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Tipos de narrador em A Hora da Estrela

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Leia o trecho a seguir, do romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. 
“Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar palavras que vos sustentam. A história – determino com falso livre-arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser mordenoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de chuva caindo. 
(...) Quem antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu?” Cairia estatelada em cheio no chão. É que “quem sou eu?” 
Provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto. 
A pessoa de quem vou falar é tão tola que às vezes sorri para os outros na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham. 
(...) De uma coisa tenho certeza: essa narrativa mexerá com uma coisa delicada: a criação de uma pessoa inteira que na certa está tão viva quanto eu. Cuidai dela porque meu poder é só mostrá-la para que vós a reconheçais na rua, andando de leve por causa da esvoaçada magreza. E se for triste a minha narrativa? Depois na certa escreverei algo alegre, embora alegre por quê? Porque também sou um homem de hosanas e um dia, quem sabe, cantarei loas que não as dificuldades da nordestina.” 
(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. São Paulo: Rocco, 1998.) 
  
Indique que tipo de narrador está sendo desenvolvido no trecho. 
	
	
	Onisciência seletiva múltipla.
	
	
	Onisciência seletiva.
	
	
	Narrador onisciente intruso.
	
	
	Modo dramático.
	
	
	“Eu” como testemunha.
0,25 pontos   
PERGUNTA 2
Leia o trecho a seguir, do romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. 
“Quem antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu?” Cairia estatelada em cheio no chão. É que “quem sou eu?” 
Provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto. 
A pessoa de quem vou falar é tão tola que às vezes sorri para os outros na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham. 
Voltando a mim: o que escreverei não pode ser absorvido por mentes que muito exijam e ávidas de requintes. Pois o que estarei dizendo será apenas nu. Embora tenha como pano de fundo – e agora mesmo – a penumbra atormentada que sempre há nos meus sonhos quando de noite atormentado durmo. Que não se esperem, então, estrelas no que se segue: nada cintilará, trata-se de matéria opaca e por sua própria natureza desprezível por todos. É que a esta história falta melodia cantabile. O seu ritmo é às vezes descompasso. E tem fatos. Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura – fatos são pedras duras e agir está me interessando mais do que pensar, de fatos não há como fugir.
Pergunto-me se eu deveria caminhar à frente do tempo e esboçar logo um final. Acontece porém que eu mesmo ainda não sei bem como isto terminará. E também porque entendo que devo caminha passo a passo de acordo com um prazo determinado por horas: até um bicho lida com o tempo. E esta é também a minha mais primeira condição: a de caminhar paulatinamente apesar da impaciência que tenho em relação a essa moça.” 
(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. São Paulo: Rocco, 1998.) 
  
Assinale a alternativa correta em relação ao modo de enunciação observado. 
	
	
	Observa-se uma construção de cena no trecho em destaque, localizando o escritor (narrador) e a personagem nordestina em locais distintos da enunciação.
	
	
	O recurso do estilo indireto livre é amplamente utilizado na obra, pois como demonstrado no trecho, as reflexões da personagem nordestina e do narrador misturam-se.
	
	
	A digressão é o modo enunciativo amplamente explorado nesta obra, assim como em outras de Clarice Lispector. No trecho em destaque, observa-se que as reflexões a respeito da construção de personagem desencadeiam reflexões sobre o ato da escrita e sobre o próprio narrador, e vice-versa.
	
	
	A digressão é o modo enunciativo explorado nesta obra, assim como em outras de Clarice Lispector, e tem a função específica de confundir o leitor para que este, em determinado momento, seja impelido a retomar a leitura em um ponto anterior, carregando a narração de estilo e significado.
	
	
	A digressão, associada ao recurso do estilo indireto livre, garantem ao trecho de A Hora da Estrela uma singularidade que, inclusive, dificulta o momento de classificação do tipo de narrador. 
0,25 pontos   
PERGUNTA 3
Leia o trecho a seguir, retirado do texto O Narrador, do crítico Walter Benjamin: 
“Por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato presente entre nós, em sua atualidade viva. Ele é algo de distante, e que se distancia ainda mais. Descrever um Leskov como narrador não significa trazê-lo mais perto de nós, e sim, pelo contrário, aumentar a distância que nos separa dele. Vistos de uma certa distância, os traços grandes e simples que caracterizam o narrador se destacam nele. Ou melhor, esses traços aparecem, como um rosto humano ou um corpo de animal aparecem num rochedo, para um observador localizado numa distância apropriada e num ângulo favorável. Uma experiência quase cotidiana nos impõe a existência dessa distância e desse ângulo de observação”. 
(BENJAMIM, Walter; BRASILIENSE, Editora (Ed.). Magia e técina, arte e política: O narrador. 1936. Disponível em: <http://letrasorientais.fflch.usp.br/sites/letrasorientais.fflch.usp.br/files/BENJAMIN, Walter_O narrador (._.).pdf>. Acesso em: 03 ago. 2019.) 
  
