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FARMACOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA Lucimar Filot da Silva Brum Fármacos antieméticos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a classificação dos fármacos antieméticos. Explicar o mecanismo de ação e usos terapêuticos de fármacos antieméticos. Descrever os efeitos adversos dos fármacos antieméticos. Introdução A náusea costuma ser definida como a tendência a vomitar ou como uma sensação, na garganta ou na região epigástrica, que alerta o indivíduo de que o vômito está iminente, enquanto o vômito (êmese) representa a expulsã o do conteúdo gástrico, resultante da contraç ã o do intestino e da musculatura da parede toracoabdominal, que por sua vez difere da regurgitação, que consiste na passagem sem esforço do conteúdo gá strico para a boca (LONGO; FAUCI, 2015; WELLS et al., 2016). As ná useas e os vô mitos podem ser manifestações de uma ampla variedade de condiç õ es, seja devido a efeitos colaterais de medicaç õ es, distú rbios sistê micos ou infecç õ es, gravidez, disfunç ã o vestibular, infecç ã o do sistema nervoso central (SNC) ou elevaç ã o da pressã o, peritonite, distú rbios hepatobiliares, radioterapia ou quimioterapia e obstruç ã o ou infecç õ es gastrintestinais (KATZUNG; TREVOR, 2017). Diversos distú rbios metabó licos induzem a ná useas e vô mitos, incluindo uremia, cetoacidose e disfunç ã o suprarrenal, bem como doenç as da paratireoide e tireoide. A gravidez é a causa endocrinológica mais prevalente de ná useas, que afeta 70% das mulheres no primeiro trimestre de gravidez (LONGO; FAUCI, 2015; SILVA, 2010). As opções de tratamento para as náuseas e vômitos incluem modali- dades farmacológicas e não farmacológicas, dependendo da causa e das condições clínicas do paciente. Para pacientes com náuseas e vômitos decorrentes do consumo de alimentos ou de bebidas, pode ser prefe- rível a prevenção ou moderação da ingestão da dieta. No entanto, em pacientes com sintomas de doença sistêmica é necessário o tratamento da condição subjacente. Também há situações nas quais esses sintomas resultam de alterações do labirinto, produzidas por movimento, e os pacientes podem beneficiar-se da manutenção de uma posição física estável (WELLS et al., 2016). Neste capítulo, vamos abordar os mecanismos de ação e efeitos adversos das diferentes classes de fármacos antieméticos. Fá rmacos antiemé ticos Os fármacos antieméticos atuam por diferentes mecanismos de ação. De fato, a identifi cação dos diferentes neurotransmissores envolvidos no vô mito possibilitou o desenvolvimento de um grupo de fá rmacos antiemé ticos, que possuem afi nidade por vá rios receptores. Nesse contexto, com frequê ncia, na prática clínica utiliza-se associações de fá rmacos antiemé ticos com diferentes mecanismos de aç ã o, em especial nos pacientes com vô mitos induzidos por agentes quimioterápicos antineoplásicos (KATZUNG; TREVOR, 2017). Em caso de desidratação grave decorrente de vômitos, deve-se considerar a hospi- talização do paciente, especialmente se a reposiç ã o com lí quidos orais nã o puder ser mantida. Por outro lado, assim que o paciente consiga tolerar a ingestã o oral, os alimentos devem ser reiniciados com lí quidos com baixo teor de gorduras, pois os lipídios retardam o esvaziamento gá strico. Os alimentos com alto teor de resíduos nã o digeríveis devem ser evitados porque també m prolongam a retenç ã o gá strica (LONGO; FAUCI, 2015). Para que possamos compreender os aspectos farmacológicos, em especial o modo de ação e indicações terapêuticas, vamos abordar de forma breve a fisiopatologia do vômito. Os vômitos são desencadeados por impulsos aferentes até o centro do vômito, um núcleo de células no bulbo que coordena o complexo ato do vô mito por meio de interaç õ es com os nervos cranianos VIII e X e redes neurais no nú cleo do trato solitário, que controlam os centros respirató rio, da salivaç ã o e vasomotor. Os