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Prof. Eduardo J. Nogueira 1 3 - Retificadores Os retificadores são circuitos eletrônicos cuja função é transformar energia elétrica fornecida pela rede em corrente alternada (CA em português ou AC em inglês) em energia elétrica em corrente contínua (CC em português ou DC em inglês). A maioria dos dispositivos que utilizam componentes eletrônicos necessita, para sua correta alimentação, de valores de tensão menores do que os fornecidos pela rede elétrica. 3.1 - Transformador de entrada Se o leitor já tiver razoável conhecimento sobre o funcionamento do transformador, é dispensável o estudo aqui feito sobre o mesmo, podendo ir direto ao tópico retificador de meia onda (pág. 32). A utilização de transformadores se faz necessária, visando um abaixamento na tensão de entrada do circuito. A figura 18 mostra um circuito básico com transformador. No Brasil, as concessionárias de energia elétrica fornecem para usuários domésticos uma tensão senoidal com frequência de 60 Hz e valor eficaz de 127 V ou 220 V, conforme a região do país. Por esse motivo vamos fazer um breve estudo do funcionamento do transformador. Na figura 18 temos uma fonte primária de tensão de 220 V (VP), normalmente uma tomada, que fornece alimentação ao primário de um transformador simples de quatro polos. No secundário do transformador é obtida uma tensão alternada de 12 V rms. Figura 18: Transformador abaixador com primário de 220V e secundário de 12V. No estudo da corrente alternada observamos algumas vantagens da AC em relação à DC. A maior vantagem da AC está relacionada com a facilidade de se elevar ou abaixar a tensão em um circuito, enquanto que em DC utilizaríamos circuitos eletrônicos de alto custo e de mão de obra mais especializada para os serviços de manutenção. Uma vez que para se transmitir energia elétrica a longas distâncias é preferível fazê-la em alta tensão, pois assim diminuímos consideravelmente a corrente nos cabos de transmissão de energia elétrica, diminuindo as perdas que são proporcionais ao quadrado da corrente nos mesmos. Em contrapartida, no processo de geração de energia elétrica não é prático gerá- VP 220V 60Hz AC Volts +220 TR1 TRAN-2P2S AC Volts +12.0 Prof. Eduardo J. Nogueira 2 la em alta tensão, pois os geradores deveriam ter uma tensão de isolação muito grande, encarecendo os mesmos e tornando perigosa sua manutenção. Portanto a tensão gerada nos geradores das usinas, em torno dos 18 kV, é ligada a um transformador que elevará a tensão dos geradores a um valor que torna possível sua transmissão. No Brasil usam-se os valores de 69 kV, 138 kV e 230 kV, em algumas situações específicas poderão ser utilizados valores superiores chegando até 1000 kV. Observe que no extremo das linhas de distribuição, precisamos ter agora transformadores abaixadores, pois o nível de tensão para as residências e estabelecimentos comerciais é padronizado em 127/220 V ou 220/380 V. Sendo assim os transformadores elétricos podem ser utilizados para elevar ou abaixar os valores de tensões elétricas em um circuito ou sistema elétrico. Em Eletrotécnica, o transformador é estudado como uma máquina elétrica de indução, embora muitos engenheiros e técnicos não concordem em classificar o transformador como máquina e sim como dispositivo. Transformadores ou trafos (como são apelidados) são máquinas estáticas (ou dispositivos) capazes de modificar valores de tensão e corrente, mantendo a potência praticamente inalterada. O princípio de funcionamento do transformador, baseia-se no princípio da indução eletromagnética. Suponha duas bobinas com as da figura 19. Quando uma corrente elétrica alternada circular pela bobina 1 da figura, esta produzirá um campo magnético variável que cortará as espiras da bobina 2, fazendo com que apareça um f.e.m. induzida em seus terminais, de acordo com a Lei de Lenz. Figura 19: O campo magnético varável da bobina 1 envolve ela própria e a bobina 2, induzindo nesta uma f.e.m. A bobina por onde entra a energia elétrica no trafo é chamada de primário. A bobina por onde sai a energia