Considerando seus conhecimentos a respeito da tipologia de Norman Friedman, bem como os tipos de narrador e modos de elocução mais frequentes em cada um; os textos já vistos até aqui e o fragmento em destaque, assinale a alternativa correta. 
	
	
	Mesmo em diferentes tipos de narrador, o leitor está sempre à mesma distância em relação a história narrada e seus personagens.
	
	
	Um narrador onisciente intruso impele o leitor a uma distância maior em relação ao texto.
	
	
	A cena, dentre os modos de elocução, é aquele que produz um efeito de maior afastamento do leitor em relação ao texto.
	
	
	O narrador observador ou câmera, da mesma forma em que distancia-se da narração, também produz um efeito estético de maior afastamento do leitor em relação ao texto, ao passo em que este acompanha a história deste ponto de vista: de observador das ações.
	
	
	Todas as alternativas estão corretas.
0,25 pontos   
PERGUNTA 4
Baseando-se em seus conhecimentos a respeito da tipologia da narração proposta por Norman Friedman e também da classificação de Gerard Genette, assinale a alternativa que estabelece adequadamente uma relação entre os conceitos de ambos teóricos.
 
	
	
	O narrador personagem é sempre autodiegético.
	
	
	Os narradores onisciente neutro e intruso nunca podem ser heterodiegéticos.
	
	
	O narrador onisciente neutro é sempre homodiegético.
	
	
	A onisciência seletiva múltipla é sempre autodiegética.
	
	
	A câmera nunca poderá ser heterodiegética.
 
0,25 pontos   
PERGUNTA 5
Leia os trechos a seguir, retirados do romance Os sofrimentos do jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe. 
“10 de maio 
Uma serenidade admirável domina minha alma inteira, semelhante à doce manhã primaveril que eu gozo de todo o coração. Estou tão só e minha vida é feita de alegrias por viver numa região que parece ter sido criada para almas como a minha. Estou tão feliz, meu amigo, tão mergulhado na sensação de minha calma existência, que a minha arte sofre com isso. Não poderia desenhar nada agora, nem sequer um traço, embora jamais tenha sido tão grande pintor quanto neste instante. Quando a bruma do vale se levanta a minha volta, e o sol altaneiro descansa sobre a abóbada escura e impenetrável
da minha floresta, e apenas alguns escassos raios deslizam até o fundo do santuário, ao passo em que eu, deitado no chão entre a relva alta, na encosta de um riacho, descubro no chão mil plantinhas desconhecidas... Quando sinto mais perto de meu coração a existência desse minúsculo mundo que formiga por entre a relva, essa incontável multidão de ínfimos vermes e insetinhos de todas as formas e imagino a presença do Todo-poderoso, que nos criou a sua imagem e semelhança, e o hálito do Todo amado que nos leva consigo e nos ampara a pairar em eternas delícias... Ah, meu amigo, quando o mundo infinito começa a despontar assim ante meus olhos e o céu se reflete todo ele em minha alma, como a imagem de uma amada... Então suspiro profundamente e penso: Ah! pudesses tu voltar a expressá-lo, pudesses tu exalar o sentimento e fixar no papel aquilo que vive em ti com tanta abundância e tanto calor, de maneira que o mesmo papel pudesse se fazer o espelho de tua alma, como tua alma é o espelho do Deus infinito! Meu amigo! Mas vou ao chão ante isso, sucumbo ante o poder e a majestade dessas aparições. 
(...) 
04 de setembro 
Sim, é bem assim. Do mesmo modo que a Natureza se inclina ao outono, o outono principia em mim e ao redor de mim. As minhas folhas amarelam, e as folhas das árvores vizinhas já caíram. Não te escrevi certa vez de um jovem criado do campo que eu vi quando tinha acabado de chegar por aqui? Pedi notícias dele há pouco, em Wahlheim. Disseram-me que tinha sido expulso da casa onde estava, e ninguém quis dizer-me mais nada a respeito. (...) Mas por quê? Por que não conservar em mim o que me aflige e me adoece? Por que entristecer-te também? Por que dou-te sempre motivo de lamentares o que se passa comigo e me ralhares? Que seja! Quem sabe se isso não faz parte do meu destino...” 
(GOETHE., Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther. Porto Alegre: L&pm Pocket, 2001. 100 p. Tradução de Marcelo Backes. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/padrao_cms/documentos/profs/romulo/Johann-Wolfgang-von-Goethe-Os-Sofrimentos-do-Jovem-Werther.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2019.) 
  
