares eram destinados apenas aos exercícios físicos, mas, com o tempo e as exigências da pólis, incluíram as práticas musicais e literárias. ENSINO SUPERIOR EM ATENAS: a partir dos 16 ou 18 anos, o jovem se dedicava ao Ensino Superior. Esse foi o momento em que Sócrates, Platão e Aristóteles desenvolveram suas reflexões e teorias. O ensino profissional desenvolvia-se no cotidiano, durante a própria execução do trabalho. EDUCAÇÃO ESPARTANA: a educação em Esparta era mais voltada para a formação de soldados para as guerras. A estrutura da Educação espartana – chamada de agogê – foi organizada por Licurgo8 (800 a.C.-730 a.C.). O ensino era obrigatório e estava voltado à formação militar. O poder político-militar norteou a Educação de Esparta, que, patrocinada pelo Estado, tinha como principal objetivo preparar os futuros soldados. A prática educacional consistia em desenvolver as habilidades físicas para a formação do guerreiro, tais como força, bravura e obediência – virtudes necessárias à guerra. EDUCAÇÃO ELEMENTAR: semelhante ao que ocorria em Atenas, até os sete anos, os meninos permaneciam em casa sob os cuidados das mães, que os treinavamde forma rigorosa. Após esse período, o Estado assumia a educação: os jovens eram afastados da família e encaminhados para as casernas públicas, onde recebiam ensinamentos militares e treinavam: ginástica, saltos, natação, corrida, lançamentos de dardo e de disco. Eles também aprendiam a suportar a fome, o frio, a dormir com desconforto e a vestir-se de forma despojada. Além disso, estudavam as armas e manobras militares, com o propósito de se tornar hábeis, perspicazes e com autodomínio. EDUCAÇÃO POR GÊNERO: as mulheres também se preparavam fisicamente e eram criadas para viver de maneira saudável, a fim de conceber filhos sadios. A educação sexual fazia parte da instrução feminina a partir da puberdade e era de responsabilidade da mãe. Em torno dos 20 anos, a moça recebia autorização do governo para casar-se e procriar. Era estimulada a engravidar, pois, quanto mais filhos nasciam, mais soldados havia na cidade. Os Sofistas: mestres da argumentação Os sofistas eram professores viajantes que, mediante pagamento, vendiam ensinamentos, davam aulas de eloqüência8 e de sagacidade9 mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios públicos e privados. Transmitiam, na realidade, todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que poderiam ser utilizados na arte de convencer o interlocutor, driblando as teses dos adversários. Os sofistas defendiam a educação, cujo objetivo seria a formação do cidadão pleno, preparado para atuar politicamente, contribuindo para o crescimento da cidade. Para os filósofos chamados de sofistas, não haveria 6 Pedagogo: Termo que surgiu na Grécia Clássica, advindo da palavra παιδαγωγός, cujo significado etimológico é “preceptor, mestre, guia, aquele que conduz”. O paidagogo (paidagōgós) era o condutor que guiava a criança e o jovem até o local de ensino, ou seja, em direção ao saber. 7 Gineceu: Local da casa reservado aos afazeres domésticos. 8 Licurgo: Legislador que também organizou o Estado espartano, fundamentado no militarismo. uma verdade única, absoluta, pois tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias. Para os sofistas, a verdade vem do consenso entre os homens e o principal valor intelectual é a erudição que o homem de posse de todos os conhecimentos úteis aos seus propósitos consegue amealhar e a virtuosidade que lhe permite escolher e apresentar seus temas de maneira cativante. Todavia, não podemos deixar de destacar que não exista uma doutrina sofística única, havia sim alguns pontos comuns entre as concepções sofísticas. Os sofistas, enfim, eram os técnicos que se vangloriam de conhecer e ensinar todas as artes úteis ao homem e os mestres da retórica que ensinam como conquistar a simpatia das plateias. Acreditamos que os principais sofistas foram Górgias e Protágoras. Protágoras (480 – 410 a.C.) O homem é a medida de todas as coisas; daquelas que são, enquanto são; e daquelas que não são, enquanto não são. Protágoras de Abdera, pode ser considerado o primeiro