elétrica no trafo é chamada de secundário. Prof. Eduardo J. Nogueira 3 Um transformador elementar como o da figura 19 teria um rendimento baixíssimo em 60 Hz, pois seu núcleo é de ar. Se utilizarmos material ferromagnético no núcleo, o rendimento aumentará enormemente ele poderá ser usado em aplicações práticas. Os núcleos dos transformadores podem ser de dois tipos: envolvido (figura 20a) e envolvente (figura 20b). O núcleo é dito envolvido, quando os enrolamentos primário e secundário envolvem o núcleo. Já o núcleo envolvente, envolve os enrolamentos primário e secundário que são enrolados um sobre o outro no centro do núcleo em uma mesma forma ou carretel. Figura 20: Núcleos envolvido (a) e envolvente (b). 3.1.1 - Trafo a vazio Suponha o transformador de núcleo envolvido da figura 21. Ao ligarmos o transformador, aparece em seu primário uma corrente Im, à qual chamamos de corrente de magnetização, que é a responsável pela produção do fluxo de magnetização Øm. Da mesma forma devido o fenômeno da indução eletromagnética, teremos no primário do transformador uma f.e.m. de auto indução E1 dada por: Esta variação de fluxo também envolverá o secundário do trafo induzindo uma tensão E2 dada por: t NE 11 t NE 22 Prof. Eduardo J. Nogueira 4 Figura 21: Transformador a vazio, isto é, sem carga ligada ao secundário. 3.1.2 - Relações de transformação: Onde: E1 é a tensão no primário E2 é a tensão no secundário N1 é o número de espiras do primário N2 é o número de espiras do secundário I1 é a corrente no primário I2 é a corrente no secundário À relação N1/N2 chamamos de relação de espiras u relação de transformação representada pela letra grega alfa (α) [7], sendo assim: 2 1 2 1 E E N N 1 2 2 1 I I E E 1 2 2 1 I I N N As tensões em cada bobina são proporcionais ao número de espiras. As correntes nas bobinas do trafo são inversamente proporcionais às tensões. As correntes são inversamente proporcionais ao número de espiras. Prof. Eduardo J. Nogueira 5 ∝= 𝑁1 𝑁2 3.1.3 - Elevador ou abaixador? Se α > 1, o trafo é abaixador. Se α < 1, o trafo é elevador. Se α = 1, o trafo é de isolação. 3.1.4 - Trafo com carga No transformador com carga (fig. 22) aparece uma corrente I2 no secundário, refletindo em uma corrente I1' que é soma fasorial da corrente de magnetização com a corrente refletida pelo secundário ao primário devido a carga. Esta corrente I1' é tal que devido a Lei de Lenz o fluxo produzido por I2 será contrário a fluxo produzido por I1, tendo como resultante apenas o fluxo mútuo, ou fluxo de magnetização. Figura 22: Trafo com carga. A figura 23 mostra o diagrama esquemático de um trafo monofásico de quatro terminais que é o tipo mais simples de transformador. Prof. Eduardo J. Nogueira 6 Figura 23: Símbolo esquemático de um transformador monofásico de 4 terminais. Na figura 24 temos um transformador ideal com relação de transformação 2:1. No primário a potência recebida da rede é P1 = 220 V x 1 A = 220 VA. A potência no secundário (entregue à carga) é P2 = 110 V x 2 A = 220 VA. P1 = P2. Em um transformador real existem perdas (como veremos adiante) e a potência de saída será ligeiramente menor que a de entrada. Figura 24: Trafo com α = 2.3.1.5 - Perdas nos transformadores Os transformadores de força reais apresentam três tipos de perdas: a) Perdas no cobre - devido à resistência dos enrolamentos b) Perdas no núcleo devido às correntes parasitas c) Perdas no núcleo devido à histerese magnética 3.1.5.1 – Perdas no cobre VP 220V 60Hz AC Volts +220 AC Volts +110 RL CARGA Prof. Eduardo J. Nogueira 7 As perdas no cobre são devidas às resistências dos enrolamentos primário e secundário sendo dadas em Watts e totalizadas pela fórmula Onde: Ip é a corrente que flui pelo primário em A Is é a corrente que flui pelo secundário em A Rp é a resistência do primário em Ω Rs é a resistência do secundário em Ω 3.1.5.2 - Correntes parasitas ou correntes de Foucault Por volta de 1855 Jean Bernard Leon Foucault observou que quando um disco de cobre era colocado entre os polos de um magneto era preciso mais força para fazê-lo girar do que quando não