Leia as afirmações a seguir: 
 
Observa-se, na primeira parte (referente ao dia 10 de maio), a utilização da cena de modo a descrever uma paisagem grandiosa que corresponde aos sentimentos do próprio narrador.
Este mesmo procedimento de correspondência entre as imagens da natureza e os sentimentos acontece também na segunda parte (referente ao dia 04 de setembro).
Na primeira parte (referente ao dia 10 de maio), a ferramenta formal utilizada pelo narrador é a construção de grandes períodos compostos por adição, criando o efeito de grandiosidade da paisagem descrita.
Na segunda parte (referente ao dia 04 de setembro), a descrição da paisagem, além de mais sucinta, é feita em apenas um período subordinado.
  
Tomando por base seus conhecimentos a respeito das modalidades de elocuções e efeitos de estilo possibilitados a partir das escolhas narrativas, assinale a alternativa que contém apenas as afirmações corretas. 
	
	
	I, II, III e IV.
	
	
	I, II e III.
	
	
	I e II.
	
	
	II e IV.
	
	
	I e III.
0,25 pontos   
PERGUNTA 6
Nos itens a seguir, estão relacionados trechos retirados do romance Grande sertão: veredas e suas possíveis correlações a questões filosóficas. 
 
“O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.” (ROSA, João Guimarães. 1994. p. 24-25). Relaciona-se ao conceito de formação da subjetividade.
“Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom e o rúim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado…” (ROSA, João Guimarães. 1994. p. 306-307). Relaciona-se ao conceito de propriedade privada.
“Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente. O senhor me acusa?” (ROSA, João Guimarães. 1994. p. 435). Relaciona-se ao conceito de individualidade e pertencimento.
“A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros... Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” (ROSA, João Guimarães. 1994. p. 84). Relaciona-se ao conceito de percepção de tempo e destino.
“O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente – “Diadorim, meu amor...” Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas – como quando a chuva entreonde-os-campos. Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava com meu corpo aquele Diadorim-que não era de verdade.” (ROSA, João Guimarães. 1994. p. 408-409). Relaciona-se ao conceito de idealização amorosa.
  
Assinale a alternativa que possui apenas afirmações corretas. 
	
	
	I, II e III.
	
	
	I, III e IV.
	
	
	I, II, III e V.
	
	
	I, II, III e V.
	
	
	I, III, IV e V. 
0,25 pontos   
PERGUNTA 7
O trecho a seguir constitui o primeiro parágrafo do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. 
“– NONADA. TIROS QUE O SENHOR ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu –; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.” 
(ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Nova Aguilar, 1994. Disponível em: <http://stoa.usp.br/carloshgn/files/-1/20292/GrandeSertoVeredasGuimaresRosa.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2019.) 
  
Tomando por base sua leitura, assinale a alternativa correta a respeito do modo de elocução: 
	
	
	Observa-se a utilização de procedimentos de digressão no trecho.
	
	
	A escrita de Guimarães Rosa segue uma linearidade
própria do texto escrito, sem marcas de oralidade.
	
	
	É possível afirmar que a sumarização é muito mais utilizada no trecho do que a cena.
	
	
	A partir da utilização da formas verbais no presente, é possível afirmar que existe, no texto, um procedimento estético que visa o afastamento do leitor.
	
	
	O estilo de linguagem evidenciado no texto, ligado à um tipo de fala regional e coloquial - no trecho em destaque, assim como em todo o romance - não abre precedentes para a divagação filosófica, como ocorreria em uma obra escrita em uma linguagem formal. 
0,25 pontos   
PERGUNTA 8
Leia o trecho a seguir, de Esperando Godot, obra de Samuel Beckett. 
“Vladimir: Temos que comemorar, mas como? (Pensa) Levante que lhe dou um abraço. (Oferece a mão a Estragon). 
Estragon (irritado): Daqui a pouco, daqui a pouco. 
Silêncio. 
Vladimir (magoado, com frieza)> Pode-se saber onde o senhor passou a noite? 
Estragon: Numa vala. 
Vladimir (espantado): Numa vala! Onde? 
Estragon (sem indicar): Logo ali. 
Vladimir: E eles não bateram em você? 
Estragon: Bateram, mas não demais. 
Vladimir: Os mesmos de sempre? 
Estragon: Os de sempre? Não sei. 
Silêncio. 
Vladimir: Quando paro para pensar… estes anos todos… não fosse eu… o que teria sido de você…? (Com firmeza) Não seria mais do que um montinho de ossos, neste exato momento, sem sombra de dúvida. 
Estragon (ofendido): E daí? 
Vladimir (melancólico): É demais para um homem só. (Pausa. Com vivacidade) Por outro lado, qual a vantagem de desanimar agora, é o que eu sempre digo. Deveríamos ter pensado nisso milênios atrás, em 1900. 
Estragon: Chega. Ajude aqui a tirar esta porcaria. 
Vladimir: De mãos dadas, pular do alto da torre Eiffel, os primeiros da fila. Éramos gente distinta, naquele tempo. Agora é tarde demais. Não nos deixariam nem subir. (Estragon luta com a bota) O que você está fazendo?” 
(BECKETT, Samuel . Esperando Godot. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Trad. Fábio de Souza Andrade.) 
  
