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EMOÇÕES Myriam Monteiro Leitura Extraclasse: Davidoff L. Introdução à Psicologia. Capítulo 9 Ninguém precisa lhe dizer que os senƟmentos dão cor à vida, ou que em momentos de estresse eles podem perturbá-lo, ou mesmo salvá-lo. Dentre todas as espécies, nós parecemos ser a mais emocional (Hebb, 1980). Mais do que qualquer outra criatura, expressamos medo, raiva, tristeza, alegria e amor, e esses estados psicológicos em geral geram reações İsicas. Nervosos diante de um encontro importante, senƟmos o estômago embrulhar. Ansiosos quando falamos em público, vamos constantemente ao banheiro. Brigando com um membro da família, sofremos dores de cabeça avassaladoras. Todos podemos lembrar de momentos nos quais fomos dominados pelas emoções. Eu guardo a lembrança de um dia em que fui a uma gigantesca loja de departamentos para revelar um filme com Peter, meu filho mais velho, quando ele tinha 2 anos. Eu estava com ele ao meu lado enquanto entregava o filme e preenchia o papel para a revelação, quando um passante falou: “É melhor ter cuidado com esse menino ou irá perdê-lo.” Alguns segundos depois, após deixar o filme, eu me virei e Peter não estava mais ao meu lado. Com uma leve ansiedade, olhei ao redor, até uma extremidade do corredor onde eu estava. Não o vi. Um pouco mais ansioso, procurei do outro lado. Ele não estava lá também. Nessa hora, já com o coração acelerado, circulei pelos corredores vizinhos. Nada de Peter. À medida que a ansiedade se transformava em pânico, comecei a correr pelos corredores da loja. Ele não estava em lugar nenhum que eu conseguisse ver. Apreensivo com o meu estado, o gerente usou o sistema de som da loja para comunicar o desaparecimento de uma criança. Pouco depois, passei pelo mesmo cliente que então me disse cheio de desprezo: “Eu lhe disse que você ia perdê- lo!” Já cogitando um sequestro (os desconhecidos adoravam aquela bela criança), percebi a possibilidade de minha negligência ter-me feito perder aquilo que amava acima de todas as coisas, e — pesadelo dos pesadelos — que eu teria de voltar para casa e olhar no rosto de minha mulher sem o nosso filho. Mas, ao passar novamente pelo serviço de informação ao cliente, lá estava ele: alguém o encontrara! Em um instante, saí de um pesadelo diretamente para o êxtase. Abracei fortemente meu filho, com lágrimas nos olhos, e, senƟndo-me incapaz de sequer agra- decer, saí da loja, cheio de alegria. O QUE É UMA EMOÇÃO? As emoções são multidimensionais. Existem como fenômenos subjeƟvos, biológicos, sociais e com um propósito (Izard, 1993). Em parte, as emoções são sentimentos subjetivos, pois nos fazem sentir de determinado modo, tal como zangados (com raiva) ou alegres. As emoções são também reações biológicas, respostas mobilizadoras de energias que preparam o corpo para adaptar-se às situações que enfrentamos, sejam elas quais forem. As emoções são também agentes de um propósito, assim como a fome tem um propósito. A raiva, por exemplo, cria um desejo moƟvacional de fazer aquilo que, não fosse ela, poderíamos não fazer, tal como combater um inimigo ou protestar contra uma injusƟça. E as emoções são fenômenos sociais. Quando emocionados, emiƟmos sinais faciais, posturais e vocais reconhecíveis que comunicam aos outros a qualidade e a intensidade da nossa emoção (p. ex., movimentos das sobrancelhas, o tom da voz). O QUE É UMA EMOÇÃO? O QUE É UMA EMOÇÃO? “As emoções são fenômenos expressivos e proposiƟvos, de curta duração, que envolvem estados de senƟmento e aƟvação, e nos auxiliam na adaptação às oportunidades e aos desafios que enfrentamos durante eventos importantes da vida.” O QUE É UMA EMOÇÃO? No caso do medo, o evento provocador poderia ser representado por encostas íngremes de esqui, ao passo que a reação inclui