havia o magneto, fato que ocorre devido ao surgimento de correntes parasitas no interior do metal produzidas pela variação do fluxo, correntes estas que também ficaram conhecidas como correntes de Foucault. As correntes induzidas são produzidas não somente nos fios condutores, mas em qualquer condutor maciço, em movimento, num campo magnético ou atravessado por um fluxo magnético variável. Dentro de um material condutor podemos encontrar vários percursos fechados para a circulação de uma corrente. Em cada percurso fechado o fluxo magnético varia com o tempo; portanto tensões induzidas fazem circular correntes induzidas no interior do material condutor maciço (vide figura 25). Figura 25: Correntes parasitas induzidas em um metal maciço se ∆∅ ∆𝑡 ≠ 0. RIRIP ssppCU 22 Prof. Eduardo J. Nogueira 8 Observando-se a figura 25, pode-se perceber que as correntes parasitas são pequenos círculos concêntricos. Pode-se perceber também que em cada ponto no interior do núcleo a corrente é nula, pois o efeito de uma corrente é anulado por outra. No entanto, isso não acontece na periferia. Aí as correntes, todas com mesmo sentido, se somam e circulam pela periferia do núcleo. Isso faz com que o núcleo se aqueça por efeito Joule, exigindo uma energia adicional da fonte (vide figura 26). Figura 26: Corte transversal do bloco de metal maciço visto na figura 25 com as correntes parasitas induzidas. Estas correntes podem atingir valores muito elevados, provocando aquecimento do material. Se este aquecimento for indesejado, ele constitui as chamadas Perdas Foucault. É por essa razão que essas correntes são chamadas de parasitas. Este aquecimento pode ser utilizado nos fornos de indução, usados para fundir metais. Para reduzir o efeito das correntes parasitas, deve-se laminar o núcleo na direção do campo, isolando-se as chapas entre si (fig. 27). Isso impede (ou pelo menos reduz) que as correntes se somem e as perdas por efeito Joule serão menores. Figura 27: Laminação do núcleo para minimizar o efeito das correntes parasitas. Prof. Eduardo J. Nogueira 9 Também se pode reduzir os efeitos das correntes de Foucault através da adição de elementos que aumentem a resistividade do núcleo (como o Carbono), sem, no entanto, comprometer as propriedades magnéticas do núcleo. Apesar de serem na maioria dos casos indesejáveis, as correntes de Foucault têm sua aplicação prática na confecção de medidores de energia a disco de indução, relés e freios eletromagnéticos. Com a aplicação da Lei de Lenz, essas correntes induzidas opõem- se ao movimento que as produz. 3.1.5.3 - Histerese magnética Quando um núcleo de ferro doce é submetido a um Campo Magnético Indutor H concentra as linhas de campo com uma dada Densidade de Fluxo Magnético B. Se o campo magnético indutor H for aumentado pela elevação da corrente nas bobinas, haverá maior orientação dos ímãs elementares do ferro e, consequentemente, maior será a densidade de fluxo magnético B. No entanto, a relação entre B e H não é uma constante para todos os valores de H. Verificamos que um aumento no campo magnético indutor H propicia um aumento na densidade de fluxo magnético B. Haverá um ponto em que a densidade de fluxo B não mais aumentará sensivelmente com o aumento do campo indutor H, pois já não há tantos domínios magnéticos disponíveis para serem orientados. Assim, por mais que H aumente, B não aumenta. Esse ponto é chamado de Saturação Magnética. OBS: FERRO DOCE é o metal praticamente puro. Pode ser obtido do minério, através de fusão sob forte corrente de ar. A curva que representa esse comportamento, Figura 28, é chamada Curva de Magnetização e varia para cada material em função da sua permeabilidade magnética μ, pois: 𝜇 = 𝐵 𝐻 Figura 28: Curva de magnetização. Prof. Eduardo J. Nogueira 10 Analisando a curva de magnetização e a equação, podemos notar que a permeabilidade magnética μ não é uma constante para quaisquer valores de B e H, pois a relação não é linear. Para analisarmos a Histerese Magnética vamos considerar um núcleo de material ferromagnético inicialmente desmagnetizado e sobre ele enroladas