Indique qual tipo de narrador está categorizado no texto.
	
	
	Onisciência seletiva múltipla.
	
	
	Onisciência seletiva.
	
	
	Narrador onisciente intruso.
	
	
	Modo dramático.
	
	
	“Eu” como testemunha.
0,25 pontos   
PERGUNTA 9
Leia o trecho a seguir, retirado do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. 
“– NONADA. TIROS QUE O SENHOR ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu –; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.” 
(ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Nova Aguilar, 1994. Disponível em: <http://stoa.usp.br/carloshgn/files/-1/20292/GrandeSertoVeredasGuimaresRosa.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2019.) 
  
Leia as afirmações a seguir: 
 
Considerando-se que este é o parágrafo de abertura do romance, é possível afirmar que o leitor é colocado in medias res (ou seja, sem explicações sobre as motivações que vieram antes do que está sendo dito) no discurso.
Observam-se procedimentos estéticos que visam a aproximação do leitor, tais como a criação, evocação e construção desta figura do senhor, interlocutor da história, como em “o senhor tolere” e “o senhor ri certas risadas…”; e a utilização de formas verbais no presente indicativo.
Uma hipótese possível, com base na análise do texto, é de que estabelece-se um paralelo entre o narrador a partir da construção da figura do interlocutor: o evidenciamento de certos aspectos da personalidade deste senhor que ouve os causos opera de maneira a contrastar estes mesmos aspectos em relação ao narrador, estabelecendo uma cisão entre eu x outro.
  
Assinale a alternativa que possui apenas afirmações corretas: 
	
	
	Apenas a I.
	
	
	Apenas a II.
	
	
	Apenas a III.
	
	
	Apenas I e II.
	
	
	I, II e III. 
0,25 pontos   
PERGUNTA 10
Leia o trecho a seguir, extraído do conto O dia do desmoronamento, de Juan Rulfo. 
“- Isto aconteceu em Setembro. Não em Setembro deste ano mas sim no do ano passado. Ou foi no ano anterior, Melitón? 
- Não, foi no ano passado. 
- Sim, eu bem me lembrava. Foi em Setembro do ano passado, pelo dia vinte e um. Ouve-me, Melitón, Não foi a vinte e um de Setembro o dia do tremor de terra? 
- Foi um pouco antes. Quer-me parecer que foi a dezoito. 
- Tens razão. Eu por esses dias andava em Tuxcacuesco. Até vi quando se desmoronavam as casas como se fossem feitas de mel, simplesmente, retorciam-se assim, fazendo trejeitos, e vinham as paredes inteiras para o chão. E as pessoas saíam dos escombros todas aterrorizadas, correndo direitinhas para a igreja aos gritos. Mas esperem. Ouve, Melitón, parece-me que em Tuxcacuesco não existe nenhuma igreja. Tu não te lembras? 
- Não há. Ali não restam senão umas paredes feitas em quatro bocados que dizem que foi a igreja há coisa de duzentos anos; mas ninguém se lembra dela, nem de como era; aquilo mais parece um curral abandonado infestado de figueirinhas. 
- Dizes bem. Então não foi em Tuxcacuesco que me apanhou o tremor de terra, deve ter sido no El Pochote. Mas El Pochote é um rancho, não é?” 
(RULFO, Juan. O dia do desmoronamento. In: RULFO, Juan. A planície em chamas. Lisboa: Cavalo de Ferro Editores Ltda, 2003. p. 121-129.) 
  
Assinale a alternativa que corresponde ao tipo de narrador do texto, considerando-se que a estrutura apresentada no trecho segue até o final do conto. 
	
	
	Narrador onisciente intruso.
	
	
	Onisciência seletiva.
	
	
	Câmera.
	
	
	Modo dramático.
	
	
	Narrador protagonista.

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