senƟmentos, excitação corporal, desejos direcionados para uma meta e comunicações não-verbais bastante objetivas. Assim, o esquiador ameaçado sente-se apavorado (aspecto senƟmento), “com o coração a mil” (aspecto excitação corporal), com um desejo forte de autoproteção (aspecto propositivo) e apresenta os olhos tensos e os cantos da boca repuxados (aspecto expressivo). Esses elementos sincronizados e mutuamente apoiados consƟtuem um padrão de reaƟvidade a um perigo ambiental: a emoção medo. O QUE É UMA EMOÇÃO? Os diferentes aspectos da experiência se complementam e se coordenam uns com os outros (Averill, 1990; LeDoux, 1989). Por exemplo, o que as pessoas sentem está relacionado com os movimentos de seus músculos faciais. Quando você vê ou cheira um alimento estragado, por exemplo, seu modo de senƟr e seu modo de franzir o nariz e recolher o lábio superior coordenam-se como um sistema coerente de expressão e sentimentos (Rosenberg & Ekman, 1994). Assim também, o modo como você movimenta o rosto coordena-se com a sua reaƟvidade fisiológica, de modo que baixar o cenho e apertar os lábios com força coincide com o aumento da freqüência cardíaca e a elevação da temperatura epidérmica (Davidson et al., 1990). O QUE É UMA EMOÇÃO? A tristeza é uma reação emocional a um encontro com um evento significaƟvo da vida, como separação ou fracasso. Tomando como exemplo a emoção de angúsƟa/tristeza, o senƟmento aversivo influi na letargia corporal, no senƟdo de propósito para reverter o fato da separação e na expressão facial distintiva de tristeza, ocorrendo juntamente com eles. Portanto, as emoções são sistemas sincronizados que coordenam senƟmento, aƟvação, propósito e expressão, de modo a nos preparar para que nos adaptemos com êxito às circunstân- cias da vida. “Emoção” é a palavra usada pelos psicólogos para dar nome a esse processo coordenado e sincronizado. Relação entre Emoção e MoƟvação As emoções relacionam-se com a moƟvação de dois modos. Em primeiro lugar, as emoções são um Ɵpo de moƟvo. Assim como todos os outros moƟvos (p. ex., necessidades, cognições), as emoções dão energia ao comportamento e o dirigem. A raiva, por exemplo, mobiliza recursos subjeƟvos, fisiológicos, hormonais e musculares (ou seja, dá energia ao comportamento) para se aƟngir uma determinada meta ou propósito (ou seja, dirige o comportamento), tal como vencer um obstáculo ou corrigir uma injusƟça. Alguns estudiosos agumentam que as emoções consƟtuem o sistema moƟvacional primário (Tomkins, 1962, 1963, 1984; Izard, 1991). Relação entre Emoção e MoƟvação Durante toda a história centenária da psicologia, os impulsos (drivers) fisiológicos (fome, sede, sono, sexo e dor) foram considerados moƟvadores primários (Hull, 1943, 1952). A privação de ar nos fornece um exemplo. Todavia, Silvan Tomkins, pesquisador da emoção, chamou esse raciocínio, de “erro radical” (Tomkins, 1970). Segundo Tomkins, a perda de ar provoca uma reação emocional forte — de medo ou de terror. É esse terror que fornece a moƟvação para agir. Assim, é o terror, e não a privação de ar ou a ameaça à homeostase corporal a fonte causal e imediata do comportamento motivado de conseguir ar. Tire fora a emoção e você estará reƟrando a moƟvação. Relação entre Emoção e MoƟvação Em segundo lugar, as emoções servem como um sistema de leitura (readout) permanente para indicar se a adaptação pessoal está indo bem ou não. A alegria, por exemplo, revela inclusão social e o progresso em direção às nossas metas, enquanto a angúsƟa revela exclusão social e fracasso. A emoção também fornece uma leitura do status em que se encontram os estados moƟvacionais da pessoa, que estão em conơnua mudança, e sua condição de adaptação pessoal (Buck, 1988). As emoções posiƟvas refletem o envolvimento e a saƟsfação de nossos estados moƟvacionais, enquanto as