algumas espiras de condutor na forma de uma bobina. Nesta condição inicial o campo indutor H e a densidade de fluxo B são nulos. Quando injetamos uma corrente elétrica I na bobina, cria-se um campo magnético indutor H e esse campo, orientando alguns dos domínios magnéticos do material, faz com que apareça uma densidade de fluxo B no núcleo. À medida que aumentamos a corrente I, o campo indutor H e a densidade de fluxo B aumentam até que todos os domínios estejam orientados, atingindo a saturação magnética. A Figura 97 mostra a curva que representa esse comportamento. Se, a partir daí, diminuímos a corrente I, conseqüentemente o campo indutor H e a densidade de fluxo B também diminuirão. No entanto, quando H chegar a zero (quando I=0), existirá ainda um certo valor de densidade de fluxo B, chamado de Densidade de Fluxo Residual ou Magnetismo Residual, BR. Essa característica é chamada também de Retentividade Magnética do material. Isto ocorre porque, após cessado o campo indutor H, alguns domínios magnéticos do material permanecem orientados. É este magnetismo residual que possibilita a fabricação de ímãs permanentes. Para eliminarmos o Magnetismo Residual, é necessário aplicarmos um campo indutor em sentido contrário, invertendo-se a corrente elétrica. A esse valor de campo necessário para eliminar o Magnetismo Residual, chamamos de Campo Coercitivo, HC. Nesta condição, a densidade de fluxo é nula (B = 0), mas às custas de um campo HC. Se continuarmos a aumentar negativamente o campo indutor o material irá saturar novamente, porém com uma orientação magnética contrária à anterior. Trazendo novamente o campo indutor a zero, teremos agora um valor de Magnetismo Residual negativo, -BR. Novamente é necessário aplicar um campo indutor em sentido contrário, agora positivo, para levar –BR até zero. Aumentando H, o material chega novamente ao ponto de saturação, completando o chamado Laço de Histerese Magnética (fig. 29). Os fenômenos da Histerese Magnética devem ser interpretados como consequências da inércia e dos atritos a que os domínios magnéticos estão sujeitos, ou seja, é o “atraso” do comportamento da densidade de campo magnético B em relação à variação do campo magnético indutor H. Isso justifica o fato de um núcleo submetido a diversos ciclos de histerese sofrer um aquecimento. Este aquecimento representa perdas de energia para um equipamento. Estas perdas dependem das características metalúrgicas do material de que é feitoo núcleo de uma bobina, particularmente do percentual de silício, da frequência com que a corrente inverte o seu sentido, da espessura do material em um plano perpendicular ao campo e da densidade de fluxo máxima admissível. Resumindo, podemos dizer que as Perdas por Histerese são proporcionais à área do Laço de Histerese. Prof. Eduardo J. Nogueira 11 Figura 29: Laço de histerese magnética. Desse estudo, entende-se que os aparelhos elétricos de corrente alternada, cujos núcleos ficam sujeitos a variações de campo magnético, ficam expostos a um número de laços de histerese por segundo, em função da frequência da corrente aplicada. Por esse motivo, seus núcleos devem ser feitos com material de estreito laço de histerese para que as perdas sejam as menores possíveis. Por outro lado, materiais com largo laço de histerese têm grande aplicação na fabricação de ímãs permanentes, pois apresentam alto magnetismo residual. Se o ciclo de magnetização for repetido, a curva obtida para o mesmo núcleo será determinada pelo máximo H aplicado. Para vários laços de histerese, um dado H pode ser associado a vários B, determinado pelo comportamento do núcleo. 