dos sofistas. Ensinou por muitos anos na cidade de Atenas e tinha como princípio básico de seus ensinamentos a ideia de que o homem é a medida de tudo que existe. Para Protágoras, o mundo é o que os homens constroem e destroem, não existindo, portanto, verdades absolutas. A verdade seria relativa ao indivíduo, grupo social ou cultural. Assim, qualquer tese poderia ser encarada como falsa ou verdadeira, dependendo da ótica de cada um. Górgias (487 – 380 a.C.) O bom orador é capaz de convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa. Górgias de Leontine é considerado por muitos autores um dos grandes oradores da Grécia. No diálogo Górgias, de Platão, o sofista diz a Sócrates que o objetivo da retórica é “poder persuadir por meio do discurso os juízes nos tribunais, os senadores no conselho, o povo na assembleia do povo e em toda outra reunião que seja uma reunião de cidadãos”. E completa que a habilidade do retórico consiste “em falar contra todo adversário e sobre qualquer assunto”. Além de exímio orador, foi responsável pelo aprofundamento do subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de defender o ceticismo absoluto. Segundo Górgias, nada existe e se existisse não poderia ser conhecido. Após conhecermos um pouco acerca dos primeiros pensadores que se afastaram das questões relacionadas a observação da natureza, vamos estudar agora os grandes pensadores do período Socrático, os responsáveis pela estruturação e sistematização da filosofia grega. Comparado aos outros modelos de organização da sociedade, gregos ou não gregos, o modelo ateniense da pólis ainda hoje fascina aqueles que o desconhecem. (...) As sociedade ateniense não era, evidentemente, uma democracia no sentido moderno. As mulheres, os escravos e os estrangeiros (a maioria da população) estavam excluídos da cidadania. As mulheres deviam obediência aos pais e depois aos maridos, que podiam legá-las em testamento a outro homem. Os corpos das mulheres eram misteriosos, os médicos não podiam examiná- los: acreditava-se que elas tinham um órgão chamado hysteros (o útero), que, quando ficavam nervosas, se deslocava do ventre para a garganta (daí veio histeria). Mesmo no teatro, a mulher era discriminada: os papéis femininos eram representados por atores, homens. Isso não impedia, porém, que personagens femininos causassem uma forte emoção em praticamente toda a população de Atenas. A Antígona, de Sófocles, por exemplo, enfrenta sozinha o todo poderoso rei Creonte, seu futuro sogro, dizendo-lhe que, para ela, as razões afetivas eram mais importantes do que as razões políticas, sacudiu os espectadores. (KONDER, Leandro. Filosofia e educação: de Sócrates a Habermas. Rio de Janeiro: Forma & Ação, 2006, p. 22) Sócrates (469-399 a.C) Só sei que nada sei O pensador que se tornou referência a ponto de ser tido como um divisor de águas dentro da filosofia nasceu na cidade de Atenas, no século V a.C. A vida desse importante pensador, que nenhum escrito legou à posteridade, é narrada por Xenofonte e por seu discípulo Platão, que fez dele o personagem central de seus diálogos, especialmente em Apologia de Sócrates e Fédon. Como sua mãe era parteira e seu pai um escultor, recebeu uma educação tradicional, aprendendo a ler e a escrever a partir da obra do poeta Homero e conhecendo as doutrinas filosóficas precedentes e contemporâneas, tais como Parmênides, Zenão e Heráclito (JAPIASSÚ, MARCONDES, 2006, p. 256). Sócrates participou do movimento de renovação cultural iniciado pelos sofistas e entre eles circulava com muita tranquilidade, todavia usava em seus diálogos com os cidadãos um método bastante diferente do utilizado pelos sofistas. Em primeiro lugar podemos destacar que Sócrates não cobrava nada, pois não intentava ensinar nada a ninguém, mas sim conduzir o indivíduo a conclusões corretas. Para isso usava uma forma de dialogar que ficou conhecida como chamado maiêutica9. A maiêutica nada mais era do que a condução do interlocutor a desenvolver seu pensamento sobre uma questão que ele pensava conhecer, e, assim, reconhecer a contradição, o erro. A atividade maiêutica, segundo Sócrates