impulsos são recebidos de centros sensoriais, como a zona Fármacos antieméticos2 de gatilho quimiorreceptora (CTZ, do inglês chemoreceptor trigger zone), o córtex cerebral e os aferentes viscerais provenientes da faringe e do trato gastrintestinal (TGI). Quando estimulados, os impulsos aferentes são integrados pelo centro do vômito, resultando em impulsos eferentes para o centro da salivação, o centro respiratório e os músculos faríngeos, TGI e abdominal, resultando no ato do vômito (KATZUNG; TREVOR, 2017; WELLS et al., 2016). Foram identificadas elevadas concentraç õ es de receptores colinérgicos muscarí nicos M1, receptores histaminérgicos H1, de neurocinina 1 (NK1) e serotonina 5-HT3 no centro do vô mito (Figura 1). Existem quatro fontes importantes de influxo aferente para o centro do vô mito (Figura 1): A zona de gatilho quimiorreceptora ou á rea póstrema que se encon- tra fora da barreira hematoencefálica, poré m acessível aos estí mulos emetogê nicos no sangue ou no lí quido cerebrospinal. Nessa área encontram-se receptores dopaminérgicos D2 e receptores opioides e, possivelmente, receptores 5-HT3 de serotonina e receptores NK1. O sistema vestibular está envolvido na cinetose e contém receptores muscarí nicos tipo M1 e histaminérgicos H1. Os nervos aferentes vagais e espinais do TGI contêm receptores seroto- ninérgicos tipo 5-HT3. Importante ressaltar que a irritação da mucosa gastrintestinal causada pela quimioterapia antineoplásica, radioterapia ou gastrenterite infecciosa aguda determina a liberaç ã o de serotonina da mucosa e a ativaç ã o desses receptores, que por sua vez estimulam o influxo aferente vagal para o centro do vô mito e a zona de gatilho quimiorreceptora. O SNC também desempenha um papel na fisiopatologia do vô mito, seja devido a transtornos psiquiá tricos, estresse ou vô mito antecipatório antes da quimioterapia antineoplásica (KATZUNG; TREVOR, 2017). Veja na Figura 1 as vias neuroló gicas envolvidas na fisiopatologia das ná useas e dos vô mitos, com a identificação dos diferentes tipos de receptores. 3Fármacos antieméticos Para informações mais detalhadas sobre a fisiopatologia da doença ulcerosa péptica, sugerimos a leitura do Capitulo 5: Ná useas, Vô mitos e Indigestão da obra Gastroente- rologia e hepatologia de Harrison (LONGO; FAUCI, 2015). Vejamos agora as características farmacológicas, mecanismos de ação e efeitos adversos das diferentes classes de fármacos antieméticos. Antagonistas dos receptores 5-HT3 de serotonina Os antagonistas de receptores serotoninérgicos tipo 5-HT3 incluem ondanse- trona, granisetrona, palonosetrona, tropisetrona e dolasetrona e sã o úteis em Figura 1. Vias neuroló gicas envolvidas na fisiopatologia das ná useas e dos vô mitos. Fonte: Katzung e Trevor (2017, p. 1068). Fármacos antieméticos4 casos de vô mitos pó s-operató rios, apó s a radioterapia e para prevenç ã o dos vô mitos induzidos pela quimioterapia do câ ncer. A utilidade dos antagonistas de 5-HT3 para outras causas de ê mese nã o foi tã o bem estabelecida (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Com relação ao mecanismo de ação, os antagonistas seletivos dos recep- tores 5-HT3 exercem atividades antiemé ticas potentes, que sã o mediadas, em parte, por meio do bloqueio dos receptores 5-HT3 centrais, presentes no centro do vô mito e na zona de gatilho quimiorreceptora, mas principalmente pelo bloqueio dos receptores 5-HT3 perifé ricos nos nervos aferentes espinais e vagais intestinais extrínsecos no TGI (KATZUNG; TREVOR, 2017). Os antagonistas dos receptores 5-HT3 constituem os principais agentes para a prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos agudos induzidos pela quimio- terapia. Essa classe de fármacos é extremamente importante no tratamento da ê mese induzida pela quimioterapia antineoplásica, principalmente devido ao prolongado tempo de ação e maior eficácia no controle da êmese. Vale ressaltar que tais fá rmacos tê m pouca ou nenhumaeficá