3.1.6 - Transformadores usados em eletrônica Temos na figura 30 o símbolo esquemático do transformador mais usado em eletrônica na atualidade. É o chamado trafo de sete fios ou sete pinos. Ele apresenta duas bobinas no primário, as quais podem ser ligadas em série ou em paralelo. No secundário temos uma bobina com derivação central (Center Tap ou CT). Prof. Eduardo J. Nogueira 12 Figura 30: Trafo de 7 terminais. Este trafo tem cada uma das bobinas do primário calculadas para receberem 110V. O secundário apresenta um valor de tensão V nos extremos (pinos 5 e 7) em relação ao CT (pino 6). Os valores mais usuais para V são: 4,5 V, 6 V, 7,5 V, 9 V, 12 V, 15 V e 18 V. Figura 31: Aparência física dos trafos mais usados em eletrônica. Quando alimentado em 110 V, o trafo de 7 fios de ter as bobinas do primário ligadas em paralelo. Quando a rede for de 220 V, as duas bobinas devem ser ligadas em paralelo (veja figura 32). Prof. Eduardo J. Nogueira 13 Figura 32 – Esquema de ligação 110-220 V para o trafo de 7 fios com comutação manual por chave HH. Observe na figura 32 que com a chave na posição 110 V, as duas bobinas do primário são ligadas em paralelo e com a chave em 220V, as duas bobinas ficam ligadas em série. Figura 33: Aparência física de uma chave HH. CUIDADO: A ligação das bobinas do primário deve ser feita de modo que quando ligadas em série ou em paralelo os campos magnéticos se somem e não se contraponham. Ligação dos terminais do primário em 110 V: 1 com 3 com rede 2 com 4 com o outro polo da rede Ligação dos terminais do primário em 220V: 1 com rede 2 com 3 4 com o outro polo da rede Prof. Eduardo J. Nogueira 14 Outros trafos também são utilizados, como os esquematizados na figura 34. Figura 34: Trafos de 8 fios e de 4 fios. 3.1.7 - Reversibilidade: Todo trafo é reversível desde que sejam respeitadas as limitações de tensão e corrente de cada bobina, isto é o primário pode ser usado como secundário e vice-versa. Vide figuras 35 e 36. Figura 35 – Ligação original, entrada 220V e saída 120V Prof. Eduardo J. Nogueira 15 Figura 36 – Ligação revertida (mesmo trafo), entrada 120V e saída 220V 3.1.8 - Rendimento do transformador (η) 𝜂 = 𝑃𝑆 𝑃𝑆 ∙ 100% Onde Pe é a potência de entrada e Ps é a potência de saída. O rendimento costuma variar de 80 a 99%. 3.2 - Retificador de meia onda A partir de agora vamos estudar o emprego dos diodos e dos transformadores na conversão de AC para DC. O retificador de meia onda é o mais simples retificador para retificar a tensão alternada. A figura 37 mostra o circuito de um retificador de meia onda. Figura 37: Retificador de meia onda usando na entrada um trafo abaixador com 4 terminais. A figura 38 mostra as tensões no secundário do transformador (traço verde) e a tensão de saída aplicada à carga RL (traço marrom). Neste exemplo estamos utilizando um trafo abaixador de 220 para 12 V. O valor de pico da tensão no secundário é 12√2 = 16,97𝑉. Note que o pico da tensão na carga (VL) é ligeiramente menor que o pico da VP 220V 60Hz AC Volts +220 RL CARGA D1 Prof. Eduardo J. Nogueira 16 tensão de entrada (Vin), isto se deve à queda de tensão para vencer a barreira de potencial do diodo que é de aproximadamente 0,7 V. Figura 38: Formas de onda antes e depois da retificação. Durante metade do ciclo da tensão Vin o diodo fica polarizado diretamente e, portanto, apresenta uma resistência muito baixa, comportando-se como uma chave fechada. Nesta condição ele permite a passagem de corrente, conforme mostra a figura 39. Figura 39: Retificador de meia onda enquanto o diodo está com polarização direta. As setas indicam o sentido convencional da corrente. Durante a outra metade do ciclo da tensão Vin o diodo fica polarizado reversamente e, portanto, apresenta uma resistência altíssima, comportando-se como uma chave aberta. Nesta condição ele não permite a passagem de corrente, conforme mostra a figura 40. Note pela indicação das setas que enquanto o diodo não está VP 220V 60Hz RL CARGA D1 + - Prof. Eduardo J. Nogueira 17 conduzindo só há corrente no circuito primário, no secundário ela é nula e a tensão na carga também é nula. Figura 40: Retificador de meia onda enquanto o diodo está com polarização reversa. As setas indicam o sentido convencional da corrente. Se invertermos a posição do diodo (ligando o catodo onde está o anodo e vice- versa) o sentido da corrente na carga se inverterá e a polaridade da tensão VL também (Vide figura 41). Figura 41: Formas de onda após a inversão do diodo. 