tinha como finalidade trazer à luz as ideias que preexistiam na mente de seus interlocutores. Era preciso que o interlocutor estivesse grávido de ideias gerais, as quais julgava conhecer. Sócrates afirmava que, por mais que investigassem as doutrinas e conversassem com os sábios, não havia encontrado ninguém que conseguisse participar da sua dialética sem cair em evidente contradição. Por isso, ele se mantinha um investigador desinteressado e não afirmava possuir um saber, como os outros. “Só sei que nada sei” dizia ele e, por reconhecer sua própria ignorância, o que o colocava em confronto com os sofistas que se satisfaziam com respostas prontas e acabadas, foi considerado o mais sábio dentre todos os sábios.Assim, podemos verificar que o método socrático, como ficou conhecida a forma utilizada por Sócrates para desarticular a argumentação de seus interlocutores e os conduzir a novas conclusões, era uma combinação da ironia, pois Sócrates iniciava o diálogo afirmando nada saber, e da maiêutica. Portanto, o método socrático combinava a ironia e a maiêutica: a ironia aproveitava o próprio movimento do pensamento do interlocutor para ajudá-lo a superar o erro em que incorria, superado o erro, chagava a hora da maiêutica. Com a sua filosofia moral buscou, através do ensino ministrado aos mais jovens, determinar a essência do homem, respondendo a questão sobre a natureza ou realidade última do homem. Para Sócrates, a essência do homem é a sua psyché, a sua alma, entendendo por alma a consciência, a personalidade intelectual e moral do homem. O corpo é receptáculo da alma, e cuidar da alma é a suprema obrigação moral do homem. Esse importante filósofo grego chegou a fazer parte do Senado, ocasião em que manifestou sua convicção de liberdade combatendo as medidas que considerava injustas. A democracia estava sendo implantada em Atenas, e o filósofo respondia qual era o melhor Estado afirmando que os homens mais sábios deviam governá-lo, pois eles podem controlar melhor seus impulsos violentos e anti-sociais, afastando-se, dessa forma, do comportamento dos animais. O Estado não confiava na habilidade e reverenciava mais o número do que o conhecimento. A reação dos atenienses não poderia ser diferente: perante um júri de cinquenta pessoas, Sócrates foi acusado de negar os deuses do Estado e de "perverter a juventude de Atenas", já que muitos jovens o seguiam e tornavam-se seus discípulos. Foi considerado, aos setenta anos, líder de uma revolta e, condenado à morte, teve que ingerir cicuta. Assim, podemos verificar que verdadeira causa da morte de Sócrates foi política, pois os ditos “cidadãos atenienses” se sentiram ameaçados, as ideias de Sócrates e seus discípulos ameaçavam as bases da política implantada em Atenas. 9 Maiêutica: arte de partejar, parir. Termo apropriado da profissão de sua mãe. Platão (427-347 a.C) Os males não cessarão para os homens antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder O mais conhecido dentre os discípulos de Sócrates, nasceu em Atenas e antes de se aproximar de Sócrates, foi aluno de Crátilo. Platão (427-347 a.C) visitou muitas cidades da Grécia e da Península Itálica e, em 387 a.C., fundou a Academia, a primeira universidade de caráter científico. Platão é tido como um marco fundamental na história da filosofia grega por apresentar a ideia filosófica da existência de uma realidade suprafísica do ser, que os naturalistas não imaginavam, pois sempre tentaram explicar a origem dos fenômenos e das coisas através de causas físicas e perceptíveis, como água, terra, fogo, ar e calor. O dualismo é a característica predominante do pensamento platônico. De acordo com Platão, existem dois mundos: o mundo das ideias, que são as essências eternas, divinas e imitáveis das coisas, e o mundo sensível, esse em que vivemos (MONDIN, 2006, p. 273). Para Platão, a origem das coisas e dos fenômenos estava em uma causa originária verdadeira, não sensível, imaterial, a que chamou Ideia ou eidos que significam forma. Nessa forma de conceber a origem das coisas e dos fenômenos a Ideia não significa o pensamento, mas a essência das coisas, a forma: esta constitui o modelo. Os modelos teriam existência real. O conjunto das Ideias foi denominado lugar hiperurânio, que significa lugar acima do cosmos físico (céu); que abrange a totalidade do ser inteligível situando-se na dimensão do eterno, enquanto o mundo sensível situa-se na dimensão do tempo. Um corruptor da juventude? Sócrates não dava importância à condição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as qualidades interiores, psicológicas, de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo de autoconhecimento. Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população (composta de escravos, estrangeiros e mulheres), Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social pois desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas sem fazer distinções de categoria social. Interessado na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dominantes da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome). Diante de seus juízes, Sócrates assumiu uma postura viril, altaneira, imperturbável, de quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência. (COTRIM, 2006, pp. 87-88) O mundo das Ideias de Platão é um mundo transcendente, de existência autônoma, acima do mundo sensível. As ideias são formas puras, modelos perfeitos eternos e imutáveis. Mas tudo o que percebemos, tudo o que é sensível é formado a partir das Ideias, constituindo cópias imperfeitas desses modelos espirituais. Só podemos atingir a realidade das Ideias, na medida em que pelo processo dialético, nossa mente se afasta do mundo concreto, atravessando com a alma sucessivos graus de abstração, usando sistematicamente o discurso para se chegar à essência do mundo. Na eternidade do mundo das Ideias, junto da justiça, da bondade, da sabedoria e de todos os seres totais e perfeitos, habitaria a alma, antes de habitar nosso corpo e para essa eternidade ela sempre voltaria quando se desligasse dos corpos que funcionariam como seus cárceres temporários. Afirmava, assim, a imortalidade da alma. Da mesma forma que Sócrates, Platão filosofava, usando o método do diálogo, da conversa, mas, ao contrário de seu mestre, não andava essências eternas, divinas e imitáveis das coisas, e o mundo sensível, esse em que vivemos. (MONDIN, 2006, p. 273) Para Platão, a origem das coisas e dos fenômenos estava em uma causa originária verdadeira, não sensível, imaterial, a que chamou Ideia ou eidos que significam forma. Nessa forma de conceber a origem das coisas e dos fenômenos a Ideia não significa o pensamento, mas a essência das coisas, a forma: esta constitui o modelo. Os modelos teriam existência real. O conjunto das Ideias foi denominado lugar hiperurânio, que significa lugar acima do cosmos físico (céu); que abrange a totalidade do ser inteligível situando-se na dimensão do eterno, enquanto o mundo sensível situa-se na dimensão do tempo. O mundo das Ideias de Platão é um mundo transcendente, de existência autônoma, acima do mundo sensível. As ideias são formas puras, modelos perfeitos eternos e imutáveis. Mas tudo o que percebemos, tudo o que é sensível é formado a partir das Ideias, constituindo cópias imperfeitas desses modelos espirituais. Só podemos atingir a realidade das Ideias, na medida em que pelo processo dialético, nossa mente se afasta do mundo concreto, atravessando com a alma sucessivos graus de abstração, usando sistematicamente o discurso para se chegar à essência do mundo. Na eternidade do mundo das Ideias, junto da justiça, da bondade, da sabedoria e de todos os seres totais e perfeitos, habitaria a alma, antes de habitar nosso corpo e para essa eternidade ela sempre voltaria quando se desligasse dos corpos que funcionariam como seus cárceres temporários. Afirmava, assim, a imortalidade da alma. Na obra República, depois de estudar filosofia, aqueles que forem considerados aptos irão testar seus conhecimentos no mundo real, onde deverão experimentar todas as dificuldades e dissabores da vida, lutando pela sua sobrevivência, experimentando realidade em toda sua frieza. Aos sobreviventes que chegarem aos cinquenta anos, será concedido o direito de governarem