emoções negaƟvas refletem o abandono e a frustração de nossas moƟvações. As emoções posiƟvas também refletem o êxito denossa adaptação a circunstâncias que enfrentamos, enquanto as emoções negaƟvas refletem o fracasso da nossa adaptação. Relação entre Emoção e MoƟvação As emoções não são, necessariamente, moƟvos do mesmo modo que as necessidades e cognições, porém refletem o status de saƟsfação versus fracasso dos motivos. Considere a moƟvação sexual e veja como a emoção fornece uma leitura do progresso corrente (readout) de um episódio sexual que facilita alguns comportamentos e inibe outros. Durante tentaƟvas de graƟficação sexual, emoções positivas, tais como interesse e alegria, sinalizam que tudo vai bem e facilitam a conduta sexual posterior. Emoções negativas como repulsa, raiva e culpa sinalizam que nem tudo vai bem e inibem a conduta sexual posterior. Relação entre Emoção e MoƟvação Emoções posiƟvas durante tentaƟvas de envolvimento e saƟsfação de moƟvos pessoais (isto é, interesse, alegria) proporcionam um sinal verde, no senƟdo metafórico, para que esse curso de ação continue a ser seguido. Por outro lado, emoções negaƟvas durante tentaƟvas de envolvimento e saƟsfação de moƟvos pessoais (isto é, repulsa, culpa) fornecem um sinal vermelho, metaforicamente, para que se interrompa o seguimento desse curso de ação. Qual é a origem dessas emoções? Por que as sentimos? De que são feitas? As emoções são respostas adaptativas de nosso corpo. Elas existem não para nos proporcionar experiências importantes, mas para permitir a nossa sobrevivência. Quando enfrentamos desafios, as emoções põem nossa atenção em foco e energizam nossas ações. O coração acelera. Apressamos o passo. Todos os nossos senƟdos entram em alerta. Ao receber boas noơcias inesperadamente, nossos olhos podem se encher de lágrimas. Levantamos nossas mãos em triunfo. SenƟmo-nos exuberantes e cheios de confiança. Quando o estresse persiste, porém, ele pode prejudicar seriamente nossa saúde. Quais são os componentes de uma emoção? As emoções são uma mistura de (1) aƟvação fisiológica (baƟmentos cardíacos acelerados), (2) comportamentos expressivos (apressar o passo) e (3) pensamentos (será um sequestro?) e senƟmentos (uma sensação de medo e depois de alegria) conscientemente experienciados. Existem controvérsias a respeito dessa interação entre fisiologia, expressões e experiência nas emoções. A primeira, um debate do Ɵpo “o ovo ou a galinha”, é anƟga: a resposta fisiológica precede ou sucede a experiência emocional? (Primeiro eu percebo meu coração acelerar e meu passo mais rápido e, só depois, sinto ansiedade assustadora por perder Peter? Ou a sensação do medo vem primeiro, o que leva meu coração e minhas pernas a responder?) A segunda controvérsia está relacionada à interface entre pensamento e senƟmento: será que a cognição sempre precede a emoção? (Eu pensei sobre a ameaça de sequestro antes de reagir emocionalmente?) Teoria das Emoções –Perspectiva Evolucionista Darwin, 1872 Emoções primárias: • Alegria, tristeza, medo, nojo, raiva, surpresa. • Inatas em todos mamíferos; • Independente de fatores sociais ou culturais; Teoria de Charles Darwin (1872) – as emoções se desenvolviam por causa de seu valor adaptativo. Medo- ajudaria organismo a evitar o perigo, auxiliaria em sua sobrevivência. Para ele as emoções humanas como produto da evolução. Quais são os componentes de uma emoção? Segundo o senso comum, choramos por estar tristes, xingamos por estar zangados, trememos por estar com medo. Primeiro vem a consciência de nós mesmos, e então observamos as respostas fisiológicas. Para o psicólogo pioneiro William James, esse senso comum sobre a emoção estava incorreto. De acordo com James, “Nós nos sentimos tristes porque choramos, zangados porque brigamos e assustados porque