3.3 - Retificador de onda completa em contrafase (com tomada central) Diferentemente da retificação de meia onda, a retificação de onda completa utiliza os semiciclos positivos e negativos. A figura 42 apresenta um circuito retificador de onda VP 220V 60Hz RL CARGA D1 +- Prof. Eduardo J. Nogueira 18 completa em contrafase, também conhecido como retificador de onda completa com CT ou tomada central. Figura 42: Retificador de onda completa em contrafase. Devido à tomada central, o circuito funciona como dois retificadores de meia onda. O diodo D1 retifica um semiciclo e o diodo D2 retifica o outro semiciclo em intervalos de tempo diferentes. A figura 43 mostra as formas de onda das tensões nos anodos de D1 (va) e de D2 (vb). Note que elas estão defasadas 180° uma da outra, por esta razão o retificador é denominado em contrafase. Figura 43: Formas de onda nos anodos dos diodos. Defasagem de 180°. Na figura 44 vemos as tensões medidas com voltímetros AC no secundário do trafo. Neste exemplo, como o secundário é de 12 + 12 V, teremos 12 V entre cada extremo e o CT e 24 V entre os dois extremos. VP 127V 60Hz RL CARGA TR1 TRAN-2P3S D1 D2 Prof. Eduardo J. Nogueira 19 Figura 44: Tensões AC no secundário do trafo. Na figura 45 temos a forma de onda da tensão na carga. Observe que não há intervalo de tempo com tensão zero como havia no retificador de meia onda, pois na carga ambos os semiciclos produzem corrente com o mesmo sentido. Figura 45: Forma de onda da tensão na carga.Tensão contínua pulsada. A frequência dos pulsos é o dobro da frequência da rede. Vamos analisar o esquema da figura 46, onde os terminais extremos do secundário do trafo foram denominados A e B. Quando o terminal A está positivo em relação ao CT, o terminal B está negativo em relação ao mesmo CT. Então o diodo D1 estará com polarização direta enquanto o diodo D2 estará com polarização reversa. Nesta situação D1 RL CARGA TR1 TRAN-2P3S D1 D2 AC Volts +12.0 AC Volts +12.0 AC Volts +24.0 Prof. Eduardo J. Nogueira 20 conduz corrente (chave fechada) enquanto D2 bloqueia corrente (chave aberta). Siga o sentido da corrente pelas setas. Figura 46: Diodo D1 conduzindo e diodo D2 bloqueando a corrente. Vamos analisar agora o esquema da figura 47. Quando o terminal B está positivo em relação ao CT, o terminal A está negativo em relação ao mesmo CT. Então o diodo D2 estará com polarização direta enquanto o diodo D1 estará com polarização reversa. Nesta situação D2 conduz corrente (chave fechada) enquanto D1 bloqueia corrente (chave aberta). Siga o sentido da corrente pelas setas. Figura 47: Diodo D2 conduzindo e diodo D1 bloqueando a corrente. Observe que em ambos os semiciclos, na carga, o sentido da corrente é o mesmo. O valor máximo da tensão na carga será o valor de pico nos pontos A e B menos a queda de tensão no diodo (≈ 0,7𝑉) [2, 3, 4 e 5]. 3.4 - Retificador de onda completa em ponte A figura 48 apresenta o circuito retificador em ponte. No semiciclo no qual o terminal A do secundário encontra-se positivo em relação ao terminal B, D2 e D3, se encontram diretamente polarizados, portanto conduzem, ao contrário de D1 e D4, que se RL CARGA TR1 TRAN-2P3S D1 D2 A B + - + - - + RL CARGA TR1 TRAN-2P3S D1 D2 A B + - +- -+ Prof. Eduardo J. Nogueira 21 encontram reversamente polarizados. No semiciclo seguinte, D1 e D4 se encontram diretamente polarizados, portanto conduzem, estando D2 e D3 reversamente polarizados e não conduzem. Figura 48: Retificador de onda completa em ponte. A figura 49 ilustra a forma de onda de saída de um retificador em ponte, considerando a tensão no secundário. Utilizando a segunda aproximação, a tensão de saída será a tensão de pico descontada de ≈1.4V (≈0,7 V da tensão de limiar de condução de cada diodo, como são dois diodos conduzindo em série a soma dá 1,4 V) [2, 3, 4 e 5]. Note que a tensão é pulsada e a frequência dos pulsos também é o dobro da frequência da rede como no retificador anterior (onda completa com CT). Note que tanto a tensão mostrada na figura 45, quanto a mostrada na figura são tensões que apesar de apresentarem polaridade fixa, não são tensões contínuas e sim pulsantes. O gráfico de uma tensão contínua é uma reta paralela ao eixo das abcissas (eixo do tempo). Figura 49: Forma de onda na carga após a retificação de onda completa em ponte. 