cia na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos tardios (que ocorrem > 24 horas apó s a quimioterapia), porém são os fá rmacos mais efetivos quando administrados em dose ú nica por injeç ã o intravenosa (IV), 30 minutos antes da administraç ã o da quimioterapia. Uma dose oral ú nica, administrada uma hora antes da quimioterapia, também pode ser igualmente efetiva, porém requer ajustes de dosagens dos fármacos. Embora os antagonistas dos receptores 5-HT3 sejam efetivos como fá rmacos isolados para a prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos induzidos por quimioterapia, sua eficá cia é potencializada pela terapia de combinaç ã o com um corticosteroide (dexametasona) e um antagonista dos receptores NK1. Mostram-se també m efetivos na prevenç ã o e no tratamento das ná useas e dos vô mitos em pacientes submetidos à radioterapia corporal total ou do abdome (KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Eles també m sã o ú teis no tratamento de ná useas e ê mese pó s-operató ria. Os antagonistas 5-HT3 sã o extensamente biotransformados pelo fí gado, mas somente a ondansetrona exige ajuste de dosagem na insuficiê ncia hepá tica (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Quanto a efeitos adversos, os antagonistas dos receptores 5-HT3 sã o agentes bem tolerados, com excelente perfil de seguranç a. Os efeitos colaterais mais relatados consistem em cefaleia, tontura e constipaç ã o intestinal. Foram re- gistradas alteraç õ es eletrocardiográficas, como o prolongamento do intervalo QT, em especial com dolasetrona e dosagens elevadas de ondansetrona. Por essa razão, a dolasetrona nã o está mais aprovada para a profilaxia de náuseas 5Fármacos antieméticos induzidas pela quimioterapia antineoplásica (WHALEN; FINKEL; PANA- VELLI, 2016). Nã o foi relatada nenhuma interaç ã o medicamentosa significativa com os antagonistas dos receptores 5-HT3 (KATZUNG; TREVOR, 2017). Antagonistas dos receptores dopaminérgicos Fenotiazí nicos As fenotiazinas sã o fá rmacos antipsicó ticos que podem ser utilizados pelas suas potentes propriedades antiemé ticas e sedativas. Os agentes mais comumente usados como antiemé ticos sã o proclorperazina, prometazina e tietilperazina (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). As propriedades antiemé ticas das fenotiazinas sã o mediadas por meio da inibiç ã o dos receptores dopaminérgicos e muscarí nicos. As propriedades sedativas devem-se aa sua atividade anti-histamínica. A proclorperazina é eficaz contra náuseas induzidas por agentes quimiote- rápicos pouco ou moderadamente emetogê nicos (fluorouracil e doxorrubicina). No entanto, o uso é limitado, pois, embora o aumento da dosagem melhore a atividade antiemética, os efeitos adversos sã o dose-limitantes (KATZUNG; TREVOR, 2017). Butirofenonas As butirofenonas antipsicó ticas (droperidol) també m possuem propriedades antiemé ticas moderadamente efi cazes devido ao bloqueio de receptores do- paminérgicos em nível de SNC. O principal agente utilizado é o droperidol, que pode ser administrado por injeç ã o intramuscular ou intravenosa (IV) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Droperidol atua bloqueando os receptores de dopamina do tipo D2. Em doses antiemé ticas, o droperidol é um sedativo extremamente forte e já foi muito usado para o controle de ná useas e para os vô mitos pó s-operató rios, em associaç ã o com fármacos opioides e benzodiazepí nicos, para a obtenção de sedaç ã o em procedimentos cirúrgicos e endoscópicos e para a induç ã o e manutenç ã o da anestesia geral. Contudo, ele pode prolongar o intervalo QT, resultando, raramente, em episó dios fatais de taquicardia ventricular, incluindo torsades de pointes (taquiarritmia), e, portanto, deve ser reservado para pacientes com resposta inadequada a outros fá rmacos (KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Fármacos antieméticos6 Benzamidas substituí das As benzamidas substituí