trememos” (1890, p. 1066). Talvez você se lembre de alguma vez em que seu carro derrapou no asfalto escorregadio. Nesse momento, você apertou o freio e readquiriu o controle do veículo. Logo após, você se deu conta do perigo por que passou, percebeu seu coração disparado e, então, tremendo de medo, senƟu-se inundado pela emoção. Seu senƟmento de medo seguiu sua resposta corporal. A ideia de James, também proposta pelo fisiologista dinamarquês Carl Lange, é chamada de teoria de James-Lange. Primeiro vem uma resposta fisiológica disƟnta, depois (por observarmos essa resposta) vem a emoção. Quais são os componentes de uma emoção? A teoria de James-Lange foi considerada implausível pelo fisiologista Walter Cannon. Cannon afirmou que as respostas corporais não seriam disƟntas o suficiente para evocar diferentes emoções. A aceleração do coração será um sinal de medo, raiva ou amor? Além disso, alterações na frequência cardíaca, na transpiração e na temperatura corporal parecem ser muito lentas para deflagrar emoções súbitas. Cannon e, mais tarde, outro fisiologista, Philip Bard, concluíram que a resposta fisiológica e nossas experiências emocionais ocorrem ao mesmo tempo: o esơmulo que deflagra a emoção é encaminhado simultaneamente para o córtex cerebral, causando a consciência subjeƟva da emoção, e para o sistema nervoso simpáƟco, causando a excitação corporal. A teoria de Cannon-Bard implica afirmar que o coração começa a disparar quando começamos a senƟr o medo; um não causa o outro. Nossa resposta fisiológica e a emoção vivenciada são duas coisas separadas. Quais são os componentes de uma emoção? Cannon e Bard esperariam que você experienciasse as emoções normalmente, pois acreditavam que as emoções ocorriam separadamente da excitação corporal (embora simultaneamente a ela). James e Lange esperariam uma grande redução das emoções, pois acreditavam que para experienciar a emoção você deveria inicialmente perceber a excitação corporal. Quais são os componentes de uma emoção? Stanley Schachter e Jerome Singer (1962) propuseram uma terceira teoria: a de que nossa fisiologia e cognição — percepções, memórias e interpretações — juntas criam a emoção. Em sua teoria dos dois fatores, as emoções têm portanto dois componentes: excitação İsica e o rótulo cognitivo. Como James e Lange, Schachter e Singer presumiram que a experiência da emoção cresce a partir da consciência da resposta corporal. Assim como Cannon e Bard, Schachter e Singer também sustentavam que as emoções eram fisiologicamente semelhantes. Assim, a parƟr dessa perspeciva, uma experiência emocional exige uma interpretação consciente da excitação. Quais são os componentes de uma emoção? O QUE CAUSA A EMOÇÃO? O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Biologia e Cognição Os que argumentam a favor da primazia da cognição argumentam que os indivíduos não podem responder emocionalmente, a não ser que primeiro avaliem cognitivamente o significado e a importância pessoal de um evento: esse evento é relevante para o bem- estar? É relevante para o bem-estar de um ente querido? É importante? Benéfico? Prejudicial? Primeiro se estabelece o significado e depois a emoção se segue como conseqüência. A avaliação do significado causa a emoção. Os que argumentam a favor da primazia da biologia afirmam que as reações emocionais não exigem, necessariamente, tais avaliações cognitivas. Eventos de Ɵpo diferente, tais como aƟvidade neural subcorƟcal ou expressões faciais espontâneas, aƟvam a emoção. Para o biólogo, as emoções podem ocorrer, e realmente ocorrem, sem um evento cogniƟvo prévio, mas não podem ocorrer sem um evento biológico prévio. A biologia, portanto, e não a cognição, é que é primária. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? PerspecƟva Biológica Na perspecƟva biológica incluem-se três representantes: Carroll Izard (1989, 1991), Paul Ekman (1992) e Jaak Panksepp (1982, 1994). Izard (1984) descobre que os bebês respondem emocionalmente a certos eventos, apesar de suas limitações cogniƟvas (p. ex., vocabuláriolimitado, capacidade limitada de memória). Um bebê de 3 semanas, por exemplo, sorri em resposta a uma voz humana em tom alto (Wolff, 1969) e o de 2 meses exprime raiva em resposta à dor (Izard et al., 1983). O QUE CAUSA A EMOÇÃO? PerspecƟva Biológica Na época em que a criança adquire a linguagem e começa a usar as capacidades sofisƟcadas de memória de longo prazo, a maioria dos eventos emocionais envolve uma boa quantidade de processos cognitivos. Apesar da riqueza da aƟvidade cogniƟva no processo da emoção, Izard (1989) insiste em que grande parte do processamento emocional dos eventos da vida permanece não-cogniƟva — automática, inconsciente e mediada por estruturas subcorticais. Por serem biologicamente sofisƟcados, mas cogniƟvamente limitados, os bebês demonstram melhor a primazia da biologia na emoção. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? PerspecƟva Biológica Ekman (1992) destaca que as emoções têm início muito rápido, duração curta, podendo ocorrer automática e involuntariamente. Assim, as emoções acontecem conosco quando agimos emocionalmente, mesmo antes de termos consciência dessa emocionalidade. As emoções são biológicas porque evoluíram através do seu valor adaptativo no manejo das tarefas fundamentais da vida. Assim como Izard, Ekman reconhece as contribuições cogniƟvas, sociais e culturais na experiência emocional, mas conclui que a biologia — e não a aprendizagem, a interação social ou a história da socialização — está no âmago causal da emoção. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? PerspecƟva Biológica Para Panksepp (1982, 1994), as emoções surgem de circuitos neurais geneƟcamente fornecidos que regulam a aƟvidade cerebral (ou seja, eventos bioquímicos e neuro-hormonais). Panksepp admite que é mais diİcil estudar os processos ocultos dos circuitos cerebrais do que estudar senƟmentos rotulados verbalmente. Insiste, porém, em que os circuitos cerebrais fornecem os fundamentos biológicos essenciais para a experiência emocional. Por exemplo, nós (e outros animais) herdamos um circuito cerebral para a raiva, um circuito cerebral para o medo, um circuito cerebral para a tristeza, e mais alguns. O raciocínio lógico que apóia a perspecƟva biológica de Panksepp provém de três descobertas importantes: 1. Como os estados emocionais são muitas vezes diİceis de verbalizar, eles devem, pois, ter origens não-cogniƟvas (não baseadas na linguagem). 2. A experiência emocional pode ser induzida por procedimentos não-cogniƟvos, tais como esƟmulação elétrica do cérebro ou da musculatura facial. 3. As emoções ocorrem em bebês e em animais não- humanos. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Perspectiva Cognitiva Na perspectiva cognitiva incluem-se três representantes: Richard Lazarus (1984, 1991a, 1991b), Klaus Scherer (1994a, 1994b, 1997) e Bernard Weiner (1986). Para cada um desses teóricos a aƟvidade cogniƟva é um pré-requisito necessário para que haja emoção. Elimine o processamento cogniƟvo e a emoção desaparecerá. Lazarus argumenta que, sem uma compreensão da importância pessoal do impacto potencial de um evento sobre o bem- estar pessoal, não há razão para uma resposta emocional. Os esơmulos avaliados como irrelevantes não provocam reações emocionais. Para Lazarus (1991a, 1991b), a avaliação cogniƟva que o indivíduo faz do significado de um evento (e não o evento em si) cria as condições da experiência emocional. Ou seja: é pouco provável que um carro que ultrapasse você no trânsito lhe desperte medo, a não ser que a maneira da ultrapassagem o faça pensar que, de algum modo, seu bem-estar foi posto em risco. O processo gerador da emoção não começa com o evento em si, nem com a reação biológica ao evento, mas com a avaliação cognitiva do seu significado. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Perspectiva Cognitiva Scherer (1994a, 1997) concorda com Lazarus em que algumas experiências da vida produzem emoções enquanto outras não as produzem. Scherer idenƟfica diversas avaliações cogniƟvas específicas que geram experiências emocionais, entre elas as seguintes: evento é bom ou mau? Consigo lidar com êxito com essa situação?, e: Esse evento está bem, em termos morais? As respostas a essas perguntas sobre o modo como avaliamos a situação que enfrentamos consƟtuem o Ɵpo de processamento cogniƟvo que dá origem às emoções. Em sua análise de atribuição da emoção, Weiner (1986) concentra-se no processamento de informações que acontece após resultados de vida ocorrerem. Ou seja, a teoria da atribuição enfoca o pensamento e a reflexão pessoal que empreendemos depois dos êxitos e fracassos da vida. Depois de um êxito, acreditar que este foi causado pela própria pessoa produz uma emoção (orgulho), ao passo que acreditar que o mesmo êxito foi causado por um amigo produz uma emoção diferente (graƟdão). Tanto o resultado como o evento da vida podem ser a mesma coisa, mas, se a atribuição for diferente, a experiência emocional é diferente. Assim, as atribuições, e não o evento ou o resultado, dão vida à emoção. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Perspectiva Cognitiva O beneİcio mais direto a ser auferido do debate entre cognição versus biologia é que ambos os lados afirmam com clareza suas respecƟvas posições. Uma vez apresentados ao pensamento de ambos os lados, pergunta-se agora o seguinte: qual lado estácerto? Ou: qual lado está mais certo? Os psicólogos da emoção têm lutado em busca de respostas para essa pergunta e encontraram duas respostas: Visão dos Dois Sistemas Uma resposta à pergunta “O que causa a emoção?” é que tanto a cognição como a biologia causam emoção. Segundo Buck (1984), os seres humanos têm dois sistemas sincrônicos que aƟvam e regulam a emoção. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Visão dos Dois Sistemas Uma resposta à pergunta “O que causa a emoção?” é que tanto a cognição como a biologia causam emoção. Segundo Buck (1984), os seres humanos têm dois sistemas sincrônicos que aƟvam e regulam a emoção. Um dos sistemas é um sistema inato, espontâneo e fisiológico que reage involuntariamente a esơmulos emocionais. O segundo é um sistema cognitivo com base na experiência que reage interpretativa e socialmente. O sistema fisiológico da emoção surgiu primeiro na evolução da humanidade (isto é, o sistema límbico), ao passo que o sistema cogniƟvo da emoção surgiu mais tarde, à medida que os seres humanos iam se tornando cada vez mais cerebrais e cada vez mais sociais (isto é, o neocórtex). Juntos, o sistema biológico primiƟvo e o sistema cogniƟvo contemporâneo combinam-se para fornecer um mecanismo altamente adaptaƟvo de emoção formado por dois sistemas. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Visão dos Dois Sistemas O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Visão dos Dois Sistemas De acordo com a figura: O sistema inferior é biológico e remonta à anƟga história evoluƟva da espécie. As informações sensoriais são processadas pelas estruturas e vias subcorƟcais (ou seja, límbicos) de maneira rápida, automática e inconsciente. O segundo sistema é cogniƟvo e depende da história da aprendizagem social e cultural parƟcular do indivíduo. As informações sensoriais são processadas pelas vias corƟcais de maneira avaliaƟva, interpretaƟva e consciente. Os dois sistemas emocionais são complementares (e não competidores) e funcionam juntos para ativar e regular a experiência emocional. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Visão dos Dois Sistemas •Robert Levenson (1994a) leva a visão dos dois sistemas emocionais um pouco mais longe, formulando hipóteses sobre o modo como o sistema biológico e o sistema cogniƟvo da emoção interagem. Em vez de existirem como sistemas paralelos, os dois sistemas influem um no outro. •Panksepp (1994) acrescenta que algumas emoções surgem primariamente do sistema biológico, enquanto outras emoções surgem primariamente do sistema cognitivo. •Emoções como medo e raiva surgem primariamente dos circuitosde comando neurais subcorticais (das estruturas e vias subcorticais, na terminologia de Buck). •Outras emoções, porém, não podem ser bem explicadas pelos circuitos neurais subcorticais. Em vez disso, elas surgem principalmente da experiência pessoal, da modelagem social e do contexto cultural. Essa categoria de emoções surge primariamente a parƟr de avaliações, expectaƟvas e atribuições (das estruturas e vias corticais, na terminologia de Buck). O QUE CAUSA A EMOÇÃO? O Problema da Galinha e do Ovo Robert Plutchik (1985) vê o debate entre cognição e biologia como o dilema sobre a galinha e o ovo. A causa da emoção não deveria ser conceituada como cogniƟva nem como biológica. A emoção é antes um processo, uma cadeia de eventos que se agregam em um sistema complexo de retroalimentação. Os elementos no circuito de retroalimentação de Plutchik são: cognição, aƟvação, senƟmentos, preparação para a ação, ões e atividade comportamental manifesta. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? O Problema da Galinha e do Ovo Uma representação possível do circuito de retroalimentação de emoção de Plutchik O sistema de retroalimentação começa com um evento de vida significaƟvo e conclui com a emoção. Situada entre evento e emoção há uma cadeia interaƟva de eventos. Para influir na emoção, pode-se interferir em qualquer ponto do circuito de retroalimentação. Mude-se a avaliação cogniƟva de “isto é benéfico” para “isto é prejudicial” e a emoção mudará. Mude-se a qualidade da aƟvação (tal como através de um exercício, um medicamento ou um eletrodo no cérebro) e a emoção mudará. Mude-se a expressão corporal (por exemplo, a musculatura facial, a postura corporal) e a emoção mudará, e assim por diante. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? O Problema da Galinha e do Ovo A solução de Plutchik para o debate entre cognição e biologia entra no mundo complexo da dialéƟca, no qual cada aspecto da emoção tanto é causa como efeito, devendo-se o resultado final à interação dinâmica entre as seis forças mostradas na figura. O tema mais importante a ser extraído de uma análise do Ɵpo galinha-e-ovo é que as cognições não são causas mais diretas das emoções do que os eventos biológicos. Juntos, cognição, aƟvação, preparação para ação, senƟmentos, expressões e aƟvidade comportamental manifesta formam o caldeirão de experiências que influencia e regula a emoção. Outros fazem eco a essa visão da emoção como processo enfaƟzando que todas as experiências emocionais existem como episódios que ocorrem no tempo (Scherer, 1994b). Com o passar do tempo, os diversos componentes da emoção se elevam e reduzem, exercendo influências conơnuas um sobre os outros. O QUE CAUSA A EMOÇÃO? Modelo Abrangente da Biologia e da Cognição As emoções são fenômenos complexos (e interativos). Tal como acontece com a maioria das complexidades, faz sentido trabalhar com uma peça do quebra- cabeça de cada vez. Falando de modo geral, os biólogos, os etólogos e os neurofisiologistas enfocam principalmente os aspectos biológicos da emoção, enquanto os psicólogos cogniƟvistas, os psicólogos sociais e os sociólogos enfocam principalmente seus aspetos cognitivos e socioculturais.
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