3.5 - Filtro a capacitor Analisando os gráficos de saída dos retificadores, é possível notar que a tensão varia de 0 a Vp. Esta característica não é a ideal para circuitos eletrônicos, que necessitam de uma tensão com variação desprezível. Para corrigir esta característica é aplicado, após o circuito retificador, um filtro composto por um ou vários capacitores em paralelo. A figura 50 mostra um circuito retificador em ponte juntamente com capacitor de filtro. VP 127V 60Hz TR1 TRAN-2P2S RL Carga D1 D2 D3 D4 A B Prof. Eduardo J. Nogueira 22 Figura 50: Retificador com filtro a capacitor. O capacitor C1 se carregará durante o primeiro semiciclo. Se não houver carga conectada ao sistema (RL), o capacitor C1 se manterá carregado permanentemente com o valor da tensão de pico do secundário. Se conectada uma resistência de carga RL, quando a tensão do secundário diminui o capacitor descarrega em cima da resistência de carga, porém, a constante de tempo de descarga do capacitor é muito maior que o período da tensão de alimentação. Esta característica permite que o capacitor diminua a oscilação da tensão de saída, apresentada na figura 51. Quanto maior a capacitância do capacitor mais eficiente será a filtragem. A ondulação remanescente à filtragem recebe o nome de ripple. Figura 51: Comportamento da tensão na carga quando existe um capacitor de filtro. VP 127V 60Hz TR1 TRAN-2P2S RL Carga D1 D2 D3 D4 A B 1 2 C1 Prof. Eduardo J. Nogueira 23 O ripple pode ser avaliado pelo seu valor pico a pico (Vmax – Vmin) ou pelo fator de ripple (r). Clique no link abaixo para ver, em vídeo, uma boa explicação sobre este assunto. Ripple e fator de ripple: https://www.youtube.com/watch?v=6V3M2iKY-ZU 3.5.1 - Estimativa aproximada da tensão de ripple pico a pico 𝑉𝑟𝑝𝑝 ≅ 𝐼𝐿 𝑓𝐶 Onde, IL é a corrente solicitada pela carga, f é a frequência da ondulação em Hz e C é a capacitância do capacitor em Farad (F). 3.6 - Diodo zener e estabilização de tensão Os diodos de “pequeno sinal” e “retificadores” não devem operar intencionalmente na região de ruptura, pois isso danifica-os. Mas o diodo Zener é diferente! [6]. O diodo Zener é fabricado para operar intencionalmente na região de ruptura, onde grandes variações de corrente produzem pequenas variações de tensão, característica essa utilizada na construção de reguladores de tensão [6]. A figura 52 mostra os símbolos mais usuais do diodo Zener, sendo os mais utilizados D e B. Figura 52: Símbolos mais usuais do diodo zener. Fonte: http://baudaeletronica.blogspot.com/ acesso em 24/12/2018. O diodo zener trabalha polarizado reversamente, na região de ruptura com objetivo de estabilizar a tensão em seus terminais. Veja um vídeo explicativo seguindo o link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=aA4F_Aqk9W0 Na polarização direta, o Zener apresenta o mesmo comportamento de um diodo comum. Na polarização reversa, ele rompe por avalanche sem queimar, desde que sua potência de dissipação máxima (Pzmax) não seja ultrapassada, e é usado como referência de tensão. A figura 53 mostra o gráfico I x V do diodo zener. Prof. Eduardo J. Nogueira 24 Figura 53: Curva que descreve o comportamento do diodo zener. Fonte: PUSTILNICK A figura 54 mostra um retificador em contrafase seguido de um regulador RZ, o qual estabiliza a tensão na carga RL. Figura 54: Fonte estabilizada usando regulador RZ (resistor e diodo zener). Na figura 55 temos o comportamento da tensão no capacitor (curva VC) e na carga (curva VL). Note que no capacitor a tensão e maior que na carga, e com um ripple também muito maior. Na carga a tensão foi estabilizada em 12 V, que é a tensão nominal do zener utilizado, e com um ripple muito menor (desprezível). VP 127V 60Hz RL CARGA TR1 TRAN-2P3S D1 D2 1 2 C1 470uF RS 100R D3 1N4742A VC VL Prof. Eduardo J. Nogueira 25 Figura 55: Tensão no capacitor e na carga a partir do instante em que o circuito é ligado, até o tempo de 60 ms.
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