das, com atividade antiemé tica, incluem a metoclopra- mida e a trimetobenzamida. A metoclopramida é efi caz em doses altas contra a êmese induzida pela cisplatina (KATZUNG; TREVOR, 2017). O mecanismo de ação das benzamidas é através do bloqueio de receptores dopaminérgicos na zona de gatilho quimiorreceptora. Para a prevenç ã o e o tratamento das ná useas e dos vô mitos, a metoclopramida pode ser administrada na dose relativamente alta de 10 a 20 mg, por via oral ou IV, a cada 6 horas. A dose habitual de trimetobenzamida é de 300 mg, por via oral, ou 200 mg, por injeç ã o intramuscular. Os principais efeitos adversos desses fármacos decorrentes do bloqueio dopaminérgico e incluem os sintomas extrapiramidais (inquietação, distonia e sintomas parkinsonianos), o que limita o uso prolongado de doses elevadas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Anti-histamí nicos H1 Os antagonistas dos receptores histaminérgicos H1 sã o ú teis principalmente na cinetose e nos vô mitos pó s-operató rios, atuando nos nervos aferentes vestibu- lares e no tronco cerebral. Ciclizina, hidroxizina, prometazina e difenidramina sã o alguns exemplos desse grupo de fá rmacos (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). A difenidramina e o dimenidrinato atuam através da atividade antagonista dos receptores H1. Devido a suas propriedades sedativas, a difenidramina deve ser utilizada em associaç ã o com outros antiemé ticos para o tratamento dos vô mitos induzidos pela quimioterapia. A meclizina é um outro fá rmaco anti-histamínico H1, que produz menos sedaç ã o. É utilizada na prevenç ã o da cinetose e no tratamento da vertigem causada por disfunç ã o do labirinto (KATZUNG; TREVOR, 2017). Fá rmacos anticoliné rgicos Os fármacos anticoliné rgicos, especialmente o antagonista do receptor muscarí nico, hioscina (escopolamina), assim como os antagonistas de receptor histaminérgico tipo H1, como dimenidrinato, meclizina e ciclizina, sã o muito ú teis na cinetose (enjôo de movimento), e nos distú rbios da orelha interna, mas sã o inefi cazes contra substâ ncias que atuam diretamente na zona de gatilho 7Fármacos antieméticos quimiorreceptora, como os quimioterápicos antineoplásicos (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A hioscina (escopolamina), um protótipo dos antagonistas dos receptores muscarí nicos, atua através do bloqueio de receptores M1, e é um dos melhores agentes para a prevenç ã o da cinetose. Entretanto, apresenta uma incidê ncia muito alta de efeitos anticoliné rgicos, quando administrada por via oral ou parenteral. É mais bem tolerada na forma de adesivo transdé rmico. Os efeitos adversos da escopolamina incluem tontura, sedaç ã o, confusã o, boca seca, cicloplegia e retenç ã o uriná ria, o que desencadeia a limitação de uso, sendo utilizado na cinetose (KATZUNG; TREVOR, 2017). Antagonistas dos receptores de neurocinina Os antagonistas dos receptores de neurocinina 1 (NK1) apresentam proprieda- des antiemé ticas que sã o mediadas através do bloqueio central na á rea postrema. O aprepitanto, administrado por via oral, é um antagonista altamente seletivo dos receptores NK1, que atravessa a barreira hematoencefálica e se liga aos receptores NK1 no SNC. Nã o tem nenhuma afinidade pelos receptores de serotonina, dopamina ou corticosteroides. Também há a disponibilidade do fosaprepitanto, administrado por via IV que é convertido em aprepitanto 30 minutos apó s a sua infusã o. Na clínica, o aprepitanto é utilizado em associaç ã o com antagonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT3 e corticosteroides na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos tardios e agudos, induzidos por esquemas quimioterápicos muito emetogê nicos. Ou seja, a terapia combinada com aprepitanto, um antagonista dos receptores 5-HT3, e dexametasona impede a ocorrê ncia de vô mitos agudos em até 80 a 90% dos pacientes, quando comparado com uma taxa menor, de 70%, em pacientes com esquemas terapêuticos que não incluem aprepitanto. Ainda, háuma prevenç ã o dos vô mitos tardios em mais de 70% dos pacientes que recebem terapia combinada, versus 30 a 50% tratados sem aprepitanto. O aprepitanto pode causar fadiga, tontura e diarreia. O fá rmaco é metabo- lizado pela CYP3A4 e pode inibir o metabolismo de outros fá rmacos antineo- plásicos metabolizados pela via da CYP3A4 (docetaxel, paclitaxel, etoposí deo, irinotecano, imatinibe, vimblastina e a vincristina) assim como também pode afetar a biotransformaç ã o de outros fá rmacos por essa enzima, como varfarina e anticoncepcionais orais. Por outro lado, fá rmacos que inibem o metabolismo da CYP3A4 podem aumentar de forma significativa os ní veis plasmáticos de aprepitanto (cetoconazol, ciprofloxacino, claritromicina, nefazodona, ritonavir, nelfinavir, verapamil e quinidina) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Fármacos antieméticos8 Corticosteroides Os glicocorticoides como a dexametasona podem ser coadjuvantes ú teis no tratamento das ná useas dos pacientes com câ ncer generalizado, possivelmente porque suprimem a infl amaç ã o peritumoral e a produç ã o das prostaglandinas (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). Os corticosteroides (dexametasona, metilprednisolona) apresentam proprie- dades antiemé ticas, poré m ainda não se conhece o mecanismo desses efeitos. Postula-se que tais fá rmacos parecem aumentar a eficá cia dos antagonistas dos receptores 5-HT3 para a prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos agudos e tardios, em pacientes submetidos a esquemas de quimioterapia moderada e muito emetogê nicos. Embora diversos corticosteroides tenham sido utilizados, costuma-se administrar dexametasona, em uma dose de 8 a 20 mg por via IV antes da quimioterapia, seguida de 8 mg por dia, por via oral, durante 2 a 4 dias (KATZUNG; TREVOR, 2017). Benzodiazepí nicos Os benzodiazepí nicos, como o lorazepam ou o diazepam, sã o utilizados antes do iní cio da quimioterapia para reduzir os vô mitos antecipatórios ou os vô mitos causados pela ansiedade. A potê ncia antiemé tica do lorazepam e do alprazolam é baixa, porém seus efeitos bené ficos podem ser devido à s suas propriedades sedativas, ansiolíticas e amné sicas. O uso concomitante com á lcool deve ser evitado devido ao efeito depressor aditivo no SNC (KATZUNG; TREVOR, 2017). Canabinoides O dronabinol é o Δ9-tetra-hidrocanabinol (THC), a principal substâ ncia psico- ativa da maconha. À semelhanç a da maconha nã o purifi cada, o dronabinol é um fá rmaco psicoativo utilizado clinicamente como estimulante do apetite e como antiemé tico; no entanto, os mecanismos envolvidos nesses efeitos ainda nã o estã o elucidados. Devido à disponibilidade de fá rmacos mais efetivos, o dronabinol, hoje, é pouco usado na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos induzidos por quimioterapia. A terapia de combinaç ã o com fenotiazinas pro- porciona uma aç ã o antiemé tica sinérgica e parece atenuar os efeitos colaterais de ambos os agentes. 9Fármacos antieméticos Em geral, o dronabinol é administrado antes da quimioterapia, e a cada 2 a 4 horas, quando necessá rio. Os efeitos adversos consistem em euforia, disforia, sedaç ã o, alucinaç õ es, boca seca e aumento do apetite. Também pode causar taquicardia, congestão da conjuntiva e hipotensã o ortostá tica. O dronabinol nã o apresenta interaç õ es medicamentosas significativas, mas pode potencializar os efeitos clí nicos de outros fá rmacos psicoativos (KATZUNG; TREVOR, 2017). A hiperemese gravídica é uma condição clínica que pode ocorrer em gestantes, e causam náuseas e vômitos intensos, podendo induzir uma perda de peso corporal, desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e deficiência nutricional na gestante. Leia o artigo Hiperemese gravídica associada a fatores psicossociais: revisão sistemática. Alfenas et al. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 9, n. único, p. 63-68, 2017, disponíveis no link abaixo. https://goo.gl/WQfGcE Fármacos antieméticos10 1. D. Joana, de 47 anos de idade tem apresentado náuseas e vômitos devido à quimioterapia contra o câncer de mama. Seu médico então lhe prescreve ondansetrona para minimizar a ocorrência de tais sintomas. Por qual mecanismo de ação a ondansetrona mostra-se eficaz na redução das náuseas e vômitos induzidos pelos quimioterápicos antineoplásicos? a) Antagonismo de receptores de acetilcolina nas células enterocromafins da mucosa gástrica. b) Antagonismo de receptor dopaminérgico na zona de gatilho quimiorreceptora. c) Antagonismo de receptores de glicocorticoides no centro do vômito. d) Antagonismo de receptores 5-HT3 na zona de gatilho quimiorreceptora. e) Antagonismo de receptores histaminérgicos H1. 2. João, um adolescente de 12 anos vai sair a passeio de barco com o seu avô e devido a histórico de enjoo de movimento o farmacêutico lhe orienta a usar um adesivo transdérmico de escopolamina para controlar as náuseas. Qual é o efeito adverso mais provável que ele vai apresentar? a) Cinetose. b) Sintomas extrapiramidais. c) Sedação. d) Hiperglicemia. e) Alterações eletrocardiográficas. 3. D. Julia de 53 anos com insuficiê ncia cardí aca apresenta câ ncer ovariano. O tratamento inicia com cisplatina, mas aparecem ná useas e ê mese intensos. Qual dos seguintes fá rmacos deve ser o mais eficaz contra a ê mese dessa paciente sem agravar o seu problema cardí aco? a) Droperidol. b) Dolasetrona. c) Proclorperazina. d) Dronabinol. e) Ondansetrona. 4. Para a prevenç ã o e o tratamento das ná useas e dos vô mitos, a metoclopramida pode ser administrada na dose relativamente alta de 10 a 20 mg, por via oral ou IV, a cada 6 horas, porém tal esquema terapêutico predispõe ao surgimento de efeitos adversos. Assinale a alternativa relativa aos efeitos adversos da metoclopramida. a) Cefaleia, tontura e constipaç ã o intestinal. b) Sintomas extrapiramidais: inquietação, distonia e sintomas parkinsonianos. c) Prolonga o intervalo QT resultando em episó dios fatais de taquicardia ventricular, incluindo torsades de pointes (taquiarritmia). 11Fármacos antieméticos d) Tontura, sedaç ã o, confusã o, boca seca, cicloplegia e retenç ã o uriná ria. e) Fadiga, tontura e diarreia. 5. Os antagonistas dos receptores de neurocinina 1 (NK1) apresentam propriedades antiemé ticas, que sã o mediadas através do bloqueio central na á rea postrema. I. O aprepitanto, administrado por via oral, é um antagonista altamente seletivo dos receptores NK1, que atravessa a barreira hematoencefálica e se liga aos receptores NK1 no sistema nervoso central. II. O aprepitanto é utilizado em associaç ã o com antagonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT3 e corticosteroides na prevenç ã o das ná useas e dos vô mitos tardios e agudos, induzidos por esquemas quimioterápicos muito emetogê nicos. III. O aprepitanto pode causar sintomas extrapiramidais como inquietação, distonia e sintomas parkinsonianos. IV. O fá rmaco é metabolizado pela CYP3A4 e pode inibir o metabolismo de outros fá rmacos antineoplásicos assim como também pode afetar a biotransformaç ã o da varfarina e anticoncepcionais orais. Assinale a afirmativa correta, em relação as propriedades farmacológicas do aprepitanto: a) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) As afirmativas I, II e IV estão corretas. c) As afirmativas II, III e IV estão corretas. d) As afirmativas II e III estão corretas. e) As afirmativas I e IV estão corretas. Fármacos antieméticos12 BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. (Lange). LONGO, D. L.; FAUCI, A. S. Gastrenterologia e hepatologia de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed.Porto Alegre: Artmed, 2016. WELLS, B. G. et al. Manual de farmacoterapia. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Leituras recomendadas CONNOR, B. A. Travelers' diarrhea. 2017. 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